Mostrando postagens com marcador 06/06. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 06/06. Mostrar todas as postagens

Fábio Barreto

FÁBIO VILLELA BARRETO BORGES
(62 anos)
Cineasta, Ator, Produtor e Roteirista

☼ Rio de Janeiro, RJ (06/06/1957)
┼ Rio de Janeiro, RJ (20/11/2019)

Fábio Villela Barreto Borges foi um cineasta, ator, produtor e roteirista nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 06/06/1957.

Fábio Barreto era mais conhecido por dirigir "O Quatrilho" (1995), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e por dirigir e co-escrever "Lula, o Filho do Brasil" (2009), um drama biográfico sobre a vida de Luiz Inácio Lula da Silva, considerado um dos filmes mais caros da história do cinema brasileiro.

Filho de Luís Carlos Barreto e Lucy Barreto, irmão do também cineasta Bruno Barreto. Atuou no primeiro curta-metragem, "Três Amigos Que Não Se Separam" (1966), quando tinha nove anos. No filme também atuaram sua irmã, Paula Barreto, e a cadela Baleia, coadjuvante no filme "Vidas Secas" (1963).

Fábio Barreto foi assistente de direção de Carlos Diegues em "Bye Bye Brasil" (1979). Iniciou sua carreira no cinema aos 20 anos, dirigindo o curta-metragem "A Estória de José e Maria" (1977). E estreou como diretor de longa-metragem no Festival de Cannes de 1982, com "Índia, a Filha do Sol" (1982), inscrito na Quinzena dos Realizadores. Tinha 24 anos.

Seu filme "O Quatrilho" (1995) foi indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1995.

Fábio Barreto trabalhou como ator em dois filmes, "For All - O Trampolim da Vitória" (1997) e "Memórias do Cárcere" (1984), e dirigiu 9 longas-metragens.

Fábio Barreto era casado desde 2003 com a atriz Déborah Kalume.

Acidente

O guarda-vidas Wagner Generoso, participou do resgate ao cineasta Fábio Barreto, vítima de um acidente de carro em que teve traumatismo craniano.

Wagner Generoso disse que, no sábado, dia 19/12/2009, por volta de 22h50, estava na janela de sua casa quando viu o carro de Fábio Barreto, uma Pajero Mitsubishi, ser fechado por outro veículo, que ele não identificou. De acordo com Wagner, Fábio Barreto perdeu o controle, atravessou a mureta divisória da Rua Real Grandeza, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, perto do acesso ao Túnel Velho e próximo ao Cemitério São João Batista. Após bater numa grade, ele capotou.

Wagner desceu para prestar socorro. Um taxista parou seu carro e emprestou uma lanterna para tentar verificar a situação. Wagner chegou a achar que o cineasta estava morto, mas verificou que ele ainda respirava. Em seguida, o Corpo de Bombeiros foi acionado.

Wagner disse que tentou se comunicar com Fábio Barreto, mas ele estava completamente inconsciente.

Inicialmente, Fábio Barreto foi levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon, onde foi operado. A cirurgia, a pedido da família, foi acompanhada pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer. Segundo Paulo NiemeyerFábio Barreto teve várias contusões na cabeça.


Fábio Barreto foi transferido na manhã de domingo, 20/12/2009, para o Copa D´Or, e passou por exames. Seu estado era grave, e ele ficou internado na UTI neurológica do hospital.

No dia 13/01/2010 um boletim médico divulgou a melhora em seu estado de saúde, e no dia 21/01/2010 ele foi submetido a uma nova cirurgia para colocação de uma válvula cerebral como parte do tratamento da hidrocefalia provocada pelo traumatismo crânio-encefálico. Fábio Barreto recebeu alta dia 22/03/2010 e continuou seu tratamento em casa.

Mesmo recebendo tratamento especial em casa, Fábio Barreto não teve mais a vida de antes e ainda continuava inconsciente após esses anos todos até sua morte. Segundo sua esposa, a atriz Deborah Kalume, que se dedicou a ajudá-lo também: "Às vezes ele responde do jeito dele. Suspira, fica com a respiração diferente. Em determinados momentos acho que ele está ali. Em outros, não!".

Morte

Fábio Barreto faleceu na quarta-feira, 20/11/2019, aos 62 anos, após ficar em coma por nove anos. A informação foi confirmada pelo Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde ele estava internado. A causa da morte não foi informada.

Ele sofreu um acidente grave de carro em dezembro de 2009 e estava em coma desde então.

O velório foi realizado na sexta-feira, 22/11/2019, a partir das 10h00, no Memorial do Carmo, no Caju. O corpo foi cremado no período da tarde.

Carreira

Diretor
  • 2009 - Lula, o Filho do Brasil
  • 2007 - Donas de Casa Desesperadas (Série de TV)
  • 2007 - Nossa Senhora de Caravaggio
  • 2002 - A Paixão de Jacobina
  • 2000 - De Conversa em Conversa (Curta-metragem)
  • 1997 - Bela Donna
  • 1995 - O Quatrilho
  • 1991 - Lambada
  • 1988 - Luzia Homem
  • 1986 - O Rei do Rio
  • 1984 - Índia, a Filha do Sol
  • 1978 - Mané Garrincha (Curta-metragem)
  • 1977 - A Estória de José e Maria (Curta-metragem)

Ator
  • 1997 - For All - O Trampolim da Vitória
  • 1984 - Memórias do Cárcere ... Siqueira Campos

Elenco de "O Quatrilho", indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Premiações

  • 1995 - Indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, por "O Quatrilho"
  • 1984 - Indicação ao Prêmio de Melhor Filme no Festival de Havana, por "Índia, a Filha do Sol"
  • 1977 - Prêmio de Melhor Direção no Festival de Brasília, por "A Estória de José e Maria"

Fonte: Wikipédia

Moreira da Silva

ANTÔNIO MOREIRA DA SILVA
(98 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (01/04/1902)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/06/2000)

O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa:

"Nasci em 1902, num 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca"
(Moreira da Silva - Revista Fatos e Fotos, 11/12/1973)

Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu vítima de cirrose, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão.

"Nunca tomei um porre em toda a minha vida", diria pouco tempo antes de morrer. "Não bebia e ainda fazia apologia do leite?", escreveu o chargista Adail, quando de sua morte.

Criado nos morros da cidade e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira da Silva encarou o  batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família.

"Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta!"

Criança, vendeu doce nas ruas do Rio de Janeiro, entregou marmita e catou papel. Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo.

"Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado."
(Moreira da Silva à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro)

Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves.

"Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas!"

Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. "O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas", diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempos de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: "Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo", elogiou o cardápio, comido "de maracanã e remo" (em prato fundo e com a mão).

Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe.

"Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado!"

Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior, que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. "Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali", fabularia Moreira da Silva décadas depois. "Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu tinha meu 'revertere ad locum tuum' sem apelação", relembrava.

Como o bom malandro não anda sempre na linha, "que o trem pega"Moreira da Silva também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva. Tornou-se assim figura conhecida da boemia.

"Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas. Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado!"

Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. "Não gostava dela, mas a moça me satisfazia", dizia com sinceridade. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da "canja e ovos quentes"O vago-mestre, rei da malandragem, era consciente de seu lero:


"Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada", dizia. "O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi", indignava-se. "Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência".


Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde "a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo". Dizia que "antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato", queixava-se. "Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor", atacava.

A Carreira

Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho:

"Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de transformar-me em cantor. Graças a ele gravei meu primeiro disco. Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro, dava o meu recado."
(Moreira da Silva em entrevista à Revista do Rádio, em 1965)

Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou dois pontos de macumba de Getúlio Marinho, "Ererê" e "Rei de Umbanda", de 1931.

"O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua voz para gravar para mim", relembra. Mas gravar música de macumba deixou o mulato cabreiro. "Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim... Então, sai dessa, malandro, disse para mim mesmo!". Havia motivo para a cisma. "Já vi o sobrenatural", disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos 19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu à sua frente e desapareceu em seguida.

O primeiro sucesso veio com "Arrasta a Sandália", de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o cast do "Programa Casé", na Rádio Philips. No ano seguinte, estourou com "Implorar", de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora ColumbiaMoreira da Silva afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar "herdou" seus versos.

Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e levou-o para a Rádio Mayrink Veiga. "Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela", disse sem modéstia. "Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia". Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou "Acertei no Milhar", de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.

Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no Teatro Politeama. "O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo". Foi um sucesso: "Abafei, com meu passinho de malandro". Agradou tanto que fez uma participação no filme "A Varanda dos Rouxinóis".

A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou "Amigo Urso", em 1941, "Fui a Paris" (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) e "Dormi no Molhado" (Moreira da Silva), em 1942. No ano seguinte, gravou "Conversa de Camelô" (T. Silva e S. Valença). Em 1950 foi contratado pela Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e lançou seu primeiro LP, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, "O Último Malandro", em que se destaca o clássico "Na Subida do Morro"  (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha).

Cantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Francisco Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, - "no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço" - era um desafio gigantesco para Moreira da Silva.

Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor, de pelica, ou botinha com botões de madrepérola, e chapéu panamá, o marido de Dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira da Silva levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como "Na Subida do Morro". Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação.

"Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda".

Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936.

"Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia. O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas 'Jogo Proibido' e eu improvisei em cima: 'Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar'. Aí nasceu o breque. O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda."
(Moreira da Silva - Jornal do Brasil, 1972)

Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira da Silva num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: "Foi a primeira vez que acompanhei conversa". Estava criado o "Rap Caboclo", muitas décadas antes do Public Enemy.

"O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido", afirmou  Moreira da Silva em entrevista à revista Ele & Ela em maio de 1982. Moreira da Silva teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido "Fui a São Paulo". Depois veio "Doutor em Futebol", em que mostrava que para ter nome não era preciso ser doutor: "Basta saber controlar o caroço com inteligência".

Moreira Vira Kid Morengueira

Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba "O Rei do Gatilho", de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um cowboy que, como o Zorro, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em seqüência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: "O Último dos Moicanos", "Os Intocáveis", "Moreira Contra 007" e "O Seqüestro de Ringo".

Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, "já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A", fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Mas, coincidência ou não, é nessa época, 1968, que Moreira da Silva se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.

Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da concorrência dos "cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de graça para aparecer nos programas", dizia, ressentido com a televisão. Em entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã, em 09/04/1970, ele dizia-se feliz com a venda de seus dois últimos álbuns, "Os Sucessos de Moreira da Silva Continuam" (1968) e "Manchete do Dia" (1969), só com sambas inéditos, lançados pelo selo Cantagalo: 30 mil discos.

"Isso porque a gravadora não tem um plano de relações públicas e vendas para o Rio, onde tenho um público bom e fiel", dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon: "Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu, ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora", resignava-se. "Creio que 'Vôo Espacial' vai fazer o sucesso de 'Amigo Urso'", sonhava o velho malandro, citando uma das faixas do disco "Manchete do Dia".

"O sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso, mas a onda vem de novo", diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em 1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.

"O malandro, aquele malandro velho, sucumbiu", pontificava Moreira da Silva sobre a criminalidade daquele início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. "Hoje, infelizmente, o que tem é bandido, assassino", diria anos depois.

Mas ele ainda tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relançou, pelo selo Imperial, o LP "A Volta do Malandro", que abriu com sua fantástica interpretação de "Gago Apaixonado", de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel.

Em 1971, gravou "Moreira da Silva na Academia", alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a Academia Brasileira de Letras prosseguiu até 1984, quando gravou "Clã dos Imortais", do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário "Moreira da Silva". No mesmo ano, Moreira da Silva gravou pela CID o disco "Consagração de Moreira da Silva", sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: "Hoje não sou rico, mas ganho cinco mil cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha".

Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: "Aqui urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional", louvou. Mas a porrada vinha embutida: "Só que gravam tapes pra todo o lado e não nos pagam". A televisão, já era a televisão. "Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado".

Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé em "É Meu Único Aluno". Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: "É a primeira vez que sou vaiado, pô!". Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer show juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha, e voltaram a excursionar.

Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP "O Astro", "Talvez o melhor disco da carreira de Moreira", no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, "O Jovem Moreira", pela Polygram, em que regrava "Diplomata", de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e "Homenagem a Noel", de sua autoria.

Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: "Cheguei e Vou Dar Trabalho" (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas, surpresa, "A Volta do Boêmio", samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves e "Último Desejo" (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, "As Rosas Não Falam", clássico de Cartola.

Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. "Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves", analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente.

Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino 7 Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP "50 Anos de Samba de Breque", pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez "Na Subida Do Morro", "O Rei do Gatilho" e "Acertei no Milhar". E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em "Cidade Lagoa" (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).

Don Juan

Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista não descansou. "Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar", disse ao Globo. "Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então... Mas sempre amei a minha mulher", confessou. Moreira da Silva entrou nos anos 90 ao lado de Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. "Estamos casados pela lei Divina", babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. "Já legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 mil cruzeiros, além de uma casa na Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no Iaserj para ter seus direitos garantidos", cuidava ele. Mas continuaram morando separados. "Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos", acreditava o velho malandro.

Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: "Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso", vangloriava-se. "Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos".

Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Em junho, estreou temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albin, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo de 30/07/1990, registrou algumas frases do depoimento: "Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto".

Em 1991, Moreira da Silva foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: "Sou um símbolo carioca". Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa.


"Eu frequentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas."

Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilaridade dos bons tempos do bairro:


"Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre".

Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na Boate People, e os 91 anos no Jazzmania, no Rio de Janeiro. Estava em plena atividade e em 1993 lançou "Moreira da Silva Fotografando a Cidade", o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-1960, pela EMI/Odeon. Novamente gravou "Na Subida do Morro" e "Olha o Padilha". Regravou também "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e "Pistom de Gafieira", de Billy Blanco.

Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio de Janeiro, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão, o chapéu panamá, pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos.

"As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça", lamentava-se.

"É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio", declarou Jards Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira da Silva não foi triste nem despedida pois no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD "Os Três Malandros", que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira da Silva não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: "Só vale o balanço".

Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, "O Último dos Malandros", do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela Editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira da Silva.

João Máximo divide a obra de Moreira da Silva em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros - "Amigo Urso", "Acertei no Milhar" - e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. "O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo", disse na resenha do livro. "Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras", escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30/40.

Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira da Silva ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca.

Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque "Pra Fazer 97", em parceria com Reginaldo Bessa e "Ecologia", com Aidran do Grajaú. É com Reginaldo Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.

Moreira da Silva nunca foi de fazer média. Deitou falação sem travas na língua. Para ele "a batida da Bossa Nova é quase a de rumba".


"Caetano Veloso queria mesmo é rebolar, um atrevido. Imagine que outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?. Tião Motorista é que é o bom da Bahia!"

"Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis, gosto mesmo é de serestas e das baladas do Agnaldo Timóteo."
(Revista O Cruzeiro, 12/1968)


"Gosto do Roberto Carlos, mas não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro."


"O Chico Buarque é o Noel Rosa muito devagar. Paulinho da Viola? É ainda água-com-açúcar. É sofrível."


"Outro dia eu vi aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra".


"Martinho da Vila é sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o 'Batuque na Cozinha' não é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II".


"Eu sou melhor do que ela (Elis Regina) em qualquer parte do mundo que a gente bater."


"Donga foi um cara bom. Grande compositor e tocando violão muito bem".

Mas ele também levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos Cachaça, o grande mangueirense.


"Os sambas dele eram mais comerciais, mais rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro."
(Carlos Cachaça)

Moreira da Silva também deitou falação contra os meios de comunicação.

"No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?"
(Moreira da Silva disse ao Pasquim)

"Na TV a coisa funcionava diferente. A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: Escuta, o rapaz que te telefonou e disse que era 700, mas só pode ser 500"

Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira da Silva soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha:

"Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa."

Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: "Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil", babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: "Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro", justificava.

Para Juscelino Kubitschek gravou "Cutuca, Nonô", de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: "passeata não resolve". E chegou a se candidatar a vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: "A moçada parece que não acreditou em mim".

Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem. Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornara um artista consagrado não desempenhava a função. "Os colegas tiravam meu plantão", declarou ao Pasquim.

Moreira da Silva não era político, não militava, mas suas músicas revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto. Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo:

"Uma estação de rádio não é uma propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar até a envenenar a nossa pátria!"

Em 1984 gravou "Moreira Já', de William Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1.500 compactos, durante show no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a Academia Brasileira de Letras. "Afinal de contas, sou pelas eleições diretas", justificou. Moreira da Silva confessou ter votado em Lula para presidente: "O FHC eu não gosto, parece que vai descontar dos aposentados."

Cruel crítico dos colegas, louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira da Silva era coluna do meio na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave: "Não, não, não. Aí eu sou neutro". Mas insinuava lá seus motivos: "Sabe como é que é...", desconversava. Seu comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais.

A autoria da obra de Moreira da Silva como compositor era questionada por ele próprio: "A necessidade faz o sapo pular. Já vendi e comprei muito samba. No começo da carreira, não. Naquele tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço", confessou em 1973.

Moreira da Silva falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: "O esquema de entrar é o seguinte... o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba aqui, pode ter esquema de entrar... Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome (Zé da Zilda)", declarou ao Pasquim.  Ele conta que pagou 150 mil-réis pelo samba "Dormi no Molhado", do Zé da Zilda. "O Francisco Alves comprava", entregou na mesma entrevista.

Ao jornal Opinião confessou ter recebido de presente a parceria do samba "A Carne", de Nelson Cavaquinho. "Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele. Ele vendeu para um rapaz, o Roxo", disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira da Silva ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: "Paguei um conto e trezentos mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis. Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem suas canções", justificava.

Moreira da Silva dizia não ser saudosista, mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais atribuía o fim de seu reinado: "Um Ary Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar". No mais, se conformava. Só estranhava a explosão demográfica: "Tá nascendo gente pra danar".

Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. "Velhice para mim não existe. Parece que cheguei ontem ao planeta", dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio era trivial: "O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo", costumava dizer. 

Da janela do apartamento no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. "Meus futuros guardiães, que trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão", esconjurava. Mas não temia e até desdenhava da perpétua: "O futuro é uma caveira". E cantarolava:


Para fazer 97

Tem que ser malandro

Quem não pode, não se mete
Que o bicho tá pegando

Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo: "Black And White". Não o whisky, que como já se viu não era seu forte. "Minha mãe era black e meu pai era white".

Moreira da Silva viveu seus últimos dias com o que recebia de pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara, cargo em que se aposentou, e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como R$ 1.200,00. "Dá pro gasto", conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim.

No apartamento do bairro do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: "Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol". Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992.

Agora, quando saía, era de táxi. "Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo", queixava-se. Apesar disso, Reginaldo Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. "Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol... Minha pressão é 12 por 8", dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.

Morte

Moreira da Silva morreu vítima de Falência Múltipla dos Órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde meados de maio de 2000. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro. Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: "Se um vigarista soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por vigarismo". Este era o retrato fiel do Moreira da Silva. "A malandragem nunca existiu para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou", pontificava. "Hoje estou humildemente, modestamente, na história do samba".

Moreira da Silva não teve filhos. "Fiz uma vasectomia natural por causa de tanta farra", mas adotou Marli, que lhe deu dois netos.

Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva, Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

Fonte: Agenda do Samba e Choro

Maysa

 MAYSA FIGUEIRA MONJARDIM
(40 anos)
Cantora, Compositora e Atriz

* São Paulo, SP (06/06/1936)
+ Niterói, RJ (22/01/1977)

Maysa foi uma cantora, compositora e atriz brasileira. Ao longo da sua carreira gravou 17 álbuns de estúdio, 6 compactos duplos e 9 compactos simples. Cristalizou uma das mais brilhantes, sensíveis e belas obras da Música Popular Brasileira. É considerada pela crítica especializada e por grande parte do público, como uma das melhores cantoras da história da Música Popular Brasileira.

Segundo algumas fontes, Maysa teria nascido na capital paulista, numa tradicional família do Estado do Espírito Santo que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Outras fontes, porém, afirmam que seu nascimento foi mesmo no Rio de Janeiro. Da capital paulista ou do Rio de Janeiro, é certo, no entanto, que em 1947 a família transferiu-se para Bauru, no interior paulista. Logo depois, mudaram-se novamente para a capital. Mesmo fixada em São Paulo, a família ainda mudaria de endereço várias vezes.

Maysa era neta do Barão de Monjardim, Alfeu Adolfo Monjardim de Andrade e Almeida, que foi presidente da província do Espírito Santo por cinco vezes. Estudou no tradicional colégio paulistano Assunção e no Sacré-Cœur de Marie, em São Paulo. As férias, ela passava em Vitória, onde reencontrava os tios e os primos.

Casou-se aos dezoito anos com o empresário André Matarazzo, dezessete anos mais velho, amigo de seus pais, e membro da conhecida família ítalo-brasileira Matarazzo de cuja união nasceu Jayme Monjardim Matarazzo, diretor de telenovelas e cinema, que foi criado pela avó e, posteriormente, num colégio interno na Espanha, para onde ele foi mandado após a morte do seu pai.

Desquitada do marido em 1957, pois ele se opôs à carreira musical, Maysa seguiria em frente fazendo grande sucesso com canções como "Ouça" e "Meu Mundo Caiu" de sua autoria que entraram para a história da Música Popular Brasileira.

Teve vários relacionamentos amorosos, entre eles, com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário espanhol Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto, o maestro Júlio Medaglia, entre vários outros. Ao assumir o relacionamento com Miguel Azanza em 1963, Maysa estabeleceu residência na Espanha onde morou durante anos com o marido e o filho. Só retornou definitivamente ao Brasil em 1969.


Anos 50 e o Início da Carreira

Em 1956, Maysa foi convidada pelo produtor Roberto Côrte-Real para gravar um disco, durante uma reunião familiar. O álbum "Convite Para Ouvir Maysa" (todo preenchido com composições próprias) foi gravado logo após o nascimento de seu único filho Jayme Monjardim. O disco gravado apenas em caráter beneficente, toda sua renda fora destinada ao Hospital do Câncer de Dona Carmen Annes Dias Prudente, logo começou a fazer sucesso, tocando nas rádios paulistas e cariocas. Pouco a pouco, a carreira de Maysa foi adquirindo um caráter profissional, o que descontentou seu marido André Matarazzo e logo levou seu casamento à ruína.

Já em 1957, ainda não desquitada, Maysa era contratada da TV Record paulista, com um programa só seu patrocinado pela Abrasivos Bombril e acabava de gravar seu segundo disco, de 10 polegadas, intitulado Maysa.

Em 1957, com menos de um ano de carreira, no julgamento anual dos Cronistas de Rádio de São Paulo, para a escolha de Os Melhores do Ano de 1956, Maysa foi apontada como a maior revelação feminina, o melhor compositor e o melhor letrista. O Clube dos Cronistas de Discos concedeu-lhe o título de "A Maior Cantora do Ano".

No ano seguinte, foi premiada com o disputado Troféu Roquette Pinto de "A Melhor Cantora de 1958". No ano anterior, ela já havia recebido o mesmo prêmio como "Cantora Revelação de 1957". O jornal O Globo, que em 1957 havia conferido a ela o "Disco de Ouro de Cantora Revelação", agora também a premiava como a principal voz feminina do país. Também seria de Maysa naquele ano o Troféu Chico Viola, para o "Melhor Disco de 1958".

Em 1958, já desquitada, muda-se para o Rio de Janeiro, então Capital Federal e se torna também contratada da TV Rio, com um programa só seu, patrocinado pelos Biscoitos Piraquê.

Lançou seu terceiro disco, agora de 12 polegadas, intitulado "Convite Para Ouvir Maysa nº 2". O disco foi considerado pela crítica, musicalmente irretocável. Tornou-se campeão de vendas e lançou a canção "Meu Mundo Caiu" como o maior sucesso do ano.

Até o fim da década, Maysa seguiria sua carreira acumulando diversos prêmios, vendo a carreira e popularidade, em crescente ascensão. Seus discos eram campeões de vendas e seus programas de televisão eram muito prestigiados. Ainda em 1958 ela se tornaria a melhor e mais bem paga cantora do Brasil.


Anos 60

Durante os anos 60, Maysa aprimorou constantemente a técnica vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica o auge de sua carreira. A partir de 1960, empreendeu inúmeras excursões pelo mundo, se apresentando em vários países, além de aderir ao movimento da bossa nova, com o qual pôde expandir referências musicais. Junto a um grupo formado por Roberto Menescal, Luiz Eça, Luiz Carlos Vinhas, Bebeto Castilho, Hélcio Milito e Ronaldo Bôscoli, foram responsáveis pelo lançamento da bossa nova no exterior, em um histórica turnê à Argentina e o Uruguai, em 1961.

Maysa teve uma intensa carreira internacional. Em 1960, tornou-se a primeira cantora brasileira a se apresentar no Japão, a convite da companhia área brasileira Real Aerovias, que acabara de estrear o vôo Rio de Janeiro - Tóquio. Excursionou pela América Latina, passando diversas vezes por Buenos Aires, Montevidéu, Punta del Leste, Lima, Caracas, Bogotá, Porto Rico e Cidade do México. Apresentou-se em Paris, Lisboa, Madri, Nova York, Itália, Marrocos e Angola. Entre 1960 e 1961 realizou temporada nos Estados Unidos, gravando o lendário álbum "Maysa Sings Songs Before Dawn" pela Columbia norte-americana. Lá, também se apresentou no sofisticado Blue Angel Night Club, a mais requintada casa noturna de Nova York na época.

Ainda em 1963, empreendeu um histórico concerto no Olympia de Paris, naquela que é a mais famosa casa de espetáculos da capital francesa. Em 1966 participou do II Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, classificando para a finalíssima a canção "Amor-Paz" de sua autoria, com a compositora Vera Brasil, juntamente com "Disparada", com Jair Rodrigues e "A Banda", com Chico Buarque de Hollanda e Nara Leão. No mesmo ano, Maysa também participou da primeira edição Festival Internacional da Canção. Neste último alcançou o terceiro lugar na fase nacional e o prêmio de "Melhor Intérprete Brasileira" do festival, defendendo a canção "Dia das Rosas" de Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo, desbancando totalmente a vencedora "Saveiros", interpretada por uma então novata, Nana Caymmi.

Retornou definitivamente ao Brasil em 1969. Neste ano, estreou "Maysa Especial" com Ítalo Rossi na TV Tupi carioca e o espetáculo "A Maysa de Hoje", gravado em disco, com temporadas no Canecão do Rio de Janeiro e no Urso Branco de São Paulo, obtendo sucesso de crítica e público. Pouco tempo depois, participou como jurada do V Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, e do IV Festival Internacional da Canção, com a música "Ave-Maria dos Retirantes", de Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo, que não se classificou para a final. Naquela edição, o Troféu Galo de Ouro, premiação máxima do festival, ganhou o nome de Maysa Monjardim.

Anos 70

Em 1970, Maysa lançou pela Philips o álbum "Ando Só Numa Multidão de Amores", que não obteve sucesso de público. Maysa passou então a investir na carreira de atriz e já em 1971 estreou na telenovela "O Cafona" da Rede Globo, interpretando Simone, seu alter-ego. Por esse papel, Maysa acabou ganhando o prêmio de Coadjuvante de Ouro. No mesmo ano, integrou o elenco da telenovela "Bel-Ami" da TV Tupi, interpretando Márica, mas abandonou a produção. Ela ainda montaria o espetáculo teatral "Woyzeck" de Georg Büchner, sem sucesso.

Após algumas temporadas em boates do Rio de Janeiro e São Paulo, desde o fim de 1972, Maysa se afastou do meio artístico e foi morar em uma casa de praia, localizada no município de Maricá, litoral fluminense. Lá, Maysa morou até o fim da vida, na maior parte em companhia do namorado, o ator Carlos Alberto. Durante este período, quase não gravou discos nem fez shows, fazia poucas aparições na mídia e reservava suas aparições a participações especiais, como no Fantástico e no Brasil Especial, da TV Globo.

Realizou alguns dos últimos shows de sua carreira, na Boate Igrejinha, localizada em São Paulo, em 1975. A temporada, pouco tempo depois, ficaria marcada como "A Turnê do Adeus"

Estilo Musical

As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar, pelo contrário, possuía um viés melancólico e triste, que se tornou emblemático do gênero fossa ou samba-canção. Ao lado de Maysa, destacam-se Nora Ney, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero, comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo. O samba-canção, surgido na década de 1930, antecedeu o movimento da bossa nova, surgido ao final da década de 1950, em 1958, com o qual Maysa também se identificou. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, da dor-de-cotovelo. O legado de Maysa, ainda que aponte para dívidas históricas com a bossa nova, é o de uma cantora de voz mais arrastada do que as intérpretes da bossa e por isso aproxima-se antes do bolero.

Contemporânea da compositora e cantora Dolores Duran, Maysa compôs 30 canções, numa época em que havia poucas mulheres nessa atividade. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão, sendo um dos maiores nomes da canção intimista. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva. Um dos momentos antológicos desta caracterização dramática foi a apresentação, em 1974, de "Chão de Estrelas" (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa), e de "Ne Me Quitte Pas", 10 de junho de 1976, tendo sido apresentadas em duas edições do programa Fantástico da TV Globo.

Todo este característico estilo de Maysa, influenciou ao menos meia dúzia de sua geração, e principalmente a geração posterior a sua. O estilo Maysa se tornou notável em cantores e compositores, como: Ângela Rô-Rô, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Simone e também Cazuza e Renato Russo.

Celebrizaram-se as canções: "Ouça", "Meu Mundo Caiu", "Tarde Triste", "Resposta", "Adeus", "Felicidade Infeliz", "Diplomacia é o Que?", todas de sua autoria, e mais: "Ne Me Quitte Pas", "Chão de Estrelas", "Dindi", "Por Causa de Você", "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Franqueza", "Eu Não Existo Sem Você", "Suas Mãos", "Bouquet de Izabel", "Bronzes e Cristais", "Bom Dia Tristeza", "Noite de Paz", "Castigo", "Fim de Caso", "O Barquinho", "Fim de Noite", "Meditação", "Alguém Me Disse", "Cantiga de Quem Está Só", "A Felicidade", "Manhã de Carnaval", "Hino ao Amor (L'Hymne a L'Amour)", "Demais", "Preciso Aprender a Ser Só", "Canto de Ossanha", "Tristeza", "As Mesmas Histórias", "Dia das Rosas", "Se Você Pensa", "Pra Quem Não Quiser Ouvir Meu Canto", "Light My Fire", "Chuvas de Verão", "Bonita", "As Praias Desertas", "Bloco da Solidão", "Tema de Simone" e "Morrer de Amor".


Morte

Vivendo isolada na casa de praia em Maricá, desde 1972, para onde ia todo o fim de semana, Maysa morreu a caminho da mesma casa enquanto dirigia a Brasília azul em alta velocidade, no dia 22 de Janeiro de 1977, por volta das 17:00 hs, na Ponte Rio-Niterói. O efeito de anfetaminas somado à ingestão excessiva de álcool e ao cansaço físico e psicológico que a cantora vinha sofrendo teriam provocado o fatídico acidente. Porém, a conclusão dos laudos periciais mostrou que no momento do acidente ela estava completamente sóbria, não havia resquícios de álcool em seu organismo.

Em uma de suas últimas anotações, registrou:

Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos.
(Maysa)

Fonte: Wikipédia e Blog Maysa Oficial
#FamososQuePartiram #Maysa