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Ludgero Prestes

LUDGERO PRESTES
(43 anos)
Professor

* Proximidades de Canudos, BA (15/11/1890)
+ Amparo, SP (13/10/1934)

Foi um menino sobrevivente da Guerra de Canudos, trazido para São Paulo pelo escritor e jornalista Euclides da Cunha. Ludgero se formou professor e veio a ser o primeiro diretor do Grupo Escolar de Bebedouro.

Crianças Como Butim de Guerra

Além da destruição total do arraial de Canudos, a degola em massa dos prisioneiros de guerra e o estupro de muitas mulheres e mocinhas sertanejas, a Guerra de Canudos foi marcada pelo extravio e distribuição desordenada de centenas de crianças, órfãs ou não, pelos militares.

Estas crianças eram encontradas em péssimas condições: feridas, nuas, esqueléticas, morrendo de fome. Após serem levadas pelos militares acontecia que meninas eram defloradas pelos seus supostos protetores, e muitas crianças passaram a viver como escravas nas casas de quem as abrigava. Na boca do povo, eram chamadas de jaguncinhos, um termo que aparece frequentemente durante os últimos dias da guerra.

O Comitê Patriótico da Bahia formou uma comissão para recolher crianças sertanejas feitas prisioneiras, e em seu relatório final descreve a situação em que muitos menores foram encontrados:

"E, pesa-nos dizê-lo, que grande parte dos menores reunidos pela comissão, dentre eles meninas púberes e mocinhas, se achavam em casa de quitandeiras e prostitutas. Foi, pois, para lamentar a distribuição indevida das crianças, sendo muitas remetidas para vários pontos do estado e para a capital, como uma lembrança viva de Canudos ou como um presente, sem que parentes ou o governo lhes conheça o paradeiro."

Mulheres e crianças presas durante os últimos dias da guerra de Canudos (1897)
O trabalho principal da comissão foi recolher o máximo possível destas crianças e, caso ainda tivessem pais ou parentes vivos, trazê-los de volta à sua família. Menores órfãos e sem família eram deixados em orfanatos ou com famílias de confiança. Mas no momento de instauração da comissão, a maior parte das crianças já estava longe, acompanhando militares oriundos de todo o território nacional.

O Jaguncinho de Euclides da Cunha

Também Euclides da Cunha, que estava em Canudos como correspondente de guerra para O Estado de São Paulo, recebeu um jaguncinho. No dia 21 de setembro de 1897 anotou em sua caderneta de campo:

"À 1 hora o general Artur mandou-me chamar para a prosa. (...) Conversamos até a hora do jantar. (...) Interrogamos um jaguncinho quase inanido vindo de Cocorobó."

No dia seguinte, continua:

"Noto com tristeza que o jaguncinho que me foi dado pelo general continua doente e talvez não resista à viagem para Monte Santo."

Euclides da Cunha o levou consigo e o menino sobreviveu, chegando à Pauliceia a 21 de outubro de 1897. A Gazeta de Notícias do dia seguinte escreve:

"Em companhia do Dr. Euclides veio um jaguncinho de sete anos, que ficará sob a proteção do Dr. Gabriel Prestes, diretor da Escola Normal. O jaguncinho não tem nem pai nem mãe, é muito vivo e narra com precisão admirável todos os episódios sangrentos dos últimos combates nos quais ele perdeu os pais."

Chegando em São Paulo, Euclides da Cunha entregou Ludgero para ser criado pelo influente educador Gabriel Prestes. Segundo Laura Rodrigo Otávio, esposa de Rodrigo Otávio Filho e amiga da família, Ludgero era "vesgo, um tanto desengonçado".

Não tendo filhos, Gabriel Prestes ofereceu a Ludgero um lar e muita ternura. Ludgero acabou se formando pela escola de seu pai adotivo, a Escola Normal Caetano de Campos.

Em Busca de sua Origem

A República e seus defensores não pouparam esforços para varrer Canudos do mapa. As lembranças tinham de ser apagadas inclusive dos corações e das mentes dos jaguncinhos. Escreve a historiadora Vanessa Sattamini:

"Apesar de toda a violência da guerra, das mortes, dos assassinatos que não pouparam mulheres e crianças, esta pareceu-me a maior e mais cruel das violências empreendidas pelo governo republicano: tirar de crianças que já haviam perdido tudo, o direito sobre a sua própria história de vida."

Em São Paulo, o jaguncinho trazido por Euclides da Cunha recebeu o sobrenome de seu orientador, passando a chamar-se Ludgero Prestes. Também lhe deram uma data de nascimento: 15 de novembro, o dia da Proclamação da República em nome da qual Canudos tinha sido destruída, data escolhida simbolicamente para reforçar a sua ingressão no mundo civilizado.

Na sua primeira matrícula escolar, de 1898, nos seus dados de filiação consta apenas o nome de Gabriel Prestes como tutor, e Bahia como lugar de origem. Mas parece que Ludgero, com o passar dos anos, foi se identificando cada vez mais com o seu passado e sua origem no sertão baiano, porque no último ano do curso complementar seu diploma de professor primário não refere mais a Gabriel Prestes, e sim a um homem chamado João Luiz, presumidamente seu verdadeiro pai. Além disso, a cidade de origem aparece claramente assinalada como Canudos, Bahia. A sua certidão de casamento é o primeiro documento conhecido que menciona também o nome de sua mãe: Maria Luiz, casada com João Luiz. No entanto, é pouco provável que Ludgero tenha realmente nascido em Canudos.

Em 1890, o ano de seu nascimento, Canudos não passava de uma fazenda com poucas casas. A maior parte dos habitantes de Canudos começou a chegar a partir de 1893, ano em que Antônio Conselheiro se estabeleceu no local. E visto que ele, órfão aos 7 anos, desconhecia o sobrenome de seus pais, é possível que tampouco tenha sabido onde nasceu. Euclides da Cunha faz crer que o menino teria vindo do Cocorobó, uma fazenda a 15 km de Canudos.

Ludgero Prestes como diretor do Grupo Escolar de Bebedouro, SP (1913)

Vida Adulta

Ludgero Prestes de Euclides da Cunha, que neste meio tempo tinha se tornado um célebre escritor:

"... não poderei traduzir-te a minha comoção ao ver aparecer-me quase homem - e homem na mais digna significação da palavra - o pobre jaguncinho que me apareceu pela primeira vez há onze anos no final de uma batalha."

Tornou-se professor em Serra Negra, onde casou-se com a também professora Beatriz da Cunha Lima Prestes e teve seu primeiro filho, Gabriel.

Em 7 de abril de 1913 foi nomeado diretor interino do recém-fundado Grupo Escolar de Bebedouro, interior de São Paulo. Em 1914 tornou-se professor em Amparo. De 1921 a 1927 foi diretor do Grupo Escolar de Olímpia, atualmente chamada de Escola Estadual Dona Anita Costa, em Olímpia.

Faleceu a 13 de outubro de 1934, em Amparo, aos 43 anos de idade, de Câncer de Fígado. Deixou esposa e quatro filhos.

Fonte: Wikipédia

Padre Cícero

CÍCERO ROMÃO BATISTA
(90 anos)
Padre

☼ Crato, CE (24/03/1844)
┼ Juazeiro do Norte, CE (20/07/1934)

Cícero Romão Batista foi um padre, na devoção popular é conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço, nascido no Crato, CE no dia 24/03/1844.

Proprietário de terras, gado e dono de diversos imóveis, o Padre Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. Tinha no médico Floro Bartolomeu seu braço direito e integrava o sistema político cearense que ficou sob o controle da Família Accioli durante mais de duas décadas. Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará e do Nordeste do Brasil.

Em março de 2001, foi escolhido O Cearense do Século em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de Televisão.

Nascido no interior do Ceará, era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como Dona Quinô. Aos seis anos de idade, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma.

Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos doze anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.

Em 1860, foi matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras, PB. Aí pouco demorou, pois, a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras.

A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérias dificuldades financeiras à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno.

Ordenação

Durante o período em que esteve no seminário, Padre Cícero era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência.

Padre Cícero foi ordenado no dia 30/11/1870. Após sua ordenação retornou a Crato e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

No Natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, que pertencia a cidade de Crato), e ali celebrou a tradicional Missa do Galo.

O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11/04/1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro do Norte.

Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro do Norte devido a um sonho, ou visão, que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou.

Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Jesus Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou:

- E você, Padre Cícero, tome conta deles!

Apostolado

Uma vez instalado, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão, padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.

Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.

Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e com a prostituição.

Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.

Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.

Atuou sempre com zelo na recepção dos imigrantes, dentre eles pode-se destacar José Lourenço Gomes da Silva, líder do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.

O Suposto Milagre

No ano de 1889, durante uma missa celebrada pelo Padre Cícero, a hóstia ministrada pelo sacerdote à beata Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da religiosa. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro.

A pedido de Padre Cícero a diocese formou uma comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o suposto milagre. A comissão tinha como presidente o padre Climério da Costa e como secretário o padre Francisco Ferreira Antero. Contava, ainda, com a participação dos médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico Joaquim Secundo Chaves.

Em 13/10/1891, a comissão encerrou as pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos, sendo portanto um milagre.

Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para investigar o caso, tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar e como secretário o padre Manoel Cândido. A segunda comissão concluiu que não houve milagre, mas sim um embuste.

Dom Joaquim José Vieira se posicionou favorável ao segundo parecer e, com base nele, suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero e determinou que Maria de Araújo fosse enclausurada.

Em 1898, Padre Cícero foi a Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício, conseguindo sua absolvição. No entanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi revista e Padre Cícero chegou a ser excomungado, porém, estudos realizados décadas depois pelo bispo Dom Fernando Panico sugerem que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato. Atualmente, Dom Fernando conduz o processo de reabilitação do Padre Cícero junto ao Vaticano.

Em 1977 foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira, diferente da Igreja Católica Apostólica Romana.

Política

Era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o cargo.

Em 4 de outubro de 1911, Padre Cícero e outros dezesseis líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do Coronelismo Brasileiro.

Em 1913 foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder, em 1914, quando Marcos Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro. Foi eleito, ainda, vice-governador do Ceará.

No final da década de 1920, Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.

Ligação Com o Cangaço

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto de Padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, no ano de 1926.

Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.

Existem duas versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo, em troca anistia de seus crimes e a patente de capitão. Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que Padre Cícero soubesse.

O certo é que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram Padre Cícero aconselhá-los a abandonar o Cangaço.

Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.

Fonte: Wikipédia