FRANCISCO DE ASSIS CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELO
(75 anos)
Jornalista, Empresário, Mecenas, Advogado, Professor, Escritor, Político e Membro da Academia Brasileira e Letras
☼ Umbuzeiro, PB (04/10/1892)
┼ São Paulo, SP (04/04/1968)
Mais conhecido como
Assis Chateaubriand ou
Chatô, foi um dos homens mais influentes do Brasil nas décadas de 40 e de 50 em vários campos da sociedade brasileira.
Assis Chateaubriand criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os
Diários Associados: 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal,
O Cruzeiro, uma mensal,
A Cigarra, várias revistas infantis e uma editora.
Assis Chateaubriand foi um magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 30 e início dos anos 60, dono dos
Diários Associados, que foi o maior conglomerado de mídia da America Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica.
Também é conhecido como o co-criador e fundador, em 1947, do
Museu de Arte de São Paulo (MASP), junto com
Pietro Maria Bardi, e ainda como o responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora de TV do país, a
TV Tupi. Foi Senador da República entre 1952 e 1957.
Figura polêmica e controversa, odiado e temido,
Assis Chateaubriand já foi chamado de
Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por supostamente chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial
Francisco Matarazzo Júnior. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada porém rentosa com o Presidente
Getúlio Vargas.
Filho de Francisco José Bandeira de Melo e de Maria Carmem Guedes Gondim Bandeira de Melo, foi batizado Francisco de Assis por ter nascido no dia dedicado ao santo, a quem a mãe era devota. O nome Chateaubriand tem origem na admiração do pai pelo poeta e pensador francês François-René de Chateaubriand, a ponto de comprar uma escola em meados do século XIX, na região de São João do Cariri, PB, dando-lhe o nome do pensador francês. Logo, Francisco José passou a ser conhecido na região como "Seu José do Chateaubriand", que, por corruptela, derivou para "José Chateaubriand". O nome ficou tão vinculado a Francisco José que ele batizou seus filhos com o sobrenome francês.
Nascido na Paraíba, formado pela Faculdade de Direito do Recife. A estréia no jornalismo aconteceu aos quinze anos, na Gazeta do Norte, escrevendo para o Jornal Pequeno e para o veterano Diário de Pernambuco. Neste, enfrentou uma situação inusitada: teve que dormir na redação do jornal, chegando a pegar em armas, para se defender da multidão que se empoleirava à frente do jornal em protesto contra a vitória do candidato Francisco de Assis Rosa e Silva, proprietário do jornal.
Em 1917, já no Rio de Janeiro, colaborou para o Correio da Manhã, em cujas páginas publicaria impressões da viagem à Europa que realizou em 1920.
Em 1924, assumiu a direção d'O Jornal - denominado "Órgão Líder dos Diários Associados" - e, no mesmo ano, conseguiu comprá-lo graças a recursos financeiros fornecidos por alguns Barões do Café liderados por Carlos Leôncio (Nhonhô) Magalhães, e por Percival Farquhar, de quem Assis Chateubriand, alegadamente, teria recebido como honorários advocatícios.
Substituiu artigos monótonos por reportagens instigantes e deu certo. A partir de então, começou a constituir um império jornalístico, ao qual foi agregando importantes jornais, como o Diário de Pernambuco, o jornal diário mais antigo da América Latina, e o Jornal do Comércio, o mais antigo do Rio de Janeiro.
Em 1925, Assis Chateubriand arrebatou o Diário da Noite, de São Paulo. À altura, já possuía os jornais líderes de mercado das principais capitais brasileiras.
A ascensão do império jornalístico de
Assis Chateaubriand deve ser entendida no quadro das transformações políticas do Brasil durante as décadas de 20 e 30, quando o consenso político oligárquico e fechado da
República Velha, centrado em torno da elite agrária de São Paulo, começou a ser contestado por elites burguesas emergentes da periferia do país. Não é uma coincidência que
Assis Chateubriand tenha apoiado o
Movimento Revolucionário de 1930, que levou
Getúlio Vargas ao poder, assim como, durante toda sua vida, tenha fanfarroneado a condição de provinciano que chegou ao centro do poder como uma espécie de bucaneiro político.
A ética quase nunca constava da estratégia empresarial: chantageava as empresas que não anunciassem em seus veículos, publicava poesias dos maiores anunciantes nos diários e mentia descaradamente para agredir os inimigos. Farto de ver o nome na lista de insultos, o industrial
Francisco Matarazzo Júnior ameaçou
"resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta".
Assis Chateaubriand devolveu:
"Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo".
Foi também inimigo declarado de
Ruy Barbosa e de
Rubem Braga. Apesar disso,
Assis Chateaubriand teve relação cordiais, e sempre movidas a interesses econômicos, com muitas pessoas influentes como
Rodrigues Alves,
Alexander Mackenzie, presidente do poderoso truste canadense de utilidades públicas
São Paulo Tramway, Light And Power Company, o empresário americano
Percival Farquhar e
Getúlio Vargas.
Durante o
Estado Novo, conseguiu de
Getúlio Vargas a promulgação de um decreto que lhe deu direito à guarda de uma filha, após a separação da mulher. Nesse episódio, proferiu uma frase célebre:
"Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei".
Em 1952, foi eleito Senador pela Paraíba e, em 1955, pelo Maranhão, em duas eleições escandalosamente fraudulentas.
Caracterizou-se, muito embora fosse um representante típico da burguesia nacional emergente da época, pelas posturas pró-capital estrangeiro e pró-imperialismo, primeiro o britânico, depois o americano: além de muito ligado aos interesses da
City Londrina (a escandalosa embaixada na Inglaterra, na década de 1950, foi a realização de um velho sonho pessoal), conta a anedota que ele teria uma vez dito que o Brasil, perante os Estados Unidos, estava na condição de uma
"Mulata Sestrosa" que tinha de ceder às vontades dos seu gigolô. Ele era temido pelas campanhas jornalísticas que movia, como a em defesa do capital estrangeiro e contra a criação da
Petrobrás.
Assis Chateaubriand sempre buscou adquirir novas tecnologias para os
Diários Associados. Foi assim com a máquina Multicolor, a mais moderna máquina rotativa da época, sendo o grupo de
Assis Chateaubriand o primeiro e único a possuir uma por longo tempo, na América Latina. Foi assim também com os serviços fotográficos da
Wide World Photo, que possibilitava a transmissão de fotos do exterior com uma rapidez muito maior do que possuía qualquer outro veículo nacional. O mesmo se deu com a publicidade: grandes contratos de exclusividade para lançamento de produtos com a
General Eletric e para o pó achocolatado
Toddy, cujos anúncios estavam sempre nas paginas dos jornais e revistas.
A orientação publicitária de Assis Chateaubriand para seus veículos começou a funcionar tão bem que os jornais dos Diários Associados passaram a anunciar os mais diversos produtos e serviços, desde modess a cheques bancários, algo tido como inédito na década de 1930, no Brasil.
Publicou mais de 11.870 artigos assinados nos jornais, dando oportunidades a escritores e artistas desconhecidos que depois virariam grandes nomes da literatura, do jornalismo e da pintura, como:
Graça Aranha,
Millôr Fernandes,
Anita Malfatti,
Di Cavalcanti,
Cândido Portinari e outros.
Com o tempo,
Assis Chateaubriand foi dando menos importância aos jornais e focando em novas empreitadas, como o rádio e a televisão. Pioneiro na transmissão de televisão brasileira, criou a
TV Tupi, em 1950.
Na década de 60, os jornais atolavam-se em dívidas e trocavam as grandes reportagens por matérias pagas. Dois dos veículos de comunicação lançados no início da década de 60 por
Assis Chateaubriand, o jornal
Correio Braziliense e a
TV Brasília, foram fundados em 21 de abril, no mesmo dia da fundação de Brasília.
Projetos Culturais
Em 1941, promoveu a
Campanha Nacional da Aviação, com o lema
"Deem Asas ao Brasil", na qual foi criada a maioria dos atuais aeroclubes pelo interior do Brasil, juntamente com
Joaquim Pedro Salgado Filho, então Ministro da Guerra do governo de
Getúlio Vargas.
Fundou o
Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1947, com uma coleção particular de pinturas de grandes mestres europeus que ele adquiriu a preços de ocasião na Europa empobrecida do pós-Segunda Guerra Mundial, em aquisições por vezes financiadas à base de chantagem de empresários brasileiros, coleção esta que o presidente
Juscelino Kubitschek havia tido o bom senso de, durante seu governo, colocar sob a gestão de uma Fundação, em troca de auxílio governamental ao pagamento de parte da astronômica dívida do
Condomínio Associado.
Em 10/08/1967, Assis Chateaubriand entregou ao reitor da Fundação Universidade Regional do Nordeste, hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Edvaldo de Souza do Ó, o primeiro acervo do Museu Regional de Campina Grande, localizado em Campina Grande, Paraíba. O acervo foi chamado de "Coleção Assis Chateaubriand", com cento e vinte peças. A partir de então, o museu passou a ser chamado de "Museu de Artes Assis Chateaubriand".
Academia Brasileira de Letras
Assis Chateaubriand foi o quarto ocupante da cadeira 37, eleito em 30/12/1954, na sucessão de
Getúlio Vargas, recebido pelo acadêmico
Aníbal Freire da Fonseca em 27/08/1955.
Assis Chateaubriand trabalhou até o final da vida, mesmo depois de uma trombose ocorrida em 1960, que o deixou paralisado e capaz de comunicar-se apenas por balbucios e por uma máquina de escrever adaptada.
Assis Chateaubriand morreu no dia 04/04/1968, em São Paulo, depois de uma pertinaz doença a que ele resistiu por longos anos, continuando, mesmo paraplégico e impossibilitado de falar, a escrever seus artigos. Morreu com o império se esfacelando e com o surgimento do reinado de
Roberto Marinho.
Deixou os
Diários Associados para um grupo de vinte e dois funcionários. O Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados é, conjuntamente, o 6.º maior grupo de comunicações do país. Tendo como carro chefe cinco jornais em grandes cidades do Brasil, líderes em suas respectivas praças, dos quinze que ainda restam.
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Estátua de Assis Chateaubriand em Araxá, MG |
Representações na Cultura
Assis Chateaubriand já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por
Luiz Ramalho no filme
"Chateaubriand, Cabeça de Paraíba" (2000) e por
Antonio Calloni em trecho da minissérie
"Um Só Coração" (2004).
Guilherme Fontes dirigiu um projeto de filme sobre
Assis Chateaubriand que, por vários problemas de verbas e denúncias de mau uso de leis de incentivo, ainda não foi lançado. O projeto de filme era
"Chatô, o Rei do Brasil", que captou recursos incentivados de cerca de 15 milhões de dólares, não ficou pronto e nunca foi exibido nas telas, e teria
Marco Ricca no papel de
Assis Chateaubriand.
Recentemente, o Governo Federal determinou que o ator
Guilherme Fontes e sua sócia,
Yolanda Machado Medina Colei, devolvam R$ 35,9 milhões aos cofres públicos por irregularidades na produção do filme.
Guilherme Fontes recebeu os recursos federais para fazer o filme, e não concluiu a obra.
Antes, em 2006, o ator foi condenado pelo
Tribunal de Contas da União (TCU) a devolver R$ 15 milhões pela não-entrega da série de 36 documentários
"500 Anos de História do Brasil". O tribunal julgou irregulares as contas da
Guilherme Fontes Filmes Ltda. Embora treze episódios tenham sido produzidos e até mesmo exibidos no canal a cabo GNT, a série, um subproduto do
Projeto Chatô, não havia sido concluída. Em seu relatório, o ministro do
Tribunal de Contas da União,
Marcos Bemquerer Costa disse que ficaram comprovados
"dano ao erário e infração às normas legais".
Marcos Manhães Marins escreveu, dirigiu e concluiu o filme
"Chateaubriand - Cabeça de Paraíba", em 2000, tendo sido selecionado para quinze festivais e mostras no Brasil e no exterior, sendo uma na Bélgica e outra na França. Foi exibido na
TV Educativa,
TV Cultura,
TV Senado,
Canal Brasil,
TV O Norte na Paraíba, entre outras.
No carnaval de 1999, o
Acadêmicos do Grande Rio homenageou com o enredo
"Ei, ei, ei, Chateau é o Nosso Rei!" obtendo o 6º lugar entre as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. A
Inocentes de Belford Roxo também homenageou com o enredo
"Chatô - A Fanfarra do Homem Sério Mais Engraçado do Brasil", terminando em 2º lugar entre as escolas de samba do Grupo de Acesso B, quase perto de subir para o Grupo de Acesso A.