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A Mulher de Roxo

FLORINDA SANTOS
(80 anos)
Figura Folclórica

* Salvador, BA (1917)
+ Salvador, BA (1997)

Sempre de roxo, com roupas que lembravam o hábito usado pelas freiras, ela costumava perambular e dormir pela Rua Chile e imediações, na cidade de Salvador, BA. Teria nascido em 1917 e morrido em 1997, aos 80 anos. Dizem que foi moça instruída, de boa família e que teria enlouquecido por causa de uma grande desilusão amorosa. O final da vida da Mulher de Roxo foi triste, assim como a sua imagem em vida, marcada pelo abandono de todas as coisas.

A história de Florinda Santos, a conhecida Mulher de Roxo, se transformou numa lenda urbana, uma figura mitológica conhecida por todos da localidade de Salvador. Não importava se o dia era de chuva ou de sol, ela nunca faltava. Era só as portas do comércio da Rua Chile abrirem e Dona Florinda já se encaminhava para a entrada da Sloper. Vestido com roupa de veludo violáceo, iniciava o ritual diário. Andava de um lado para o outro, falava sozinha e sempre pedia dinheiro. Tudo com muita educação. Afinal, dizia-se que a Mulher de Roxo, personagem dos tempos diários do centro da cidade, vinha de boa família.

Andava descalça com longas mantas, um terço e um enorme crucifixo. Tudo isso dava a ela um ar meio santo, meio louco, meio andarilho e meio mendigo. Algumas vezes a dama desfilou com uma roupa de noiva, com direito a buquê, véu e grinalda. Com todos esses componentes cênicos, contraditórios e demasiadamente humanos, a Mulher de Roxo despertou sentimentos em toda a cidade, medo e respeito, pena e carinho.

Qual sua origem? Poucos sabem direito. Uns defendem a tese de que havia perdido a fortuna e enlouquecido; outros apregoavam que teria visto a mãe matar o pai e depois suicidar-se; terceiros garantiam, ainda, que ela perdera a filha de consideração e a casa, na Ladeira da Montanha, numa batalha contra o jogo. Outros ainda contam que ela enlouqueceu porque teria sido abandonada no altar. Em outros depoimentos, aparece como uma bela mulher, a mais cortejada dentre as frequentadoras do chá no final da tarde na Confeitaria Chile e como ex-professora em Paripe. Florinda Santos, que nunca contou a ninguém sua verdadeira história, perambulava com suas vestes roxas, inspiradas nas roupas das suas santas de devoção.

Vestida de freira, circulando livremente pela rua mais badalada de Salvador. A estranha indumentária, que incluía ainda um grande crucifixo, a transformou na Mulher de Roxo, a principal lenda urbana da capital. Foi assim que Florinda Santos, a mendiga que jurava ser rica, passou a ser a personagem lendária, surgida, do nada, em frente à loja Sloper, nos anos 60 do século XX, em Salvador.

Quando se enfeitava, com maquiagem forte no rosto e nos lábios, ela usava o espelho retrovisor dos automóveis estacionados. Como sanitário, servia-lhe qualquer território mais calmo. A Rua Chile era sua verdadeira casa, seu mundo, seu reinado. A intimidade com a rua era tão grande que ela sempre andava descalça. Na fachada da loja Sloper, localizava-se o seu trono de sarjeta. Na Rua Chile, chegava sempre muito cedo, circulava pelo centro e só recolhia o seu saco preto ao meio-dia, quando almoçava. Ao final do dia, voltava, andando, ao albergue noturno da prefeitura, situado na Baixa dos Sapateiros.

Muitas reportagens foram publicadas na época sobre a Mulher de Roxo ou Dama de Roxo. O jornalista Marecos Navarro gravou uma entrevista exclusiva com ela e é um dos raros documentos em que é possível ouvir a voz de Florinda Santos.

Em 1985 o cineasta baiano Robinson Roberto documentou um vídeo em Super 8 em que a Mulher de Roxo diz morar no albergue há três anos, e revela pertencer à família Rainha Princesa. Foi também personagem retratado na Galeota Gratidão do Povo, painel de 160 metros quadrados pintado por Carlos Bastos, que decora o plenário da Assembléia Legislativa.

Ela era tão cinematográfica que até inspirou um personagem do cineasta Glauber Rocha no filme "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" (1969). A moça de manta roxa do filme era baseada na lenda viva da Rua Chile. Ela também inspirou o documentário "A Mulher de Roxo", produzido pelo Pólo de Teledramaturgia da Bahia. O vídeo de 12 minutos, dirigido por Fernando Guerreiro e José Américo Moreira da Silva, mistura documentário e ficção. Haydil Linhares é uma das atrizes que vive Florinda Santos, a Mulher de Roxo.


A personagem lendária da Rua Chile hoje é só lembrança. Se em vida foi famosa ou anônima, rainha ou plebeia, foi uma lenda urbana de Salvador. Enclausurada em si mesma, ninguém conheceu sua verdadeira história, de riqueza ou pobreza, de princesa abandonada no altar ou professora. Talvez ela fosse tudo que sempre queria, uma personagem lendária que sobrevive no imaginário popular. Longa vida para essa dama/santa com sua aura de mistério.

Carlos Reverbel

CARLOS DE MACEDO REVERBEL
(84 anos)
Jornalista, Cronista e Historiador

* Quaraí, RS (21/07/1912)
+ Porto Alegre, RS (27/06/1997)

Carlos Reverbel foi um dos maiores estudiosos da cultura gaúcha deste século. Jornalista militante, pesquisou sobre imprensa e história do Rio Grande do Sul, formando a maior biblioteca especializada do estado.

Carlos Reverbel deixou uma obra representativa de suas paixões e do seu trabalho. Escreveu sobre Simões Lopes Neto em "Um Capitão da Guarda Nacional" (1981), sobre Assis Brasil em "Diário de Cecília de Assis Brasil" (1983) e "Pedras Altas" (1984). Suas crônicas foram reunidas em "Barco de Papel" (1978) e "Saudações Aftosas" (1980).

Escreveu, ainda, "Maragatos e Pica-Paus" (1985) e "Assis Brasil" (1990). "Arca de Blau" (1993) reúne suas memórias em depoimento dado à jornalista Cláudia Laitano. "O Gaúcho", publicado originalmente em 1986, é um dos mais completos ensaios históricos sobre a origem e a formação do gaúcho.

Depois de passar a infância em São Gabriel, Carlos Reverbel foi para Porto Alegre em 1927. Iniciou na carreira jornalística em 1934, em Florianópolis, SC. Atuou como correspondente internacional em três ocasiões diferentes.

Morou no Rio de Janeiro por um tempo e colaborou com o jornal A Razão, de Santa Maria, RS, e trabalhou na Editora Globo, na Revista do Globo e foi um dos criadores da revista Província de São Pedro. Foi pesquisador da história e da literatura do Rio Grande do Sul e colaborador dos jornais Correio do Povo e Zero Hora.

Carlos Reverbel foi escolhido como o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 1993.

Carlos Reverbel (Foto: Dulce Helfer)
Obra Literária

  • 1978 - Barco de Papel (Crônicas)
  • 1980 - Saudações Aftosas (Crônicas)
  • 1981 - Um Capitão da Guarda Nacional (Biografia de Simões Lopes Neto)
  • 1984 - Diário de Cecília de Assis Brasil
  • 1984 - Pedras Altas - A Vida no Campo Segundo Assis Brasil
  • 1985 - Maragatos e Pica-paus
  • 1986 - O Gaúcho
  • 1993 - Arca de Blau (Memórias)


Hélio Ansaldo

HÉLIO ANSALDO
(73 anos)
Jornalista, Apresentador de TV, Locutor, Compositor e Político

* Santos, SP (16/06/1924)
+ São Paulo, SP (06/12/1997)

Hélio Ansaldo foi um jornalista, apresentador e político brasileiro. Foi locutor de rádio e apresentador de televisão, um dos pioneiros da televisão. Atuou na apresentação, redação e direção de programas esportivos, jornalísticos, humorísticos, musicais e de entretenimento em geral.

Hélio Ansaldo era formado em direito, mas começou cedo sua carreira em jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou até 1990 na TV Record, quando esta foi adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Um de seus últimos trabalhos na televisão foi no comando do "Record em Notícias" (1973-1996), popularmente conhecido como "Jornal da Tosse", ao lado de Murilo Antunes Alves, José Serra, João Mellão Neto, Arnaldo Faria de Sá, Maria Lydia Flandoli, Padre GodinhoWilson Fittipaldi (o Barão), entre outros. Sempre encerrava o debate com a seguinte mensagem: "Que Deus nos proteja e nos torne instrumentos de Sua paz".

No dia da inauguração da TV Record, em 27/09/1953, às 20:00 hs, a emissora entrou no ar com o "Boa Noite", de Hélio Ansaldo, e ao lado de Sandra Amaral apresentou um programa musical, dando início as atividades da emissora de televisão.

Atuou como ator de cinema no filme "Fuzileiro do Amor" (1956), cujo protagonista era Amácio Mazzaropi. Foi compositor musical, e também teve uma carreira política, sendo eleito deputado estadual no estado de São Paulo, tendo sua base eleitoral na cidade de Santos.


Morte

Hélio Ansaldo morreu às 3:25 hs de sábado, 06/12/1997, no Hospital São Luiz, em São Paulo. Segundo a supervisora do Hospital São Luiz, Rosa Maciel, a causa da morte do apresentador foi insuficiência respiratória, provocada por um câncer.

Hélio Ansaldo foi velado na Assembléia Legislativa. O corpo seguiu às 15:30 hs para o Cemitério São Paulo, onde aconteceu o sepultamento.

Filmografia

Como Ator

  • 1959 - Moral em Concordata
  • 1958 - Ravina
  • 1957 - Rebelião em Vila Rica
  • 1956 - Fuzileiro do Amor

Como Roteirista

  • 1959 - Eu Fui Toxicômano (TV Série)
  • 1959 - Doutor Jivago (TV Série)
  • 1958 - Cela da Morte (TV Série)

Indicação: Simone Cristina

Eduardo Mascarenhas

EDUARDO MASCARENHAS
(54 anos)
Psicanalista e Político

* Rio de Janeiro, RJ (06/07/1942)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/04/1997)

Eduardo Mascarenhas foi um psicanalista e político brasileiro famoso na década de 1980 pela participação em vários programas de TV, como o "TV Mulher".

Eduardo Mascarenhas sofreu por ter denunciado, junto com Hélio Pellegrino, a conivência do então presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise com Amílcar Lobo e com as torturas praticadas durante o regime militar, chegando a ser expulso daquela associação.


Foi casado com a atriz Christiane Torloni e escreveu três livros sobre assuntos relativos à psicanálise: "Emoções" (1986), "Cartas a um Psicanalista" (1986) e "Alcoolismo, Drogas e Grupos Anônimos de Ajuda Mútua" (1990). Manteve, também, até sua morte, colunas em revistas femininas, como Cláudia e Contigo!.

Filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT)  em 1989, pelo qual foi eleito deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro em 1990, chegando a ser vice-líder da bancada do partido na Câmara. Mudou para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) em 1993, por onde foi reeleito deputado no ano seguinte.

Eduardo Mascarenhas não conseguiu terminar o segundo mandato, por ter falecido vítima de um  câncer em 29 de abril de 1997, aos 54 anos.

Fonte: Wikipédia

Batatinha

OSCAR DA PENHA
(72 anos)
Cantor e Compositor

* Salvador, BA (05/08/1924)
+ Salvador, BA (03/01/1997)

Oscar da Penha nasceu em Salvador, na Maternidade Climério de Oliveira, em 05/08/1924. Filho de família pobre, e numerosa, ao todo 9 irmãos, morava na antiga Rua dos Campelas, hoje 3 de Maio, no Pelourinho, bairro de onde nunca sairia em toda a sua vida.

Logo cedo o menino Oscar da Penha e seus irmãos ficaram órfãos por parte de pai. Aos dez anos foi trabalhar numa marcenaria para ajudar a família. Ali ficou até os 14 anos quando ingressou como office-boy no Diário de Notícias, jornal do grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

Após atingir a maioridade, foi promovido a auxiliar tipográfico. Trabalhou também no periódico Estado da Bahia, sendo depois, como profissional de gráfica (prelista emendador), admitido como funcionário público da Imprensa Oficial, hoje Empresa Gráfica da Bahia (EGBA), função que manteve até a sua aposentadoria.

Oscar da Penha era casado com Marta dos Santos Penha e juntos tiveram nove filhos.

Desde os 15 anos já compunha suas músicas, mas começou na carreira artística no rádio, inicialmente como cantor em 1944, levado pelas mãos do pernambucano Antônio Maria, que estava chegando a Salvador para dirigir a Rádio Sociedade da Bahia, emissora do grupo dos Diários Associados. O programa era intitulado "Campeonato do Samba". Observando o jovem Oscar da Penha cantarolando coisas inéditas suas, e de artistas da época, especialmente do cantor paulista Vassourinha, o futuro autor de "Ninguém Me Ama / Ninguém Me Quer..", é o primeiro a lhe incentivar a mostrar suas composições. A partir de então, Oscar da Penha tornava-se um participante ativo desse mundo do rádio, concorrendo como calouro e como compositor. Foi assim que tirou um segundo lugar cantando "212", um samba de Roberto Martins e Mário Rossi.

Àquela época o rádio era o ponto central das atenções das pessoas, sendo a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, um modelo de inspiração para todo o país. Por sua vez, a Rádio Sociedade da Bahia era uma das mais importantes do Norte/Nordeste, possuindo um cast de locutores, operadores, atores, cantores e até uma orquestra sinfônica. Os sambas de Oscar da Penha passaram então a fazer parte do repertório dos programas da emissora.

Surge o Batatinha

Mas, de onde vem o nome artístico, Batatinha? Esse episódio tem uma história curiosa e que demonstra a grandeza de Oscar da Penha. Por causa das suas vitórias nesses concursos de sambas, os seus admiradores passaram a lhe elogiar, dizendo:

"Oscar da Penha, você é batata!"

Determinada noite, o compositor e locutor Antônio Maria, em um dos programas, anunciou:

"E agora senhoras e senhores, ouvintes da Rádio Sociedade da Bahia, o compositor Oscar da Penha, o nosso Batatinha!"

Outras versões dizem que o apelido dado pelo compositor de "Menino Grande" teria sido apenas "O Batata", e que o Oscar da Penha, na sua humildade, teria retrucado:

"Não sei se sou batata, acho que sou apenas uma pequena batata, uma batatinha".

Daí teria vingado o seu nome artístico, Batatinha, a partir de então, referência para o mundo do samba baiano. Esta última versão foi confirmada pessoalmente pelo próprio compositor, em entrevista concedida ao produtor Fernando Faro, no programa "Ensaio" TV Cultura de São Paulo, acrescentando que o Antônio Maria, com este apelido, fazia também uma alusão ao cantor paulista Vassourinha, que era o sambista preferido do Batatinha, quando este se apresentava como calouro.

Como já foi aqui registrado, Oscar da Penha, o Batatinha, fazia suas músicas, desde a década de 1940, entretanto, a primeira gravação em disco dos seus sambas só aconteceria em 1960, através do cantor carioca Jamelão. Isto se deu pela amizade que o eterno cantador dos sambas-enredos da Mangueira, mantinha com os compositores baianos, desde que passara a visitar, com freqüência, a cidade de Salvador, especialmente durante os festejos de Iemanjá, no bairro de Amaralina.

Ciceroneado pelo também saudoso cantor e compositor baiano, Tião Motorista, àquela época motorista de táxi, Jamelão viria a conhecer todos os sambistas de Salvador da época, e entre eles, Oscar da Penha. Dessa amizade sairia a promessa de gravar uma música do Batatinha. De volta ao Rio de Janeiro, levando na bagagem um repertório de sambas dos baianos, o intérprete favorito de Lupicínio Rodrigues, entre outras composições, escolheria para gravar "Jajá da Gamboa", de Batatinha. Esta foi a chave que abriu caminho para o compositor no sul do Brasil.

Um outro momento importante para o Batatinha, ainda na década de 60, deu-se com a inclusão de uma música sua, "Diplomacia", na trilha sonora do filme "Barravento" (1962), do genial cineasta baiano, Glauber Rocha. Neste filme essa canção é interpretada por um personagem de um pescador.

A Importância de Maria Bethânia

Na verdade, a primeira pessoa a difundir nacionalmente o nome de Batatinha, foi Maria Bethânia, que já em seu primeiro álbum, "Maria Bethania", RCA Victor, 1965, lançou, unidos numa mesma faixa, dois sambas dele: "Só Eu Sei" e "Diplomacia" (Batatinha e J. Luna).

Em 1971, ela o homenageia de novo, inserindo no show-disco, "Rosa dos Ventos", Phillips, um bloco todo dedicado a ele, onde explicita o seu carinho e amor pela obra do mestre. Maria Bethânia dá o seu depoimento sobre o compositor e canta "Toalha da Saudade", "Imitação" e "Hora da Razão", a última em parceria com J. Luna.

Em 1972, no disco "Drama", Phillips, Maria Bethânia, mais uma vez, grava Batatinha. Desta feita foi a canção "O Circo", uma marcha rancho que fala da tristeza de um menino pobre que, na impossibilidade de assistir a um espetáculo de circo, se conforma em ficar do lado de fora da lona ouvindo apenas as gargalhadas do público.

Pronto! O Brasil, pouco a pouco, começa a conhecer aquele compositor de rara inspiração, ombreando no mesmo nível de criação popular, com um Cartola ou um Nelson Cavaquinho, conforme opinião do cantor e compositor Paulinho da Viola, inserida na contracapa do disco "Samba da Bahia".

Vários fatores contribuíram para que a obra de Batatinha quase ficasse no anonimato total. Era um homem simples e que não via a música como objeto apenas de consumo. Por isso nunca se preocupou em caitituar espaço para as suas composições. Enquanto muitos artistas baianos, em busca do sucesso, migravam para o Sul do país, ele permaneceria em sua Salvador, no seu Pelourinho, frequentando tranquilamente as suas rodas de sambas e boêmias com os amigos.

Batatinha era uma pessoa desprovida de ambições na vida, nasceu pobre e morreu pobre. Formava com o alegre Riachão, sua antítese no comportamento musical, com Panela, também falecido no anonimato, e mais tarde com os mais jovens companheiros, como Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Tião Motorista e Walmir Lima, o QG de resistência do samba na Bahia.

Batatinha ao lado de Dorival Caymmi
As Primeiras Gravações

A sua estréia em disco deu-se no ano de 1968, através de um compacto duplo da extinta gravadora JS, que teve o título "Batatinha, Futebol Clube". Alguns anos depois, em 1973, após uma temporada na Bahia, o compositor Paulinho da Viola, levou para o Rio de Janeiro as notícias da existência daquele excelente grupo de sambistas baianos. Foi então que a gravadora Polygram, através de seu selo Fontana-Especial, resolveu produzir um disco com esses artistas.

O diretor de produção, Paulo Lima, improvisou um estúdio no Teatro Vila Velha, em Salvador, registrando o disco intitulado "Samba da Bahia", onde Batatinha estreava como cantor e com as suas próprias canções. Dividindo o projeto com ele, estavam os também estreantes em disco, o Riachão, responsável por sete músicas do lado A, e o Panela, cantando nas faixas 5 e 6 do lado B. Batatinha gravaria as faixas 1, 2, 3 e 4 do lado B, "Diplomacia", "Ministro do Samba", uma homenagem ao Paulinho da Viola, "Inventor do Trabalho", essa seria mais tarde gravada por Nora Ney e "Direito de Sambar".

Esse disco, hoje raridade apenas em LP, está a merecer uma reedição como documento histórico. Na contracapa deste trabalho há um depoimento de Maria Bethânia e um texto de Paulinho da Viola. O autor de "Foi Um Rio que Passou Em Minha Vida" assim se expressa sobre Batatinha

"Felicidade para aqueles que têm o privilégio de estar perto dele e conhecê-lo. Eu o coloco ao lado de um Nelson Cavaquinho e um Cartola... Batata, sinto um prazer imenso em ser seu amigo..."
(Paulinho da Viola)

Em 1976, Batatinha entrou no estúdio da gravadora Continental, para registrar, o seu primeiro disco solo, o "Toalha da Saudade". Na contracapa, o jornalista baiano, Jehová de Carvalho, fala um pouco das dificuldades do amigo compositor, revelando que ele tinha, às vezes, que vender seus sambas para "figuras inescrupulosas", como forma de sobrevivência.

Nesse LP encontra-se a belíssima canção "Espera", em parceria com Ederaldo Gentil. Essa canção foi recentemente regravada pelo cantor Luiz Melodia, para o CD, "Pérolas Finas", disco independente, promovido por amigos em homenagem ao cantor e compositor Ederaldo Gentil, outro grande esquecido do samba baiano. O disco "Toalha da Saudade", do Batatinha, também ainda não foi reeditado em CD.

Uma das músicas dessa fase do mestre Batata, "Hora da Razão", seria regravada no ano seguinte por Caetano Veloso, no seu disco dedicado ao carnaval, "Caetano... Muitos Carnavais..." pela gravadora Phillips em 1977.

Mesmo assim, com esse prestígio e reconhecimento por parte de artistas e músicos, o mestre continuava um ilustre quase desconhecido para a grande maioria do resto do país.

Em 1994 houve uma movimentação de seus amigos e admiradores e, com o patrocínio da Fundação Cultural do Estado, foi gravada a sua terceira bolacha (disco vinil de 12 polegadas) solo, "Batatinha - 50 Anos de Samba". As primeiras tiragens, poucas, é verdade, foram esgotadas rapidamente, então, novamente os mesmos amigos e admiradores, bancaram outras prensagens desse disco. Esta nova distribuição saiu com uma capa diferente da edição original, embora o disco em si fosse o mesmo. Esse registro continua inédito em versão CD, permanece como um tesouro de alguns fãs e colecionadores, portanto é coisa rara como os outros LPs. Neste trabalho fonográfico, Batatinha registraria, entre outras canções, a antológica, "O Circo", além de homenagear Gordurinha, outro importante autor baiano, da mesma forma relegado ao ostracismo.


Diplomacia, O Canto do Cisne

Mais uma vez Batatinha estava totalmente esquecido e esnobado por aqueles que detêm o poder de dizer o que deve ser gravado ou tocado na MPB. Por isso Batatinha era um artista descartado do mercado fonográfico. Curiosamente foi devido, indiretamente, a esse fenômeno batizado indevidamente de axé music, vilão responsável pela inversão de valores no mundo fonográfico baiano, o motivo para que Batatinha retornasse à mídia e, conseqüentemente, ao disco.

Os compositores conterrâneos Paquito, J. Velloso e Jorge Portugal, escreveram uma série de artigos pelos jornais de Salvador, onde "desciam o malho" na chamada axé music, e a sua exclusividade massacrante imposta nas execuções das estações de rádio locais. Em determinado momento, citaram o nome de Batatinha como exemplo desse descaso com a nossa verdadeira música baiana. Um dos debatedores resolveu perguntar por que a indústria fonográfica não fazia um disco com o velho mestre Batatinha. "Como não houve resposta dos empresários do setor, resolvemos, então, encampar o projeto sozinhos", diz Paquito, um dos idealizadores do disco.

Munidos de um pequeno gravador, Paquito e J. Veloso, este último sobrinho de Caetano Veloso, localizaram o mestre Batatinha, já neste tempo, com problemas graves de saúde. Fizeram várias entrevistas com ele, e se espantaram, vendo que ele não havia feito registro algum de suas composições. O seu arquivo era a sua memória, nem um simples caderno, nada!

Foi um trabalho de paciência, de amor mesmo de fãs para com seu ídolo, numa fase decisiva da vida do compositor. Enquanto respondia às perguntas e cantarolava suas canções, Batatinha batucava na caixinha de fósforos, o instrumento que usava para compor. Desta forma ele ia recordando suas canções. Paquito e J. Veloso conseguiram recuperar, desta forma, cerca de 70 músicas, muitas das quais inéditas. Em conjunto com o autor, foram selecionadas 16 das suas mais representativas músicas, sendo que esse material serviu de base para o CD homenagem, intitulado, "Diplomacia - Antologia de um Sambista", EMI-Odeon, 1977. Paquito e J. Veloso foram responsáveis pela produção do disco, sendo esse o primeiro trabalho da dupla nesse particular.


O projeto demandou dois anos para ser concluído. O próprio compositor convidou seus velhos companheiros do samba baiano, Riachão, Valmir Lima, Edil Pacheco e Nelson Rufino, além de Maria Bethânia, sua principal e maior divulgadora, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e a mineira/baiana, Jussara Silveira, na época grande revelação como cantora. Uma falta notada no disco foi a do velho parceiro Ederaldo Gentil, afastado da vida artística por problemas de saúde. Infelizmente Batatinha já andava bastante doente e não teve a alegria de ver esse disco acabado.

Nesse percurso, mesmo confiante em ver o seu primeiro CD pronto, a doença se agravara, sendo ele internado no hospital para não mais sair com vida. Algum tempo depois de ter colocado a sua voz, já um pouco fraca, nas doze canções que interpreta nesse disco, no dia 3 de janeiro de 1997, aos 72 anos, morreria vítima de um câncer na próstata, o velho Batatinha, o "Diplomata do Samba Baiano".

No trabalho de garimpagem de Paquito e J. Veloso, eles afirmam terem encontrado composições alegres e jocosas, que festejam a boêmia e a malandragem sadia. Nesse seu primeiro, e último CD póstumo, encontramos uma prova de que Batatinha nem sempre era um compositor de temas tristes. A mostra está nas hilariantes canções, "Jajá da Gamboa", "De Revólver, Não!" e "Bebê Diferente", onde, nesta última, ele retrata um bebê malandro que, em vez de leite, quer mamar pinga.

Após a sua partida, poucas homenagens lhe foram feitas, é verdade, porém algumas merecem registro. A TV Cultura, de São Paulo, através de Fernando Faro, um dos maiores responsáveis pela memória musical do país, reprisaria, na semana seguinte à morte do Batatinha, o especial "Ensaio", gravado com o compositor dois anos antes. O bloco afro Olodum, no carnaval do mesmo ano, saiu às ruas com mortalhas pretas e amarelas em sua lembrança. Em São Paulo foi promovido um show intitulado "Diplomacia - A Música do Batatinha", que teve a participação dos novos cantores Paquito, Jussara Silveira e Vânia Abreu, além dos cariocas Élton Medeiros e Dona Ivone de Lara. O ponto máximo desse show foi a presença do eterno companheiro de boêmias do homenageado, o antológico, Riachão, outro que, somente agora, teve o seu primeiro CD gravado, com a produção dos mesmos Paquito e J. Veloso. O carnaval revitalizado do bairro onde ele sempre viveu, o Pelourinho, passou a chamar-se "Circuito Batatinha".

Fonte: Samba & Choro  (Lourival Augusto - Salvador, BA)

Ênio Andrade

ÊNIO VARGAS DE ANDRADE
(68 anos)
Jogador de Futebol e Técnico

* Porto Alegre, RS (31/01/1928)
+ Porto Alegre, RS (22/01/1997)

Ênio Vargas de Andrade foi um futebolista e treinador de futebol brasileiro. Jogava como meia. Começou como zagueiro no Esporte Clube São José, no Rio Grande do Sul, em 1949, transferindo-se para o Sport Club Internacional no ano seguinte. Em 1951, transferiu-se para o  Grêmio Esportivo Renner, clube que defendeu até 1957.

Foi no Grêmio Esportivo Renner que Ênio Andrade foi deslocado para o meio-campo, através do técnico Selviro Rodrigues. Em 1956, sagrou-se campeão do II Campeonato Pan-americano do México. Ainda defendeu Palmeiras, Clube Náutico Capibaribe e novamente o Esporte Clube São José.

Após encerrar a carreira de jogador, em 1961, Ênio Andrade tornou-se técnico de futebol. Em sua nova carreira, conseguiu importantes conquistas, tal como as da época de jogador. Era considerado um treinador bastante estrategista. Conquistou três campeonatos brasileiros: em 1979, com o Internacional (sendo de forma invicta, o único a conseguir tal feito até hoje); em 1981, com o Grêmio (em pleno Estádio do Morumbi); e em 1985, com o Coritiba (em pleno Maracanã, após disputa de pênaltis).

Ênio Andrade ainda teve conquistas internacionais em seu currículo. Pelo Cruzeiro, foi uma vez campeão da Supercopa Libertadores, além de uma Copa Ouro e um Copa Master Supercopa.

Ênio Andrade faleceu em 22/01/1997, aos 68 anos de idade, vitimado por complicações pulmonares.

Títulos

Como Jogador

  • 1950 - Internacional - Campeonato Gaúcho
  • 1951 - Internacional - Campeonato Gaúcho
  • 1954 - Renner - Campeonato Gaúcho
  • 1960 - Palmeiras - Taça Brasil
  • 1959 - Palmeiras - Campeonato Paulista

Como Treinador

  • 1979 - Internacional - Campeonato Brasileiro
  • 1981 - Grêmio - Campeonato Brasileiro
  • 1985 - Coritiba - Campeonato Brasileiro
  • 1991 - Coritiba - Supercopa Libertadores
  • 1995 - Coritiba - Copa Ouro
  • 1995 - Coritiba - Copa Master Supercopa
  • 1984 - Náutico - Campeonato Pernambucano
  • 1976 - Santa Cruz - Campeonato Pernambucano

Fonte: Wikipédia

Darcy Ribeiro

DARCY RIBEIRO
(74 anos)
Antropólogo, Escritor e Político

* Montes Claros, MG (26/10/1922)
+ Brasília, DF (17/02/1997)

Darcy Ribeiro foi um antropólogo, escritor e político brasileiro conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país. Era filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes Claros, MG, fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros.

Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem admirava Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início dos anos 60, ficando também na história desta instituição por ter sido seu primeiro reitor. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Publicou vários livros, vários deles sobre os povos indígenas.

Darcy Ribeiro (Foto: Acervo Fundar)
Como muitos outros intelectuais brasileiros, foi obrigado a se exilar durante a ditadura militar brasileira, vivendo durante alguns anos no Uruguai.

Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal, dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio Teixeira. Muito antes dos políticos de direita incorporarem o discurso referente à importância da Educação para o desenvolvimento brasileiro, Darcy RibeiroLeonel Brizola já divulgavam estas ideias.

Nas eleições de 1986, Darcy Ribeiro foi candidato ao governo fluminense pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), concorrendo com Fernando Gabeira, então filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), Agnaldo Timóteo (PDS), e Moreira Franco (PMDB). Darcy Ribeiro foi derrotado, não conseguindo suplantar o favoritismo de Moreira Franco que se elegeu graças à popularidade do recém lançado Plano Cruzado.

Darcy Ribeiro também foi ministro-chefe da Casa Civil do presidente João Goulart, vice-governador do Rio de Janeiro de 1983 a 1987 e exerceu o mandato de senador pelo Rio de Janeiro, de 1991 até sua morte, anunciada por um lento processo canceroso, que comoveu todo o Brasil em torno de sua figura. Darcy Ribeiro, sempre polêmico e ardoroso defensor de suas ideias, teve em sua longa agonia o reconhecimento e admiração até dos adversários.

Poucos anos antes de falecer, publicou "O Povo Brasileiro", obra na qual, dentre outras impressões, Darcy Ribeiro relativiza a suposta ineficiência portuguesa.


Academia Brasileira de Letras

Darcy Ribeiro foi eleito em 8 de outubro de 1992 para a cadeira 11, que tem por patrono Fagundes Varela, sendo recebido a 15 de abril de 1993 por Cândido Mendes.

Em seu discurso de posse, deixou registrado:

"Confesso que me dá certo tremor d'alma o pensamento inevitável de que, com uns meses, uns anos mais, algum sucessor meu, também vergando nossa veste talar, aqui estará, hirto, no cumprimento do mesmo rito para me recordar. Vendo projetivamente a fila infindável deles, que se sucederão, me louvando, até o fim do mundo, antecipo aqui meu agradecimento a todos. Muito obrigado.
Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade."

Obras

Com obras traduzidas para diversos idiomas (inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, hebraico, húngaro e checo), Darcy Ribeiro figura entre os mais notórios intelectuais brasileiros. Divididas tematicamente, foram elas:

Etnologia
  • 1957 - Culturas E Línguas Indígenas do Brasil
  • 1957 - Arte Plumária Dos Índios Kaapo
  • 1962 - A Política Indigenista Brasileira
  • 1970 - Os Índios E A Civilização
  • 1974 - Uira Sai, À Procura de Deus
  • 1975 - Configurações Histórico-Culturais Dos Povos Americanos
  • 1986 - Suma Etnológica Brasileira (Colaboração - 3 Volumes)
  • 1996 - Diários Índios - Os Urubus-Kaapor

Antropologia
  • 1968 - O Processo Civilizatório - Etapas Da Evolução Sócio-Cultural
  • 1970 - As Américas E A Civilização - Processo De Formação E Causas Do Desenvolvimento Cultural Desigual Dos Povos Americanos
  • 1978 - O Dilema Da América Latina - Estruturas Do Poder E Forças Insurgentes
  • 1972 - Os Brasileiros - Teoria Do Brasil
  • 1970 - Os Índios E A Civilização - A Integração das Populações Indígenas No Brasil Moderno
  • 1975 - The Culture - Historical Configurations Of The American Peoples
  • 1995 - O Povo Brasileiro - A Formação  E O Sentido do Brasil

Romances
  • 1976 - Maíra
  • 1981 - O Mulo
  • 1982 - Utopia Selvagem
  • 1988 - Migo

Ensaios
  • 1950 - Kadiwéu - Ensaios Etnológicos Sobre O Saber, O Azar E A Beleza
  • 1975 - Configurações Histórico-Culturais Dos Povos Americanos
  • 1979 - Sobre O Óbvio - Ensaios Insólitos
  • 1985 - Aos Trancos E Barrancos - Como O Brasil Deu No Que Deu
  • 1986 - América Latina: A Pátria Grande
  • 1990 - Testemunho
  • 1992 - A Fundação Do Brasil - 1500/1700 (Colaboração)
  • 1995 - O Brasil Como Problema
  • 1995 - Noções De Coisas

Educação
  • 1962 - Plano Orientador Da Universidade De Brasília
  • 1969 - A Universidade Necessária
  • 1970 - Propuestas - Acerca Da La Renovación
  • 1972 - Université Des Sciences Humaines d'Alger
  • 1974 - La Universidad Peruana
  • 1978 - UnB - Invenção E Descaminho
  • 1984 - Nossa Escola É Uma Calamidade
  • 1993 - Universidade Do Terceiro Milênio - Plano Orientador Da Universidade Estadual do Norte Fluminense


Homenagens

  • O campus principal da Universidade Estadual de Montes Claros se chama Darcy Ribeiro.
  • Do mesmo modo, o campus principal da Universidade de Brasília se chama Darcy Ribeiro.
  • A Universidade Estadual do Norte Fluminense se chama oficialmente Universidade Darcy Ribeiro.
  • A Usina de Biodiesel da Petrobras Biocombustível, em Montes Claros, se chama Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro.
  • Darcy Ribeiro é o Patrono da Cadeira 28 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Fonte: Wikipédia

Capiba

LOURENÇO DA FONSECA BARBOSA
(93 anos)
Compositor e Instrumentista

* Surubim, PE (28/10/1904)
+ Recife, PE (31/12/1997)

Capiba era o décimo filho de uma família de treze irmãos. Em 1907, com três anos de idade, mudou-se com a família para a cidade do Recife. Em seguida, foi morar no estado da Paraíba, primeiro na cidade de Taperoá, depois Campina Grande e João Pessoa, onde tocou piano em cinemas. Seu pai, Severino Atanásio de Souza Barbosa, era orquestrador, arranjador, professor de música, tenor de igrejas, clarinetista e violinista. Criou com os filhos Lourenço, Sebastião, Severino, José Mariano (mais tarde conhecido como o compositor Marambá), João, Pedro e Antônio, a banda de música "Lira da Borborema", da cidade de Taperoá, na Paraíba. Assim como os irmãos, Capiba aprendeu música com o pai.

Em 1908, a família mudou-se para a cidade de Floresta dos Leões, hoje conhecida como Campina. Começou a compor aos 10 anos de idade. Em 1913, foi para a cidade de Batalhão, na Paraíba, conhecida atualmente como Taperoá. Dois anos depois, seu pai foi dirigir a Charanga Afonso Campos, a famosa Bacurau, banda de música da oposição na cidade de Campina Grande. Nessa época, a família Capiba, como eram conhecidos, gozava da estima e da admiração de todos pelos seus hábitos e disciplina.

Chico Anysio e Capiba
Com nove anos de idade, foi vítima de bexiga e esteve entre a vida e a morte. Entre 13 e 14 anos, apresentava-se na Banda Bacurau e cantava músicas sacras nas festas da padroeira da cidade. Com 16 anos, começou a trabalhar como pianista no Cine Fox, de Campina Grande, em substituição à irmã Josefa, que estava de casamento marcado. Mesmo sem saber tocar piano, aprendeu a tocar sete valsas em 11 dias e foi contratado. Seu progresso no piano foi enorme, chegando a ser convidado a integrar a Jazz Campinense como pianista e a acompanhar o cantor lírico italiano Brilhantini, que apresentou-se em curta temporada no Salão Nobre do Clube Municipal.

Nesse período era um aficionado do futebol, tendo chegado a jogar de "center forward", como eram chamados os atacantes na época, no América de Campina Grande. Atuou, ainda, no Campinense Clube e no Recife. Mais tarde, foi artilheiro do Satélite, time dos funcionários do Banco do Brasil.

Em 1924, aos 20 anos de idade, foi mandado pelos pais de volta para João Pessoa a fim de estudar no Liceu Pernambucano, com as instruções paternas de não envolver-se mais nem com futebol nem com  música. Por essa época, assumiu cada vez mais o apelido de família "Capiba", que foi, segundo ele, herdado do avô materno, e que é sinônimo de jumento teimoso.

Luiz Bandeira, Claudionor Germano e Capiba (Foto: Leonardo Dantas Silva - 1980)
Aos 20 anos de idade, gravou o primeiro disco (gravação particular), com a valsa "Meu Destino". Em 1930, voltou a morar no Recife e, aprovado em concurso, tornou-se funcionário do Banco do Brasil. Em 1938 formou-se em Direito na lendária Faculdade de Direito do Recife, onde grandes intelectuais do Brasil se formaram, mas nunca seguiu carreira.

Também no Recife, onde morou a maior parte da vida, fundou a Jazz Band Acadêmica e, com Hermeto Pascoal e Sivuca, fundou o trio "O Mundo Pegando Fogo".

Capiba é autor de mais de 200 canções, não apenas frevo, como também outros vários gêneros: de samba à música erudita. Entre os seus sucessos, estão: "Maria Bethânia", "A Mesma Rosa Amarela", "Serenata Suburbana", "Verde Mar de Navegar", e vários outros. No gênero frevo, compôs mais de cem canções.

Capiba também musicou poemas de Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e outros poetas brasileiros.

Uma de suas canções carnavalescas mais famosas, "É de Amargar", foi vencedora de um festival de frevo em Pernambuco, em 1934. Entre outros prêmios, em 1967 conquistou o 5° lugar no Segundo Festival Internacional da Canção, com a música "São do Norte os Que Vêm".

Capiba morreu no Recife, no dia 31/12/1997, vítima de Infecção Generalizada, depois de passar dez dias na UTI de um hospital.


Atuações

  • Fundador e diretor da orquestra Jazz Band Acadêmica
  • Diretor do Teatro do Estudante e do Teatro Popular do Nordeste

Parceiros

Capiba teve diversos parceiros nas suas composições. Alguns deles:

  • Carlos Pena Filho
  • Fernando Lobo
  • Carlos Drummond de Andrade
  • Manuel Bandeira
  • Vinícius de Moraes
  • Ariano Suassuna
  • João Cabral de Mello Neto
  • Ascenso Ferreira
  • Jorge de Lima

Suas Principais Composições

  • 1931 - Valsa Verde
  • 1932 - É de Tororó (Maracatu)
  • 1934 - É de Amargar (Frevo)
  • 1937 - Quem Vai Pro Farol é o Bonde de Olinda (Frevo)
  • 1938 - Guerreiro de Cabinda (Maracatu)
  • 1940 - Gosto de te Ver Cantando (Frevo)
  • 1941 - Linda Flor da Madrugada (Frevo)
  • 1942 - Quem Dera (Frevo)
  • 1944 - Maria Bethânia (Canção)
  • 1945 - Não Aguento Mais (Frevo)
  • 1945 - Que Bom Vai Ser (Frevo)
  • 1947 - E... Nada Mais (Frevo)
  • 1949 - É Luanda (Maracatu)
  • 1950 - Olinda Cidade Eterna (Samba)
  • 1950 - Recife Cidade Lendária (Samba)
  • 1951 - É Frevo, Meu Bem
  • 1952 - A Pisada é Essa (Frevo)
  • 1953 - Trem de Ferro (Moda Com Versos de Manuel Bandeira)
  • 1955 - Soneto de Fidelidade (Com Vinícius de Moraes)
  • 1955 - Serenata Suburbana (Valsa)
  • 1957 - Nação Nagô (Maracatu)
  • 1957 - O Mais Querido (Marcha-Exaltação)
  • 1958 - Sino Claro Sino (Canção)
  • 1960 - A Mesma Rosa Amarela (Samba)
  • 1962 - Cantiga do Mundo e do Amor (Canção, com Ariano Suassuna)
  • 1962 - Frevo da Saudade
  • 1963 - Madeira Que Cupim Não Rói (Frevo)
  • 1965 - O Anel Que Tu Me Deste (Frevo)
  • 1966 - Cala a Boca Menino (Frevo)
  • 1967 - São do Norte os Que Vêm (Baião)
  • 1968 - Europa França e Bahia (Frevo)
  • 1970 - Oh, Bela (Frevo)
  • 1970 - Sem Lei Nem Rei (Toada)
  • 1972 - De Chapéu de Sol Aberto (Frevo)
  • 1974 - Frevo e Ciranda (Frevo)
  • 1974 - Rei de Aruanda (Maracatu)
  • 1975 - Juventude Dourada (Frevo)
  • 1983 - Desesperada Solidão (Canção)

Fonte: Wikipédia, Dicionário Cravo Albin da MPB e Netsaber

Murilo Amorim

MURILO AMORIM CORREA
(70 anos)
Ator e Humorista

☼ Campinas, SP (19/12/1926)
┼ São Paulo, SP (13/05/1997)

Murilo Amorim Correa iniciou sua carreira no rádio, mas ganhou fama no cenário humorístico ao integrar o elenco do programa "A Praça da Alegria" nos anos 60, e depois na "A Praça é Nossa" nos anos 80. Seu papel mais conhecido foi no quadro "Vitório e Marieta", no qual atuava ao lado da comediante Maria Tereza. Outro personagem conhecido bastante conhecido foi Jacinto, o Donzelo.

Murilo Amorim e Maria Tereza, além de atuarem em várias estações de TV, também registraram vários álbuns humorísticos para a etiqueta Odeon nos anos 60. Murilo Amorim se destacou em outros selos discográficos, CBS e Copacabana, com Jacinto, o Donzelo.

Murilo Amorim Correa parece mais nome de visconde ou de professor de literatura, mas é aí, até no nome, que começa a graça do comediante que imortalizou o quadro do casal Vitório e Marieta e o Jacinto, o Donzelo, que risca, cisca, rabisca, prega fogo, mas não consegue garfar uma mulher!


Murilo fez fama como artista de rádio, TV e boates. Morando em São Paulo, capital, ficou tão conhecido como Roberto Carlos e o Pelé, apesar de não cantar e de nem saber jogar bola.

Murilo foi premiado várias vezes com o extinto Prêmio Roquete Pinto, que na época era o Oscar dos artistas no Brasil. O seu sucesso teve início com o quadro Vitório e Marieta, um dos maiores sucessos do rádio na década de 60.

Após esse trabalho, Murilo passou a interpretar o engraçado Jacinto, o Donzelo, um caipira maluco por mulher. O personagem, assim como o seu Vitório, logo ganhou fãs em todo o Brasil. Os textos, muito inteligentes, eram de Irvando Luiz.

Murilo Amorim Correa faleceu vítima de complicações circulatórias em São Paulo no dia 14 de fevereiro de 1997.

Vitório e Marieta

O italianíssimo casal Vitório e Marieta foi um grande sucesso no rádio, que acabou passando para a televisão. Mas fez sucesso também no teatro e vendeu muitos discos. O comendador Vitório era vivido por Murilo Amorim Correa e sua esposa Marieta era Maria Tereza.


Vitório e Marieta era um casal unido por uma coisa em comum: a burrice. Mas ambos julgavam-se muito espertos e inteligentes. Falavam as maiores asneiras e se achavam os tais, sempre rindo da "burrice" das pessoas com quem falavam.


No fim do quadro, Marieta encerrava sempre com a seguinte frase:


"Por isso que te admiro você, Vitório. Não existe homem mais inteligente que você na face da Terra. Ah, Vitório, eu não sei o que seria de mim sem você. É por isso que digo e repito sempre: e viva o Vitório!!!"


O quadro foi sucesso na "Praça da Alegria" e em outros programas humorísticos nos anos 60 e 70. As últimas apresentações, antes da morte de Murilo Amorim foi no programa do SBT, "Maria Tereza Especial", já nos anos 90.

Televisão

  • 1969 - Hotel do Sossego
  • 1968 - As Professorinhas ... Guedes
  • 1966 - Alma de Pedra
  • 1965 - A Indomável ... Nicolau
  • 1965 - Pecado de Mulher
  • 1964 - Uma Sombra em Minha Vida ... Noel
  • 1964 - Mãe ... Acácio
  • 1953 - TV de Vanguarda

Cinema

  • 1976 - Sabendo Usar Não Vai Faltar
  • 1957 - Absolutamente Certo ... Guilherme

Victor Giudice

VICTOR MARINO DEL GIUDICE
(63 anos)
Escritor, Crítico, Músico, Fotógrafo e Professor

* Niterói, RJ (14/02/1934)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/11/1997)

Victor Marino del Giudice nasceu em Niterói, RJ, no dia 14 de fevereiro de 1934. Seus pais eram artesãos: Marino Francisco del Giudice, de origem italiana, fabricava chapéus enquanto ainda se usavam chapéus, e Mariannalia del Giudice, católica, era exímia bordadeira, com suas mãos "barrocas" de "fada branquíssima", como o filho a descreveria, ou fantasiaria, no conto "Minha Mãe". A maneira como se referia aos pais pela ausência, presente também no conto "A Única Vez", este sobre o pai, só faz enfatizar a importância da tia Elza, professora de piano com quem o pequeno Victor Giudice convivia mais intensamente e a quem chamava de "mãe".

Quando Victor tinha cinco anos, a família mudou-se para o bairro de São Cristóvão, no Rio, que se tornaria seu "país" ficcional e referência de origem para sempre. "Quando se nasce e se cresce em São Cristóvão, logo se aprende que em São Cristóvão todas as coisas são de São Cristóvão", diria o personagem semi-autobiográfico do seu conto "A Glória No São Cristóvão"

Victor Giudice foi um menino popular, que magnetizava os colegas de rua com suas histórias. Começou, portanto, a se desenvolver na infância uma das facetas mais sedutoras de sua personalidade carismática. Com as astúcias de um legítimo entertainer, que mistura lembrança e invenção de maneira indistinguível, ele enredou pela vida afora todos os que cruzaram seu caminho.

Como Tudo Começou

Aos cinco anos de idade, ele já aprendia a amar a grande música. O pai o levava ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro para ver em ação o célebre maestro Arturo Toscanini. Com a tia Elza iniciou os estudos de piano e canto, que mais tarde aprofundaria com professores renomados. Aos nove anos, frequentava recitais de piano e óperas. Aos 11 anos leu alguns volumes da censurada Coleção Verde, de romances eróticos, e uma descoberta revolucionou o seu futuro: escrever era um prazer. Foi quando Victor Giudice produziu o primeiro dos seus contos, "Os Três Suspiros De Helena".

O gosto pelas letras nunca mais o abandonou. Seguiram-se leituras de Rider Haggard, Conan DoyleEdgar Allan PoeLuís de CamõesJean-Paul Sartre, Machado de AssisHonoré de Balzac - cuja obra foi devorada nas incursões de adolescente às estantes da biblioteca do vizinho e futuro sogro, Drº Azevedo Lima, patriarca de uma família numerosa - tornou-se uma paixão eterna. Aliás, começou ali o namoro com Leda, a filha caçula e hoje professora de literatura, com quem se casou e teve os filhos Maurício, matemático, e Renata, jornalista.

Victor Giudice formou-se em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1975, depois de cursar parcialmente Ciências Estatísticas nos anos 1950 e Direito nos anos 1960. Sua segunda mulher, Eneida Santos, foi uma colaboradora devotada e a primeira leitora de todos os seus rascunhos a partir de 1984.

O "Édipo Rei", de Sófocles, lido aos 12 anos, revelou-lhe o fascínio das histórias de mistério. Com os seriados do Cinema Fluminense, compreendeu o valor do suspense e da imprevisibilidade, atributos que iriam impregnar toda a sua obra literária. "Os Perigos De Nyoka", "O Fantasma", "Flash Gordon", "Capitão Marvel", "Império Submarino" - as chamadas "fitas em série" - figuram entre os primeiros objetos de cinefilia de Victor Giudice. Filmes dos franceses Henri-Georges Clouzot e André Cayatte também alinham-se entre suas influências inaugurais.

Por volta dos 13 anos, as visitas freqüentes aos estúdios da Cinédia lhe renderam uma ponta no filme "Pinguinho De Gente", de Gilda de Abreu. Bem mais tarde, tornou-se aluno da famosa atriz Dulcina de Moraes, com quem aprendeu os mistérios da interpretação. No entanto, Victor Giudice sempre foi um ator nato, além de imitador impagável. Suas performances-relâmpago ou a compenetrada declamação dos poemas do português Antonio Nobre eram um deleite para quem tinha a sorte de estar por perto.


O Amor Pelas Imagens

A cinefilia infantil se perpetuaria na vida adulta, com um afeto especial pelo cinema clássico europeu: Visconti, Federico Fellini, os primeiros filmes de Mario Monicelli, os de Totò, Carné, Clouzot, as comédias inglesas dos anos 40 e 50 e a nobreza de Laurence Olivier à frente de adaptações shakespearianas como "Ricardo III". Já o cinema americano era capaz de lhe despertar sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que admirava a eficiência e verossimilhança de suas narrativas, abominava seus chavões e a superficialidade na abordagem dos temas. Os filmes de Orson Welles e grandes musicais como "O Mágico De Oz", "Cantando Na Chuva" e "Um Americano Em Paris" estavam acima de qualquer restrição. Quanto ao cinema nacional, irritava-se com freqüência diante dos sinais de amadorismo que o infestavam até o final da década de 70.

Apesar de não ter concretizado nenhum projeto nessa área, - o final dos 60 e começo dos 70 registram uma obscura experiência de curta-metragem e alguns audiovisuais didáticos - Victor Giudice gostava de rascunhar eletrizantes prólogos de filmes imaginários, capazes de deixar eventuais leitores com água na boca.

O desenho e a fotografia também o atraíram desde muito cedo. A começar pelos ladrilhos da casa, que ele, subversivamente, estimulava os companheiros de infância a decorar com seus próprios traços. Comprava filmes baratos em bobinas e punha-se a fotografar a Quinta da Boa Vista, o Campo de São Cristóvão e principalmente os amigos, naquilo que foi o início de um duradouro culto aos portraits. O amor pela fotografia seria uma constante na vida de Victor Giudice. Ele teve fotos publicadas na revista O Cruzeiro (1969) e no semanário Crítica (1974). Durante vários anos, um dos cômodos de sua casa funcionou como laboratório de revelação fotográfica.

Aos 16 anos, Victor Giudice perdeu o pai. A família morava então em Macaé, RJ, mas logo voltaria a São Cristóvão. Empregou-se aos 21 anos como arte-finalista numa pequena agência de publicidade. Pintou anúncios em cortinas de teatro e, já nos anos 60, formado em Estatística, trabalhou como desenhista de gráficos para órgãos públicos. Mais tarde, ao consagrar-se como escritor, não se furtou ao prazer de criar as capas de seus livros "Necrológio", "Salvador Janta No Lamas" e "O Museu Darbot E Outros Mistérios", além de uma revista de comércio exterior editada pelo Banco do Brasil. Durante toda a vida, Victor Giudice cultivou na intimidade os retratos e caricaturas de pessoas conhecidas, feitos em bico de pena, o esboço gráfico de personagens, e teve mesmo uma fase de pinturas em aquarela.

Um Homem Múltiplo

Funcionário do Banco do Brasil por mais de 20 anos, Victor Giudice se comprazia em transformar os jargões e absurdos reais da burocracia em ficção de sabor kafkiano. "O Arquivo", seu terceiro conto, tornou-se um clássico no Brasil e foi publicado em oito países, mostrando um homem que "progride" na empresa à medida que seu salário vai sendo reduzido e ele próprio vai se convertendo num objeto. No ambiente austero do Banco do Brasil, Victor Giudice fazia o terror da hierarquia e as delícias dos colegas, com sua irresistível tendência a satirizar o cotidiano, jogar pelos ares as formalidades e se lixar para os imperativos de um mito da época: uma boa carreira no Banco do Brasil. Os formulários burocráticos lhe serviam para fazer intervenções poéticas e a rotina do trabalho lhe inspirava situações de comédia.

O homem e o escritor se confundiam na relação visceral mantida com a cidade do Rio de Janeiro. O tradicional restaurante Lamas, onde se passa a ação do conto "Salvador Janta No Lamas", era apenas um dos muitos templos gastronômicos cariocas que Victor Giudice frequentava com regularidade e fervor quase religiosos. Ele podia se deliciar tanto com queijos finos e doces sofisticados, quanto com os salgadinhos mal encarados de uma lanchonete de esquina. Domesticamente, sua faceta de chef materializava-se em papas portuguesas, estrogonofes, haddocks ao leite, uma receita própria de "Peixe à Salvador", bolos de chocolate, quindões e manjares marmorizados.

Em Victor Giudice conviviam um intelectual de gosto refinado e um homem simples e popular. Ele mantinha longas relações amistosas não só com artistas e escritores, mas também com guardadores de carro, lanterneiros, porteiros de prédios, etc. Na sua teia de laços e afetos, crianças e adultos tampouco recebiam tratamento diferenciado.

Este homem em permanente trânsito social manifestava-se também na relação com a geografia da cidade. Seu coração estava, sem dúvida, na Zona Norte, mas os túneis eram caminho diário rumo a livrarias, lojas de discos e vídeos, restaurantes, casas de amigos, etc. Comutar entre as diversas zonas geográficas, culturais e econômicas da cidade era parte do estilo de vida de Victor Giudice, um homem cujo espírito desconhecia fronteiras de qualquer natureza.

A faceta místico-esotérica foi outro traço marcante da personalidade de Victor Giudice. Ele aprendeu leitura de mãos na juventude e dizia-se um apaixonado pelo ocultismo. Nos anos 80, estudou profundamente o tarô e colecionou dezenas de baralhos, de várias modalidades e procedências. Chegou a "botar" cartas informalmente, e criou o protótipo de uma certa Mandala Divinatória, jogo de números e peças geométricas que conformaria toda a vida do consulente. Existem fortes razões para se suspeitar de que o esoterismo um tanto jocoso era, no fundo, mais uma ferramenta de elaboração ficcional de que Victor Giudice lançava mão nas incansáveis peripécias de sua imaginação.

Fuga a Bayreuth

Depois de aposentar-se em 1986, Victor Giudice retomou a carreira de professor de teoria e criação literária, interrompida na década anterior. Os anos 90 estiveram entre os mais produtivos de sua carreira: além de dar aulas, lançou dois livros, escreveu grande parte de outros dois - o romance "Do Catálogo De Flores" e um volume de teoria da significação intitulado "O Que Significa Isto?" -, inspirou admiração e respeito como crítico de música erudita do Jornal do Brasil, ministrou cursos livres sobre ópera e música sinfônica, oficinas literárias e conferências em diversas partes do país, e ainda prestava consultoria à programação de óperas em vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil.

Em agosto de 1996, já acometido pelos primeiros sintomas do que seria mais tarde diagnosticado como um tipo raro de tumor cerebral, ele realizou o sonho de comparecer ao Festival de Bayreuth, na Alemanha, para cultuar in loco o ídolo Richard Wagner. Victor Giudice, cuja vida fora um incessante diálogo com a cultura internacional, tinha medo de avião. Por isso fez poucas viagens ao exterior: esteve em Buenos Aires, Bogotá, fez três passagens rápidas por Nova York e empreendeu esta derradeira fuga a Bayreuth, com breve escala em Paris, primeiro e último vislumbre de uma Europa mitificada.

Um mês depois, Victor Giudice iniciou seu longo e lento duelo com a morte. Ela sairia vencedora na madrugada de 22 de novembro de 1997. Mas não na clínica da Zona Sul, onde ele havia passado os últimos meses, e sim na Tijuca, bairro onde moravam seus dois filhos, ali bem perto de São Cristóvão. Ou seja, dentro do perímetro mágico da sua lavoura criativa.


Bibliografia


Contos

  • Necrológio
  • Os Banheiros
  • Salvador Janta No Lamas
  • O Museu Darbot e Outros Mistérios


Romances

  • Bolero
  • O Sétimo Punhal


Teatro

  • Ária De Serviço (Diálogo para um só personagem, em um ato)
  • O Baile Das Sete Máscaras (Comédia em dois atos)


Contos Publicados no Exterior

  • 1973 - Os Pontos de Harmonisópolis, Lisboa
  • 1973 - O Arquivo (El Archivador), Manágua
  • 1975 - O Arquivo (El Archivo), Buenos Aires
  • 1976 - O Arquivo (El Archivista), México DF
  • 1977 - Carta a Estocolmo (List do Sztokhlmu), Cracóvia, Polônia
  • 1977 - Falecimento, Vida E Morte De F. (Death, Agony & Life Of F.), Nova York
  • 1977 - A Peregrinação Da Velha Auridéa (The Pilgrimage Of Old Auridéa), Nova York
  • 1978 - O Arquivo (The File Cabinet), Nova York
  • 1978 - O Arquivo (El Archivo), Buenos Aires
  • 1978 - O Arquivo (The File Cabinet), New Jersey
  • 1979 - Falecimento, Vida E Morte de F. (Snkocnacnter), Sofia
  • 1980 - Grão Medalha (Medal), Nova York
  • 1980 - O Arquivo (El Archivo), Bogotá
  • 1981 - O Visitante (El Visitante), Bogotá
  • 1982 - O Arquivo (Der Büroschrank), Hamburgo
  • 1983 - Carta A Estocolmo (Letter To Stockholm), Nova York
  • 1988 - A Lei Do Silêncio (Nächtliche Ruhestörung), Berlim
  • 1991 - Bolívar (Bolivar), Budapeste
  • 1991 - Salvador Janta No Lamas (Salvador A Lamasban Vacsorázic), Budapeste
  • 1992 - Salvador Janta No Lamas (Salvador A Lamasban Vacsorázic), Budapeste
  • 1994 - O Arquivo (Der Büroschrank), Frankfurt
  • 1997 - O Museu Darbot (Le Musée Darbot), Paris


Trabalhos Publicados Em Antologias Nacionais

  • O Arquivo - Os Melhores Contos Brasileiros de 1973 (Editora Globo, Porto Alegre)
  • O Arquivo - Contistas Brasileiros (Editora Brasiliense, São Paulo)
  • O Arquivo - Setecontos, Setencantos, Vol. II (Editora FTD, São Paulo)
  • Os Balões - Quer Que Eu Conte Um Conto? (Editora Achiamé, Rio de Janeiro)
  • A Lei Do Silêncio - O Novo Conto Brasileiro (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro)
  • O Segredo De Suzana - Os Cariocas (Editora Mercado Aberto, Porto Alegre)
  • A Última Ceia Do Drº Ordonez - Antologia de Ficção Científica nº 3 (Editora Globo, Porto Alegre)
  • A Glória No São Cristóvão - Passeios Na Zona Norte (Editora do Centro Cultural Gama Filho)


Artigos Sobre a Obra de Victor Giudice


No Brasil

  • 1975 - Graciliano, Machado, Drummond & Outros (Pólvora, Hélio - Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro)
  • 1975 - Literatura Brasileira: O Conto (Brasil, Assis - Editora Americana, Rio de Janeiro)
  • 1975 - Literatura E Vida (Villaça, Antônio Carlos - Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro)
  • 1978 - Dicionário Literário Brasileiro" (Menezes, Raimundo de - Livros Técnicos e Científicos Editora)
  • 1981 - Conto Brasileiro Contemporâneo (Hohlfeldt, Antônio - Editora Mercado Aberto)


No Exterior

  • 1982 - The City In Brazilian Literature (Lowe, Elizabeth - Associated University Press, New Jersey)
  • Brazilian Novel (Silverman, Malcolm)