Antônio Carlos Peixoto de Magalhães foi um médico, empresário e político com base eleitoral na Bahia, estado que governou por três vezes (duas vezes foi nomeado pelo Regime Militar Brasileiro), além de ter sido eleito senador em 1994 e em 2002. Egresso da União Democrática Nacional (UDN), Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Partido Democrático Social (PDS), teve o Partido da Frente Liberal (PFL) / Democratas (DEM) como sua última agremiação partidária. Era conhecido pelo acrônimo ACM.
Filho de
Francisco Peixoto de Magalhães Neto e
Helena Celestina de Magalhães, iniciou sua vida política já nos tempos de estudante, tendo sido presidente do grêmio estudantil do Colégio Estadual da Bahia, do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina e do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
Formou-se então em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia em 1952 e logo foi alçado ao posto de professor-assistente no ano seguinte. Em 1954 foi eleito deputado estadual pela União Democrática Nacional (UDN), legenda pela qual foi eleito deputado federal em 1958 e 1962.
Arguto, foi um dos grandes amigos do presidente
Juscelino Kubitschek apesar de pertencerem a partidos opostos. Simpático aos movimentos que redundaram na deposição do presidente
João Goulart através do Golpe Militar de 1964 e na consequente instauração do Regime Militar, ingressou na Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e foi reeleito deputado federal em 1966, entretanto quase não exerceu o mandato em virtude de ter sido nomeado prefeito de Salvador em 10/02/1967 pelo governador
Luiz Viana Filho, renunciando ao cargo em 06/04/1970. Meses depois foi indicado como governador da Bahia pelo presidente
Emílio Garrastazu Médici
sendo referendado pela Assembleia Legislativa para um mandato de quatro
anos.
Ávido por fazer o sucessor, sua preferência recaia sobre Clériston Andrade, teve que se conformar com a indicação de Roberto Santos para sucedê-lo no Palácio de Ondina. Após passar oito meses fora do poder foi nomeado presidente da Eletrobrás pelo presidente Ernesto Geisel em novembro de 1975, cargo ao qual renunciou em 1978 a fim de ser indicado, com sucesso, para o seu segundo mandato como governador da Bahia, mandato cumprido integralmente.
Antônio Carlos Magalhães protagonizaria um dos episódios mais tensos da história política brasileira.
Na ocasião,
Tenório Cavalcanti, ainda no mandato de deputado federal, discursava na Câmara dos Deputados. No discurso, acusava o então presidente do Banco do Brasil,
Clemente Mariani,
de desvio de verbas.
Antônio Carlos Magalhães, então deputado e baiano
como
Clemente Mariani, defendera o conterrâneo respondendo que
"vossa excelência
pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que vossa excelência é
mesmo, é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão."
Tenório Cavalcanti,
então, sacou o seu revólver e berrou:
"Vai morrer agora mesmo!". Todos
os membros da Câmara Federal correram para tentar impedir o assassinato.
Segurando o microfone,
Antônio Carlos Magalhães não se deu por vencido,
mas tremendo gritou:
"Atira!".
Tenório Cavalcanti, no fim, resolveu não atirar.
O deputado
Tenório Cavalcanti teve suas armas apreendidas e seus
direitos políticos cassados pelo governo militar em 1964 com a
interveniência direta de
Antônio Carlos Magalhães.
Após a reformulação partidária filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS) em fevereiro de 1980 mantendo incólume sua condição de líder político apesar do duro golpe sofrido às vésperas das eleições de 1982
quando um acidente aéreo vitimou
Clériston Andrade, candidato
situacionista ao governo da Bahia. Refeito da tragédia,
Antônio Carlos Magalhães indicou
João Durval Carneiro como candidato a governador, opção afinal vitoriosa.
Entusiasta da candidatura de
Mário Andreazza à sucessão do presidente
João Figueiredo, opôs-se firmemente ao nome de
Paulo Maluf como candidato após sua vitória sobre
Mário Andreazza na convenção nacional do Partido Democrático Social (PDS) realizada em 11/08/1984
pela contagem de 493 votos a 350. Episódio singular de sua postura
anti-malufista aconteceu três semanas após a convenção pedessista quando,
na inauguração do novo terminal de passageiros do aeroporto de
Salvador, o Ministro da Aeronáutica,
Délio Jardim de Mattos, criticou a postura dos dissidentes do Partido Democrático Social (PDS) em favor da candidatura de
Tancredo Neves no que
Antônio Carlos Magalhães respondeu:
"Trair a Revolução de 1964 é apoiar Maluf para presidente".
Decisivo para a vitória oposicionista no Colégio Eleitoral em 15/01/1985,
Antônio Carlos Magalhães foi indicado Ministro das Comunicações por
Tancredo Neves sendo confirmado no cargo por
José Sarney, aliás, foi o único ministro civil que permaneceu no cargo durante os
cinco anos de governo do maranhense. Curiosamente
Antônio Carlos Magalhães foi guindado à
condição de ministro de estado ainda filiado ao Partido Democrático Social (PDS) visto que só
ingressaria no Partido da Frente Liberal (PFL) em 06/01/1986.
Seu grupo político sofreu uma derrota em 1986 quando Waldir Pires venceu Josaphat Marinho
na disputa pelo governo do Estado, ano em que enfrentou um drama
familiar sem precedentes: a morte de sua filha, Ana Lúcia Maron de
Magalhães. No dia da eleição, agrediu um repórter da TV Itapoan, então afiliada do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
De volta à seara política o poderio de
Antônio Carlos Magalhães na política estadual foi revigorado a partir da renúncia de
Waldir Pires ao governo em 14/05/1989 com o fito de concorrer ao cargo de vice-presidente da República pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) na chapa de
Ulysses Guimarães, intento que não sobreviveu ao primeiro turno das eleições. Ainda em 1989
Antônio Carlos Magalhães sofreu um infarto e teve que passar por uma cirurgia, o que não o impediu de ser eleito governador do estado em 1990 ainda em primeiro turno.
Aliado de
Fernando Collor até a última hora, teve uma influência política reduzida durante o governo
Itamar Franco, mas reverteu tal situação ao se posicionar como um dos artífices da aliança entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido da Frente Liberal (PFL) que elegeu o senador
Fernando Henrique Cardoso presidente da República em 1994, mesmo ano em que
Antônio Carlos Magalhães foi eleito senador pela Bahia e
Paulo Souto governador do Estado.
Embora aliado importante do Governo Federal, seu filho,
Luís Eduardo Magalhães,
presidiu a Câmara dos Deputados entre 1995/1997.
Antônio Carlos Magalhães se opôs com
firmeza à liquidação do Banco Econômico expondo assim sua face de
"Toninho Malvadeza",
epíteto usado por adversários políticos que qualificavam sua ação
política como
"truculenta". Já seus acólitos preferiam identificá-lo
como
"Toninho Ternura".
Em 1996 seus aliados venceram as eleições para a prefeitura de Salvador pela primeira vez na história com a candidatura de
Antônio Imbassahy, que seria reeleito no ano 2000
na mais evidente prova de que o
"carlismo" era a maior força política
da Bahia.
Eleito presidente do Senado Federal para o biênio 1997/1999
sofreu um duríssimo golpe com a morte de seu filho
Luís Eduardo Magalhães em 21/04/1998, mesmo assim colheu importantes vitórias àquele mesmo ano com a reeleição de
Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República e a de
César Borges
para o governo da Bahia.
Foi reeleito presidente do Senado Federal para
o biênio 1999/2001, tendo antes ocupado a presidência da República
entre 16 e 24 de maio de 1998 em razão de uma viagem do titular ao exterior, visto que tanto o vice-presidente
Marco Maciel, quanto o presidente da Câmara dos Deputados,
Michel Temer, estavam impedidos de assumir o cargo durante o período eleitoral sob pena de inelegibilidade.
A partir de abril do ano 2000 protagonizou uma série de ofensas e trocas de acusações com o senador paraense
Jader Barbalho,
contenda que tinha como plano de fundo a sucessão de
Antônio Carlos Magalhães na presidência
do Senado Federal. À medida que era criticado por seu contendor,
Antônio Carlos Magalhães respondia elevando cada vez mais o tom das críticas, fato
que recrudesceu às vésperas da eleição para a mesa diretora do Senado
em 14/02/2001 quando
Jader Barbalho, enfim, derrotou o senador
Arlindo Porto
(PTB-MG) e foi alçado à presidência da casa. Ao longo de seus embates
com
Jader Barbalho, que recebera o apoio do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para se eleger,
Antônio Carlos Magalhães desfere
críticas ao Governo Federal, a quem acusa de conivência com a corrupção,
postura que leva à demissão os ministros
Waldeck Ornélas (Previdência Social) e
Rodolpho Tourinho
(Minas e Energia), ambos indicados por ele, o que enfraqueceu sua
posição nas hostes situacionistas.
Dias depois surge a informação de que
Antônio Carlos Magalhães tivera acesso a uma lista de votação onde
constava o voto de cada um dos senadores que participaram da sessão que
cassou o mandato do senador
Luiz Estevão
(PMDB-DF), acusado de envolvimento na obra superfaturada da sede do
Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. A referida lista teria sido
apresentada a
Antônio Carlos Magalhães pelo senador
José Roberto Arruda (PSDB-DF), então líder do governo.
Alvos de um pedido de quebra de decoro parlamentar após uma
investigação conduzida pelo Conselho de Ética do Senado, os dois
parlamentares negaram envolvimento no caso, porém a confissão de
Regina
Borges, então diretora da Empresa de Processamento de Dados do Senado,
de que a lista foi entregue por ela a
José Roberto Arruda a pedido do próprio senador
e depois mostrada por este último a
Antônio Carlos Magalhães tornou insustentável a posição
dos dois que, sem saída, apresentaram seus pedidos de renúncia para
evitar a cassação de seus mandatos e a consequente perda dos direitos
políticos.
Assim,
José Roberto Arruda renunciou em 24/05/2001 e
Antônio Carlos Magalhães no dia 30/05/2001. Em lugar de
Antônio Carlos Magalhães foi empossado seu filho, o empresário
Antônio Carlos Magalhães Júnior.
De volta a Bahia acompanhou os eventos que levariam
Jader Barbalho a renunciar ao mandato de senador e nas eleições de 2002 colheu as últimas vitórias de seu esquema político com a volta de
Paulo Souto ao governo e a conquista de mais um mandato de senador.
Empossado em 01/02/2003, logo
Antônio Carlos Magalhães interrompeu a
"trégua política" concedida a
Luiz Inácio Lula da Silva
e passou a fazer uma oposição veemente ao governo e aos aliados deste,
todavia o definhar de sua até então inabalável e incontestável liderança
tomou forma em 2004 quando o oposicionista
João Henrique Carneiro (PDT) foi eleito prefeito de Salvador em segundo turno ao derrotar o
"carlista" César Borges e no ano seguinte foi a vez de
Antônio Imbassahy deixar o Partido da Frente Liberal (PFL) e se abrigar no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em 2006 seus candidatos a governador,
Paulo Souto, e a senador,
Rodolpho Tourinho, não foram reeleitos sendo derrotados respectivamente por
Jaques Wagner (PT) e
João Durval Carneiro (PDT), este último pai do prefeito de Salvador.
Embora seu filho
Antônio Carlos Magalhães Júnior tenha pendores políticos, a continuidade de sua vida política do clã parece uma tarefa que cabe a seu neto
Antônio Carlos Magalhães Neto, eleito deputado federal em 2002, 2006 e 2010.
Exerceu
Antônio Carlos Magalhães três mandatos como governador da Bahia.
No primeiro governo foi eleito por via indireta - em plena Ditadura Militar - pelos deputados estaduais,
Antônio Carlos Magalhães representava a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido do Regime, e vinha de uma administração da prefeitura de Salvador onde arregimentara poderes que o capacitaram a receber o apoio
total do sistema. Tomou posse a 15/03/1971, e o
"carlismo" - então uma força restrita à capital - ganha todo o Estado. Já em seu discurso de posse,
Antônio Carlos Magalhães não nega sua ambição:
"São palavras evangélicas: aquele a quem muito se entregou, muito
mais se exigirá. Sei que recebo muito, diria mesmo que recebo tudo, e
estou consciente de que os baianos poderão exigir de mim trabalho,
seriedade no trabalho da administração, uma vida permanentemente voltada
para o bem comum."
Antônio Carlos Magalhães atuou durante a fase do Milagre Econômico. A Bahia entrou em um processo acelerado de industrialização, com a instalação, em Camaçari, de indústrias no Polo Petroquímico. Na Capital, Salvador, governada por um fiel aliado
Clériston Andrade,
Antônio Carlos Magalhães realizou obras de grande impacto, abrindo as chamadas "
Avenidas de Vale",
modernizando o tráfego da cidade e driblando sua topografia acidentada
da parte velha. Também no turismo Salvador deu um importante salto: de
400 apartamentos em 1970, passou para 2400 ao fim de sua administração.
Ao largo das realizações da sua administração, crescia também a sua importância política no Estado: fez o sucessor,
Roberto Santos,
além de manter sob sua égide o prefeito da capital. O
"carlismo"
consolida-se como a maior força política do Estado, e que cruzaria todo o
final do século XX adentrando o XXI.
No segundo governo tomou posse à 15/03/1979, sucedendo a
Roberto Santos - numa continuidade clara da primeira administração.
Antônio Carlos Magalhães, gozando de grande popularidade, mantinha sob sua égide
a maioria ampla dos mais de trezentos prefeitos do Estado, e a quase
totalidade das bancadas de deputados federais e estaduais - o que lhe
credenciam a, pela primeira vez, intervir com voz ativa em assuntos
federais, estando no poder o presidente
João Batista de Oliveira Figueiredo.
Em seu discurso de posse atesta esse domínio:
"Desde 1970, tive a honra de conduzir e liderar as insofismáveis
vitórias da Arena em nosso estado, de tal forma que nem o mais
impenitente adversário pôde levantar dúvidas quanto ao merecimento e à
lisura do nosso trabalho. E foram essas vitórias que situaram, tão bem, a
Bahia no cenário nacional."