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J. Silvestre

JOÃO SILVESTRE
(77 anos)
Ator, Escritor, Jornalista e Apresentador de TV

* Salto, SP (14/12/1922)
+ Fort Lauderdale, Estados Unidos (07/01/2000)

J. Silvestre começou a sua carreira profissional no rádio, no ano de 1941, atuando como locutor. De 1941 a 1945 trabalhou na Rádio Bandeirantes, da capital paulista, ganhando experiência como ator, sonoplasta, contra-regra, ensaiador e autor. Escreveu, nesse período, seus primeiros contos, novelas e peças para radio-teatro, com uma produção nesse campo que cresceu rapidamente.

Em 1945 transferiu-se para a Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, de onde partiu para realizar seu primeiro trabalho em propaganda, na Standard.

Em 1946 voltou para São Paulo e para o radioteatro, na Rádio Cultura, atuando como ator, autor e diretor.

Foi nessa estação, Rádio Cultura, em 1947, que se iniciou na carreira de animador e apresentador de programa de calouros.

Retornou em 1950 à Rádio Tupi e no mês de setembro participou, como apresentador, da primeira transmissão da TV Tupi em caráter experimental, num programa estrelado por Frei José Mojica. Daí em diante, foi cada vez mais absorvido pela televisão.


Em 1952 transferiu-se novamente para São Paulo, permanecendo na TV Tupi, e foi, na época, dos primeiros profissionais brasileiros a escrever e interpretar telenovelas. Entre elas a de maior destaque, "Os Quatro Filhos" (1965).

Acumulou, no curso de quatro anos, uma vasta bagagem de contos, novelas e peças de radioteatro (encontrou tempo para uma experiência teatral, como ator e autor, no Teatro de Arena) e foi em 1956, na televisão, que J. Silvestre registrou o seu grande sucesso como apresentador de "O Céu é o Limite".

Já então trabalhando exclusivamente na televisão, inaugurando várias emissoras em todo o país, ainda pôde dedicar-se à propaganda e viveu um período profissional de contínuas viagens no eixo Rio - São Paulo, para atender a compromissos nas duas cidades. Com o advento da Embratel, lançou o primeiro programa em cadeia no Brasil, "Domingo Alegre da Bondade", originado na TV Tupi do Rio de Janeiro.

Em 1972 afastou-se da televisão, só voltando em 1976 com um programa jornalístico diário de fim de noite. Esse período, ausente do vídeo, dedicou-se ao livro "Como Vencer na Televisão" apresentado aos leitores brasileiros.

João Oscar e J. Silvestre
Foi convidado pelo presidente da República e nomeado presidente da Radiobrás em Brasília durante a gestão do então presidente João Figueiredo.

Prosseguiu em sua carreira nos anos 80, no SBT com os programas "Show Sem Limite" e, na TV Bandeirantes os programas "Programa J. Silvestre", no mesmo formato de "O Show Sem Limite", e "Essas Mulheres Maravilhosas", sempre com muito sucesso, sempre líder de audiência no seu horário. Ainda na TV Bandeirantes, J. Silvestre criou uma serie de programas diários de prêmios e variedades com novos apresentadores.

Em apresentações especiais na Rede Globo, homenageou personalidades como Renato Aragão e Xuxa com um de seus quadros mais conhecidos: "Esta é a Sua Vida". Estes programas especiais foram repetidos varias vezes emissora.

Em 1997, na TV Manchete em um novo programa: "Domingo Milionário". Pela primeira vez J. Silvestre não teve participação na produção ou formulação deste programa. O programa nunca refletiu suas idéias. Mas este programa ficou pouco tempo no ar, e J. Silvestre não voltaria mais para a televisão falecendo em 2000.

Fonte: Programa J. Silvestre


Moreira da Silva

ANTÔNIO MOREIRA DA SILVA
(98 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (01/04/1902)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/06/2000)

O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa:

"Nasci em 1902, num 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca"
(Moreira da Silva - Revista Fatos e Fotos, 11/12/1973)

Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu vítima de cirrose, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão.

"Nunca tomei um porre em toda a minha vida", diria pouco tempo antes de morrer. "Não bebia e ainda fazia apologia do leite?", escreveu o chargista Adail, quando de sua morte.

Criado nos morros da cidade e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira da Silva encarou o  batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família.

"Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta!"

Criança, vendeu doce nas ruas do Rio de Janeiro, entregou marmita e catou papel. Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo.

"Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado."
(Moreira da Silva à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro)

Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves.

"Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas!"

Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. "O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas", diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempos de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: "Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo", elogiou o cardápio, comido "de maracanã e remo" (em prato fundo e com a mão).

Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe.

"Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado!"

Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior, que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. "Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali", fabularia Moreira da Silva décadas depois. "Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu tinha meu 'revertere ad locum tuum' sem apelação", relembrava.

Como o bom malandro não anda sempre na linha, "que o trem pega"Moreira da Silva também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva. Tornou-se assim figura conhecida da boemia.

"Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas. Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado!"

Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. "Não gostava dela, mas a moça me satisfazia", dizia com sinceridade. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da "canja e ovos quentes"O vago-mestre, rei da malandragem, era consciente de seu lero:


"Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada", dizia. "O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi", indignava-se. "Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência".


Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde "a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo". Dizia que "antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato", queixava-se. "Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor", atacava.

A Carreira

Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho:

"Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de transformar-me em cantor. Graças a ele gravei meu primeiro disco. Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro, dava o meu recado."
(Moreira da Silva em entrevista à Revista do Rádio, em 1965)

Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou dois pontos de macumba de Getúlio Marinho, "Ererê" e "Rei de Umbanda", de 1931.

"O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua voz para gravar para mim", relembra. Mas gravar música de macumba deixou o mulato cabreiro. "Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim... Então, sai dessa, malandro, disse para mim mesmo!". Havia motivo para a cisma. "Já vi o sobrenatural", disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos 19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu à sua frente e desapareceu em seguida.

O primeiro sucesso veio com "Arrasta a Sandália", de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o cast do "Programa Casé", na Rádio Philips. No ano seguinte, estourou com "Implorar", de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora ColumbiaMoreira da Silva afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar "herdou" seus versos.

Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e levou-o para a Rádio Mayrink Veiga. "Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela", disse sem modéstia. "Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia". Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou "Acertei no Milhar", de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.

Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no Teatro Politeama. "O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo". Foi um sucesso: "Abafei, com meu passinho de malandro". Agradou tanto que fez uma participação no filme "A Varanda dos Rouxinóis".

A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou "Amigo Urso", em 1941, "Fui a Paris" (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) e "Dormi no Molhado" (Moreira da Silva), em 1942. No ano seguinte, gravou "Conversa de Camelô" (T. Silva e S. Valença). Em 1950 foi contratado pela Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e lançou seu primeiro LP, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, "O Último Malandro", em que se destaca o clássico "Na Subida do Morro"  (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha).

Cantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Francisco Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, - "no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço" - era um desafio gigantesco para Moreira da Silva.

Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor, de pelica, ou botinha com botões de madrepérola, e chapéu panamá, o marido de Dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira da Silva levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como "Na Subida do Morro". Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação.

"Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda".

Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936.

"Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia. O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas 'Jogo Proibido' e eu improvisei em cima: 'Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar'. Aí nasceu o breque. O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda."
(Moreira da Silva - Jornal do Brasil, 1972)

Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira da Silva num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: "Foi a primeira vez que acompanhei conversa". Estava criado o "Rap Caboclo", muitas décadas antes do Public Enemy.

"O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido", afirmou  Moreira da Silva em entrevista à revista Ele & Ela em maio de 1982. Moreira da Silva teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido "Fui a São Paulo". Depois veio "Doutor em Futebol", em que mostrava que para ter nome não era preciso ser doutor: "Basta saber controlar o caroço com inteligência".

Moreira Vira Kid Morengueira

Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba "O Rei do Gatilho", de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um cowboy que, como o Zorro, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em seqüência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: "O Último dos Moicanos", "Os Intocáveis", "Moreira Contra 007" e "O Seqüestro de Ringo".

Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, "já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A", fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Mas, coincidência ou não, é nessa época, 1968, que Moreira da Silva se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.

Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da concorrência dos "cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de graça para aparecer nos programas", dizia, ressentido com a televisão. Em entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã, em 09/04/1970, ele dizia-se feliz com a venda de seus dois últimos álbuns, "Os Sucessos de Moreira da Silva Continuam" (1968) e "Manchete do Dia" (1969), só com sambas inéditos, lançados pelo selo Cantagalo: 30 mil discos.

"Isso porque a gravadora não tem um plano de relações públicas e vendas para o Rio, onde tenho um público bom e fiel", dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon: "Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu, ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora", resignava-se. "Creio que 'Vôo Espacial' vai fazer o sucesso de 'Amigo Urso'", sonhava o velho malandro, citando uma das faixas do disco "Manchete do Dia".

"O sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso, mas a onda vem de novo", diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em 1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.

"O malandro, aquele malandro velho, sucumbiu", pontificava Moreira da Silva sobre a criminalidade daquele início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. "Hoje, infelizmente, o que tem é bandido, assassino", diria anos depois.

Mas ele ainda tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relançou, pelo selo Imperial, o LP "A Volta do Malandro", que abriu com sua fantástica interpretação de "Gago Apaixonado", de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel.

Em 1971, gravou "Moreira da Silva na Academia", alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a Academia Brasileira de Letras prosseguiu até 1984, quando gravou "Clã dos Imortais", do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário "Moreira da Silva". No mesmo ano, Moreira da Silva gravou pela CID o disco "Consagração de Moreira da Silva", sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: "Hoje não sou rico, mas ganho cinco mil cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha".

Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: "Aqui urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional", louvou. Mas a porrada vinha embutida: "Só que gravam tapes pra todo o lado e não nos pagam". A televisão, já era a televisão. "Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado".

Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé em "É Meu Único Aluno". Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: "É a primeira vez que sou vaiado, pô!". Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer show juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha, e voltaram a excursionar.

Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP "O Astro", "Talvez o melhor disco da carreira de Moreira", no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, "O Jovem Moreira", pela Polygram, em que regrava "Diplomata", de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e "Homenagem a Noel", de sua autoria.

Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: "Cheguei e Vou Dar Trabalho" (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas, surpresa, "A Volta do Boêmio", samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves e "Último Desejo" (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, "As Rosas Não Falam", clássico de Cartola.

Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. "Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves", analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente.

Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino 7 Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP "50 Anos de Samba de Breque", pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez "Na Subida Do Morro", "O Rei do Gatilho" e "Acertei no Milhar". E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em "Cidade Lagoa" (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).

Don Juan

Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista não descansou. "Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar", disse ao Globo. "Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então... Mas sempre amei a minha mulher", confessou. Moreira da Silva entrou nos anos 90 ao lado de Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. "Estamos casados pela lei Divina", babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. "Já legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 mil cruzeiros, além de uma casa na Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no Iaserj para ter seus direitos garantidos", cuidava ele. Mas continuaram morando separados. "Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos", acreditava o velho malandro.

Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: "Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso", vangloriava-se. "Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos".

Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Em junho, estreou temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albin, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo de 30/07/1990, registrou algumas frases do depoimento: "Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto".

Em 1991, Moreira da Silva foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: "Sou um símbolo carioca". Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa.


"Eu frequentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas."

Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilaridade dos bons tempos do bairro:


"Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre".

Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na Boate People, e os 91 anos no Jazzmania, no Rio de Janeiro. Estava em plena atividade e em 1993 lançou "Moreira da Silva Fotografando a Cidade", o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-1960, pela EMI/Odeon. Novamente gravou "Na Subida do Morro" e "Olha o Padilha". Regravou também "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e "Pistom de Gafieira", de Billy Blanco.

Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio de Janeiro, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão, o chapéu panamá, pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos.

"As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça", lamentava-se.

"É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio", declarou Jards Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira da Silva não foi triste nem despedida pois no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD "Os Três Malandros", que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira da Silva não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: "Só vale o balanço".

Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, "O Último dos Malandros", do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela Editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira da Silva.

João Máximo divide a obra de Moreira da Silva em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros - "Amigo Urso", "Acertei no Milhar" - e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. "O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo", disse na resenha do livro. "Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras", escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30/40.

Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira da Silva ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca.

Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque "Pra Fazer 97", em parceria com Reginaldo Bessa e "Ecologia", com Aidran do Grajaú. É com Reginaldo Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.

Moreira da Silva nunca foi de fazer média. Deitou falação sem travas na língua. Para ele "a batida da Bossa Nova é quase a de rumba".


"Caetano Veloso queria mesmo é rebolar, um atrevido. Imagine que outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?. Tião Motorista é que é o bom da Bahia!"

"Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis, gosto mesmo é de serestas e das baladas do Agnaldo Timóteo."
(Revista O Cruzeiro, 12/1968)


"Gosto do Roberto Carlos, mas não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro."


"O Chico Buarque é o Noel Rosa muito devagar. Paulinho da Viola? É ainda água-com-açúcar. É sofrível."


"Outro dia eu vi aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra".


"Martinho da Vila é sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o 'Batuque na Cozinha' não é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II".


"Eu sou melhor do que ela (Elis Regina) em qualquer parte do mundo que a gente bater."


"Donga foi um cara bom. Grande compositor e tocando violão muito bem".

Mas ele também levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos Cachaça, o grande mangueirense.


"Os sambas dele eram mais comerciais, mais rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro."
(Carlos Cachaça)

Moreira da Silva também deitou falação contra os meios de comunicação.

"No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?"
(Moreira da Silva disse ao Pasquim)

"Na TV a coisa funcionava diferente. A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: Escuta, o rapaz que te telefonou e disse que era 700, mas só pode ser 500"

Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira da Silva soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha:

"Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa."

Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: "Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil", babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: "Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro", justificava.

Para Juscelino Kubitschek gravou "Cutuca, Nonô", de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: "passeata não resolve". E chegou a se candidatar a vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: "A moçada parece que não acreditou em mim".

Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem. Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornara um artista consagrado não desempenhava a função. "Os colegas tiravam meu plantão", declarou ao Pasquim.

Moreira da Silva não era político, não militava, mas suas músicas revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto. Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo:

"Uma estação de rádio não é uma propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar até a envenenar a nossa pátria!"

Em 1984 gravou "Moreira Já', de William Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1.500 compactos, durante show no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a Academia Brasileira de Letras. "Afinal de contas, sou pelas eleições diretas", justificou. Moreira da Silva confessou ter votado em Lula para presidente: "O FHC eu não gosto, parece que vai descontar dos aposentados."

Cruel crítico dos colegas, louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira da Silva era coluna do meio na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave: "Não, não, não. Aí eu sou neutro". Mas insinuava lá seus motivos: "Sabe como é que é...", desconversava. Seu comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais.

A autoria da obra de Moreira da Silva como compositor era questionada por ele próprio: "A necessidade faz o sapo pular. Já vendi e comprei muito samba. No começo da carreira, não. Naquele tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço", confessou em 1973.

Moreira da Silva falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: "O esquema de entrar é o seguinte... o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba aqui, pode ter esquema de entrar... Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome (Zé da Zilda)", declarou ao Pasquim.  Ele conta que pagou 150 mil-réis pelo samba "Dormi no Molhado", do Zé da Zilda. "O Francisco Alves comprava", entregou na mesma entrevista.

Ao jornal Opinião confessou ter recebido de presente a parceria do samba "A Carne", de Nelson Cavaquinho. "Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele. Ele vendeu para um rapaz, o Roxo", disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira da Silva ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: "Paguei um conto e trezentos mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis. Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem suas canções", justificava.

Moreira da Silva dizia não ser saudosista, mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais atribuía o fim de seu reinado: "Um Ary Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar". No mais, se conformava. Só estranhava a explosão demográfica: "Tá nascendo gente pra danar".

Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. "Velhice para mim não existe. Parece que cheguei ontem ao planeta", dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio era trivial: "O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo", costumava dizer. 

Da janela do apartamento no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. "Meus futuros guardiães, que trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão", esconjurava. Mas não temia e até desdenhava da perpétua: "O futuro é uma caveira". E cantarolava:


Para fazer 97

Tem que ser malandro

Quem não pode, não se mete
Que o bicho tá pegando

Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo: "Black And White". Não o whisky, que como já se viu não era seu forte. "Minha mãe era black e meu pai era white".

Moreira da Silva viveu seus últimos dias com o que recebia de pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara, cargo em que se aposentou, e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como R$ 1.200,00. "Dá pro gasto", conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim.

No apartamento do bairro do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: "Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol". Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992.

Agora, quando saía, era de táxi. "Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo", queixava-se. Apesar disso, Reginaldo Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. "Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol... Minha pressão é 12 por 8", dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.

Morte

Moreira da Silva morreu vítima de Falência Múltipla dos Órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde meados de maio de 2000. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro. Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: "Se um vigarista soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por vigarismo". Este era o retrato fiel do Moreira da Silva. "A malandragem nunca existiu para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou", pontificava. "Hoje estou humildemente, modestamente, na história do samba".

Moreira da Silva não teve filhos. "Fiz uma vasectomia natural por causa de tanta farra", mas adotou Marli, que lhe deu dois netos.

Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva, Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

Fonte: Agenda do Samba e Choro

João Nogueira

JOÃO NOGUEIRA
(58 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (12/11/1941)
+ Rio de Janeiro, RJ (05/06/2000)

Desde o início de sua carreira ficou conhecido pelo suingue característico de seus sambas. É pai do também cantor e compositor Diogo Nogueira.

Filho do advogado e músico João Batista Nogueira e irmão da também compositora, Gisa Nogueira, desde cedo tomou contato com o mundo musical. Logo aprendeu a tocar violão e a compor em parceria com a irmã.

Com apenas 17 anos, já era diretor de um bloco carnavalesco no bairro carioca do Méier. Nesta época, a gravadora Copacabana gravou sua composição "Espera, Ó Nega", que João Nogueira cantou acompanhado pelo conjunto, depois chamado, Nosso Samba. Em 1970, Elizeth Cardoso ouviu a gravação de sua composição "Corrente de Aço" e resolveu regravá-la.

Em 1971, teve obras suas gravadas por Clara Nunes, "Meu Lema", e Eliana Pittman, "Das Duzentas Pra Lá". Como esta música defendia a ampliação do mar territorial do Brasil para 200 milhas, medida adotada pelo regime militar, João Nogueira sofreu patrulha ideológica.

Ainda em 1971, João Nogueira passou a integrar a ala de compositores do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, sua escola de coração, onde venceu um concurso interno com o samba "Sonho de Bamba". Mais tarde fez parte do grupo dissidente que saiu da Portela para fundar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Tradição. Fundou também o bloco Clube do Samba, que ajudou a revitalizar o carnaval de rua carioca.

Em mais de quatro décadas de atividade, João Nogueira gravou 18 discos. Teve vários parceiros, mas o mais importante foi certamente Paulo César Pinheiro.

Quando morreu, vitimado por um Infarto, em 05/06/2000, João Nogueira organizava um espetáculo numa grande casa noturna de São Paulo, e que resultaria no lançamento de uma gravação ao vivo.

Com sua morte, vários colegas se juntaram para apresentar, nas mesmas datas e no mesmo local, um espetáculo em sua homenagem. Participaram Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Arlindo CruzSombrinha, Emílio Santiago, Carlinhos Vergueiro e a família de João Nogueira: o sobrinho Didu, o filho Diogo e a irmã e parceira Gisa. O show foi gravado para o disco "João Nogueira, Através do Espelho".




Discografia

  • 1998 - O Nome do Samba é João (Ao Vivo)
  • 1998 - João de Todos os Sambas
  • 1996 - Chico Buarque, Letra & Música (João Nogueira e Marinho Boffa)
  • 1994 - Parceria - João Nogueira e Paulo César Pinheiro (Ao Vivo)
  • 1992 - Além do Espelho
  • 1988 - João
  • 1986 - João Nogueira
  • 1985 - De Amor é Bom
  • 1984 - Pelas Terras do Pau-Brasil
  • 1983 - Bem Transado
  • 1982 - O Homem dos Quarenta
  • 1981 - Wilson, Geraldo, Noel
  • 1980 - Boca do Povo
  • 1979 - Clube do Samba
  • 1978 - Vida Boêmia
  • 1977 - Espelho
  • 1975 - Vem Quem Tem
  • 1974 - E Lá Vou Eu
  • 1972 - João Nogueira

Fonte: Wikipédia

Rômulo Arantes

RÔMULO DUNCAN ARANTES JÚNIOR
(42 anos)
Nadador e Ator

☼ Rio de Janeiro, RJ (12/06/1957)
┼ Maripá de Minas, MG (10/06/2000)

Rômulo Duncan Arantes Junior, mais conhecido por Rômulo Arantes, foi um nadador e ator nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 12/06/1957.

Rômulo Arantes é pai do ator Rômulo Neto e participou de três Jogos Olímpicos:

  • Munique 1972, onde participou das provas dos 100 metros costas, 200 metros costas e do 4x100m medley (onde foi à final e terminou em 5º lugar);
  • Montreal 1976, onde esteve nas provas dos 100 e 200 metros costas e 100 metros borboleta, não chegando à final;
  • Moscou 1980, onde esteve nos 100 metros costas (não chegando à final) e nos 4x100m medley (onde chegou à final, terminando em 8º lugar).

Na Universíada de 1977, ele foi medalha de ouro nos 100 metros costas, com a marca de 58s45. E na Universíada de 1981, obteve o bronze na mesma prova, fazendo 58s24.

Rômulo Arantes foi o primeiro medalhista brasileiro em Mundiais. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 1978, realizado em Berlim, Alemanha Ocidental, ele obteve a medalha de bronze na prova dos 100 metros costas, com a marca de 58s01.

Nos Jogos Pan-Americanos de 1979, foi medalha de prata na prova dos 100 metros costas. Também ganhou o bronze no revezamento 4x100m livres, em ambos batendo o recorde sul-americano.

Entre 1977 e 1981 ele estudou Administração e treinou na Universidade de Indiana, e se tornou bacharel em 1981. Após encerrar a carreira na natação, nos anos 80, ele tornou-se ator e técnico de natação.

Sua carreira como ator começou em uma ponta na novela "Brilhante" (1981), e seus maiores sucessos na TV foram em "Sassaricando" (1987)"Riacho Doce" (1990), "Pantanal" (1990), "Perigosas Peruas" (1992)"Quatro Por Quatro" (1994) e "Vira Lata" (1996).

Rômulo Arantes chegou a trabalhar como cantor, montando, junto com os também atores Kadu Moliterno e Marcelo Serrado, uma banda chamada Piloto Automático.

No cinema, Rômulo Arantes fez quatro filmes, entre eles "Leila Diniz" (1987), onde interpretou o cantor Toquinho.

Morte

Rômulo Arantes faleceu no sábado, 10/06/2000, aos 42 anos, em Maripá de Minas, MG, vítima de um acidente de ultraleve, dois dias antes de completar 43 anos. No acidente morreu também o co-piloto, Fábio Amorim Ribeiro Ruivo, 24 anos.

Rômulo Arantes possuía uma fazenda na região, onde também morava sua esposa, a empresária Valéria Braga. Ele viajava em um ultraleve monomotor, modelo Pelicano (prefixo 2347) que, por volta das 10h30, teria sofrido uma pane antes de cair.

Segundo testemunhas, cinco minutos depois da decolagem, o ultraleve se espatifou no solo, a 200 metros da casa. No momento da queda, toda a família estava na fazenda, reunida para comemorar o 43º aniversário do ator, que aconteceria dois dias depois.

Rômulo Arantes foi enterrado no Cemitério Municipal de Bicas, cidade vizinha de Maripá de Minas, em Minas Gerais.

Rômulo Arantes deixou dois filhos: Rômulo Cloé. O filho Rômulo Arantes Neto, tornou-se ator como o pai.

Carreira

Televisão
  • 2000 - Zorra Total
  • 1997 - Canoa do Bagre ... Pedro
  • 1996 - Xica da Silva ... Capataz
  • 1996 - Vira-lata ... Ítalo
  • 1994 - Quatro Por Quatro ... Pedrão
  • 1993 - Sex Appeal ... Maurício
  • 1992 - Perigosas Peruas ... Téio
  • 1990 - Riacho Doce ... Julião
  • 1990 - Pantanal ... Levi
  • 1987 - Sassaricando ... Adônis
  • 1987 - Direito de Amar ... Nelo
  • 1985 - A Gata Comeu ... Participação Especial
  • 1984 - Vereda Tropical ... Professor de natação de Téo
  • 1982 - O Homem Proibido ... Juca
  • 1982 - Paraíso
  • 1982 - Caso Verdade
  • 1981 - Brilhante ... Omar Silva

Cinema
  • 1987 - Leila Diniz ... Toquinho
  • 1986 - Hell Hunters ... Tonio
  • 1984 - Blame It On Rio ... Diego
  • 1984 - Patriamada

Fonte: Wikipédia

Baden Powell

BADEN POWELL DE AQUINO
(63 anos)
Violonista e Compositor

* Varre-Sai, RJ (06/08/1937)
+ Rio de Janeiro, RJ (26/09/2000)

Filho de Dona Adelina e do violinista e escoteiro Lilo de Aquino, que lhe deu esse nome por ser fã do criador do Escotismo, general britânico Robert Stephenson Smyth Baden-Powell. É irmão de Vera Gonçalves de Aquino e pai do pianista e tecladista Philippe Baden Powell e do violonista Louis Marcel Powell, ambos nascidos na França, e primo do violonista João de Aquino.

Aos nove anos começou a estudar violão, mas só ficou famoso no Brasil quando constituiu uma parceria com Vinícius de Moraes, que escreveu versos para suas composições, criando o gênero dos afro-sambas.

Tocava a música tradicional brasileira, mas amava o jazz e logo desenvolveu um estilo que se baseava em Django Reinhardt e Barney Kessel. Passou a ser conhecido internacionalmente em 1966 quando Joaquim Berendt teve a oportunidade de conhecê-lo, convidando-o para gravar seu primeiro disco e visitar a Europa.

O sucesso não o abandonou e sua fama foi aumentando com seus discos, principalmente na Alemanha. Continuou dando concertos, também nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de se apresentar com Stan Getz.

Baden Powell tinha uma maneira única de tocar violão, incorporando elementos virtuosísticos da técnica clássica e suingue e harmonia populares. Explorou de maneira radical os limites do instrumento, o que o transformou em uma rara estrela nacional da área com trânsito internacional.

Baden Powell foi considerado por muitos um dos maiores violonistas de jazz desde o início da bossa nova. Já gravou muitos discos entre os quais é preciso mencionar "Baden Powell Quartet", um álbum duplo gravado para a Barclay, "Stephane Grappelli - Baden Powell" (Fontana) e "Baden Powell".


Morte


Baden Powell estava internado desde o dia 22/08/2000 na Clínica Sorocaba, em Botafogo, RJ, em conseqüência de uma Pneumonia Bacteriana. Nos últimos dias, o músico, que era diabético, respirava com o auxílio de aparelhos e tinha seus sinais vitais mantidos às custas de drogas vasopressoras.

O músico foi internado com um quadro de pneumonia que foi se agravando ao longo do mês.

O último boletim da equipe médica que acompanhava Baden Powell foi emitido no dia 21/08/2002, quinta-feira. Segundo o boletim, o músico estava respirando com auxílio de aparelhos, fazendo hemodiálise e apresentava um quadro infeccioso. Baden Powell estava se alimentando por sonda e necessitando de drogas para manter sinais vitais.

Discografia

  • 1959 - 78 RPM
  • 1959 - Apresentando Baden Powell e Seu Violão
  • 1961 - Um Violão na Madrugada
  • 1962 - Baden Powell (Compacto Duplo)
  • 1962 - Baden Powell Swing With Jimmy Pratt
  • 1963 - Baden Powell à Vontade
  • 1964 - Le Monde Musical de Baden Powell (gravado na França)
  • 1965 - Billy Nencioli / Baden Powell
  • 1966 - Baden Powell ao Vivo no Teatro Santa Rosa
  • 1966 - Os Afro-sambas - Baden & Vinícius
  • 1966 - Tempo Feliz
  • 1966 - Tristeza on Guitar
  • 1967 - Berlin Jazz Festival
  • 1968 - Poema on Guitar
  • 1968 - Show Recital: Baden, Marcia & Originais do Samba
  • 1969 - 27 Horas de Estúdio
  • 1969 - Le Monde Musical de Baden Powell - Vol. 2
  • 1970 - Baden Powell Quartet Vol. 1
  • 1970 - Baden Powell Quartet Vol. 2
  • 1970 - Baden Powell Quartet Vol. 3
  • 1970 - Canto on Guitar
  • 1970 - Lotus/Tristeza
  • 1970 - Os Cantores de Lapinha
  • 1971 - Estudos
  • 1971 - L'ame de Baden Powell
  • 1971 - L'art de Baden Powell
  • 1972 - Samba Triste
  • 1972 - Baden Powell
  • 1973 - Apaixonado
  • 1973 - Solitude on Guitar
  • 1974 - La Grande Reunion
  • 1974 - La Grande Reunion Vol. 2
  • 1977 - Baden Powell Canta Vinicius de Moraes e Paulo Cesar Pinheiro
  • 1977 - Maria D'Apparecida et Baden Powell
  • 1979 - Grande Show ao Vivo no Procopio Ferreira
  • 1983 - Felicidades / Felicidade / Live in Hamburgo
  • 1990 - Os Afro-Sambas - Regravação Com Quarteto em Cy
  • 1990 - Live at The Rio Jazz Club
  • 1992 - The Frankfurt Opera Concert 1975
  • 1992 - Live in Switzerland
  • 1994 - Rio a Paris - Decembre 94
  • 1995 - Baden Powell & Filhos
  • 1996 - Baden Powell a Paris
  • 1996 - Live at Montreux Jazz Festival
  • 1998 - Suite Afro-Consolação
  • 2000 - Lembranças

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #BadenPowell

Márcia Kubitschek

MÁRCIA LEMOS KUBITSCHEK DE OLIVEIRA
(56 anos)
Jornalista e Política

* Belo Horizonte, MG (22/10/1943)
+ São Paulo, SP (05/08/2000)

Márcia Lemos Kubitschek de Oliveira foi uma jornalista e política brasileira.

Filha do casal Juscelino Kubitschek e Sarah Kubitschek, Márcia Kubitischek nasceu num parto com complicações, o que quase custou sua vida e a vida de sua mãe, mas felizmente ela nasceu aparentemente saudável. Aos dez anos descobriu um problema na coluna vertebral, uma possível sequela do parto. Esse problema a impediu de seguir carreira de bailarina, que era seu sonho.

Com o agravamento do seu estado de saúde, foi levada à Europa pelos pais a fim de ser operada pelo melhor médico ortopedista da época. Conseguiu ser curada, apesar de não ter seu sonho realizado de ser bailarina, ficou feliz por ter recuperado sua vida saudável de antes. Seu pai Juscelino Kubitschek chegou á fase final de seu governo inaugurando Brasilia a nova capital do Brasil em 21 de abril de 1960.

Vida Pessoal

Em terras lusitanas, casou-se com o banqueiro Baldomero Barbará Neto e teve duas filhas: Anna Christina Kubitschek Barbará, nascida na Cidade do Rio de Janeiro em 1 de junho de 1968, casada com Paulo Octávio, e Júlia Diana Kubitschek Barbará, nascida em Nova York, dia 29 de abril de 1976. Casaram-se em Lisboa, em 1965 e depois de mais de dez anos de casamento com Baldomero Barbará Neto, acabou por pedir o divórcio. 

Mudou-se para os Estados Unidos com as filhas e continuou trabalhando. Casou-se novamente em 1980, com o bailarino norte americano, nascido em Miami, de ascendência cubana, Fernando Bujones. Desta união nasceu em Nova York, no ano de 1983, sua filha caçula, Alejandra Patrícia Kubitschek Bujones. O casal separou em 1988 e ela voltou a morar no Brasil com as três filhas.

Alguns anos depois, reencontrou seu namorado de adolescência, o advogado gaúcho José Carlos Barroso e com ele se casou. Foi seu último marido.

Carreira

Foi aluna do curso de Comunicação Social, onde estudou de 1960 a 1963, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e se formou jornalista, trabalhando ao se formar em jornais como o Última Hora e o Jornal do Brasil. Também trabalhou na revista Manchete.

Foi diretora da Fundação Cultural do Rio de Janeiro e fez mestrado em Ciências Políticas de 1977 a 1980 pela Universidade de Nova York, cidade na qual dirigiu o escritório da Embratur durante o primeiro ano do governo de José Sarney.

Márcia Kubitschek falava fluentemente cinco idiomas e viajou o mundo diversas vezes.

Teve dois netos e duas netas: Felipe e André, filhos de Anna Christina com o deputado mineiro Paulo Octávio Alves Pereira e Maria Vitoria e Luiza filhas de Júlia Diana com o banqueiro Frederico Albarran. Alejandra Patrícia ainda não teve filhos, nem se casou.

Juscelino Kubitschek e Família
Vida Política

Na política, Márcia Kubitschek defendia a valorização política e social da mulher, a industrialização do Distrito Federal para a geração de empregos e uma reforma agrária sem radicalismo. Na comemoração dos 40 anos de Brasília, Márcia Kubitschek fez um discurso emocionado. Os convidados foram às lágrimas.

"Brasília não é de JK. Não é de Lúcio Costa. Não é de Oscar Niemeyer. Mas de todos nós brasileiros que acreditamos que esse sonho poderia se tornar realidade."

Márcia Kubitschek assinou sua filiação ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) em 1982 e foi eleita deputada federal pelo Distrito Federal em 1986, atuando na Assembléia Nacional Constituinte. Permaneceu na legenda até 1989, quando ingressou no Partido da Reconstrução Nacional (PRN) a convite de Fernando Collor, que inclusive lhe havia oferecido a vaga de vice em sua chapa naquele ano, quando ele se elegeria presidente da República.

Em 1990 houve a primeira eleição direta para o governo do Distrito Federal e Joaquim Roriz (PTR) foi eleito governador tendo como vice-governadora Márcia Kubitschek, que renunciou ao mandato parlamentar em 21 de dezembro de 1990.

Durante o processo que culminaria com o impeachment de Fernando Collor, desligou-se do Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e, em 1994, concorreu a uma cadeira de senadora pelo Partido Progressista (PP), ficando em terceiro lugar. Nomeada assessora do Ministério da Indústria e Comércio no ano seguinte pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, foi vice-presidente da Embratur entre 1996 e 2000. Foi seu último emprego.

Dez dias antes de ser internada, Márcia Kubitschek fez sua última aparição em público. Ela se encontrou com o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Michel Temer (PMDB/SP), para pedir a reabertura das investigações sobre a morte do pai. Márcia Kubitschek duvidava da morte acidental de Juscelino Kubitschek. Acreditava que houvera um atentado. Na versão oficial, o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em acidente com o carro em que viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro, em 1976.

Depois do acidente, Márcia Kubitschek mudou-se para Nova York. Morou lá durante oito anos e retornou ao Brasil decidida a investir na carreira política. "O povo há de ver em mim a sucessora política de JK", costumava dizer. A vida política, no entanto, nem sempre foi sucedida por vitórias. Conseguiu eleger-se deputada federal, depois da Constituinte de 1985, mas perdeu as eleições para o Senado Federal, em 1994.

Na época, Márcia Kubitschek reclamou que não teve o apoio prometido pelo então governador Joaquim Roriz, do qual foi vice. Durante esse mandato, chegou a assumir o Governo do Distrito Federal (GDF) em algumas ocasiões, durante viagens de Joaquim Roriz.

Márcia Kubitschek era muito ligada ao pai. Falava sempre dele, venerava-o. Era diante do túmulo dele, no Memorial JK, que ela buscava inspiração para o dia-a-dia. Sempre que precisava tomar uma decisão importante, costumava ir para lá, meditar.

Márcia acompanhou de perto o sonho de Juscelino Kubitschek. Em 1957, do lado de fora da obra de construção do Palácio do Catetinho, a menina de 11 anos olhava o ermo ao lado do pai que apontava. "Você está duvidando que isso vai ser possível, não é?", dizia ele. "Pois você vai ver que não é bobagem. Seu pai vai ser o Aladim, nós vamos ter uma lâmpada maravilhosa. Eu vou esfregá-la e todas essas coisas que estou lhe dizendo aqui vão surgir."

Márcia Kubitschek era descrita pelos amigos próximos como pessoa doce, conciliadora, bastante caseira e culta. Mas, ao mesmo tempo, era vista como uma pessoa dinâmica e persistente. Falava três línguas fluentemente: inglês, espanhol e francês. Apesar de muitos políticos afirmem que são seguidores de Juscelino Kubitschek, era Márcia quem ele queria que trilhasse o seu caminho. Imaginava vê-la, pelo menos, governadora do Distrito Federal.


Saúde e Morte

Márcia Kubitschek morreu no sábado, (05/08/2000), às 21:45 hs, aos 56 anos, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Depois de permanecer internada por dois meses no hospital, após entrar em coma, vítima de Insuficiência Renal e Falência Múltipla dos Órgãos.

O corpo de Márcia Kubitschek foi transportado na madrugada para Brasília, onde foi velado durante todo o dia no Memorial JKO presidente Fernando Henrique Cardoso compareceu ao velório.

A morte era inevitável e a família sabia disso. "O estado de saúde dela não permitia um transplante de fígado", explicou o empresário Paulo Octávio, casado com Anna Christina, a filha mais velha de Márcia Kubitschek.

A ex-deputada e ex-vice-governadora do Distrito Federal, Márcia Kubitschek foi enterrada no final da tarde no cemitério Campo da Esperança, em Brasília, ao lado de sua mãe, dona Sarah Kubitschek.

O empresário Paulo Octávio, genro de Márcia Kubitschek, prestou a última homenagem ressaltando suas qualidades e seu amor por Brasília.

Segundo o Corpo de Bombeiros cerca de 500 pessoas compareceram ao enterro.

Fonte: Wikipédia e Diário de Cuiabá
#FamososQuePartiram #MarciaKubitschek