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Rubens Rollo

RUBENS ROLLO
(70 anos)
Ator

☼ Paraná (1930)
┼ São Paulo (2000)

Rubens Rollo foi um ator e radioator que atuou primeiro na Rádio Paranaense e depois transferiu-se para São Paulo onde fez teatro, televisão e cinema.

A estréia no cinema aconteceu em 1980 quando fez "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" e "Ato de Violência". Depois fez "Pixote, a Lei do Mais Fraco" (1980), "Bacanal de Colegiais" (1983), "A Hora da Estrela" (1985) e "Júlia e os Pôneis" (1987).

Na televisão participou das novelas "As Cinco Panelas de Ouro" (1982), "Aventuras Amorosas de Seu Quequé" (1982) e "Paiol Velho" (1982) na TV Cultura, onde fez também vários teleteatros.

No Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) participou da novela "Vida Roubada" (1983) e na TV Globo da minissérie "A Máfia no Brasil" (1984).

Filmografia


  • 1996 - Adágio ao Sol
  • 1985 - A Hora da Estrela ... Pai de Gloria
  • 1980 - Asa Branca - Um Sonho Brasileiro
  • 1980 - Ato de Violência
  • 1980 - Pixote - A Lei do Mais Fraco

Nádia Maria

NÁDIA MARIA
(68 anos)
Humorista

* Recife, PE (07/10/1931)
+ Itaipava, RJ (16/02/2000)

Participou de vários filmes brasileiros, como O Primo do Cangaceiro (1955), É a Maior (1958) e Virou Bagunça (1960).

Na televisão, fez programas humorísticos como Balança Mas Não Cai e a Escolinha do Professor Raimundo, imitando personalidades como Zélia Cardoso de Mello, Marta Suplicy e Maria da Conceição Tavares, sempre repetindo nas caracterizações sua conhecida e cômica gargalhada estridente.

Devido a um Câncer no Cérebro, afastou-se da carreira artística, falecendo algum tempo depois.

Trabalhos na TV

1990 - Escolinha do Prof. Raimundo - Célia Caridosa de Mello / Maria Bonita
1992 - Escolinha do Prof. Raimundo - Márcia Suplício
1993 - Escolinha do Prof. Raimundo - Maria da Recessão Colares
1995 - Escolinha do Prof. Raimundo - Lutia Aralbina

    Fonte: Wikipédia

    Humberto Catalano

    HUMBERTO CATALANO
    (96 anos)
    Ator

    * Rio de Janeiro, RJ (05/05/1904)
    + Rio de Janeiro, RJ (10/09/2000)

    De família tradicional, Humberto Catalano desde cedo teve sempre independência financeira, por parte dos pais. Fez bacharelado em Ciências e Letras, e trabalhou como alfaiate, nas melhores casas da capital. Com 20 anos demonstrou interesse por teatro, e participou de um grupo amador.

    Nesta mesma época começou a jogar futebol, atuando como goleiro. Por necessidade de um jogo inter-estadual, viajou para Vitória, Espírito Santo. Agradou como goleiro, e o técnico do time da cidade, resolveu contratá-lo. Catalano aceitou e passou a morar em Vitória.

    Nesta época, foi ao teatro e assistiu um espetáculo da Companhia Palmerim Silva. Sentiu novo interesse pelo teatro. Fica sabendo que a companhia irá fazer uma turnê pelo Nordeste do Brasil, e pediu emprego como ator. Não foi aceito como ator, mas mesmo assim viajou com a companhia, como secretário.

    Em uma ocasião, substituiu um dos atores do elenco, e agradou como ator. Assim iniciou sua carreira, em 1924. Começou no cinema, em 1926, no filme mudo A Lei do Inquilinato, de William Shoucair, fazendo um policial.

    No teatro, tem seu primeiro grande papel em A Guerra dos Mosquitos (1929). Fez carreira no teatro, e eventualmente cinema. Até, que nos anos 40 começou uma prolífica carreira nas telas grandes. Iniciou na Atlântida em comédias como Gente Honesta (1944). Seu maior sucesso foi como o Cornélio, no filme Este Mundo é Um Pandeiro (1947), dividindo as honras da fita com Oscarito.

    Atuando em cassinos, como o Icaraí, passa a ganhar bastante dinheiro. Gasta tudo no jogo, e com amantes. Perde sua esposa, e perde também milhões no turfe.

    Fez cinema até o fim dos anos 80. Sua última participação na TV, é em O Primo Basílio em 1988, na TV Globo. No cinema se despede em Solidão (1989).

    Catalano participou de filmes franceses: As Pérolas da Coroa (1937 - Les Perles de La Couronne), O Samurai (1967 - Le Samöurai); argentinos: O Segredo de Uma Confissão (1952 - Pecadora Inmaculada); americanos: Luar Sobre Parador (1988 - Moon Over Parador)

    Nos anos 90, Catalano sofreu um Derrame Cerebral, que o deixou bastante debilitado. Andando com dificuldade, amparado por sua governanta Yara, e escutando pouco apareceu pela última vez no vídeo, em 2000, pelo Canal Brasil.

    Um inesquecível comediante, que marcou definitivamente a história do cinema brasileiro. Catalano participou de cerca de 60 filmes, entre 1926 a 1989. Foram 63 anos dedicados ao cinema.

    Participou de todas as épocas da história da comédia brasileira, os filmes mudos, os filmes musicais da Cinédia, as chanchadas da Atlântida e Herbert Richers, os filmes de iê-iê-iê, as pornochanchadas e os filmes infato-juvenis estilo Os Trapalhões.

    Atuou com todos os outros comediantes, Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Zé Trindade, Ankito, Violeta Ferraz e outros.

    Filmografia
    • Solidão (1989)
    • Luar Sobre Parador (1988)
    • O Torturador (1981)
    • Os Paspalhões em Pinóquio 2000 (1980)
    • Assim era a Pornochanchada (1978)
    • Essa Freira é uma Parada (1977)
    • Manicures a Domicílio (1977)
    • As Desquitadas em Lua-de-Mel (1976)
    • As Mulheres Que Dão Certo (1976)
    • Tem Folga na Direção (1976)
    • Um Virgem na Praça (1973)
    • Le Samouraï (1967)
    • Rio, Verão & Amor (1966)
    • Três Colegas de Batina (1962)
    • Samba em Brasília (1961)
    • Minervina Vem Aí (1960)
    • A Viúva Valentina (1960)
    • Meus Amores no Rio (1959)
    • Entrei de Gaiato (1959)
    • Quem Roubou Meu Samba? (1959)
    • Cala a Boca, Etelvina (1959)
    • O Camelô da Rua Larga (1958)
    • A Grande Vedete (1958)
    • A Baronesa Transviada (1957)
    • Boca de Ouro (1957)
    • Rio Fantasia (1957)
    • Depois eu Conto (1956)
    • Genival é de Morte (1956)
    • Quem Sabe, Sabe! (1956)
    • Carnaval em Marte (1955)
    • O Petróleo é Nosso (1954)
    • O Circo Chegou à Cidade (1954)
    • Pecadora Inmaculada (1952)
    • Não é Nada Disso (1950)
    • O Noivo de Minha Mulher (1950)
    • É com Este Que eu Vou (1948)
    • E o Mundo se Diverte (1948)
    • Este Mundo é um Pandeiro (1947)
    • Segura Esta Mulher (1946)
    • Sob a Luz de Meu Bairro (1946)
    • O Gol da Vitória (1945)
    • Não Adianta Chorar (1945)
    • Cem Garotas e um Capote (1945)
    • Gente Honesta (1944)
    • Samba em Berlim (1943)
    • Les Perles de La Couronne (1937)
    • Mágoa Sertaneja (1931)
    • A Lei do Inquilianto (1926)

    Fonte: Wikipédia e Dramaturgia Brasileira - In Memoriam

    Álvaro Valle

    ÁLVARO BASTOS DO VALLE
    (65 anos)
    Político

    * Rio de Janeiro, RJ (15/05/1934)
    + Rio de Janeiro, RJ (09/01/2000)

    Álvaro Valle foi um político brasileiro, fundador e primeiro presidente do Partido Liberal (PL). Foi Deputado Estadual na Guanabara (1962-1964 e 1971-1975) e Deputado Federal pelo Rio de Janeiro (1995-1999) não conseguindo ser reeleito em 1998.

    Antes de fundar o Partido Liberal, foi membro da União Democrática Nacional (UDN), Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Partido Democrático Social (PDS).

    Em 1988 foi candidato a prefeitura do Rio de Janeiro.

    Álvaro Valle morreu em 09/01/2000 vítima de um câncer no intestino.

    Fonte: Wikipédia

    Nícia Soares

    NÍCIA SOARES
    (72 anos)
    Atriz e Dubladora

    * (25/09/1928)
    + (06/11/2000)

    Participou de várias radionovelas na década de 1950. Atuou na novela A Muralha exibida pela TV Excelsior em 1968.

    Nícia Soares nasceu em 25 de setembro de 1928 e direcionou sua carreira para usufruir daquilo que Deus lhe deu: uma voz suave, boa dicção e interpretação.

    Também chega às rádio-novelas e foi uma das mais destacadas da Rádio São Paulo. Nessa época, já estava casada com o dublador Waldyr de Oliveira.

    O caminho natural foi ir também para a AIC, logo no seu início, participando de filmes, séries de TV da época. Sua voz se ajustava bem para as mocinhas como para as mulheres envolventes.

    Mas, surgem quatro personagens fixos para ela: Allison MacKenzie, interpretada pela atriz Mia Farrow, somente na 1ª temporada de A Caldeira do Diabo (Peyton Place), Betty Rublle de Os Flintstones, em poucos episódios da 1ª temporada, Rosie a robô empregada de Os Jetsons e Samantha em A Feiticeira, onde dublou a 1ª temporada na íntegra e alguns poucos episódios na 2ª, sendo substituída por Rita Cléos. Nícia Soares dublou essas quatro personagens fixas e pequenas outras participações em desenhos e séries de TV.

    Até hoje não sabemos com certeza, o que a fez largar a dublagem. Assim, Betty Rublle é substituída por Laura Cardoso e Samantha, no transcorrer da 2ª temporada é substituída por Rita Cléos até o final da série.

    Nícia Soares faleceu em 06 de novembro de 1990.

    Francisco Dantas

    FRANCISKUS VLADISLOVAS CEPUKAITIS
    (88 anos)
    Ator

    ☼ Kaunas, Lituânia (18/09/1911)
    ┼ Rio de Janeiro, RJ (29/08/2000)

    Franciskus Vladislovas Cepukaitis, conhecido como Francisco Dantas, foi um ator, nascido em Kaunas, Lituânia, no dia 18/09/191, e radicado no Brasil.

    Francisco Dantas, veio para o Brasil em 1926 aos 15 anos de idade. Antes de seguir a carreira artística, trabalhou como agricultor e vaqueiro.

    Francisco Dantas possui mais de 50 filmes e dezenas novelas em seu currículo. Iniciou sua carreira teatral na Companhia de Teatro Zaira Médice. Participou da montagem de inúmeras peças teatrais entre as quais citamos "My Fair Lady", "Um Violinista no Telhado", "Tango", dentre várias outras.

    Trabalhou ao lado de grandes nomes do teatro brasileiro como Paulo Autran, Bibi Ferreira, Procópio Ferreira, Tereza Raquel e muitos outros nomes.

    No final da década de 50, Francisco Dantas estreou no cinema e participou de dezenas de filmes da época áurea das produtoras Atlântida e Vera Cruz, como "Carnaval no Fogo" (1949), "Dona Xepa" (1956), com Odete Lara"Fuzileiro do Amor" (1956), ao lado de Mazzaropi, e "A Viúva Valentina" (1960), com Dercy Gonçalves.

    Em 1976, interpretou o Drº Argemiro no filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e, durante a década de 70, atuou na série de filmes dos Trapalhões.

    Em 1975, entrou na TV Globo, em que atuou em "Gabriela" (1975), "Escrava Isaura" (1976), "Selva de Pedra" (1986), "Água Viva" (1980), "Top Model" (1989), "Memorial de Maria Moura" (1994), entre outras obras.

    O último trabalho de Francisco Dantas foi na minissérie "Memorial de Maria Moura" (1994). O ator também trabalhou nos programas "Os Trapalhões" e "Chico Anysio Show".

    Nos anos de 1992 e 1995 Francisco Dantas sofreu cirurgia de próstata e desde então estava afastado da televisão devido ao seu frágil estado de saúde.

    Francisco Dantas faleceu aos 89 anos, no dia 29/08/2000, aos 88 anos, no Rio de Janeiro, RJ.

    Francisco Dantas, Ivan de Albuquerque, Fernando Torres, Fernanda Montenegro, Francisco Dantas e Carmem Silva em "Assunto de Família", 1980 - Teatro.
    Cinema

    • 1979 - O Cinderelo Trapalhão
    • 1977 - Ódio
    • 1976 - Dona Flor e Seus Dois Maridos
    • 1975 - As Loucuras de um Sedutor
    • 1974 - Robin Hood, o Trapalhão da Floresta
    • 1973 - Salve-se Quem Puder
    • 1973 - Aladim e a Lâmpada Maravilhosa
    • 1971 - Uma Pantera em Minha Cama
    • 1971 - Como Ganhar na Loteria Sem Perder a Esportiva
    • 1970 - Pais Quadrados... Filhos Avançados
    • 1970 - Em Família
    • 1970 - Marcelo Zona Sul
    • 1968 - Massacre no Supermercado
    • 1962 - Socia de Alcoba
    • 1962 - Assassinato em Copacabana
    • 1960 - A Viúva Valentina
    • 1960 - O Viúvo Alegre
    • 1960 - Sai Dessa, Recruta
    • 1960 - Esse Rio Que eu Amo
    • 1959 - Maria 38
    • 1959 - Mujeres de Fuego
    • 1959 - Dona Xepa
    • 1959 - Quem Roubou Meu Samba?
    • 1959 - Eu Sou o Tal
    • 1958 - O Noivo da Girafa
    • 1957 - Metido a Bacana
    • 1957 - A Baronesa Transviada
    • 1957 - Pega Ladrão
    • 1957 - Boca de Ouro
    • 1956 - Fuzileiro do Amor
    • 1956 - Quem Sabe, Sabe!
    • 1952 - Barnabé Tu És Meu
    • 1952 - Destino
    • 1951 - Aí Vem o Barão
    • 1949 - Carnaval no Fogo
    • 1944 - Romance de um Nordedor

    Eloisa Mafalda Francisco Dantas
    Televisão

    • 1994 - Memorial de Maria Moura
    • 1993 - Agosto
    • 1993 - Você Decide (Episódio "Máscara Negra")
    • 1991 - Felicidade
    • 1991 - O Fantasma da Ópera
    • 1990 - Fronteiras do Desconhecido
    • 1989 - República
    • 1988 - Olho Por Olho ... Xerém
    • 1986 - Selva de Pedra ... Perez
    • 1986 - Hipertensão ... Américo
    • 1983 - Caso Verdade, Vida Nova ... Pietro
    • 1980 - Coração Alado ... Tião Galinha
    • 1980 - Água Viva ... Marciano
    • 1979 - Cabocla ... Delegado André
    • 1979 - Feijão Maravilha ... Horácio
    • 1978 - A Sucessora ... Moretti
    • 1978 - Dancin' Days
    • 1978 - O Pulo do Gato ... Horácio
    • 1977 - Dona Xepa ... Alamiro
    • 1976 - Escrava Isaura ... Mattoso
    • 1976 - Saramandaia ... Padre Romeu
    • 1975 - Gabriela ... Coronel Jesuíno Guedes Mendonça
    • 1974 - Supermanoela ... Donato
    • 1972 - Selva de Pedra ... Neves
    • 1972 - História de Subúrbio
    • 1970 - Irmãos Coragem ... Dr. Paulo

    Fonte: Wikipédia

    Wilson Simonal

    WILSON SIMONAL DE CASTRO
    (61 anos)
    Cantor

    * Rio de Janeiro, RJ (26/02/1939)
    + Rio de Janeiro, RJ (25/06/2000)

    Foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 1960 e 1970 e de acordo com Luiz Carlos Miéle foi o maior cantor do Brasil.

    Simonal teve uma filha, Patricia, e dois filhos, também músicos: Wilson Simoninha e Max de Castro.

    Início da Carreira e o Sucesso

    Filho de uma empregada doméstica, Simonal era cabo do Exército quando começou a cantar, nos bailes do 8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (8º GACOSM), então sediado no Leblon. Seu repertório se constituía basicamente de calipsos e canções em inglês.

    Em 1961, foi crooner do conjunto de "Calipso Dry Boys", integrando também o conjunto "Os Guaranis". Apresentou-se no programa "Os Brotos Comandam", apresentado por Carlos Imperial, um dos grandes responsáveis por seu início de carreira. Cantou nas casas noturnas "Drink" e "Top Club". Foi levado por Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli para o Beco das Garrafas, que era o reduto da Bossa Nova.

    De acordo com o jornalista Ruy Castro, "quando surgiu o cantor no Beco das Garrafas, Simonal era o máximo para seu tempo: grande voz, um senso de divisão igual aos dos melhores cantores americanos e uma capacidade de fazer gato e sapato do ritmo, sem se afastar da melodia ou apelar para os scats fáceis".

    Em 1964, viajou pela América do Sul e América Central, junto com o conjunto Bossa Três, do pianista Luís Carlos Vinhas.

    De 1966 a 1967, apresentou o programa de TV "Show em Si ...Monal", pela TV Record - canal 7 de São Paulo. Seu diretor era Carlos Imperial. Revelou-se um showman, fazendo grande sucesso com as músicas "País Tropical" (Jorge Bem Jor), "Mamãe Passou Açúcar em Mim", "Meu Limão, Meu Limoeiro" e "Sá Marina" (Carlos Imperial), num swing criado por César Camargo Mariano, que fazia parte do Som Três, junto com Sabá e Toninho, e que foi chamado de pilantragem (uma mistura de samba e soul), movimento também idealizado e capitaneado por Carlos Imperial.

    Em 1970, acompanhou a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo, realizada no México, onde tornou-se amigo dos jogadores de futebol Carlos Alberto, Jairzinho e do maestro Érlon Chaves.

    Sequestro do Contador

    No início da década de 1970, Simonal teria sido vítima de um desfalque e demitiu seu contador, Raphael Viviani, o suposto culpado. Este moveu uma ação trabalhista contra o cantor. Em agosto de 1971, Simonal recrutou dois amigos (um deles seu segurança) militares para arrancar uma "confissão" do contador, que foi torturado nas dependências do DOPS. Este, afinal, acabou assinando a confissão de culpa no desfalque.

    Simonal conhecia os agentes do DOPS há dois anos, quando havia deposto, como suspeito, a respeito da presença de uma bandeira soviética no cenário de um de seus shows. O que ele não contava era que Viviani daria queixa do espancamento e, quando os jornais noticiaram o fato, os envolvidos foram obrigados a se explicar.

    Relações com a Polícia, Política e Órgãos de Informação

    Processado sob acusação de extorsão mediante sequestro do contador, Simonal levou como testemunha aquele mesmo policial do DOPS do então Estado da Guanabara, Mário Borges, que o apontou em julgamento como informante do DOPS. Outra testemunha de defesa, um oficial do I Exército (atual Comando Militar do Leste), afirmou que o réu colaborava com a unidade.

    Simonal foi julgado culpado pelo sequestro e, em 1972, quando estava prestes a lançar o seu disco de retomada, condenado a uma pena de cinco anos e quatro meses, que cumpriu em liberdade. Nos autos, Simonal era referido como colaborador das Forças Armadas e informante do DOPS. Em 1976, em acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também é referida a sua condição de colaborador do DOPS.

    "Em sua argumentação final, o ilustre meritíssimo alega que não tem como julgar os agentes do DOPS, já que estávamos vivendo um estado de exceção e, por isso, ele não tinha competência para julgar atos que poderiam ser de segurança nacional, mas Wilson Simonal, que era civil, não tinha esse tipo de "cobertura", portanto pena de 5 anos e 4 meses para ele (...) Se em 1971 fosse provado que ele era um colaborador, ele não seria julgado por isso, seria condecorado, escreve o comediante Claudio Manoel, produtor e diretor do documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei".

    O compositor Paulo Vanzolini, no entanto, afirma, em entrevista ao Caderno 2 do Estadão, que Simonal era, de fato, "dedo duro" do regime militar e complementa: "Essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo. Ele se gabava de ser dedo-duro da ditadura (...) na frente de muitos amigos ele dizia 'eu entreguei muita gente boa' ", conclui.

    No entanto, jamais houve registro de alguém que declarasse ter sido delatado por Simonal. Nem mesmo a Rede Globo, a qual Simonal jurava que havia um documento proibindo sua entrada nos programas da emissora, registra que haja documentos vetando o cantor.

    Raphael Viviani, em depoimento para o filme, relata que Simonal estaria no DOPS e teria assistido à sua tortura e não teria tido dó.

    O humorista Chico Anysio e o jornalista Nelson Motta, dentre outras personalidades, afirmam que até a presente data não apareceu uma vítima sequer das ditas delações de Simonal.

    Discografia

    1961 - Teresinha
    1963 - Tem Algo Mais
    1964 - A Nova Dimensão do Samba
    1965 - Wilson Simonal
    1966 - Vou Deixar Cair...
    1967 - Wilson Simonal Ao Vivo
    1967 - Alegria, Alegria
    1968 - Alegria, Alegria - volume 2
    1968 - Quem Não Tem Swing Morre Com a Boca Cheia de Formiga
    1969 - Alegria, Alegria - volume 3
    1969 - Cada Um Tem o Disco Que Merece
    1969 - Homenagem à Graça, à Beleza, ao Charme e ao Veneno da Mulher Brasileira
    1970 - Jóia
    1970 - México 70
    1972 - Se Dependesse de Mim
    1973 - Olhaí, Balândro..é Bufo no Birrolho Grinza!
    1974 - Dimensão 75
    1975 - Ninguém Proíbe o Amor
    1977 - A Vida é só Cantar
    1979 - Se Todo Mundo Cantasse Seria Bem Mais Fácil Viver
    1981 - Wilson Simonal
    1985 - Alegria Tropical
    1991 - Os Sambas da Minha Terra
    1995 - Brasil
    1997 - Meus Momentos: Wilson Simonal
    1998 - Bem Brasil - Estilo Simonal
    2002 - De A a Z : Wilson Simonal
    2003 - Alegria, Alegria
    2003 - Se Todo Mundo Cantasse Seria Bem Mais Fácil Viver (Relançamento)
    2004 - Rewind - Simonal Remix
    2004 - Wilson Simonal na Odeon (1961-1971)
    2004 - Série Retratos: Wilson Simonal
    2009 - Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei
    2009 - Wilson Simonal - Um Sorriso Pra Você

    Ostracismo e Morte

    Simonal caiu em absoluto esquecimento a partir da década de 1980. Segundo sua segunda mulher, Sandra Cerqueira, "Ele dizia para mim: "Eu não existo na história da música brasileira".

    Tornou-se deprimido e alcoólatra, vindo a morrer de Cirrose Hepática decorrente do alcoolismo.

    Reabilitação

    Em 2002, a pedido da família, a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um processo para apurar a veracidade das suspeitas de colaboração do cantor com os órgãos de informação do regime militar. A comissão analisou documentos da época, manteve contato com pessoas do meio artístico, como o comediante Chico Anysio e os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues, e analisou reportagens publicadas nos jornais. Em notícia veiculada em 1992 pelo Jornal da Tarde, por exemplo, Gilberto Gil e Caetano Veloso declararam não ter tido problemas de convivência com Simonal.

    Além de depoimentos de artistas e de material enviado por familiares e amigos, constou do processo um documento de janeiro de 1999, assinado pelo então secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, no qual atestava que, após pesquisa realizada nos arquivos de órgãos federais, como o SNI e o Centro de Informações do Exército (CIEx), não foram encontrados registros de que Simonal tivesse sido colaborador, servidor ou prestador de serviços daquelas organizações.

    Em 2003, concluído o processo, Wilson Simonal foi moralmente reabilitado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em julgamento simbólico.

    Em 2009, foi lançada a biografia "Nem Vem Que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal". Nela seu autor, o jornalista Ricardo Alexandre, apresenta fatos que tentam levar o leitor a acreditar na inocência alegada por Simonal. A narrativa desenvolvida no livro sustenta que, para se inocentarem, os agentes do DOPS que torturaram o contador teriam improvisado uma farsa: Viviani seria um possível terrorista denunciado por Simonal. Para dar um ar de credibilidade à história, o cantor assinou documento em que se assumia acostumado a "cooperar com informações que levaram esta seção (DOPS) a desbaratar por diversas vezes movimentos subversivos no meio artístico".

    Fonte: Wikipédia

    Colé Santana

    PETRÔNIO ROSA SANTANA
    (82 anos)
    Ator, Produtor, Diretor, Humorista e Artista Circense

    ☼ Cruzeiro, SP (01/12/1919)
    ┼ Rio de Janeiro, RJ (29/08/2000)

    Petrônio Rosa Santana, mais conhecido por Colé Santana, foi um ator, produtor, diretor teatral, humorista e artista circense brasileiro nascido em Cruzeiro, SP, no dia 01/12/1919.

    De família circense, Colé Santana se destacou como ator cômico no teatro de revista dos anos 40 e 50.

    Estreou no circo aos 12 anos, como ajudante de palhaço, com a função de distrair a platéia enquanto os cenários eram trocados: sua falta de graça lhe rendeu o apelido de Picolé. No picadeiro, trabalhou também como acrobata e adestrador de elefantes.

    Estreou no teatro no fim dos anos 30, na Companhia Típica Brasil, na qual ficou até 1940, quando entrou para a Companhia de Carambola e assumiu o pseudônimo de Santana Júnior.

    Em 1941 assinou contrato com Jardel Jércolis e estreou em sua companhia na revista "Filhas de Eva", de Jardel Jércolis e Custódio Mesquita. Nesse conjunto, viajou pelo Brasil e adotou o nome artístico de Colé. Ao voltar para o Rio de Janeiro, em 1942, teve seu primeiro sucesso cômico na revista "Hoje Tem Marmelada", de Jardel Jércolis e Luiz Peixoto.

    No Teatro de Revista o ator se consagrou com o tipo malandro e mulherengo que o levou para o rádio e o cinema. Em seguida foi contratado pelo empresário Chianca de Garcia e atuou ao lado de Dercy Gonçalves, Grande Otelo e Virgínia Lane em espetáculos como "O Rei do Samba" (1947), de Chianca de Garcia e Joaquim Maia, e "Um Milhão de Mulheres", de J. Maia e Humberto Cunha, que foi reencenado durante três anos, ambos com direção de Olavo de Barros.

    Na década de 50, orientado por Procópio Ferreira, montou companhia própria. Um de seus maiores êxitos, sempre no gênero da revista, é "Gente Bem e Champanhota" (1955), de J. Rui, Humberto Cunha e Colé, sátira ligeira à elite social da época.

    Nos anos 60 e 70, Colé Santana voltou sua carreira para a televisão, onde participou de programas humorísticos.

    Colé Santana tem representativa participação em cinema, tendo atuado em "O Cortiço" (1945), adaptação de Luiz de Barros para o romance de Aluísio de Azevedo, a primeira chanchada "Segura Esta Mulher" (1946), direção de Watson Macedo, "Estou Aí" (1948), direção de Cajado Filho, "O Falso Detetive" (1951), direção de Cajado Filho, "Mulher de Verdade" (1954), direção de Alberto Cavalcanti, "O Gigante da América" (1978), de Júlio Bressane, "Tabu" (1983), em que faz o papel de Oswald de Andrade, "Brás Cubas" (1985), "Lili, a Estrela do Crime" (1988), direção de Lui Farias, "Escorpião Escarlate" (1991), direção de Ivan Cardoso.

    Colé Santana era tio de Dedé Santana.

    Colé Santana faleceu no dia 29/08/2000, no Rio de Janeiro, RJ, aos 82 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos.

    Helber Rangel

    HELBER RANGEL
    (56 anos)
    Ator

    * Rio de Janeiro, RJ (1944)
    + Rio de Janeiro, RJ (2000)

    O ator Helber Rangel foi um dos atores mais atuantes do cinema brasileiro nas décadas de 70 e 80, desde sua estréia em "Os Condenados" em 1973. Fez mais de 30 filmes e só foi estrear em televisão em 1982 na minissérie "Lampião e Maria Bonita".

    Por sua atuação em "A Volta do Filho Pródigo", de Ipojuca Pontes, Helber Rangel, foi premiado como melhor ator com o Kikito, em 1979, no Festival do Cinesesc, SP e com o Prêmio "Governador do Estado de São Paulo" em 1980 .

    Seu último trabalho na TV foi na minissérie "Anos Dourados".

    Helber Rangel faleceu de causas não reveladas.

    Televisão

    1986 - Anos Dourados ... Rodolfo
    1984 - Livre Para Voar
    1984 - Padre Cícero ... Alexandrino
    1982 - Sol de Verão ... Germano
    1982 - Lampião e Maria Bonita ... Lindolfo Macedo

    Cinema

    1987 - Quincas Borba
    1985 - O Desejo da Mulher Amada
    1984 - Amenic - Entre o Discurso e a Prática
    1983 - O Mágico e o Delegado
    1982 - Escalada da Violência
    1982 - Luz del Fuego
    1982 - Os Três Palhaços e o Menino
    1981 - Crazy - Um Dia Muito Louco
    1981 - A Mulher Sensual
    1980 - Cabaret Mineiro
    1980 - J.S. Brown, o Último Herói
    1980 - Prova de Fogo
    1979 - Os Amantes da Chuva
    1979 - Memórias do Medo
    1979 - Paula - A História de uma Subversiva
    1978 - O Bom Marido
    1978 - O Cortiço
    1978 - Embalos Alucinantes
    1978 - O Escolhido de Iemanjá
    1978 - Se Segura, Malandro!
    1978 - A Volta do Filho Pródigo
    1977 - Este Rio Muito Louco
    1977 - Revólver de Brinquedo
    1976 - Perdida
    1976 - A Queda
    1975 - Joanna Francesa
    1973 - Os Condenados

    Fonte: Wikipédia

    J. Silvestre

    JOÃO SILVESTRE
    (77 anos)
    Ator, Escritor, Jornalista e Apresentador de TV

    * Salto, SP (14/12/1922)
    + Fort Lauderdale, Estados Unidos (07/01/2000)

    J. Silvestre começou a sua carreira profissional no rádio, no ano de 1941, atuando como locutor. De 1941 a 1945 trabalhou na Rádio Bandeirantes, da capital paulista, ganhando experiência como ator, sonoplasta, contra-regra, ensaiador e autor. Escreveu, nesse período, seus primeiros contos, novelas e peças para radio-teatro, com uma produção nesse campo que cresceu rapidamente.

    Em 1945 transferiu-se para a Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, de onde partiu para realizar seu primeiro trabalho em propaganda, na Standard.

    Em 1946 voltou para São Paulo e para o radioteatro, na Rádio Cultura, atuando como ator, autor e diretor.

    Foi nessa estação, Rádio Cultura, em 1947, que se iniciou na carreira de animador e apresentador de programa de calouros.

    Retornou em 1950 à Rádio Tupi e no mês de setembro participou, como apresentador, da primeira transmissão da TV Tupi em caráter experimental, num programa estrelado por Frei José Mojica. Daí em diante, foi cada vez mais absorvido pela televisão.


    Em 1952 transferiu-se novamente para São Paulo, permanecendo na TV Tupi, e foi, na época, dos primeiros profissionais brasileiros a escrever e interpretar telenovelas. Entre elas a de maior destaque, "Os Quatro Filhos" (1965).

    Acumulou, no curso de quatro anos, uma vasta bagagem de contos, novelas e peças de radioteatro (encontrou tempo para uma experiência teatral, como ator e autor, no Teatro de Arena) e foi em 1956, na televisão, que J. Silvestre registrou o seu grande sucesso como apresentador de "O Céu é o Limite".

    Já então trabalhando exclusivamente na televisão, inaugurando várias emissoras em todo o país, ainda pôde dedicar-se à propaganda e viveu um período profissional de contínuas viagens no eixo Rio - São Paulo, para atender a compromissos nas duas cidades. Com o advento da Embratel, lançou o primeiro programa em cadeia no Brasil, "Domingo Alegre da Bondade", originado na TV Tupi do Rio de Janeiro.

    Em 1972 afastou-se da televisão, só voltando em 1976 com um programa jornalístico diário de fim de noite. Esse período, ausente do vídeo, dedicou-se ao livro "Como Vencer na Televisão" apresentado aos leitores brasileiros.

    João Oscar e J. Silvestre
    Foi convidado pelo presidente da República e nomeado presidente da Radiobrás em Brasília durante a gestão do então presidente João Figueiredo.

    Prosseguiu em sua carreira nos anos 80, no SBT com os programas "Show Sem Limite" e, na TV Bandeirantes os programas "Programa J. Silvestre", no mesmo formato de "O Show Sem Limite", e "Essas Mulheres Maravilhosas", sempre com muito sucesso, sempre líder de audiência no seu horário. Ainda na TV Bandeirantes, J. Silvestre criou uma serie de programas diários de prêmios e variedades com novos apresentadores.

    Em apresentações especiais na Rede Globo, homenageou personalidades como Renato Aragão e Xuxa com um de seus quadros mais conhecidos: "Esta é a Sua Vida". Estes programas especiais foram repetidos varias vezes emissora.

    Em 1997, na TV Manchete em um novo programa: "Domingo Milionário". Pela primeira vez J. Silvestre não teve participação na produção ou formulação deste programa. O programa nunca refletiu suas idéias. Mas este programa ficou pouco tempo no ar, e J. Silvestre não voltaria mais para a televisão falecendo em 2000.

    Fonte: Programa J. Silvestre


    Moreira da Silva

    ANTÔNIO MOREIRA DA SILVA
    (98 anos)
    Cantor e Compositor

    * Rio de Janeiro, RJ (01/04/1902)
    + Rio de Janeiro, RJ (06/06/2000)

    O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa:

    "Nasci em 1902, num 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca"
    (Moreira da Silva - Revista Fatos e Fotos, 11/12/1973)

    Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu vítima de cirrose, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão.

    "Nunca tomei um porre em toda a minha vida", diria pouco tempo antes de morrer. "Não bebia e ainda fazia apologia do leite?", escreveu o chargista Adail, quando de sua morte.

    Criado nos morros da cidade e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira da Silva encarou o  batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família.

    "Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta!"

    Criança, vendeu doce nas ruas do Rio de Janeiro, entregou marmita e catou papel. Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo.

    "Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado."
    (Moreira da Silva à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro)

    Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves.

    "Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas!"

    Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. "O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas", diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempos de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: "Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo", elogiou o cardápio, comido "de maracanã e remo" (em prato fundo e com a mão).

    Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe.

    "Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado!"

    Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior, que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. "Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali", fabularia Moreira da Silva décadas depois. "Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu tinha meu 'revertere ad locum tuum' sem apelação", relembrava.

    Como o bom malandro não anda sempre na linha, "que o trem pega"Moreira da Silva também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva. Tornou-se assim figura conhecida da boemia.

    "Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas. Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado!"

    Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. "Não gostava dela, mas a moça me satisfazia", dizia com sinceridade. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da "canja e ovos quentes"O vago-mestre, rei da malandragem, era consciente de seu lero:


    "Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada", dizia. "O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi", indignava-se. "Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência".


    Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde "a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo". Dizia que "antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato", queixava-se. "Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor", atacava.

    A Carreira

    Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho:

    "Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de transformar-me em cantor. Graças a ele gravei meu primeiro disco. Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro, dava o meu recado."
    (Moreira da Silva em entrevista à Revista do Rádio, em 1965)

    Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou dois pontos de macumba de Getúlio Marinho, "Ererê" e "Rei de Umbanda", de 1931.

    "O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua voz para gravar para mim", relembra. Mas gravar música de macumba deixou o mulato cabreiro. "Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim... Então, sai dessa, malandro, disse para mim mesmo!". Havia motivo para a cisma. "Já vi o sobrenatural", disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos 19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu à sua frente e desapareceu em seguida.

    O primeiro sucesso veio com "Arrasta a Sandália", de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o cast do "Programa Casé", na Rádio Philips. No ano seguinte, estourou com "Implorar", de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora ColumbiaMoreira da Silva afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar "herdou" seus versos.

    Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e levou-o para a Rádio Mayrink Veiga. "Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela", disse sem modéstia. "Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia". Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou "Acertei no Milhar", de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.

    Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no Teatro Politeama. "O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo". Foi um sucesso: "Abafei, com meu passinho de malandro". Agradou tanto que fez uma participação no filme "A Varanda dos Rouxinóis".

    A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou "Amigo Urso", em 1941, "Fui a Paris" (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) e "Dormi no Molhado" (Moreira da Silva), em 1942. No ano seguinte, gravou "Conversa de Camelô" (T. Silva e S. Valença). Em 1950 foi contratado pela Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e lançou seu primeiro LP, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, "O Último Malandro", em que se destaca o clássico "Na Subida do Morro"  (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha).

    Cantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Francisco Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, - "no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço" - era um desafio gigantesco para Moreira da Silva.

    Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor, de pelica, ou botinha com botões de madrepérola, e chapéu panamá, o marido de Dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira da Silva levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como "Na Subida do Morro". Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação.

    "Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda".

    Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936.

    "Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia. O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas 'Jogo Proibido' e eu improvisei em cima: 'Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar'. Aí nasceu o breque. O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda."
    (Moreira da Silva - Jornal do Brasil, 1972)

    Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira da Silva num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: "Foi a primeira vez que acompanhei conversa". Estava criado o "Rap Caboclo", muitas décadas antes do Public Enemy.

    "O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido", afirmou  Moreira da Silva em entrevista à revista Ele & Ela em maio de 1982. Moreira da Silva teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido "Fui a São Paulo". Depois veio "Doutor em Futebol", em que mostrava que para ter nome não era preciso ser doutor: "Basta saber controlar o caroço com inteligência".

    Moreira Vira Kid Morengueira

    Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba "O Rei do Gatilho", de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um cowboy que, como o Zorro, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em seqüência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: "O Último dos Moicanos", "Os Intocáveis", "Moreira Contra 007" e "O Seqüestro de Ringo".

    Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, "já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A", fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Mas, coincidência ou não, é nessa época, 1968, que Moreira da Silva se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.

    Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da concorrência dos "cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de graça para aparecer nos programas", dizia, ressentido com a televisão. Em entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã, em 09/04/1970, ele dizia-se feliz com a venda de seus dois últimos álbuns, "Os Sucessos de Moreira da Silva Continuam" (1968) e "Manchete do Dia" (1969), só com sambas inéditos, lançados pelo selo Cantagalo: 30 mil discos.

    "Isso porque a gravadora não tem um plano de relações públicas e vendas para o Rio, onde tenho um público bom e fiel", dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon: "Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu, ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora", resignava-se. "Creio que 'Vôo Espacial' vai fazer o sucesso de 'Amigo Urso'", sonhava o velho malandro, citando uma das faixas do disco "Manchete do Dia".

    "O sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso, mas a onda vem de novo", diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em 1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.

    "O malandro, aquele malandro velho, sucumbiu", pontificava Moreira da Silva sobre a criminalidade daquele início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. "Hoje, infelizmente, o que tem é bandido, assassino", diria anos depois.

    Mas ele ainda tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relançou, pelo selo Imperial, o LP "A Volta do Malandro", que abriu com sua fantástica interpretação de "Gago Apaixonado", de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel.

    Em 1971, gravou "Moreira da Silva na Academia", alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a Academia Brasileira de Letras prosseguiu até 1984, quando gravou "Clã dos Imortais", do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

    Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário "Moreira da Silva". No mesmo ano, Moreira da Silva gravou pela CID o disco "Consagração de Moreira da Silva", sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: "Hoje não sou rico, mas ganho cinco mil cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha".

    Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: "Aqui urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional", louvou. Mas a porrada vinha embutida: "Só que gravam tapes pra todo o lado e não nos pagam". A televisão, já era a televisão. "Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado".

    Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé em "É Meu Único Aluno". Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: "É a primeira vez que sou vaiado, pô!". Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer show juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha, e voltaram a excursionar.

    Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP "O Astro", "Talvez o melhor disco da carreira de Moreira", no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, "O Jovem Moreira", pela Polygram, em que regrava "Diplomata", de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e "Homenagem a Noel", de sua autoria.

    Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: "Cheguei e Vou Dar Trabalho" (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas, surpresa, "A Volta do Boêmio", samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves e "Último Desejo" (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, "As Rosas Não Falam", clássico de Cartola.

    Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. "Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves", analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente.

    Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino 7 Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP "50 Anos de Samba de Breque", pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez "Na Subida Do Morro", "O Rei do Gatilho" e "Acertei no Milhar". E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em "Cidade Lagoa" (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).

    Don Juan

    Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista não descansou. "Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar", disse ao Globo. "Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então... Mas sempre amei a minha mulher", confessou. Moreira da Silva entrou nos anos 90 ao lado de Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. "Estamos casados pela lei Divina", babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. "Já legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 mil cruzeiros, além de uma casa na Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no Iaserj para ter seus direitos garantidos", cuidava ele. Mas continuaram morando separados. "Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos", acreditava o velho malandro.

    Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: "Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso", vangloriava-se. "Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos".

    Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Em junho, estreou temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albin, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo de 30/07/1990, registrou algumas frases do depoimento: "Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto".

    Em 1991, Moreira da Silva foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: "Sou um símbolo carioca". Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa.


    "Eu frequentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas."

    Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilaridade dos bons tempos do bairro:


    "Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre".

    Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na Boate People, e os 91 anos no Jazzmania, no Rio de Janeiro. Estava em plena atividade e em 1993 lançou "Moreira da Silva Fotografando a Cidade", o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-1960, pela EMI/Odeon. Novamente gravou "Na Subida do Morro" e "Olha o Padilha". Regravou também "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e "Pistom de Gafieira", de Billy Blanco.

    Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio de Janeiro, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão, o chapéu panamá, pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos.

    "As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça", lamentava-se.

    "É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio", declarou Jards Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira da Silva não foi triste nem despedida pois no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD "Os Três Malandros", que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira da Silva não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: "Só vale o balanço".

    Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, "O Último dos Malandros", do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela Editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira da Silva.

    João Máximo divide a obra de Moreira da Silva em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros - "Amigo Urso", "Acertei no Milhar" - e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. "O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo", disse na resenha do livro. "Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras", escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30/40.

    Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira da Silva ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca.

    Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque "Pra Fazer 97", em parceria com Reginaldo Bessa e "Ecologia", com Aidran do Grajaú. É com Reginaldo Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.

    Moreira da Silva nunca foi de fazer média. Deitou falação sem travas na língua. Para ele "a batida da Bossa Nova é quase a de rumba".


    "Caetano Veloso queria mesmo é rebolar, um atrevido. Imagine que outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?. Tião Motorista é que é o bom da Bahia!"

    "Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis, gosto mesmo é de serestas e das baladas do Agnaldo Timóteo."
    (Revista O Cruzeiro, 12/1968)


    "Gosto do Roberto Carlos, mas não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro."


    "O Chico Buarque é o Noel Rosa muito devagar. Paulinho da Viola? É ainda água-com-açúcar. É sofrível."


    "Outro dia eu vi aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra".


    "Martinho da Vila é sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o 'Batuque na Cozinha' não é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II".


    "Eu sou melhor do que ela (Elis Regina) em qualquer parte do mundo que a gente bater."


    "Donga foi um cara bom. Grande compositor e tocando violão muito bem".

    Mas ele também levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos Cachaça, o grande mangueirense.


    "Os sambas dele eram mais comerciais, mais rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro."
    (Carlos Cachaça)

    Moreira da Silva também deitou falação contra os meios de comunicação.

    "No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?"
    (Moreira da Silva disse ao Pasquim)

    "Na TV a coisa funcionava diferente. A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: Escuta, o rapaz que te telefonou e disse que era 700, mas só pode ser 500"

    Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira da Silva soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha:

    "Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa."

    Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: "Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil", babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: "Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro", justificava.

    Para Juscelino Kubitschek gravou "Cutuca, Nonô", de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: "passeata não resolve". E chegou a se candidatar a vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: "A moçada parece que não acreditou em mim".

    Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem. Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornara um artista consagrado não desempenhava a função. "Os colegas tiravam meu plantão", declarou ao Pasquim.

    Moreira da Silva não era político, não militava, mas suas músicas revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto. Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo:

    "Uma estação de rádio não é uma propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar até a envenenar a nossa pátria!"

    Em 1984 gravou "Moreira Já', de William Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1.500 compactos, durante show no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a Academia Brasileira de Letras. "Afinal de contas, sou pelas eleições diretas", justificou. Moreira da Silva confessou ter votado em Lula para presidente: "O FHC eu não gosto, parece que vai descontar dos aposentados."

    Cruel crítico dos colegas, louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira da Silva era coluna do meio na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave: "Não, não, não. Aí eu sou neutro". Mas insinuava lá seus motivos: "Sabe como é que é...", desconversava. Seu comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais.

    A autoria da obra de Moreira da Silva como compositor era questionada por ele próprio: "A necessidade faz o sapo pular. Já vendi e comprei muito samba. No começo da carreira, não. Naquele tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço", confessou em 1973.

    Moreira da Silva falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: "O esquema de entrar é o seguinte... o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba aqui, pode ter esquema de entrar... Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome (Zé da Zilda)", declarou ao Pasquim.  Ele conta que pagou 150 mil-réis pelo samba "Dormi no Molhado", do Zé da Zilda. "O Francisco Alves comprava", entregou na mesma entrevista.

    Ao jornal Opinião confessou ter recebido de presente a parceria do samba "A Carne", de Nelson Cavaquinho. "Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele. Ele vendeu para um rapaz, o Roxo", disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira da Silva ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: "Paguei um conto e trezentos mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis. Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem suas canções", justificava.

    Moreira da Silva dizia não ser saudosista, mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais atribuía o fim de seu reinado: "Um Ary Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar". No mais, se conformava. Só estranhava a explosão demográfica: "Tá nascendo gente pra danar".

    Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. "Velhice para mim não existe. Parece que cheguei ontem ao planeta", dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio era trivial: "O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo", costumava dizer. 

    Da janela do apartamento no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. "Meus futuros guardiães, que trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão", esconjurava. Mas não temia e até desdenhava da perpétua: "O futuro é uma caveira". E cantarolava:


    Para fazer 97

    Tem que ser malandro

    Quem não pode, não se mete
    Que o bicho tá pegando

    Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo: "Black And White". Não o whisky, que como já se viu não era seu forte. "Minha mãe era black e meu pai era white".

    Moreira da Silva viveu seus últimos dias com o que recebia de pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara, cargo em que se aposentou, e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como R$ 1.200,00. "Dá pro gasto", conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim.

    No apartamento do bairro do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: "Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol". Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992.

    Agora, quando saía, era de táxi. "Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo", queixava-se. Apesar disso, Reginaldo Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. "Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol... Minha pressão é 12 por 8", dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.

    Morte

    Moreira da Silva morreu vítima de Falência Múltipla dos Órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde meados de maio de 2000. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro. Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: "Se um vigarista soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por vigarismo". Este era o retrato fiel do Moreira da Silva. "A malandragem nunca existiu para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou", pontificava. "Hoje estou humildemente, modestamente, na história do samba".

    Moreira da Silva não teve filhos. "Fiz uma vasectomia natural por causa de tanta farra", mas adotou Marli, que lhe deu dois netos.

    Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva, Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

    Fonte: Agenda do Samba e Choro