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Voo LaMia 2933

VOO LAMIA 2933
28/11/2016


Voo 2933 da LaMia foi um voo charter, operado pela companhia com a identificação LMI2933, a serviço da Associação Chapecoense de Futebol, proveniente de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, com destino ao Aeroporto Internacional José María Córdova em Rionegro, Colômbia, que caiu próximo ao local chamado "Cerro El Gordo", "Monte O Gordo", em livre tradução, na Colômbia, às 22h15 do dia 28/11/2016 no horário local e 1h15 do dia 29/11/2016 pelo horário de Brasília.

A aeronave trazia 77 pessoas a bordo, tendo por passageiros atletas, equipe técnica e diretoria do time brasileiro da Chapecoense, jornalistas e convidados, que iriam a Medellín onde o clube disputaria a primeira partida da Final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Entre passageiros e tripulantes, 71 pessoas morreram na queda do avião e seis foram resgatadas com vida.

Dos mortos, 20 eram jornalistas brasileiros, 9 eram dirigentes, incluindo o presidente do clube, 2 eram convidados, 14 eram da comissão técnica, incluindo o treinador e o médico da equipe, 19 eram jogadores e 7 eram tripulantes. Dos 6 ocupantes que sobreviveram, 4 eram passageiros e 2 eram tripulantes. Pelo total de vítimas, esta tragédia torna-se a maior da história com uma delegação esportiva e a maior do jornalismo brasileiro.

Aeronave

A rota foi operada em um British Aerospace 146 (Avro RJ85), registro CP-2933. Medindo 28,55m do bico à cauda, largura de asas de 26,4 m, altura de 8,61 m, equipada com quatro motores Honeywell LF 507. O modelo Avro RJ85 tem uma autonomia de voo de três mil quilômetros, com capacidade de transportar até 112 passageiros e 9 tripulantes.

A aeronave recebeu do fabricante o número de série (MSN) E2348 e teve seu primeiro voo em 26/03/1999, contando portanto com 17 anos e 7 meses de atividade. Em 30/03/1999, foi liberada para a Mesaba Airlines dos Estados Unidos. Em seguida, a 18/09/2007, passou a ser operada pela companhia de voos domésticos irlandesa CityJet. Finalmente em 16/10/2013 teve pela primeira vez seu registro pela LaMia (a empresa mudou o registro mais duas vezes: em setembro de 2014 e em janeiro do ano seguinte).

Operadora LaMia

A Línea Aérea Merideña Internacional de Aviación (LaMia), foi fundada em 16/08/2010, com uma cota inicial do governo do estado venezuelano de Mérida de cinco milhões de dólares. A empresa, que teve seu registro suspenso depois do acidente fatal em Medelin, era comandada pelo economista e empresário venezuelano Ricardo Albacete e estava adquirindo três aeronaves Avro-RJ85, incluindo a acidentada (única que estava em operação na época do acidente). Ricardo Albacete, antes de ingressar no ramo de transporte aéreo, já tinha empresas nos setores metalúrgico (Gurimetal) e petrolífero (Alba Energy) e já havia respondido a um processo na Corte Suprema da Venezuela por uma suposta fraude, com uso de um mandato falso e apropriação indébita.

Ricardo Albacete tinha um amigo chinês, Sam Pa, que se apresentava como um milionário de Pequim, interessado em investimentos internacionais. No entanto, as promessas de investimento de Sam Pa na companhia não se realizaram, e em setembro de 2011 a companhia foi desativada, depois que o "investidor" chinês foi preso em seu país.

Dois anos depois, Ricardo Albacete reativou a companhia com outro nome, Línea Aérea Margarita, em uma manobra que lhe permitiu manter os mesmos logotipos e distintivos internacionais da antiga empresa, anunciando voos para várias cidades do mundo, inclusive Miami e Boston. Ricardo Albacete adquiriu então os três aviões que estavam estacionados no aeroporto de Norwich, na Inglaterra.

A empresa reestruturada recomeçou suas atividades, oferecendo preços muito abaixo da concorrência, valores até 40% mais baratos. Rapidamente especializou-se em transportar equipes de futebol por todo o continente. Em uma entrevista a um jornal espanhol depois do acidente em Medellín, e ante uma confusa situação em que a LaMia tinha registro não só na Venezuela, mas também na Bolívia, Ricardo Albacete declarou que não era acionista nem empregado dessa outra empresa boliviana, mas sim da LaMia da Venezuela, e que eram eles (da LaMia da Venezuela) quem arrendavam seus aviões à empresa boliviana. Entretanto, a LaMia boliviana foi criada pelo próprio Ricardo Albacete em janeiro de 2015, em sociedade com Miguel Quiroga, piloto que era o comandante da aeronave acidentada.

O Acidente

O time brasileiro da Associação Chapecoense de Futebol viajava para o jogo de ida da final da Copa Sul-Americana de 2016 contra o Atlético Nacional em Medellín, na Colômbia. A equipe tentou, a princípio, fazer o voo saindo do aeroporto de Guarulhos direto para Medellín. O pedido foi indeferido pela ANAC de acordo com a legislação vigente, com base no Código Brasileiro de Aeronáutica e na Convenção de Chicago, pelos quais apenas uma companhia aérea brasileira ou colombiana poderia fazer o voo.

O trajeto foi feito, então, em duas etapas: Um voo comercial pela companhia aérea boliviana BoA partindo de São Paulo às 15h15 e chegando a Santa Cruz de la Sierra cerca de três horas depois, e o trecho final em voo fretado com a LaMia. Integraria a comitiva do time o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, que não embarcou junto com a comitiva, e dois responsáveis pela logística do clube já se achavam na Colômbia, aguardando a chegada do voo.

Às 22h00 a aeronave declarou uma emergência elétrica quando voava entre os municípios de La Ceja e La Unión. A comissária de bordo Ximena Suárez, sobrevivente ao acidente, declarou ao governador de Antioquia Luis Pérez que, pouco antes da queda, as luzes da aeronave se apagaram de repente, e então entre quarenta ou cinquenta segundos depois caiu. O técnico de voo sobrevivente, Erwin Tumiri, disse dois dias depois do acidente, que somente conseguiu ficar vivo porque seguiu todos os protocolos para tal ocasião: Ficara em posição fetal, com malas entre as pernas. Segundo ele, ocorreu um pânico total no interior da aeronave, com gritaria e pessoas saindo de seus assentos. Entretanto, alguns dias depois, Erwin Tumiri desmentiu essas informações em entrevista dada à rede de rádio Bluradio de Bogotá, afirmando que até o exato momento do impacto, nenhum passageiro sabia que havia uma situação de emergência, sem qualquer aviso da tripulação, e que todos estavam apenas preparados para a aterrissagem que havia sido anunciada. Afirmou que tudo foi muito rápido, a sensação de descida, depois as luzes se apagaram, acendendo-se as de emergência e em seguida o impacto e que não houve tempo para nada, nem havia ninguém em pânico no momento do impacto.

A queda ocorreu no Cerro El Gordo. Num primeiro comunicado o Aeroporto de Medellín informava que o piloto havia relatado à torre de controle que o avião apresentava problemas elétricos e declarava situação de emergência por volta das 22h00, pouco tempo depois da queda as autoridades localizaram o local da queda, e helicópteros foram inicialmente incapazes de chegar ao local devido à névoa densa na região, forçando o acesso dos socorristas da Força Aérea da Colômbia por terra.

A princípio fora divulgado que havia 81 pessoas a bordo, contudo verificou-se que a contagem inicial incluía quatro passageiros que deixaram de viajar na última hora.

Sobreviventes

O primeiro passageiro a ser resgatado e chegar ao hospital de La Ceja foi o lateral Alan Ruschel, um dos jogadores a bordo da aeronave. Mais tarde, foram encontrados com vida o goleiro Jakson Follmann, o jogador Neto, a comissária Ximena Suárez, o jornalista Rafael Henzel, e o técnico de voo Erwin Tumiri.

Apesar de em melhor estado de saúde que os demais, os dois tripulantes bolivianos que sobreviveram não puderam retornar ao seu país no dia 01/12/2016, quando aquele país enviou uma aeronave para o traslado dos corpos daquela nacionalidade, por não terem sido liberados pelos médicos.

Vítimas Fatais e Traslado

Das vítimas fatais, entre passageiros e tripulantes, uma era paraguaia, outra venezuelana, cinco eram bolivianas e o restante era de brasileiros. Já no dia 01/12/2016 a Bolívia enviou uma aeronave Hércules para efetuar o traslado dos mortos daquela nacionalidade, ao tempo em que levara à Colômbia familiares dos mesmos.

No mesmo dia, Carlos Valdés, diretor do Instituto Médico Legal (IML) de Medellín, declarou que todas as 71 vítimas fatais haviam sido identificadas. Ele também informou que a causa da morte da maioria das vítimas foi grave lesão em ossos e vísceras, provocada pela queda. Já neste dia o corpo de Gustavo Encina, tripulante paraguaio, seguiu para seu país num voo comercial. Quatro empresas funerárias de Medellín trabalharam para o preparo dos corpos às condições de transporte.

Na sexta, 02/12/2016, foi feito o traslado do cidadão venezuelano, também tripulante, também em voo comercial, partindo às 8h00. Uma hora mais tarde partiu o Hércules boliviano. 14 dos jornalistas brasileiros partiram nesta data, em voos privados. 35 carros funerários efetuaram o transporte dos corpos de Medellín até a cidade de Rionegro.

Duas aeronaves Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB) foram até Medellín buscar os demais corpos, saindo de lá na sexta, 02/12//2016, entre 16h15 e 17h05. Os aviões fizeram escala em Manaus e partiram às 2h00 do sábado, horário local, chegando em Chapecó por volta das 9h30. Os corpos foram levados para um velório coletivo na Arena Condá.

Avaliação Inicial das Causas

Em comunicado oficial, o Aeroporto Internacional José María Córdova informou:

"O Comitê de Operações de Emergência e a gerência do Aeroporto José Maria Córdova informa que às 22h uma aeronave (...) se declarou em estado de emergência, entre os municípios de La Ceija e La Unión. A aeronave reportou pane elétrica, segundo informado à torre de controle de Aeronáutica Civil."

Num primeiro momento foi divulgado que a causa seria falta de combustível. Passadas algumas horas do acidente, e com as informações então disponíveis, especialistas analisaram vários fatores que poderiam tê-lo causado. Se num primeiro momento foi dito da falta de combustível, uma informação contraditória se seguiu, dizendo que o piloto havia se livrado deste antes de tentar um pouso forçado. Outro dado que chamou a atenção dos analistas é que, para o fabricante da aeronave, esta tem autonomia de voo de 2965 km (a velocidade de cruzeiro de 720 km/h), e a distância a ser percorrida foi de 2.975, o que fez voltar a hipótese da falta de combustível. Em razão disto o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas do Brasil, Rodrigo Spader, afirmou que o ideal seria ter havido uma escala para reabastecimento, neste caso.

Rodrigo Spader considera ainda situações como um vento contrário durante o trajeto, que forçaria ao crescimento do consumo do combustível. Tanto ele como o professor de aeronáutica Cláudio Scherer concordam que não pode ter havido o "alijamento" (derrame proposital do combustível) que só é feito em aviões de maior porte a fim de aliviar o peso para um pouso estável - o avião, no entanto, não teria capacidade de alijar combustível. Também foi relevante a revelação feita de que a torre de controle do aeroporto dera prioridade de pouso a outra aeronave, antes do LaMia. Um último fator a ser apreciado nas investigações é o estado dos pilotos, segundo Rodrigo Spader, pois o cansaço está na causa direta de 20% dos acidentes registrados. As caixas-pretas foram encontradas, na tarde do dia 29/11/2016, em perfeito estado.

Plano de Voo

No dia do acidente um despachante da LaMia apresentou à funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea (AASANA), Celia Castedo Monasterio, o plano de voo da aeronave. Segundo o depoimento da funcionária às autoridades bolivianas ela teria alertado ao despachante que o plano estava errado, pois trazia os valores de tempo de voo e autonomia de combustível idênticos, o que não daria a margem obrigatória (ambos davam quatro horas e vinte e dois minutos), e que não havia um plano alternativo.

Celia Castedo Monasterio teria advertido o despachante (que também morreu no acidente) por cinco vezes, segundo ela, mas este insistiu dizendo que estavam capacitados a realizar a viagem assim mesmo. Especialistas em aviação qualificaram o plano de voo como "absurdo".


Diálogo Com a Torre de Controle

Na quarta-feira, 30/11/2016, a gravação entre o piloto da aeronave e a controladora de voo, Yaneth Molina, foi divulgada. Nela o piloto Miguel Quiroga solicita prioridade de aproximação pois enfrentava "problemas de combustível". A controladora pede que confirme e ele responde que sim, ela então lhe diz que dentro de sete minutos lhe daria a confirmação pois já havia outra aeronave antes dele. Miguel Quiroga então insiste estar numa emergência motivada por combustível, mas a controladora se dirige para outro avião, o Avianca 9356 para que se aproxime e dialoga com o outro piloto.

Após a interrupção, o piloto da LaMia volta a pedir a descida imediatamente. A torre informa que há tráfego abaixo dele e pede que efetue um desvio à direita. Miguel Quiroga pede-lhe que seja "incorporado a outro vetor" e a controladora volta a falar do tráfego à frente dele e pede que continue a aproximação, perguntando-lhe se deseja alguma assistência na pista, ao que Miguel Quiroga retruca que confirmaria a assistência "na pista" e emenda: "Senhorita, LaMia 2933 está em falha total, sem combustível".

A controladora diz que a pista está livre, esperando chuva e que os bombeiros estão alertas. Miguel Quiroga revela o desespero em que se encontrava: "Vetores, senhora! Vetores!". A controladora diz que o perdeu no radar e que ele indicasse o rumo, ao que ele diz, repetindo, ser "rumo 3,6,0". A controladora diz que ele está a 8,2 milhas da pista. Miguel Quiroga diz a última palavra do contato: "Jesus!" e outras vozes surgem na torre de controle, dizendo que "não responde" e uma última pergunta encerra a gravação: "Qual a sua altitude agora?".

Helicóptero colombiano resgata corpos na área rural de La Unión.
Investigação

Além das autoridades aeronáuticas colombianas responsáveis pela apuração das causas do sinistro, também técnicos britânicos da fabricante do avião se dirigiram àquele país para auxiliar nas investigações sobre a queda, bem como representantes bolivianos, país de origem do voo.

Na terça-feira, 29/11/2016, seguiram para Medellín técnicos brasileiros do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), convidados pelo órgão local de apuração, a Aeronáutica Civil da Colômbia, além de Policiais federais brasileiros.

No dia 01/12/2016, Freddy Bonilla, secretário de segurança aérea da entidade responsável pela aviação civil colombiana, declarou que:

"Quando chegamos ao local do acidente e pudemos inspecionar os destroços, confirmamos que a aeronave não tinha combustível no momento do impacto. Uma das teorias que estamos trabalhando é que por não termos encontrado combustível no local da colisão ou nos tubos de alimentação, a aeronave sofreu queda por falta de combustível."

Freddy Bonilla disse também que a autorização do voo previa que a aeronave deveria ter partido de Cobija, cidade boliviana muito mais ao norte do que aquela de onde partiu de fato, Santa Cruz de la Sierra.

No curso das investigações, a promotoria responsável pelo caso prendeu provisoriamente em 06/12/2016 na Bolívia, Gustavo Vargas, diretor-geral da LaMia. Mais dois funcionários da empresa (uma secretária e um mecânico) prestaram depoimentos e foram liberados. Foram recolhidos também vários documentos nos escritórios da companhia, pela Direção Geral de Aeronáutica Civil da Bolívia (DGAC). No dia seguinte, foram confiscadas as duas outras aeronaves da LaMia, do mesmo modelo, para investigações e para ficarem à disposição da Justiça em um eventual uso no pagamento de indenizações. Havia inclusive uma dívida da LaMia para com a Força Aérea Brasileira, equivalente a 48,2 mil dólares, de serviços de manutenção prestados em 2014. Segundo a promotoria, entre os crimes investigados no processo, estão: abandono do dever, abuso de influência, homicídio e lesões gravíssimas.

As caixas-pretas, encontradas no dia seguinte ao acidente, foram enviadas para Farnborough, na Inglaterra, sede da BAE Systems, fabricante da aeronave. A equipe de especialistas participantes da análise dos registradores é formada por um investigador do Grupo de Investigação de Acidentes e Incidentes Aéreos da Colômbia (GRIAA), um investigador da DGAC, um investigador do Conselho Nacional de Segurança em Transportes dos Estados Unidos (NTSB) (porque equipamentos importantes da aeronave, entre eles os motores, são produzidos nos Estados Unidos), e um investigador da Agência de Investigação de Acidentes Aéreos do Reino Unido (AAIB), porque o avião foi produzido na Inglaterra.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, do Brasil (CENIPA), decidiu não participar da equipe, aguardando os resultados, compartilhados com todos os órgãos nacionais envolvidos. No entanto, a Força Aérea Brasileira (FAB) enviou para a Colômbia dois representantes, sendo um especialista em investigações de acidentes aéreos do CENIPA, e um psicólogo para avaliar os fatores humanos envolvidos no acidente, bem como acompanhar a recuperação dos brasileiros sobreviventes. Segundo as normas internacionais, o país que tem seus cidadãos vítimas fatais ou feridos seriamente em acidentes aéreos, pode solicitar formalmente junto ao país que conduz as investigações, a participação de um especialista, com as seguintes prerrogativas no processo: Visitar o local do acidente, ter acesso às informações relevantes, participar da identificação das vítimas, auxiliar nos esclarecimentos prestados pelos sobreviventes e receber uma cópia do Relatório Final.

Relatório Preliminar

Em 26/12/2016, 28 dias depois do acidente, a Aerocivil, Unidade Administrativa Especial de Aeronáutica Civil da Colômbia, apresentou o relatório preliminar. De acordo com o relatório, não foi identificada uma falha técnica que tivesse causado ou contribuído para o acidente, nem apresentou ato de sabotagem ou tentativa de suicídio. As evidências revelam que a aeronave sofreu falta total de combustível (Pane Seca).

A aeronave ficou totalmente destruída e os danos subsequentes indicaram que não houve possibilidade mínima de sobrevivência da maioria dos passageiros e tripulantes e nem incêndio. As investigações devem continuar até abril de 2017, quando a Aerocivil apresentará o relatório final, considerando esta análise preliminar, bem como os aspectos de organização, vigilância e supervisão operacional, planificação do combustível, tomada de decisões e sobrevivência.

Reações e Homenagens

A Confederação Sul-Americana de Futebol (CSF) cancelou a final da Copa Sul-Americana de 2016. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adiou por uma semana a segunda partida da final da Copa do Brasil e a última rodada do Campeonato Brasileiro.

O presidente Michel Temer decretou luto oficial no Brasil de três dias logo após a notícia do acidente.

Alguns clubes brasileiros emitiram comunicados oficiais com a palavra de seus respectivos presidentes, em solidariedade à tragédia com a Chapecoense. Lamentando o acidente, os dirigentes ainda informam a criação de "medidas solidárias" à Chapecoense, entre elas, a possibilidade de impedir o rebaixamento do clube catarinense pelas próximas três temporadas e o empréstimo de atletas para a temporada de 2017.

Por todo o mundo os principais jornais imediatamente repercutiram o acidente, bem como as principais redes de notícia de todos os países. Logo redes como CNN e BBC, e jornais como The New York Times, El País e Le Monde passaram a cobrir a tragédia.

Já na manhã do dia 29/11/2016 as redes sociais da mesma forma exibiram reações que de forma unânime manifestavam apoio às vítimas da tragédia. Em suas contas pelo Twitter os atletas Pelé, Maradona, MessiNeymar Jr., entre muitos outros, manifestaram pesar e solidariedade. Os times de futebol de todo o mundo também usaram este meio para expressar o luto e apoio ao time brasileiro e às famílias das vítimas, bem como por meio de suas páginas oficiais. Equipes como o Barcelona fizeram minuto de silêncio antes de seu treino na manhã daquele dia.

Logo hashtags como "#forçachape" ou "#fuerzachape" se tornaram as trending topics em todo o mundo. O vídeo que exibia a equipe rezando unida tornou-se o mais compartilhado. A equipe contra quem jogaria a Chapecoense, Atlético Nacional, imediatamente também manifestou sua solidariedade e a intenção de ceder o título ao adversário vitimado.

Na noite do dia 29/11/2016 vários monumentos ao redor do planeta se iluminaram na cor verde em homenagem à equipe catarinense. No Brasil isto se deu no Palácio do Planalto, no Cristo Redentor, Elevador Lacerda e outros símbolos locais. O gesto foi repetido na Torre Eiffel, na sede da Conmebol e no Obelisco de Buenos Aires. Isto também ocorreu em vários estádios pelo mundo.

A Rede Globo, no mesmo dia, durante o Jornal Nacional, exibiu um discurso do Galvão Bueno e encerrou a sua edição com 1 minuto de aplausos e as fotos da vítimas no fundo.

Em 30/11/2016, a Organização da Aviação Civil Internacional expressou condolências e declarou que estaria à disposição das autoridades para participar das investigações, caso fosse solicitado. No mesmo comunicado, lembrou que, conforme a Convenção de Chicago, as autoridades envolvidas na investigação têm 30 dias a partir da data do acidente para emitir um relatório preliminar, e 12 meses para emitir o relatório final.

Ainda no dia 30/11/2016, no horário que seria disputada a Final da Copa Sul-Americana, o canal Fox Sports 1 entrou em silêncio no período que estava reservado para a transmissão do jogo. A tela ficou toda preta em sinal de luto, com a hashtag #90minutosdesilencio e um cronômetro para marcar o tempo que a cobertura da partida duraria.

No Twitter um usuário simulou uma partida intitulada "Final dos Sonhos" e o assunto ficou entre um dos mais comentados nos trending topics na rede.

A direção da Fox na América Latina prestou uma homenagem aos 6 jornalistas mortos dos canais Fox Sports. A diretoria do canal decidiu mudar seu logo e seu slogan. Do dia 04/12/2016 até o fim de 2017, o tradicional logo do canal contará com seis estrelas, cada uma delas representando cada um dos funcionários mortos. A homenagem não ficará restrita ao canal do Brasil. As demais filiais da emissora, em países como Argentina e México, por exemplo, trarão as estrelas acima de seu logo. O slogan do canal também mudou de torcemos juntos para sempre juntos.

Consequências Oficiais

No dia 29/11/2016 a Direção Geral de Aeronáutica Civil da Bolívia expediu a Resolução Administrativa nº 716, suspendendo de forma imediata a autorização de operação da Lamia Corparatión SRL. Também como reação ao acidente, o Ministério das Obras Públicas daquele país, por seu titular Milton Claros, trocou toda a direção geral de aeronáutica civil. Neste mesmo dia foi afastada a funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea (AASANA), Celia Monasterio.

Milton Claros ainda disse que uma investigação foi aberta para apurar a concessão da licença à LaMia, bem como da situação da empresa, e que também os dirigentes da AASANA ficarão suspensos enquanto durarem as investigações.

Passageiros e Tripulação

A relação dos passageiros e tripulantes do voo foi divulgada horas depois de constatado o acidente.

Delegação da Chapecoense

Jogadores:
  1. Danilo Padilha (Goleiro)
  2. Gimenez (Lateral)
  3. Bruno Rangel (Atacante)
  4. Marcelo (Zagueiro)
  5. Lucas Gomes (Atacante)
  6. Sergio Manoel (Meio-campista)
  7. Filipe Machado (Zagueiro)
  8. Matheus Biteco (Meio-campista)
  9. Cleber Santana (Meio-campista)
  10. Alan Ruschel (Lateral - Sobrevivente)
  11. William Thiego (Zagueiro)
  12. Tiaguinho (Meio-campista)
  13. Neto (Zagueiro - Sobrevivente)
  14. Josimar (Meio-campista)
  15. Dener Assunção (Lateral)
  16. Gil (Meio-campista)
  17. Ananias (Atacante)
  18. Kempes (Atacante)
  19. Jakson Follmann (Goleiro - Sobrevivente)
  20. Arthur Maia (Meio-campista)
  21. Mateus Caramelo (Lateral)
  22. Aílton Canela (Atacante)

Demais Convocados e Comissão Técnica:
  1. Caio Júnior (Técnico)
  2. Eduardo de Castro Filho, o Duca (Auxiliar Técnico)
  3. Luiz Grohs, o Pipe (Analista de Desempenho)
  4. Anderson Paixão (Preparador Físico)
  5. Anderson Martins, o Boião (Preparador de Goleiros)
  6. Drº Marcio Koury (Médico)
  7. Rafael Gobbato (Fisioterapeuta)
  8. Cocada
  9. Sergio de Jesus, o Serginho
  10. Adriano
  11. Cleberson Silva
  12. Mauro Stumpf, o Maurinho (Vice-presidente de Futebol)
  13. Eduardo Preuss, o Cadu Gaúcho (Diretor)
  14. Chinho di Domenico (Supervisor)
  15. Sandro Pallaoro
  16. Cezinha
  17. Gilberto Pace Thomas, o Giba (Assessor de Imprensa)

Diretoria:
  1. Nilson Folle Júnior
  2. Decio Burtet Filho
  3. Edir de Marco (Diretor)
  4. Ricardo Porto (Diretor)
  5. Mauro dal Bello (Diretor)
  6. Jandir Bordignon (Diretor)
  7. Dávi Barela Dávi (Empresário)

Convidado:
  1. Delfim Peixoto Filho (Vice-presidente da CBF e Presidente da Federação Catarinense)

Imprensa:
  1. Victorino Chermont (Fox Sports)
  2. Rodrigo Santana Gonçalves (Fox Sports)
  3. Deva Pascovich (Fox Sports)
  4. Lilacio Júnior (Fox Sports)
  5. Paulo Julio Clement (Fox Sports)
  6. Mario Sergio Pontes de Paiva (Fox Sports e Ex-jogador)
  7. Guilher Marques (Globo)
  8. Ari de Araújo Júnior (Globo)
  9. Guilherme Laars (Globo)
  10. Giovane Klein (Repórter da RBS TV de Chapecó)
  11. Bruno Mauro da Silva (Técnico da RBS TV de Florianópolis)
  12. Djalma Araújo Neto (Cinegrafista da RBS TV de Florianópolis)
  13. Adré Podiacki (Repórter do Diário Catarinense)
  14. Laion Espindula (Repórter do Globo Esporte)
  15. Rafael Henzel (Rádio Oeste Capital - Sobrevivente)
  16. Renan Agnolin (Rádio Oeste Capital)
  17. Fernando Schardong (Rádio Chapecó)
  18. Edson Ebeliny (Rádio Super Condá)
  19. Gelson Galiotto (Rádio Super Condá)
  20. Douglas Dorneles (Rádio Chapecó)
  21. Jacir Biavatti (Comentarista RIC TV e Vang FM)

Tripulação:
  1. Miguel Quiroga (Piloto)
  2. Ovar Goytia
  3. Sisy Arias
  4. Romel Vacaflores (Assistente de Voo)
  5. Ximena Suarez (Aeromoça - Sobrevivente)
  6. Alex Quispe
  7. Gustavo Encina
  8. Erwin Tumiri (Técnico da Aeronave - Sobrevivente)
  9. Angel Lugo

Roberto Corrêa

ROBERTO CORRÊA JOSÉ MARIA
(76 anos)
Cantor e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (02/07/1940)
┼ Rio de Janeiro, RJ (26/11/2016)

Roberto Corrêa José Maria foi um cantor e compositor brasileiro nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 02/07/1940.

Em 1958 iniciou sua carreira profissional integrando a banda Golden Boys, ao lado dos irmãos Ronaldo Corrêa e Renato Corêa, e com o amigo de escola, carinhosamente chamado de primo, Valdir Anunciação, como uma versão brasileira do conjunto americano The Platters.

Em 1977, Alcione gravou sua música "Eu Vou Deixar" (Roberto Corrêa e Sylvio Son), no LP "Pra Que Chorar", lançado pela gravadora Philips.

Em 1978, Sônia Lemos incluiu sua canção "Pode Ir" (Roberto Corrêa e Jon Lemos) no disco "O Amor Seja Benvindo", lançado pela Polydor. Alcione gravou suas composições "Eu Sou a Marrom" (Roberto Corrêa e Sylvio Son) e "Pode Esperar" (Roberto Corrêa e Sylvio Son) no LP "Alerta Geral".

Em 1979, Alcione gravou "Faca de Ponta" (Roberto Corrêa e Sylvio Son) no LP "Gostoso Veneno".


Em 1980, Alcione gravou "Resumo" (Roberto Corrêa e Sylvio Son), no LP "E Vamos à Luta".

No início da década de 1980, Celeste incluiu sua canção "Amor a Três" (Roberto Corrêa e Jon Lemos) no LP "Cinco e Triste da Manhã", lançado pela gravadora Tapecar.

Em 1985, sua composição "Xeque-Mate" (Roberto Corrêa e Carlos Colla) foi gravada por Alcione no LP "Fogo da Vida", lançado pela gravadora RCA Victor.

Como integrante dos Golden Boys, gravou vários discos, tendo sido responsável por um dos maiores sucessos do grupo, sua composição "O Cabeção" (Roberto Corrêa e Sylvio Son). Com o conjunto, participou das comemorações tanto dos 30 quanto dos 35 anos da Jovem Guarda, em grandes casas noturnas do Rio de Janeiro e de São Paulo, em 1995 e 2000.

Em 2002, integrou, ao lado dos irmãos Renato Corrêa e Ronaldo Corrêa, o coro que participou da gravação do "Acústico Jorge Benjor", transmitido pela MTV e lançado em CD e DVD.

Constam também da relação dos intérpretes de suas canções artistas como Wanderléa, Trio Esperança, Wanderley Cardoso, Martinha, Evinha, entre outros.

Morte

Roberto Corrêa morreu no sábado, 26/11/2016, em sua casa no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, aos 76 anos, por volta das 18h00. A informação foi confirmada na página do grupo no Facebook e lamentada por fãs e admiradores. Roberto Corrêa sofria de câncer.

"É com imensa tristeza que informamos o falecimento, hoje, do nosso querido Roberto Corrêa. Ainda não temos informações sobre o velório e sepultamento, mas em breve estaremos publicando aqui. Força para toda a família Corrêa."

No entanto, logo depois, essas informações foram divulgadas pelo filho do cantor, Roberto Filho, nas redes sociais.

"Amigos, venho comunicar através deste post o falecimento do meu pai Roberto Corrêa hoje às 18h00. De forma branda como um suspiro feito um passarinho, nosso querido se foi levando todo amor da família e dos inúmeros amigos que colecionou durante sua vida. Fica como legado todo ensinamento de vida desse grande ser humano! Em breve vos informaremos detalhes do sepultamento"

O velório de Robeerto Corrêa acorreu no domingo, 27/11/2016, às 13h30 no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado.

Discografia

  • 1997 - Festival dos Golden Boys (Som Livre, CD)
  • 1997 - Meus Momentos Vol. 2 (EMI Music, CD)
  • 1994 - Os Grandes Sucessos dos Golden Boys (EMI-Odeon, CD)
  • 1994 - Meus Momentos (EMI-Odeon, CD)
  • 1991 - Golden Boys Ao Vivo (Som Livre, CD)
  • 1986 - Golden Boys (Epic/CBS, LP)
  • 1984 - O Sonho Não Acabou... Os Inesquecíveis Sucessos da Jovem Guarda em 35 Super Regravações! (Epic/CBS)
  • 1978 - Melô da Bochecha (Odeon, Compacto Simples)
  • 1978 - Golden Boys (Polydor, LP)
  • 1976 - Não Wsquenta a Cabeça (Odeon, Compacto Simples)
  • 1975 - Golden Boys (Odeon, LP)
  • 1974 - Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda / Fogo Sobre Terra / Não Faz Mal / Malandragem Dela (Odeon, Compacto Duplo)
  • 1973 - Golden Boys (Odeon, LP)
  • 1972 - Mammy Blues / O Feiticeiro (Odeon)
  • 1971 - Só Vou Criar Galinha (Odeon, LP)
  • 1971 - Só Vou Criar Galinha / Você Também Chora (Odeon)
  • 1970 - Fumacê (Odeon, LP)
  • 1970 - Eu Sou Tricampeão / Fumacê (Odeon, Compacto Simples)
  • 1969 - Golden Boys (Odeon, LP)
  • 1968 - Na Linha de Frente (Odeon, LP)
  • 1968 - Quero Lhe Dizer Cantando / Você Me Paga / Agora é Tarde / Pra Longe de Mim (Odeon, Compacto Duplo)
  • 1968 - Dia de Vitória / Andança (Odeon, Compacto Simples)
  • 1968 - A família / A Bela de Itapoã (Odeon, Compacto Simples)
  • 1967 - Não Precisa Chorar (Odeon, LP)
  • 1967 - Pensando Nela (Odeon, LP)
  • 1967 - Pensando Nela / Minha Empregada (Odeon, Compacto Duplo)
  • 1967 - Olha o Que Você Me Fez (Odeon, Compacto Duplo)
  • 1966 - Michelle / Mágoa (Odeon, Compacto Simples)
  • 1966 - The Golden Boys (Odeon, LP)
  • 1965 - Alguém na Multidão (Odeon, LP)
  • 1965 - Alguém na Multidão / Valentina, My Valentina (Odeon, Compacto Simples)
  • 1965 - Ai de Mim / João Ninguém (Odeon, Compacto Simples)
  • 1964 - Pra Sempre Te Adorar / Se Eu Tivesse Alguém (Odeon, Compacto Simples)
  • 1964 - Quero Afagar As Suas Mãos / Não Quero Que Chores (Odeon, Compacto Simples)
  • 1964 - Michael / Erva Venenosa (Odeon, Compacto Simples)
  • 1963 - Twist Do Amor / Dança Legal (Polydor, 78)
  • 1963 - Sukiyaky / Renata (Polydor, 78)
  • 1963 - Golden Boys (Polydor, Compacto Duplo)
  • 1962 - Lana / Terna Paixão (Copacabana, 78)
  • 1961 - Tristonho / Meus Encontros (Copacabana, 78)
  • 1960 - Samba / É a Saudade (Copacabana, 78)
  • 1960 - Golden Boys (Copacabana, Compacto Duplo)
  • 1959 - Os Golden Boys (Copacabana, LP)
  • 1959 - Estúpido Cupido / Ela Não Gostou (Copacabana, 78)
  • 1959 - Personality / Nanã (Copacabana, 78)
  • 1958 - Wake Up Little Suzie / Meu Romance Com Laura (Copacabana, 78)
  • 1958 - Sino De Belém / Natal Das Crianças (Copacabana, 78)

Indicação: Miguel Sampaio

Villas-Bôas Corrêa

LUIZ ANTÔNIO VILLAS-BÔAS CORRÊA
(93 anos)
Jornalista

☼ Rio de Janeiro, RJ (02/12/1923)
┼ Rio de Janeiro, RJ (15/12/2016)

Luiz Antonio Villas-Bôas Corrêa foi um jornalista brasileiro nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 02/12/1923. Era o mais antigo analista político do Brasil até a sua morte. Começou em 1948 e até 2011 assinou uma coluna no Jornal do Brasil.

Nascido no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, formou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, em 1947, onde se espantou com a efervescência política e presidiu o Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO) no Estado Novo.

Iniciou sua atividade jornalística, sempre na área política, em 27/10/1948, no jornal A Notícia. Trabalhou também no Diário de Notícias, na Rádio Nacional e em diversas emissoras de televisão, notadamente na Rede Manchete, na qual atuou como comentarista político desde 1991 até o fechamento da emissora de Adolpho Bloch. Era conhecido pelo texto elegante, com estilo inconfundível e algo irônico, e pela sofisticada capacidade de análise política.

Atribuía, porém, ao acaso sua especialização. Ainda "foca", em uma reportagem policial, ouviu em uma rua na Glória um empresário se queixar de que não conseguia fechar um negócio, porque autoridades lhe exigiam dinheiro. Segundo relatou em 2011 a Pedro Doria na série em vídeo "Decanos Brasileiros - Dez Visões Sobre a Democracia no País", no site Estadão, convenceu o desconhecido a deixá-lo acompanhar uma audiência com Ministro da Guerra, general Canrobert Pereira da Costa, para denunciar as extorsões.



"Eu fiz a matéria, e deu uma manchetona no dia seguinte em 'A Notícia", contou Villas-Bôas Corrêa.

"'Gravíssima denúncia ao ministro da Guerra!' (...) Isso foi uma bomba no Congresso. Porque a oposição veio em cima, etc, debates, e faz CPI, não faz CPI... Durou uma semana. Não deu em nada. Mas para mim deu. Porque daí em diante eu verifiquei que não tinha repórter político na Notícia, que eu gostei da experiência e comecei a ir para o jornal cedo e a fazer matéria política!"
(Villas-Bôas Corrêa)

Era o início da trajetória profissional que o transformaria em testemunha dos principais acontecimentos políticos da segunda metade do século 20 e o início do século 21 no Brasil. Longa, a lista inclui o suicídio do presidente Getúlio Vargas, o contragolpe do marechal Henrique Teixeira Lott, em 1955, as revoltas de Jacareacanga e Aragarças no governo de Juscelino Kubitschek, a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, o golpe de 1964, a ditadura civil-militar de 1964-1985, a redemocratização, a agonia e morte do presidente Tancredo Neves, o impeachment do presidente Fernando Collor, os dois governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o início do primeiro período de Dilma na presidência.


Em, 1985, segundo relatou no livro "Conversa Com a Memória - A História de Meio Século de Jornalismo Público" (Ed. Objetiva) que preparara-se para participar, pela Rede Manchete, da cobertura da posse de Tancredo Neves. A solenidade acabou frustrada por uma cirurgia de emergência cujas complicações levariam o presidente à morte sem jamais ser empossado.

Praticamente sozinho no estúdio, Villas-Bôas Corrêa ancorou desde cedo (a operação fora feita de madrugada) o noticiário, enquanto a cobertura era reorganizada. "Continua, Villas", pediam-lhe, pela linha interna de comunicação, para que não parasse de falar. O repórter já sessentão, apesar do cansaço, garantiu por horas, com seus comentários, a transmissão.

Villas-Bôas Corrêa durante 23 anos, trabalhou na sucursal do Rio do jornal O Estado de S. Paulo, inicialmente como chefe da seção política e, mais tarde, como diretor da sucursal. Também trabalhou no matutino O Dia, lançado por Chagas Freitas após assumir o diário A Notícia.

Retornou ao Jornal do Brasil, em 1999, como editor de política.

Morte

Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa morreu na noite de quinta-feira, 15/12/2016, aos 93 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital São Lucas desde o dia 09/12/2016. Villas-Bôas Corrêa morreu em decorrência "de um choque séptico causado por uma pneumonia comunitária", segundo o Hospital São Lucas.

O corpo de Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa foi velado no Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, na manhã de sábado, 17/12/2016. No período da tarde ocorreu a cremação do jornalista. O velório começou às 10h00.

Villas-Bôas Corrêa era viúvo de Regina Maria de Sá Corrêa e deixou, além de Marcos, outro filho, o professor Marcelo de Sá Corrêa, três netos e três bisnetos.

Indicação: Miguel Sampaio

Dom Paulo Evaristo Arns

Paulo Evaristo Arns
(95 anos)
(Frade Franciscano e Cardeal)

☼ Forquilhinha, SC (14/09/1921)
┼ São Paulo, SP (14/12/2016)

Dom Frei Paulo Evaristo Arns OFM, foi um frade franciscano e Cardeal brasileiro nascido em Forquilinha, SC, no dia 14/09/1921. Foi o quinto Arcebispo de São Paulo, tendo sido o terceiro prelado dessa Arquidiocese a receber o título de Cardeal. Era Arcebispo-Emérito de São Paulo e protopresbítero do Colégio Cardinalício.

Quinto de treze filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner, brasileiros, descendentes de imigrantes provenientes da Alemanha, região de Rio Mosela.

Realizou seus estudos fundamentais em Forquilhinha, SC. Depois ingressou no seminário franciscano, no Seminário Seráfico São Luís de Tolosa, em Rio Negro, PR.

Em 1940, entrou no noviciado, em Rodeio, SC. A Filosofia, cursou-a em Curitiba e a Teologia em Petrópolis, RJ.

Três de suas irmãs são freiras, e um irmão faz parte da Ordem dos Frades Menores (OFM). Também é irmão de Zilda Arns, morta em um terremoto em Porto Príncipe, Haiti, em 2010.

Paulo Evaristo Arns foi ordenado presbítero no dia 30/11/1945, em Petrópolis, por Dom José Pereira Alves, Arcebispo de Niterói.

Por cerca de uma década exerceu seu ministério, assistindo a população desfavorecida de Petrópolis, RJ, onde também lecionou no Teologado Franciscano de Petrópolis e na Universidade Católica de Petrópolis. Depois disto, foi para a França para cursar letras na Sorbonne, onde se doutorou em 1952. Retornando ao Brasil, foi professor nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Agudos e Bauru. A seguir, retornou a Petrópolis, onde voltou a dar assistência aos desfavorecidos.

Em 02/05/1966 foi eleito Bispo da Sé Titular de Respecta e auxiliar de São Paulo, aos 44 anos. Recebeu a ordenação episcopal em 03/07/1966, na igreja matriz do Sagrado Coração de Jesus em Forquilhinha, SC, sendo sagrante principal Dom Agnelo Rossi, Arcebispo de São Paulo, e consagrantes Dom Anselmo Pietrulla OFM, então Bispo de Tubarão, SC, e Dom Honorato Piazera SCI, então Bispo coadjutor de Lages, SC.

No dia 22/10/1970, o Papa Paulo VI o nomeou Arcebispo metropolitano de São Paulo, tendo tomado posse a 01/11/1970, exercendo o cargo até 15/04/1998, quando renunciou, por limite de idade, detendo o título de Arcebispo-Emérito de São Paulo.

No Consistório do dia 05/03/1973, convocado pelo Papa Paulo VI, na Basílica de São Pedro, Dom PauloEvaristo Arns foi criado Cardeal-Presbítero do título de Santo Antônio de Pádua, na Via Tuscolana.

Como Cardeal eleitor, participou dos dois conclaves, de agosto e de outubro de 1978. Participou ainda, como Cardeal não-votante, dos conclaves de 2005 e de 2013.

Em 09/07/2012 tornou-se o Protopresbítero do Colégio dos Cardeais, por ser aquele que há mais tempo foi elevado à dignidade cardinalícia entre todos os cardeais-presbíteros, sendo também o mais antigo de todos os membros do Colégio Cardinalício.

Brasão e Lema

Descrição: Escudo eclesiástico. Em campo de blau uma cruz em tau de jalde com um in-fólio aberto do mesmo, brocante sobre a cruz, e uma espada de argente, empunhada e guarnecida do primeiro metal, posta em pala, cosida sobre o livro; tendo, à dextra e à senestra, dois ramos de café "ao natural", ou seja de sinopla e frutado de goles. Em chefe, um Cálice de jalde encimado por uma Hóstia de argente. O escudo está assente em tarja branca, na qual se encaixa o pálio branco com cruzetas de sable. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de duas travessas de ouro. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por quinze borlas cada um, tudo de vermelho. Brocante sob a ponta da cruz um listel de jalde com a legenda: EX SPE IN SPEM, em letras de blau.

Interpretação: O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. O campo de blau (azul) representa o manto de Maria Santíssima sob  cuja proteção o Cardeal pôs toda a sua vida sacerdotal, sendo que este esmalte significa: Justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza. A Cruz em Tau é própria da Ordem Franciscana, à qual pertence o Cardeal e, sendo de jalde (ouro) simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. O in-fólio com a espada representam São Paulo Apóstolo, numa referência ao padroeiro do Estado, da cidade e da Arquidiocese, sendo que o metal jalde (ouro) tem o significado acima descrito) e o metal argente (prata) da lâmina da espada simboliza: inocência, castidade, pureza e eloquência; virtudes essenciais num bispo. Os ramos de café frutados representam o estado de São Paulo, "Terra do Café", cuja capital é a sede episcopal do Cardeal; sendo que as expressões "ao natural" e "de sua cor" são recursos para se colocar os ramos de café, naturalmente com a cor sinopla (verde), com frutos de goles (vermelho) sobre o campo de blau (azul), sem ferir as leis da Heráldica. Os ramos, por seu esmalte sinopla (verde) representam: esperança, liberdade, abundância, cortesia e amizade; e os frutos de café, por seu esmalte goles (vermelho) simbolizam o fogo da caridade inflamada no coração do Cardeal, bem como, valor e socorro aos necessitados, e ainda o martírio de São Paulo Apóstolo. No chefe, a Hóstia de argente (prata) e o Cálice de jalde (ouro) lembram o santo sacrifício da missa, no qual o pão e o vinho são transubstanciados no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com os significados destes metais, acima descritos. O lema: "EX SPE IN SPEM" (De Esperança em Esperança), traduz a certeza do cardeal de que em Deus esperou e não será confundido, numa referência ao Livro dos Salmos (Sl. 70,1), sendo uma expressão da total e confiante adesão a Cristo e do humilde abandono do cardeal nas mãos da Divina Providência.

Atividade e Contribuições

Sua atuação pastoral foi voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros, principalmente os mais pobres, e à defesa e promoção dos direitos da pessoa humana. Ficou conhecido como o Cardeal dos Direitos Humanos, principalmente por ter sido o fundador e líder da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, e sua atividade política era claramente vinculada à sua fé religiosa. Segundo ele:

"Jesus não foi indiferente nem estranho ao problema da dignidade e dos direitos da pessoa humana, nem às necessidades dos mais fracos, dos mais necessitados e das vítimas da injustiça. Em todos os momentos Ele revelou uma solidariedade real com os mais pobres e miseráveis (Mt 11, 28-30); lutou contra a injustiça, a hipocrisia, os abusos do poder, a avidez de ganho dos ricos, indiferentes aos sofrimentos dos pobres, apelando fortemente para a prestação de contas final, quando voltará na glória para julgar os vivos e os mortos."

Enquanto bispo-auxiliar, trabalhou na Zona Norte paulistana, no bairro de Santana. Durante a ditadura militar, na década de 1970, notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país, junto com o Rabino Henry Sobel, criando uma ponte entre a comunidade judaica e a Igreja Católica em solo paulista.

Renovou o plano pastoral da Arquidiocese de São Paulo, instituindo novas regiões episcopais (divisões da Arquidiocese de São Paulo) e quarenta e três novas paróquias.

Em 1972 criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz de São Paulo. Incentivou a Pastoral da Moradia e a Pastoral Operária.

Em 22/05/1977 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, juntamente com o presidente norte-americano Jimmy Carter, da Universidade de Notre Dame, Indiana, Estados Unidos. A distinção, concedida também ao Cardeal Kim da Coreia do Sul e ao Bispo Lamont da Rodésia, deveu-se ao seu empenho em prol dos direitos humanos.

Entre 1979 e 1985, coordenou com o Pastor Jaime Wright, de forma clandestina, o projeto "Brasil: Nunca Mais". Este projeto tinha como objetivo evitar o possível desaparecimento de documentos durante o processo de redemocratização do país. O trabalho foi realizado em sigilo e o resultado foi a cópia de mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM). Contudo, este material foi microfilmado e remetido ao exterior diante do temor de uma apreensão do material. Em ato público realizado dia 14 de junho de 2011, foi anunciada a futura repatriação, digitalização e disponibilização para todos os brasileiros deste acervo. O livro homônimo "Brasil: Nunca Mais" reuniu esta pesquisa sobre a tortura no Brasil no período da Ditadura Militar e foi publicado pela Editora Vozes. Dom Paulo Evaristo Arns também foi um dos organizadores do movimento "Tortura Nunca Mais".

Em 03/06/1980 recebeu, em São Paulo o Papa João Paulo II.

Em 30/11/1984 inaugurou a Biblioteca Dom José Gaspar.

Em 1985, com a ajuda de sua irmã, a pediatra Zilda Arns Neumann, implantou a Pastoral da Criança.

Em 1989 a Arquidiocese de São Paulo, por decisão do Papa João Paulo II, teve seu território reduzido com a criação das novas dioceses: Osasco, Campo Limpo, São Miguel Paulista e Santo Amaro.

Em 1992, Dom Paulo Evaristo Arns criou o Vicariato Episcopal da Comunicação, com a finalidade de fazer a Igreja estar presente em todos os meios de comunicação.

Em 22/02/1992 inaugurou uma nova residência destinada aos padres idosos, a Casa São Paulo, ano em que também criou a Pastoral dos Portadores de HIV.

Em 1994 criou o Conselho Arquidiocesano de Leigos.

Em 1996, após completar 75 anos, apresentou renúncia ao Papa João Paulo II, em função das normas eclesiásticas, renúncia esta que foi aceita. A partir de então, tornou-se Arcebispo Emérito de São Paulo e foi substituído por Dom Frei Cláudio Cardeal Hummes.

Dom Paulo Evaristo Arns recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em 1998.

Morte

Dom Paulo Evaristo Arns morreu na quarta-feira, 14/12/2016, aos 95 anos. Ele foi internado no Hospital Santa Catarina, no dia 28/11/2016, em decorrência de uma broncopneumonia. Com o passar do dia o estado de saúde piorou, e ele teve de ir para a UTI por causa de dificuldades na função renal. Segundo o hospital, Dom Paulo Evaristo Arns morreu às 11h45 vítima de Falência Múltipla dos Órgãos.

Bibliografia

Autor de 49 livros, suas obras versam sobre a ação pastoral da Igreja nas grandes cidades e estudos da literatura cristã dos primeiros séculos, além de centenas de artigos escritos para as diversas revistas das quais foi redator, antes do episcopado.

Umas das principais obras foi a pesquisa por ele organizada, em que foi abordada a tortura durante os Anos de Chumbo: "Brasil, Nunca Mais".

Ordenações Episcopais

O Cardeal Paulo Evaristo Arns foi o principal sagrante dos seguintes bispos:

  • Benedito de Ulhôa Vieira (1920-2014)
  • Francisco Manuel Vieira (1925-2014)
  • Joel Ivo Catapan, S.V.D. (1927-1999)
  • Angélico Sândalo Bernardino (1933-)
  • Mauro Morelli (1935-)
  • Antônio Celso de Queiroz (1933-)
  • Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, S.J. (1930- 2006)
  • Dom Geraldo Majella Cardeal Agnelo (1933-)
  • Alfredo Ernest Novak, C.Ss.R. (1930-)
  • Ricardo Pedro Paglia, M.S.C. (1937-)
  • Aloísio Hilário de Pinho, F.D.P. (1934-)
  • José Carlos Castanho de Almeida (1930-)
  • Antônio Gaspar (1931-)
  • Fernando Antônio Figueiredo, O.F.M. (1939-)
  • Walter Bini, S.D.B. (1930-1987)
  • Walter Ivan de Azevedo, S.D.B. (1926-)
  • Irineu Danelon, S.D.B. (1940-)
  • José Vieira de Lima, T.O.R. (1931-)
  • Dom Leonardo Ulrich Steiner, O.F.M. (1950 -)
E foi consagrante de:

  • Dom Luís Flávio Cappio O.F.M.
  • Dom Manuel Parrado Carral
  • Dom Pedro Luiz Stringhini

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Ferreira Gullar

JOSÉ RIBAMAR FERREIRA
(86 anos)
Escritor, Poeta, Crítico de Arte, Biógrafo, Tradutor, Memoralista e Ensaísta

☼ São Luís, MA (10/09/1930)
┼ Rio de Janeiro, RJ (04/12/2016)

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, foi um escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo. Foi o postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na vaga deixada por Ivan Junqueira, da qual tomou posse em 05/12/2014.

Ferreira Gullar nasceu em São Luís, MA, no dia 10/09/1930, com o nome de José Ribamar Ferreira. É um dos onze filhos do casal Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart.

Sobre o pseudônimo, o poeta declarou o seguinte:

"Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome!"

Segundo Mauricio Vaitsman, ao lado de Bandeira Tribuzi, Luci Teixeira, Lago Burnet, José Bento, José Sarney e outros escritores, fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o pós-modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores. Até sua morte, muitos o consideravam o maior poeta vivo do Brasil e não seria exagero dizer que, durante suas seis décadas de produção artística, Ferreira Gullar passou por todos os acontecimentos mais importantes da poesia brasileira e participou deles.

Morando no Rio de Janeiro, participou do movimento da poesia concreta, sendo então um poeta extremamente inovador, escrevendo seus poemas, por exemplo, em placas de madeira, gravando-os.

Em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo, que valoriza a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo.

Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastou deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPCs).

Militância Política

Ferreira Gullar foi militante do Partido Comunista Brasileiro (CPB) e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, na Argentina e Chile. Ele comentou que bacharelou em subversão em Moscou durante o seu exílio, mas que devido a uma maior reflexão, experiência de vida, e de observar as coisas irem acontecendo se desiludiu do socialismo e que o socialismo não faz mais sentido pois fracassou.

"(...) toda sociedade é, por definição, conservadora, uma vez que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio social. Uma comunidade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria caótica e, por isso mesmo, inviável."

Prêmios e Indicações

Ferreira Gullar ganhou o concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras com seu poema "O Galo" em 1950. Os prêmios Molière, o Saci e outros prêmios do teatro em 1966 com "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come", que é considerada uma obra prima do teatro moderno brasileiro.

Em 1999 foi inaugurada em São Luís, MA, a Avenida Ferreira Gullar. Em Imperatriz, MA, ganhou em sua homenagem com o teatro Ferreira Gullar.

Em 2002, foi indicado por nove professores dos Estados Unidos, do Brasil e de Portugal para o Prêmio Nobel de Literatura.

Em 2007, seu livro Resmungos ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano. O livro, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, reúne crônicas de Ferreira Gullar publicadas no jornal Folha de S.Paulo no ano de 2005.

Foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.

Ferreira Gullar foi agraciado com o Prêmio Camões em 2010.

Em 15/10/2010, foi contemplado com o título de Doutor Honoris causa, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em 20/10/2011, ganhou o Prêmio Jabuti com o livro de poesia Em Alguma Parte Alguma, que foi considerado O Livro do Ano de ficção.

Em 2011, a obra Poema Sujo inspirou a vídeo instalação "Há Muitas Noites na Noite", dirigida por Silvio Tendler. Em 2015, o poema inspirou uma série documental, também denominada: "Há Muitas Noites na Noite", com sete episódios com 26 minutos cada, exibida na TV Brasil entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, também dirigida por Silvio Tendler.

Academia Brasileira de Letras

Ferreira Gullar foi postulante eleito da cadeira 37 na Academia Brasileira de Letras (ABL), tendo obtido na votação 36 dos 37 votos possíveis derrotando os outros candidatos: Ademir Barbosa Júnior, José Roberto Guedes de Oliveira e José William Vavruk em apenas 15 minutos, com uma abstenção que permanece anônima devido a queima das fichas após o resultado da urna, em 09/10/2014, tendo votado 19 acadêmicos por presença física e 18 por cartas.

A cadeira tem como patrono o poeta e inconfidente mineiro Tomás Antônio Gonzaga e foi ocupada anteriormente por personalidades como Silva Ramos, Alcântara Machado, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, João Cabral de Melo Neto e recentemente pelo ensaísta e curador Ivan Junqueira, amigo de Ferreira Gullar.

Sua posse era marcada para novembro, depois de várias recusas do escritor em convites anteriores.

Em 05/12/2014, Ferreira Gullar tomou posse de sua cadeira, a número 37, na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Morte

Ferreira Gullar morreu no domingo, 04/12/2016, no Rio de Janeiro, RJ vítima de vários problemas respiratórios que culminaram em uma pneumonia. Ele estava internado há 20 dias no Hospital Copa D'Or, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Amigos famosos e imortais foram à Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio de Janeiro, na segunda-feira, 05/12/2016, para velar o corpo de Ferreira Gullar. Familiares, admiradores e colegas acadêmicos prestaram sua última homenagem ao poeta, que foi velado ainda na noite de domingo, 04/12/2016, e durante toda a madrugada no saguão da Biblioteca Nacional, também no Centro do Rio de Janeiro, e na manhã de segunda-feira foi velado na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL).

O corpo de Ferreira Gullar foi sepultado por volta das 16h00 de segunda-feira, 05/12/2016, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL) localizado no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Bibliografia

Poesia
  • 1949 - Um Pouco Acima do Chão
  • 1954 - A Luta Corporal
  • 1958 - Poemas
  • 1962 - João Boa-Morte, Cabra Marcado para Morrer (Cordel)
  • 1962 - Quem Matou Aparecida? (Cordel)
  • 1966 - A Luta Corporal e Novos Poemas
  • 1966 - História de um Valente (Cordel: Na clandestinidade, como João Salgueiro)
  • 1968 - Por Você Por Mim
  • 1975 - Dentro da Noite Veloz
  • 1976 - Poema Sujo (Onde se localiza a letra de Trenzinho do Caipira)
  • 1980 - Na Vertigem do Dia
  • 1986 - Crime na Flora ou Ordem e Progresso
  • 1987 - Barulhos
  • 1991 - O Formigueiro
  • 1999 - Muitas Vozes
  • 2005 - Um Gato Chamado Gatinho
  • 2010 - Em Alguma Parte Alguma

Antologias
  • 1977 - Antologia Poética
  • 1980 - Toda Poesia
  • 1981 - Ferreira Gullar - Seleção de Beth Brait
  • 1983 - Os Melhores Poemas de Ferreira Gullar - Seleção de Alfredo Bosi
  • 1989 - Poemas Escolhidos

Contos e Crônicas
  • 1996 - Gamação
  • 1997 - Cidades Inventadas
  • 2007 - Resmungos

Teatro
  • 1979 - Um Rubi no Umbigo

Crônicas
  • 1989 - A Estranha Vida Banal
  • 2001 - O Menino e o Arco-Íris

Memórias
  • 1998 - Rabo de Foguete - Os Anos de Exílio

Biografia
  • 1996 - Nise da Silveira: Uma Psiquiatra Rebelde

Literatura Infantil
  • 2011 - Zoologia Bizarra

Ensaios
  • 1959 - Teoria do Não-Objeto
  • 1965 - Cultura Posta em Questão
  • 1969 - Vanguarda e Subdesenvolvimento
  • 1977 - Augusto do Anjos ou Vida e Morte Nordestina
  • 1977 - Tentativa de Compreensão: Arte Concreta, Arte Neoconcreta - Uma Contribuição Brasileira
  • 1978 - Uma Luz no Chão
  • 1983 - Sobre Arte
  • 1985 - Etapas da Arte Contemporânea: Do Cubismo à Arte Neoconcreta
  • 1989 - Indagações de Hoje
  • 1993 - Argumentação Contra a Morte da Arte
  • 1998 - O Grupo Frente e a Reação Neoconcreta
  • 2002 - Cultura Pem Questão / Vanguarda e Subdesenvolvimento
  • 2002 - Rembrandt
  • 2003 - Relâmpagos

Televisão
  • 1990 - Araponga (Rede Globo) - Colaborador
  • 1995 - Irmãos Coragem (Rede Globo) - Colaborador
  • 1998 - Dona Flor e Seus Dois Maridos (Rede Globo) - Colaborador

Filmes
  • Os Herdeiros - Davi Martins

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio