CÍCERO CAETANO LEONARDO
(48 anos)
Transexual e Militante dos Direitos LGBT
☼ Bodocó, PE (10/01/1948)
┼ São Paulo, SP (28/05/1996)
Cícero Caetano Leonardo, mais conhecido por Brenda Lee, foi um transexual, militante dos direitos LGBT, nascido em Bodocó, PE, no dia 10/01/1948. Brenda Lee foi considerada o "Anjo da Guarda das Travestis" e tinha como objetivo ajudar a todos, doentes ou não, que eram discriminados pela sociedade.
Nascida como Cícero Caetano Leonardo no interior de Pernambuco, Brenda Lee era muito efeminada ainda na infância, o que desde cedo lhe tornou alvo de preconceitos. Inicialmente adotou o nome social de Caetana, mas ao se estabelecer em São Paulo escolheu o nome que a tornaria conhecida: Brenda Lee.
Ela não fez sucesso por sua beleza, pelos trabalhos artísticos e muito menos por escândalos na televisão. Mesmo assim, tornou-se referência e exemplo de ser humano: Brenda Lee, um anjo bom do amparo, da doação e da entrega para aquelas que, expulsas pela família, tinham tudo para serem expulsas da vida. Uma militante dos direitos humanos e minorias e do grupo LGBT, que acolheu uma população sujeita à vulnerabilidade social.
Brenda Lee veio de Pernambuco para São Paulo aos 14 anos e se instalou no bairro Bixiga e fez muitas amizades ao comprar em 1984 uma casa e acolheu o primeiro portador do vírus HIV, numa época em que predominava muita desinformação e preconceito sobre a AIDS, quando até mesmo os familiares rejeitavam quem sofria dessa doença e não havia infraestrutura para acolher quem recebia alta hospitalar e não tinha onde morar. Esta casa se tornou uma pensão para travestis e transexuais, na Rua Major Diogo, 779.
Lúcio Mauro e Brenda Lee |
Na Pensão da Caetana, como era chamada inicialmente, amparava jovens abandonados e abandonadas pela família, que até então não contavam com nenhum apoio do Governo e sequer das ONGs.
Brenda Lee era uma transexual alegre, sem papas na língua e devota de Nossa Senhora Aparecida. Usava saltos enormes, estava sempre com taillerus, grandes brincos e preferia frasqueiras a bolsas, disse Maria Luiza, amiga e presidente da Casa de Apoio Brenda Lee.
Tudo caminhava bem até que uma hóspede ficou acamada e uma série de outras travestis também adoeceram. Era a Peste Gay ou Câncer Gay, títulos que a mídia sensacionalista tratava a AIDS, propagando a desinformação. Porém, ao contrário do que pensavam na época e da maioria das reações, as garotas não foram expulsas da pensão, muito menos estiveram fadadas à morte social. Na verdade, foram acolhidas por Brenda Lee, cuidadas e atendidas à medida do possível.
Outras transexuais saudáveis abandonaram a pensão, com receio do contágio, mas Brenda Lee seguiu firme no apoio, se desfez da pensão e automaticamente, sem saber aonde a ação daria, criou um centro de apoio.
Com o tempo, perdeu quase tudo, mas ganhou o apoio do Hospital Emílio Ribas, ainda que sem remédios. Seu nome ganhou repercussão na tevê, foi parabenizada pela apresentadora Hebe Camargo, e convidada a vários eventos com a intenção de angariar fundos. Porém, muitos a enganaram, querendo se promover às custas do espaço, sem qualquer tipo de ajuda.
Brenda Lee e Hebe Camargo |
As dificuldades aumentaram, Brenda Lee cogitou se prostituir na Europa, mas graças à ajuda do Governo e apoiadores individuais, conseguiu suprir as necessidades da casa. O tratamento era tão diferenciado que, na falta de leitos, oferecia sua própria cama para acomodar os doentes.
Em 1988, firmou convênio com a Secretaria de Estado de Saúde do Estado de São Paulo para acolhimento e cuidado de soropositivos.
A Casa de Apoio Brenda Lee, também conhecida como Palácio das Princesas, foi instituída formalmente em 1988 para abrigar pessoas homossexuais e portadores de HIV rejeitados por parentes e também com o objetivo de dar assistência médica, social, moral e material, fossem elas travestis ou não. A casa, que ficava na Rua Major Diogo, 779 começou com três pacientes ainda no ano de sua compra. A casa de apoio foi uma semente que germinou e continua na ativa há mais de 30 anos.
Em 1988, o cineasta suíço Pierre-Alain Meier dirigiu o filme-documentário intitulado "Dores de Amor" (Douleur d'Amour), no qual expôs a vida nua e crua de quatro mulheres transgêneras. Além da própria Brenda Lee, figuravam Andrea de Mayo, Cláudia Wonder, Condessa Mônica e Telma Lipp.
Seu trabalho se tornou um referencial e um marco importante e, por isso, em 21/10/2008 foi instituído o "Prêmio Brenda Lee" concedido quinquenalmente para sete categorias por ocasião das comemorações do Dia Mundial de Combate à AIDS e aniversário do Programa Estadual DST/AIDS do Estado de São Paulo.
Google Doodle Celebration
Quem abriu o Google na terça-feira, dia 29/01/2019, se deparou com um Doodle especial em homenagem ao 71º aniversário da militante transexual brasileira Brenda Lee. A iniciativa do Google aconteceu no Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais.
Morte
O trabalho de Brenda Lee foi interrompido precocemente em 28/05/1996, aos 48 anos, quando foi encontrada morta, assassinada com tiros na boca e no peito, no interior de uma Kombi, em São Paulo, SP.
A polícia prendeu os irmãos Gilmar Dantas Felismino, ex-funcionário de Brenda Lee, e José Rogério de Araújo Felismino, na época policial militar, pelo crime. O motivo seria um golpe financeiro que o funcionário tentou dar em Brenda Lee e que teria sido descoberto.
Em sua missa de corpo presente, o padre Júlia Lancellotti representou o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e foi à sede da Casa de Apoio Brenda Lee.
Com o assassinato de Brenda Lee, o espaço criado por ela foi vendido e se tornou uma Organização Não Governamental (ONG), e entre 2011 e 2015 passou a oferecer apenas cursos.
A Casa de Apoio Brenda Lee reabriu em março de 2016, onde voltou a sua vocação original, de atender ao marginalizados pela sociedade. Atualmente, além do serviço de acolhimento, oferece atividades e engajamento social com treinamento de liderança, comunidade e defesas, psicológicos, jurídicos, educação, encaminhamentos e intervenção em defesa das vítimas.