Aldir Blanc Mendes foi um compositor, escritor e cronista nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 02/09/1946. Médico de formação, com especialização em psiquiatria, abandonou a profissão para se tornar compositor e um dos grandes letristas da história da música brasileira.
Em cinco décadas de atividade como compositor, foi autor de mais de 600 canções, com cerca de 50 parceiros, dentre os principais:
João Bosco,
Guinga,
Moacyr Luz,
Cristovão Bastos,
Maurício Tapajós e
Carlos Lyra.
Entre seus trabalhos mais notáveis como compositor estão
"Bala Com Bala",
"O Mestre-Sala dos Mares",
"Dois Pra Lá, Dois Pra Cá",
"De Frente Pro Crime",
"Kid Cavaquinho",
"Incompatibilidade de Gênios",
"O Ronco da Cuíca",
"Transversal do Tempo",
"Corsário",
"O Bêbado e a Equilibrista",
"Catavento e Girassol",
"Coração do Agreste" e
"Resposta ao Tempo".
Além de compositor,
Aldir Blanc foi também cronista, tendo escrito colunas em publicações como as revistas O Pasquim e Bundas, e os jornais O Globo, Jornal do Brasil e O Dia. Muitas dessas crônicas foram lançadas mais tarde como livros, como são os casos de
"Rua dos Artistas e Arredores",
"Porta de Tinturaria" e
"Vila Isabel, Inventário da Infância".
Apaixonado pelo Vasco da Gama escreveu, em parceria com
José Reinaldo Marques, o livro
"Vasco - a Cruz do Bacalhau".
Salgueirense boêmio por muitos anos, acabou se tornando uma pessoa quase totalmente reclusa em seu apartamento na Muda, no bairro carioca da Tijuca. Segundo o próprio
Aldir Blanc, usar a reclusão era consequência de uma fobia social desenvolvida a partir de um grave acidente de carro, em 1991, que limitara os movimentos da perna esquerda.
Em 2010, ao descobrir sofrer de diabetes tipo 2 e pressão alta, parou de fumar e consumir álcool.
|
Aldir Blanc e João Bosco |
Vida Pessoal
Aldir Blanc nasceu no dia 02/09/1946, no bairro do Estácio, no décimo mês de gestação de sua mãe,
Helena, cujo trauma deixou uma espécie de depressão pós-parto na mãe. Nunca mais engravidou e quase não saía de casa - comportamento mais tarde adotado pelo filho - até sua morte, em 2002, com 80 anos.
Seu pai,
Alceu, era funcionário do antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Estivadores e Transportes de Cargas (IAPTEC) e amava jogar sinuca e nos cavalinhos. Sujeito de poucas palavras, tornou-se o maior amigo de
Aldir com o tempo. Filho único, teve no avô materno, o português
Antônio Aguiar, a presença mais afetuosa em sua infância, que praticamente criou o neto na casa de Vila Isabel, bairro onde estariam tipos e cenários fundamentais para os textos e as letras do futuro compositor e cronista.
Tinha 11 anos, na época em que os avós foram morar no Estácio. Com o passar dos anos, o contato com os malandros da área ficava cada vez pior, o que levou os avós a persuadi-lo a morar com um primo um pouco mais velho, na Tijuca, que o levou a conhecer bailes, noitadas boêmias, mulheres, futebol, os blocos de Carnaval e a quadra da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, que se tornaria a escola do coração de
Aldir Blanc.
Aluno exemplar em biologia, conseguiu ingressar em 1965 na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, de onde saiu em 1971 com especialização em psiquiatria. Fez residência dentro do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Hospital Gustavo Riedel, em Engenho de Dentro. Mas como se negava constantemente à rotina de eletrochoques em pacientes do manicômio, saiu de lá após um ano para abrir seu próprio consultório, no centro do Rio de Janeiro. Às vezes, chamava o paciente para conversar na rua ou num bar.
Assim foi até 1973, época em que já era um parceiro de
João Bosco e, gravado por
Elis Regina tinha vontade de se dedicar exclusivamente à carreira de compositor. Concretizou a decisão em 1974, logo após o trauma deixado pelas mortes de
Maria e
Alexandra, as filhas gêmeas prematuras de sete meses que seriam as primeiras de seu casamento com a professora
Ana Lúcia.
Dessa relação, eles teriam mais tarde as filhas
Mariana (nascida em 1975) e
Isabel (nascida em 1981). Quando
Aldir Blanc se casou com a professora
Mary Sá Freire, em 1988, ela já tinha duas filhas,
Tatiana e
Patrícia, que foram criadas como suas também.
Aldir Blanc viveu por muitos anos em seu apartamento na Rua Garibaldi, na Muda, onde frequentou assiduamente os botequins da região. Nunca viajou para fora do Brasil.
Durante a década de 1980, passou a beber com maior frequência, foi se afastando de alguns hábitos sociais e foi desenvolvendo fobia social, chegando a ser diagnosticado com depressão. O quadro piorou e o levou a viver em reclusão quase permanente na década seguinte, agravada por um grave acidente de automóvel, sofrido em 1991, que lhe dificultou para sempre o movimento da perna esquerda.
Sem poder andar nas ruas com a frequência de outrora, Às vésperas da Copa do Mundo FIFA de 2010, recebeu diagnóstico de Diabetes Tipo 2, o que lhe exigiu o fim do consumo de álcool e de cigarros. Embora recluso, adorava falar pelo telefone com os amigos, onde comentava o noticiário e compartilhava informações sobre a família.
Além do tempo dedicado ao convívio com a família e às conversas por telefone com os amigos, passava muito tempo em seu espaçoso escritório lendo seus livros e ouvindo seus discos. Ateu, adorava ler obras sobre mitologia grega, Segunda Guerra Mundial, psicanálise, além de romances policiais.
Aldir Blanc era também grande apreciador de discos de jazz.
Em 2013, o jornalista
Luiz Fernando Vianna lançou uma biografia autorizada sobre
Aldir Blanc.
|
Aldir Blanc e João Bosco |
Música
Aldir Blanc deu seus primeiros passos na música em meados da década de 1960, quando começou a compor aos 16 anos e aos 17 aprendeu a tocar bateria, fundando o grupo
Rio Bossa Trio, que com a entrada do músico
Sílvio da Silva seria rebatizado para
GB-4. Com o novo integrante,
Aldir Blanc firmou sua primeira parceria musical. Uma dessas parcerias,
"A Noite, a Maré e o Amor", competiu no III Festival Internacional da Canção em 1968.
A partir de 1969, surgiu uma nova parceria com
César Costa Filho, compositor do qual foi colega no Movimento Artístico Universitário, que integrou ao lado de nomes como
Ivan Lins e
Gonzaguinha. Dessa parceria, classificou duas canções no II Festival Universitário da Música Popular Brasileira:
"De Esquina em Esquina", interpretada por
Clara Nunes, e
"Mirante", interpretada por
Maria Creuza.
Também nesse festival teve
"Nada Sei de Eterno", defendida por
Taiguara e fruto da parceria com
Sílvio da Silva.
Em 1970, com a co-autoria de
Sílvio da Silva, despontou o primeiro grande sucesso,
"Amigo é Pra Essas Coisas", que chegou ao segundo lugar no III Festival Universitário de Música Popular Brasileira, da TV Tupi, na interpretação do grupo
MPB-4. Ainda em 1970, teve no V Festival Internacional da Canção a composição
"Diva", feita com
César Costa Filho - mas desentendimento entre os compositores por questões ideológicas ceifou essa parceria em 1971.
|
Aldir Blanc em sua casa no Rio de Janeiro, em 1993 |
Em 1971, por intermédio de um amigo, conheceu o então estudante de engenharia civil
João Bosco. Desse encontro, surgiu uma das mais importantes parcerias da música brasileira. Como o violonista morava em Ouro Preto, MG, a primeira leva de composições deu-se por correspondência, como é o caso de
"Agnus Sei", lançada como lado B de um compacto do jornal O Pasquim, em 1972, que tinha como lado A a inédita
"Águas de Março", interpretada por
Tom Jobim. Ainda naquele ano, a dupla mostrou algumas músicas para
Elis Regina, que gostou de
"Bala Com Bala" e a incluiu no seu LP
"Elis". A partir dali, a cantora gaúcha tornar-se-ia uma das principais intérpretes da dupla, tendo gravado 20 músicas da parceria, além de ter a primazia de ouvir antes a produção da dupla naquela década para escolher o que queria lançar.
Um dos seus maiores sucessos da carreira foi
"O Bêbado e a Equilibrista", lançado no LP
"Essa Mulher", cuja melodia de
João Bosco foi inspirada inicialmente em
"Smile", do ator e cineasta
Charlie Chaplin, e cuja letra ganhou forma com outros deslocados na história, como os exilados pela ditadura militar brasileira. Assim que foi lançada por
Elis Regina, a canção tornou-se símbolo do movimento pela anistia, de 1979.
A parceria
João Bosco e
Aldir Blanc rendeu outras canções marcantes, como
"O Mestre-Sala dos Mares",
"Dois Pra Lá, Dois Pra Cá",
"De Frente Pro Crime",
"Kid Cavaquinho",
"Incompatibilidade de Gênios",
"O Ronco da Cuíca",
"Transversal do Tempo",
"Corsário",
"Bijuterias",
"Nação" (esta em parceria
Paulo Emílio e gravada por
Clara Nunes),
"De Frente Pro Crime" (sucesso na voz de
Simone) e
"Caça à Raposa". No entanto, a partir da década de 1980, os amigos foram se afastando gradualmente, tendo voltado a se aproximar em 2002, quando
João Bosco convidou o velho parceiro para uma gravação de
"O Bêbado e a Equilibrista" em seu songbook, e dali voltaram a se falar por telefone diariamente, além de às vezes comporem. Ao todo, realizaram mais de 100 músicas.
Outros parceiros importantes na carreira de
Aldir Blanc foram o violonista
Guinga (mais de 80 parcerias), o sambista
Moacyr Luz (mais de 60 parcerias) e o pianista
Cristovão Bastos (mais de 30 parcerias).
Contendo apenas canções compostas com
Aldir Blanc,
Guinga lançou o seu disco de estreia,
"Simples e Absurdo", início de uma parceria que renderia músicas como
"Catavento e Girassol",
"Nítido e Obscuro" e
"Baião de Lacan".
Da parceria com
Moacyr Luz vieram
"Medalha de São Jorge" e
"Coração do Agreste", esta um dos maiores sucessos da carreira de
Fafá de Belém e tema da novela
"Tieta" (1989). Compôs
"Resposta ao Tempo", parceria com
Cristovão Bastos gravada por
Nana Caymmi, que virou tema de abertura da minissérie
"Hilda Furacão" (1998).
Aldir Blanc também é autor, com
Cleberson Horsth, da canção
"A Viagem", sucesso gravado pelo grupo
Roupa Nova e tema da novela com o mesmo nome, sucesso em 1994.
Embora tenha sido letrista de centenas de músicas,
Aldir Blanc gravou como cantor apenas dois álbuns de estúdio. O primeiro deles em 1984,
"Aldir Blanc e Maurício Tapajós", com
Maurício Tapajós. E o segundo deles em 2005,
"Vida Noturna", onde interpretou 12 faixas de sua autoria. Além desses, participou do tributo em sua homenagem,
"Aldir Blanc - 50 Anos", lançado em 1996, que contou com a participação de
Betinho ao lado do
MPB-4 em
"O Bêbado e a Equilibrista", e diversas participações especiais, como de
Edu Lobo,
Paulinho da Viola,
Danilo Caymmi e
Nana Caymmi.
Outra de suas grandes paixões, o futebol, foi também inspiração para diversas canções, como é o caso de
"Gol Anulado" (
Aldir Blanc e
João Bosco). Vascaíno fanático, homenageou
Roberto Dinamite em
"Siri Recheado e o Cacete" (
Aldir Blanc e
João Bosco) e
Romário "Yes, Zé-Manés" (
Aldir Blanc e
Guinga). Ainda compôs
"Coração Verde e Amarelo" (
Aldir Blanc e
Tavito), que virou tema de uma emissora de televisão para a Copa do Mundo FIFA de 1994.
Um dos últimos trabalhos de
Aldir Blanc foi compor, em parceria com
Carlos Lyra, a trilha do musical
"Era no Tempo do Rei", baseado no romance de
Ruy Castro e com adaptação de
Heloisa Seixas e
Júlia Romeu.
Literatura
Paralelamente a sua carreira como compositor,
Aldir Blanc começou a escrever crônicas inspiradas na sua vida nos subúrbios cariocas para os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa e a revista Homem, até fixar-se em O Pasquim, em 1975.
Da compilação de crônicas escritas para este último nasceriam os livros
"Rua dos Artistas e Arredores" (1978) e
"Porta de Tinturaria" (1981), que seriam reunidos em um só volume como o título
"Rua dos Artistas e Transversais" (2006). Em suas crônicas,
Aldir Blanc reconstruía cenas do cotidiano de ruas e personagens da sua infância em Vila Isabel, que segundo o cronista, existiram de fato, como o primo
Esmeraldo (conhecido pelas domésticas da Penha como
"Simpatia é Quase Amor", cognome que inspirou a criação do famoso bloco de Carnaval de Ipanema),
Lindauro,
Belizário,
Pelópidas,
Tatinha,
Gogó de Ouro,
Paulo Amarelo,
Waldir Iapetec,
Tuninho Sorvete. Também foi cronista dos jornais O Globo, Jornal do Brasil e O Dia, além da revista Bundas.
Outras antologias de crônicas lançadas foram
"Brasil Passado a Sujo: A Trajetória de Uma Porrada de Farsantes" (1993),
"Vila Isabel - Inventário de Infância" (1996) e
"Um Cara Bacana na 19ª"(1996).
Aldir Blanc teve em 2008 publicado
"Guimbas", uma coleção de aforismos, e no ano seguinte o lançamento de
"Uma Caixinha de Surpresas", sua estreia na literatura infantil.
Em 2009, foi publicado o livro
"Vasco - A Cruz do Bacalhau", escrito em parceira com o jornalista
José Reinaldo Marques, em homenagem ao time do coração de
Aldir Blanc.
Na década de 2010, teve alguns títulos reeditados, além do lançamento de duas antologias de crônicas inéditas:
"O Gabinete do Doutor Blanc: Sobre Jazz, Literatura e Outros Improvisos", compilação de textos saídos na revista eletrônica No, e
"Direto do Balcão" reunião de colunas publicadas na imprensa.
Morte
Em 10/04/2020,
Aldir Blanc deu entrada no Hospital Municipal Miguel Couto com infecção urinária e pneumonia. Com o agravamento do seu quadro clínico, ele foi transferido dias depois para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto, onde um exame revelou uma infecção pelo COVID-19.
Na madrugada de segunda-feira, 04/05/2020,
Aldir Blanc acabou por não resistir e faleceu aos 73 anos, vítima de complicações da Covid-19, no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Aldir Blanc foi cremado na tarde de terça-feira, 05/05/2020, no Crematório do Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Por conta da pandemia de coronavírus, não houve velório.
Aldir Blanc deixou a esposa
Mari Lucia, quatro filhas, cinco netos e um bisneto.
Discografia
Álbuns de Estúdio
- 1984 - Aldir Blanc e Maurício Tapajós
- 2005 - Vida Noturna
Coletâneas
- 1984 - Rio, Ruas e Risos (Com Maurício Tapajós)
- 1994 - Aldir Blanc e Maurício Tapajós
Tributos
- 1991 - Simples e Absurdo (De Guinga)
- 1996 - Aldir Blanc - 50 Anos (Com vários artistas)
- 1996 - Catavento e Girassol (De Leila Pinheiro)
- 1999 - Pequeno Círculo Íntimo (De Adriana Capparelli)
- 2006 - Dorina Canta Sambas de Aldir e Ouvir Ao Vivo
Trilha Sonora
- 2010 - Era no Tempo do Rei (Com vários artistas)
Livros
- 1978 - Rua dos Artistas e Arredores (Ed. Codecri)
- 1981 - Porta de Tinturaria
- 1993 - Brasil Passado a Sujo (Ed. Geração)
- 1996 - Vila Isabel - Inventário de Infância (Ed. Relume-Dumará)
- 1996 - Um Cara Bacana na 19ª (Ed. Record)
- 2004 - Heranças do Samba (Parceria com Hugo Sukman e Luiz Fernando Vianna)
- 2006 - Rua dos Artistas e Transversais
- 2008 - Guimbas
- 2009 - Vasco - A Cruz do Bacalhau (Parceria com José Reinaldo Marques)
- 2010 - Uma Caixinha de Surpresas
- 2016 - O Gabinete do Doutor Blanc - Sobre Jazz, Literatura e Outros Improvisos
- 2017 - Direto do Balcão
Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #AldirBlanc