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Hélio Oiticica

HÉLIO OITICICA
(42 anos)
Pintor, Escultor e Artista Plástico

* Rio de Janeiro, RJ (26/07/1937)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/03/1980)

Hélio Oiticica foi um pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas. É considerado por muitos um dos artistas mais revolucionários de seu tempo e sua obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente.

Hélio Oiticica era filho de José Oiticica Filho, um dos importantes fotógrafos brasileiros, que também era engenheiro, professor de matemática e entomólogo e de Ângela Santos Oiticica. Teve mais dois irmãos, César e Cláudio, nascidos respectivamente em 1939 e 1941.

A educação de Hélio e seus irmãos começou em sua casa, onde tiveram aulas de matemática, ciências, línguas, história e geografia dadas pelo pai e a mãe. Também teve grande influência em sua formação o avô José Oiticica, conhecido intelectual filólogo, professor, escritor, anarquista e jornalista.

No ano de 1947, seu pai, José Oiticica Filho foi premiado com uma bolsa da Fundação Guggenheim. A família se mudou para Washington, Estados Unidos, e seu pai passou a trabalhar no United States National Museum - Smithsonian Institution. Ficaram lá por dois anos e Hélio, então com 10, e seus irmãos foram matriculados pela primeira vez numa escola oficial, a Thomson School. A a proximação com a arte se deu nessa época. Hélio e os irmãos tinham à disposição galerias de arte e museus.

A família retornou ao Rio de Janeiro, em 1950, e, em 1952, Hélio começou a escrever e a traduzir peças de teatro que encenava em casa com os irmãos. Sua tia, a atriz Sônia Oiticica, passou a o incentivá-lo nessa empreitada.


Primeiras Exposições

Durante a II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, realizada em 1953, Hélio Oiticica tomou contato com a obra de Paul Klee, Alexander Calder, Piet Mondrian e Pablo Picasso, e no ano seguinte começou a estudar pintura com Ivan Serpa. Entrou para o Grupo Frente e junto fez a sua primeira exposição no Museu de Arte Moderna. Nessa época começou a conviver com artistas e críticos, como Lygia Clark, Ferreira Gullar e Mário Pedrosa. Sua obra desse período (1955-1957) são pinturas geométricas sob guache e cartão, que resultou em 27 trabalhos nessa técnica, intitulados "Secos", que foram expostos no Rio de Janeiro, na Exposição Nacional de Arte Concreta.

Paralelo a esse evento esteve presente à polêmica conferência proferida por Décio Pignatari, na "Noite de Arte Concreta" na União Nacional dos Estudantes. Esse evento teve grande importância pois lançou as bases da arte concreta e colocou, de um lado, poetas e críticos como Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Ferreira Gullar, e de outro, os defensores da arte tradicional.

Em 1959, convidado por Lygia ClarkFerreira Gullar, integrou o Grupo Neoconcreto do Rio de Janeiro e passou a realizar pinturas a óleo sobre tela e compensado. São obras monocromáticas que incluem pinturas triangulares em vermelho e branco. Nesse mesmo ano participou da V Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1960 trabalhou como auxiliar técnico de seu pai, José Oiticica Filho, no Museu Nacional.


Parangolés e Penetráveis

A partir do início dos anos 60, Hélio Oiticica começou a definir qual seria o seu papel nas artes plásticas brasileiras e a conceituar uma nova forma de trabalhar, fazendo uso de maneiras que rompiam com a ideia de contemplação estática da tela. Surgiu aí uma proposta da apreciação sensorial mais ampla da obra, através do tato, do olfato, da audição e do paladar. Exemplo disso é o penetrável PN1 e a maquete do "Projeto Cães de Caça", composto de cinco penetráveis (1961) e os bólides, que são as estruturas manuseáveis, chamados de B1 Bólide Caixa 1 (1963).

No período de 1964, aproximou-se da cultura popular e passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, tornando-se passista e integrando-se na comunidade do morro. Vem dessa época o uso da palavra parangolé que passou a designar as obras em que estava trabalhando naquele momento. Os primeiros parangolés se compunham de tenda, estandarte e bandeira e P4, a primeira capa para ser usada sobre o corpo. São obras que causaram polêmicas e ele definia como "antiarte por excelência". Na exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foi proibido de desfilar - os passistas da Mangueira vestiam seus parangolés - nas dependências do museu. Hélio Oiticica realizou a apresentação no jardim, com grande aceitação pública.

Hélio Oiticica, além de realizar as sua obras, também teorizava sobre elas em textos como "Os Bólides e o Sistema Espacial Que Neles Se Revela", "Bases Fundamentais Para Definição do Parangolé", e "Anotações Sobre o Parangolé", entre muitos outros, que divulgava mimeografadas.

Em 1965, começou carreira internacional e realizou exposição, Soundings Two, em Londres, ao lado de obras de Duchamp, Klee, Kandinsky, Mondrian, Léger, entre outros.


Em 1967, iniciou suas propostas supra-sensoriais, com os bólides da "Trilogia Sensorial", além dos penetráveis PN2 e PN3 que faziam parte da obra Tropicália, mostrada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Caetano Veloso usou como cenário a bandeira "Seja Marginal Seja Herói", de Hélio Oiticica, em show na boate Sucata no Rio de Janeiro. A bandeira foi apreendida e o espetáculo suspenso pela Polícia Federal. Essa aproximação com Hélio Oiticica foi de grande importância na definição dos rumos da música brasileira.

Além da militância artística no Brasil, a carreira internacional de Hélio Oiticica passou a tomar grande parte de seu tempo, com exposições e intervenções em Londres, Nova York e Pamplona, a partir dos fins dos de 60 e início dos anos 70.

Em 1972, usou o formato super 8 e realizou o filme "Agripina é Roma - Manhattan". O cinema passou a ser uma referência, e em 1973 criou o projeto Quase-Cinema, com a obra "Helena Inventa Ângela Maria", série de slides que evocam a carreira da cantora Ângela Maria.

Uma nova série de penetráveis intitulados Magic Square e os objetos Topological Ready-Made Landscapes foram mostrados na exposição Projeto Construtivo Brasileiro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1977.

Em 1979, criou o seu último penetrável chamado "Azul In Azul". Neste ano, Ivan Cardoso realizou o filme "HO", retratando a obra de Hélio Oiticica.

No dia 22/03/1980, Hélio Oiticica sofreu um acidente vascular cerebral, vindo a falecer, no Rio de Janeiro.


Mestre Didi

DEOSCÓREDES MAXIMILIANO DOS SANTOS
(95 anos)
Escritor, Artista Plástico e Sacerdote Africano

* Salvador, BA (02/12/1917)
+ Salvador, BA (06/10/2013)

Deoscóredes Maximiliano dos Santos foi um escritor, artista plástico, e sacerdote afro-brasileiro. Conhecido popularmente como Mestre Didi, é filho de Maria Bibiana do Espírito Santo e Arsenio dos Santos.

Família

Seu pai Arsenio dos Santos, pertencia à elite dos alfaiates da Bahia, mais tarde iria transferir-se para o Rio de Janeiro na época em que houve uma grande migração de baianos para a então capital do Brasil.

Sua mãe Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oyo e Ketu, importantes cidades do império Yoruba. Sua trisavó, Srª Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Ase Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Sua esposa Juana Elbein dos Santos, é antropóloga e companheira em todas as suas viagens pelo exterior, aos países da África, Europa e Américas, de grande importância pelos intercâmbios e experiências adquiridas, e que contribuiram significativamente para os desdobramentos institucionais de luta de afirmação da tradição afro-brasileira e pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria. Sua filha Inaicyra Falcão dos Santos é cantora lírica, graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia, professora doutora, pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp.


Sacerdote

A igreja durante o período colonial e pós-colonial foi uma instituição de que a comunidade descendente de africanos inseriu em suas estratégias de luta pela alforria e re-agrupamento social. Didi foi batizado, fez primeira comunhão e foi coroinha. Mais tarde, já sacerdote da tradição afro-brasileira foi se dedicando inteiramente a ela afastando-se do catolicismo, embora respeitando-o como uma outra religião. Eugenia Ana dos Santos - Mãe Aninha, tratada por Didi como avó, foi quem o iniciou no culto aos orixás e lhe deu o título de Assogba, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.

Arsenio Ferreira dos Santos era sobrinho de Marcos Theodoro Pimentel, o Alapini, primeiro mestre de Didi no Culto aos Egungun, os ancestrais masculinos, tradição originária de Oyo, capital do império Yoruba.

Depois de Marcos Theodoro Pimentel, foi Arsenio Ferreira dos Santos, conhecido por Paizinho quem deu continuidade a iniciação de Didi, que se confirmou Ojé com o título de Korikowe Olokotun. A herança de tio Marcos Alapini se constitui sobretudo pelo culto ao Olori Egun, Baba Olukotun, o mais antigo ancestral que foi trazido da África na ocasião da viagem que fez com seu pai, Marcos O Velho. Paizinho, então Alagbá, o mais antigo da tradição aos Egungun recebeu esta herança que aproximou à do terreiro Ilê Agboulá na Ilha de Itaparica.

A herança de Marcos Alapini, para seu sobrinho Arsenio Alagba passou para Didi, Ojé Korikowe Olukotun. Mais tarde Didi recebeu o título de Alapini, o mais alto do culto aos Egungun, no Ilê Agboula e anos depois, em 1980 fundou o Ilê Asipa onde é cultuado o Baba Olukotun e demais Eguns desta tradição antiga.

Em setembro de 1970, não tendo no Brasil quem pudesse fazer sua confirmação de Balé Xangô, foi para Oyo e realiza a obrigação na cidade originária do culto à Xangô. A cerimônia foi realizada pelo Balé Sàngó e o Otun Balé do reino de Xangô de Oyo.

Mestre Didi não costumava falar sobre sua obra nem sobre si. Ele chegou a expor em Gana, Senegal, Inglaterra e França, além do Guggenheim, em Nova York. No Brasil, ganhou reconhecimento após a 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, quando recebeu uma sala apenas para suas obras.


Artista

"Os Orixá do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representada pela Orixá Nanã, patrona da agricultura."
(Mestre Didi)

"Mestre Didi é um sacerdote-artista. Exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde ancestralidade e visão de mundo africanos se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma inspiração mítica, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal de caráter estético."
(Juana Elbein dos Santos)

Morte

Mestre Didi morreu em decorrência de um câncer de próstata. Ele foi enterrado no domingo, 06/10/2013, por volta das 17:00 hs, no Cemitério Jardim da Saudade, no centro da capital baiana.


Obra
  • 1950 - Yorubá Tal Qual Se Fala, Tipografia Moderna, Bahia
  • 1961 - Contos Negros da Bahia, Edições GRD, Rio de Janeiro
  • 1962 - História de Um Terreiro Nagô, Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos
  • 1963 - Contos de Nagô, Edições GRD, Rio de Janeiro
  • 1966 - Porque Oxalá Usa Ekodidé, Ed. Cavaleiro da Lua
  • 1976 - Contos Crioulos da Bahia, Ed. Vozes, Petrópolis
  • 1981 - Contos de Mestre Didi, Ed. Codecri, Rio de Janeiro
  • 1987 - Xangô, El Guerrero Conquistador Y Otros Cuentos de Bahia, SD. Ediciones Silva Diaz, Buenos Aires, Argentina
  • 1987 - Contes Noirs de Bahia, tradução francesa de Lyne Stone, Ed. Karthale
  • 1988 - História da Criação do Mundo, Olinda, PE
  • 1988 - História de Um Terreiro Nagô, Editora Max Limonad
  • 1997 - Ancestralidade Africana no Brasil, Mestre Didi: 80 Anos, organizado por Juana Elbein dos Santos, SECNEB, Salvador, Bahia, 1997, CD-ROM - Ancestralidade Africana no Brasil
  • Pluraridade Cultural e Educação
  • Nossos Ancestrais e o Terreiro
  • Democracia e Diversidade Humana: Desafio Contemporâneo

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio e Fada Veras

Flávio Império

FLÁVIO IMPÉRIO
(49 anos)
Arquiteto, Artista Plástico, Cenógrafo, Figurinista, Diretor, Professor e Pintor

* São Paulo, SP (19/12/1935)
+ São Paulo, SP (07/09/1985)

Suas experiências na pintura evidenciam o aprendizado da linguagem modernista. Em 1956, entrou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) e, concomitantemente, trabalhou como cenógrafo, figurinista e diretor no grupo de teatro amador da Comunidade de Trabalho Cristo Operário, na periferia de São Paulo.

Em 1958, passou a integrar o Teatro de Arena. No ano seguinte, estreou como cenógrafo do grupo em Gente Como a Gente, dando início à parceria artística com Augusto Boal. Em 1960, concebeu os cenários e figurinos de "Morte e Vida Severina" para o Teatro Experimental Cacilda Becker, fazendo uso dos tecidos, das técnicas artesanais e referências à cultura brasileira. Começou em 1962 a trabalhar para o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa.

No Teatro Oficina, participou de "Um Bonde Chamado Desejo", "O Melhor Juiz: o Rei e Andorra", entre outros projetos. Teve ainda importantes realizações no Teatro Arena, como "Arena Conta Zumbi" (1965) e "Arena Conta Tiradentes" (1967). Em 1968, dirigiu e cenografou "Os Fuzis de Dona Tereza", adaptação da obra de Brecht para o Teatro da Universidade de São Paulo (TUSP) e fora do Teatro Oficina, mas ao lado de Zé Celso, criou o cenário e o figurino de "Roda Viva", em que estão presentes o colorido e as referências à cultura pop do Tropicalismo.

Na década de 1970, deu início à parceria com Fauzi Arap em espetáculos teatrais e musicais. Realizou trabalhos elogiados em "Labirinto: Balanço da Vida", "Pano de Boca" e "Um Ponto de Luz", textos e direção de Fauzi Arap, e, também com direção deste, cenografou espetáculos musicais entre os quais se destacam os trabalhos com Maria Bethânia.

Foi professor da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/USP), entre 1962 e 1966. Lecionou, entre 1962 e 1977, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), escola na qual voltou a dar aulas em 1985. Entre 1964 e 1967, na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, entre 1981 e 1985. No fim da década de 1970 e inicio dos anos 1980, Flávio Império retomou sua atividade como artista plástico, além de desenvolver projetos para o Teatro Popular do Sesi (TPS) como os cenários de "A Falecida" (1979), e de "Chiquinha Gonzaga, Ó Abre Alas" (1983).

Comentário Crítico

Flávio Império era um dos cenógrafos responsáveis, entre as décadas de 1960 e 1980, pela transição do estilo decorativo (voltado simplesmente à ambientação temporal e espacial da peça, acrescido da ideia de "embelezamento") para uma cenografia não-ilusionista, na qual os cenários e objetos evidenciam suas funções simbólicas e estruturais. O trabalho era desenvolvido em conjunto com o diretor e fazia parte de um processo elaborado com base no conceito da encenação. A cenografia passou a refletir uma ideia  ajudou a contar uma história e foi criada simultaneamente aos ensaios e concepção da montagem. O ator e sua presença em cena tinham grande importância para a definição do projeto. Os espetáculos eram encenados em vários espaços e de diferentes formas de acordo com a proposta e muitas vezes se transcendia os limites do palco italiano, em busca de uma maior comunicação com o público.

As obras de Flávio Império em cenografia, figurino e direção mostravam uma pluralidade de linguagens, encaminhamentos e pesquisas. Inicialmente, seus trabalhos faziam referências às ideias de Bertolt Brecht, e essa influência tornou-se cada vez mais frequente em seus projetos, nas décadas de 1960 e 1970. Não existia mais a preocupação em esconder as estruturas e os processos de construção, tanto do espaço cênico quanto dos objetos.

O conjunto das produções de Flávio Império podia ser dividido em três fases: o início, no Teatro de Arena e sob influência de Augusto Boal; a parceria com José Celso e o Teatro Oficina, que lhe permitiu, especialmente a partir da segunda metade da década de 1960, a junção de técnicas cenográficas artesanais - e muitas vezes rústicas - ao ideário do Tropicalismo; e as décadas de 1970 e 1980, quando, tendo já desenvolvido pesquisas estéticas bastante pessoais, Flávio Império as aplicou não apenas no teatro, mas também em shows musicais, contribuindo para modificar a visualidade desses espetáculos.


O trabalho no Teatro Arena foi marcado, antes de mais nada, pela necessidade de reelaboração da cenografia em função da própria disposição espacial circular: tendo para trabalhar não um palco italiano, espécie de "caixa" que facilitava a criação de uma cenografia ilusionista e decorativa, mas um palco em que os atores estavam cercados pelo público, o cenógrafo foi obrigado a repensar o espaço e a utilizar objetos que fossem ao mesmo tempo simbólicos e funcionais. Flávio Império traduziu essa necessidade na utilização de praticáveis, que ganharam funções diversas conforme a demanda da peça, de cores e de objetos de cena carregados de grande valor dramático, isto é, capazes de condensar determinadas características de situações ou personagens.

Foi então que o artista começou a trabalhar com a escassez de recursos como possibilidade criativa, incorporando-a a seus projetos posteriores. Em "Morte e Vida Severina", espetáculo para palco italiano, utilizou tecidos crus tingidos (não apenas nas roupas mas também nos cenários) e objetos (máscaras, por exemplo) que apontavam para a força expressiva e a aridez encontradas na pintura modernista de artistas como Cândido Portinari, principalmente na sua série "Retirantes".

A liberação do ilusionismo reforçou a possibilidade de reinvenção dos espaços cênicos tradicionais mesmo em trabalhos realizados com bons recursos financeiros. É o caso de "Depois da Queda" (1964), em que o palco foi configurado como uma série de planos superpostos que remetiam à fragmentação da própria consciência do protagonista. Em trabalhos com o Teatro Oficina, como "Os Inimigos" (1966), apareciam também a utilização de elementos tradicionais, porém de maneira absolutamente crítica.

Mas é principalmente a partir de "Roda Viva" (1968) que Flávio Império incorporou o colorido e fontes da cultura popular que doravante apareciam como marcas de sua obra. O espetáculo, inspirado no movimento tropicalista, era inovador tanto na forma despudorada de abordar a cultura nacional quanto em termos espaciais (com a presença de uma passarela pela qual os atores "penetravam" na plateia). A revisão dos limites entre palco e plateia perpassava também o trabalho de Flávio Império como diretor: no mesmo ano, em "Os Fuzis de Dona Tereza", a plateia era invadida por um coro de atores que usava matracas em lugar de vozes. Flávio Império buscou com esse coro representar o povo brasileiro que vivia os dilemas da protagonista, divido entre o apoio ou não ao regime político, com essa mudança de foco do individual para o coletivo a intenção era mostrar o drama nacional, fazendo um paralelo com a situação do Brasil, na época.

Sylvia Ficher e Flávio Império
Em "Roda Viva" também aparecia outra característica marcante do trabalho de Flávio Império na década de 1970: a assemblage (colagem ou ajuntamento de figuras, objetos e elementos visuais, criando efeitos através do acúmulo - como num "amontoado" - ou da simples disposição espacial, como nas instalações das artes plásticas). Espetáculos como "Réveillon" (1975) e "Pano de Boca" (1976) ilustram bem este aspecto: em "Réveillon", o cotidiano de uma família de classe média era representado em seu caráter opressivo e sobrecarregado de signos, medos e limitações; cenograficamente, isso se traduzia em um apartamento feito de amontoados de jornais, móveis e utensílios, protegendo e sufocando a vida familiar. Em "Pano de Boca", foram unidos em assemblage, dentro de um galpão-teatro, objetos que remetiam a um passado teatral de glórias, mas absolutamente decadente - o que refletia também a situação do meio teatral brasileiro setentista, que sofria com o exílio de importantes criadores, a falta de perspectivas e a opressão da censura.

Tecidos utilizados em todas as suas possibilidades cromáticas e espaciais; luxo e "lixo" (despojos da cultura nacional) atrelados como reflexo da nossa brasilidade; inventividade na organização do espaço; pesquisa contínua de materiais alternativos: são esses os elementos que, já na década de 1970, fizeram de Flávio Império um dos nossos maiores cenógrafos. Tal maturidade artística aparecia não apenas no teatro, em espetáculos como "A Falecida" (1979), que compartimentava o palco italiano em diversos ambientes basculantes e interligados, mas também nos shows. Em trabalhos com grandes nomes da música popular como Maria Bethânia e o grupo Doces Bárbaros, o artista transformava as antigas apresentações inspiradas em recitais eruditos e em orquestras de baile em verdadeiros espetáculos visuais, carregados de teatralidade e plasticidade.

Tais aspectos aparecem cristalizados, enfim, nas obras dos últimos anos de vida do artista, tais como "Patética" (1980); "Chiquinha Gonzaga: Ó Abre Alas" (1983) - com cenários e figurinos inspirados nos antigos e modernos carnavais de rua; e "O Rei do Riso" (1985). A última realização do artista foi a cenografia de um espetáculo de sua mais fiel parceira no meio musical: Maria Bethânia, no show "20 Anos de Paixão".

Flávio Império morreu perto de completar 50 anos, no Hospital do Servidor Público Estadual, vitimado por uma infecção bacteriana nas meninges causada pela AIDS.



Bispo do Rosário

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO
(80 anos)
Artista Plástico

* Japaratuba, SE (14/05/1909)
+ Rio de Janeiro, RJ (05/07/1989)

Arthur Bispo do Rosário foi um artista plástico brasileiro que viveu por meio século recluso em um hospital psiquiátrico. Transitando entre a realidade e o delírio, acreditava estar encarregado de uma missão divina e utilizava materiais dispensados no hospital para produzir peças que mapeavam sua realidade. Valendo-se da palavra como elemento pulsante, manipulou signos e brincou com a construção e desconstrução de discursos para criar bordados, assemblages, estandartes e objetos que seriam, posteriormente, consagrados como obras referenciais da arte contemporânea brasileira.

Pouco se conhece de sua infância e adolescência. O que se sabe é que nasceu na cidade de Jarapatuba, em Sergipe. Uns dizem que em julho de 1909. Outros, em março de 1911. A data mais aceita é 14 de maio de 1909. Aos 16 anos, foi inscrito pelo pai na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Sergipe e embarcou num navio como ajudante-geral. Ficou na instituição até 1933, viajando pelo País e colecionando advertências por comportamentos inadequados. Mas também se tornou um bom boxeador. Foi campeão sul-americano na categoria peso-leve.

Quando foi afastado da instituição, estava no litoral do Rio de Janeiro. Sua rotina era perambular pela cidade, fazendo pequenos bicos. Até ser aceito como lavador de bondes da Light. Um dia sofreu um acidente de trabalho e ao levar o caso à Justiça, conheceu o advogado  Humberto Magalhães Leoni, que, sensibilizado, convidou Bispo do Rosário para morar num quartinho em sua casa. O sergipano tornou-se ajudante geral da família. Tudo ia bem até que vozes mudaram seu destino.


Considerado louco por alguns e gênio por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento eugênico, o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil. A sua história liga-se também à da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis - doentes psiquiátricos, alcoólatras e desviantes das mais diversas espécies.

Na noite 22 de dezembro de 1938, despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado Humberto Magalhães Leoni, a quem disse que iria se apresentar à Igreja da Candelária. Saiu da casa e começou uma peregrinação por igrejas cariocas. Depois de peregrinar pela Rua Primeiro de Março e por várias igrejas do então Distrito Federal, terminou subindo ao Mosteiro de São Bento, onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos. Dois dias depois foi detido e fichado pela polícia como "negro, sem documentos e indigente", e conduzido ao Hospício Pedro II, o hospício da Praia Vermelha, primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852, onde anos antes havia sido internado o escritor Lima Barreto.

Um mês após a sua internação, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, localizada no subúrbio de Jacarepaguá, sob o diagnóstico de "esquizofrênico-paranoico". Na Colônia Juliano Moreira recebeu o número de paciente 01662, e permaneceu por mais de 50 anos e, dentro de um quartinho apertado, produziu um dos mais fantásticos conjuntos de obras do País. Tudo alheio ao que acontecia além dos limites do hospício. De forma absolutamente intuitiva, sem frequentar escolas de arte ou ler livros, Arthur Bispo do Rosário deixou acadêmicos abobados com sua expressividade e originalidade.

Na Colônia Juliano Moreira, Bispo do Rosário repetia a história para quem quisesse ouvir: "Vozes dizem para me trancar num quarto e começar a reconstruir o mundo". E assim fez.

Produzia sem parar, mesmo sob forte medicação e choques elétricos. Os companheiros de manicômio o ajudavam na missão, buscando entulhos e papelões que serviriam para seu trabalho. Às vezes ficava meses sem sair do quarto, numa jornada de 16, 18 horas por dia. Sete anos depois, a voz reapareceu: "A obra está concluída".

Em determinado momento, Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais oriundos do lixo e da sucata que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista e comparados à obra de Marcel Duchamp, o francês que criou o conceito de que objetos do cotidiano poderiam ser levados para o campo das artes. Entre os temas, destacam-se navios (tema recorrente devido à sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses e objetos domésticos. Tudo com beleza, ineditismo, múltiplos significados. Seguia uma linha convergente ao que se discutia sobre arte contemporânea mundial, mesmo sem ter nenhum contato com influências exteriores.

Os objetos recolhidos dos restos da sociedade de consumo foram reutilizados como forma de registrar o cotidiano dos indivíduos, preparados com preocupações estéticas, onde se percebem características dos conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.

Utilizava a palavra como elemento pulsante. Ao recorrer a essa linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos, fragmenta a comunicação em códigos privados.

Inserido em um contexto excludente, Bispo do Rosário driblava as instituições todo tempo. A instituição manicomial se recusando a receber tratamentos médicos e dela retirando subsídios para elaborar sua obra, e museus, quando sendo marginalizado e excluído, é consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira.


Cavalheiro e Solitário

A fama de Bispo do Rosário se alastrou pela cidade e, depois, pelo país. Bispo do Rosário recebia visitas de estudiosos, artistas, curiosos. Aos que queriam conhecer seu ateliê improvisado, fazia uma intrigante pergunta: "Qual é a cor do meu semblante?". Se não gostasse da resposta, encerrava a visita.

Para quem o chamava de artista, rebatia: "Não sou artista. Sou orientado pelas vozes para fazer desta maneira".

Tornou-se uma lenda, estudado por várias correntes do conhecimento. "É possível analisá-lo pela Psicanálise, pela Sociologia, pela História da Arte, pela Semiótica e pela Antropologia", avalia Jorge Anthonio e Silva, autor de "Arthur Bispo do Rosário – Arte e loucura" (Quaisquer, 2003).

Manto da Apresentação

Entre as suas obras de maior impacto, está o "Manto da Apresentação", que Bispo do Rosário deveria vestir no dia do Juízo Final. Com eles, Bispo do Rosário pretendia marcar a passagem de Deus na Terra. O "Manto da Apresentação" é uma veste com um emaranhado de pequenos símbolos e figuras, como tabuleiros de xadrez, mesas de pingue-pongue, ringues de boxe, crucifixos. Destaca-se também uma espécie de Arca de Noé, construída com papelão e pano, destinada a salvar o mundo. Além de uma nave que o levaria para o céu. Suas obras foram expostas em galerias de arte da cidade. Mas Bispo do Rosário não era muito favorável a que elas saíssem do ateliê. As tratava como filhas, perguntava até se estavam bem.

Bispo do Rosário era um homem sério, de poucas palavras. Um cavalheiro com as mulheres. Gostava de andar limpo e ficava semanas sem se alimentar. Sentia-se um enviado de Deus, uma espécie de Cristo. Gostava de concurso de misses e quase nunca era violento. Mas sempre solitário.

"Os doentes mentais são como beija-flores: nunca pousam, ficam sempre a dois metros do chão", costumava dizer.

Estátua de Bispo do Rosário em sua cidade natal, Japaratuba, Sergipe
Morte

Em 5 de junho de 1989, se sentiu mal e foi atendido no setor médico. Estava muito magro pelos jejuns. Morreu horas depois, vítima de infarto, aos 80 anos.

"Ele morreu na solidão de sua cela, sem ver seu império classificado como obra de arte, percorrendo o mundo",  disse a escritora Luciana Hidalgo, autora de "Arthur Bispo do Rosário - O Senhor do Labirinto" (Rocco, 1997). "Mas, aos olhos da crítica e do público, já era um artista".

Após várias exposições pelo país, a obra de Bispo do Rosário representou o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, na Itália, em 1995.

Hoje a Colônia Juliano Moreira não funciona mais como manicômio. O espaço abriga o Museu  Bispo do Rosário de Arte Contemporânea.


Santa Rosa

TOMÁS SANTA ROSA
(47 anos)
Cenógrafo, Artista Gráfico, Ilustrador, Pintor, Gravador, Decorador, Figurinista, Professor e Crítico de Arte

* João Pessoa, PB (20/09/1909)
+ Nova Délhi, Índia (29/11/1956)

Tomás Santa Rosa, também conhecido por Santa Rosa, tornou-se famoso em meados do século XX, época em que assinava com as iniciais SR as ilustrações das capas de alguns dos escritores mais importantes daquela geração. Os mais próximos o chamavam simplesmente de "Santa".

É reconhecido principalmente como cenógrafo, ou melhor, o primeiro cenógrafo moderno brasileiro, porém a atividade a qual se dedicou ao longo de sua vida foi a de ilustrador de livros. Entretanto o seu trabalho no ramo dos livros não era apenas ilustrá-los, era mais do que isso. Ele desenvolvia identidades visuais para os livros, ou seja, fazia um planejamento visual para estabelecer uma unicidade às publicações de determinada editora. Atualmente, o profissional que exerce esse tipo de atividade é o designer gráfico.

Como cenógrafo criou o espaço cênico para o espetáculo "Vestido de Noiva" (1943), de Nelson Rodrigues, trabalho que revolucionou a concepção cenográfica do Brasil. Como designer gráfico projetou e também ilustrou livros para a Livraria José Olympio Editora. Entre os autores dos livros estavam José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Como pintor, auxiliou Cândido Portinari na preparação de diversos murais.


Vida

Tomás Santa Rosa nasceu na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba. Quando criança estudou piano e fez parte de um coral. Quase na casa dos 20 anos já trabalhava como contabilista. Nessa época passou no concurso público para ocupar cargo de mesma função no Banco do Brasil. Já contratado, foi transferido para a cidade de Salvador, BA. De lá foi para a cidade de Maceió, AL, onde participou do movimento intelectual local.

Tomás Santa Rosa não tinha formação acadêmica, era autodidata.

Em 1932, mudou-se para o Rio de Janeiro, então a capital do Brasil e o local de concentração de artistas e intelectuais do todo país. Naquele período o país vivia um momento de explosão do mercado editoral e de valorização artística.

Tomás Santa Rosa morreu aos 47 anos durante uma viagem a Índia para participar, primeiro, como representante do Brasil na Conferência Internacional de Teatro, em Bombaim, depois, como observador da 9ª Conferência Geral da Unesco Para a Educação, a Ciência e a Cultura, em Nova Délhi.

Meninas Lendo (Óleo Sobre Tela)

Alguns Projetos Gráficos de Livros

Seu primeiro projeto gráfico foi para o livro "Cahétes" de Graciliano Ramos, em 1933, Livraria Schmidt Editora.


Alguns Projetos Para Ariel Editora:

Alguns Projetos Para Livraria José Olympio Editora:

Alguns Cenários:
  • 1937 - "Ásia", de Henri-René Lenormand, Rio de Janeiro, RJ
  • 1942 - "Orfeu", de Jean Cocteau, Rio de Janeiro, RJ
  • 1943 - "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues
  • 1944 - "Pelleas e Melisanda", de Maurice Maeterlink, Rio de Janeiro, RJ
  • 1953 - "A Falecida", de Nelson Rodrigues, Rio de Janeiro, RJ
  • 1954 - "Senhora dos Afogados", de Nelson Rodrigues

Algumas Pinturas:
  • "Pescadores", s.d.; óleo s/ tela, c.i.d.; 60 x 80 cm - Coleção Particular
  • 1940 - "Meninas Lendo", 1940; óleo s/ tela, c.i.d.; 72 x 84 cm
  • 1943 - "Pescadores", óleo s/ tela, c.i.d.; 54 x 64,9 cm - Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
  • 1945 - "Na Praia", óleo s/ tela, c.i.d.; 64,5 x 80 cm
  • 1948 - "O Vento", óleo s/ madeira, c.i.d.; 46 x 55 cm
  • 1950 - "Cabeça", óleo s/ tela, c.s.d.; 70 x 60 cm
  • 1950 - "Duas Mulheres", óleo s/ tela, c.i.d.; 56 x 47 cm
  • 1955 - "Mulheres na Praia", óleo s/ tela; 50 x 68 cm

Fonte: Wikipédia

Darcy Penteado

DARCY PENTEADO
(61 anos)
Desenhista, Artista Plástico, Pintor, Escritor, Cenógrafo, Figurinista, Autor Teatral e Militante do Movimento LGBTTTs

* São Roque, SP (1926)
+ São Paulo, SP (02/12/1987)

Distinguindo-se sempre pelos elegantes desenhos a bico de pena, trabalhou primeiro em publicidade e como figurinista, ilustrando revistas de moda, passando logo a trabalhar em teatro, como figurinista e cenógrafo, tendo participado, na década de 1950, do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).

Participou de inúmeras exposições, ilustrou livros e foi uma figura presente na cena cultural da cidade de São Paulo entre a década de 1950 e década de 1980. Foi reconhecido em Nova York como um dos dez melhores retratistas do mundo.


Em 1973 participou da XII Bienal com um audiovisual que propunha uma tese em termos estéticos contra a violência e a intolerância. Nesse ano foi produzido um filme documentário de curta metragem intitulado "Via Crucis Segundo Darcy Penteado".

Em 1976 publicou o seu primeiro livro de contos "A Meta" e a partir desse mesmo ano iniciou o ativismo na luta contra a discriminação aos homossexuais. Participou ativamente, durante os anos de repressão da ditadura militar, do jornal O Lampião, publicação pioneira para os gays brasileiros, ativo na defesa dos direitos dos homossexuais.


Por anos Darcy carregou sozinho a bandeira dos homossexuais no Brasil. Foi dele, ainda no início da década de 1980, a primeira tentativa de arrecadação de fundos em benefício da pesquisa sobre a AIDS no Brasil, através de um leilão. Apesar de desiludido com os resultados, participou de diversas campanhas de conscientização da doença. Gravou uma chamada para a televisão, de alerta ao público.

Na literatura, Darcy Penteado ilustrou o primeiro livro de Jorge Amado, "O País do Carnaval" e "Navegação de Cabotagem".

Darcy Penteado faleceu em dezembro de 1987, aos 61 anos vitimado pela AIDS.

Atualmente, suas obras podem ser vistas no museu mantido pelo Centro Cultural Brasital, no município de São Roque, em São Paulo.


Em frente a entrada principal do Edifício Copan, na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Major Sertório, centro de São Paulo, existe ali uma praça com o nome de Praça Darcy Penteado. Uma justa homenagem a este pioneiro no combate à intolerância.

Para finalizar, uma frase de Darcy Penteado escrita em uma de suas obras de 1985:

"Subsistir apenas, não basta. É preciso dignificar a vida!"
(Darcy Penteado)

Fonte: Blog Grisalhos e Wikipédia

Bajado

EUCLÍDES FRANCISCO AMÂNCIO
(83 anos)
 Artista Plástico, Chargista, Letreirista, Cartazista e Pintor de Quadros e Murais 

* Maraial, PE (09/12/1912)
+ Olinda, PE (15/11/1996)

Euclides Francisco Amâncio, artista plástico, chargista, letreirista, cartazista, pintor de quadros e murais, conhecido mundialmente como Bajado, nasceu no dia 9 de dezembro de 1912, no município de Maraial, no Estado de Pernambuco.

O apelido Bajado surgiu na infância por causa de uma brincadeira, durante um jogo de bicho, seu passatempo preferido.

Bajado mudou-se para Catende, outro município pernambucano, ainda adolescente, indo trabalhar como ajudante e pintor de cartazes de filmes de faroeste, onde ficou até 1930.

Quatro anos depois, foi morar no Recife, onde arranjou um emprego como letreirista de cartazes e operador de máquina do Cine Olinda, função que exerceu até 1950.

Nas horas vagas pintava letreiros, fachadas e interiores de lojas comerciais, restaurantes e botequins, ornamentando-os com figuras ou compondo painéis e quadros.


O artista prestou uma grande homenagem ao bloco carnavalesco Donzelinhos dos Milagres que estava encerrando, para sempre, os seus festejos de carnaval, pintando na parede de sua sede os versos: "O mar que levou a praia, levou também Donzelinhos."

O gosto pela arte se manifestou quando Bajado retratou os clubes carnavalescos de Olinda, Pernambuco, Pitombeira dos Quatro Cantos, Elefante, O Homem da Meia-Noite, Cariri, Vassourinhas, assim como o frevo rasgado na Ribeira, Largo do Amparo, Varadouro, Praça do Carmo.

Em 1964, junto com alguns amigos de profissão, inaugurou o Movimento de Arte da Ribeira, em Olinda, onde passou a expor seus trabalhos.


Dentre uma mistura de cores e tintas, Bajado foi capaz de reproduzir inúmeras telas sobre a vida cotidiana, o sofrimento, as emoções e a cultura do povo pernambucano.

O artista possuía um temperamento calmo e brincalhão. Fluiu na arte, com a simplicidade de um homem humilde. Era considerado um artista primitivo, inserido no estilo da arte contemporânea. Sua tendência artística era a liberdade de estética, comum na arte moderna, e suas obras retratavam tanto os folguedos carnavalescos, como também reverenciavam políticos e personalidades ilustres da sociedade pernambucana: Agamenon Magalhães, o presidente Jânio Quadros, o general Teixeira Lott, entre outros.

Na década de 1970, um turista italiano, Giuseppe Baccaro, ao ver as suas pinturas e quadros a óleo expostos nas residências e estabelecimentos comerciais de Olinda, ficou impressionado diante do primitivismo artístico do pintor que assinava da seguinte maneira as suas obras: "Bajado um artista de Olinda". Contactando-o, lançou-se como divulgador e administrador dos seus trabalhos.

Bajado (Acervo: www.onordeste.com)
Em decorrência disso, alguns meses depois, começaram a aparecer as suas primeiras exposições e mostras no Recife, na Casa da Cultura, na Fundação Joaquim Nabuco, na Caixa Econômica Federal, no Lions Club, no Cabanga Iate Clube.

Novas oportunidades continuaram a surgir, desta vez para o artista expor em outras capitais brasileiras como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Vitória. Do exterior, Bajado recebeu vários convites para ir apresentar as suas obras. Neste sentido, iniciou pela França uma maratona artística, passando pela Itália, Espanha, Holanda e Tchecoslováquia, atual República Tcheca.

Em 1994, no limiar dos 80 anos, Bajado foi homenageado com uma mostra internacional na sede da Unesco, em Paris, com a participação de diversos artistas internacionais.

Contido, apesar da sua fama e do seu talento artístico, ele sempre viveu humildemente. Tinha como o maior prazer da vida a expressão da sua arte primitiva, a alegria do seu povo.


Bajado passou seus últimos dias assistindo filmes antigos na televisão e recordando as peripécias da sua mocidade. O artista plástico, faleceu em 1996, aos 83 anos de idade, em sua residência localizada na Rua do Amparo, nº 186, em Olinda, imóvel este que lhe foi doado por  Giuseppe Baccaro, o seu marchand italiano.

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais e Machado, Regina Coeli Vieira. Bajado. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Acesso em: 13 out. 2012.
Indicação: Gilson Oliveira

Burle Marx

ROBERTO BURLE MARX
(84 anos)
Artista Plástico e Paisagista

* São Paulo, SP (04/08/1909)
+ Rio de Janeiro, RJ (04/06/1994)

Roberto Burle Marx foi um artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto-paisagista. Morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor de todo o mundo.

Era o quarto filho de Cecília Burle, de origem pernambucana e francesa, e de Wilhelm Marx, judeu alemão, nascido em Stuttgart e criado em Trier, cidade natal de Karl Marx, primo de seu avô.

A mãe, exímia pianista e cantora, despertou nos filhos o amor pela música e pelas plantas. Burle Marx a acompanhava, desde muito pequeno, nos cuidados diários com as rosas, begônias, antúrios, gladíolos, tinhorões e muitas outras espécies que plantava no seu jardim. Com a ama Ana Piascek aprendeu a preparar os canteiros e a observar a germinação das sementes do jardim e da horta.

O pai era um homem culto, amante da música erudita e da literatura europeia, preocupado com a educação dos filhos, aos quais ensinou alemão, embora se dedicasse aos negócios, como comerciante de couros, num curtume que mantinha em São Paulo.


Mudança Para o Rio de Janeiro

Quando os negócios começam a ir mal em São Paulo, seu pai resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro em 1913. A família viveu um tempo em casa de familiares e, quando a nova empresa de exportação e importação de couros de Wilhelm Marx começou a ter resultados positivos, finalmente se mudaram para um casarão no Leme. Nesse casarão, Burle Marx, então com 8 anos, começou a sua própria coleção de plantas e a cultivar suas mudas.

Período na Alemanha

Aos 19 anos, Burle Marx teve um problema nos olhos e a família se mudou para Alemanha em busca de tratamento. Permaneceram na Alemanha de 1928 a 1929, onde Burle Marx entrou em contato com as vanguardas artísticas. Lá conheceu um Jardim Botânico com uma estufa mantendo vegetação brasileira, pela qual ficou fascinado.

As diversas exposições que visitou e, dentre as mais importantes, a de Pablo Picasso, Henri Matisse, Paul Klee e Van Gogh, lhe causaram grande impressão, levando-o à decisão de estudar pintura.

Formação Acadêmica em Arquitetura

Durante a estada na Alemanha, Burle Marx estudou pintura no ateliê de Degner Klemn. De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Lúcio Costa, que era seu amigo e vizinho do Leme, o incentivou a ingressar na Escola Nacional de Belas Artes, atual Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Burle Marx conviveu na universidade com aqueles que se tornariam reconhecidos na arquitetura moderna brasileira: Oscar Niemeyer, Hélio Uchôa, Milton Roberto, entre outros.

Início do Paisagismo Em Recife

O primeiro projeto de jardim público idealizado por Burle Marx foi a Praça de Casa Forte, em Recife, no ano de 1934. Nesse mesmo ano assumiu o cargo de Diretor de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco, onde ainda lidava com um trabalho de inspiração levemente eclética, projetando mais de 10 praças. Nesse cargo, fez uso intenso da vegetação nativa nacional e começou a ganhar renome, sendo convidado a projetar os jardins do Edifício Gustavo Capanema, então Ministério da Educação e da Saúde.

Em 1935, ao projetar a Praça Euclides da Cunha (a Praça do Internacional, conhecida também como Cactário Madalena) ornamentada com plantas da caatinga e do sertão nordestino, buscou livrar os jardins do "cunho europeu", semeando a alma brasileira e divulgando o "senso de brasilidade".

Seu grupo do movimento arquitetônico modernista, junto com Luiz Nunes, da Diretoria de Arquitetura e Construção, e Attílio Correa Lima, responsável pelo Plano Urbanístico da cidade, ganhou opositores como Mário Melo e simpatizantes como Gilberto Freyre, Joaquim Cardozo e Cícero Dias, com os quais sempre se reunia. Em 1937 criou o primeiro parque ecológico de Recife.

Ruptura e Modernidade

Sua participação na definição da Arquitetura Moderna Brasileira foi fundamental, tendo atuado nas equipes responsáveis por diversos projetos célebres. O terraço-jardim que projetou para o Edifício Gustavo Capanema é considerado um marco de ruptura no paisagismo brasileiro. Definido por vegetação nativa e formas sinuosas, o jardim, com espaços contemplativos e de estar, possuía uma configuração inédita no país e no mundo.

A partir daí, Burle Marx passou a trabalhar com uma linguagem bastante orgânica e evolutiva, identificando-a muito com vanguardas artísticas como a arte abstrata, o concretismo, o construtivismo, entre outras. As plantas baixas de seus projetos lembram em muitas vezes telas abstratas, nas quais os espaços criados privilegiam a formação de recantos e caminhos através dos elementos de vegetação nativa.

Morreu aos 84 anos vítima de Câncer.

Cronologia

  • 1909 - Nasce Burle Marx em 4 de agosto, em São Paulo.
  • 1913 - Muda-se com a família para o Rio de Janeiro, onde fixam domicílio.
  • 1928 a 1929 - Vive período na Alemanha com a família.
  • 1930 a 1934 - Ingressa e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
  • 1932 - Primeiro projeto de paisagismo para a residência da família Schwartz no Rio de Janeiro.
  • 1934 - Assume a Diretoria de Parques e Jardins do Recife, projeta praças e jardins públicos.
  • 1937 - Cria o primeiro Parque Ecológico do Recife.
  • 1949 - Adquire um sítio de 365.000 m², em Guaratiba, RJ, onde abriga uma grande coleção de plantas.
  • 1950 - Projeta o Parque Generalisimo Francisco de Miranda em Caracas, Venezuela.
  • 1953 - Projeta os Jardins da Cidade Universitária da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.
  • 1953 - Projeta o Jardim do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte.
  • 1954 - Realiza o projeto paisagístico para o Parque Ibirapuera, em São Paulo, SP (não executado).
  • 1955 - Projeta o paisagismo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ.
  • 1961 - Projeta o paisagismo para o Eixo Monumental de Brasília.
  • 1961 - Paisagismo do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
  • 1968 - Projeta o paisagismo da Embaixada do Brasil em Washington, D.C. (Estados Unidos).
  • 1970 - Projeta o paisagismo do Palácio Karnak, sede oficial do Governo do Piauí.
  • 1971 - Projeta o paisagismo do aterro da Bahia Sul em Florianópolis.
  • 1971 - Recebe a Comenda da Ordem do Rio Branco do Itamaraty em Brasília.
  • 1982 - Recebe o título Doutor honoris causa da Academia Real de Belas Artes de Haia (Holanda).
  • 1982 - Recebe o título Doutor honoris causa do Royal College of Art em Londres (Inglaterra).
  • 1985 - Doou seu sítio de Guaratiba com seu acervo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN (na ocasião se chamava Fundação Nacional Pró Memória).
  • 1990 - Projeta o paisagismo do Parque Ipanema, em Ipatinga, MG.
  • 1994 - Morre no Rio de Janeiro, em 5 de junho, tendo projetado mais de 2.000 jardins ao longo de sua vida. O falecimento foi no dia 4 de junho.

Fonte: Wikipédia