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Ivone Kassu

IVONE KASSU
(66 anos)
Assessora de Imprensa, Empresária Artística e Promoter

* Itu, SP (13/07/1945)
+ Rio de Janeiro, RJ (03/07/2012)

Nascida em Itu em 13/07/1945, Ivone Kassu foi a primeira assessora de imprensa da área artística no Brasil. Começou sua trajetória ainda em São Paulo, contratada para ser secretária de Roberto Colossi, famoso empresário de artistas no fim da década de 60. Rapidinho enturmou-se e encontrou seu caminho.

"Eu ia aos estúdios e shows acompanhando os artistas e passei a registrar tudo o que poderia gerar notícia, além do trabalho deles. Fui a primeira a passar notas para a imprensa e a criar esse nicho que, hoje, é enorme."
(Ivone Kassu)

E será que a menina do interior não se deslumbrou ao circular em meio a tantos nomes que, durante toda a vida, ela só tinha visto em revistas e ouvido no rádio?

"Claro! Lembro quando fui chamada pelo Tom Jobim para cuidar da sua relação com a imprensa. Nosso primeiro encontro foi na casa dele, no Rio de Janeiro, e quando entrei na sala, aquele homem lindo sentado ao piano, tocando… Era quase um cenário de sonho. Fiquei petrificada na porta. Ele, sempre muito gentil, viu o meu estado e me levou para a varanda, me segurando pelo ombro, para me mostrar os passarinhos. Quase morri!"
(Ivone Kassu relembra, em meio a muitas gargalhadas)

Bom humor, aliás, aqui não falta. Mesmo quando teve de lidar com situações complicadas, como cuidar dos quatro últimos anos da carreira de Tim Maia, incluindo a fatídica apresentação no Teatro Municipal de Niterói, em 1998, que seria registrada para o Multishow. Como todo mundo sabe, Tim Maia entrou no palco e, quando se preparava para soltar os primeiros versos de "Não Quero Dinheiro", não resistiu e saiu dali direto para o hospital, no qual morreria uma semana depois.

"Era a redenção dele, depois de um tempo envolvido em problemas. Ele estava animado, feliz… Durante a tarde, tinha feito um ensaio memorável, a banda dizia que havia sido a melhor apresentação da vida dele, mas, infelizmente, nada foi registrado. Quando ele saiu do palco, no começo da apresentação, meio cambaleando, tentei me aproximar, mas não podia fazer muita coisa."
(Ivone Kassu)

Entretanto, antes do triste fim, Tim Maia deu muitas alegrias a Ivone Kassu, além de ótimas histórias.

"Lembro de um dia que ele me ligou, de madrugada, pedindo para cancelar todas as entrevistas do dia seguinte, aí respondi, meio sonolenta, que não tinha nada agendado. Ele retrucou: 'Mas cancela mesmo assim'."

Sem contar a vez em que Tim Maia encasquetou que queria visitar Roberto Carlos. Ela, claro, com toda a paciência do mundo, tentou demovê-lo da ideia. Sem sucesso. Tim Maia pegou o carro, estacionou na porta do prédio de Roberto Carlos, na Urca, e começou a gritar o nome do amigo.

"Roberto o deixou subir, mas nunca descobri o teor da conversa. Só sei que, no dia seguinte, Tim Maia me ligou para contar da aventura, morrendo de rir, e disse: 'Ficam falando que eu sou louco, mas louco é o Roberto Carlos, que conversa com samambaia. Ninguém me contou isso não, eu vi'."
Ivone Kassu e Leda Nagle
O primeiro trabalho de Ivone Kassu foi em 1965, quando fez a divulgação do primeiro espetáculo de humor de Chico Anysio.

Desde 1978 trabalhava com Roberto Carlos e esteve ao lado do Rei nos momentos mais difíceis de sua vida, como a morte da esposa, Maria Rita, em 1999 e mais recentemente na morte da mãe do cantor Laura, em 2010. Era sempre ela quem falava com os jornalistas e auxiliava Roberto Carlos nas divulgações de seus trabalhos.

Além de Roberto Carlos, Kassu, como era carinhosamente conhecida no meio, trabalhou com nomes como, Tom JobimMaria BethâniaTim MaiaCaetano VelosoAlcioneWilson SimonalChico BuarqueNey MatogrossoMilton NascimentoMarcos ValleMPB 4Clara NunesRita LeeCláudia RaiaEdson CelulariPaulinho da ViolaWilson SimonalJorge Ben Jor Roberto Carlos,  só para citar alguns.

Ela foi considerada a precursora da profissão de assessora de imprensa no Brasil e estava começando a escrever um livro sobre os bastidores do show business brasileiro.

Profissional ao extremo, jamais deixou de atender um telefonema de repórter que fosse em busca de notícias de Roberto Carlos, a quem defendia com unhas e dentes. Mesmo interpretando muitas vezes o papel de cão de guarda do Rei junto a jornalistas, Ivone Kassu jamais se permitiu ser deselegante ou agir com má vontade. Era firme, sim, mas de educação ímpar.

Provavelmente, Ivone Kassu era a pessoa que mais sabia da vida particular de Roberto Carlos. Mas, fiel ao extremo, jamais abriu a boca para revelar o que só a ela cabia saber. Morreu com todos os segredos.

Ivone Kassu não cantava, não compunha e não tinha nenhum grande dom artístico. Mesmo assim, a mulher foi um ícone da cultura brasileira, pelo menos no que diz respeito aos bastidores. Ela, tal e qual um Forrest Gump tupiniquim, foi testemunha ocular das principais reviravoltas musicais, políticas e pessoais dos maiores nomes da música popular brasileira no período e ajudou a criar, definir e consolidar o ofício do assessor de imprensa no Brasil.

Roberto Carlos, aliás, confiava no trabalho de Ivone Kassu há mais de 30 anos.

"Foi uma vida em silêncio, por trás dos panos, fazendo conexões e possibilitando encontros. Mas tenho muito orgulho dos meus quase 40 anos de assessoria de imprensa, em uma época que esse nome ainda nem existia."
(Ivone Kassu)

Roberto Carlos

Roberto, aliás, merece um capítulo à parte na biografia de Ivone Kassu. A relação dos dois começou em 1978, quando a CBS convocou a assessora para cuidar do lançamento do disco do cantor naquele ano. A empatia foi imediata e, dois anos depois, ela seria contratada pelo próprio para cuidar de todas as suas relações com a imprensa. E isso prosseguiu até sua morte.

"Já passei por muita coisa ao lado dele, momentos bons, ruins, perdas, sucesso, muito sucesso. Ele é um grande amigo. Uma coisa, aliás, que vou sempre oferecer a ele é a minha amizade e lealdade", emociona-se. Sem perder o trocadilho, foram mesmo muitas emoções nessa relação, já que ela passou, segurando na mão do rei, por momentos fortes como a morte de Nice Braga, a primeira mulher de Roberto Carlos, "ela que me ajudava a convencê-lo de algumas coisas"; Maria Rita, "o grande amor da vida do Roberto"; da mãe dele, Lady Laura, "a melhor mulher que já conheci na vida"; além do Projeto Emoções, de 1983, que fez Roberto Carlos atravessar o país se apresentando em cerca de 18 cidades, em um avião customizado da Vasp, para um público estimado em 600 mil pessoas, em 40 dias.

"Foi o momento mais bonito da carreira de Roberto que vivenciei. Era a primeira vez que se apresentava em algumas cidades do país e, a cada noite, era uma emoção maior que a outra. Ele, várias vezes, chorou depois dos shows."

Sobre o período no qual o cantor enfrentou o  Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a reclusão e a dor da perda de Maria Rita, ela prefere não se estender muito.

"Roberto nunca foi de sair muito de casa, com exceção da época que ele era casado com Myrian Rios, que adorava circular. Portanto, a doença e a consequente reclusão não mudaram muito a rotina. Só descobrimos do que se tratava, ele, inclusive, depois da morte de Maria Rita, quando ele começou a se cuidar. Roberto é muito caseiro, só abre mão de ficar em casa por poucos amigos, como foi no lançamento do livro de Boni, em novembro de 2011. Às vezes ele vai ao [restaurante] Antiquarius ou à [pizzaria] Capricciosa, que adora. Roberto Carlos, aliás, é o maior cliente do delivery de Ipanema."

A lealdade ao rei era, como pode se perceber, um ponto crucial na vida da assessora, o que motiva até crises de ciúmes em seus outros clientes e amigos.

"Ney [Matogrosso] sempre retruca: 'Você pode até gostar de mim, mas ama mesmo Roberto'", diverte-se. Mas onde começa e onde termina a vida pessoal de alguém que vive seu trabalho quase 24 horas por dia?

"Fiz tudo o que podia para ser uma boa mãe para o meu filho, André, que hoje é publicitário e me enche de orgulho. Tenho certeza que deixei um legado muito importante para ele: a cultura. Vinicius [de Moraes], por exemplo, quando André nasceu, escreveu um cartão que dizia: 'Saiba que você tem três pais, o Arthur, Deus e Vinicius'. É ou não é para se sentir especial?", pergunta Kassu, com os olhos brilhando ao falar de sua família, principalmente das duas netas. "Atualmente, tudo o que faço é por elas. Antes de morrer, vou deixar todas as minhas memórias, as histórias mais escondidas e cabeludas, registradas em uma gravação. Aí elas decidem o que vão fazer com isso".

Morte

Ivone Kassu morreu na terça-feira, 03/07/2012, dez dias antes de completar 67 anos, em sua casa em Copacabana, Rio de Janeiro, após sofrer uma parada cardíaca às 16:30 hs. O corpo de Ivone Kassu foi velado desde o início da manhã de quarta-feira, 04/04/2012, na Capela 9 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. O sepultamento foi marcado para as 16:00 hs, no mesmo local.

De acordo com funcionários da Kassu Produções, a empresária se recuperava de uma cirurgia realizada há cerca de duas semanas antes da morte. Ela passou por uma cirurgia no pulmão, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ivone Kassu já estava em sua casa, em Copacabana, e se recuperava bem do procedimento. Ela se sentia bem nos últimos dias,  mas na tarde de terça-feira passou mal, sofreu uma parada cardíaca fatal.

Ivone Kassu deixou um filho, o publicitário André Kassu e duas netas.

Fonte: G1, R7 , O FuxicoGlamura