Mostrando postagens com marcador Benzedeira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Benzedeira. Mostrar todas as postagens

Maria Polenta

MARIA TREVISAN TORTATO
(79 anos)
Benzedeira

* Mira, Itália (02/03/1880)
+ Curitiba, PR (22/04/1959)

Maria Trevisan Tortato, ou Maria Polenta, nasceu em 02/03/1880 em Mira, comunidade próxima à Veneza, região de Vêneto na Itália, filha do casal Giuseppe Francisco de Moretto Trevisan e Tereza de Bortoli.

O nome Maria prevaleceu durante toda vida, mas o Trevisan Tortato foi substituído por Polenta, cujo apelido veio a impor-se de maneira tão forte que até a data da sua morte, constrangendo a cidade, foi assim conhecida, tratada e benquista.

Em 12/02/1892 Giuseppe e Tereza imigram para o Brasil, à bordo do La Veloce. Chegam ao Paraná em 28/04/1892, provenientes do Rio de Janeiro. Trouxeram seus oito filhos: Giovani, Maria, Antonio, Sante, Virgínio, Domenico, Emílio e Anna. Mais tarde nasceria Luiz, já no Brasil.

Foi-lhes destinada a Colônia Alexandra, mas pelas condições inóspitas do local, mudaram-se para a Colônia Dantas, que mais tarde seria o bairro Água Verde, no local chamado Capão d'Amora. A região também era conhecida como Borghetto (que seria hoje entre a Travessa João Turin e a Av. Sete de Setembro até a Praça do Japão), onde havia a maior concentração de italianos em Curitiba.

Maria Trevisan casou-se em 12/02/1898 com Giuseppe Tortato, na Paróquia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em 14/01/1908, era celebrado o casamento civil, em Campo Comprido, Curitiba. Seu marido, conhecido como  Bépi Érico, era pedreiro de elite, chamado para construir igrejas, a exemplo da Imaculado Coração de Maria, no bairro Rebouças. Após o casamento,  passaram a residir na Rua Alferes Ângelo Sampaio, entre a Av. Sete de Setembro e a Av. Silva Jardim. Tiveram 10 filhos.


Antonio, irmão mais novo de Maria Trevisan, era funcionário da Todeschini e teria substituído Dona Domenica Todeschini que era a cozinheira da  fábrica. Como saiu-se bem na polenta, que era a base da comida, passou a ser chamado de Antonio Polenta, apelido que estendeu-se à família.

A própria Maria contava que tudo iniciou quando ela sonhou com seu avô e este lhe dissera que no dia seguinte iria vir à sua presença uma criança com uma fratura e que ela deveria fazer tal procedimento para curá-la. De fato, segundo ela, tal sucedeu e a criança ficou sã em pouco tempo.

Maria Moreira, benzedeira famosa, lhe transmitiu os conhecimentos, além do ancião Modesto Emiliano que teria lhe instruído como lidar com os traumatismos musculares e ósseos.

Maria Polenta exercia a medicina prática, que está associado ao passe, à reza e a certos aspectos místicos, que acabam fornecendo elementos produtores de sabor às histórias. Ela era especialista em massagens magnéticas e diziam, principalmente os jogadores de futebol, que ela voltava qualquer osso no devido lugar.

Por ser uma espécie de curandeira, não apreciava médicos. Também benzia e receitava chás. Além de recolocar articulações como ninguém, transmitia ao elemento receptor a fé daquelas aplicações. Era tamanho o êxito de seus tratamentos que a cada dia aumentava sua clientela.

Placas afixadas em uma casa na esquina das Ruas Maria Bueno com Maria Trevisan Tortato, no bairro Novo Mundo
Era extrema a bondade de Maria Polenta. Vestia-se em trajes longos, a cobrir-lhe os pés. Nada cobrava pelos serviços, cabendo a cada um deixar numa caixinha o que pudesse.

O ritual de atendimento era sempre o mesmo. Ela puxava conversa, perguntava o nome e ia passando o polegar esquerdo na região afetada. De repente, dava um puxão. Depois, passava água vegetal canforada. Se fosse o caso, improvisava uma tala. O material era comprado no Laboratório Antisardina logo em frente. Depois de tirar a tala ela ensinava o que hoje se chama de fisioterapia. Foi assim durante 50 anos. Uma vida dedicada a minorar o sofrimento humano.

Maria Polenta era popular entre os "sem-médico", mas também cortejada pela nata. Tinha como vizinhos Guido Viaro, Erasmo Piloto e João Turin. Poty Lazzarotto chegou a pintar-lhe um retrato, de memória, por sugestão do médico Luiz Carlos Sobania. Não por menos, um ano depois de sua morte, em 1960, o celebrado escultor Erbo Stenzel, fundiu o busto da "curadora de ossos", hoje instalado numa pracinha que leva o nome dela, na Avenida República Argentina com a Getúlio Vargas.

Não lhe faltaram homenagens. Na década de 70, Maria Polenta virou nome de rua no Novo Mundo, via que, aliás, faz cruzamento com a Maria Bueno, a santa não-oficial da capital. Nos anos 80, seu nome batizou a unidade de saúde da Rua Carneiro Lobo, no Batel.

A "Milagreira" e o Jovem Luiz Carlos Sobania

O médico Luiz Carlos Sobania, era um menino de calças curtas quando foi arrastado por um cachorro. Teve um dedo avariado pela corrente. A mãe, que morava na frente do Hospital de Crianças, o Cezar Pernetta, preferiu andar mais umas quadras e levá-lo à casa de Maria Polenta. Foi tiro e queda. O menino ficou bom e nunca mais esqueceu do rosto da mulher que o atendeu.

"Esse fato marcou minha infância. Lembro como se fosse hoje. Ela tinha um lenço na cabeça!"

Luiz Carlos Sobania garante que não foi influenciado por Maria Polenta na escolha de sua área de atuação, a ortopedia, na qual é uma das referências da cidade: "Coincidência, nada mais!".

Ele atua na Clínica de Fraturas desde 1964. Fato mesmo é que Maria Polenta passou a fazer parte de sua biografia.

Para o médico, a grande virtude de Maria Polenta era saber de seus limites. Corre entre os homens de jaleco branco que a curadora de ossos da Água Verde remetia muita gente aos hospitais, todas as vezes que se certificava da gravidade de um problema. Médicos como Luiz Carlos Sobania, contra todas as evidências, também fazem parte dessa confraria informal.

O túmulo fica na quadra 177, lote n.º 22, no Cemitério Municipal do Água Verde
Morte

Nas cinco décadas em que Maria Polenta atuou, as filas de carroças no trecho da Ângelo Sampaio, entre a Sete de Setembro e a Silva Jardim, onde ela morava, foram substituídas por carros. A saúde da italiana ficou arisca. Tinha erisipela e uma artrose infernal. Como se negou a usar a cadeira de rodas que os filhos lhe compraram, apoiava-se numa cadeira de cozinha, com a qual andava pela casa.

Maria Polenta morreu aos 79 anos de idade, em 22/04/1959. Seu túmulo no Cemitério de Água Verde fica na quadra 177. Tem vários agradecimentos por graças recebidas. Reza a lenda, não passa dia sem que ali se coloque um ramo de flor.

Maria Polenta mereceu um dos maiores funerais que a cidade já viu. "A cidade foi pequena. Quando o corpo chegou no Cemitério da Água Verde, ainda tinha gente saindo em fila da casa dela", lembra a sobrinha Geni Tissot Massocin, sobre o cortejo de aproximados cinco quilômetros.