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Martins Pena

LUÍS CARLOS MARTINS PENA
(33 anos)
Dramaturgo e Diplomata

* Rio de Janeiro, RJ (05/11/1815)
+ Lisboa, Portugal (07/12/1848)

Luís Carlos Martins Pena foi dramaturgo, diplomata e introdutor da comédia de costumes no Brasil, tendo sido considerado o Molière brasileiro. Sua obra caracterizou pioneiramente, com ironia e humor, as graças e desventuras da sociedade brasileira e de suas instituições. É patrono da Academia Brasileira de Letras.

Filho de João Martins Pena e Ana Francisca de Paula Julieta Pena, pessoas de poucas posses. Com um ano de idade, tornou-se órfão de pai e aos dez anos, de mãe. Seu padrasto, Antônio Maria da Silva Torres, deixou-o a cargo de tutores e, por destinação destes, ingressou na vida comercial, concluindo o curso de Comércio aos vinte anos, em 1835.

Depois, passou a frequentar a Academia Imperial das Belas Artes, onde estudou arquitetura, estatuária, desenho e música. Simultaneamente, estudava línguas, história, literatura e teatro. Em 4 de outubro de 1838, foi representada, pela primeira vez, uma peça sua, "O Juiz de Paz na Roça", no Teatro São Pedro, pela célebre companhia teatral de João Caetano, o mais famoso ator e encenador da época.

Ainda no ano de 1838, entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde exerceu cargos diversos, tais como amanuense da Secretaria dos Negócios Estrangeiros, em 1843, e adido à Legação do Brasil em Londres, Inglaterra, em 1847. Durante todo este período, contribuiu para a literatura brasileira com cerca de trinta peças, das quais aproximadamente, vinte sendo comédias, o que o tornou fundador do gênero da comédia de costumes no Brasil, e as restantes constituindo farsas e dramas. De agosto de 1846 a outubro 1847, fez críticas teatrais como folhetinista do Jornal do Commercio.

Em Londres, contraiu Tuberculose, e em trânsito para o Brasil, veio a falecer em Lisboa, Portugal, com apenas 33 anos de idade, em 7 de dezembro de 1848.

Em sua obra ele debruçou-se sobre a vida do Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX e explorou, sobretudo, o povo comum da roça e das cidades. Com a ajuda de sua singular veia cômica, encontrou um ambiente receptivo que favoreceu a sua popularidade. Construiu uma galeria de tipos que constitui um retrato realista do Brasil da época e compreende funcionários públicos, meirinhos, juízes, malandros, matutos, estrangeiros, falsos cultos e profissionais da intriga social. Suas histórias giram em torno de casos de família, casamentos, heranças, dotes, dívidas e festas da roça e das cidades.

Após sua morte, ainda vieram a público algumas de suas peças, como "O Noviço" (1853) e "Os Dois ou o Inglês Maquinista" (1871). Sua produção foi reunida em "Comédias" (1898), editado pela Editora Garnier, e em "Teatro de Martins Pena" (1965), 2 volumes, editado pelo Instituto Nacional do Livro. "Folhetins - A Semana Lírica" (1965), editado pelo então Ministério da Educação e Cultura e pelo Instituto Nacional do Livro, abrange a colaboração do autor no Jornal do Commercio (1846-1847).

Martins Pena deu ao teatro brasileiro cunho nacional, influenciando, em especial, Artur Azevedo. Sobre sua obra, escreveu o crítico e ensaísta Sílvio Romero (1851-1914):

"...se se perdessem todas as leis, escritos, memórias da história brasileira dos primeiros 50 anos desse século XIX, que está a findar, e nos ficassem somente as comédias de Martins Pena, era possível reconstruir por elas a fisionomia moral de toda esta época."

Uma das principais salas do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília, leva seu nome.

Obra

A obra de Martins Pena reúne quase 30 peças, dentre comédias, sátiras, farsas e dramas. Destacou-se especialmente por suas comédias, nas quais imprimiu caráter brasileiro, fundando o gênero da comédia de costumes no Brasil, mas foi criticado pela baixa qualidade de seus dramas. No geral, produziu peças curtas e superficiais, contidas em um único ato, apenas esboçando a natureza das personagens e criando tramas, por vezes, com pouca verossimilhança e coerência. Ainda assim, construiu muitas passagens de grande vivacidade e situações surpreendentes e é constantemente elogiado pela espontaneidade dos diálogos e pela perspicácia no registro dos costumes brasileiros, mesmo que quase sempre satirizados.

Estes aspectos da obra de Martins Pena se devem às característica do teatro da época. Quase sempre, após a representação de um drama, era encenada uma farsa, cuja função era aliviar a plateia das emoções causadas pela primeira apresentação. Na maioria das vezes, essas peças eram de origem estrangeira, comumente portuguesa.

Martins Pena, então, percebeu que poderia dar ao teatro uma natureza mais brasileira a partir de tipos, situações e costumes, tanto rurais quanto urbanos, facilmente identificáveis pelo público do Rio de Janeiro. Às cenas rurais, reservou a comicidade e o humor, explorados por meio dos hábitos rústicos e maneiras broncas da curiosa gente rural, quase sempre pessoas ingênuas e de boa índole. Já às cenas urbanas, reservou a sátira e a ironia, compondo tipos maliciosos e escolhendo temas que representavam muitos dos problemas da época, como o casamento por interesse, a carestia, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes, a corrupção das autoridades públicas, o contrabando de escravos, a exploração do país por estrangeiros e o autoritarismo patriarcal, manifesto tanto na escolha de profissão para os filhos quanto de marido para as filhas.

Apesar disso, nada foi tratado do ponto de vista trágico e nunca um desfecho era funesto. Pelo contrário, dada a finalidade destas comédias, que era a de opor-se aos dramas, a trama comum consiste na apresentação dos problemas, na resolução cômica dos empecilhos e no surgimento, muitas vezes com casamento ou namoro sério, de um final feliz.

Academia Brasileira de Letras

Martins Pena é o patrono da cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de um dos fundadores desta academia, o teatrólogo Artur de Azevedo.

Fonte: Wikipédia

Ricardo Bandeira

RICARDO BANDEIRA
(59 anos)
Mímico, Poeta, Escritor, Dramaturgo, Compositor, Produtor e Diretor Teatral

* Rio de Janeiro, RJ (11/01/1936)
+ São Paulo, SP (10/10/1995)

Considerado um dos maiores mímicos do Brasil. Ricardo Bandeira trabalhou no teatro e no cinema por mais de 45 anos. Dirigiu filmes e espetáculos teatrais que fizeram sucesso no Brasil e no exterior.

No cinema seu maior sucesso foi O Menino Arco-Íris de 1983 com Paulo Autran, Lima Duarte, Antônio Fagundes e Dercy Gonçalves, que chegou a representar o Brasil no Festival de Veneza.

Seu último espetáculo teatral foi "Carlitos no Circo" em 1993. Escreveu e dirigiu a peça de sucesso "Todo Mundo Nu"

Além de ter sido um excelente mímico, foi, também, poeta, escritor, dramaturgo, músico, compositor, produtor e diretor teatral. Nasceu em 11 de janeiro de 1936, no subúrbio da Leopoldina, no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Prudente de Moraes e, depois, no Colégio Batista Brasileiro, onde se iniciou no Teatro de Fantoche.

Aos 16 anos, ingressou no teatro profissional, na Companhia de Procópio Ferreira, representando Cleanto em "O Avarento, de Molière". Fez, ainda, "Escola de Maridos", do mesmo autor, "O Demônio Familiar", de José de Alencar e "Deus Lhe Pague", de Joracy Camargo. Procópio Ferreira tornou-se, posteriormente, um grande admirador dele.

Em 1955, produziu, interpretou e dirigiu para a TV Record de São Paulo o infanto-juvenil "Tic-Tac O Amigão", que foi líder do Ibope durante um ano. Trabalhou na Companhia Jaime Costa, no Teatro de Revistas, nas Companhias Mesquitinha, Zilco Ribeiro e Wellington Botelho. Participou dos filmes A Família Lero-Lero da Cinematográfica Vera Cruz, "A Pensão de Dona Estela" da Multifilmes e "A Doutora é Muito Viva" da Maristela.

Ricardo Bandeira quando estudou com Jean-Louis Barrault (1956)
Embora muitos digam que foi um mímico autodidata, Ricardo Bandeira estudou balé com Maria Carmem Brandão (1956-57), foi para Paris estudar a arte da mímica com Jean Louis Barrault, com quem entrou em contato com a gramática corporal de Decroux e estudou a arte da pantomima com Marcel Marceau, que tanto o marcou em sua carreira.

Em 1958, estreou a Cia Ricardo Bandeira, no Teatro Arena de São Paulo, com o espetáculo em dois atos "As Aventuras de Bonifácio" e "Pequena Homenagem a Charles Chaplin". Excursionou ao sul do país e, em 1959, estreou "Novas Pantomimas de Bonifácio" e o mimodrama "A Seca". Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo e no Rio de Janeiro, no Teatro Maison de France. Recebeu da Associação Paulista de Críticos Teatrais, hoje Associação Paulista de Críticos de Arte, o Prêmio Honorífico. Em 1960, estreou no Teatro de Cultura Artística de São Paulo, o mimodrama "Carnaval", apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia e Teatro Municipal de São Paulo.

Ricardo Bandeira foi uma referência para toda uma geração de mímicos e deixou muitos discípulos, entre eles Alberto Gaus, idealizador do Solar da Mímica e Cléber França. Fizeram parte de sua companhia Flávio Migliacio, César Macedo, Guilherme Corrêa, Célia Helena, Tereza Sodré, Marilena Ansaldi e outros. Em seu livro "Atos-Movimento na Vida e no Palco" (1994), Marilena Ansaldi, ao relatar sua experiência no Festival da Juventude em Helsinki, na Rússia, em 1962, escreve:

"Ricardo Bandeira foi absolutamente ovacionado em todas as suas apresentações. Foi uma contribuição notável a da delegação brasileira ao festival."

Ricardo Bandeira excursionou pela América Latina, no Uruguai, Argentina, Chile e Venezuela. Em 1962, foi para a Europa, onde recebeu o prêmio no Festival de Teatro da Finlândia, com o seu personagem Bonifácio. Apresentou-se em várias cidades da antiga União Soviética e nos Estados Unidos. Na volta, montou "Um Americano em Moscou".

Ricardo Bandeira com Marcel Marceau em Paris
Em 1963-64, excursionou pelo Brasil com novos espetáculos. Em 1967, apresentou sua primeira versão de Hamlet, de William Shakespeare, no Teatro Nacional de Comédia do Rio de Janeiro, sob o patrocínio do embaixador Pascoal Carlos Magno. Na segunda versão desta montagem, apresentou-se em São Paulo, no Teatro Ruth Escobar e fez, em 1968, uma bem sucedida turnê pela Europa, onde recebeu, pela segunda vez, o prêmio de primeiro lugar no Festival Internacional da Bulgária. Estendeu sua turnê por outros países da Europa e Estados Unidos.

De volta para o Brasil, estreou o espetáculo "O Acrobata Pede Desculpas Mas Não Cai", inspirado na obra de Fausto Wolff. Em 1970, recebeu pela terceira vez, o primeiro prêmio no Festival Internacional de Teatro em Stratford-on-Avon, na Inglaterra, com Hamlet. Entre 1971 a 1976, criou os espetáculos "História da Incivilização", "Que Fazer com a Minha Juventude", "Eu! Maiakovski!, Eu! Beethoven", "Coração de Vidro" e "Ricardo III", criação livre sobre a obra de William Shakespeare, pela primeira vez em toda a história do teatro representada por um único ator.

Adotou um estilo de movimentação que se assemelhava à mímica objetiva de Marcel Marceau, e embora trouxesse as ilustrações objetivas, era poética e repleta de metáforas. Por meio de suas apresentações, Ricardo Bandeira nos fez repensar, assim como Marcel Marceau, que a relação entre mímica objetiva e mímica subjetiva é mais complexa do que imaginávamos e são dois elementos indissociáveis como será incansavelmente pontuado pela mímica contemporânea. Marcel Marceau, certa vez, no Brasil, assistiu à apresentação de Ricardo Bandeira e marcou o meio artístico ao falar:

"Esse é o meu sucessor brasileiro."

Após sua morte, seu nome parece ter sido banido do teatro brasileiro, nunca mais se publicou nada sobre ele e sua memória praticamente foi abandonada, causando grande prejuízo existencial para a mímica. 

Rachel de Queiroz

RACHEL DE QUEIROZ
(92 anos)
Escritora, Romancista, Jornalista, Tradutora, Cronista e Dramaturga 

* Fortaleza, CE (17/11/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (04/11/2003)

Autora de destaque na ficção social nordestina. Foi primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões, equivalente ao Nobel, na língua portuguesa. Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 15 de agosto de 1994 na ocasião do centenário da instituição.

Rachel de Queiroz era filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família de José de Alencar.

Em 1917, após uma grande seca, mudou-se com seus pais para o Rio de Janeiro e logo depois para Belém do Pará. Retornou para Fortaleza dois anos depois.


Em 1925 concluiu o curso normal no Colégio da Imaculada Conceição. Estreou na imprensa no jornal O Ceará, escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz. No mesmo ano lançou em forma de folhetim o primeiro romance, "História de um Nome".

Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1930), romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, destaca‐se no desenvolvimento do romance nordestino.

Começou a se interessar em política social em 1928-1929 ao ingressar no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando o primeiro núcleo do Partido Comunista. Em 1933, começou a dissentir da direção e se aproximou de Lívio Xavier e de seu grupo em São Paulo, lá indo morar até 1934. Milita então com Aristides Lobo, Plínio Mello, Mário Pedrosa, Lívio Xavier, se filiando ao sindicato dos professores de ensino livre, controlado naquele tempo pelos trotskistas.

Estátua na Praça dos Leões (Fortaleza, CE)
Depois, viajou para o norte em 1934, lá permanecendo até 1939. Já escritora consagrada, mudou-se para o Rio de Janeiro. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. Escreveu ainda "João Miguel" (1932), "Caminhos de Pedras" (1937) e "O Galo de Ouro" (1950).

Foi presa em 1937, em Fortaleza, acusada de ser comunista. Exemplares de seus romances foram queimados. Em 1964, apoiou a Ditadura Militar que se instalou no Brasil.

Lançou "Dôra Doralina" em 1975, e depois Memorial de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão em 1994 numa minissérie apresentada pela Rede Globo. Exibida entre maio e junho de 1994 no Brasil, foi apresentada em Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo lançada em DVD em 2004.

Publicou um volume de memórias em 1998. Transformou a sua Fazenda Não Me Deixes, propriedade localizada em Quixadá, estado do Ceará, em reserva particular do patrimônio natural.

Morte

Morreu em 4 de novembro de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos.

Academia Brasileira de Letras

Sua eleição, em 4 de novembro de 1977 para a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, causou certo frisson nas feministas de então. Mas a reação da escritora ao movimento foi bastante sóbria. Numa entrevista, em meio ao grande furor que sua nomeação causou, declarou:

"Eu não entrei para a Academia por ser mulher. Entrei, porque, independentemente disso, tenho uma obra. Tenho amigos queridos aqui dentro. Quase todos os meus amigos são homens, eu não confio muito nas mulheres."

Um verdadeiro choque anafilático no movimento feminista.

Recebida por Adonias Filho, foi a quinta ocupante da cadeira 5, que tem como patrono Bernardo Guimarães.

Prêmios Outorgados

1930 - Prêmio Fundação Graça Aranha para "O Quinze".
1939 - Prêmio Sociedade Felipe d' Oliveira para "As Três Marias".
1954 - Prêmio Saci, de O Estado de São Paulo, para "Lampião".
1957 - Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de obra.
1959 - Prêmio Teatro, do Instituto Nacional do Livro, e Prêmio Roberto Gomes, da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, para "A Beata Maria do Egito".
1969 - Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, da Câmara Brasileira do Livro, São Paulo, para "O Menino Mágico".
1980 - Prêmio Nacional de Literatura de Brasília para conjunto de obra.
1981 - Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará.
1983 - Medalha Marechal Mascarenhas de Morais, em solenidade realizada no Clube Militar.
1985 - Medalha Rio Branco, do Itamarati.
1986 - Medalha do Mérito Militar no grau de Grande Comendador.
1989 - Medalha da Inconfidência do Governo de Minas Gerais.
1993 - Prêmio Camões, o maior da Língua Portuguesa, sendo a primeira mulher a recebê-lo.
1993 - Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual do Ceará - UECE.
1995 - Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, de Sobral.
1996 - Prêmio Moinho Santista de Literatura
2000 - Título Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
2001 - Medalha Boticário Ferreira, da Câmara Municipal de Fortaleza.
2001- Troféu Cidade de Camocim em 20 de Julho de 2001 (Academia Camocinense de Letras e Prefeitura Municipal de Camocim)

Obras

Principais:
  • 1930 - O Quinze (Romance)
  • 1932 - João Miguel (Romance)
  • 1937 - Caminho de Pedras (Romance)
  • 1939 - As Três Marias (Romance)
  • 1948 - A Donzela e a Moura Torta (Crônicas)
  • 1950 - O Galo de Ouro  (Romance - Folhetins na revista O Cruzeiro)
  • 1953 - Lampião (Peça Teatral)
  • 1958 - A Beata Maria do Egito (Peça Teatral)
  • 1958 - Cem Crônicas Escolhidas
  • 1964 - O Brasileiro Perplexo (Crônicas)
  • 1967 - O Caçador de Tatu (Crônicas)
  • Um Alpendre, Uma Rede, Um Açude - 100 Crônicas Escolhidas
  • O Homem e o Tempo - 74 Crônicas Escolhidas
  • 1969 - O Menino Mágico (Infanto-Juvenil)
  • 1975 - Dôra, Doralina (Romance)
  • 1976 - As Menininhas e Outras Crônicas
  • 1980 - O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas
  • 1986 - Cafute e Pena-de-Prata (Infanto-Juvenil)
  • 1992 - Memorial de Maria Moura (Romance)
  • 1995 - Teatro (Teatro)
  • 1997 - Nosso Ceará (Relato - com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • 1998 - Tantos Anos (Autobiografia - com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • 2000 - Não Me Deixes: Suas Histórias e Sua Cozinha (Memórias Gastronômicas - com Maria Luiza de Queiroz Salek)
Reunidas de Ficção:
  • 1948 - Três Romances
  • 1960 - Quatro Romances
  • 1973 - Seleta (Seleção de Paulo Rónai; notas e estudos de Renato Cordeiro Gomes)

No dia 4 de dezembro de 2003, um mês depois de sua morte, foi lançado na Academia Brasileira de Letras o livro Rachel de Queiroz, um perfil biográfico da escritora, fruto de uma longa pesquisa realizada pela jornalista Socorro Acioli, publicado pelas Edições Demócrito Rocha.

Sua biografia foi narrada no livro No Alpendre com Rachel, de autoria de José Luís Lira, lançado na Academia Brasileira de Letras em 10 de julho de 2003, poucos meses antes do falecimento da escritora.

Traduções

Romances:
  • 1940 - A Família Brodie (A. J. Cronin)
  • 1940 - Eu Soube Amar (Edith Wharton)
  • 1942 - Mansfield Park (Jane Austen)
  • 1942 - Destino da Carne (Samuel Butler)
  • 1942 - Náufragos (Erich Maria Remarque)
  • 1943 - Tempestade d’Alma (Phyllis Bottone)
  • 1943 - O Roteiro das Gaivotas (Daphne Du Maurier)
  • 1946 - A Crônica dos Forsyte (John Galsworthy)
  • 1944 - Helena Wilfuer (Vicki Baum)
  • 1944 - Humilhados e Ofendidos (Fiódor Dostoiévski)
  • 1944 - Fúria no Céu (James Hilton)
  • 1945 - A Intrusa (Henry Ballamann)
  • 1945 - Recordações da Casa dos Mortos (Fiódor Dostoiévski)
  • 1945 - Stella Dallas (Olive Prouty)
  • 1946 - A Promessa (Pearl Buck)
  • 1946 - Cranford (Elisabeth Gaskell)
  • 1947 - O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)
  • 1947 - Anos de Ternura (A. J. Cronin)
  • 1947 - O Quarto Misterioso e Congresso de Bonecas (Mário Donal)
  • 1947 - Aventuras de Carlota (M. D’Agon de La Contrie)
  • 1947 - A Casa dos Cravos Brancos (Y. Loisel)
  • 1948 - Os Robinsons da Montanha (André Bruyère)
  • 1948 - A Mulher de Trinta Anos (Honoré de Balzac)
  • 1948 - Aventuras da Maleta Negra (A. J. Cronin)
  • 1948 - Os Dois Amores de Grey Manning (Forrest Rosaire)
  • 1948 - A Conquista da Torre Misteriosa (Germaine Verdat)
  • 1950 - A Afilhada do Imperador (Jean Rosmer)
  • 1950 - A Deusa da Tribo (Suzanne Sailly)
  • 1950 - A Predileta (Raphaelle Willems)
  • 1951 - Os Demônios (Fiódor Dostoiévski)
  • 1952 - Os Irmãos Karamazov (Fiódor Dostoiévski)
  • 1963 - Os Carolinos: Crônica de Carlos XII (Verner Von Heidenstam)
  • 1966 - O Deserto do Amor (François Mauriac)
  • 1970 - Idade da fé (Anne Fremantle)
  • 1971 - A Mulher Diabólica (Agatha Christie)
  • 1972 - O Romance da Múmia (Théophile Gautier)
  • 1972 - O Lobo do Mar (Jack London)
  • 1972 - Miguel Strogoff (Júlio Verne)
Biografias e Memórias:
  • 1935 - Eduardo VI e o Seu Tempo (André Maurois)
  • 1943 - A Exilada: Retrato de Uma Mãe Americana (Pearl Buck)
  • 1965 - Minha Vida - caps. 1 a 7 (Charles Chaplin)
  • 1947 - Memórias de Alexandre Dumas, Pai (Alexandre Dumas)
  • 1946 - Vida de Santa Teresa de Jesus (Santa Teresa de Jesus)
  • 1947 - Mulher Imortal (Irwin Stone)
  • 1944 - Memórias (Leon Tolstói)
  • 1952 - Os Deuses Riem (A. J. Cronin)

Fonte: Wikipédia

José de Alencar

JOSÉ MARTINIANO DE ALENCAR
(48 anos)
Jornalista, Político, Advogado, Orador, Crítico, Cronista, Polemista, Romancista e Dramaturgo

* Messejana, CE (01/05/1829)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/12/1877)

Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, primeiro e único Barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.

Vida e Obra

Nasceu em Messejana, na época um município vizinho a Fortaleza. A família transferiu-se para a capital do Império do Brasil, Rio de Janeiro, e José de Alencar, então com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar.

Em 1844, matriculou-se nos cursos preparatórios à Faculdade de Direito de São Paulo, começando o curso de Direito em 1846. Fundou, na época, a revista Ensaios Literários, onde publicou o artigo questões de estilo.

Casa onde nasceu o escritor José de Alencar
Formou-se em direito, em 1850, e, em 1854, estreou como folhetinista no Correio Mercantil. Em 1856 publicou o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857. Mas é com O Guarani em (1857) que alcançou notoriedade. Estes romances foram publicados todos em jornais e só depois em livros.

José de Alencar foi mais longe nos romances que completam a trilogia indigenista: Iracema (1865) e Ubirajara (1874). O primeiro, epopéia sobre a origem do Ceará, tem como personagem principal a índia Iracema, a "virgem dos lábios de mel" e "cabelos tão escuros como a asa da graúna". O segundo tem por personagem Ubirajara, valente guerreiro indígena que durante a história cresce em direção à maturidade.

Em 1859, tornou-se chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, sendo depois consultor do mesmo. Em 1860 ingressou na política, como deputado estadual no Ceará, sempre militando pelo Partido Conservador (Brasil Império).

Em 1868, tornou-se ministro da Justiça, ocupando o cargo até janeiro de 1870. Em 1869, candidatou-se ao senado do Império, tendo o Imperador Dom Pedro II do Brasil não o escolhido por ser muito jovem ainda.

Em 1872 se tornou pai de Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis, dando respaldo para o romance Dom Casmurro.

Produziu também romances urbanos como Senhora (1875), Encarnação, escrito em 1877, ano de sua morte e divulgado em 1893; regionalistas como O Gaúcho (1870), O Sertanejo (1875) e históricos onde temos Guerra dos Mascates (1873), além de peças para o teatro.

Uma característica marcante de sua obra é o nacionalismo, tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua portuguesa. Em um momento de consolidação da Independência, José de Alencar representou um dos mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país. Em sua homenagem foi erguida uma estátua no Rio de Janeiro e um teatro em Fortaleza chamado Teatro José de Alencar.

José de Alencar
Academia Brasileira de Letras

Grande expoente da literatura brasileira do século XIX, não alcançou a fundação do Silogeu Brasileiro. Coube-lhe, entretanto, a homenagem de ser patrono da cadeira 23 da Academia.

Nas discussões que antecederam a fundação da Academia Brasileira de Letras, seu nome foi defendido por Machado de Assis para ser o primeiro patrono, ou seja, nominar a cadeira 1. Mas não poderia haver hierarquia nessa escolha, e resultou que Adelino Fontoura, um autor quase desconhecido, veio a ser o patrono efetivo. Sobre esta escolha, registrou Afrânio Peixoto:

"Novidade de nossa Academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura."

Morte

Viajou para a Europa em 1877, para tentar um tratamento médico, porém não teve sucesso. Faleceu no Rio de Janeiro no mesmo ano, vitimado pela Tuberculose. Machado de Assis, que esteve no velório de José de Alencar, impressionou-se com a pobreza em que a família Alencar vivia.

Romance

  • 1856 - Cinco Minutos
  • 1856 - MeuKior
  • 1857 - A Viuvinha
  • 1857 - O Guarani
  • 1862 - Lucíola
  • 1864 - Diva
  • 1865 - Iracema
  • 1865 - As Minas de Prata - 1º volume
  • 1866 - As Minas de Prata - 2º volume
  • 1870 - O Gaúcho
  • 1870 - A Pata da Gazela
  • 1871 - O Tronco do Ipê
  • 1871 - Guerra dos Mascates - 1º volume
  • 1871 - Til
  • 1872 - Sonhos d'Ouro
  • 1873 - Alfarrábios
  • 1873 - Guerra dos Mascates - 2º volume
  • 1874 - Ubirajara
  • 1875 - O Sertanejo
  • 1875 - Senhora
  • 1877 - Encarnação

Teatro

  • 1857 - O Crédito
  • 1857 - Verso e Reverso
  • 1857 - O Demônio Familiar
  • 1858 - As Asas de um Anjo
  • 1860 - Mãe
  • 1867 - A Expiação
  • 1875 - O Jesuíta

Crônica

  • 1874 - Ao Correr da Pena

Autobiografia

  • 1873 - Como e Por Que Sou Romancista

Crítica e Polêmica

  • 1856 - Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios
  • 1865 - Ao Imperador: Cartas Políticas de Erasmo e Novas Cartas Políticas de Erasmo
  • 1866 - Ao Povo: Cartas Políticas de Erasmo
  • 1866 - O Sistema Representativo

Fonte: Wikipédia

Millôr Fernandes

MILTON VIOLA FERNANDES
(88 anos)
Cartunista, Humorista, Dramaturgo, Escritor e Tradutor

* Rio de Janeiro, RJ (16/08/1923)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/03/2012)

Com passagem marcante pelos veículos impressos mais importantes do Brasil, como O Cruzeiro, O Pasquim, Veja e Jornal do Brasil, entre vários outros, Millôr é considerado uma das principais figuras da imprensa brasileira no século XX.

Multifacetado, obteve sucesso de crítica e de público em todas os gêneros em que se aventurou, como em seus trabalhos de ilustração, tradução e dramaturgia, sendo várias vezes premiado. Além das realizações nas áreas literária e artística, ficou conhecido também por ter sido um dos idealizadores do frescobol.

Juventude

Filho do engenheiro espanhol Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, Millôr nasceu no do Méier em 16 de agosto de 1923, mas só foi registrado como Milton Viola Fernandes, no ano seguinte, em 27 de maio de 1924. De Milton se tornou Millôr graças à caligrafia duvidosa na certidão de nascimento, cujo traço não completou o "t" e deixou o "n" incompleto. Aos dois anos perde o pai, e sua mãe passa a trabalhar como costureira para sustentar os quatro filhos.

Millôr Fernandes (Fonte: AE)
De 1931 a 1935 estudou na Escola Ennes de Souza. Nesse meio tempo se torna leitor voraz de histórias em quadrinhos, especialmente Flash Gordon. A forte influência, e o estímulo de seu tio Antônio Viola, o leva a submeter um desenho ao períodico carioca O Jornal que, aceito e publicado, lhe rende um pagamento de 10 mil réis.

Aos doze anos perde a mãe, passando a morar com o tio materno Francisco, sua esposa Maria e quatro filhos no subúrbio de Terra Nova, próximo ao Méier. Dois anos depois, em 1938, passa a trabalhar para o médico Luiz Gonzaga da Cruz Magalhães Pinto, entregando seu remédio para os rins Urokava em farmácias. Pouco depois é empregado pela revista O Cruzeiro, assumindo as funções de contínuo, repaginador e factótum.

Na mesmo época, assinando sob o pseudônimo Notlim, ganha um concurso de contos na revista A Cigarra. É promovido a arquivista da publicação, e com o cancelamento de quatro páginas de publicidade desta, é convidado a preencher o espaço vago. Cria então a seção Poste Escrito, que assina como Vão Gogo.

Carreira Literária

O sucesso de sua coluna em A Cigarra faz com que ela passe a ser fixa, e Millôr assume a direção do periódico, cargo que ocuparia por três anos. Ainda sob o pseudônimo Vão Gogo, começa a escrever uma coluna no Diário da Noite. Passa a dirigir também as revistas O Guri, com histórias em quadrinhos, e Detetive, que publicava contos policiais.

Em 1941 volta a colaborar com a revista O Cruzeiro, continuando a assinar como Vão Gogo na coluna Pif-Paf, o fazendo por 18 anos. A partir daí passou a conciliar as profissões de escritor, tradutor (autodidata) e autor de teatro.

Já em 1956 divide a primeira colocação na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires com o desenhista norte-americano Saul Steinberg. Em 1957, ganha uma exposição individual de suas obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Dispensa o pseudônimo Vão Gogo em 1962, passando a assinar apenas como Millôr em seus textos na revista O Cruzeiro. Deixa a revista no ano seguinte, por conta da polêmica causada com a publicação de A Verdadeira História do Paraíso, considerada ofensiva pela Igreja Católica.

Em 1964, passa a colaborar com o jornal português Diário Popular e obtém o segundo prêmio do Salão Canadense de Humor. Em 1968, começa a trabalhar na revista Veja, e em 1969 torna-se um dos fundadores do jornal O Pasquim.

Nos anos seguintes escreveu peças de teatro, textos de humor e poesia, além de voltar a expor no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Traduziu, do inglês e do francês, várias obras, principalmente peças de teatro, entre estas, clássicos de Sófocles, William Shakespeare, Molière, Bertolt Brecht e Tennessee Williams.

Depois de colaborar com os principais jornais brasileiros, retornou à Veja em setembro de 2004, deixando a revista em 2009 devido a um desentendimento acerca da digitalização de seus antigos textos, publicados sem sua autorização no acervo on-line da publicação.

Problemas de Saúde

No princípio de fevereiro de 2011, Millôr sofreu um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico. Permaneceu em torno de duas semanas inconsciente na UTI, e após cinco meses de internação em uma clínica no Rio de Janeiro, recebeu alta no dia 28 de junho. Dois dias depois voltou a se sentir mal, passando outros cinco meses internado.

Após o segundo internamento a família de Millôr manteve em privado os detalhes a respeito de sua saúde, até que em 28 de março de 2012 é divulgado à imprensa que o escritor morrera no dia anterior, em decorrência de Falência Múltipla dos Órgãos e Parada Cardiorrespiratória.

Fonte: Wikipédia

Machado de Assis

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS
(69 anos)
Escritor, Poeta, Romancista, Cronista, Dramaturgo, Contista, Folhetinista, Jornalista e Crítico Literário

* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1839)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/09/1908)

Foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, Ministério do Comércio e Ministério das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Ayres, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e outros.

Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante Alighieri, William Shakespeare e Luís de Camões.[24]

Primeiros Anos

Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.

As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à Rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado de Assis resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.

Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.

Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento:

"A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados."

Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas. A casa era "uma espécie de vila ou fazenda", onde Machado de Assis passou sua infância. Nesta época, José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de Machado de Assis, Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do Romantismo para a literatura brasileira.

Quando Machado de Assis tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de Dom Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em Dom Casmurro.

Ao completar 10 anos, Machado de Assis tornou-se órfão de mãe, e o pai viúvo tão logo perdera a esposa casou-se com Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854, que cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado de Assis teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros.

Jornais, Poemas e Óperas

Tudo indica que Machado de Assis evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde, Machado de Assis se referiria à Sociedade da seguinte forma:

"Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná."

No dia 12 de janeiro de 1855, Francisco de Paula Brito publicou os poemas Ela e A Palmeira na Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro. Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis.

Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que o incentivou a seguir a carreira literária. Machado de Assis trabalhou na Imprensa Oficial de 1856 a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando textos.

Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em The Mysteries of Paris de Eugène Sue e com música de Ermanno Wolf-Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:

"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."

Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na. Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo:

"Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro."

O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto."

De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.

Crisálidas, Teatros e Política

Aos 21 anos de idade Machado de Assis já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado de Assis trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.

Quintino Bocaiúva admirava o gosto de Machado de Assis pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai, Machado de Assis lhe dedica a coletânea de poesias Crisálidas:

"À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais."

Em 1865, Machado de Assis havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y Amat, produziu o hino Cantada da Arcádia especialmente para a sociedade.

Em 1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."

Neste ano, Machado de Assis escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com Platão, Sócrates e o Teatro Grego. De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado de Assis era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial pelo Dom Pedro II. Com a ascensão do Partido Liberal pelo país, Machado de Assis acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com idéias progressivas. Por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império - candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de Dom Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Imperial Ordem da Rosa.

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro. Machado de Assis diria sobre o poeta baiano:

"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro."

Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.

Carolina Augusta Xavier de Novais
Noivado, Cartas e Relacionamento

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado de Assis teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa.

Carolina despertara a atenção de muitos cariocas. Muitos homens que a conheciam achavam-na atraente e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data, o único livro publicado de Machado de Assis era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão.

Carolina era cinco anos mais velha que ele, deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.

Diz-se que Machado de Assis não era um homem bonito, mas era culto e elegante. Estava apaixonado por sua Carola, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois. Durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado de Assis havia escrito uma carta íntima que dizia:

"...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."

Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como Machadinho. Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.

Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar". De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a Machado de Assis os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou recentemente que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo do marido escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista).

Não tiveram filhos. No entanto, acredita-se que tinham uma cadela Tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.

Carolina Augusta Xavier de Novais (44  anos)
Casamento, Histórias e Lendas

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda.

Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado de Assis, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado de Assis não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.

No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller.

Em 20 de outubro de 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado de Assis, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado de Assis deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil.

As três heroínas de Memorial de Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da Carolina, a mãe, irmã e esposa. Machado de Assis também lhe dedicou seu último soneto, A Carolina, em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de A Carolina era visitado todos os domingos por Machado de Assis.

Academia Brasileira de Letras


Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional.

Unanimente, Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo Bernardo:

"Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão."

No discurso inaugural, Machado de Assis aconselhou aos presentes:

"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."

A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns. Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência:

"Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções."

Como presidente, Machado de Assis fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.

Em 1901, criou a Panelinha para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão Panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.

Machado de Assis devotou-se ao cargo de presidente da Academia durante 10 anos, até a sua morte. Como homenagem informal, ela passou a chamar-se "Casa de Machado de Assis". Hoje em dia a Academia abriga coleções de Olavo Bilac e Manuel Bandeira, e uma sala chamada de Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus. Além disso, a Academia possui uma rara edição de 1572 de Os Lusíadas.

Estátua  na Academia Brasileira de Letras
Últimos Anos

Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, Machado de Assis lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]"

Antes de sua morte, em 1908, e depois da morte da esposa, em 1904, Machado de Assis viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Ayres (1908), e Relíquias da Casa Velha (1906). No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição de Botânica.

Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto A Carolina, "preito de saudade à esposa morta."

Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Ayres, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.

Mesmo abalado, continuava lendo, trabalhando, estudando, frequentando algumas rodas de amigos. Em seus últimos anos, teria iniciado estudos da língua grega, embora outros autores apontam que tentava se familiarizar com ela desde cedo.

No primeiro dia de julho de 1908, Machado de Assis entra em licença para tratamento de saúde, e nunca mais retorna ao Ministério da Viação. Personalidades ilustres, como o Barão do Rio Branco, e intelectuais ou colegas, vão visitá-lo. Em um documento manuscrito do mesmo ano, Mário de Alencar escreve, amargamente:

"Venho da casa de Machado de Assis, por onde estive todo o sábado, ontem e hoje, e agora estou sem ânimo de continuar a ver-lhe o sofrimento. Tenho receio de assistir ao fim que eu desejo não tarde. Eu, seu amigo e seu admirador grande, desejo que ele morra, mas não tenho coragem de o ver morrer."

Em 1906, escreve seu último testamento. O primeiro, escrito em 30 de junho de 1898, deixava todos seus bens à esposa Carolina Augusta. Com a morte desta, pensou numa partilha amigável com a irmã de Carolina, Adelaide Xavier de Novais, e sobrinhos, efetuando este segundo e último testamento em 31 de maio de 1906, instituindo sua herdeira única "a menina Laura", filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, nomeado primeiro testamenteiro. Em suas últimas semanas, Machado de Assis escreveu cartas a Salvador de Mendonça (7 de setembro de 1908), a José Veríssimo (1 de setembro de 1908), a Mário de Alencar (6 de agosto de 1908), a Joaquim Nabuco (1 de agosto de 1908), a Oliveira Lima (1 de agosto de 1908), entre outros, demonstrando ainda estar lúcido.

Morte

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia Brasileira de Letras conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.

Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma Úlcera Canceriosa na Boca. Sua certidão de óbito relata que morrera de Arteriosclerose Generalizada, incluindo Esclerose Cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas.

Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio e Euclides da Cunha. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento:

"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade". Euclides da Cunha ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."

Em nome da Academia Brasileira de Letras, Ruy Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre. Em nome do governo, o então ministro do interior Tavares de Lyra discursou em pesar da morte do escritor.

O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia. Seu corpo no caixão, como relatara Nélida Piñon, "cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas". O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso, Nélida Piñon comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de Victor Hugo. De fato, uma multidão saía da Academia e sustentava o caixão do autor até o Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro. Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa Carolina Augusta Xavier de Novais, jazigo perpétuo 1359.

A Gazeta de Notícias e o Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de Machado de Assis. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de Machado de Assis, anunciando sua morte.

Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, onde também estão os restos de personalidades como João Cabral de Melo Neto, Darcy Ribeiro e Aurélio Buarque de Holanda.

Fonte: Wikipédia