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Carlos Reverbel

CARLOS DE MACEDO REVERBEL
(84 anos)
Jornalista, Cronista e Historiador

* Quaraí, RS (21/07/1912)
+ Porto Alegre, RS (27/06/1997)

Carlos Reverbel foi um dos maiores estudiosos da cultura gaúcha deste século. Jornalista militante, pesquisou sobre imprensa e história do Rio Grande do Sul, formando a maior biblioteca especializada do estado.

Carlos Reverbel deixou uma obra representativa de suas paixões e do seu trabalho. Escreveu sobre Simões Lopes Neto em "Um Capitão da Guarda Nacional" (1981), sobre Assis Brasil em "Diário de Cecília de Assis Brasil" (1983) e "Pedras Altas" (1984). Suas crônicas foram reunidas em "Barco de Papel" (1978) e "Saudações Aftosas" (1980).

Escreveu, ainda, "Maragatos e Pica-Paus" (1985) e "Assis Brasil" (1990). "Arca de Blau" (1993) reúne suas memórias em depoimento dado à jornalista Cláudia Laitano. "O Gaúcho", publicado originalmente em 1986, é um dos mais completos ensaios históricos sobre a origem e a formação do gaúcho.

Depois de passar a infância em São Gabriel, Carlos Reverbel foi para Porto Alegre em 1927. Iniciou na carreira jornalística em 1934, em Florianópolis, SC. Atuou como correspondente internacional em três ocasiões diferentes.

Morou no Rio de Janeiro por um tempo e colaborou com o jornal A Razão, de Santa Maria, RS, e trabalhou na Editora Globo, na Revista do Globo e foi um dos criadores da revista Província de São Pedro. Foi pesquisador da história e da literatura do Rio Grande do Sul e colaborador dos jornais Correio do Povo e Zero Hora.

Carlos Reverbel foi escolhido como o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 1993.

Carlos Reverbel (Foto: Dulce Helfer)
Obra Literária

  • 1978 - Barco de Papel (Crônicas)
  • 1980 - Saudações Aftosas (Crônicas)
  • 1981 - Um Capitão da Guarda Nacional (Biografia de Simões Lopes Neto)
  • 1984 - Diário de Cecília de Assis Brasil
  • 1984 - Pedras Altas - A Vida no Campo Segundo Assis Brasil
  • 1985 - Maragatos e Pica-paus
  • 1986 - O Gaúcho
  • 1993 - Arca de Blau (Memórias)


Carlos Torres Pastorino

CARLOS JULIANO TORRES PASTORINO
(69 anos)
Ex-Padre, Espírita, Radialista, Jornalista, Escritor, Teatrólogo, Historiador, Filólogo, Filósofo, Professor, Poliglota, Poeta e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (04/11/1910)
┼ Brasília, DF (13/06/1980)

Carlos Juliano Torres Pastorino foi um ex-padre que se dedicou ao estudo da Doutrina Espírita e da Fenomenologia Mediúnica, autor do maior best-seller de auto-ajuda no país, "Minutos de Sabedoria".

Era mais conhecido por Professor Pastorino e era filho de José Pastorino e Eugênia Torres Pastorino. Desde criança demonstrou inusitada inteligência e vocação para a vida eclesiástica. Com apenas 14 anos de idade, em 1924, recebeu os diplomas de Geografia, Corografia e Cosmografia, do Colégio Dom Pedro II e, logo em seguida, ainda no mesmo ano, o diploma de Bacharel em Português, no mesmo colégio.

Viajou para Roma a fim de cursar o Seminário, onde, em 1929, foi diplomado pelo Cardeal Basilio Pompili, para a Ordem Menor de Tonsura. Formou-se em Filosofia e Teologia em 1932, sendo ordenado sacerdote em 1934.

Abandonou a vida eclesiástica da Igreja Católica Romana, quando, em 1937, aguardava promoção para diácono. Surpreendeu-se com a recusa do Papa Pio XII, em receber o Mahatma Gandhi em seu tradicional traje branco. O Colégio Cardinalício exigia que o grande líder da Índia vestisse casaca, para não quebrar a tradição das entrevistas dos chefes de Estado. Pastorino, diante dessa recusa, imaginou que se Jesus visitasse o Vaticano, não se entrevistaria com o Papa, pois vestia-se de forma similar a Gandhi, e jamais se sujeitaria ao rigor exigido pela Igreja.

Regressou de imediato ao Brasil e desenvolveu intensa atividade pedagógica. Ingressou no Instituto Italo-Brasileiro de Alta Cultura, como professor de Latim e Grego, cargo que exerceu de 1937 a 1941. Em 1938, recebeu o registro de Professor de Psicologia, Lógica e História da Filosofia do Ensino Secundário. Foi também professor de Espanhol.

Em paralelo com o magistério, exercia atividades jornalísticas, como correspondente dos Diários Associados. Foi Adido Cultural e Jornalístico da Academia Brasileira de Belas Artes. Sócio de inúmeras Sociedades Esperantistas, no Brasil e no exterior. Delegado especializado (Faka Delegito) da Universidade Esperanto Asocio, com sede na Holanda. Foi fundador da Sociedade Brasileira de Esperanto, no Rio de Janeiro. Sua bibliografia é extensa, com mais de 50 livros publicados e outros tantos inéditos.

Pastorino falava fluentemente vários idiomas, legando-nos inúmeros livros didáticos. Traduziu obras de vários autores ingleses, franceses, espanhóis, italianos, clássicos latinos e gregos.

No dia 31/05/1950 concluiu a leitura de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que recebera por empréstimo de um seu colega do Colégio Dom Pedro II. Nesse dia declarou-se espírita, data que guardava com muito carinho. Passou a frequentar o Centro Espírita Júlio César, no Grajaú, o qual foi sua escola inicial de Espiritismo. No dia 08/01/1951, com um grupo de abnegados companheiros, fundou o Grupo Espírita Boa Vontade, posteriormente mudado para Grupo de Estudos Spiritus, para não haver confusão com a Legião da Boa Vontade.

No Grupo de Estudos Spiritus, nasceu o Lar Fabiano de Cristo, o boletim Serviço Espírita de Informação (SEI). Fundou a Livraria e Editora Sabedoria e a revista com o mesmo nome, prestando relevantes serviços à Doutrina, no terreno cultural.

O professor Carlos Torres Pastorino realizou muitas palestras no Rio de Janeiro e em vários outros Estados. Participou ativamente de Congressos, Semanas Espíritas, Simpósios, Cursos e tantos outros eventos. Fez-se sócio de inúmeras instituições espíritas e colaborou com a imprensa espírita nacional e do exterior. De sua vasta bibliografia espírita, destaca-se "Minutos de Sabedoria", que bate todos os recordes de vendagem, já em várias edições "Sabedoria do Evangelho", publicado em fascículos na revista Sabedoria e Técnicas da Mediunidade, excelente livro sobre o assunto.

O grande sonho de Carlos Torres Pastorino era criar uma Universidade Livre, para ensinar Sabedoria. Em 1973 recebeu, por doação, do Drº Miguel Luz, famoso médico paulista, já desencarnado, magnífico terreno numa área suburbana de Brasília, denominada Park Way, onde iniciou as obras da Universidade. Já com algumas dependências construídas, passou a residir no local, para administrá-la. Chegou a realizar vários cursos, estando a sua Biblioteca em pleno funcionamento, com o respeitável número de 8000 volumes, adquiridos ao longo de sua existência, toda voltada para a cultura geral e o bem-estar da humanidade. Infelizmente faleceu antes de ver concretizado esse sonho.

Foi casado com Silvana de Santa M. Pastorino, deixando três filhos maiores e sete netos. Deixou também um casal de filhos menores do segundo casamento.

Obra

Carlos Torres Pastorino publicou uma extensa bibliografia de mais de 50 obras, muitas delas ainda inéditas. Poliglota, traduziu obras de diversos idiomas. Foi também radialista, sendo a sua obra magna - "Minutos de Sabedoria" - uma coleção de suas mensagens propaladas no rádio. Compôs 31 peças musicais para piano, orquestra, quarteto de cordas e polifonia, a três e quatro vozes. Entre as suas obras, destacam-se:

  • 1966 - Minutos de Sabedoria
  • 1966 - Teu Filho, Tua Vida
  • 1966 - Tua Mente, Tua Vida
  • 1968 - Técnica da Mediunidade
  • Sabedoria do Evangelho (Vários Volumes)

O livro "Minutos de Sabedoria" já ultrapassou a marca de 9 milhões de exemplares vendidos - tendo sido, por reincidência em mais de dois anos consecutivos, retirado da lista elaborada pela revista Veja, dos mais vendidos. A obra, originalmente destinada a subsidiar os trabalhos assistenciais e educativos do professor Pastorino, hoje teve, após ação na Justiça, os seus direitos revertidos para os herdeiros.

Na obra "Técnica da Mediunidade", aborda, com o recurso a inúmeros quadros comparativos, numa ótica cientificista, o fenômeno mediúnico. Em seu prefácio, o General-de-Brigada Drº Manoel Carlos Netto Souto registra:

"Pastorino volta à Terra e tenta mostrar ou demonstrar fatos que para ele são axiomáticos, fazendo o arcabouço da ponte que une o físico ao espiritual, uma vez que os considera da mesma natureza, sem irrealidades nem fantasia."

A obra, editada em 1968, teve as suas edições póstumas proibidas pela família, praticante do catolicismo. Nela, o autor assim refere a mediunidade:

"As vibrações, as ondas, as correntes utilizadas na mediunidade são as ondas e correntes de "pensamento". Quanto mais fortes e elevados os pensamentos, maior a freqüência vibratória e menor o comprimento de onda. E vice-versa. (…) Tudo isso faz-nos compreender a necessidade absoluta de mantermos a mente em "ondas" curtas, isto é, com pensamentos elevados, para que nossas preces e emissões possam atingir os espíritos que se encontram nas altas camadas."

José de Anchieta

JOSÉ DE ANCHIETA
(63 anos)
Padre Jesuíta, Gramático, Poeta, Teatrólogo e Historiador

* San Cristóbal de La Laguna, Espanha (19/03/1534)
+ Iriritiba, ES (09/06/1597)

José de Anchieta foi um padre jesuíta, um dos fundadores de São Paulo e declarado beato pelo papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil. É homenageado dando seu nome à Rodovia Anchieta construída pelo então governador Adhemar Pereira de Barros por onde passava o Caminho do Padre José de Anchieta.

Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, em 19/03/1534, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem MariaJuán López de Anchieta era aparentado dos Loyola, daí o parentesco de José de Anchieta com o fundador da Companhia de JesusInácio de Loyola.

Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo y Llarena, natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela.

Dos doze irmãos, além dele abraçaram o sacerdócio Pedro Núñez e Melchior.

A família de José de Anchieta era de guerreiros aguerridos. Um de seus irmãos defendeu o estandarte de Tércios de Flandres, que lutavam até a morte pela unidade religiosa nos campos da Espanha. Outro, missionário, adentrou pelas terras ao norte do Rio Grande, hoje território norte-americano, e seu primo o antecedeu nas missões jesuíticas ao Brasil. José de Anchieta, por tradição, era destinado a ser soldado. Mas seu pai, vendo o menino acanhado e versejando poesias em latim já aos nove anos de idade, reconheceu que ele não manifestava a mínima aptidão para a carreira militar.

Decidiu matriculá-lo no Colégio das Artes da Companhia de Jesus em Portugal. A disciplina e a noção do dever dos jesuítas - Inácio de Loyola, o fundador da Companhia, era, ele sim, um militar - deveria bastar à formação do garoto. Não sendo soldado de armas, José de Anchieta seria soldado da fé. O garoto não frustaria os anseios de seu pai. Pregando em terras distantes, onde os relatos de seus milagres se multiplicaram, ele ainda pode vir a ser canonizado. Seria a culminação de um percurso religioso que começou aos 14 anos, quando foi para o colégio em Coimbra.

Tinha tanta facilidade em compor versos em latim quanto problemas por sua fraca saúde, que necessitava sempre de cuidados. Alguns biógrafos dizem que sofria de dores na coluna vertebral, já andava arqueado. Outros garantem que uma escada da biblioteca do colégio caiu-lhe nas costas e, com o correr dos anos, as conseqüências do acidente o deixaram quase corcunda. Foi para aliviar tantos padecimentos que seus superiores conjeturaram sob a viabilidade de mandá-lo para um clima ameno - o das Índias brasílicas, como era conhecido o Brasil. Servir a Deus no Novo Mundo era sonho dos jovens religiosos da Companhia de Jesus e José de Anchieta aceitou a ordem com a determinação dos que cumprem uma missão divina. Tinha 19 anos de idade quando chegou a Salvador, na Bahia, depois de dois meses de viagem, em 13/07/1553. Ficou ali por pouquíssimo tempo. Manoel da Nóbrega, vice-provincial da Capitania de São Vicente, onde se encontrava a pequena aldeia de Piratininga, precisava de sua ajuda.

Ele sabia da sua competência em ler e escrever, e os jesuítas necessitavam urgentemente de tradutores e intérpretes para falar o tupi, língua dos índios do litoral brasileiro. Mais dois meses de viagem o aguardavam para chegar da Bahia ao planalto paulista. Um percurso que, mais do que a travessia do Atlântico em um galeão, fundou uma nova etapa na vida de José de Anchieta: a da aventura. Violentas tempestades sacudiram sua embarcação na altura de Abrolhos e o barco, com as velas rotas e os mastros partidos, encalhou perto do litoral do Espírito Santo.

A nau que o acompanhava perdeu-se nas vagas e foi com seus destroços que a tripulação pôde consertar os estragos e retomar a viagem. Mas, antes que isso ocorresse, o pânico tomou conta dos passageiros - na praia, poderiam estar esperando os índios tamoios, conhecidos antropófagos.

Destemido, José de Anchieta desceu à terra junto com os marinheiros, à procura de mantimentos. Foi seu primeiro contato com os índios. Não se sabe muito bem o que aconteceu, já que os biógrafos não entram em detalhes, mas é certo que ninguém no barco foi molestado. Depois do sobressalto, ao desembarcar, o pesadelo apenas começava. Para chegar do mar à aldeia de Piratininga, cerca de mil metros acima, em um planalto, José de Anchieta tinha de percorrer o que foi chamado por seus biógrafos como "o pior caminho do mundo": uma picada em meio à Mata Atlântica, que José de Anchieta fez muitas vezes à pé, pois cavalgar danificava sua coluna.


Era verão, época das chuvas, calor e, principalmente, mosquitos. Sua visão das terras de São Vicente e Piratininga, foi relatada em carta aos seus superiores. Dizia ele das onças:

"Essas (malhadas ou pintadas) encontram-se em qualquer parte (…) São boas para comer, o que fizemos algumas vezes."

Dos jacarés:

"Também há lagartos nos rios, que se chamam jacarés, de extraordinário tamanho de modo a poder engolir um homem."

Sobre as jararacas:

"São muito comuns nos campos, bosques e até nas próprias casas, nas quais as encontramos tantas vezes."

José de Anchieta fala ainda dos mosquitos que "sugando o sangue, dão terríveis ferroadas", das poderosas tempestades tropicais e inundações de dezembro. Apesar dos transtornos, a luxuriante beleza da Serra do Mar deve tê-lo impressionado, pois escreveu, anos depois, um tratado sobre as espécies animais e vegetais que poderiam ser encontradas no Brasil, numa iniciativa pouco comum entre os jesuítas.

Mas seu tema principal foram mesmos os índios:

"Toda essa costa marítima, de Pernambuco até além de São Vicente, é habitada por índios que, sem exceção, comem carne humana; nisso sentem tanto prazer e doçura que freqüentemente percorrem mais de 300 milhas quando vão à guerra. E, se cativarem quatro ou cinco dos inimigos, regressam com grandes vozearias, festas e copiosíssimos vinhos que fabricam com raízes e os comem de maneira que não perdem nem sequer a menor unha."

José de Anchieta se chocaria, como outros cronistas da época, com a liberdade sexual dos indígenas:

"… as mulheres andam nuas e não sabem negarem-se a ninguém, mas até elas mesmas cometem e importunam os homens, jogando-se com eles nas redes, porque têm por honra dormir com os cristãos."

Apesar do espanto, em pouco tempo, José de Anchieta aprendeu a conhecer as particularidades da terra e da gente de seu novo lar.

A Europa renascentista do séculos 16 fica para trás, já que José de Anchieta nunca voltaria a rever o Velho Mundo. Um mês depois de sua chegada, em 25/01/1554, foi inaugurado o colégio jesuíta da Vila de Piratininga, data hoje comemorada como fundação de São Paulo. Escreveu José de Anchieta:

"Celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo, e por isso dedicamos a ele nossa casa."

Ali moravam treze jesuítas que tinham a seu cargo duas aldeias de índios com quase mil pessoas. O local tinha apenas 14 passos de comprimento e 10 de largura, incluindo escola, despensa, cozinha, refeitório e dormitório. Em resumo, era minúsculo.

Época de austeridade, tanto no espaço quanto nas vestes, as batinas de José de Anchieta eram feitas com as velas imprestáveis dos navios. Ele só dormia quatro a cinco horas por noite, pronto para se levantar se fosse preciso. Ensinava gramática em três classes diferentes, subia e descia montanhas para batizar ou catequizar e freqüentemente jejuava. Sua prontidão para levantar no caso de um imprevisto fazia sentido. Ele viu Piratininga ser atacada pelos tupis numa encarniçada luta que durou dois dias. Enquanto as mulheres e crianças se recolheram à igreja em vigília permanente, os jesuítas cuidavam dos mortos e feridos com ervas medicinais indígenas plantadas ao lado das cercar do Colégio.

Mas, com a ajuda dos índios convertidos, a vila resistiu e os tupis acabaram fugindo. Fora esses sustos eventuais, a aldeia de Piratininga florescia. José de Anchieta se aplicava em escrever divertidas peças de teatro que encenava para os índios e a formular a gramática da "língua mais usada na costa do Brasil", o tupi-guarani, que seria publicada em Coimbra, em 1595. Era a primeira gramática desde os gregos antigos, escrita por um ocidental, que não se baseava nas regras do latim. Naquela época, não passava pela cabeça dos colonizadores portugueses serem eles os intrusos e invasores das terras indígenas. Os jesuítas estavam ali para salvar aqueles homens da barbárie e reintegrá-los ao reino de Deus.

Foi essa missão que o levou, junto com Manoel da Nóbrega, à experiência talvez mais dramática e definitiva de sua vida. Aos 30 anos, José de Anchieta rumou para Iperoig, hoje Ubatuba, em São Paulo, para negociar com os bravios tamoios, aliados dos franceses. Os índios, defendendo seu território, atacavam as aldeias portuguesas do litoral e os prisioneiros eram simplesmente devorados. Ele passou dois meses numa choça de palha tentando a paz e uma troca de reféns. Quando as negociações chegavam a um impasse, as ameaças de morte começavam. Finalmente Manoel da Nóbrega, doente e coberto de chagas, seguiu para o Rio de Janeiro para enviar os prisioneiros. José de Anchieta se candidatou a ficar como refém.

O cativeiro foi uma dura prova para José de Anchieta. Ali, além de fome, frio e humilhações, pode ter passado pelo crivo da maior tentação: a da carne. Aos prisioneiros que iam ser devorados, os tamoios tinham por costume oferecer a mais bela jovem da tribo. O jesuíta havia feito o voto de castidade, ainda em Coimbra, aos 17 anos.

E seus biógrafos dizem que ele foi fiel a vida inteira. Talvez para fugir das tentações, José de Anchieta escreveu na areia de Iperoig as principais estrofes dos 5.786 versos de um poema em latim contando a história de Maria. E ganhou, aos poucos, a admiração dos tamoios por sua coragem e estranhos costumes. Quando eles ameaçavam devorá-lo, José de Anchieta retrucava com suavidade: "Ainda não é chegado o momento". E dizia a si mesmo, como contou depois, que primeiro deveria terminar o poema à virgem.

Outros relatos asseguram que sua facilidade em levitar e a proximidade com os pássaros, que o rodeavam constantemente, teria assustado os tamoios, que o libertaram finalmente, depois de assegurar a paz. José de Anchieta, humilde, minimizava seus feitos. Quando lhe fizeram notar que os pássaros o cercavam, ele respondeu que eles também costumava voar sobre dejetos. Talvez tenha sido essa subserviente simplicidade que lhe rendeu tamanho respeito entre os índios.

Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara. Foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos em 1567.

Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade.

Após a expulsão dos franceses da Guanabara, José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender em 1559 um refugiado huguenote, o alfaiate Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar "heresias protestantes". Em 1567, Jacques Le Balleur foi preso, e conduzido ao Rio de Janeiro para ser executado, mas o carrasco teria recusado a executá-lo. Diante disso, José de Anchieta o teria estrangulado com suas próprias mãos. O episódio é contestado como apócrifo pelo maior biógrafo de José de Anchieta, o padre jesuíta Hélio Abranches Viotti, com base em documentos que, segundo o autor, contradizem a versão. Investigações históricas, baseadas em documentos da época (correspondência de José de Anchieta e manuscritos de Goa) revelam que o huguenote não morreu no Brasil. Na verdade foi conduzido a Salvador, na capitania da Bahia, e daí mandado a Portugal, onde teve o seu primeiro processo concluído em 1569. Em um segundo processo no Estado Português da Índia, em 1572, foi finalmente condenado pelo tribunal da Inquisição de Goa.

Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória, ES.

Quando morreu, em 09/06/1597, aos 63 anos, na aldeia de Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo, por ele fundada, os índios disputaram com os portugueses a honra de carregar seu corpo até a Igreja de São Tiago. José de Anchieta perambulou pelo litoral paulista, catequizando índios, batizando e ensinando. Reza a lenda que ele costumava abrigar-se para dormir numa pedra, conhecida como "cama de Anchieta" em Itanhaém. São numerosos os testemunhos de sua levitação durante êxtases místicos. Afirmam também que multiplicou alimentos, que comandava os peixes no mar.

Já em 1617, o jesuíta Pêro Rodrigues foi nomeado para escrever sua biografia. Como muitos dos relatos eram apenas de testemunhas oculares e Roma precisaria de provas de um milagre de primeira ordem, para incluir José de Anchieta entre seus 2500 santos. O processo se arrastou durante séculos. Só em 1980 José de Anchieta foi honrado com a beatificação.


Obra

Segundo a "Brasiliana da Biblioteca Nacional" (2001) "o Apóstolo do Brasil", fundador de cidades e missionário incomparável, foi gramático, poeta, teatrólogo e historiador. O apostolado não impediu José de Anchieta de cultivar as letras, compondo seus textos em quatro línguas - português, castelhano, latim e tupi, tanto em prosa como em verso.

Duas das suas principais obras foram publicadas ainda durante a sua vida:

  • "De Gestis Mendi de Saa" ("Os Feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopeia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se assim o primeiro poema brasileiro impresso e, ao mesmo tempo, a primeira obra de José de Anchieta publicada.


  • "Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil" impressa em Coimbra em 1595 por Antonio de Mariz. É a primeira gramática contendo os fundamentos da língua tupi. Apresenta folha de rosto com o emblema da Companhia de Jesus. Desta edição conhecem-se apenas sete exemplares, dois dos quais encontram-se na Biblioteca Nacional do Brasil: o primeiro pertenceu ao imperador Dom Pedro II e o outro é oriundo da coleção de José Carlos Rodrigues. Constituindo-se na sua segunda obra publicada, é ainda a segunda obra dedicada a línguas indígenas, uma vez que, em 1571, já surgira, no México, a "Arte de La Lengua Mexicana y Castellana" de frei Alonso de Molina.


O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, resultando na melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.

Entre suas contribuições culturais, podemos citar as poesias em verso medieval, sobretudo o poema "De Beata Virgine Dei Matre Maria", mais conhecido como "Poema à Virgem", com 4172 versos, os autos que misturavam características religiosas e indígenas, a primeira gramática do tupi-guarani, A Cartilha dos nativos.

Foi o autor de uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro, quando redigiu sua carta de 09/07/1565 ao padre Diogo Mirão, dando conta dos acontecimentos ocorridos ali "no último dia de fevereiro ou no primeiro dia de março" do ano. Nela se encontram os seguintes trechos:

"...logo no dia seguinte, que foi o último de fevereiro ou primeiro de março, começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para cerca, sem querer saber nem dos tamoios nem dos franceses."
"... de São Sebastião, para ser favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso mártir."

A sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.


A Beatificação

Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em junho de 1980 pelo papa João Paulo II. Ao que se compreende, a perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas havia impedido, até então, o trâmite do processo iniciado no século XVII.

Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, que o conheceram, depuseram em seu favor, no seu processo de beatificação. Leonor Leme, matriarca da família Leme paulista, uma das depoentes, disse que "assistiu ela à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta, em 1567, e que ele se confessou depois muitas vezes".

"Todos o tinham por santo publicamente!"
(Leonor Leme)

E Ana Ribeiro, no mesmo processo, declarou que durante algum tempo com ele se confessou em São Vicente. Relatou um milagre acontecido com seu filho, Jerônimo, que então contava 2 anos de idade. Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao padre José de Anchieta, que passava pela sua porta. "Deixe-o ir para o céu", disse José de Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre: nem um sinal!

Narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando José de Anchieta à Vila de São Vicente pediu a Antônio Rodrigues que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Antônio Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a José de Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre José de Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.


O "Caminho de Anchieta"

A sua disposição em caminhar levava a que percorresse, duas vezes por mês, a trilha litorânea entre Iriritiba, e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu.

Modernamente, esse percurso, com cerca de 105 quilômetros, vem sendo percorrido a pé por turistas e peregrinos, à semelhança do Caminho de Santiago, na Espanha.

Indicação: Miguel Sampaio

Luiz Baccelli

LUIZ BACCELLI
(69 anos)
Ator, Dramaturgo, Professor, Historiador e Diretor Teatral

+ São Paulo, SP (13/09/1943)
+ São Paulo, SP (25/02/2013)

Luiz Baccelli foi um ator, dramaturgo, professor, historiador e diretor do grupo teatral Ação Entre Amigos. Nascido em 13 de setembro de 1943, o paulistano Luiz Baccelli participou por mais de 40 anos de projetos de teatro, televisão e cinema. Segundo o site da Escola de Atores Wolf Maya, do qual foi professor, ele fez parte das equipes de novelas como "Top Model", "O Rei do Gado", "Esperança", "Laços de Família", "Celebridades", "A Favorita", "Caminho das índias" e "Araguaia", da TV Globo.

Luiz Baccelli iniciou sua carreira profissional com Antunes Filho, quando entrou para o Grupo de Teatro Macunaíma no final dos anos 60, participando dos espetáculos que percorreram vários países. Desde então, participou de mais de 60 peças como ator e diretor. Como diretor e professor, fez mais de 90 montagens teatrais em escolas. Ele se formou em história pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e também fez o curso do Teatro Suzuki, no Japão. Ganhou o Prêmio Molière de melhor ator por "Xica da Silva". Durante 10 anos fez parte do grupo Tapa/Cia.

Participou de novelas na TV Globo, no SBT, na TV Bandeirantes e na TV Record. Nas últimas novelas da TV Globo das quais participou, Luiz Baccelli interpretou o médico de Max (Lima Duarte) em "Araguaia", o personagem Darcy Queiroz em "A Favorita", e Barat Mugdaliar em "Caminho das Índias". Em 2012, fez uma pequena aparição em "Aquele Beijo".

Segundo Josemir Kowalick, coordenador pedagógico da Escola de Atores Wolf Maya, Luiz Baccelli tinha aulas de interpretação teatral agendadas para este fim de semana. "No semestre anterior, ele deu aulas normalmente. Ele veio até no dia 18/12/2012, na festa de confraternização de fim de ano. Estava feliz com a filha, parecia estar se recuperando", disse Josemir Kowalick.


Morte

Luiz Baccelli morreu na segunda-feira, 25/02/2013, em São Paulo, às 13:30 hs. Segundo o diretor do filme, "E a Vida Continua...", Oceano Vieira de Melo, Luiz Baccelli estava internado na UTI do Hospital São Camilo desde quinta-feira, 21/02/2013, quando teve uma parada cardíaca, decorrente de complicações renais que vinha enfrentando nos últimos meses. Recentemente, o ator descobriu que estava com um câncer no rim.

O velório começou a partir das 22:00 hs de segunda-feira, 25/02/2013, no Cemitério do Araçá, na Avenida Drº Arnaldo. Seu corpo será cremado no Cemitério da Vila Alpina, em Vila Prudente, às 15:30 de terça-feira, 26/02/2013.

Televisão

  • 1995 - Sangue do Meu Sangue ... Cuerro Verde
  • 1995 - As Pupilas do Senhor Reitor ... Joaquim
  • 1998 - Pérola Negra ... Benjamin Weinstein
  • 2000 - Laços de Família ... Drº Cláudio
  • 2001 - Amor e Ódio ... Severiano Cortes
  • 2004 - A Escrava Isaura ... Padre
  • 2006 - Cristal ... Erasmo
  • 2007 - Amazônia, de Galvez a Chico Mendes ... Campelo
  • 2008 - A Favorita ... Darcy Queiróz
  • 2009 - Caminho das Índias ... Barat Mugdaliar
  • 2009 - João Miguel ... Advogado
  • 2010 - Araguaia ... Médico de Max
  • 2011 - Amor e Revolução ... Monsenhor
  • 2012 - Aquele Beijo ... Juiz do julgamento de Olga


Cinema

  • 1998 - Ação Entre Amigos
  • 2001 - Mater Dei
  • 2006 - Os 12 Trabalhos ... Seu Moreira
  • 2012 - E a Vida Continua... ... Ernesto

Fonte: Wikipédia e G1
Indicação: Miguel Sampaio

Caio Prado Júnior

CAIO DA SILVA PRADO JÚNIOR
(83 anos)
Historiador, Geógrafo, Escritor, Político e Editor

* São Paulo, SP (11/02/1907)
+ São Paulo, SP (23/11/1990)

As suas obras inauguraram, no país, uma tradição historiográfica identificada com o marxismo, buscando uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira.

Caio da Silva Prado Júnior nasceu em São Paulo, em 11 de fevereiro de 1907. Proveniente de uma família de políticos e da sociedade nobre paulista, vários parentes seus exerceram papel de destaque na vida político-econômica de São Paulo, como por exemplo, seu avô Martinho Prado Júnior e seus tios-avô Antônio Prado e Eduardo Prado, sendo que os dois primeiros também possuíram mandatos na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo em 1928, onde mais tarde seria livre-docente de Economia Política.

Como intelectual teve importante atuação política ao longo das décadas de 1930 e 1940, tendo participado das articulações para a Revolução de 1930. Decepcionado com a inconsistência política e ideológica da República Nova, aproximou-se do marxismo e filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1931.

Em 12 de agosto de 1931, em São Paulo, nasceu seu filho com Hermínia F. Cerquilho, Caio Graco, que mais tarde conduziu a Editora Brasiliense, fundada pelo pai em 1943.

Publicou, em 1933, a sua primeira obra, "Evolução Política do Brasil", uma tentativa de interpretação da história política e social do país. Após uma viagem à União Soviética em 1933, à época no governo de Stalin, e a alguns países socialistas, alinhados à União Soviética, publicou "URSS - Um Novo Mundo" (1934), edição apreendida pela censura do governo de Getúlio Vargas, que passaria a combater. Ingressou na Aliança Nacional Libertadora (ALN), a qual presidiu em São Paulo.

Em 1934, ano de implantação da Universidade de São Paulo (USP), juntamente com os professores Pierre Deffontaines, Luís Flores de Morais Rego e Rubens Borba de Morais, Caio Prado Júnior participou da fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), primeira entidade científica de caráter nacional.

Em 1942 publicou o clássico "Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia", que deveria ter sido a primeira parte de uma coletânea sobre a evolução histórica brasileira, a partir do período colonial. Entretanto, os demais volumes jamais foram escritos. Neste livro, alcança superar uma prática até então usual na Historiografia brasileira, qual seja, a da anacronia, consistente em se se analisarem os fatos passados sem perder de vista o seu desenlace presente. Caio Prado Júnior, por seu turno, é capaz de analisar os processos históricos a partir do mundo em que se desenvolveram, elaborando o mais completo quadro do Brasil Colônia até então traçado.

Pautando a sua investigação em relatos coetâneos ao período do Brasil Colônia, pinta um retrato sem retoques de um plano geográfico de que se encontram não poucas marcas no Brasil de hoje. O livro "Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia", ao lado de "Casa-Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, e de "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, forma uma tríade inelutável para se alcançar um conhecimento de como funcionam as estruturas sociais do país. Entrementes, em diferenciação a seus pares, Caio Prado Júnior tende a dar as costas a um certo subjetivismo e a um certo tom redentor - apegando-se a evidências e evitando lucubrações simplistas, acaba por elaborar o livro que mais solidamente caracteriza a formação da sociedade brasileira.

Em 1945 foi eleito deputado estadual, como terceiro suplente pelo Partido Comunista Brasileiro e, em 1948 como deputado da Assembleia Nacional Constituinte. Todavia, este último mandato lhe seria cassado em 1948, na sequência do cancelamento do registro do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dirigiu o vespertino A Plateia e, em 1943, juntamente com Arthur Neves e Monteiro Lobato, fundou a Editora Brasiliense, na qual lançou, posteriormente, a Revista Brasiliense, editada entre 1956 e 1964.

Na década de 1950, desenvolveu sua discussão sobre dialética, publicando dois livros: "A Dialética do Conhecimento" (1952) e "Notas Introdutórias à Lógica Dialética" (1959).

Sofreu novas perseguições durante o Regime Militar, após 1964.

Em 1966 foi eleito o Intelectual do Ano, com a conquista do Prêmio Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores, devido à publicação, naquele ano, do polêmico "A Revolução Brasileira", uma análise dos rumos do país após o movimento de 1964.

Caio Prado Júnior faleceu em 23 de novembro de 1990.


As Principais Obras de Caio Prado Júnior

  • 1933 - Evolução Política do Brasil
  • 1934 - URSS - Um Novo Mundo
  • 1942 - Formação do Brasil Contemporâneo
  • 1945 - História Econômica no Brasil
  • 1952 - Dialética do Conhecimento
  • 1953 - Evolução Política do Brasil e Outros Estudos
  • 1954 - Diretrizes Para Uma Política Econômica Brasileira
  • 1957 - Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica
  • 1959 - Introdução à Lógica Dialética (Notas Introdutórias)
  • 1962 - O Mundo do Socialismo
  • 1966 - A Revolução Brasileira
  • 1971 - Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser
  • 1972 - História e Desenvolvimento
  • 1979 - A Questão Agrária no Brasil
  • 1980 - O Que é Liberdade
  • 1981 - O Que é Filosofia
  • 1983 - A Cidade de São Paulo

Fonte: Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino

Cezar Zama

ARISTIDES CEZAR SPÍNOLA ZAMA
(68 anos)
Médico, Político, Escritor e Historiador

* Caetité, BA (19/11/1837)
+ Salvador, BA (20/10/1906)

A rica família Spinola, no município de Caetité, veio a legar diversos expoentes para o Brasil, como Anísio Teixeira, Aristides Spínola, dentre outros. Tendo Rita de Sousa Spínola Soriano se casado em segundas núpcias com o médico italiano Aristide Cesare Zama, natural da cidade de Faenza, região norte da Itália (que teria vindo para o Brasil junto ao colega Libero Badarò), teve com este um único filho: Aristides Cezar Spínola Zama.

Iracundo e galanteador, o médico Aristide Cesare Zama veio logo a granjear inimigos. Mas foi um seu escravo de nome Antônio que, após um castigo, apoderou-se da arma do senhor e, quando este atendia um chamado, assassinou-o. Era o ano de 1840 e tinha Cezar Zama dois anos de idade. Pelo crime foi acusado um carpinteiro, de nome Fiúza, que faleceu em face das torturas recebidas no cárcere. Descoberto o verdadeiro autor, este foi enforcado pelo crime - mas já a revolta havia se instalado na cidade, e foi destruída não somente a forca, mas ainda o pelourinho.

Mudou-se Rita de Sousa com os filhos dos dois casamentos para as Lavras Diamantinas (Lençóis, BA), e Cezar Zama foi enviado para estudar em Salvador.

A Guerra do Paraguai

Cursando o quarto ano da Faculdade de Medicina da Bahia, serviu Cezar Zama nos hospitais de sangue da Guerra do Paraguai, onde encetou a campanha para que também os quartanistas gozassem da promessa de receber o diploma, depois do serviço militar voluntário, tal como havia prometido o Imperador aos quintanistas. Foi sua primeira vitória.

Lutas Políticas - O Verbo Inflamado de Cezar Zama

Cezar Zama tornou-se um dos deputados mais atuantes no Império. Cerrou fileiras entre os abolicionistas e republicanos, em célebres debates que acendiam os ânimos, e demonstravam sua presença de espírito.

Desafiado pelo deputado escravocrata mineiro Valadares, que repudiava seus argumentos em prol da abolição, dizendo-lhe: "Vossa Excelência é médico, então fala com a jurisprudência da medicina", Cezar Zama respondeu:

"Não. Falo com a jurisprudência do Cristo, que pregava serem todos os homens iguais, e como quem tem no escravo um seu semelhante."

Proclamada a República, e atuando despoticamente o marechal Floriano Peixoto, Cezar Zama por diversas vezes o confronta. Torna-se, por conta disto, ferrenho adversário de Ruy Barbosa, a quem denuncia como o grande responsável por crimes contra a nação e povo brasileiro, a exemplo do encilhamento, do voto censitário e da Guerra de Canudos.

Passou a frequentar o Congresso fardado, pois conquistou a patente de coronel, e assim confrontar aquele que passou à História do Brasil como o "General de Ferro".

A inimizade de Ruy Barbosa valeu-lhe bem mais que o discurso "O Jogador", ou a "Resposta a Cezar Zama", bem como a referência irônica de Machado de Assis, solidário a Ruy Barbosa. Este transformou a eleição para o Senado, a que concorria, e de Cezar Zama para a Câmara, em verdadeiro plebiscito, forçando a Bahia a optar entre os dois. Venceu aquele que veio a se tornar o grande nome do Direito no Brasil.

Antes disto, em 1894, Cezar Zama fez o povo de Salvador cercar a residência do governador José Gonçalves da Silva, nomeado pela ditadura que se instalou com a República, pois este emprestara seu apoio ao fechamento do Congresso. Após verdadeira batalha, José Gonçalves da Silva renunciou, e a ditadura aumentou.

Carreira Literária

Afastado de seu mandato, dedicou-se o tribuno à pena. Escreveu em jornais da Bahia e do Rio de Janeiro, quer para lecionar o latim, quer para expressar suas denúncias.

Foi assim que, já sem mandato, publicou o volume "Libelo Republicano" acompanhado de comentários sobre a campanha de Canudos o primeiro livro no Brasil a denunciar o massacre da Guerra de Canudos como "o requinte da perversidade humana", uma guerra onde a instituição criada para defender o povo brasileiro era enviada para assassinar este mesmo povo - como descreveu. Publicado em 1899, menos de um ano após o término das batalhas contra Antônio Conselheiro, ali também reuniu escritos contra os desmandos que Ruy Barbosa capitaneava à frente da economia, além de outros desvios que então se praticavam.

Mas foi como historiador que Cezar Zama teve maior reconhecimento. Desta sua faceta, declarou Pedro Celestino da Silva, que tinha "intuição do passado". Suas principais obras foram:

  • Os Três Grandes Oradores da Antiguidade
  • Os Três Grandes Capitães da Antiguidade

Citações

Algumas frases de Cezar Zama:

"Loucos sempre existiram e existirão: como tal sou qualificado pelos adversários… Felizmente já estou velho e não tardará que encontre no túmulo o esquecimento dos vivos…"
"Bella matribus detestada! Flagelo horrível da humanidade, que a civilização moderna ainda não conseguiu extirpar, maldita guerra! Que chega até a inverter a ordem e as leis da natureza!"
"Quem, como nós, porém, escreve, não uma apologia, mas a história real de um homem, é obrigado a dizer aquilo que em sua convicção é a verdade, luz sempiterna e divina, que todos devem procurar ver."
"Acatamos as leis do país, e ainda mais as leis morais, que, por não serem escritas, não absolvem todavia os seus transgressores da reprovação geral. Se nos submetemos aos abusos, que diariamente se multiplicam entre nós, é porque não temos meios e recursos para reagir contra os seus autores; nunca, porém, abdicaremos o último dos direitos dos vencidos – o de protestar com energia contra os demolidores da pátria e da república."
"Deus fez-nos racional e pensante; exercemos um direito inerente à nossa natureza. Só os vermes toleram ser calcados aos pés sem protestarem."

Homenagens

Cezar Zama é nome de rua em Salvador. No Rio de Janeiro, uma avenida relembra sua figura e uma rua em sua homenagem, no bairro de Lins de Vasconcelos onde se encontra o Hospital Naval Marcílio Dias. Contrastando com o imponente Fórum Ruy Barbosa de Salvador, o maior fórum da Bahia fora da capital, na sua terra natal Caetité, tem o nome de Cezar Zama.

Fonte: Wikipédia

Roberto Simonsen

ROBERTO COCHRANE SIMONSEN
(59 anos)
Engenheiro, Empresário, Político, Historiador e Escritor

☼ Santos, SP (18/02/1889)
┼ Rio de Janeiro, RJ (25/05/1948)

Roberto Cochrane Simonsen era filho de Sidney Martins Simonsen e Robertina da Gama Cochrane Simonsen, esta última de família nobre. Começou a sua educação primária em Santos, depois foi para o Colégio Anglo-Brasileiro, na capital paulista. Mais tarde, ingressou na Escola Politécnica de São Paulo, hoje integrante da Universidade de São Paulo (USP), formando-se engenheiro.

Após formado começou a trabalhar na companhia ferroviária Southern Brazil Railway. Logo saiu para ocupar por dois anos o cargo de diretor-geral de obras na prefeitura de Santos. Ali foi também engenheiro-chefe da Comissão de Melhoramentos de Santos. No ano seguinte fundou a Companhia Construtora de Santos, fato que foi o início de seu ofício de empresário.

Em 1919 iniciou-se na diplomacia, integrando missões comerciais. Graças à sua amizade com o ministro da Guerra no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), Pandiá Calógeras, sua companhia, executou a construção de quartéis para o exército em diversos estados do país.

Participou ativamente do Movimento Constitucionalista Paulista, em 1932, em resistência ao golpe de estado desferido por Getúlio Vargas e outros na Revolução de 1930. Integrou o movimento intelectual pela fundação da primeira escola superior que ofereceria sociologia e política no Brasil, a atual Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou história econômica do Brasil, atividade que o levou a publicar alguns trabalhos acadêmicos sobre o tema.

Em 1933 ingressou na política, sendo eleito deputado constituinte por São Paulo. Exerceu o mandato de deputado federal na legislatura de 1933 a 1937. Quando o país voltou ao regime democrático, após a II Guerra Mundial, elegeu-se senador, cargo que ocupava quando faleceu.

Era, ainda, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e integrante do conselho superior da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Sua atividade empresarial continuava, como presidente da Companhia Construtora de São Paulo e da Cerâmica São Caetano.

Membro de Instituições

Foi membro da Academia Paulista de Letras e Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Instituto Histórico e Geográfico de Santos e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Pertenceu ao Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ao Instituto de Engenharia de São Paulo.

No exterior era membro da National Geographic Society, de Washington, DC, Estados Unidos, da Royal Geographic Society, de Londres, Inglaterra e da Academia Portuguesa de História.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) possui o Instituto Roberto Simonsen. Ele foi, ainda:
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito do Paraguai
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito do Chile
  • Medalha de Prata do Cinquentenário da Proclamação da República
  • Estádio Roberto Simonsen (Estádio do SESI) em Manaus, AM

Academia Brasileira de Letras

Foi eleito a 9 de agosto de 1945 para ocupar a cadeira 3 da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono Artur de Oliveira, como seu segundo ocupante, sendo recebido por José Carlos de Macedo Soares, a 7 de outubro do ano seguinte.

Roberto Simonsen veio a falecer em pleno Salão Nobre da Academia Brasileira de Letras, quando proferia um discurso de saudação ao Primeiro-Ministro belga, Paul van Zeeland, que visitava o país.

Sua produção foi toda voltada para os aspectos econômicos, e à sua atividade no magistério de economia. Publicou Roberto Simonsen os seguintes livros:
  • 1912 - O Município de Santos
  • 1912 - Os Melhoramentos Municipais de Santos
  • 1919 - Gado e a Carne no Brasil
  • 1919 - O Trabalho Moderno
  • 1923 - Calçamento de São Paulo
  • 1928 - A Orientação Industrial Brasileira
  • 1930 - As Crises no Brasil
  • 1931 - As Finanças e a Indústria
  • 1931 - A Construção dos Quartéis Para o Exército
  • 1923 - À Margem da Profissão
  • 1933 - Rumo à Verdade
  • 1934 - Ordem Econômica e Padrão de Vida
  • 1935 - Aspectos da Economia Nacional
  • 1937 - História Econômica do Brasil (2 Volumes)
  • 1937 - A Indústria em Face da Economia Nacional
  • 1938 - Conseqüências Econômicas da Abolição - Conferência promovida pelo Departamento de Cultura no Primeiro Centenário da Abolição. Rio de Janeiro. 'Jornal do Commercio' em 08/03/1938. Reimpressa na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. V. XLVII. P. 257 e Seguintes
  • Discurso Pronunciado na Colação de Grau dos Primeiros Bacharéis em Ciências Políticas e Sociais, SP - Correio Paulistano, 19-12-1937
  • 1938 - Aspectos da História Econômica do Café
  • 1939 - A Evolução Industrial do Brasil
  • 1939 - Objetivos da Engenharia Nacional
  • 1940 - Recursos Econômicos e Movimentos de População
  • 1940 - Níveis de Vida e a Economia Nacional
  • 1941 - As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas
  • 1942 - As Classes Produtoras de São Paulo e o Momento Nacional
  • 1943 - Ensaios Sociais Políticos e Econômicos
  • 1943 - As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas
  • O Plano Marshall e a América Latina, Relatório

Fonte: Wikipédia

Barão de Marajó


JOSÉ COELHO DA GAMA E ABREU
(74 anos)
Político e Historiador

* Belém, PA (12/04/1832)
+ Lisboa, Portugal (25/11/1906)

José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó foi um político, historiador brasileiro e membro da Academia das Ciências de Lisboa.

Filho de um oficial da marinha portuguesa, sua família sofreu muito por causa dos acontecimentos políticos de 1831 a 1835 no Brasil, fazendo com que se refugiassem em Portugal quando ele tinha cinco anos.

Em Lisboa passou sua infância, estudou e fez o curso secundário. Quando completou catorze anos adoeceu e retornou ao Pará. Recuperou a saúde aos dezessete anos e fez nova viagem a Portugal, formou-se em filosofia pela Universidade de Coimbra e também em matemática.

Retornou ao Pará em 1855, tendo lecionado matemática no Liceu Paraense, sido diretor das obras públicas da província do Pará, quanto foi responsável por obras como o Bosque Rodrigues Alves e o Palácio Antônio Lemos.

Foi deputado, presidente da província do Amazonas, de 25 de novembro de 1867 a 9 de fevereiro de 1868 e, depois, presidente da província do Pará de 1879 a 29 de março de 1881, intendente de Belém, hoje prefeito. Devido aos bons serviços prestados a nação recebeu o título de Barão do Marajó.

Escreveu "Do Amazonas ao Sena, Nilo, Bósphoro e Danúbio". "Apontamentos de Viagem", 1874-1876, editado em Lisboa em três tomos de 291, 273 e 284 páginas; "A Amazônia, As Províncias do Pará e Amazonas e o Governo Central do Brazil", Lisboa, 1883, 125p.; "Um Protesto. Respostas às Pretenções da França a Uma Parte do Amazonas, Manifestadas Pelo Mr. Delande", Liboa, 1884, 45p.; 

Fonte: Wikipédia

Marcos Carneiro de Mendonça

MARCOS CARNEIRO DE MENDONÇA
(93 anos)
Historiador, Escritor e Goleiro

* Cataguases, MG (25/12/1894)
+ Rio de janeiro, RJ (19/10/1988)


Dono de reflexos apurados, grande sentido de colocação, estilo clássico e refinado, Marcos Carneiro de Mendonça, com seus 1,87m de altura, também chamava atenção pelo modo elegante como trajava o uniforme tricolor. Sempre ao final das partidas, curiosamente, as roupas do goleiro (camisa e calção brancos, este último preso a cintura com uma fita roxa) ainda estavam praticamente limpas pelo simples fato de estar sempre bem colocado, fato que fazia com que não se atirasse muito ao chão.

Com suas exibições primorosas, Marcos Carneiro de Mendonça acumulou fama e prestígio numa época em que jogar no gol era algo reservado aos menos hábeis coma bola nos pés.

Marcos escolheu a posição na infância, quando teve febre amarela, sarampo, forte infecção intestinal e problemas pulmonares: "Todo mundo me cercava de cuidados, impedindo-me de fazer grandes esforços. Mas eu queria jogar futebol, e achei que no gol seria menos exigido".


Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro goleiro da Seleção Brasileira de Futebol e detem até os dias atuais o título de goleiro mais jovem a ser selecionado, pois tinha 19 anos quando de seu primeiro jogo, contra o Exeter City, da Inglaterra em 21 de Julho de 1914. Foi titular por nove anos, conquistando os campeonatos sul americanos de 1919 e 1922.

Marcos chegou ao Rio de Janeiro aos 6 anos, começou a carreira aos 13 anos no time Haddock Lobo, time da Rua do Bispo, na Tijuca.  com a fusão deste clube ao América F.C. passou a defender o time rubro, onde foi campeão carioca de 1913. Tinha 1,87 m.

Assim como outras dezenas de sócios e atletas do América, descontentes com a diretoria, Marcos se transferiu para o Fluminense em 1914, tendo sido seu goleiro titular até 1922. Em 127 jogos nesse período, sofreu 164 gols e foi tricampeão carioca em 1917/1918/1919. No Fluminense jogou até o fim da carreira, aos 29 anos, quando sofreu séria lesão.

Após encerrar a sua carreira, Marcos trabalhou como historiador e foi presidente do Fluminense, conquistando como dirigente, o bicampeonato carioca em 1940/1941.

Casado com a poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça, pai da crítica teatral Bárbara Heliodora, uma das maiores especialistas em Shakespeare, que escreve semanalmente, coluna no jornal O Globo.

Títulos

  • America-RJ - Campeonato Carioca: 1913
  • Fluminense - Campeonato Carioca: 1917,1918 e 1919
  • Seleção Brasileira - Copa Roca: 1914 e Campeonato Sul-Americano: 1919 e 1922

Fonte Wikipédia

Gilberto Freyre

GILBERTO DE MELLO FREYRE
(87 anos)
Sociólogo, Antropólogo, Historiador, Escritor e Pintor

* Recife, PE (15/03/1900)
+ Recife, PE (18/07/1987)

Gilberto de Mello Freyre foi um sociólogo, antropólogo, historiador, escritor e pintor, considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX.

Filho de Alfredo Freyre juiz e catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife e de Francisca de Mello Freyre. Gilberto Freyre é de família brasileira antiga, descendente dos primeiros colonizadores portugueses do Brasil. Em suas palavras: "um brasileiro que descende de gente quase tôda ibérica, com algum sangue ameríndio e fixada há longo tempo no país". Tem antepassados portugueses, espanhóis, indígenas e holandeses.

Gilberto Freyre iniciou seus estudos frequentando, em 1908, o jardim da infância do Colégio Americano Batista Gilreath, que seu pai havia ajudado a fundar. Teve seu primeiro contato com a literatura por meio de As Viagens de Gulliver. Todavia, apesar de seu interesse, não conseguiu aprender a escrever, fazendo-se notar pelos desenhos. Tomou aulas particulares com o pintor Telles Júnior, que reclama contra sua insistência em deformar os modelos. Começou a aprender a ler e escrever em inglês com Mr. Williams, que elogia seus desenhos.

Em 1909 faleceu sua avó materna, que vivia a mimá-lo por supor que ele tinha problemas sérios de aprendizado, pela dificuldade em aprender a escrever. Ocorreram suas primeiras experiências rurais de menino de engenho, nessa época, quando passa temporada no Engenho São Severino do Ramo, pertencente a parentes seus. Mais tarde escreveu sobre essa primeira experiência numa de suas melhores páginas, incluída em "Pessoas, Coisas & Animais".

Gilberto Freyre estudou na Universidade de Columbia nos Estados Unidos onde conheceu Franz Boas, sua principal referência intelectual. Em 1922 publicou sua tese de mestrado "Social Life In Brazil In The Middle Of The 19th Century" (Vida Social No Brasil Nos Meados Do Século XIX), dentro do periódico Hispanic American Historical Rewiew, Volume 5. Com isto obteve o título Masters Of Arts.

Seu primeiro e mais conhecido livro é Casa-Grande & Senzala, publicado no ano de 1933 e escrito em Portugal. Em 1946, Gilberto Freyre é eleito pela União Democrática Nacional para a Assembléia Constituinte e, em 1964, apoiou o golpe militar que derrubou João Goulart. A seu respeito disse Monteiro Lobato:

"O Brasil do futuro não vai ser o que os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram."

Gilberto Freyre foi também reconhecido por seu estilo literário. Foi até poeta, sendo que o seu poema "Bahia de Todos os Santos e de Quase Todos os Pecados", escrito inspirado por sua primeira visita à cidade de Salvador, impresso em reduzidíssima edição da recifense Revista do Norte, deixou Manuel Bandeira entusiasmado. Tanto que em carta de 4 de junho de 1927, Manuel Bandeira escreveu: "Teu poema, Gilberto, será a minha eterna dor de corno. Não posso me conformar com aquela galinhagem tão gozada, tão senvergonhamente lírica, trescalando a baunilha de mulata asseada. S!" (cf. Manuel Bandeira, Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, v. II: Prosa, p. 1398).

O poema tem três versões: a primeira foi reproduzida por Manuel Bandeira em sua "Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos" (1946), a segunda, modificada pelo autor, foi publicada na revista carioca O Cruzeiro de 20 de janeiro de 1942, e a terceira aparece nos livros "Talvez Poesia" (1962) e "Poesia Reunida" (1980).

Portugal ocupou um lugar importante no pensamento de Gilberto Freyre. Em vários de seus livros, como em "O Mundo Que o Português Criou", "O Luso e o Trópico" demonstra o importante papel que os portugueses tiveram na criação da "primeira civilização moderna nos trópicos". Gilberto Freyre foi um dos pioneiros no estudo histórico e sociológico dos territórios de colonização portuguesa como um todo, chegando mesmo a desenvolver um ramo de pesquisa que denominou de Lusotropicologia.


Ocupou a cadeira 23 da Academia Pernambucana de Letras em 1986. Foi protestante batista, chegando a ser missionário e a frequentar igrejas batistas norte-americanas, quando jovem. Este fato costuma ser ocultado pelos biógrafos e adeptos das teorias de Gilberto Freyre que retornou ao catolicismo posteriormente.

Obras

  • 1933 - Casa-Grande & Senzala
  • 1934 - Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife
  • 1936 - Sobrados e Mucambos
  • 1937 - Nordeste: Aspectos da Influência da Cana Sobre a Vida e a Paisagem…
  • 1939 - Assucar
  • 1939 - Olinda
  • 1940 - O Mundo Que o Português Criou
  • 1941 - A História de um Engenheiro Francês no Brasil
  • 1943 - Problemas Brasileiros de Antropologia
  • 1945 - Sociologia
  • 1947 - Interpretação do Brasil
  • 1948 - Ingleses no Brasil
  • 1957 - Ordem e Progresso
  • 1960 - O Recife Sim, Recife Não
  • 1963 - Os Escravos nos Anúncios de Jornais Brasileiros do Século XIX
  • 1964 - Vida Social no Brasil nos Meados do Século XIX
  • 1968 - Brasis, Brasil e Brasília
  • 1975 - O Brasileiro Entre os Outros Hispanos
  • 1987 - Homens, Engenharias e Rumos Sociais

Prêmios e Títulos

  • 1934 - Prêmio da Sociedade Filipe d'Oliveira, Rio de Janeiro
  • 1957 - Prêmio Anisfield-Wolf, USA
  • 1961 - Prêmio de Excelência Literária, da Academia Paulista de Letras
  • 1962 - Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (conjunto de obras)
  • 1964 - Prêmio Moinho Santista de "Ciências Sociais em Geral"
  • 1967 - Prêmio Aspen, do Instituto Aspen, USA
  • 1969 - Prêmio Internacional La Madonnina, Itália
  • 1971 - Sir - "Cavaleiro Comandante do Império Britânico", distinção conferida pela Rainha da Inglaterra
  • 1972 - Medalha Joaquim Nabuco, Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco
  • 1973 - Troféu Novo Mundo, por "Obras Notáveis em Sociologia e História", São Paulo
  • 1973 - Troféu Diários Associados, por "Maior Distinção Atual em Artes Pláticas"
  • 1973 - Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro
  • 1974 - Medalha de Ouro José Vasconcelos, Frente de Afirmación Hispanista de México
  • 1974 - Educador do Ano, Sindicato dos Professores do Ensino Primário e Secundário em Pernambuco e Associação dos Professores do Ensino Oficial
  • 1974 - Medalha Massangana, Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais
  • 1978 - Grã-Cruz Andrés Bello da Venezela
  • 1978 - Grã-Cruz da Ordem do Mérito dos Guararapes do Estado de Pernambuco
  • 1979 - Prêmio Brasília de Literatura para Conjunto de Obras, Fundação Cultural do Distrito Federal
  • 1980 - Prêmio Moinho Recife
  • 1980 - Medalha da Ordem do Ipiranga do Estado de São Paulo
  • 1984 - Medalha Biblioteca Nacional
  • 1983 - Grã-Cruz de D. Alfonso, El Sabio, Espanha
  • 1983 - Grã-Cruz de Santiago da Espada, Portugal
  • 1985 - Grã-Cruz da Ordem do Mérito Capibaribe da Cidade do Recife
  • 2005 - Vencedor do Prêmio Esso
  • 2008 - Grande Oficial da Legião de Honra, França

Fonte: Wikipédia