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Bartolomeu de Gusmão


BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO
(39 anos)
Sacerdote, Cientista e Inventor

* Santos, SP (1685)
+ Toledo, Espanha (18/11/1724)

Bartolomeu Lourenço de Gusmão, foi um sacerdote secular, cientista e inventor nascido na então colónia portuguesa do Brasil, Capitania de São Vicente, em Santos, jesuíta, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de Passarola. Cognominado "O Padre Voador", é uma das maiores figuras da história da aeronáutica mundial.

Primeiros Anos

Foi batizado com o nome simplesmente de Bartolomeu Lourenço, em 19 de dezembro de 1685, na Igreja Paroquial da vila de Santos pelo padre Antônio Correia Peres. Era o quarto filho de Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Álvares. Mais tarde, em 1718, que adota o apelido de Gusmão em homenagem ao preceptor e protetor jesuita Alexandre de Gusmão.

O casal teria tido ao todo doze descendentes, seis homens e seis mulheres, um dos quais, Alexandre de Gusmão, viria a se tornar importante diplomata no reinado de Dom João V. Já a maioria dos seus irmãos optou ou foi orientada pelos pais a devotar-se à vida eclesiástica, dentre esses, Bartolomeu.

O menino cursou as primeiras letras provavelmente na própria Capitania de São Vicente, no Colégio São Miguel, então o único estabelecimento educacional da região. Prosseguiu os estudos na Capitania da Baía de Todos os Santos. Aí ingressou no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teria início a sua profícua carreira de inventor.

A edificação, situada sobre um monte de cem metros de altura, possuía precário abastecimento de água, que tinha que ser captada e transportada em vasos a partir de um brejo subjacente. Percebendo o problema, Bartolomeu inteligentemente planejou e construiu um maquinismo para levar a água do brejo até o seminário por meio de um cano longo. O invento, testado com absoluto sucesso, foi considerado admirável e de grande utilidade, inclusive pelo próprio reitor e fundador do seminário, o renomado sacerdote Alexandre de Gusmão.

Terminado o curso no Seminário de Belém em 1699, Bartolomeu transferiu-se para Salvador, capital do Brasil à época, e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de ser ordenado, em 1701. Viajou para Portugal, onde chegou já famoso pela memória extraordinária, ficando hospedado em Lisboa, na casa do 3º Marquês de Fontes, que se impressionara com os dotes intelectuais do jovem. Contava ele então com apenas dezesseis anos.

Em 1702, Bartolomeu retornou ao Brasil e deu início ao processo de sua ordenação sacerdotal. Três anos depois ele requereu à Câmara da Bahia a patente para o seu aparelho inventado anos antes - invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar. A patente foi expedida em 23 de março de 1707 pelo rei Dom João V. Foi essa a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro.

Em 1708, já ordenado padre, Bartolomeu embarcou mais uma vez para Portugal. Logo após sua chegada, em 1 de dezembro, matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Passados alguns meses, contudo, abandonou a faculdade para instalar-se em Lisboa, aonde foi recebido com sumo agrado pelo Rei Dom João V e pela Rainha Maria Ana da Áustria, apresentado que fora aos soberanos por um dos maiores fidalgos da Corte, Dom Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes. Esse homem era ninguém menos que o 3º Marquês de Fontes, o mesmo que o havia recolhido à sua casa quando da sua primeira estada em Portugal.

Na capital portuguesa o padre Bartolomeu pediu patente para um "instrumento para se andar pelo ar" - que se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se conhece por aeróstato ou balão -, a qual foi concedida no dia 19 de Abril de 1709. O sacerdote era recém-chegado do Brasil, sua terra natal, onde já era conhecido como inventor. Mas aquela criação era de uma ousadia inédita. Bartolomeu de Gusmão queria voar, e conseguiu. Ele criou um objeto capaz de deslizar pela atmosfera sem apoio nenhum. "Pela primeira vez na história, um aparelho construído pelo homem venceu a gravidade", disse Araguaryno Cabrero dos Reis, brigadeiro reformado da Força Aérea Brasileira.

Anos antes, ao examinar o comportamento de uma chama, não se sabe se de uma vela ou fogueira, Bartolomeu de Gusmão percebeu que o ar quente podia elevar pequenos objetos. Por falta de documentos históricos, é difícil saber como tudo realmente ocorreu. Especula-se que a descoberta tenha se dado quando uma pequena bolha de sabão, ao passar sobre uma vela, foi fortemente jogada para as alturas. O fenômeno pode ter ocorrido ainda com pedaços de papel que, queimados, transformaram-se em fuligem e ascenderam. Foi isso que inspirou o padre a projetar o primeiro aeróstato, um aparelho parecido com nosso balão de São João.

Bartolomeu de Gusmão (Benedito Calixto)
As Experiências Com Balões

Em agosto, finalmente, Bartolomeu de Gusmão fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas dimensões construídos por ele: na primeira, realizada no dia 3 na Casa do Forte, Palácio Real, o protótipo utilizado pegou fogo antes de subir; na segunda, feita no dia 5 noutra dependência do palácio, a Casa Real, o aeróstato, provido no fundo duma tigela com álcool em combustão, se elevou a 4 metros, quando começou a arder ainda no ar, sendo imediatamente derrubado por dois serviçais armados de paus, receosos de um incêndio aos cortinados do recinto; na terceira, feita no dia 6 novamente na Casa do Forte, o balão, contendo no interior uma vela acesa, logrou fazer um vôo curto, mas se queimou no pouso; na quarta, feita no dia 7 no Terreiro do Paço, hoje Praça do Comércio, o balonete elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois; na quinta, feita no dia 8 na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o globo subiu até o teto do aposento, aí se demorando, quando enfim desceu com suavidade.

Em 3 de outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os anteriores, mas ainda incapaz de carregar um homem. A experiência teve êxito absoluto: o aeróstato subiu alto, flutuou por um tempo não medido e pousou sem estrépito.

Cinco testemunhas registraram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador Antônio Ferreira, portugueses.

Em 1843 o escritor Francisco Freire de Carvalho disse haver tomado conhecimento, por intermédio de um ancião chamado Timóteo Lecussan Verdier, de uma outra experiência aerostática, assistida pelo diplomata português Bernardo Simões Pessoa, em que o balão partiu da Torre de São Roque e caiu junto à Costa da Cotovia por detrás do Jardim São Pedro d’Alcântara. Segundo Francisco Freire de Carvalho, Timóteo Lecussan Verdier, por sua vez, assegurava que o relato da ascensão lhe fora transmitido pelo próprio Bernardo Simões Pessoa em tempos muito anteriores ao ano de 1783, quando dos primeiros vôos de balões na França.

Lamentavelmente, todas essas experiências, embora assistidas por ilustres personalidades da sociedade portuguesa da época, não foram suficientes para a popularização do invento. Os pequenos balões exibidos, além de não haverem sido encarados como inovação importante ou útil, por serem desprovidos de qualquer tipo de controle - eram levados pelo vento -, foram considerados perigosos, pois podiam, como se vira, provocar incêndios. Esses fatores desestimularam a construção de um modelo grande, tripulável.

O anúncio sobre a tal máquina de voar inquietou a sociedade de Lisboa no verão de 1709. Em 3 de agosto, Bartolomeu de Gusmão mostrou à família real, fidalgos e autoridades eclesiásticas do que era capaz a sua engenhoca. Durante a primeira tentativa, os ilustres convidados esperavam impacientes na sala de audiências do Palácio, quando veio a frustração. Vítima de suas próprias chamas, o pequeno balão de papel cheio de ar quente foi queimado antes de alçar vôo. O segundo ensaio teria ocorrido dois dias depois. Ansiosa, a platéia da ocasião teve mais sorte: o globo de menos de meio metro de comprimento subiu pouco mais de quatro metros. Alguns criados do Palácio, preocupados com a possibilidade de o invento incendiar as cortinas, lançaram-se contra o balão para que ele não alcançasse o teto.

O mérito de Bartolomeu de Gusmão foi reconhecido somente na terceira tentativa. Dessa vez, no pátio do Palácio, perante o Rei de Portugal, Dom João V, e a Rainha, Dona Maria Anad, o aeróstato ganhou os ares. Ergueu-se lentamente, indo cair, quando esgotada sua chama, no terreiro da casa real. A inédita máquina mais leve do que o ar impressionou o público, mas não cumpriu sequer metade das façanhas que Bartolomeu de Gusmão prometera a Dom João V.

Em seus pedidos de patente, ele anunciava feitos fantásticos. Dizia que sua invenção facilitaria a descoberta de novas terras, fazendo "da nação portuguesa a glória deste descobrimento". Afirmava tratar-se "de um instrumento para se andar pelo ar, da mesma sorte que pela terra e pelo mar, e com muita brevidade, fazendo-se muitas vezes duzentas e mais léguas de caminho por dia". Azar de Bartolomeu de Gusmão. A Corte não estava preocupada com a ciência. Eles queriam era ganhar dinheiro com ouro e ter uma vida suntuosa, diz Henrique Lins de Barros, pesquisador da história da aviação e autor do livro Santos Dumont: O Homem Voa!

"Passarola" - Original no acervo da Torre do Tombo, em Lisboa

A Passarola

Embora não tenha surpreendido os portugueses, o aeróstato aguçou o imaginário do restante da Europa. A notícia que se espalhou rapidamente foi de que um padre havia voado nos ares de Lisboa. A máquina ganhou proporções mitológicas e ficou conhecida, a partir daí, como Passarola. O nome se deve a um desenho apócrifo que surgiu na época. A imagem representava o aeróstato em forma de um pássaro, com uma cabeça de águia e cercado por instrumentos científicos. A ilustração trazia ainda o próprio Bartolomeu de Gusmão a bordo, como se ele tivesse voado dentro de seu engenho. Suspeita-se que o próprio "Padre Voador", que na realidade nunca voou, seria o autor do desenho, junto com seu discípulo e amigo Conde de Penaguião. Uma brincadeira de rapazes, com a qual eles pretendiam despistar possíveis interessados em copiar o experimento de Bartolomeu de Gusmão.

Prova disso é que o desenho da Passarola não mostrava a fonte térmica responsável pela subida do balão, característica imprescindível para que o invento funcionasse. "Ele não dá a chave do problema, que é a fonte de calor, e ainda se coloca dentro do invento. É possível que tenha feito isso para esconder os segredos de sua descoberta", afirma Lins de Barros. Em função da imagem fantasiosa, diversos historiadores europeus e norte-americanos situaram Bartolomeu de Gusmão como um dos muitos precursores da aeronáutica cujos trabalhos não possuíam nenhuma base científica. Depois das especulações desastrosas, ele abandonou completamente seu projeto.


As primeiras ilustrações da Passarola haviam sido na verdade elaboradas pelo filho primogênito do 3º Marquês de Fontes, Dom Joaquim Francisco de Sá Almeida e Meneses, com a conivência de Bartolomeu de Gusmão. O 8º Conde de Penaguião e futuro 2º Marquês de Abrantes contava 14 anos em 1709 e era, então, aluno de matemática do padre, sendo a única pessoa à qual ele permitia livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado. Como o rapaz vivesse assediado por curiosos, que constantemente lhe faziam indagações acerca da invenção, resolveu ele, para deixar de ser importunado, elaborar o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção – o Princípio de Arquimedes –, atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, que era então a resposta para quase todos os mistérios científicos. Esperava dessa maneira melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e ludibriar os bisbilhoteiros. Comunicou o plano a Bartolomeu de Gusmão, que o aprovou, e fingiu deixar o desenho escapar por descuido. A Passarola, inspirada ao que parece na fauna fabulosa de algumas lendas do Brasil, acabou sendo rapidamente copiada, logo se espalhando pela Europa em várias versões, para grande riso dos dois embusteiros.

Toda essa trama seria descoberta anos depois por um poeta italiano, Pier Jacopo Martello (1625 - 1727), e revelada por ele na edição de 1723 do livro Versi e Prose, em que fazia um longo e meticuloso histórico das tentativas do homem para voar, das mais antigas às mais recentes daquele tempo.

A Inquisição

Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Em 1713 registrou na Holanda o invento de uma "máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar", patente que só veio a público em 2004 graças a pesquisas realizadas pelo arquivista e escritor brasileiro Rodrigo Moura Visoni).

Viveu em Paris, trabalhando como ervanário para se sustentar, até que encontrou seu irmão Alexandre de Gusmão, secretário do embaixador de Portugal na França.

O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos, foi obrigado a fugir para a Espanha, no final de setembro de 1724, com um seu irmão mais novo, Frei João Álvares, pretendendo chegar à Inglaterra.

Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu de Gusmão ter-se-ia convertido ao judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser considerado com cautela, mostra, segundo Joaquim Fernandes, aspectos místicos, messiânicos e megalômanos do "Padre Voador".

Família Influente

Um dos motivos para Bartolomeu de Gusmão ter boas relações com a realeza estava na proximidade com seu irmão Alexandre de Gusmão, homem de confiança do rei Dom João V. Alexandre auxiliou o rei durante as negociações do Tratado de Tordesilhas, que definiu as áreas do Novo Mundo entre Espanha e Portugal.

Inventor Incansável

Além do balão e da bomba elevatória de água, Bartolomeu de Gusmão inventou uma forma de drenar embarcações – a criação foi definida na época como um "processo para esgotar água sem gente, dos navios alagados". Anos depois, na Holanda, ele também criou um sistema de lentes para assar carne ao sol.

Herdeiros do Padre

Foi só 74 anos depois da criação do padre brasileiro, que um balão tripulado alcançou o céu com sucesso. Depois de seis anos de pesquisas e experiências, os irmãos franceses Joseph Michel e Jacques Étienne Montgolfier conseguiram, em 4 de junho de 1783, na cidade de Annonay, voar dois quilômetros, a uma altitude máxima de 2 mil metros.

Morte

Em Toledo, Espanha, Bartolomeu de Gusmão adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.

Fonte: WikipédiaGuia do Estudante

Augusto Severo

AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO
(38 anos)
Político, Jornalista, Inventor e Aeronauta

☼ Macaíba, RN (11/01/1864)
┼ Paris, França (12/05/1902)

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi o oitavo dos quatorze filhos do pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e da paraibana Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-1893). Realizou seus estudos primários em Macaíba, e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador, BA. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.

Os Primeiros Projetos Aeronáuticos

Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza, que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Augusto Severo passou a se interessar pelo vôo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou Albatroz.

Em 1882, passou a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, acumulando a função de vice-diretor. No ano seguinte o ginásio fechou e Augusto Severo dedicou-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos de seu irmão Adelino, associou-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora até 1892.

Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem teve cinco filhos. No ano seguinte passou a escrever artigos para o jornal A República, anti-monárquico, do irmão Pedro Velho e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, que, porém, nunca chegou a ser construído.

Política

Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Drº Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte.

A passagem de Augusto Severo pelo parlamento brasileiro ficou assinalada por muitos projetos que viraram leis no país, por trabalhos importantíssimos nas comissões de orçamento, de tarifas, de marinha, sobretudo nesta, onde revelou conhecimentos náuticos que o fizeram autoridade na matéria, chegando muitas vezes a ser apontado para o cargo de ministro da marinha, com o aplauso da ilustre corporação da armada nacional. Defendeu projetos relativos ao saneamento público, assistência à infância, proteção aos operários dos arsenais.

O Bartholomeu de Gusmão sendo experimentado em 7 de março de 1894, no Realendo, RJ.
O Dirigível Bartholomeu de Gusmão

Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de abalizados professores da Escola Politécnica, concedeu o Governo um auxílio pecuniário para que Augusto Severo pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente.

O dirigível Bartolomeu de Gusmão introduzia um conceito novo. Era um aparelho semirrígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões. Numa carta escrita da França e datada de 5 de dezembro de 1892, Augusto Severo explicou os princípios da aeronave:

"Estabeleceu como princípio a ciência que a navegação aérea dependia da possibilidade de se obter a justaposição dos centros de tração e resistência. Com efeito, produz esta justaposição uma diminuição considerável de resistência e faz desaparecerem as rotações perturbadoras do movimento do aeróstato, rotações que se dão quando a força propulsiva não se acha colocada sobre a resultante das resistências desenvolvidas. Ora, foi essa justaposição que consegui obter no meu aeróstato. As características do meu invento, denominado 'Sistema Potiguarânia', são estas:

. Os meios empregados para fazer coincidir a força de propulsão com a resultante das resistências, pela combinação de um aeróstato, de forma ovóide, e de uma carcaça sólida, de metal ou de qualquer outra matéria, cuja haste superior se vá apoiar no fundo de um bolso, feito em todo o comprimento do aeróstato, e que sustenta, de um lado a hélice, e posto no prolongamento da referida haste, e do outro a barquinha e os demais órgãos.

. A disposição especial do leme, também sustentado pela carcaça sólida, e formado de duas asas que, na ocasião da subida do aeróstato, ficam verticalmente para não dificultarem a ascensão. Estou inteiramente convencido de que governarei o meu 'Bartholomeu Dias' [sic] com uma velocidade de 15 a 20m/s, podendo aumentá-la até 50m/s. O meu sistema já está privilegiado em França. Conto chegar ao Rio em fevereiro para fazer aí a primeira experiência pública do meu invento."

O balão, de cerca de 2.000m3, medindo 60m de comprimento, chegou ao Brasil em março de 1893. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída no campo de tiro de Realengo, Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio. A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Augusto Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o vôo.

Só em 1894 o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Augusto Severo era adequada para o vôo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. Este problema, conhecido como tangagem, comprometia o equilíbrio e reduzia substancialmente a velocidade. Mas no único vôo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não aguentou os esforços e se partiu.

Novos Inventos

Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, pediu patente para um "turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas", concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Augusto Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos.

Em 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Augusto Severo patenteou um novo balão dirigível, o Paz, posteriormente o nome foi latinizado para Pax, e em 23 de julho de 1901, uma "máquina a vapor rotativa e reversível", com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.

O Dirigível Pax

Em fins de 1901, Augusto Severo licenciou-se da Câmara para se dedicar à construção do novo dirigível que inventou, o Pax. Este novo dirigível era um desenvolvimento do seu anterior, o Bartholomeu de Gusmão, e Augusto Severo introduziu uma grande quantidade de inovações: abandonou o leme de direção e introduziu ao todo sete hélices: uma na popa, outra na proa, outra na barquinha e quatro laterais. Manteve a sua ideia de se fazer uma aeronave integrando a quilha que levava os tripulantes e o grupo motor ao balão. Sem ter conseguido qualquer auxílio externo,Augusto Severo  teve que assumir toda a despesa para a construção. Pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que ele optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24v e o outro com 16cv. O invólucro tinha a capacidade de 2.500m³ de hidrogênio, com 30m de comprimento e 12 no maior diâmetro. O aparelho pesava cerca de duas toneladas. Os ensaios foram realizados nos dias 4 e 7 de maio de 1902 com sucesso.

Santos Dumont (E), Augusto Severo (C) e o mecanico Georges Sachê (D) pouco antes do início da ascenção do PAX.
Morte

No dia 12 de maio de 1902, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax iniciou seu voo às 5h30min saindo da estação de Vaugirard, Paris. Elevou-se rapidamente atingindo cerca de 400 metros. Realizou diversas evoluções que mostraram aos inúmeros espectadores que as ideias de Augusto Severo estavam corretas. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo.

Augusto Severo e Georges Saché morreram na queda. Os restos do dirigível caíram na Avenida du Maine, Paris, diante de uma grande multidão que seguia com interesse a demonstração. A catástrofe do Pax teve um impacto enorme. Natália, que assistiu a queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos 30 anos de idade. A configuração proposta por Augusto Severo, de um dirigível semi-rígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.

No dia 18 de setembro de 1904, foi inaugurado, no Cemitério São João Batista, o monumento para a sepultura daquele que pagou com a vida o seu intenso amor e pressa na tentativa de resolver o problema da navegação aérea: Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.

O aeroporto de Natal, Rio Grande do Norte, tem o nome de Aeroporto Internacional Augusto Severo em homenagem a Augusto Severo de Albuquerque Maranhão. O aeroporto foi construído durante a Segunda Guerra Mundial com a finalidade de preparar uma base para operações de uma unidade tática de envergadura, a fim de enfrentar qualquer ameaça à segurança do hemisfério ocidental, servindo de base de apoio às forças aliadas. Durante o conflito mundial, o Aeroporto Augusto Severo foi o aeroporto mais movimentado do mundo.

Fonte: Wikipédia

André Rebouças

ANDRÉ PINTO REBOUÇAS
(60 anos)
Engenheiro, Inventor e Abolicionista

* Cachoeira, BA (13/01/1838)
+ Funchal, Ilha da Madeira (09/05/1898)

André Pinto Rebouças nasceu em plena Sabinada, a insurreição baiana contra o governo regencial. Seu pai era Antônio Pereira Rebouças, um mulato autodidata que obteve o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e foi conselheiro do Império. Sua mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha do comerciante André Pinto da Silveira.

André tinha sete irmãos, sendo mais ligado a Antônio, que se tornou seu grande companheiro na maioria dos seus projetos profissionais. Em fevereiro de 1846, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. André e Antônio foram alfabetizados por seu pai e freqüentaram alguns colégios até ingressarem na Escola Militar.

Em 1857 foram promovidos ao cargo de segundo tenente do Corpo de Engenheiros e complementaram seus estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859 e obteve o grau de engenheiro militar no ano seguinte.

Os dois irmãos foram pela primeira vez à Europa, em viagem de estudos, entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862. Na volta, partiram como comissionados do Estado brasileiro para trabalhar na vistoria e no aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.


Na Guerra do Paraguai, André serviu como engenheiro militar, nela permanecendo entre maio de 1865 e julho de 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde. Passou então a desenvolver projetos com seu irmão Antônio, na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização do país.

As obras que André realizou como engenheiro estavam ligadas ao abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, às Docas Dom Pedro II e à construção das Docas da Alfândega, onde permaneceu de 1866 até a sua demissão, em 1871.

Paralelamente, André dava aulas, procurava apoio financeiro para Carlos Gomes retornar à Itália, debatia com ministros e políticos por diversas leis. Foi secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. Atuou como membro do Clube de Engenharia e muitas vezes foi designado para receber estrangeiros, por falar inglês e francês.

Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos aqui, para concorrerem no mercado internacional. Foi responsável ainda pela seção de máquinas e aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.


Na década de 1880, André Rebouças se engajou na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Entre setembro de 1882 e fevereiro de 1883, André Rebouças permaneceu na Europa, retornando ao Brasil para dar continuidade à campanha. Mas o movimento militar de 15 de novembro de 1889 levou André a embarcar, juntamente com a família imperial, com destino à Europa.

Por dois anos, ele permaneceu exilado em Lisboa, como correspondente do The Times de Londres. Transferiu-se, então, para Cannes, na França, até a morte de Dom Pedro II.

Em 1892, com problemas financeiros, aceitou um emprego em Luanda, Angola, onde permaneceu por 15 meses. Fixando-se em Funchal, na Ilha da Madeira, a partir de meados de 1893, seu abatimento intensificou-se.

Cometeu suicídio no dia 9 de maio de 1898, e seu corpo foi resgatado na base de um penhasco, próximo ao hotel em que vivia.