Mostrando postagens com marcador Marinheiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marinheiro. Mostrar todas as postagens

João Cândido

JOÃO CÂNDIDO FELISBERTO
(89 anos)
Militar

* Encruzilhada do Sul, RS (24/06/1880)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/12/1969)

João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante Negro", foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910).

Nasceu em 24/06/1880, na então Província, hoje Estado, do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada, hoje Encruzilhada do Sul, na Fazenda Coxilha Bonita que ficava no vilarejo Dom Feliciano - o quinto distrito do Município Encruzilhada, que havia sido distrito de Rio Pardo até 1849.

Filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, apresentou-se, ainda com treze anos, em 1894, na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar, que assim o encaminhava àquela escola.

Em 1895 conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, como grumete, para a Marinha do Brasil, na capital, a cidade do Rio de Janeiro.

Desse modo, nos anos 1890, época, em que a maioria dos marinheiros era recrutada à força pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil em Janeiro de 1895, aos 14 anos de idade, ingressando como grumete a 10/12/1895.

Em depoimento para a Anamnese do Hospital dos Alienados em abril de 1911 e para a Gazeta de Notícias de 31/12/1912, João Cândido afirmou ter sido soldado do general Pinheiro Machado, na Revolução Federalista, em 1893, portanto antes de entrar para a escola de aprendizes do Arsenal de Guerra de Porto Alegre.

Teve uma carreira extensa de viagens pelo Brasil e por vários países do mundo nos 15 anos que esteve na ativa da Marinha de Guerra (17 anos, se contar os 2 anos de prisão, após a Revolta). Muitas delas foram viagens de instrução, no começo recebendo instrução, e depois dando instrução de procedimentos de um navio de guerra para marinheiros mais novos e oficiais recém-chegados à Marinha.

A partir de 1908, para acompanhar o final da construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro, centenas de marinheiros foram enviados à Grã-Bretanha. Em 1909 João Cândido também para lá foi enviado, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905, reivindicando melhores condições de trabalho e alimentação, a Revolta do Encouraçado Potemkin, que virou filme do diretor Sergei Einsenstein em 1925.

Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa indicada para liderar a revolta, na opinião dos demais líderes do movimento.

João Cândido, o Almirante Negro
O Movimento dos Marinheiros da Marinha de Guerra

O uso da chibata como castigo na Marinha brasileira já havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, o decreto número 3, de 16/11/1889, assinado pelo então presidente marechal Deodoro da Fonseca. Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais da Marinha de Guerra do Brasil. Num contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Entre os marinheiros, insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais, crescia o clima de tensão.

Já em 1893, na canhoneira Marajó, um contingente de marinheiros havia se revoltado contra o excesso de castigos físicos, exigindo a troca do comandante que abusava da chibata e outros suplícios. Na época, ainda não queriam o fim da chibata, mas a troca do comandante do navio, para evitar abusos. Definitivamente, não era normal receber chibatadas. E, para piorar, os oficiais extrapolavam o limite de próprio regimento da Marinha, baseado num decreto que nunca foi publicado no Diário Oficial, que estabelecia a criação de Companhias Correcionais que poderiam indicar a punição de até 25 chibatadas, mesmo após a Abolição da Escravatura.

Ainda na Grã-Bretanha, e depois, ao retornarem ao Brasil, os marinheiros que lá estiveram para acompanhar a construção dos Encouraçados Minas Gerais e São Paulo, e do Cruzador Bahia, iniciaram um movimento conspiratório com vistas a tomar uma atitude mais efetiva no sentido de acabar com a chibata na Marinha de Guerra do Brasil.

As eleições presidenciais de 1910, embora vencidas pelo candidato situacionista marechal Hermes da Fonseca, expressaram o descontentamento da sociedade com o regime vigente, além das denúncias de fraude e violação de urnas nos bairros em que ele não tinha maioria de simpatizantes. O candidato oposicionista, Ruy Barbosa, realizou intensa campanha eleitoral, reforçando a esperança de transformações do povo brasileiro.

Esgotadas as tentativas pacíficas e propositivas dos marinheiros, incluindo uma audiência de João Cândido no Gabinete do presidente anterior, Nilo Peçanha, e na presença do ministro da marinha, Alexandrino de Alencar sem qualquer providência efetiva para o fim dos castigos físicos, os marinheiros decidiram que iriam fazer uma sublevação, uma revolta pelo fim do uso da chibata em 25/11/1910. Inicialmente os comitês revolucionários pensaram no dia 14, depois dia 15, depois 19, e por fim fixaram o dia 25.

Entretanto, menos de uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido a 21/11/1910 com 250 chibatadas, que não se interromperam nem mesmo com o desmaio do mesmo, conforme noticiado pelos jornais da época, aplicadas na presença de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais, nau capitânia da nova Esquadra. Este fato antecipou a data programada de 25 para 22/11/1910. Seria na noite deste dia porque o comandante do Navio Minas Gerais, o capitão João Batista das Neves, dormiria fora do navio, e então os marujos tomariam posse das armas, dominariam os oficiais em seus camarotes, e teriam o controle do navio mãe, e depois de todos os demais que estavam na Bahia da Guanabara.

Entretanto o comandante Batista das Neves voltou mais cedo do que eles esperavam, e um marinheiro mais descontrolado partiu para cima do oficial de serviço, pois não queria mais o adiamento da revolta. O comandante ouviu os barulhos, assim como os outros oficiais e todos foram para o convés. Mesmo aconselhado pelo marinheiro Bulhões a se abrigar, Batista das Neves, se recusou a sair dali, e disse que não sairia de bordo do navio, insistindo em tentar fazer os marinheiros formarem e obedecerem às suas ordens.

Os marinheiros já muito exaltados, ao ver que o comandante feriu um dos marinheiros, começaram a jogar objetos nele, e por fim um marinheiro deu um tiro na cabeça dele. Morreram no Minas Gerais além do comandante, mais dois oficiais (tenente para cima) e 3 marinheiros (sargento para baixo, na simplificação usual). Durante os combates morreram mais um oficial e um marinheiro no Navio Bahia, revoltados sob responsabilidade do marinheiro Francisco Martins, e um oficial no Navio São Paulo, sob responsabilidade do marinheiro Manoel Nascimento.

Terminados os combates, João Cândido, um dos chefes das reuniões conspiratórias, que atuou ao lado de Vitalino Ferreira na revolta do Minas Gerais, é indicado pelos demais líderes como o comandante-em-chefe de toda a esquadra revoltada, inicialmente composta por 6 navios, e depois concentrando as guarnições em 4, entre eles os dois encouraçados fabricados na Inglaterra, considerados os mais potentes do mundo à época: Minas Gerais e São Paulo.

Marinheiros durante a Revolta da Chibata, com João Cândido ao centro (1910)
Revolta da Chibata

No dia 22/11/1910, João Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra revoltada, controla o motim, faz cessar as mortes, e envia radiogramas pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro.

Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam:

"Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira"

A rebelião terminou com o compromisso do Governo Federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 27/11/1910, o governo promulgou em 28/11/1910 um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco, o que era um nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de anistia aprovada no dia 25/11/1910 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme publicação no diário oficial de 26/11/1910, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.

João Cândido sendo escoltado
Expulsão da Marinha

Pouco tempo depois do decreto que quebrou a anistia e de boatos de que o Exército iria se vingar dos marinheiros, houve a eclosão de um novo motim entre os fuzileiros navais, ligados à Marinha, no quartel da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 09/12/1910. Não tinha ligação com a Revolta da Chibata, exceto que ali na ilha estavam algumas dezenas de marinheiros participantes da revolta presos apesar de anistiados.

A "segunda revolta" nada exigia, não tinha qualquer organização, baseava-se em boatos de que o Exército atacaria a qualquer momento navios e batalhão naval como resposta à vergonha que significou a revolta para o governo de Hermes da Fonseca.

Durante o dia 10/12/1910, o motim foi reprimido pelas autoridades, Marinha e Governo, com um bombardeio implacável sobre pouco mais de duas centenas de amotinados ilhados (na Revolta da Chibata eram 2.379 homens, 3 encouraçados e um cruzador, alvos móveis e fortemente armados), e serviu de justificativa para Hermes da Fonseca demandar e obter do Senado aprovação do Estado de Sítio (Lei Marcial) neste mesmo dia. João Cândido chegou a ordenar tiro de canhão sobre os marinheiros-fuzileiros amotinados na Ilha das Cobras para provar sua lealdade ao governo. Mas de nada adiantou. Com o estado de sítio, centenas de marinheiros foram dados como mortos ou desaparecidos e 2000 marinheiros foram expulsos da Marinha. Onze foram fuzilados a bordo do Navio Satélite, que levava 105 marinheiros rebeldes para serem jogados nos seringais do Acre, destino dos 96 que lá ainda chegaram vivos.

Apesar de não haver participado da conspiração, se é que houve, deste segundo levante, João Cândido foi expulso da Marinha, sob a falsa acusação de ter favorecido os fuzileiros rebeldes. Foi preso em 13/12/1910 no quartel do exército, e transferido no dia 24/12/10 para uma masmorra, a cela 5, na Ilha das Cobras, onde 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados.

De seu depoimento ao jornal Gazeta de Notícias e outras fontes, descobriu-se que 29 marinheiros e fuzileiros navais foram submetidos ao cal em 2 celas da Ilha das Cobras. Numa cela, morreram 16 e na outra cela, morreram mais 2.

Em abril de 1911 foi transferido para o Hospital dos Alienados, como louco, mas recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com nove companheiros. À época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.

De acordo com a sua ficha, nos 15 anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. A sua ficha registra ainda dez elogios por bom comportamento nos últimos três meses antes da revolta.

A sua vida pessoal foi profundamente abalada pelo suicídio de sua segunda esposa em 1928. Em 1930 foi novamente detido, acusado de subversão.


Adesão ao Integralismo

Em 1933 foi convidado e aderiu à Ação Integralista Brasileira, movimento nacionalista de direita inspirado no fascismo italiano fundado em 1932 pelo escritor Plínio Salgado, chegando a ser o líder do núcleo Integralista da Gamboa, bairro portuário da cidade do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao historiador Hélio Silva, gravada em 1968 e arquivada no Museu da Imagem e do Som (MIS), João Cândido declarou manter sua amizade com Plínio Salgado e de ter orgulho em ter sido integralista. O Integralismo permitia que mulheres e negros se filiassem ao partido, no que se diferenciava do nazismo.

João Cândido, que era sobretudo um ex-militar que sonhava voltar à Marinha de Guerra, foi muito assediado por parte de oficiais da Marinha para que fizesse parte do Movimento Integralista, com a promessa de reintegrá-lo. Muitas personalidades na época aderiram ao Integralismo: o líder negro Abdias do Nascimento e o bispo Dom Hélder Câmara são dois exemplos.


Orientação Sexual

Em 1949, num artigo de jornal, no Diário de Notícias, o almirante Alencastro Graça escreveu:

"João Cândido, indivíduo de poucas prendas e até inócuo, solicitando dinheiro aos oficiais a troco de lavar-lhes a roupa, o que obstava que sofresse, por vezes, castigos corporais pelos vícios de pederastia e alcoolismo e aceitando, posteriormente, coagido, a direção do movimento revolucionário, para assistir impassível ao massacre dos antigos benfeitores, sob o controle dos verdadeiros cabeças."

Convidado a responder ao ataque público na grande imprensa, João Cândido limitou-se a dizer:

"Contestá-lo? Como, se não tenho as letras do almirante? O galho quebra sempre do lado mais fraco. Há anos que sou espezinhado!"

Portanto, assim como o jornalista-historiador Edmar Morel muito responsavelmente fez em 1959, primeira edição do livro "A Revolta da Chibata", é importante deixar o registro, e o benefício da dúvida. Além do mais, nos dias de hoje, censurar o assunto, ou julgar João Cândido por ele ter tido ou não alguma experiência homossexual é completamente fora de propósito.

Perdura, portanto, certa controvérsia sobre a vida particular de João Cândido, precisamente no que toca à sua orientação sexual. As referências bibliográficas revelam autores que fazem ilações para o benefício de suas próprias teses. Uma análise ponderada sobre o assunto é feita pelo historiador José Murillo de Carvalho em artigo na "Revista de História" editada pela Biblioteca Nacional, que conclui:

"Os bordados revelam ainda que, do fundo de sua dor, João Cândido retirava corações, flores, borboletas, beija-flores. Em sua forma ingênua e espontânea, em seu rico simbolismo, as toalhas de São João del Rei nos bordam um João Cândido maior do que o construído por seus detratores e mais autêntico e humano do que o mito em que o pretendem transformar seus admiradores."

Devido a ser figura controversa para a alta oficialidade militar, apesar do almirante negro ter se casado oficialmente duas vezes e gerado doze filhos de quatro mulheres, há quem buscasse detalhes de sua vida pessoal tentando ligá-lo à prática homossexual, como algo desabonador, num tempo em que a homossexualidade era tida como tal.


Morte

Discriminado e perseguido pela Marinha até ao fim de sua vida, se recolheu no município de São João de Meriti, RJ, onde veio a se aproximar da Igreja Metodista do Brasil. Ali em sua casa passou mal e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na capital do estado do Rio de Janeiro, onde veio a falecer vítima de um câncer, pobre e esquecido, em 06/12/1969, aos 89 anos de idade.


Legado, Homenagens e Resgates

Em 1959 voltou ao Sul do País para ser homenageado, mas a cerimônia foi suspensa por interferência da Marinha do Brasil.

A sua memória foi resgatada jornalisticamente a partir de 1959, com o lançamento do célebre livro "A Revolta da Chibata" de Edmar Morel. Musicalmente, na década de 1970 pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba "O Mestre-Sala Dos Mares". Historiograficamente a partir de 1985, com o livro "A Revolta Dos Marinheiros - 1910", do vice-almirante e historiador naval Hélio Leôncio Martins. Cinematograficamente a partir de 2003, ano em que o curta-metragem de resgate de época, "Memórias da Chibata", foi contemplado em edital do Ministério da Cultura com verba para produção.

Em outubro de 2005, o deputado Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) apresentou o Projeto de Lei nº 5874/05, determinando inscrever o nome de João Cândido no "Livro dos Heróis da Pátria", que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, DF.

Este projeto foi arquivado porque segundo a Lei Brasileira, somente depois de completar 50 anos da morte da pessoa, ela pode ser inscrita como "Herói da Pátria", ou seja, no caso de João Cândido, morto em 1969, somente em 2019.

Em setembro de 2006, faleceu, aos 82 anos de idade, Zeelândia Cândido de Andrade, filha mais nova de João Cândido, que dedicou a vida a obter a reintegração do nome de seu pai à Marinha, corporação de onde saiu sem quaisquer direitos.


Em 22/11/2007, aniversário de 97 anos da Revolta da Chibata, foi inaugurada uma estátua em homenagem ao "Almirante Negro", nos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete, bombardeado durante a Revolta. A estátua, de corpo inteiro, de João Cândido com o leme em suas mãos, foi afixada de frente para o mar e de costas para o palácio do governo brasileiro, que em 1910 traiu sua própria palavra quebrando a anistia aos marinheiros rebeldes. Como parte da solenidade, que teve a presença de autoridades, familiares e representantes dos movimentos sociais, foi exibido o filme "Memórias da Chibata", de Marcos Manhães Marins, e feita uma exposição fotográfica da Revolta da Chibata, sob a curadoria do cientista político e juiz de direito João Batista Damasceno.

Em 24/07/2008, 39 anos depois da morte de João Cândido Felisberto, publicou-se, no Diário Oficial da União, a Lei nº 11.756 que concedeu anistia ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, ideia que partiu do Senado Federal e foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em 13/05/2008, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil.

No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil. O motivo do veto é que essa reabilitação "post mortem" importaria em impacto orçamentário para o qual a lei não apontou a referida fonte de custeio. Assim, uma vez que tal reconhecimento imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes, nesse particular a lei foi vetada por ser contrária ao interesse público, no julgamento da equipe do governo federal.

O governo temia uma corrida de mais de 2 mil famílias para a "Bolsa Chibata". Na realidade, somente duas famílias se apresentaram como descendentes de marinheiros que participaram da Revolta da Chibata: a do próprio líder máximo João Cândido Felisberto e a do marinheiro Adalberto Ribas, que fugiu de um dos barcos logo após a revolta, mantendo-se anônimo durante toda a sua vida, e cujos filhos procuraram a Marinha somente depois de saberem do projeto de lei. Entidades alegaram que indenizar estas duas famílias não quebrararia os cofres do governo brasileiro.


Em 20/11/2008, a estátua foi transferida dos jardins do Palácio do Catete para a Praça Quinze de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro, em grande evento que contou com a presença do então presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a família de João Cândido e milhares de pessoas. A Marinha do Brasil, subordinada ao Ministério da Defesa, por sua vez subordinado ao presidente da República, o chefe hierárquico máximo das Forças Armadas, não compareceu, alegando não poder comemorar porque a Marinha preza a disciplina e a hierarquia.

A inscrição na placa de homenagem ao pé da estátua comete erros: não é verdade que João Cândido "nasceu na Vila São José, Encruzilhada do Sul, Distrito de Rio Pardo". Ele nasceu na Fazenda Coxilha Bonita, no vilarejo Dom Feliciano, que ficava no Município de Encruzilhada, que não era mais distrito de Rio Pardo desde 1849, décadas antes do nascimento dele. Em 1963, é a vez do já distrito, e não mais um vilarejo, Dom Feliciano se emancipar do Município de Encruzilhada, já com o novo nome de Encruzilhada do Sul. Portanto, João Cândido nasceu encruzilhadense e morreu domfelicianense.

No dia 07/05/2010, a Petrobras Transporte S.A. (Transpetro), a pedido do presidente da República, batizou com o nome de "João Cândido" o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota (PROMEF), primeiro petroleiro produzido em estaleiro nacional após um intervalo de mais de 13 anos. A cerimônia ocorreu no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca, PE. O navio foi comandado pelo Capitão de Longo Curso Carlos Augusto Müller, da Marinha Mercante, e utilizado na exportação.


A entidade Unidade de Mobilização Nacional Pela Anistia (UMNA), reivindicou junto à Petrobras Transportes S.A. que o nome do navio recebesse o justo complemento e, antes do lançamento ao mar, se torne: "Marinheiro João Cândido", a exemplo de outros navios como o "Marinheiro Marcílio Dias", ou receba o nome "João Cândido Felisberto", uma vez que com primeiros nomes "João Cândido" existem muitos e mais famosos do que o líder da revolta, como por exemplo, João Cândido Portinari, João Cândido Ferreira, João Cândido da Silva, e até mesmo o "Almirante Branco" João Cândido Brasil e engenheiro naval, que é nome de rua no Rio de Janeiro e em São Paulo, e faleceu em 1906. O marinheiro negro João Cândido Felisberto que a imprensa chamou em 1910 de "Almirante Negro" morreu em 1969, mas o oficial branco, almirante João Cândido Brasil, de mesmos prenomes, morreu em 1906, 4 anos antes da Revolta da Chibata.

O Petroleiro "João Cândido" tem 274 metros de comprimento e capacidade para transportar 1 milhão de barris de petróleo. O navio foi construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, ao custo de R$ 300 milhões.

Em dezembro de 2010, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) conclui a produção "Cem Anos Sem Chibata", dirigida por Marcos Manhães Marins, um documentário especial de 52 minutos, na programação da TV Brasil a partir de janeiro de 2011. Foi exibido várias vezes em 2011 e 2012 na TV Brasil e TV Brasil Internacional.

Em 2012, o projeto do longa-metragem "Chibata", consolidou o patrocínio parcial da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) e distribuição Pandora filmes, recebendo carta de interesse de exibição também da TV Brasil.

Em 2013 a Revolta foi uma das várias citações da novela "Lado a Lado", analisada em artigo do Portal Geledés do Instituto da Mulher Negra. Um dos graves erros apontados foi a novela não ter mostrado o líder da Revolta, João Cândido, diminuindo a importância dele como herói.

Em 2014, o filme começou a ser rodado a partir da sequência de reconstituição de época e dramatização do depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som, que tem como ator confirmado para o personagem "João Cândido" em sua fase mais madura, Antonio Pitanga.

Fonte: Wikipédia

Chico da Silva

FRANCISCO DOMINGOS DA SILVA
(75 anos)
Pintor, Desenhista, Sapateiro e Ajudante de Marinheiro

☼ Alto Tejo, AC (1910)
┼ Fortaleza, CE (06/12/1985)

Francisco Domingos da Silva ou Chico da Silva, foi um pintor brasileiro de estilo Naïf, desenhista, sapateiro e ajudante de marinheiro, nascido em Alto Tejo, AC, em 1910. Era descendente de uma cearense e um índio da Amazônia peruana. Viveu até os 10 anos de idade na antiga comunidade de Alto Tejo, no Estado do Acre.

A família de Chico da Silva embarcou para o Ceará, indo morar em Fortaleza. Semi-analfabeto, teve diversas profissões não relacionadas à arte. Perdeu o pai alguns anos depois e começou a fazer todos os tipos de serviços: Consertava sapatos e guarda-chuvas, fazia fogareiros de lata para vender, entre outras coisas, para ajudar no seu sustento e de sua família.

Nos intervalos de suas caminhadas a procura de trabalho, parava em frente aos muros e paredes das casas dos pescadores e fazia desenhos com carvão, giz e lascas de tijolos, colorindo-os com folhas.

Semi-analfabeto, autodidata, ele pintava sem regras mas com incrível habilidade. Foram esses painéis que chamaram a atenção do artista e crítico suíço Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo pela cidade. Pelos moradores da Praia Formosa, Chico da Silva era chamado de "indiozinho débil mental".

Jean-Pierre Chabloz perguntou para alguns habitantes quem era o autor daqueles desenhos, mas a constante resposta que ouvia era:
"É um cara meio louco. Um caboclo que veio não se sabe de onde. Ele se diverte rabiscando os muros e desaparece, sem deixar endereço!" 
Quadro de propriedade de Gustavo Veras e Isabel Marback

Jean-Pierre Chabloz não encontrou Chico da Silva facilmente pois este ao saber que um estrangeiro alto e forte estava a sua procura, fugiu achando que o suíço fosse um dos donos das casas de muros recém ornados por ele. Após o encontro, Jean-Pierre Chabloz ficou admirado com a simplicidade do artista e passou a incentivá-lo na pintura à guache. Além de fornecer todos os materiais para a produção dos trabalhos, Jean-Pierre Chabloz comprou mais de 40 obras prontas levando-as à diversas exposições, como o Salão Cearense de Pintura e o Salão de Abril de 1943.

Chico da Silva foi estimulado por Jean-Pierre Chabloz a desenhar e pintar cada vez mais. Essa amizade e confiança mútua foi o suficiente para tornar as obras de Chico da Silva, peças de qualidade para o mundo das artes.

Por ter sido criado desde menino frente as exuberantes paisagens da amazônia, com cores e formas exóticas, a genialidade de Chico da Silva floresceu, resultando em pinturas primitivistas (pinturas Naïfs) e sedutoras para os olhos dos artistas, críticos e pesquisadores do Brasil e da Europa. 

Pintor de lendas, folclore nacional, cotidiano e seres fantásticos, Chico da Silva seduz o observador por sua originalidade, pela diversidade de cores e formas e pela genialidade nas pinturas primitivistas. Com seu talento e a influência de Jean-Pierre ChablozChico da Silva conseguiu reconhecimento no cenário artístico mundial.

Nos últimos anos a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará conseguiu reunir vários trabalhos do artista que pertenciam a Jean-Pierre Chabloz. Um deles tem exposição permanente no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e outros fazem parte de acervos de museus e pinacotecas do mundo.

Quadro de propriedade de Gustavo Veras e Isabel Marback

Em 1945, na companhia de Jean-Pierre Chabloz, Antônio Bandeira, Inimá de Paula e outros artistas expôs na Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro.

Chico da Silva não foi influenciado por nenhuma escola ou grupo específico. Na verdade, ele criou um estilo novo. Fundou uma escola no bairro de Pirambu, onde cresceu, formado por seguidores de suas obras.

Pela supervalorização de seus trabalhos quis produzir cada vez mais obras recorrendo a ajudantes para desenhar, deixando para ele somente a assinatura. Uma pesquisa estimou que 90%, dos quadros posteriores a 1972, eram falsos. Tal acontecimento cercou o artista de aproveitadores que vendiam essas falsificações em qualquer lugar por pequenos preços.

Mesmo havendo questionamento de suas obras no mercado de arte, foi convidado à participar da Bienal de Veneza em 1966, de onde recebeu Menção Honrosa. Três anos depois, Jean-Pierre Chabloz cortou relação com Chico da Silva, afirmando mais tarde em uma entrevista para um jornal que estava insatisfeito com a qualidade do artista.

Na década de 70, além de lutar contra a falta de crédito de suas obras, enfrentou a perda da esposa e seus próprios problemas de saúde. Se recuperou fisicamente mas não conseguiu sua recuperação artística.

Depois de permanecer quatro anos internado em um hospital psiquiátrico, voltou a pintar em 1981.

Quadro de propriedade de Gustavo Veras e Isabel Marback
Exposições

Individuais
  • 1950 - Lausanne, Suíça - Galeria Pour L'Art
  • 1961 - Fortaleza CE - Sede dos Diários Associados
  • 1963 - Rio de Janeiro, RJ - Galeria Relevo
  • 1965 - Rio de Janeiro, RJ - Galeria Goeldi
  • 1965 - São Paulo, SP - Galeria Selearte
  • 1965 - Salvador, BA - Galeria Querino
  • 1966 - Rio de Janeiro, RJ - Petite Galerie
  • 1966 - Veneza, Itália - Menção Honrosa
  • 1966 - Moscou, Rússia
  • 1967 - Rio de Janeiro, RJ - Galeria Gemini e Galeria Dezon
  • 1967 - São Paulo, SP - A Galeria


Coletivas
  • 1943 - Fortaleza, CE - Salão de Abril
  • 1944 - Fortaleza, CE - 3ª Salão Cearense de Pintura
  • 1945 - Rio de Janeiro, RJ - Galeria Askanasy
  • 1949 - Genebra, Suíça - Salão Beauregard
  • 1956 - Neuchâtel, Suíça - Museu Etnográfico
  • 1965 - Paris, França - Galeria Jaques Massol
  • 1966 - Europa - Artistas Primitivos Brasileiros
  • 1966 - Paris, França - Maison Janson
  • 1966 - Madri, Espanha - Instituto de Cultura Hispânica
  • 1966 - Veneza, Itália - 33ª Bienal de Veneza
  • 1967 - São Paulo, SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo
  • 1970 - Fortaleza, CE - 20º Salão de Abril
  • 1972 - São Paulo, SP - Galeria Collectio
  • 1977 - Fortaleza, CE - 27º Salão de Abril
  • 1978 - Fortaleza, CE - 28º Salão de Abril
  • 1978 - Penápolis, SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste
  • 1978 - São Paulo SP - 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo
  • 1984 - Fortaleza, CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas

Exposições Póstumas
  • 1988 - Rio de Janeiro, RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, Paço Imperial
  • 1989 - Fortaleza, CE - Retrospectiva Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, Espaço Cultural do Palácio da Abolição
  • 1996 - Osasco, SP - Expo FIEO, Centro Universitário FIEO
  • 2001 - São Paulo, SP - Biografias Instantâneas, Casa das Rosas
  • 2002 - São Paulo, SP - Santa Ingenuidade, Unifieo
  • 2002 - São Paulo, SP - Pop Brasil: A Arte Popular e o Popular na Arte, CCBB
  • 2002 - Piracicaba, SP - 6ª Bienal Naifs do Brasil, SESC