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Nico Fagundes

ANTÔNIO AUGUSTO DA SILVA FAGUNDES
(80 anos)
Advogado, Ator, Compositor, Poeta e Apresentador de Televisão

☼ Alegrete, RS (04/11/1934)
┼ Porto Alegre, RS (24/06/2015)

Antônio Augusto da Silva Fagundes, conhecido como Nico Fagundes, foi um poeta, compositor, ator, advogado e apresentador de televisão brasileiro.

Filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes, formado em direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e mestre em Antropologia Social. Todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Reconhecido na cultura gaúcha, premiado diversas vezes como poeta, novelista, compositor, autor e ator de teatro, televisão e cinema. Apresentou pela RBS TV, afiliada da TV Globo, o programa "Galpão Crioulo", com uma das maiores audiências da televisão gaúcha.

O "Canto Alegretense", canção cujos versos são de sua autoria, é mais cantado que o próprio hino de Alegrete.

Nico Fagundes é respeitado como autoridade em folclore gaúcho, história do Rio Grande do Sul, antropologia, religiões afro-gaúchas, indumentária do Rio Grande, cozinha gauchesca e danças folclóricas. Além disso, sempre deu a devida importância à dupla ligação da cultura gaúcha com o outro Brasil e com os países do Prata. Tornou-se, assim, com o tempo e apoiado em uma biblioteca preciosa, um estudioso sério, respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, conferencista bilíngue e autor de inúmeras obras de consulta obrigatória para estudiosos na área.


Entretanto, sua face menos conhecida também é sua face mais antiga, a de poeta.

Em 1954 mudou-se para Porto Alegre, RS, e é como poeta que é apresentado ao 35 CTG, por Lauro Rodrigues, e nunca deixou de fazer verso. Tornou-se amigo e companheiro de Waldomiro Souza, Horácio Paz, João Palma da Silva, Amandio Bicca, Niterói Ribeiro, Luiz Menezes, José Hilário Retamozo, Hugo Ramirez, João da Cunha Vargas, ou seja, a fina flor da poesia gauchesca da época, que frequentava o rodeio do 35 CTG, às quartas de noite e aos sábados de tarde, na Avenida Borges de Medeiros, no quinto andar da FARSUL.

Conheceu então e tornou-se amigo de Jayme Caetano Braun, cujo ingresso no 35 CTG apadrinhou.

Seu encontro, por esta época, com Glaucus Saraiva foi histórico: vinham de uma briga pelos jornais, mas quando se encontraram, foi admiração à primeira vista, uma amizade tão forte que nem a morte de Glaucus conseguiu interromper.

Pelas páginas do Jornal "A Hora" lançou Jayme Caetano Braun e dois moços que estavam aparecendo com muita força: Aparício Silva Rillo e José Hilário Retamozo. O prestígio que emprestava à obra de outros poetas não fez com que descurasse de sua própria poesia.


Nico Fagundes ganhou prêmios e concursos em Vacaria, Alegrete e em Porto Alegre.

Seu primeiro livro de versos chama-se "Com a Lua na Garupa" e o segundo "Ainda Com a Lua na Garupa". O terceiro tem o nome de "Canto Alegretense", nome tirado da canção famosa cujos versos escreveu. Aliás, neste livro aparecem muitas letras das suas canções mais famosas dentre as 370 gravadas e regravadas por vários intérpretes e parceiros.

Nico Fagundes foi um dos fundadores da Confraria dos Cavaleiros da Paz, atualmente Embaixadores da Tradição e do Folclore do Rio Grande do Sul. Aceitou o desafio de um conterrâneo para refazer a cavalo, caminhos antes traçados pela guerra. No dia 01/06/1990, no comando da primeira grande Cavalgada, Nico Fagundes ponteava e soltava o grito "De a cavalo, indiada!", brado que marcaria todas as cavalgadas sob seu comando.

Em 2000, Nico Fagundes sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mas se recuperou. Em 2010, chegou a ficar em coma induzido após uma infecção geral no organismo. Dois anos depois, voltou à UTI pelo mesmo problema.

Morte

Nico Fagundes morreu na noite de quarta-feira, 24/06/2015, aos 80 anos, no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, RS. Ele estava internado há cerca de um mês por conta de uma infecção respiratória e em decorrência de complicações, teve constatada falência múltipla de órgãos. O óbito foi constatado às 21:10 hs na UTI do hospital, informou a instituição. As causas da morte não foram divulgadas a pedido da família.

O corpo de Nico Fagundes começou a ser velado às 8:00 hs de quinta-feira, 25/06/2015, no Salão Negrinho do Pastoreio, no Palácio Piratini, em Porto Alegre, RS. O velório foi aberto ao público, e o sepultamento ocorreu às 18:00 hs, no Cemitério João XXIII, também na capital.

Filmografia

Televisão

  • 1985 - O Tempo e o Vento ... Bento Gonçalves (TV Globo)

Cinema

  • 2001 - Lua de Outubro
  • 2000 - A Cobra de Fogo
  • 1976 - A Quadrilha do Perna Perna Dura
  • 1973 - O Negrinho do Pastoreio
  • 1971 - Ana Terra

Fonte: Wikipédia

Evaristo da Veiga

EVARISTO FERREIRA DA VEIGA E BARROS
(37 anos)
Jornalista, Poeta, Livreiro e Político

☼ Rio de Janeiro, RJ (08/10/1799)
┼ Rio de Janeiro, RJ (12/05/1837)

Evaristo Ferreira da Veiga e Barros foi um poeta, jornalista, político e livreiro brasileiro.

Filho de um português mestre-escola, Francisco Luís Saturnino Veiga, chegado ao Brasil aos 13 anos, soldado miliciano na Paróquia de Santa Rita, no Rio de Janeiro, depois nomeado professor régio de primeiras letras na freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Velho.

Francisco passou a professor na Rua do Ouvidor, onde abriu uma loja. Andou por Vila Rica em 1788 e 1789, onde deve ter conhecido alguns dos inconfidentes, pois recopiou as Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, publicadas meio século mais tarde por seu neto Luís Francisco da Veiga.

Francisco Luís Saturnino Veiga casou com uma brasileira, Francisca Xavier de Barros, nascendo três filhos, dos quais Evaristo da Veiga foi o segundo. Teve grande influência sobre seus filhos, sobretudo Evaristo, ótimo estudante que no Rio de Janeiro de Dom João VI aprendeu francês, latim, inglês, cursou aulas de retórica e poética e estudou filosofia. Neste período adquiriu interesse por jornalismo ao visitar as oficinas da Impressão Régia, nos porões do palácio do Conde da Barca.

Quando concluiu os estudos, o pai já abrira uma livraria na Rua da Alfândega e os livros que trazia da Europa tinham em Evaristo da Veiga o primeiro leitor, o mais curioso. Seu projeto frustrado de partir para a Universidade de Coimbra encontrou compensação na livraria do pai.

Poeta

Evaristo da Veiga foi o autor da letra do "Hino à Independência", cuja música se deve a Dom Pedro I. Conta entre os precursores do Romantismo no Brasil.

Em suas poesias mais antigas se sente a influência da escola arcádica e sobretudo de Bocage e datam de 1811, quando tinha 12 anos. Um ano depois, em 1812, celebra os desastres militares dos franceses em Portugal. Aos 14 anos era um poeta português que refletia no Brasil com atraso de 20 anos o movimento da Nova Arcádia em que haviam excedido Bocage, José Agostinho de Macedo, Curvo Semedo.

Em 1817 era súdito fiel de Dom João VI, um luso no Rio de Janeiro: o malogro da Revolução de Pernambuco o encheu de alegria. Seus versos cantaram o casamento de Dom Pedro I com Dona Leopoldina, os anos de Sua Majestade em 13/05/1819, o aniversário da aclamação do rei. Diversas poesias são dedicadas a amigos, uma característica que se manterá: primou sempre nele o sentimento da amizade. Aos vinte anos começaram a aparecer Marílias, Nises, Lílias, Isbelas mas seus sonetos, cantigas e madrigais continuam arcádicos - com ligeira influência dos mineiros.

Em 1821, porém, vivia-se no Rio de Janeiro, o ano do constitucionalismo português, como afirma Oliveira Lima em "O Movimento da Independência". Ninguém podia ficar indiferente. O elemento conservador, receoso de desordens, alimentava esperança de que a chegada das novas instituições não importaria em ruptura com Portugal, pois haveria uma monarquia dual, servindo a coroa como união. Era o pensamento de Evaristo da Veiga, ilusão de que participaram muitos brasileiros. Não tardaram os constitucionalistas de Portugal a demonstrar sua incompreensão das coisas do Brasil e foram aparecendo as resoluções das Cortes que tinham como propósito estabelecer a antiga submissão colonial, embora de outra forma. Foi nesse instante que nele despertou o patriota: um soneto em 17/10/1821 é intitulado "O Brasil". Outro, de fevereiro de 1822, já estigmatizava, a perfídia de Portugal. Daí em diante vibrou com o movimento que se espalhava pelo país.

Em 16/08/1822, sem ser figura saliente em nenhum acontecimento, escreveu o "Hino Constitucional Brasiliense", o célebre, 'Brava Gente Brasileira / longe vá temor servil'. Compôs sete hinos, no total, entoados por milhares de bocas. O "Brava Gente" recebeu duas músicas, uma do maestro Marcos Portugal, outra do próprio Príncipe Regente Dom Pedro I. E como Evaristo da Veiga era tímido e o príncipe notoriamente melómano, logo se lhe atribuiu a letra. Só mais tarde, em 1833, Evaristo da Veiga reivindicaria a letra e os originais se encontram atualmente na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

O ato da aclamação do imperador lhe inspirou três sonetos - e outros dedicou à Liberdade, à instalação da Assembléia Constituinte, a Lorde Cochrane, à fuga do general Madeira. Mas teria papel obscuro e modesto nos sucessos da Independência. Seu nacionalismo era novo, faltava-lhe paixão, e ademais não tinha posição social, era um rapaz modesto e avesso a turbulências que trabalhava no balcão da livraria do pai. Em 1821, porém, assina com pseudônimo O Estudante Constitucional uma réplica a panfleto anônimo contra o Brasil, intitulado "Carta do Compadre de Belém", impresso em Portugal.

Cedo deixou de ser um espectador desenganado da ação do Imperador. 1823 era o ano da instalação da Constituinte e o de sua dissolução por um golpe de força. Em 30 de maio ele já fala no "despotismo mascarado"... Deixou de fazer sonetos, fez hinos. Ainda publicaria em 1823 "Despedida de Alcino a sua Amada", pois Alcino foi seu nome poético. Mas era poeta bastante medíocre e disso teve convicção antes de que outros lhe dissessem. Sua atividade poética foi esmorecendo, subindo apenas em 1827, ano em que se casou. Sua vocação, logo descobriria estar na política, no serviço público, na imprensa, no parlamento.

Livreiro

Morreu sua mãe em 1823 e o pai, que desejava casar-se de novo, escrupuloso e exato como era, entregou aos filhos a parte que lhes tocava na herança materna. Evaristo da Veiga e João Pedro, seu irmão, abriram então uma livraria. Era empreendimento lucrativo. O país se europeizava e os livros e jornais eram os agentes dessa europeização.

Em 1821 no Diário do Rio de Janeiro havia anúncios de oito lojas de livros. Datam de outubro de 1823 os primeiros anúncios da loja de Evaristo da Veiga, "João Pedro da Veiga & Comp", 14 dias antes de Dom Pedro I dissolver a Assembleia.

Leu tudo que vendia, formou seu pensamento, fixou-se na posição da monarquia constitucional, pois a república lhe parecia um exagero e era moderado por temperamento. Vendendo livros e fazendo cada vez menos versos passou os anos até 1827, quando, economicamente independente, se separou do irmão e estabeleceu livraria própria ao comprar a livraria e tipografia de João Batista Bompard na Rua dos Pescadores, 49.

Em 1827 casou-se com Dona Ideltrudes Maria d'Ascensão, começando nova vida.

Jornalista

Em 21/12/1827 surgiu o primeiro número de seu próprio jornal, logo famoso, o A Aurora Fluminense, que exerceu importante papel na política do Primeiro Reinado por suas tendências anti-lusófilas.

Os fundadores foram um jovem brasileiro cedo falecido, José Apolinário de Morais, o médico francês José Francisco Sigaud e Francisco Crispiano Valdetaro. Evaristo da Veiga resolveu associar-se e passou em pouco tempo de colaborador a redator principal e finalmente único. Assinava seus artigos apenas como Evaristo da Veiga.

A imprensa do Rio de Janeiro era então detestável, pasquineira. A Gazeta do Brasil era favorável ao governo, órgão ministerial, defendendo o Gabinete de 15/01/1827, e quem enviava seus artigos, como depois se descobriria, era Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, oficial do Gabinete Imperial, íntimo e detestável, amigo de Dom Pedro I.

Gazeta do Brasil chamava A Aurora Fluminense de "fedorenta sentina da demagogia e do jacobinismo", a Astréa de João Clemente Vieira Souto, de "insolente e demagógica", O Universal de Ouro Preto, de inspiração de Bernardo Pereira de Vasconcelos, de jacobino e anárquico.

Os fundadores de A Aurora Fluminense queriam linguagem imparcial, guiada pela razão e virtude, e havia para servir à liberdade constitucional um Evaristo da Veiga, imbuído de leituras francesas e inglesas, com o sonho de ver adotadas as instituições que seus autores prediletos preconizavam como indispensáveis à grandeza das nações. Uma quadrinha de versos pífios, composta por Dom Pedro I, foi seu lema:

"Pelo Brasil dar a vida / Manter a Constituição / Sustentar a Independência / É a nossa obrigação"

E foi seu programa o devotamento ao país, o respeito pela sua liberdade, a manutenção de sua Constituição. Os seus temas, no jornal, foram a liberdade constitucional, o sistema representativo, a liberdade de imprensa. Por isso deu apoio ao Gabinete de 20/11/1827. Mas havia assuntos de momento em que tocou, como o descalabro da instrução, a questão do crédito público. Combatia a indiferença em matéria política, sobretudo, a mais funesta de todas as enfermidades morais. Havia a mesma pregação em outros jornais liberais como O Farol, O Astro, de Minas, a Astréa, combatidos pelos jornais corcundas.

Batia-se pela abolição dos morgados, extinção da Intendência de Polícia, da Fisicatura, do Desembargo, da Mesa da Consciência e da Ordem, instituições obsoletas. A oposição dos ministérios excluía escrupulosamente a pessoa do monarca, a quem tratava com deferência e até louvava. Ainda não desesperançados do imperador, os liberais queriam estimulá-lo. O imperador, porém, é que parecia ir-se distanciando do herói brasileiro que fora em 1822 e voltar-se mais para Portugal do que para o Brasil, comenta Octavio Tarquinio de Sousa. A separação entre a corrente nativista liberal e o imperador aumentou sempre, a sessão parlamentar de 1829 seria da maior agitação, o governo sempre acusado. A Aurora Fluminense era o mais autorizado reduto da oposição governamental, e sua popularidade, e a de Evaristo da Veiga, crescia sempre.

Quando do atentado ao jornalista Luís Augusto May, redator da A Malagueta, órgão liberal, repetição do que fora vítima em 1823, sem temor a que lhe sucedesse o mesmo, Evaristo da Veiga condenou-o energicamente e continuou impassível em suas campanhas. Estavam do seu lado a Astréa, a Luz Brasileira, e do lado ministerial, o Diário Fluminense, O Analista, o Courrier du Brésil, o Jornal do Commercio. A federação era moda, havia gente que queria ir até a República. De seu lado não viriam provocações, pois em artigo de 09/12/1829 escreveu:

"Nada de jacobinismos de qualquer cor que ele seja. Nada de excessos. A linha está traçada - é a da Constituição. Tornar prática a Constituição que existe sobre o papel deve ser o esforço dos liberais."

Político

Em 1830, Evaristo da Veiga foi eleito deputado por Minas Gerais, tendo sido reeleito até morrer. Era nome conhecido no Brasil inteiro. Deputado, continuou jornalista e foi sempre livreiro.

Aproximava-se de Bernardo Pereira de Vasconcelos, pela coincidência da posição ideológica. Na nova Câmara abundavam adeptos do liberalismo e para formar a opinião liberal do Brasil ninguém concorrera mais que Evaristo da Veiga, que jamais assinara um artigo sequer, e a Aurora Fluminense, que em 1830 fora aumentada para seis páginas.

Sem nunca ter saído do Rio de Janeiro, recebeu seu mandato de deputado por Minas Gerais, substituindo Raimundo José da Cunha Matos, que optara pela cadeira de Goiás. Em seu mandato tentou pôr as instituições monárquicas a serviço do grande problema brasileiro - a unidade do vasto país. Cumpria cuidar dos interesses mais vitais do povo, fomentar a indústria, sanear zonas quase inabitáveis, difundir a instrução. Batia-se pelo estreitamento das relações com as demais nações americanas, desconfiando das nações europeias. Sempre assíduo, queria que os assuntos fossem discutidos com calma, nas Comissões, longe do tumulto do plenário. Opunha-se às liberalidades à custa do Tesouro: "Devemos desgostar antes aos afilhados do que à nação", dizia. Falava pouco, sem retórica, indo direto ao assunto sem divagações. Tinha qualidades raras como deputado: senso de proporções, espírito objetivo, modéstia patriótica.

Quando, trabalhado por intrigantes, Dom Pedro I demitiu inopinadamente Barbacena da Fazenda, com os desenvolvimentos que se conhecem, os mais otimistas se foram convencendo de que o Brasil nunca seria um país livre com semelhante Imperador. Precisamente nesse clima caiu como um raio a noticia da revolução de julho de 1830 na França, derrubando Carlos X, e recrudesceu a campanha na imprensa em favor das idéias liberais. Surgiu no Rio de Janeiro o jornal O Repúblico, e nenhum teria papel mais ativo para desencadear a crise. Pregava-se abertamente a Federação, querendo mesmo a Nova Luz uma "Federação Democrática".

Evaristo da Veiga combatia-os e ao mesmo tempo os órgãos absolutistas: o Imparcial, o Diário Fluminense, o Moderador, em posição difícil de equidistância. Mas a agitação popular se alastrava. Dom Pedro I, mal aconselhado, resolveu ir a Minas Gerais, onde foi friamente recebido. Diz Octávio Tarquínio de Sousa que "já se apagara da imaginação popular a figura romântica do príncipe que fora o melhor instrumento da Independência".

Evaristo da Veiga enfrentou com destemor os dias de atentados que precederam o Sete de Abril. Foi ele o autor da representação enérgica de 17/03/1831 na Chácara da Flora, propriedade do padre José Custódio Dias, um verdadeiro ultimato ao imperador. Dom Pedro I, que chefiava em Portugal a campanha constitucionalista, se foi do Brasil distanciando de suas atitudes liberais de 1822 e a ele se foram chegando cada vez mais os portugueses aqui residentes, sendo então abandonado pelos próprios elementos moderados da política brasileira. Já estavam conspirando Evaristo da Veiga, Odorico Mendes, Nicolau de Campos Vergueiro, esforçando-se por conseguir a adesão da tropa.

"O dia 6 de abril seria de fato a verdadeira data revolucionária em que se verificaria a insurreição da tropa e do povo no Campo de Santana; a 7 de abril apenas se completaria a vitória liberal com a abdicação do monarca."

Evaristo da Veiga anuiu ao golpe quando se esgotaram as possibilidades de uma solução menos violenta, como ele próprio declarou num discurso em 12/05/1832 na Câmara. Aderiu para evitar a anarquia, o desmembramento, a desunião das províncias. Evaristo da Veiga correu ao Senado para dar forma legal à nova situação por meio da reunião extraordinária que elegeu a Regência Provisória, o Marquês de Caravelas, Nicolau de Campos Vergueiro, o brigadeiro Francisco de Lima e Silva.

Coube-lhe redigir a proclamação, e o documento, nobre, nacionalizava a independência e pedia não macular a vitória com excessos. Terminava:

"Do dia 7 de abril de 1831 começou a nossa existência nacional; o Brasil será dos brasileiros, e livre!"

Aberta a Câmara a 03 de maio, Evaristo da Veiga foi escolhido para a Comissão de criação da Guarda Nacional, a Força Cidadã, como ele chamava, que teria o importante papel de manter a ordem em todo o período regencial.

Elegeu-se a 17/06/1831 a primeira Regência permanente, sendo escolhidos Francisco de Lima e Silva, Costa Carvalho e João Bráulio Muniz, este representando o Norte. Evaristo da Veiga teve imenso papel na elaboração da lei que a regulou.

A Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional

Ao mesmo tempo, empenhou-se pela criação de um outro instrumento de ordem, de disciplina social, de orientação política, que foi a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, instalada no Rio de Janeiro a 19/05/1831. Inspirava-se em sua congênere paulista e teve por iniciador Antônio Borges da Fonseca, o redator de O Repúblico. Evaristo da Veiga tornou-se seu adepto mais fervoroso e de 1831 a 1835 a Aurora Fluminense, a Tribuna da Câmara e a Sociedade se tornaram seu centro de ação diária.

Foi instrumento de ação dos moderados, e se disse, com algum exagero, que governou o Brasil pelo espaço de quatro anos. Abreu Lima em "História do Brasil" acha que "foi em realidade outro Estado no Estado, porque sua influência era a que predominava no gabinete e nas Câmaras; e sua ação, mais poderosa que a do governo, se estendia por todos os ângulos do Império". O grande elemento de ação da Defensora foram as representações à Câmara, ao governo, publicadas nos jornais do partido moderado desde 01/06/1831.

Evaristo da Veiga vinculou-se também a diversas outras sociedades e agremiações, animando-as, procurando colocá-las sob sua orientação política. Foi um dos fundadores da Sociedade de Instrução Elementar, da Sociedade Amante da Instrução, da Sociedade Filomática do Rio de Janeiro. Sua luta foi incansável, em época propícia aos excessos, pois não era o simplista que acredita no milagre das leis. Joaquim Nabuco dele dirá, em "Um Estadista do Império", que quis exercer no Brasil a ditadura de sua opinião - uma opinião lúcida, desinteressada, de bom senso, serenidade e medida de proporções.

Os Andradas haviam-se logo alistado entre os descontentes, Evaristo da Veiga se tornou alvo de ataques e calúnias. Em julho de 1831 era profunda a divisão dos liberais. Nomeado Feijó para a Justiça, recebeu todo o apoio de Evaristo, na Câmara e pela Aurora Fluminense mas havia grandes embaraços ao governo com a indisciplina militar, a separação entre exaltados e moderados. Evaristo da Veiga era já, por consenso, o chefe do partido moderado. Formigavam apodos: Farroupilhas e jurujubas seriam os exaltados, chimangos ou chapéus redondos os moderados, caramurus os restauradores. Era moço, tinha 32 anos. A Malagueta o achava feio e menoscabava sua profissão de livreiro.

A partir de 1832 os restauradores pareciam mais perigosos do que os exaltados, o Carijó e o Caramuru iniciaram ofensiva contra o governo. Uma grave crise foi a campanha de Feijó para destituir José Bonifácio da tutoria dos filhos do imperador, cujo desfecho se daria com o malogrado golpe de 30/07/1832.

Membro da comissão de resposta à Fala do Trono, Evaristo da Veiga fez um de seus mais longos discursos, quase de improviso, eloquente. Serviu-se também da Aurora Fluminense, enquanto o Carijó obediente a Antônio Carlos o chamava de "sanefa da Pátria, sabugo versicolor da Aurora".

Em julho, a Câmara aprovou a destituição de José Bonifácio de seu posto como tutor, muito comprometido com o facciosismo dos irmãos, mas o Senado não, e Feijó pediu demissão. Os moderados já viam Dom Pedro I de novo sentado no trono. Ficou decidido o golpe de Estado tramado na chácara do padre José Custódio Dias, mas Evaristo da Veiga não teve nenhuma iniciativa, nenhum entusiasmo, não deu seu assentimento nem adesão formal - instava, entretanto, por uma medida salvadora e demonstrou sua solidariedade completa, irrestrita a Feijó. Malogrado o golpe, Feijó e outros ministros saíram do governo e a Regência continuou - o bastão de líder escapou de suas mãos. No novo ministério organizado a 03/08/1832 não havia amigos seus. O Carijó chegou a escrever: "Evaristo está morto".

A Reforma Constitucional e a Eleição de Feijó

A 30/07/1832 a Aurora Fluminense publicou:

"Evaristo é o mesmo homem, deputado livre, jornalista defensor da ordem púbica e homem da classe industriosa, vivendo do seu trabalho. Nunca aspirou nem procurou o poder."

A 13 de setembro, Evaristo exultava com o novo ministério com Vergueiro e Honório Hermeto, e neste tinha Feijó um substituto. Voltavam ao poder os moderados e do malogro do golpe de 30 de julho resultaria a vitória do ideal que o alimentara: houve acordo para reforma constitucional que foi consubstanciada na lei de 12/10/1832. A Câmara cedeu, cedeu o Senado, o Poder Moderador foi mantido, a vitaliciedade do Senado, não prevaleceu o cunho federalista que a Câmara desejava mas o Conselho de Estado foi abolido.

Sofreu um atentado em sua livraria mesmo, a 08/11/1832. Recebeu mais de mil visitantes, desde os regentes, ministros de Estado, senadores, ao povo miúdo. Atentado de um pobre sapateiro a mando de um certo coronel Ornelas, amigo de José Bonifácio. Evaristo da Veiga confessou suspeitar mais do Srº Martim Francisco"cuja alma rancorosa todos conhecem". O certo é que os jornais restauradores, particularmente o Caramuru, tinham seu quinhão de culpa na formação do ambiente de ódios.

Em 1833 recrudesceu a campanha da imprensa, empenhada nas eleições para a legislatura 1834-1837 pois a Câmara tinha poderes para realizar a reforma constitucional. Reapareceram jornais antigos como o Brasileiro, e o Nacional, surgiram novos como o Independente, o Sete de Abril, das simpatias de Bernardo Pereira de Vasconcelos. Mas os moderados já não tinham o prestígio anterior, a campanha caramuru causara impressão - exceto na zona rural. Eram os chamados "eleitores do campo".

Todo o ano 1833 se consumiu na expectativa do retorno do Duque de Bragança. Evaristo da Veiga, convencido de que a trama restauradora era sério perigo, combateu-a, usando a Defensora, e chefiou mesmo a campanha que impediu a volta de Dom Pedro I, sob qualquer título, e clamava pela suspensão de José Bonifácio do lugar de tutor como centro e instrumento dos facciosos. Com sua queda, passou o momento de maior tensão, tudo prometia melhorar.

A 14/06/1833 entrou em discussão o projeto de reforma da Constituição. Discutiu-se inicialmente a quem competia, e a opinião de Evaristo da Veiga - a competência era da Câmara - foi aprovada por enorme maioria. Depois de Bernardo Pereira de Vasconcelos, seu autor, ninguém mais do que Evaristo da Veiga estudou o projeto. Declarou inicialmente que, por seu voto, não se tocaria na Constituição - mas cedia à opinião geral, às aspirações autonomistas das províncias, sem esquecer os interesses superiores da unidade nacional. Foi voto vencido na questão da temporariedade da função de Regente pois a Câmara mostrou-se mais liberal que ele, Limpo de Abreu, Paula Araújo e Vasconcelos, e quase estabeleceu no Brasil uma verdadeira república provisória.

A facilidade com que se votou a reforma tinha explicação no temor à volta de Dom Pedro I. Quando o ex-imperador morreu em 24/09/1834 (a notícia chegou ao Rio de Janeiro em dezembro de 1834), a desagregação dos moderados se processou com rapidez pois nunca houve coesão partidária. Evaristo da Veiga o julgou com serenidade:

"Não foi um príncipe de ordinária medida, existia nele o germe de grandes qualidades, que defeitos lamentáveis e uma viciosa educação sufocaram em parte. (...) Se existimos como corpo de nação livre, se a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemo-lo muito à resolução que tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito de nossa Independência."

A situação política do Brasil dava sinais de persistência de divisão e indisciplina. No Rio Grande do Sul começara a guerra que ia durar dez anos, havia revolução no Pará. A grande questão era a escolha do Regente único, de acordo com o Ato Adicional. O candidato de Evaristo da Veiga foi Feijó, pois dele não via os defeitos e o que temia era a desordem, a anarquia, que prometia a candidatura Holanda Cavalcanti, tido como arrebatado e frenético. Fez a campanha com as mesmas agruras anteriores, destemido, sereno, até que a 07/04/1835 votaram em todo o Brasil os eleitores, que eram 6 mil, cada um com direito a sufragar dois nomes. Com as dificuldades de comunicação, os resultados chegaram morosamente - feita a apuração final a 9 de outubro, Feijó ficou em primeiro lugar (2.826), Holanda Cavalcanti em segundo (2.251). Com maioria na Câmara, o partido holandês tentaria ainda fazer de Dom Januária regente, mas nada conseguiu.

O Fim da Aurora Fluminense

A eleição de Feijó foi a última demonstração do prestígio de Evaristo da Veiga. Estava afastado de Bernardo Pereira de Vasconcelos, Honório Hermeto e Rodrigues Torres. Era combatido pelos caramurus e ainda teve a amargura de desavir-se com Feijó, regente único - por culpa sua, pensavam todos.

Em 30/12/1835 saiu o último número de seu jornal, com oito anos de existência. Recolhia-se a uma vida que desejava tranquila, com as três filhas e a mulher. Mas não se retirou da vida pública, pois em 1836 compareceu normalmente à Câmara. Depois decidiu fechar por uns tempos sua casa na Rua dos Barbonos, hoje Rua Evaristo da Veiga, e em novembro partiu para Campanha, onde vivia um irmão.

Voltou ao Rio de Janeiro em 02/05/1837. Visitou Feijó, foi para cama, presa de violenta febre perniciosa, como diagnosticaram os médicos. Evaristo da Veiga morreu a 12/05/1837, repentinamente, aos 37 anos.

Apreciação

Evaristo da Veiga contribuiu decisivamente para a defesa das instituições públicas, além de trabalhar para o desenvolvimento intelectual e artístico, estimulando jovens escritores.

Segundo Octávio Tarquínio de Sousa:

"Sua influência nos acontecimentos políticos se fez sentir desde o aparecimento da Aurora Fluminense e ninguém mais do que ele concorreu para criar o ambiente liberal que caracterizaria os primeiros anos da Regência. (...) Evaristo não fez mais do que conformar-se com a revolução, aceitá-la como uma fatalidade."

Caixeiro sem ancestrais ilustres, gordo e deselegante, sem a ajuda de poderosos, sem dons de sedução, que nunca esteve em qualquer universidade, sem deixar o Rio de Janeiro, sem mencionar seu nome do jornal que escrevia, foi eleito e reeleito deputado, assumindo papel de guia e conselheiro, sem improvisação, sem imposturas.

Foi jornalista, deputado, político, orientando a opinião do país porque tinha um espírito sério, probidade moral, sinceridade e, sobretudo, uma inteligência lúcida, desapego aos altos cargos, um grande desejo de servir e de ser útil.

Acadêmico

Membro do Instituto Histórico de França e da Arcádia de Roma. Patrono da cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de seu fundador, Ruy Barbosa.

Maçom

Foi iniciado na Maçonaria em 01/06/1832 na Loja Esperança de Nictheroy n° 0003 no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Ernani Satyro

ERNÂNI AIRES SÁTIRO E SOUSA
(74 anos)
Fazendeiro, Poeta, Cronista, Romancista, Ensaísta e Político

☼ Patos, PB (11/09/1911)
┼ Brasília, DF (08/05/1986)

Ernâni Aires Sátiro e Sousa foi um fazendeiro, poeta, cronista, romancista, ensaísta e político brasileiro, que exerceu oito mandatos de deputado federal pela Paraíba. Foi ainda prefeito de João Pessoa e governador da Paraíba.

Pertenceu à Academia Paraibana de Letras, à Academia Brasiliense de Letras e à Academia Campinense de Letras.

Filho de Miguel Sátiro e Sousa e Capitulina Ayres Sátiro e Sousa, formou-se em 1933 pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco.

Em 1934 elegeu-se deputado estadual pelo Partido Republicano Libertador (PRL) a exemplo do que fizera antes seu pai. Durante a vigência do Estado Novo getulista, dedicou-se à advocacia, fase interrompida apenas em 1940 quando foi nomeado prefeito de João Pessoa, cargo que exerceu por apenas dezoito dias.

Homem importante da União Democrática Nacional (UDN) foi eleito deputado federal para a Assembléia Nacional Constituinte em 1945 sendo reeleito em 1950, 1954, 1958 e 1962.

Partidário do Golpe Militar de 1964 foi eleito presidente da União Democrática Nacional (UDN), o último antes da instituição do bipartidarismo pelo Ato Institucional Número 2 em 27/10/1965. Ernâni Sátiro ingressou na Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e foi reeleito em 1966.

Líder do governo Costa e Silva na Câmara dos Deputados entre 1967 e 1968, renunciou ao mandato em 09/05/1969 após ser escolhido ministro do Superior Tribunal Militar.

Em 1970 foi escolhido governador da Paraíba pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, fato que o levou a abdicar da toga ministerial.

De volta à política Ernâni Sátiro foi reeleito deputado federal em 1978 e 1982 quando já estava no Partido Democrático Social (PDS). Em seu último mandato ausentou-se da votação da Emenda Dante de Oliveira em 1984 e votou em Paulo Maluf no Colégio Eleitoral em 1985.

Ficou conhecido por tratar a todos que encontrava pela expressão "amigo velho".

Ernâni Sátiro faleceu vítima de derrame cerebral.

Academia Paraibana de Letras

É o fundador da cadeira número 32 da Academia Paraibana de Letras, que tem como patrono Carlos Dias Fernandes. Atualmente é ocupada por Wills Leal. Assumiu a sua cadeira em 03/08/1963, com saudação do acadêmico Ivan Bichara.


Obras

  • O Canto do Retardatário (Poesias)
  • 1954 - O Quadro-Negro (Romance)
  • 1957 - Mariana (Romance)

Fonte: Wikipédia

Geir Campos

GEIR NUFFER CAMPOS
(75 anos)
Poeta, Escritor, Contista, Radialista, Jornalista, Tradutor e Professor

☼ São José do Calçado, ES (28/02/1924)
┼ Niterói, RJ (08/05/1999)

Geir Nuffer Campos foi um poeta, escritor, jornalista e tradutor brasileiro. Filho de Getúlio Campos, dentista, e Nair Nuffer, professora.

Viveu parte da sua infância em Campos dos Goytacazes, RJ, e parte no Rio de Janeiro. A partir de 1941, passou a residir em Niterói, RJ.

Foi aluno do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e do Colégio Plínio Leite, em Niterói.

Em 1951, casou-se com Alcinda Lima Souto, que passou a chamar-se Alcinda Campos. Deste casamento vieram seus dois filhos: Carlos Augusto Campos e Mauro Campos.

Piloto, tripulou navios mercantes do Lloyd Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Advindo daí a sua condição de civil ex-combatente.

Poeta, estreou em 1950 com "Rosa dos Rumos", após ter publicado em jornais e revistas, especialmente no Diário Carioca, vários poemas, contos e traduções.

Editor, fundou em 1951, com Thiago de Mello, as Edições Hipocampo, que chegaram a publicar vinte volumes de poesia e prosa, dos autores mais representativos da literatura brasileira e também de alguns estreantes como Paulo Mendes Campos e outros. Nessa coleção apareceu, em janeiro de 1952, "Arquipélago", o seu segundo livro de versos.


Como professor ginasial, atual ensino fundamental, lecionou no Colégio Plínio Leite, onde antes estudara, e no Colégio Figueiredo Costa, ambos em Niterói. Como professor universitário, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde em 1980 fez-se Mestre em Comunicação, com um trabalho, publicado, sobre "Tradução e Ruído na Comunicação Teatral", e em 1985 defendeu tese de doutoramento sobre "O Ato Criador na Tradução".

Como tradutor, começou a publicar em 1953, uma coletânea de poemas de Rainer Maria Rilke.

Como contista, lançou em 1960 a primeira edição de "O Vestíbulo".

Como radialista, em agosto de 1954 começou a produzir e apresentar, na Rádio Ministério de Educação, um programa semanal de meia hora, "Poesia Viva". Para essa mesma emissora produziu, durante muitos anos, diversos programas literários.

Como jornalista, colaborou e assinou colunas em diversos jornais, entre eles o Diário de Notícias e o Diário Carioca.

É o autor da letra do Hino de Brasília, cuja música é de autoria da professora Neusa Pinho França Almeida.

Foi membro fundador do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Tradutores, da qual foi presidente, lutando pela conscientização dos que traduzem profissionalmente no Brasil e pela regulamentação desta profissão.

Traduziu várias obras de Rilke, Brecht, Goethe, Shakespeare, Sófocles, Whitman e outros, sendo merecedor de um ensaio da professora Maria Thereza Coelho Ceotto da Universidade Federal do Espírito Santo.

Destacou-se enquanto ativista cultural de grande influência e presença na literatura brasileira, tornando-se o grande representante capixaba da "Geração de 45".

Foi um dos poucos poetas brasileiros a comporem uma coroa de sonetos.

Obras

Poesia
  • 1950 - Rosa dos Rumos
  • 1952 - Arquipélago
  • 1953 - Coroa de Sonetos
  • 1956 - Da Profissão do Poeta
  • 1957 - Canto Claro e Poemas Anteriores
  • 1959 - Operário do Canto
  • 1960 - Canto Provisório
  • 1964 - Cantigas de Acordar Mulher
  • 1968 - Canto ao Homem da ONU
  • 1969 - A Meus Filhos
  • 1970 - Metanáutica
  • 1977 - Canto de Peixe e Outros Cantos
  • 1982 - Cantos do Rio (Roteiro lírico do Rio de Janeiro)
  • 1983 - Cantar de Amigo ao Outro Homem da Mulher Amada

Contos
  • 1979 - O Vestíbulo
  • 1982 - Conto & Vírgula

Teatro
  • 1959 - O Sonho de Calabar
  • 1967 - Édipo-Rei, de Sófocles
  • 1970 - Macbeth, de William Shakespeare
  • 1970 - A Tragédia do Homem, de Imre Madách (Com Paulo Rónai)
  • 1972 - Castro Alves ou O Canto da Esperança
  • 1972 - As Sementes da Independência
  • 1976 - Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht
  • 1977 - A Alma Boa de Setsuan, de Bertolt Brecht
  • 1977 - Diz-que-sim & Diz-que-não, de Bertolt Brecht
  • 1977 - O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht
  • 1977 - Na Selva das Cidades, de Bertolt Brecht
  • 1977 - A Exceção e a Regra, de Bertolt Brecht
  • 1978 - Luz nas Trevas, de Bertolt Brecht
  • 1978 - O Julgamento de Lúculus, de Bertolt Brecht
  • 1978 - A Condenação de Lúculus, de Bertolt Brecht
  • 1970 - A Tragédia do Homem, de Imre Madách (Com Paulo Rónai)

Peças Não Publicadas, Mas Registradas na Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais (Levantamento Parcial)
  • 1967 - De Bocage a Nelson Rodrigues, (Com Nelson Rodrigues e Jaime Barcelos)
  • 1969 - Aquele Que Diz Sim e Aquele Que Diz Não, de Bertolt Brecht
  • 1974 - O Quarto Vazio
  • 1974 - Nós
  • 1974 - Arruda Para Você Também
  • 1974 - O Refugiado e os Sentados, de Miguel Hernandez
  • 1974 - A Estranha História do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe
  • 1974 - Amar / Luar, de Jack Larson
  • 1983 - Esse Bocage

Teatro Infantil
  • 1959 - O Gato Ladrão
  • 1960 - A Verdadeira História da Cigarra e da Formiga
  • 1960 - História dos Peixinhos Voadores (Parceria com Maria Niedenthal)

Literatura Infanto-Juvenil
  • 1973 - Qual é a História de Hoje?, Joana Angélica d’Avila Melo

(Geir Campos é o autor dos contos das páginas: 14-15, 15-16, 29-30, 36-37, 49, 61-62, 65-66, 80-81, 83-84, 90-91, 113-114, 124-125, 126-127, 137-138, 142-144, 149-151, 154-156, 163-164, 179 e 186-187)
  • 1987 - Estórias Pitorescas da História do Brasil (Para Gente Grande e Pequena)
  • 1991 - Histórias de Anjos

Ensaios
  • 1960 - Carta aos Livreiros do Brasil
  • 1967 - Rubén Dário, Poeta Participante
  • 1978 - O Problema da Tradução no Teatro Brasileiro
  • 1981 - Tradução e Ruído na Comunicação Teatral
  • 1985 - Do Ato Criador na Tradução (Tese de Doutorado - Inédita em livro)

Referências
  • 1960 - Pequeno Dicionário de Arte Poética
  • 1986 - Como Fazer Tradução
  • 1986 - O Que é Tradução
  • 1989 - Glossário de Termos Técnicos do Espetáculo

Antologias
  • S/D - Alberto de Oliveira
  • S/D - Livro de Ouro da Poesia Alemã
  • 1960 - Poesia Alemã Traduzida no Brasil
  • 1986 - Versei, Antologia Poética (Exterior)

Traduções (Levantamento Parcial)
  • 1953 - Poemas de Rainer Maria Rilke
  • 1956 - Parábolas e Fragmentos de Kafka
  • 1956 - Nossa Vida Com Papai, Romance de Clarence Day Jr.
  • 1957 - O Coronel Jack, Romance de Daniel Defoe
  • 1958 - A Sabedoria de Confúcio
  • 1959 - A Alma Boa de Setsuan, Fábula Teatral de Bertolt Brecht (Com Antônio Bulhões)
  • 1964 - Folhas de Relva, Poesia de Walt Whitman
  • 1964 - Sociologia e Filosofia Social de Karl Marx - Textos escolhidos, seleção, introdução e notas por T. B. Bottomore e Maximilien Rubel
  • 1965 - Flor do Abandono, Romance de Zsigmond Móricz
  • 1966 - Poemas e Canções, Bertolt Brecht
  • 1967 - Poemas e Cartas a um Jovem Poeta, Rainer Maria Rilke (Com Fernando Jorge)
  • 1967 - Édipo-Rei, Peça de Sófocles
  • 1976 - Andares, Poesia de Hermann Hesse
  • 1977/1978 - Teatro de Bertolt Brecht (Várias peças como supervisor e tradutor)
  • 1980 - A Tragédia do Homem, Peça de Imre Madách (Com Paulo Rónai)
  • 1983 - Folhas das Folhas de Relva, seleção de poesias de Folhas de Relva, de Walt Whitman
  • 1985 - Arco-íris de Amor, de Joan Walsh Anglund
  • 1988 - A Vida de Nosso Senhor, romance de Charles Dickens
  • 1988 - Haicais: Poesia do Japão, da versão de Jan Ulenbrook
  • 1988 - O Quinto Evangelho, romance de Mario Pomilio
  • 1990 - Frases de Cabeceira Gerald Goodfrey
  • 1984 - Frases de Cabeceira 2 Gerald Goodfrey
  • S/D - Frases de Cabeceira 3 Gerald Goodfrey
  • S/D - Frases de Cabeceira 4 Gerald Goodfrey
  • 1991 - As Melhores Histórias de Natal
  • 1991 - O Livro de Emmanuel, psicografias de Pat Rodegast e Judith Stanton
  • 1992 - As Fogueiras do Rei, romance de Pedro Casals
  • 1993 - O Livro de Horas, poesia de Rainer Maria Rilke
  • 1994 - O Livro de Emmanuel II, psicografias de Pat Rodegast e Judith Stanton
  • 1995 - Cantos do Meu Coração, poemas e fotografias de Daisaku Ikeda

Traduções Que Colaborou
  • 1956 - A Terra Inútil, de T. S. Eliot - Tradução de Paulo Mendes Campos
  • 1982 - Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol - Tradução de Fernanda Lopes de Almeida. Geir Campos traduziu os poemas das páginas 8 e 9, 49, 98 e 99, 102 e 103, 116 e 117.


Fonte: Wikipédia
Nota: Todas as informações constantes nesta página foram escritas por Mauro Campos, filho do Geir Campos. Elas estão disponíveis na Web, nas publicações citadas ou em documentos que pertencem à família.

José Bonifácio

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA
(74 anos)
Naturalista, Geólogo, Estadista e Poeta

* Santos, SP (13/06/1763)
+ Niterói, RJ (06/04/1838)

José Bonifácio de Andrada e Silva foi um naturalista, estadista e poeta brasileiro. É conhecido pelo epíteto de "Patriarca da Independência" por ter sido uma pessoa decisiva para a Independência do Brasil.

Pode-se resumir brevemente sua atuação dizendo que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823. De início, colocou-se em apoio à regência de Dom Pedro de Alcântara. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos Martim Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva com o imperador.

Em 16/07/1823, Dom Pedro I demitiu o ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da Constituinte, em 11/11/1823, José Bonifácio foi banido e se exilou na França por seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a tutoria de seu filho quando Dom Pedro I abdicou, em 1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência.

Os irmãos de José Bonifácio: Antônio Carlos e Martim Francisco
Origem Familiar

Membro de família da aristocracia portuguesa, José Bonifácio nasceu nos fins do século XVIII, em Santos, no litoral da então Capitania de São Paulo. O pai, Bonifácio José Ribeiro de Andrada, casado com sua prima Maria Bárbara da Silva, era a segunda fortuna da cidade, possuidor de bens no valor de 8:000$000. José Ribeiro de Andrada, o avô, casado com Ana da Silva Borges, pertencia a antiga família portuguesa do Minho e de Trás-os-Montes, parente dos Condes de Amares e Marqueses de Montebelo, ramo dos Bobadelas-Freires de Andrada.

Bonifácio José Ribeiro de Andrada, que morreria em 1789, era considerado ágil, desembaraçado e inteligente. Arredondou sua fortuna como mercante e ocupou diversos cargos e ofícios. Tinha dois irmãos formados em Coimbra, e um terceiro irmão era padre.

Sua mãe, Dona Maria Bárbara da Silva, teve dez filhos, quatro mulheres e seis homens. Seu pai foi seu primeiro mestre, mas em Santos não era possível ir além do ensino primário. Mudou-se para São Paulo em 1777.

Estudos

Em São Paulo, frequentou aulas de gramática, retórica e filosofia, nos cursos abertos por Dom Frei Manuel da Ressurreição, dono também de boa biblioteca. Era o ensino preparatório para o ingresso na universidade em Coimbra, para onde iam os brasileiros com alguns recursos. Tinha 16 anos quando, com seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, José Bonifácio requereu habilitação de genere, passo indispensável à carreira eclesiástica. Não havia universidades no Brasil nem qualquer prelo.

Em 1783, partiu do Rio de Janeiro para Portugal, matriculando-se em outubro na Universidade de Coimbra e iniciando a 30/10/1783 seu curso de estudos jurídicos, acrescidos um ano mais tarde, 11 e 12 de outubro de 1784, dos de matemática e filosofia natural.

Além dos cursos, leu muito. Já poetava, e em uma ode sua surgem os nomes de Leibnitz, Newton e Descartes. Leu sobretudo Rousseau e Voltaire, mas leu também Montesquieu, Locke, Pope, Virgílio, Horácio e Camões, e se indignou contra o "mostro horrendo do despotismo". Seus versos apelavam para as promessas da independência recém-proclamada dos Estados Unidos. Ainda estudante, cuidou de duas questões por cuja solução em vão se empenharia mais tarde: a civilização dos índios, a abolição do tráfico negreiro e da escravidão dos negros.

Carreira

Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas à Revolução Industrial. José Bonifácio concluiu, em 16/06/1787, seu curso de Filosofia Natural e, a 05/07/1788, o de Leis.

Recebeu em Portugal apoio do Duque de Lafões, Dom João de Bragança, que em 1780 fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 08/07/1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da magistratura. Quatro meses antes, em 04/03/1789, fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista. Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento humano. Tinha por divisa: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. Sua primeira memória apresentada à Academia foi "Memória Sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: Com Algumas Reflexões a Respeito das Nossas Pescarias".

Excursão Científica Pela Europa

Foi comissionado em 18/02/1790 para empreender, às custa do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.

Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Seus biógrafos citam contatos com Lavoisier, Chaptal, Jussieu e outros.

Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria uma memória sobre diamantes no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava a falar com voz de mestre.

Partiu depois para aulas práticas na Saxônia, em Freiberga, cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde um atestado de que havia frequentado um curso completo de Orictognosia e outro de Geognosia. Ali cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner. Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na Europa - a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como amigos Alexander von Humboldt, Leopold von Buch e Del Río.

Percorreu minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi a Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta. Em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em 1794, chamado "Viagem Geognóstica aos Montes Eugâneos".

Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na Suécia e na Noruega, a partir de 1796, caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas, entre os quais a petalita e o diópsido, e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome.

Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado. Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitara, além dos países citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia.

Em Portugal

Dois meses depois de chegar a Portugal, em novembro de 1800, partiu para a Estremadura com seu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada e com Carlos Antônio Napion, encarregados de pesquisas mineralógicas, e sobre as quais escreveu uma memória. Mal chegado da viagem, foi designado para nova missão: examinar os pinhais reais dos Medos e Virtudes, nos terrenos de Almada e Sesimbra. Tornou-se dele admirador Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de Linhares. Eram parentes distantes e se tornaram amigos.

Ocupou a cátedra de Metalurgia, especialmente criada para ele, na Universidade de Coimbra, por Carta Régia de 15/04/1801. Era obrigado a ali permanecer pelo prazo mínimo de seis anos. Foi nomeado intendente-geral das Minas e Metais do Reino, e membro do Tribunal de Minas, pela Carta Régia de 18/05/1801, e deveria dirigir as Casas da Moeda, Minas e Bosques de todos os domínios portugueses. Por decreto de 08/07/1801, recebeu o encargo de administrar as antigas minas de carvão de Buarcos (Mina do Cabo Mondego) e restabelecer as abandonadas fundições de ferro de Figueiró dos Vinhos e Avelar. Por decreto de 12/11/1801, foi feito diretor do Real Laboratório da Casa da Moeda de Lisboa e incumbido de remodelar o estabelecimento. Pela Carta Régia de 01/07/1802 recebeu o encargo de superintender e ativar as sementeiras de pinhais nos areais das costas marítimas. Pelo alvará de 13/07/1807, foi nomeado superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Mas pouco ou nada pôde levar a cabo, pois tinha de enfrentar a rotina portuguesa, em resistência "ora passiva a qualquer esforço renovador, ora ativa, insidiosa, mal dissimulando sentimentos subalternos de inveja ou despeito".

Lutou em vão contra o desleixo da administração pública e não lhe facultaram jamais os recursos indispensáveis ao trabalho. Não desejou a cátedra e não se sentia com dons de professor. E, em Coimbra, a reforma do Marquês de Pombal "não passara afinal de bons propósitos", segundo Octávio Tarquínio de Sousa, pois a universidade não possuía museu científico. Escreveu carta em 1806 ao Conde de Linhares em que dizia:

"Estou doente, aflito e cansado e não posso com tantos dissabores e desleixos. Logo que acabe meu tempo em Coimbra e obtenha a minha jubilação, vou deitar-me aos pés de S.A.R. para que me deixe acabar o resto dos meus cansados dias nos sertões do Brasil, a cultivar o que é meu."

Em 1808, em conjunto com Fernando Fragoso Saraiva de Vasconcelos, comandou as forças do Batalhão Académico que guarneceram Coimbra, no contexto da Guerra Peninsular. Obteve o posto de major, chegando a alcançar a patente de tenente-coronel e depois comandante. Quando os franceses ameaçaram Lisboa, em outubro de 1810, recebeu ordens de reunir o corpo e marchar para Peniche, onde ficou até a retirada do inimigo.

Na Academia Real atingiria o cargo de secretário perpétuo (1812). Sonhava com uma fábrica de aço e foi o responsável pela vinda para Portugal, e depois ao Brasil, de Guilherme von Eschwege, barão e mineralogista.

Escreveu dois artigos, em 1815 e 1819, onde a palavra tecnologia é usada pela primeira vez, na língua portuguesa. Possivelmente teve seu primeiro contato com essa palavra no curso de siderurgia de Werner, em 1792, em Freiberg.

Integrou o grupo de intelectuais que se reunia em torno de Domenico Vandelli, partilhando a visão de que o domínio da natureza era capaz de gerar riquezas e que, portanto, necessitava ser conhecido e explorado cientificamente.

Estátua de José Bonifácio - Rio de Janeiro
Retorno ao Brasil

Retornou ao Brasil em 1819, com 56 anos. Passou trinta anos na Europa e a colônia agora era reino unido e a sede da monarquia. Alguns dos velhos pecados continuavam, e o principal, a seus olhos, era a escravidão, pois o trabalhador era quase exclusivamente o negro, e a economia se organizara em benefício de uma classe privilegiada.

Apontou imediatamente os pontos necessários a um extenso programa de trabalho: abolição do tráfico, extinção da escravidão, incorporação dos índios à sociedade, miscigenação orientada para suprimir choques de raças e de classes e de constituir uma "nação homogênea", transformação do regime de propriedade agrária com a substituição do latifúndio pela subdivisão de terras, preservação e renovação das florestas, localização adequada das novas vilas, aproveitamento e distribuição das águas e exploração das minas.

Mas, desde 1808 na terra, Dom João VI jamais nomeara ministro um brasileiro. Mortos o Conde de Linhares em 1812, o Conde da Barca e o Marquês de Aguiar em 1817, e estando na Europa o Conde de Palmela, os homens de maior valor na confiança real eram Tomás Antônio de Vila Nova Portugal e o Conde dos Arcos. José Bonifácio recusou os convites recebidos para atuar como ajudante, e partiu para Santos onde seu irmão Martim Francisco era diretor de minas e matas da Capitania de São Paulo. O outro irmão, Antônio Carlos, estava preso na Bahia, pois participara da Revolução Pernambucana de 1817.

Com o Martim Francisco fez "atentas" pesquisas durante cinco semanas, em março de 1820, indo a Cubatão, à serra de Paranapiacaba, Ponte Alta, Borda do Campo, São Paulo, ao pico do Jaraguá na serra da Cantareira, Parnaíba, Pirapora, Itu e Sorocaba (Onde visitaram a fábrica de ferro mal administrada por Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen), São Roque e Cotia. Estudou depois as salinas, a cargo do físico-mor João Álvares Fragoso. José Bonifácio tudo inquiria e anotava, comenta Octávio Tarquínio de Sousa.

"Das questões básicas, como a do tráfico e da escravidão, às aparentemente menos importantes, como as que se referiam à alimentação e ao vestuário do povo, ou a certos costumes pouco recomendáveis. (....) Tudo interessava a José Bonifácio em sua terra e nenhum assunto lhe parecia trivial ou impróprio."

Dom João VI lhe deu, por carta de mercê de 18/08/1820, o título de conselheiro. Como mudar de atitude era próprio do caráter do rei, anulando o que prometera e cedendo a pressões de Portugal e a inquietação contínua, Dom João VI embarcou para Portugal a 24/04/1821, com quatro mil pessoas na comitiva. O Banco do Brasil se viu desfalcado de cinquenta milhões de réis. Ia começar a última fase da independência do Brasil e nela teria papel preponderante José Bonifácio.

O Processo da Independência do Brasil

Era difícil perceber o rumo no ano de 1821. A Revolução Portuguesa apresentava fachada liberal e expunha como objetivo o estabelecimento de um regime constitucional. Os brasileiros queriam também liberdade e constituição. Por isso, até se desmascararem os móveis verdadeiros da Revolução Portuguesa, houve confusão no Brasil, e aceitaram mandato de deputado a Lisboa indivíduos de cunho nativista, antes implicados em revoluções contra a metrópole. Descobriu-se, mais tarde, que a Revolução Portuguesa imporia, caso vitoriosa, a supremacia econômica e política da antiga metrópole.
Mas, enquanto isso, iam-se formando em todas as províncias juntas governativas provisórias.

Em São Paulo, em 12/03/1821, o governador e capitão-general João Carlos Augusto de Oyenhausen-Gravenburg anunciou o regime constitucional. Para dar os primeiros passos, José Bonifácio aceitou convite para presidir à eleição dos membros, e propôs que fosse por aclamação. Indicou Oyenhausen como presidente do governo provisório, recebeu aclamação de seu próprio nome como vice-presidente e, como um dos secretários (eram três, do Interior e Fazenda, da Guerra e da Marinha), foi indicado seu irmão Martim Francisco.

Em 23 de junho de 1821, José Bonifácio iniciava seu papel político no Brasil.

Enquanto as demais juntas governativas se deixavam atrair por Lisboa e viam o Rio de Janeiro com desconfiança, a Junta de São Paulo foi a primeira a reconhecer a autoridade do príncipe regente Dom Pedro de Alcântara. Em carta de 17/07/1821 ao pai, o príncipe menciona José Bonifácio como o homem "a quem se deve a tranquilidade atual da província de São Paulo".

Foram eleitos seis deputados paulistas à Constituinte em Lisboa, entre eles Antônio Carlos, recém saído da prisão e que se revelaria grande orador em Lisboa; o padre Diogo Antônio Feijó, mais tarde regente; Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, depois senador e regente em 1831. Os seis deputados receberam do governo instruções na forma de um documento coletivo, intitulado "Lembranças e Apontamentos", programa completo em que as necessidades primordiais do Brasil eram postas em foco. No documento estavam as principais ideias de José Bonifácio.

A parte mais desenvolvida dizia respeito ao Brasil, em doze itens: Estabelecimento de um governo geral executivo, a cuja autoridade ficassem sujeitos os governos provinciais, definidos os limites da subordinação; a instrução pública, aumentando o número de escolas e criando pelo menos uma universidade; o desenvolvimento do povoamento do interior; a catequese e civilização dos índios, ou seja, sua integração; a emancipação gradual dos escravos e a proibição do tráfico; a alteração da estrutura fundiária, com a reintegração ao domínio do poder público das terras improdutivas. José Bonifácio era contrário tanto à escravidão quanto ao latifúndio e, nesse ponto, chocou-se com os poderosos interesses dos grandes proprietários e dos traficantes. Outra sugestão foi a fundação de uma cidade central no interior do Brasil, como efetivamente foi depois realizado no século XX com Brasília, para assento do governo nacional; sugeria ainda uma nova legislação sobre o regime de terras, pois as chamadas sesmarias, verdadeiros latifúndios, eram uma forma de exploração antieconômica e anti-social; e os deputados foram advertidos para incentivar um novo surto de mineração.

Contudo, nada do que continha o documento seria aproveitado no trabalho das Cortes portuguesas. Dos 70 deputados brasileiros, apenas 50 chegaram a exercer mandato. O programa paulista era contrário ao que pretendiam as Cortes e, percebendo que o governo do Príncipe Regente no Rio de Janeiro seria o melhor instrumento de que poderiam servir-se os patriotas brasileiros, resolveram anulá-lo.

Em fins de maio de 1821 chegaram de Lisboa as bases da Constituição ali promulgada a 10 de março. A tropa portuguesa, que aderira à Revolução do Porto e se tornara perturbadora da ordem fez, a 5 de junho, um pronunciamento, e obrigou Dom Pedro, a princípio relutante, a jurar as bases. O impulso definitivo para a emancipação brasileira foi dado pela obstinada política recolonizadora das Cortes.

As medidas tomadas em Lisboa tinham o mesmo objetivo: desunir e desarticular o Brasil, fazê-lo novamente colônia. E o maior perigo, percebido por José Bonifácio, era o sacrifício da unidade brasileira. A Junta Governativa da Bahia, por exemplo, com predominância de interesses comerciais portugueses e forte presença de tropa lusa, recusava obediência ao Príncipe Regente e se subordinava a Lisboa e às Cortes. Em Pernambuco se esperava algo mais radical, a adoção de um governo republicano. À dispersão geográfica se somava o desentendimento político. Desde outubro de 1821, os patriotas do Rio de Janeiro queriam proclamar a independência do Brasil, com o príncipe Dom Pedro feito imperador. E este os advertiu do "delírio" que os empolgava e declarou-se pronto a morrer por "três divinais coisas - a Religião, o Rei, a Constituição".

Em 09/12/1821, porém, chegaram ao Rio de Janeiro os textos dos últimos atos das Cortes que criavam governos provinciais anárquicos e independentes, mas sujeitos a Portugal, determinando o regresso quanto antes de Dom Pedro para uma viagem, incógnito, aos reinos de Espanha, França e Inglaterra. Nada mais poderia manter a ilusão da continuidade do sistema de reino unido. As Cortes pretendiam anular a obra de Dom João VI, fazendo de cada província brasileira uma província de Portugal.

O príncipe regente chegou a rascunhar um manifesto de despedida aos brasileiros. Mas já estava em curso uma ativa campanha, do clube da resistência na casa de José Joaquim da Rocha, e o príncipe foi mudando de atitude. Nas províncias, especialmente São Paulo e Minas Gerais, os atos recolonizadores produziam reação idêntica à do Rio de Janeiro. Começaram a receber assinaturas para uma representação em que se pedia ao príncipe ficar no Brasil. Para José Bonifácio, chegara a hora das grandes decisões e de uma ação enérgica para que o Brasil não se esfacelasse. A carta do Governo de São Paulo ao príncipe regente, datada de 24/12/1821, é de sua autoria. Sobre a carta, disse Octávio Tarquínio de Sousa:

"Se o tom é de violência, justificavam-na sua indignação e sua revolta, e era necessária para que Dom Pedro sentisse claramente a disposição em que estavam os brasileiros de não mais se deixar dominar por Portugal."

Seu pedido ao príncipe era quase uma ameaça:

"É impossível que os habitantes do Brasil que forem honrados e se prezarem de ser homens, e mormente os paulistas, possam jamais consentir em tais absurdos e despotismos. V. A. Real deve ficar no Brasil quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes não só para nosso bem geral mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo Portugal. Se V. A. Real estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso decreto de 19 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno número de desorganizadores, terá também que responder, perante o céu, do rio de sangue que decerto vai correr pelo Brasil."

A carta chegou às mãos do príncipe no Rio de Janeiro a 01/01/1822. Foi divulgada imediatamente por Dom Pedro, e mandada imprimir na Gazeta do Rio, em 08/01/1822. Em carta ao pai, de 02/01/1822, Dom Pedro escreveu:

"Farei todas as diligências por bem para haver sossego, e para ver se posso cumprir os decretos 124 e 125, o que me parece impossível, porque a opinião é toda contra, em toda a parte."

O Fico e o Resto do Ano de 1822

Dom Pedro, no início de 1822, já tinha clara consciência do papel que os patriotas brasileiros lhe destinavam, e estava disposto a desempenhá-lo. No dia 09/01/1822, quando José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, lhe entregou a representação fluminense, tentou adiar a resposta mas acabou declarando:

"Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!"

Por sua vez, José Bonifácio chegou ao Rio de Janeiro a 17/01/1822, na representação paulista. Foi nessa ocasião que se entreteve na fazenda de Santa Cruz com a princesa Dona Leopoldina. O príncipe de 23 anos o nomeou, aos 60 anos, seu Ministro do Reino e dos Estrangeiros - o primeiro brasileiro a ocupar um cargo semelhante - demitindo Marcos de Noronha e Brito. Disse Octávio Tarquínio de Sousa:

"Não estava mais em idade de contentar-se com a simples aparência das coisas, nem o enganavam palavras, por mais prestigiosas que fossem."

Suas ideias estavam esboçadas nas instruções feitas para os deputados paulistas às Cortes, e atacavam os problemas sociais e econômicos. Queria uma organização democrática, queria governo responsável, sistemas representativos, garantias constitucionais. Mais importante que tudo era a preservação da ordem pública - pois a tropa portuguesa se passara para Niterói.

A 21/01/1822, José Bonifácio ordenou ao desembargador do paço chanceler-mor que não mais fizesse a repartição das leis vindas de Portugal sem antes as submeter ao Príncipe Regente. E, a 30/01/1822, concitava os governos provisórios de todas as províncias a promoverem a união das mesmas com sujeição à regência de Dom Pedro.

Decreto de 22/02/1822, referendado por José Bonifácio, convocou a Junta de Procuradores das províncias. Já começava a ter problemas com certo grupo de políticos do Rio de Janeiro: Joaquim Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa e José Clemente Pereira apareciam a seus olhos como demagogos e agitadores que só queriam precipitar os acontecimentos.

A José Bonifácio se deve seguramente a adesão de Dom Pedro ao movimento emancipador. E sua orientação foi fundamental para que este se desse sem transbordamentos inúteis, sem choques. Como medida preliminar, entendia-se necessária a união das províncias - mas no Pará, na Bahia, no Maranhão, não faltava quem quisesse continuar na dependência das Cortes. A posição de Pernambuco parecia-lhe ambígua. Sua primeira atitude foi assegurar a adesão efetiva de Minas Gerais e por isso fez o Príncipe Regente viajar para lá. Essa viagem serviu para uma radical transformação de ânimo em Dom Pedro. Em sua ausência, por decreto de 23/03/1822, cabia a José Bonifácio como ministro do Reino a chefia do governo.

Nos primeiros meses os dois se entenderam tão bem, de modo íntimo e sem etiquetas, e Dom Pedro vinha vê-lo para despachar em sua casa no Rossio Grande (atual Praça Tiradentes ). Com isso, despertaram ciúmes no grupo de patriotas cariocas, que desejavam influência, entrar para o governo, manejar o poder. Esse grupo foi o indutor de que o título de "Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil" fosse oferecido a Dom Pedro e, a 13/05/1822, dia de gala e beija-mão do povo por ser o do aniversário do rei Dom João VIDom Pedro aceitou ser aclamado "defensor", mas disse que "o Brasil não precisava de sua proteção e a si mesmo se protegia". A iniciativa foi tomada à revelia de José Bonifácio.

O problema seguinte do ministro do Reino foi a convocação de uma Assembleia Constituinte, ideia de todos os patriotas - e desde 03/04/1822, carta do príncipe regente a José Bonifácio a considerava "o único açude que possa conter uma corrente tão forte". José Bonifácio não seria em princípio contrário, mas hesitava decerto acerca de sua oportunidade. Preferia, antes assegurar a unidade nacional, firmar a solidariedade das províncias, e temia o que chamava "as desordens das Assembleias Constituintes".

Mas, as Cortes continuavam em seu propósito de fazer o Brasil voltar à situação colonial, sentia a necessidade de uma ação imediata. Fez-se, então, uma representação a Dom Pedro, em 23/05/1822, para que a convocasse sem demora. Dois dias antes, o príncipe regente escrevia ao pai:

"As leis feitas tão longe de nós, por homens que não são brasileiros e não conhecem as necessidades do Brasil, não poderão ser boas."

Mas, ao receber a representação, teve palavras moderadas, dilatórias, que devem ter-lhe sido inspiradas por José Bonifácio. No Rio de Janeiro não escasseavam os elementos reacionários, chamados "pés de chumbo", gente do comércio e traficantes de escravos, o que estimulava ardores nativistas e favorecia mesmo o surto de ideias radicais, nitidamente republicanas ou democráticas puras. Ganhava mais do que nunca ascendência, o grupo de Gonçalves Ledo à frente, os quais José Bonifácio considerava sôfregos agitadores.

A 01/06/1822, o príncipe regente baixou uma proclamação em que falava da pátria ameaçada e marcava para 02/06/1822 a reunião do Conselho dos Procuradores-Gerais das províncias, para saber o que pensava da constituinte. Em 24 horas o conselho lhe enviou um requerimento, em que pedia a convocação. A 03/06/1822 foi expedido decreto em que José Bonifácio convocou a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, no qual ainda se falava em manter a integridade da monarquia portuguesa e a união com Portugal.

Mas, a 15/06/1822 foi dado outro passo rumo à ruptura com Portugal, pois José Bonifácio comunicou ao cônsul inglês que mandava admitir nas alfândegas os navios britânicos, independente do certificado do consulado de Portugal em Londres, até que fosse nomeado um cônsul do Brasil naquela cidade. Pernambuco aderiu rapidamente ao príncipe regente, mas na Bahia a situação continuava séria e, a 15/06/1822, Dom Pedro enviou carta em que mandava o general Madeira embarcar sem demora para Portugal. Foi necessário enviar uma expedição contra ele e, como comandante, José Bonifácio indicou o general francês Pedro Labatut que já havia submetido a província de Sergipe.

Enquanto isso, em São Paulo ocorria o golpe que se chamou "A Bernarda de Francisco Inácio", do qual entretanto saíram fortalecidos os Andradas, e Martim Francisco foi nomeado ministro da Fazenda em 04/07/1822, passando Caetano Pinto de Miranda Montenegro, Marquês de Vila Real da Praia Grande, para a recém criada pasta da Justiça. As finanças estavam em estado caótico, e o novo ministro foi, como em São Paulo, inflexível com os devedores do erário, em regra os poderosos da terra, habituados a não recolherem aos cofres o que deviam. A oposição aos irmãos, com isso, só podia crescer.

A Guerra da Independência do Brasil

Em fins de julho chegaram ao Rio de Janeiro notícia de que as insensatas Cortes de Lisboa enviavam numerosa tropa para dominar o país. José Bonifácio já se entendia melhor com Gonçalves Ledo e com os membros mais destacados da maçonaria no Grande Oriente, sobretudo com o general Luís Pereira da Nóbrega de Sousa Coutinho, nomeado ministro da Guerra desde 27/06/1822. Tomou medidas da maior gravidade, como a de declarar inimigas as tropas que Portugal mandasse para o Brasil, por meio do decreto de 01/08/1822, em que Dom Pedro se dava como "regente do vasto Império do Brasil pelo consentimento e espontaneidade dos povos" e, a bem dizer, declarava guerra a Portugal.

O decreto e o manifesto que o acompanhava eram já sinal da decisão tomada: a ruptura completa. Mas eram atos dirigidos ao povo brasileiro. José Bonifácio, como ministro dos Estrangeiros, preparou o arrazoado em que se baseava o príncipe para ser levado aos demais povos. Foi ele, juntamente com Gonçalves Ledo o autor do documento de 06/08/1822: extenso, imoderado, de linguagem por vezes inconveniente, onde expunha o legítimo ressentimento por três séculos de dominação, e avisava ao mundo que os brasileiros não mais admitiriam a volta ao regime anterior.

Na cópia enviada a 14/08/1822 ao corpo diplomático acreditado no Rio de Janeiro, José Bonifácio explicou a posição do Brasil:

"Tendo o Brasil, que se considera tão livre quanto o reino de Portugal, sacudido o jugo da sujeição e da inferioridade com que o reino irmão o pretendia escravizar, e passando a proclamar solenemente a sua independência e a exigir uma assembleia legislativa dentro do seu próprio território, com as mesmas atribuições que a de Lisboa…"

Desde 12/08/1822 estavam nomeando Felisberto Caldeira Brant Pontes, o futuro Marquês de Barbacena, encarregado de negócios junto ao governo britânico; Manoel Rodrigues Gameiro Pessoa para Paris; e Luís Moutinho para Washington. Em suas instruções, redigidas por José Bonifácio, o item principal era a independência do Brasil.

Dona Leopoldina assina a declaração de Independência do Brasil
A Declaração de Independência

O príncipe regente, a 14/08/1822 partiu para São Paulo, cujo governo reacionário parecia querer desacatar José Bonifácio. Tivera antes sucesso em sua missão a Minas Gerais, pretendia repetir o êxito em São Paulo. Foi bem recebido e, "com a autoridade que suas estroinices e desmandos só mais tarde diminuiriam", pôs ordem no governo provincial. Em sua ausência ficara como regente sua mulher, a princesa Dona Leopoldina de Habsburgo, colaboradora da obra de José Bonifácio. Tinha poderes para, em Conselho de ministros, tomar com o mesmo as medidas necessárias "ao bem e à salvação do Estado".

No fim de agosto chegaram ao Rio de Janeiro três navios de Lisboa, com notícias de que as Cortes tinham decidido reduzir o príncipe a simples delegado temporário, e apenas nas províncias onde exercia autoridade, com ministros vindos de Lisboa; haviam anulado a convocação do Conselho de Procuradores e mandariam processar todos quantos tivessem procedido contra sua política. O visado era José Bonifácio, tido como o maior responsável pelos acontecimentos. Este recebeu, ao mesmo tempo, carta de seu irmão Antônio Carlos, que estava em Lisboa. E escreveu a Dom Pedro:

"O dado está lançado e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores. Venha V.A. quanto antes e decida-se, porque irresoluções e medidas d'água morna, à vista desse contrário que não nos poupa, para nada servem e um momento perdido é uma desgraça."

Com sua carta seguiram cartas de Dona Leopoldina, incitando o marido ao gesto, uma de Antônio Carlos, outra do inglês Neville Chamberlain.

O emissário, Paulo Emílio Bregaro, encontrou Dom Pedro que voltava de Santos, leu os papéis, demonstrou sua grande indignação, e, ao encontrar a Guarda de Honra que o esperava nas margens do Riacho Ipiranga, comunicou que as Cortes queriam "massacrar" o Brasil. Eram 16:30 hs do dia 07/09/1822, e o príncipe, num verdadeiro brado, exclamou:

"É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal"

Aclamação de Dom Pedro I como Imperador do Brasil no Campo de Santana, no Rio de Janeiro
O Fim do Ano 1822: Aclamação e Tumultos

José Bonifácio, confirmado ministro do Interior e dos Negócios Estrangeiros, foi tomando providências no novo governo. Por decreto de 18/09/1822, descreveu as armas e a bandeira brasileira como se mantiveram até 1889. Por outro decreto, também de 18/09/1822, criou o tope nacional brasileiro, verde e amarelo. Noutro, concedia anistia geral para todas as passadas opiniões políticas - mas excluindo dos benefícios aqueles que se achassem presos e em processo. Pediu, pela primeira vez, demissão quando Gonçalves Ledo inspirou ao imperador um decreto mandando cessar a devassa em São Paulo.

Mas Dom Pedro, mesmo ligado a José Bonifácio, vinha sofrendo o assédio do grupo de Gonçalves Ledo, apontado como representante genuíno do sentimento popular. No dia de sua chegada de São Paulo, Dom Pedro foi tomar posse de seu cargo. Não desejava abandonar José Bonifácio, mas sim, tendo criado fé em seu destino, ganhara confiança em si mesmo e tinha o intento de ouvir outras opiniões.

Em setembro e outubro de 1822, Dom Pedro parecia ter oscilado mais que nunca, com seu temperamento nervoso, de um lado entre os patriotas, querendo tudo e disputando a primazia, e do outro, José Bonifácio, procurando chegar aos mesmos fins mas sem demagogia nem precipitações.

Este grupo preparou outra ação política importante, a da Aclamação de Dom Pedro I, a 12/10/1822, como imperador constitucional do Brasil. Estipulava-se uma cláusula do juramento prévio que o novo imperador deveria prestar à Constituição, a ser redigida por uma Assembleia Constituinte. A essa cláusula, José Bonifácio se opôs terminantemente, e foi ela a razão de seu rompimento com o grupo de Gonçalves Ledo. Mas, depois que Dom Pedro dissolveu a Constituinte, passou a exibir uma concubina, criou tribunais de exceção, fez morrer patriotas na forca, exilou e manteve José Bonifácio no exílio durante seis anos e, mais do que tudo para os "democratas", outorgou uma Constituição que não cumpriu. Gonçalves Ledo não figurou entre os liberais que se opuseram ao imperador.

O Primeiro Passo para a Independência da Bahia
A Independência na Bahia

O momento era grave, pois a Bahia, o Maranhão e o Pará continuavam fora da comunidade nacional, e havia perigo de uma reação armada de Portugal. José Bonifácio queria a aclamação de Dom Pedro como imperador, mas queria também um Poder Executivo forte, que assegurasse a ordem, e terminasse a tarefa de unir as províncias. Temia as assembleias constituintes. Na véspera da aclamação, José Bonifácio já teria retomado seu ascendente sobre Dom Pedro e, a 12/10/1822, Dom Pedro I foi aclamado imperador constitucional do Brasil em meio a grandes festas, mas sem a cláusula do juramento prévio.

A apreciação de numerosos historiadores é que, sem ele no governo, a unidade do Império teria sido preservada com dificuldades muito maiores, e o Brasil, dividido e dilacerado, não escaparia provavelmente aos transes do caudilhismo e da tirania militar. Mas houve choques com os irmãos Andrada, a 28/10/1822, Dom Pedro organizou novo gabinete, em que José Bonifácio foi substituído por José Egídio Álvares de Almeida, o Barão de Santo Amaro, seu velho companheiro em Coimbra na secretaria do Império e Estrangeiros, e Martim Francisco foi substituído na Fazenda pelo desembargador João Inácio da Cunha.

José Joaquim da Rocha iniciou um movimento pela volta dos Andradas ao poder, com intenso trabalho de propaganda, sessões tumultuosas no Senado da Câmara, manifestações populares - e José Bonifácio voltou, sendo reintegrado em seu posto por decreto de 30/10/1822. Tomou medidas rigorosas, como os exílios. Partiram para o Havre, em 20/12/1822, José Clemente Pereira, o cônego Januário e Pereira da Nóbrega. Gonçalves Ledo conseguiu fugir para Buenos Aires. Chamou-os todos, em portaria de 11 de novembro, de "furiosos demagogos e anarquistas".

José Bonifácio, ministro do Império, a quem cabia portanto dirigir a política interna, e Ministro dos Estrangeiros, ainda foi o responsável pela criação de uma Marinha de Guerra. Caldeira Brant enviou-lhe de Londres cerca de 400 marinheiros e oficiais ingleses, postos à disposição de Thomas Cochrane, ávido e experiente lobo-do-mar sem muitos escrúpulos, Conde de Dundonald, feito mais tarde Marquês do Maranhão e que se encontrava no Chile, a cuja marinha servia.

Thomas Cochrane foi contratado pelo governo imperial para fazer guerra no mar aos portugueses e às Juntas Governativas das províncias do Piauí, Maranhão e do Grão-Pará até então refratárias à separação. O governo da Província Cisplatina capitulava, por Álvaro da Costa, em 18/11/1823. No final deste ano todas as províncias estavam integradas politicamente no novo império.

Medida de guerra foi ainda o decreto de 11/12/1822, em que José Bonifácio ordenou o sequestro de todas as mercadorias nas alfândegas do Império de propriedade de portugueses, as que estivessem em mãos destes, os prédios rústicos e urbanos, as embarcações pertencentes a súditos de Portugal. Outro decreto, de 30/12/1822, elevou para 24% os direitos de importação de mercadorias portuguesas, equiparadas assim às dos demais países do mundo, salvo as da Inglaterra que, por força do tratado de 1810, continuavam a pagar 15%.

José Bonifácio, que não usava escravos em suas propriedades, escrevera ao mesmo Caldeira Brant desde outubro de 1822, pedindo para o Brasil trabalhadores rurais ingleses, para estabelecê-los no Brasil. Vieram cerca de 250, como a 16/01/1823 comunicou Caldeira Brant, inicialmente pelo navio Lawpin.

A Assembleia Constituinte: 1823

1823 foi o grande ano da Constituinte. Um decreto de 14/04/1823 fixou para 17/04/1823 a primeira reunião preparatória e, a 03/05/1823, a abertura definitiva. A opinião de José Bonifácio estava expressa na frase que Dom Pedro I pronunciou em sua coroação, na cerimônia pomposa e teatral em 01/12/1822:

"Com a minha espada defenderei a pátria, a nação e a Constituição, se for digna do Brasil e de mim!"

Era a advertência aos deputados, como o resto de sua fala, a que não perpetrassem apenas uma obra de teóricos e sonhadores. Para José Bonifácio, o mandato dos constituintes não era irrestrito, a forma de governo fora predeterminada: uma monarquia constitucional.

Num Brasil com um milhão de escravos numa população total inferior a quatro milhões, mal saído da opressão colonial, sem escolas, sem universidades, em que até 15 anos atrás não se admitia a existência de um prelo, de um jornal, a assembleia congregava muitos homens de valor - mas todos inexperientes em assuntos de técnica parlamentar e legislativa. A posição do governo se tornou menos cômoda. Surgiram logo os protestos liberais, o governo mantinha gente nas prisões sem culpa formada, ordenava deportações, coagia a imprensa. Formou-se na Constituinte uma oposição aguerrida, e José Bonifácio não possuía os dons necessários de convencimento, era mau orador, com timbre de voz antipático, não se preocupava em ser amável, não disfarçava certo tom arrogante. "Por não ser mais sereno, carrega hoje culpas que não lhe cabem", concluiu Octávio Tarquínio de Sousa, como o atentado de que foi vítima o jornalista Luís Augusto May. Enquanto isso, Dom Pedro passou a acreditar em todos os elogios, em todos os louvores, acreditando-se o herói único, autor exclusivo da independência.

José Bonifácio caiu após um episódio que envolveu o padre Francisco Muniz Tavares, deputado por Pernambuco, sobre a situação dos portugueses no Brasil. O projeto de deportação não vingou, mas deu ensejo a que se dissesse o que não deveria ter sido dito. O imperador decidiu afastar seu ministro e demiti-lo por uma questiúncula de política regional paulista. José Bonifácio se considerou demitido na noite de 15/07/1823. Seu substituto foi José Joaquim Carneiro de Campos, depois Marquês de Caravelas. Solidária, demitiu-se também sua irmã Maria Flora Ribeiro de Andrada das funções de camareira-mor da imperatriz.

Sobre este episódio comenta Maria Graham:

"...a renúncia de José Bonifácio é certa, e não menos certa a de seu irmão Martim Francisco, cuja honestidade irrepreensível à frente do Tesouro não será facilmente substituída. (…) A ideia mais geral é a de que os Andradas foram sobrepujados por um partido republicano da Assembleia. (…) Entrementes José Joaquim Carneiro de Campos é o primeiro-ministro e Manuel Jacinto Nogueira da Gama está à testa do Tesouro; homem bastante rico para ficar acima de qualquer tentação cujo caráter, quanto à integridade, está escassamente abaixo de seu predecessor."

Em uma entrevista dada em 05/09/1823 a O Tamoyo, jornal por ele fundado em agosto de 1823 após sua demissão do governo, e que só viveu três meses, ele explicou suas ideias, abriu seu coração. O homem público estava intacto, cheio de interesse pela política. Não podia afastar-se da Corte, pois era deputado à Constituinte, mas lutaria contra o que não lhe agradava. A 01/09/1823 foi lido o projeto de Constituição, com 272 artigos, do qual Antônio Carlos, seu irmão, era o relator e autor principal. Era francamente liberal, e criava um poder executivo forte, delegado ao imperador. Mas havia no seio da assembleia quatro ou cinco grupos. E, em Portugal, um golpe absolutista contra as desastradas Cortes investira novamente Dom João VI na plenitude dos poderes do Estado. Portugueses e reacionários começavam no Brasil a levantar a cabeça.

O imperador ia aos poucos cedendo, e o elemento militar luso ia-se infiltrando no exército, tornando-se perigoso e insolente. A campanha dos que se intitulavam os patriotas continuava, nacionalista e anti-portuguesa. Houve discursos de grande exaltação em novembro de 1823, depois do episódio com o boticário Davi Pamplona Corte Real. O imperador refez então seu gabinete com gente incolor ou reacionária. Francisco Vilela Barbosa, depois Marquês de Paranaguá, chegado há pouco de Portugal, foi escolhido novo ministro do Império. A tropa passou a exigir restrições à liberdade de imprensa e a expulsão dos Andradas da Assembleia. A dissolução da Constituinte tornou-se inevitável.

Segundo Maria Graham "a verdadeira causa do desprestígio de José Bonifácio estava na amante do Imperador e no Plácido. Suponho que estão vendidos ao partido português, afirma - sendo eles próprios pés de chumbo." (…) Quando os Andradas foram deportados, foi uma inglesa, Mrs. Chamberlain, senhora do cônsul inglês no Rio de Janeiro, que obteve licença para que suas esposas pudessem acompanhá-los.

José Bonifácio foi preso em casa e levado para a Fortaleza da Laje, após o golpe de força da dissolução da Assembleia pelo imperador, em 12/11/1823. Não haveria nova Constituinte - Dom Pedro I outorgaria uma Constituição a 24/03/1824, sendo esta uma adaptação do ante-projeto de Antônio Carlos, em curso na Assembleia Constituinte dissolvida.

Condenado ao exílio, deixou o Rio de Janeiro numa velha charrua, chamada Lucônia, a 20/11/1823, comandada pelo português Joaquim Estanislau Barbosa, com destino ao Havre. Após um motim durante a viagem, pararam em Vigo, na Espanha, a 12/02/1823, e quase foram apresados por navios portugueses, escapando graças à intervenção do cônsul da Inglaterra, que o procurou a bordo. Seguiram por terra para Corunha, e de barco para Bordéus, onde desembarcaram a 05/07/1823.

Exílio e Retorno

Banido, José Bonifácio foi residir em Talence, a quatro quilômetros de Bordéus, com sua família. Viveria no exílio dos 61 aos 66 anos. Martim Francisco e Antônio Carlos moravam também em Bordéus. Neste período renasceu nele o trabalhador intelectual, o homem de estudos. E a "solidão do campo", como escreveu a amigos, lhe trouxe "a mania antiga de poeta". Traduziu Virgílio e Píndaro, compôs, e em 1825, sob o pseudônimo arcádico de Américo Elísio, publicou em Bordéus as "Poesias Avulsas", gastando nisso 500 francos. Não era bom poeta, nem poeta original.

As notícias do Brasil não o podiam deixar contente. Dom Pedro I, a 25/03/1824, outorgada a Carta Constitucional, fora implacável ao abafar o movimento revolucionário do Nordeste, conhecido como Confederação do Equador, nascido da dissolução da Assembleia.

"O partido português havia assumido tal importância em setembro de 1824 que o mais leve sinal de inteligência num ministro brasileiro o derrubaria. Todos os oficiais do palácio, as mulheres inclusive são portugueses ou franco-lusitanos."

Preocupavam-no sobretudo as negociações para o reconhecimento da independência, com Portugal e a Inglaterra, que se arrastaram até agosto de 1825. O fato de o Brasil aceitar pagar dois milhões de esterlinas a Portugal lhe pareceu mais uma "carta de alforria" do que o reconhecimento. Foi impiedoso com Dom João VI, a quem chamou de "João Burro", e com Dom Pedro, a quem comparou a Pedro Malasartes. Considerava um insulto que Dom Pedro tivesse outorgado a sua amante Domitília de Castro e Canto Melo o título de Viscondessa de Santos, justamente a cidade em que nascera.

Em maio de 1826 foi instalada a primeira Assembleia Legislativa brasileira. Dom Pedro I não agiu imparcialmente na escolha dos senadores, nem se deveria esperar isso dele. Morreu o rei Dom João VIDom Pedro lhe sucedera no trono português. Porém, ele outorgou uma Carta, decretando anistia geral e abdicando em favor de sua filha Dona Maria da Glória, futura Dona Maria II.

Enquanto isso, a devassa aberta contra os Andradas se eternizava em São Paulo, avançando até 1828, e José Bonifácio permanecia em Bordéus. Neste período foi duas vezes votado como deputado pela Bahia. Antônio Carlos e Martim Francisco conseguiram autorização para o regresso e deixaram Bordéus a 26/04/1828, sendo recolhidos à Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, a 04/07/1828, e a 06/09/1828 lograram absolvição e liberdade.

Em 1829 foi permitido a José Bonifácio retornar ao Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro a 23/07/1829, carregando o cadáver da esposa, morta na viagem. O ministro do Império era seu adversário José Clemente Pereira, e o dos Estrangeiros o Marquês de Aracati, seu companheiro no governo provisório de São Paulo e depois também adversário.

A situação política não era das melhores, pois o imperador não se entendia com o Poder Legislativo, não escolhia ministros que desfrutassem do apoio dos deputados, entre os quais havia quem quisesse estabelecer o parlamentarismo à inglesa. O Primeiro Reinado vinha se caracterizando por uma constante instabilidade política e social. José Bonifácio teria grandes dúvidas sobre a campanha liberal dirigida por Bernardo Pereira de Vasconcelos, Evaristo da Veiga e outros.

Generoso, perdoava ao que chamava por vezes "O Rapazinho", e Dom Pedro o recebeu com alegria. Com o Marquês de Barbacena, que desembarcara no Rio de Janeiro em 16/10/1829 trazendo a nova imperatriz Dona Amélia de Leuchtenberg, sempre se entendera bem. Mas seus inimigos não o deixavam descansar e, já em março de 1830, foi acusado de estar metido em uma conspiração republicana, como insinuou o Diário Fluminense. Vivia então retirado na ilha de Paquetá.

Dom Pedro II aos 12 anos de idade vestindo o uniforme imperial de gala, 1838
Tutor dos Príncipes

Com a abdicação de Dom Pedro I em 07/04/1831, José Bonifácio foi por ele nomeado tutor de seu filho de cinco anos, o futuro Dom Pedro II. Mau marido, o imperador foi um pai dedicado e enternecido - e de todos os filhos, legítimos ou não.

O imperador assinou um decreto em que nomeava "tutor dos meus amados e prezados filhos ao muito probo, honrado e patriótico cidadão José Bonifácio de Andrada e Silva, meu verdadeiro amigo". No dia 8 de abril, José Bonifácio foi ao palácio da Boa Vista visitar os pupilos. Tinha 68 anos e seu temperamento e seu feitio não prometiam um tutor ideal. Ainda apareceria na Câmara dos Deputados, pois era suplente de Honorato José de Barros Paim.

Prestou juramento perante o Senado como tutor eleito pela Assembleia a 19/08/1831. A lei de 12/08/1831 regulava suas funções, e não lhe cabia senão nomear mestres e mordomos. Manteve Luís Aleixo Boulanger para lhes ensinar escrita, primeiras letras e geografia; o cônego Renato Pedro Boiret para mestre de francês; Simplício Rodrigues de Sá, de desenho; Lourenço Lacombe, de dança; Fortunato Mazzioti, de música. Acabou brigando com Dona Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho, a quem os príncipes consideravam uma segunda mãe, e que não teria pequena parte na campanha movida contra ele.

Logo se tornou suspeito ao governo. O ministro da Justiça Diogo Antônio Feijó, que abafara dois graves levantes armados no Rio de Janeiro em 1831 e 1832, se convenceu de que José Bonifácio tivera parte no último, e o acusou formalmente.

Em 1833, o grande temor era a volta de Dom Pedro I, a restauração, um golpe "caramuru". Antônio Carlos fora mesmo à Europa para convencê-lo a retornar. A Aurora Fluminense, de Evaristo da Veiga, acusava o tutor de falta de compostura, comentando dois bailes dados no paço. Finalmente, José Bonifácio foi suspenso do cargo pelo decreto de 14/12/1833, por ato cujo verdadeiro autor era o Ministro da Justiça Aureliano Coutinho, depois Visconde de Sepetiba, que escreveu à Dona Mariana de Verna: "Parabéns, minha senhora. Custou, mas demos com o colosso em terra".

Eles estavam enganados. José Bonifácio resistiu, com energia a diversos juízes de paz que foram ao paço levar seu decreto de suspensão, pois não o considerava legal. E escreveu ao Ministro do Império: "Cederei à força, que não a tenho".

Para arrancá-lo, mobilizou-se a tropa e foi lavrada contra ele ordem de prisão. O governo prendeu-o em casa, na ilha de Paquetá. Em seu lugar foi nomeado Manuel Inácio de Andrade Souto Maior Pinto Coelho, o Marquês de Itanhaém.

Perfil e o Fim

Segundo Maria Graham, uma inglesa contemporânea, não havia lugar em que se pudesse passar meia hora com mais prazer e proveito do que na família "deste ex-ministro".

"Sua mulher é de origem irlandesa, uma O'Leary, senhora da maior amabilidade e gentileza, realmente admiradora do valor e do talento do marido. (…) Mas é o próprio José Bonifácio que me desperta maior interesse. É um homem pequeno, de rosto magro e pálido. Suas maneiras e sua conversa impressionam logo o interlocutor com a ideia daquela atividade incansável e que mais parece consumir o corpo em que habita. (…) via-se logo que era muito popular entre a gente pequena. Para comigo, como estrangeira, foi da maior cerimônia ainda que delicadamente polido, e conversou sobre todos os assuntos e de todos os países."

José Bonifácio abandonou a vida política e passou o restante de seus dias em reclusão, em sua casa na ilha de Paquetá, dentro da Baía de Guanabara. Morreu ali perto, em Niterói, aos 74 anos, no dia 06/04/1838.

Seu cadáver, embalsamado, foi levado três dias depois para o Rio de Janeiro, depositado na Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, onde ficou exposto até o dia 25/04/1838. Nessa data, sua filha Dona Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada o levou para Santos, sepultando-o na capela-mor da Igreja Nossa Senhora do Carmo, segundo disposição testamentária.

José Bonifácio deixou poucos bens. Foi e continuava a ser homem pobre, mas sua biblioteca contava com seis mil volumes.

Atualmente, os seus restos mortais jazem ao lado dos despojos de seus ilustres irmãos, Antônio Carlos, Martim Francisco e o padre Patrício Manuel, num monumento situado em Santos, na Praça Barão do Rio Branco 16, denominado Panteão dos Andradas, inaugurado no dia 07/09/1923.

Gabriela Frederica, uma das três filhas de José Bonifácio, casou com Martim Francisco, seu tio.
Casamento e Posteridade

José Bonifácio casou em Lisboa em 31/01/1790, na igreja de Nossa Senhora da Lapa, com uma senhora irlandesa, Narcisa Emília O'Leary, que lhe deu duas filhas.

Carlota Emília, que casou com Alexandre Antônio Vandelli, auxiliar do sogro desde 1813 na Intendência-Geral das Minas e Metais e na Academia das Ciências.

Gabriela Frederica Ribeiro de Andarda que, em 15/11/1820, casou em Santos com seu tio, Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Voltando ao Brasil trouxe uma filha bastarda, Narcisa Cândida, assim batizada em homenagem à esposa.

Curiosidades

O Imperador Dom Pedro II, por ocasião dos festejos do cinquentenário da independência, quis outorgar à Gabriela Frederica Ribeiro de Andarda, filha de José Bonifácio, o título de Viscondessa do Ipiranga, o que foi delicadamente recusado alegando que seu pai e tios nunca aceitaram honrarias e títulos semelhantes pelos serviços que haviam prestado ao país.

Certa vez, José Bonifácio recebeu um envelope contendo seus vencimentos de ministro e os colocou dentro do chapéu. Ao sair, deixou-o na cadeira do teatro e esqueceu que o dinheiro estava ali. Chegando em casa, lembrou-se do dinheiro e não mais o encontrou. De alguma forma, o Imperador soube do fato e ordenou a Martim Francisco, então Ministro da Fazenda, que pagasse novamente a José Bonifácio o salário do mês, ao que o Ministro da Fazenda se recusou dizendo que "O Estado não é responsável pela displicência de seus empregados", e continuou: "O máximo que posso fazer é dividir meu pagamento com ele". E assim foi feito.

José Bonifácio morreu pobre e esquecido. Um amigo que o conheceu nos tempos de glória soube que estava doente e foi visitá-lo em Niterói. O amigo ficou impressionado com a modéstia da casa e mais ainda com os remendos no lençol que o cobria.

- Não repare - disse José Bonifácio, passando a mão pelo lençol.
- O que enfeia esses bordados é apenas a irregularidade do desenho…

O amigo ficou sem saber se era um disfarce, uma ironia ou um pedido de desculpas.

Atividades Maçônicas

José Bonifácio teve lugar de destaque na história da Maçonaria do Brasil como um dos principais fundadores. Foi o primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil sendo empossado em 19/07/1822, cargo o qual exerceu por duas oportunidades. Exerceu ainda o cargo de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho que é a mais alta hierarquia, responsável pelos maiores graus da Ordem Maçônica.

O Monumento a José Bonifácio atualmente, quase na esquina da Rua 40 Oeste - New York
Representações e Homenagens

Na Cultura

  • José Bonifácio já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Dionísio Azevedo no filme "Independência ou Morte" (1972)
  • Leonardo Villar, na telenovela "Marquesa de Santos" (1984)

Nas Artes:

  • A cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, mantém uma praça com seu nome, em frente à Catedral São Francisco de Paula, com um monumento central em sua homenagem.
  • Pantheon dos Andradas em Santos, São Paulo - No centro histórico de Santos, onde estão os seus restos mortais. Na câmara principal tem uma estátua projetada por Rodolfo Bernardelli.
  • Estátua no Bryant Park, New York - Um presente do Governo Brasileiro aos Estados Unidos, obra de José Otávio Correia Lima inaugurada em 22/04/1955 no primeiro local em que foi instalada (na Sexta Avenida esquina com a Rua 42 oeste) na presença do prefeito Roberto F. Wagner e o embaixador brasileiro nos Estados Unidos João Carlos Muniz. Muitos anos depois, porém, o monumento mudaria de lugar para o Bryant Park.
  • Estátua no Largo de São Francisco, Rio de Janeiro - Homenagem do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, obra de Louis Rochet inaugurada na presença de Dom Pedro II, no cinquentenário da Independência.
  • Retrato de José Bonifácio - Pintura a óleo, no Salão de Honra do Museu Paulista, obra de Oscar Pereira da Silva.

Belonaves:

A Marinha o considera o seu fundador e deu o seu nome a três de suas belonaves:

  • Iate José Bonifácio, incorporado à esquadra em 1915 para servir a Presidência da República. Em 1923 ainda estava em operação.
  • Cruzador José Bonifácio ou Cruzador Andrada, incorporado à esquadra em 1894. Esteve em operação até 1913.
  • Navio Hidrográfico/Auxiliar José Bonifácio, incorporado em 1932. Operou até 1963, quando esteve em Santos, participando das comemorações do bicentenário do nascimento do Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva.

Memória


  • Seu nome foi inserido no Livro dos Heróis da Pátria, em 21/04/2007, dentre as comemorações do quadragésimo sétimo aniversário de Brasília.
  • O Senado Federal instituiu a Medalha José Bonifácio, em sua homenagem.
  • A Universidade de Coimbra deu seu nome a uma das galerias do seu Museu Mineralógico e Geológico.
  • O Presidente Itamar Franco e o Ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, instituíram a Medalha Nacional do Mérito Científico que tem a efígie de José Bonifácio de Andrada e Silva através do decreto nº 772 de 16/03/1993, depois revogado e alterado pelo decreto nº 4.115 de 06/02/2002.
  • A Sociedade Brasileira de Geologia instituiu em 1958 a Medalha de Ouro José Bonifácio de Andrada e Silva com o objetivo de homenagear profissionais das Geociências, associados da Sociedade Brasileira de Geologia, que tenham contribuído para o desenvolvimento e avanço do conhecimento geológico.
  • O município de Santos instituiu a Medalha e o Diploma do Mérito José Bonifácio.
  • O município de José Bonifácio recebeu este nome em sua homenagem.
  • A Rua José Bonifácio no bairro de São Domingos na cidade de Niterói recebeu este nome em sua homenagem. É justamente a rua onde residiu nos seus últimos anos de vida.
  • O governo do Estado de São Paulo instituiu a "Semana do Patriarca da Independência" em sua homenagem.
  • A um mineral do grupo da granadas foi dado o nome de andradita, em sua homenagem.

Obras


  • 1813 - "Sobre As Minas De Carvão-de-Pedra Em Portugal", publicado no Patriota, Rio de Janeiro.
  • 1813 - "Há Terrenos Que Pelo Arado Não Dão Fruto, Mas Sendo Cavados Com o Picão Sustentam Mais Do Que Se Fossem Férteis", memória, publicada no Patriota, Rio de Janeiro.
  • 1814 - "Experiências Químicas Sobre a Quina do Rio de Janeiro, Comparada Com Outras"
  • 1814-1815 - "Memória Minerográfica da Serra Que Decorre de Santa Justa até Santa Comba e Suas Vizinhanças na Província do Minho", Museu Paulista, Coleção José Bonifácio, Doc. 290.
  • 1815 - "Sobre a Necessidade e Utilidade do Plantio de Novos Bosques em Portugal, Particularmente de Pinhais Nos Areais de Beira-Mar; Seu Método de Sementeira, Custeamento e Administração"
  • 1815 - "A Primavera"
  • 1817 - "Memória Sobre a Nova Mina de Ouro da Outra Banda do Tejo, Chamada Príncipe Regente"
  • 1818 - "Memória Sobre as Pesquisas e Lavra dos Veios de Chumbo de Chacim, Souto, Ventozello, e Villar de Rey na Província de Trás-os-Montes"
  • 1818 - "História da Academia Real das Ciências de Lisboa, Para o Ano de 1818", discurso histórico recitado na sessão de 24/06/1818".
  • 1820 - "Memória Econômica e Metalúrgica", sobre a fábrica de ferro em Sorocaba, que visitaria pela segunda vez em 1821, com duras críticas à "má administração antiga e nova", aos "abusos e ladroeiras", o que iria suscitar a má vontade, a ira e a vingança do filho do diretor, o historiador Varnhagen.
  • 1825 - Poesias Avulsas
  • S/D - "Memória Minerográfica Sobre o Distrito Metalífero Entre os Rios Alva e Zêzere", Museu Paulista, Coleção José Bonifácio, Doc. 291.

Fonte: Wikipédia