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Dom Avelar Brandão Vilela

AVELAR BRANDÃO VILELA
(74 anos)
Cardeal

* Viçosa, AL (13/06/1912)
+ Salvador, BA (19/12/1986)

Dom Avelar Brandão foi um cardeal brasileiro. Iniciou seus estudos no Seminário de Maceió e no Seminário de Olinda. Foi ordenado em 27/10/1935. Membro do corpo docente e orientador espiritual do Seminário de Aracajú, foi secretário da diocese de Aracajú. Foi capelão diocesano da Ação Católica.

Episcopado

Com apenas 33 anos foi sagrado bispo de Petrolina, sendo consagrado em 27/10/1946, pelo bispo Dom José Thomas Gomes da Silva, bispo de Aracaju, tendo como co-consagrantes Dom Adalberto Accioli Sobral, bispo de Pesqueira e Dom Mário de Miranda Vilas-Boas, arcebispo de Belém, PA.

Em 05/11/1955, foi elevado a arcebispo de Teresina. Frequentou o Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Foi eleito presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), mandato que exerceu entre 1966 e 1972. Frequentou a I Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na cidade do Vaticano, entre 29/09 e 29/10/1967, a primeira Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, entre 11/10 a 28/101969 e a II Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, entre 30/09 e 06/11/1971. Em 25/03/1971 foi transferido para a Arquidiocese de São Salvador, BA.

Cardinalato

Em 05/03/1973, foi criado cardeal no Consistório Ordinário Público de 1973, recebendo o barrete cardinalício das mãos do Papa Paulo VI e o título cardinalício de São Bonifácio e Santo Aleixo.

Em 1975 requereu da Santa Sé o título já consagrado da primazia de sua arquidiocese, o Santo Padre enviou seu representante o núncio apostólico para conferir o título numa cerimônia na Catedral-Basílica Primacial de São Salvador, em 25/10/1980.

Morte

Dom Avelar Brandão faleceu em 19/12/1986, vítima de câncer de estômago e encontra-se sepultado na Catedral-Basílica Primacial de São Salvador.

Era irmão do ex-senador Teotônio Vilela e tio do político Teotônio Vilela Filho.

Conclaves

  • Conclave de agosto de 1978 - Participou da eleição do Papa João Paulo I
  • Conclave de outubro de 1978 - Participou da eleição do Papa João Paulo II

Fonte: Wikipédia

Mãe Hilda Jitolu

HILDA DIAS DOS SANTOS
(86 anos)
Iyálorixá

* Salvador, BA (06/01/1923)
+ Salvador, BA (19/09/2009)

Hilda Dias dos Santos, a mãe Hilda Jitolu, era Iyálorixá do Candomblé Jeje. Nasceu no dia 06/01/1923, na cidade de Salvador.

Casou-se com o alfaiate e fiscal da prefeitura, Valdemar Benvindo dos Santos, no dia 06/09/1950, tendo 5 filhos. O primeiro deles, Antônio Carlos dos Santos Vovô, presidente fundador do Bloco Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, é também Ogãn de Obaluaê da Casa o Ilê Axé Jitolu. A segunda filha Hildete Santos Lima, fundadora e diretora do Ilê Aiyê, é também Ekédi de Oxum da Casa. O terceiro filho Vivaldo Benvindo dos Santos, fundador e diretor do Ilê Aiyê,  é também Ogãn da Casa, confirmado, e filho de Logum Edé. A quarta filha foi Hildemária Georgina dos Santos, filha de Oxossi "In Memorian" e a quinta é Hildelice Benta dos Santos, diretora da Escola Mãe Hilda -, filha de Oxalá e recebeu o cargo de mãe de santo do Terreiro Ilê Axé Jitolu após o falecimento de Mãe Hilda.

O Pai de Santo da Iyalorixá Hilda Jitolu era da nação Gegê Mahin, chamava-se Cassiano Manoel Lima, sua Digina era do Gegê Mahin, cujo terreiro era localizado na Caixa Dágua. A Iyalorixá Constância da Rocha Pires, Mãe Tança, filha de Nanã, cuja Digina era Ajauci, continuou os trabalhos das obrigações de Mãe Hilda Jitolu.  O nome Jitolu foi dado a Mãe Hilda no dia 24/12/1942.


O Terreiro Ilê Axé Jitolu foi fundado no dia 06/01/1952. A primeira festa do ano é de Oxalá, realizada sempre no mês de janeiro. Em seguida vem a festa para Obaluaê, realizada no dia 16/08. Depois, no mês de setembro, acontece a festa do Caboclo Tupyassu.

A ação social da Iyalorixá Mãe Hilda Jitolu se desenvolve em vários domínios de produção político-cultural. Foi, e é decisiva, a sua contribuição para a linha filosófica de trabalho do Ilê Aiyê. Nacionalmente, Mãe Hilda, criou uma escola de alfabetização, em 1988, que leva seu nome, abrindo as portas do Terreiro para que os filhos das Filhas de Santo e os da comunidade, pudessem estudar e assim, terem um rumo na vida. Ela também incentivou a criação do Memorial Zumbi dos Palmares, em Alagoas. A partir de 1995, o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê começou a atuar além das instâncias educativas do Bloco - nas escolas públicas do bairro da Liberdade - sempre a partir dos ensinamentos de Mãe Hilda: preservar e expandir os valores da cultura africana no Brasil.

No carnaval de 2004, o Bloco Ilê Aiyê a homenageou com o tema "Mãe Hilda: Guardiã da Fé e da Tradição Africana", em comemoração aos 30 anos do Ilê Aiyê.

Era Mãe Hilda quem comandava a cerimônia religiosa que antecede o desfile do Ilê Aiyê no sábado de carnaval. Da sacada de sua casa, ela presidia um rito para abrir os caminhos e reverenciar os orixás. A cerimônia terminava com a soltura de pombos brancos por todos os diretores do Ilê Aiyê e pela rainha eleita pelo bloco como a beleza do ano, a Deusa de Ébano.


Morte

Sua morte aconteceu na manhã de sábado, 19/09/2009, aos 86 anos, em um hospital de Lauro de Freitas, Salvador, com problemas cardíacos. Em ritual próprio do candomblé denominado de axexe, a Ialorixá Mãe Hilda Jitolu, líder espiritual do bloco afro Ilê Aiyê, foi sepultada na manhã de domingo, dia 20/09/2009, no Cemitério Jardim da Saudade.

Filhos de santo ligados ao Terreiro Ilê Axé Jitolu permaneceram em vigília durante a noite velando o seu corpo, por volta das 8:00 hs, se reuniram em torno do caixão para entoar os cânticos e dar início ao cortejo fúnebre.

O Governador Jaques Wagner no velório de Mãe Hilda
Orixás incorporados acompanhavam o cortejo, que seguiu até a entrada da Rua do Curuzu no bairro da Liberdade. A cerimônia continuou no Cemitério Jardim da Saudade e, por volta das 10:30 hs, foi sepultada na presença de inúmeras pessoas, todas vestidas de branco.

O prefeito João Henrique esteve no sepultamento e decretou três dias de luto oficial em Salvador. O governador Jaques Wagner também esteve no terreiro e prestou homenagens a Mãe Hilda.


Frei Damião

PIO GIANNNOTTI
(98 anos)
Frade

* Bozzano, Itália (05/11/1898)
+ Recife, PE (31/05/1997)

Frei Damião foi um frade italiano radicado no Brasil. Nasceu em Bozzano, município de Massarosa, Província de Lucca, na Itália, aos 05/11/1898. Foi o segundo dos 5 filhos do casal Félix Giannotti e Maria Giannotti, camponeses italianos de sólida formação cristã e católica. O filho mais velho da família, Guilherme Giannotti, tornou-se padre diocesano e depois recebeu o título de Monsenhor, destacando-se como professor e diretor espiritual no Seminário Arquiepiscopal de Lucca-Itália. A irmã mais nova, Pia Giannotti, tornou-se freira da Congregação das Irmãs de Santa Zita (Zitinas).

No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizado na igreja dos santos Catarina e Próspero, matriz de Bozzano, recebendo o nome de Pio Giannotti. Aos 10 anos de idade, em 15/06/1908, foi crismado na Catedral de Lucca, pelo Cardeal Lorenzelli. Todavia, o dia da sua Primeira Comunhão foi para o menino Pio Giannotti o mais especial, após a experiência que teve diante de Jesus Crucificado, que o marcou pelo resto de sua vida. Segundo o testemunho de uma de suas irmãs, Josefa, após a missa da Primeira Comunhão, quando voltaram para casa, logo o menino desapareceu, preocupando a todos da família. Ela saiu à sua procura e encontrou-o, para sua surpresa, ajoelhado diante de um crucifixo que ele mesmo colocara no sótão da casa, onde guardavam os mantimentos para o inverno, rezando e chorando a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis porque durante toda a vida, jamais se separou do crucifixo!


A Vocação à Vida Religiosa

Depois da experiência com o Crucificado, Pio Giannotti começou a externar os primeiros sinais de sua vocação, com o desejo de consagrar-se inteiramente a Deus. Não seguiu o mesmo caminho do irmão Guilherme, que era padre diocesano, mas, tocado pelo testemunho dos filhos de São Francisco de Assis, aos 13 anos de idade, a 17/03/1911, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos, recebendo o nome de Damião, Frei Damião de Bozzano, indicando sua cidade de origem.


Formação Religiosa e Intelectual

Sendo professo simples na Ordem dos Capuchinhos, Frei Damião iniciou o estudo da Filosofia. Teve, contudo, que parar por algum tempo, devido à convocação, em setembro de 1918, para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial. Ficou acampado em Zara, uma zona de conflito. Voltando para o convento, depois do fim da guerra, Frei Damião emitiu a sua Profissão Perpétua, selando para sempre com o Senhor o compromisso de viver em castidade, em obediência e sem nada de próprio, conforme a Regra de São Francisco de Assis e as Constituições da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.

No ano de 1920, iniciou estudo da sagrada Teologia. A seguir, foi enviado à Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu os estudos, com láurea em Direito Canônico e Teologia Dogmática. Em 05/08/1923, ele foi ordenado sacerdote na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma.


Serviços Prestados

Dois anos após a sua ordenação, Frei Damião de Bozzano foi nomeado vice-mestre de noviços de sua Província religiosa, Lucca, Itália. Em 1926, foi nomeado diretor e professor dos frades estudantes, cargo que exerceu até 1931, ano de sua vinda para o Brasil. E no Brasil foi eleito Assistente (Conselheiro) da então Custódia Geral dos Capuchinhos de Pernambuco. Aqui, dedicou-se às Santas Missões durante 66 anos.

Frei Damião, recém chegado ao Brasil
No Brasil: Residências e Andanças Missionárias

A Província dos Capuchinhos de Lucca-Itália assumiu a Missão de Pernambuco no ano de 1930, quando aportou em Recife o Frei Félix de Olívola, nomeado Superior da dita Missão. Por seu expresso pedido, obediente ao mandato de Cristo aos apóstolos: "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15), Frei Damião deixou sua Itália querida e veio, juntamente com Frei Inácio de CarraraFrei Bento de Terrinca, como missionário para o Nordeste do Brasil. Partiu da cidade de Gênova, no navio Conte Rosso, aos 28/05/1931, desembarcando no porto do Recife, em Pernambuco, aos 17/06/1931.

No Brasil, sua primeira residência foi o Convento de Nossa Senhora da Penha, donde partiu para pregar as Santas Missões, começando pelo Sítio Riacho do Mel, município de Gravatá, PE, a 35 km da capital.

Desde então, durante 66 anos, percorreu como fiel filho de São Francisco as secas, porém, férteis terras nordestinas, enfrentando sol, chuva e poeira nas estradas, pregando, confessando, celebrando a Eucaristia e convidando à conversão e à mudança de vida.

Para melhor difundir a mensagem por ele anunciada, escreveu o livro "Em Defesa da Fé". Durante esse tempo morou em Recife, PE, Maceió, AL (no período da Segunda Guerra Mundial) e em Natal, RN, onde fez parte da primeira Fraternidade, ou seja do primeiro grupo de frades que residiram na capital potiguar. Mas, a maior parte do tempo era em andanças de cidade em cidade.


As Santas Missões: O Estilo de Evangelização

As Santas Missões eram um tempo forte de graça e conversão. A cidade parava para ouvir e celebrar a Palavra de Deus proclamada pelo Frei Damião. Era sempre recebido com festa e tratado com muito carinho como ele mesmo afirmava. Porém, fazia questão de dizer que tudo aquilo não era para ele, mas para Deus de quem o povo o via como mensageiro. Não pregava a si mesmo, mas o Evangelho de Cristo.

Frei Damião, antecedido por outros tantos abnegados capuchinhos missionários no Nordeste, desenvolveu um estilo próprio de evangelização, através das Santas Missões. A Missão geralmente começava na segunda-feira. Ao cair da tarde, o missionário era recebido á entrada da cidade e conduzido, geralmente em carreatas, à igreja matriz, ali dirigia as primeiras palavras à multidão que esperava, sedenta, ouvir a voz do Peregrino de Deus.

À noite, rezava o terço com o povo, fazia o grande sermão, seguido da bênção do Santíssimo Sacramento, e, em seguida, confissão para os homens até 00:00 hs ou mais. Nas primeiras horas do amanhecer, às 4:30 hs, com a campainha na mão, acordava os cristãos: "Vinde pais e vinde mães…", chamando as pessoas para a caminhada de penitência, seguida do canto do Ofício de Nossa Senhora ou das Benditas Almas do Purgatório, e da celebração da missa e das confissões.

Frei Damião confessava mais de 12 horas por dia, celebrava com o povo o Sacramento do Perdão de Deus. Com carinho paterno, jeito terno e, às vezes, severo, ele orientava os corações para Cristo.

Durante a Semana da Missão, havia encontros específicos com as mulheres, com os homens, com os jovens, catecismo para as crianças, visitas aos doentes e aos encarcerados. O encerramento dava-se no domingo com a procissão dos motoristas e bênção dos automóveis pela manhã e, á noite, o grande sermão com os últimos conselhos do missionário.

Tinha uma pregação de conteúdo moral e apologético, propondo, assim, demonstrar a verdade da doutrina cristã católica, defendendo-a diante de teses contrárias, ou seja, sistematizando a fé cristã católica, sua origem, credibilidade e autenticidade. Fazia parte do Sermão a pregação que apontava para "Os Novíssimos": Morte, Juízo, Céu e Inferno. Lembrando que o Livro do Eclesiástico contém um conselho fundamental para nossa salvação: "Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás" (Ecl. 7, 40).

Assim se recordarmos sempre da morte, do juízo, do céu e do inferno jamais pecaremos. Se o mundo anda tão mal, é porque pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos. Os Santos, no entanto, não só os tinham sempre presentes, mas também pregavam sobre eles aos outros. Assim o fez e ensinou Frei Damião de Bozzano.

Memorial Frei Damião
Companheiros de Missões

Como companheiros de missões, Frei Damião teve o apoio de Frei Antônio de Terrinca, Frei Cipriano de Ponteccio, Frei Eduardo de Strettoia, Frei Félix de Pomezzana e aquele que por mais de 50 anos esteve a seu lado, Frei Fernando Rossi. Ao lado do Servo de Deus, esteve em muitos lugares, especialmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Ceará e Piauí. Atualmente, reside na Vila São Francisco, município de Quebrangulo, AL.


Resistência, Doação, Dom da Escuta e Espiritualidade

Frei Damião era de uma resistência extraordinária. Até 1990, pregou missões no mesmo ritmo, de segunda a domingo, de 10/01 a 31/12, parando apenas quando estava doente e, mesmo no hospital, não deixava de atender ao povo.

Arrastava multidões e todos queriam ouvir sua voz e tocá-lo. Era querido pelo povo como um pai, um padrinho, alguém da família. Não falava simplesmente à multidão, mas ao coração de cada um em particular. Por isso, acolhia a todos sem distinção, do rico ao pobre, do letrado ao analfabeto, era irmão de todos, e a todos exortava a viverem na amizade de Deus e a abandonarem o pecado.

Ouviu a alma do nosso povo e não somente os pecados, mas as dores e as alegrias. Tornou-se solidário conosco, um de nós, nordestino como nós, para levar todos a Cristo. Jamais se separou do crucifixo, nem do rosário da Mãe de Deus. Como autêntico franciscano, alicerçou sua vida missionária sobre os principais pilares da espiritualidade franciscana: a Cruz, a Eucaristia e Maria.


Doença e Morte

Durante muito tempo, Frei Damião sofreu de erisipela, devido à má circulação sanguínea. E no ano de 1990, após ter sofrido uma embolia pulmonar, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando apenas para os finais de semana. Na simplicidade de um quarto, na casa que lhe fora construída como enfermaria, viveu seus últimos dias, cercado pelo carinho do seu povo que, aos milhares, vinha ao seu encontro.

Mas, em 1997, sua saúde agravou-se bastante. Foi internado várias vezes no Real Hospital Português do Recife, sob os cuidados do Drº Blancard Torres. Ele pregou sua última Santa Missão na cidade de Capoeiras, PE, em 02/1997. Depois, adoeceu novamente tendo que ser levado ao Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, DF, para que lhe fosse confeccionada uma cadeira ortopédica que o ajudasse a respirar melhor.

Em 12/05/1997 foi novamente internado no Real Hospital Português, na capital pernambucana, mas, fato inusitado, ele em dado momento foi encontrado rezando o rosário com o povo numa das salas do hospital. Foi sua última missão: rezar com o povo o rosário de Nossa Senhora. No dia seguinte, 13/05/1997, sofreu um derrame cerebral sendo levado para a UTI. No dia 31/05/1997, às 19:20 hs, Frei Damião faleceu, aos 98 anos de idade, cercado pela oração de seus confrades, da equipe médica que dele cuidara e sob a melodia de cânticos e hinos.


Luto, Velório e Sepultamento

Tendo sido embalsamado, o corpo de Frei Damião foi velado na Basílica de Nossa Senhora da Penha, no centenário bairro de São José, em Recife, PE. Os governos federal e estadual declararam luto oficial. E ao longo de três dias de velório, mais de 300 mil pessoas enfrentaram filas quilométricas, passando até cinco horas para chegar ao local do velório, a fim de dar-lhe o último adeus.

Personagens de renome fizeram-se presente ao velório, desde clérigos, religiosos e religiosas, políticos, artistas a fiéis comuns. A morte do "Missionário do Nordeste" foi anunciada pelos principais meios de comunicação do país e do estrangeiro, especialmente na sua terral natal, a Itália, e até mesmo na Rádio Vaticano.

No dia 04/06/1997, o corpo de Frei Damião foi levado em carro aberto até ao Estádio do Arruda, para a missa solene de despedida, presidida pelo arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, e concelebrada por dezenas de bispos e centenas de padres. Do estádio, em helicóptero, foi transportado para o Convento São Félix de Cantalice, no bairro do Pina, em Recife, PE, onde vivera seus últimos anos de vida. Ali, na capela dedicada à Nossa Senhora das Graças, foi sepultado sob cânticos, aplausos e pétalas de rosas.


As Romarias e a Fama de Santidade

Desde o sepultamento, todos os domingos, muitos fiéis, romeiros e romeiras, advindos dos mais diversos recantos do Nordeste e d’outras partes do país, alguns até do estrangeiro, acorrem ao túmulo de Frei Damião, para rezar e suplicar a Deus uma graça por sua intercessão. São sempre festa, devoção, piedade e alegria, como nos dias das Santas Missões.

A fama de santidade de Frei Damião espalha-se a cada dia. Ele é, para todo cristão, um modelo de seguimento de Jesus Cristo e de concretização do mandato do Senhor: "Sede santos como o vosso Pai do Céu é santo" (Mt 5,48). 

Afirmam os confrades contemporâneos de Frei Damião que sua fama de santidade já começara na Itália, destacando-se como frade piedoso e zeloso sacerdote, entregue à oração, à contemplação e de profunda identificação com o carisma capuchinho de viver em fraternidade, segundo a forma do Santo Evangelho. Aqui no Brasil, destacou-se, além disso, por sua resistência como confessor, sua sabedoria como pregador e sua convicção das verdades de fé que anunciava, deixando-as transparecer pelo seu exemplo de vida, e também por sua identificação franciscana com os pobres e desvalidos do Nordeste, terra tão sofrida e marcada pelas intempéries do tempo e das injustiças sociais. Por isso, valeu-se do dom da escuta, para acolher e ouvir a todos que o procuravam, na partilha sincera de suas vivências e nos sussurros ao pé do ouvido feitos por muitos que não tinham voz nem vez, e que Frei Damião em prece levava ao coração de Deus.

É claro que no coração dos nordestinos Frei Damião já tem um altar, pois todos reconhecem a sua santidade, mas isso precisa ser analisado e reconhecido pela santa Igreja, a quem compete pronunciar-se oficialmente sobre a santidade de uma pessoa e apresentá-la como modelo ao mundo, inclusive dando-lhe as honras dos altares. Para isso, está em trâmite o seu Processo de Beatificação e Canonização, aberto em 2003.

Mestre Didi

DEOSCÓREDES MAXIMILIANO DOS SANTOS
(95 anos)
Escritor, Artista Plástico e Sacerdote Africano

* Salvador, BA (02/12/1917)
+ Salvador, BA (06/10/2013)

Deoscóredes Maximiliano dos Santos foi um escritor, artista plástico, e sacerdote afro-brasileiro. Conhecido popularmente como Mestre Didi, é filho de Maria Bibiana do Espírito Santo e Arsenio dos Santos.

Família

Seu pai Arsenio dos Santos, pertencia à elite dos alfaiates da Bahia, mais tarde iria transferir-se para o Rio de Janeiro na época em que houve uma grande migração de baianos para a então capital do Brasil.

Sua mãe Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oyo e Ketu, importantes cidades do império Yoruba. Sua trisavó, Srª Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Ase Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Sua esposa Juana Elbein dos Santos, é antropóloga e companheira em todas as suas viagens pelo exterior, aos países da África, Europa e Américas, de grande importância pelos intercâmbios e experiências adquiridas, e que contribuiram significativamente para os desdobramentos institucionais de luta de afirmação da tradição afro-brasileira e pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria. Sua filha Inaicyra Falcão dos Santos é cantora lírica, graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia, professora doutora, pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp.


Sacerdote

A igreja durante o período colonial e pós-colonial foi uma instituição de que a comunidade descendente de africanos inseriu em suas estratégias de luta pela alforria e re-agrupamento social. Didi foi batizado, fez primeira comunhão e foi coroinha. Mais tarde, já sacerdote da tradição afro-brasileira foi se dedicando inteiramente a ela afastando-se do catolicismo, embora respeitando-o como uma outra religião. Eugenia Ana dos Santos - Mãe Aninha, tratada por Didi como avó, foi quem o iniciou no culto aos orixás e lhe deu o título de Assogba, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.

Arsenio Ferreira dos Santos era sobrinho de Marcos Theodoro Pimentel, o Alapini, primeiro mestre de Didi no Culto aos Egungun, os ancestrais masculinos, tradição originária de Oyo, capital do império Yoruba.

Depois de Marcos Theodoro Pimentel, foi Arsenio Ferreira dos Santos, conhecido por Paizinho quem deu continuidade a iniciação de Didi, que se confirmou Ojé com o título de Korikowe Olokotun. A herança de tio Marcos Alapini se constitui sobretudo pelo culto ao Olori Egun, Baba Olukotun, o mais antigo ancestral que foi trazido da África na ocasião da viagem que fez com seu pai, Marcos O Velho. Paizinho, então Alagbá, o mais antigo da tradição aos Egungun recebeu esta herança que aproximou à do terreiro Ilê Agboulá na Ilha de Itaparica.

A herança de Marcos Alapini, para seu sobrinho Arsenio Alagba passou para Didi, Ojé Korikowe Olukotun. Mais tarde Didi recebeu o título de Alapini, o mais alto do culto aos Egungun, no Ilê Agboula e anos depois, em 1980 fundou o Ilê Asipa onde é cultuado o Baba Olukotun e demais Eguns desta tradição antiga.

Em setembro de 1970, não tendo no Brasil quem pudesse fazer sua confirmação de Balé Xangô, foi para Oyo e realiza a obrigação na cidade originária do culto à Xangô. A cerimônia foi realizada pelo Balé Sàngó e o Otun Balé do reino de Xangô de Oyo.

Mestre Didi não costumava falar sobre sua obra nem sobre si. Ele chegou a expor em Gana, Senegal, Inglaterra e França, além do Guggenheim, em Nova York. No Brasil, ganhou reconhecimento após a 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, quando recebeu uma sala apenas para suas obras.


Artista

"Os Orixá do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representada pela Orixá Nanã, patrona da agricultura."
(Mestre Didi)

"Mestre Didi é um sacerdote-artista. Exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde ancestralidade e visão de mundo africanos se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma inspiração mítica, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal de caráter estético."
(Juana Elbein dos Santos)

Morte

Mestre Didi morreu em decorrência de um câncer de próstata. Ele foi enterrado no domingo, 06/10/2013, por volta das 17:00 hs, no Cemitério Jardim da Saudade, no centro da capital baiana.


Obra
  • 1950 - Yorubá Tal Qual Se Fala, Tipografia Moderna, Bahia
  • 1961 - Contos Negros da Bahia, Edições GRD, Rio de Janeiro
  • 1962 - História de Um Terreiro Nagô, Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos
  • 1963 - Contos de Nagô, Edições GRD, Rio de Janeiro
  • 1966 - Porque Oxalá Usa Ekodidé, Ed. Cavaleiro da Lua
  • 1976 - Contos Crioulos da Bahia, Ed. Vozes, Petrópolis
  • 1981 - Contos de Mestre Didi, Ed. Codecri, Rio de Janeiro
  • 1987 - Xangô, El Guerrero Conquistador Y Otros Cuentos de Bahia, SD. Ediciones Silva Diaz, Buenos Aires, Argentina
  • 1987 - Contes Noirs de Bahia, tradução francesa de Lyne Stone, Ed. Karthale
  • 1988 - História da Criação do Mundo, Olinda, PE
  • 1988 - História de Um Terreiro Nagô, Editora Max Limonad
  • 1997 - Ancestralidade Africana no Brasil, Mestre Didi: 80 Anos, organizado por Juana Elbein dos Santos, SECNEB, Salvador, Bahia, 1997, CD-ROM - Ancestralidade Africana no Brasil
  • Pluraridade Cultural e Educação
  • Nossos Ancestrais e o Terreiro
  • Democracia e Diversidade Humana: Desafio Contemporâneo

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio e Fada Veras

Pai Agenor

AGENOR MIRANDA ROCHA
(96 anos)
Babalaô, Professor, Poeta e Cantor

☼ Luanda, Angola (08/09/1907)
┼ Rio de Janeiro, RJ (17/07/2004)

Agenor Miranda Rocha, o Pai Agenor, é quase uma lenda no Candomblé. Nascido em Luanda, Angola, no dia 08/09/1907, foi iniciado aos cinco anos, em 1912, pelas mãos da Srª Eugênia Ana dos Santos, mais conhecida como Mãe Aninha de Xangô ou Obá Biyi, fundadora do Axé Opô Afonjá, na cidade Salvador, Bahia, devido a uma enfermidade, fato este que levou sua mãe carnal a senhora Zulmira Miranda, católica apostólica romana, fervorosa, a aceitar o feito com intuito de salvar a vida de seu filho.

Quando jovem, e já residindo na cidade do Rio de Janeiro, foi o ilustre professor, iniciado nos mistérios da Orixá Ewá, de onde segue que dado a união destes dois orixas, Oxalufã e Ewá, o digno professor, ou como ele se auto intitulava, Zelador de Santo, tinha um dom especial nos jogos sagrados dos búzios.


O Professor Agenor, como era conhecido, foi professor catedrático aposentado do Colégio Pedro II, nas cadeiras de matemática e latim. Cantor lírico, seguindo os passos de sua mãe, a soprano Zulmira Miranda e babalaô adivinho na referida tradição religiosa candomblé, um dos ocidentais mais conhecedores da herança e da cultura afro-brasileira, além de talvez uma das mais respeitadas personalidades religiosas por todas as lideranças de tradicionais terreiros do Brasil.

Foi o jogo de búzios (meridilogun) do Professor Agenor que decidiu a sucessão de importantes terreiros: Mãe Oké e Mãe Tatá, na Casa Branca do Engenho Velho; Mãe Stella, no Axé Opô Afonjá; Mãe Índia, no Terreiro do Bogun (o último grande jogo de sucessão antes do falecimento do professor).

Agenor Miranda também foi poeta e musicista. Seu jogo de búzios foi um dos mais procurados do país. O velho professor foi orientador espiritual e conselheiro de personalidades de diferentes procedências religiosas e de muitos babalorixás, como Tatá Makamba Malaiá em São Paulo, no ano de 1972 e orientador do Babá Augusto César de Logunedé.

Jorge Amado, Zélia Gattai, almirante Adalberto de Barros Nunes, Maria Zilda, Maria Bethânia, Gal Costa, Liege Monteiro, Hugo Gross, Zora Sejlman, Antônio Olinto, Vera Fisher, Marcelo Picchi, Camila Amado, Heloísa Perissé, Bel Kutner e Regina Casé, dentre muitos outros, foram amigos ou frequentavam a casa do velho professor.

"Quem não conhece Agenor, não conhece Candomblé"
(Mãe Menininha do Gantois)


Documentário: Um Vento Sagrado

Foi publicada no jornal Diário de São Paulo a matéria "O Zelador Dos Orixás Na Tela", feita pelo jornalista Marcos Pinho - "Um Vento Sagrado", do diretor e artista plástico baiano Walter Lima. O trabalho conta a história de Pai Agenor, um dos mais importantes nomes do candomblé no país. O trabalho de pesquisa consumiu mais de três anos de viagens, pesquisas e gravações no Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Roma.

O filme "Brasil" (2001), mostra Pai Agenor em sua casa no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, onde figuram desde imagens de São Francisco e Buda até de Oxalá e outras divindades do candomblé. É no local que ele recebia visitantes em busca de aconselhamento e jogava búzios.

Suas declarações são desconcertantes.

"A força do candomblé está no sangue verde das plantas e não no sangue vermelho dos animais!"
(Pai Agenor - Comentário condenando os sacrifícios em cultos)

Professor aposentado, poeta, ensaísta, cantor de ópera e de fado, Pai Agenor era um homem múltiplo e incomum. "Ele é talvez a última das grandes figuras do candomblé", afirma Gilberto Gil. O retrato pintado por Walter Lima é o de um ser de personalidade instigante cujas opiniões são sempre respeitadas.

A fita mostra ainda o biografado sendo recebido pelo Papa em Roma e inclui poemas nas vozes de atores como Alessandra Negrini, Ingrid Guimarães e Camila Amado, além da narração de Othon Bastos e depoimentos dos acadêmicos Antônio Olinto e Paulo Alonso, do cantor Gilberto Gil, dos professores Muniz Sodré e Wilson Choueri e de outras personalidades.

Amante da música, talvez por influência de sua mãe, a fadista portuguesa Zulmira Miranda, cuja história está registrada na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, Agenor fez uma incursão como cantor no mundo da música. Há alguns anos foram recuperadas algumas de suas antigas gravações e hoje circula nas mãos de seus amigos e admiradores CDs onde ele canta fados, canções italianas e músicas clássicas.

Amante da poesia, teve dois livros publicados ainda em vida, "Poemas Infantis" (1999), e "Oferenda - Como a Flor Que Se Oculta Entre as Folhas" (1998), pela Editora Sete Letras, traduzido na Espanha e editado pela Algorán Poesia, em 2001.


Seus poemas foram muito bem recebidos por serem, além de belos, expressão de um grande conhecimento também nesta arte. Tinha muitos amigos e admiradores, muitos alunos, e para todos estes deixou ainda o livro "Caderno de Português" (2000), escrito logo após uma intervenção cirúrgica bastante séria.

Pai Agenor faleceu em 17/07/2004, vitimado principalmente pelo agravamento de um simples caso infeccioso, uma vez que não conseguiu ser tratado a tempo em condições necessárias. Deixou muitos amigos e filhos em todas as partes do Brasil e no exterior, todos saudosos e consternados, principalmente por não terem podido ajudá-lo e intervir para que pudesse completar com "saúde e paz", como gostava de dizer, os seus almejados 100 anos de existência, que foi lembrado e comemorado no dia 08/09/2007.

Dentre as homenagens que recebeu está a Medalha Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.

Sobre ele há uma primorosa biografia: "Um Vento Sagrado", editado pela Editora Mauad e de autoria de Muniz Sodré e Luis Filipe de Lima.

Fonte: Wikipédia

Francisco João de Azevedo

FRANCISCO JOÃO DE AZEVEDO
(66 anos)
Padre e Inventor

* Mamanguape, PB (04/03/1814)
+ João Pessoa, PB (26/07/1880)

Francisco João de Azevedo foi um padre paraibano nascido em João Pessoa, então chamada Paraíba, na Província da Paraíba, que inventou e construiu pioneiramente, em 1861, um modelo de máquina de escrever que funcionava perfeitamente, um protótipo que era acionado por um sistema de pedais, como as antigas máquinas de costura.

Pouco se sabe sobre a sua infância, além do que cedo perdeu o pai, Francisco João de Azevedo, mas não se conhece o nome de sua mãe. Seus primeiros anos não foram nada fáceis, não só pela situação da viuvez de sua mãe, quanto pelo fato do Nordeste atravessar terríveis secas naqueles anos.

Aprendeu as primeiras letras em uma escola próxima do seminário dos extintos jesuítas, onde aprendeu a ler, contar, escrever, rezar e latim. Durante uma visita pastoral à Paraíba, em 1834, Dom João da Purificação Marques Perdigão, o bispo diocesano de Olinda conheceu aquele jovem promissor, e sabendo de sua pobreza, convidou-o para o Seminário Diocesano, e ele partiu para Pernambuco, onde foi aprovado nos exames preliminares e se matriculou no histórico Seminário de Olinda em 1835.

Ordenou-se padre em 1838, pelo Seminário de Recife, onde passou a residir e lecionou cursos técnicos de geometria mecânica e desenho no Arsenal de Guerra de Pernambuco, notabilizando-se com um sistema de gravação em aço. Lá também desenvolveria sua invenção revolucionária: uma máquina de escrever.

Anos depois, em 1863, voltou a capital da província paraibana onde por mais alguns anos foi professor de cursos técnicos de geometria. Depois, em 1868, tornou-se professor de aritmética e geometria no Colégio das Artes, anexo à Faculdade de Direito do Recife.


Sua notável invenção era um móvel de jacarandá equipado com teclado de dezesseis tipos e pedal, aparentando um piano. Cada tecla de sua máquina acionava uma haste comprida com uma letra na ponta. Combinando-se duas ou mais teclas era possível reproduzir todo o alfabeto, além dos outros sinais ortográficos. O pedal servia para o datilógrafo mudar de linha no papel. A máquina era um sucesso por onde passava e em uma exposição do Rio de Janeiro, no ano de 1861, na presença do imperador Dom Pedro II, o padre recebeu uma medalha de ouro dos juízes em reconhecimento a seu projeto revolucionário. Em seguida, para sua decepção, lhe comunicaram que sua máquina não seria levada à Exposição de Londres em 1862 por dificuldades de acomodação (?!).

Ainda assim, na Segunda Exposição Provincial, no ano de 1866, ganhou medalha de prata pela invenção de um elipsígrafo. Segundo seu biógrafo, Ataliba Nogueira, o padre foi enganado e seus desenhos roubados por um estrangeiro, o que o desestimulou a continuar no desenvolvimento da invenção, e a idéia foi esquecida.

As suspeitas é que tais desenhos tenham ido parar nas mãos do tipógrafo estadunidense Christopher Latham Sholes que teria aperfeiçoado o projeto e apresentado como seu e ganho os louros históricos como o criador da máquina de datilografia em 1867. A glória como na maioria das inventos, não foi para a máquina pioneira em funcionamento, mas para quem produziu o modelo que serviu de base à produção industrial do equipamento. O invento do brasileiro porém já era bastante conhecido no Brasil, tanto que os primeiros cursos de datilografia no Brasil exibiam na parede retratos do padre e tornou-se o patrono nacional da máquina de escrever.

Francisco João de Azevedo morreu em 1880 e foi enterrado no cemitério de João Pessoa. Faleceu sem completar o seu sonho: patentear sua máquina e transformar o Brasil num grande exportador.

Fonte: O Nordeste e Wikipédia

Carlos Torres Pastorino

CARLOS JULIANO TORRES PASTORINO
(69 anos)
Ex-Padre, Espírita, Radialista, Jornalista, Escritor, Teatrólogo, Historiador, Filólogo, Filósofo, Professor, Poliglota, Poeta e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (04/11/1910)
┼ Brasília, DF (13/06/1980)

Carlos Juliano Torres Pastorino foi um ex-padre que se dedicou ao estudo da Doutrina Espírita e da Fenomenologia Mediúnica, autor do maior best-seller de auto-ajuda no país, "Minutos de Sabedoria".

Era mais conhecido por Professor Pastorino e era filho de José Pastorino e Eugênia Torres Pastorino. Desde criança demonstrou inusitada inteligência e vocação para a vida eclesiástica. Com apenas 14 anos de idade, em 1924, recebeu os diplomas de Geografia, Corografia e Cosmografia, do Colégio Dom Pedro II e, logo em seguida, ainda no mesmo ano, o diploma de Bacharel em Português, no mesmo colégio.

Viajou para Roma a fim de cursar o Seminário, onde, em 1929, foi diplomado pelo Cardeal Basilio Pompili, para a Ordem Menor de Tonsura. Formou-se em Filosofia e Teologia em 1932, sendo ordenado sacerdote em 1934.

Abandonou a vida eclesiástica da Igreja Católica Romana, quando, em 1937, aguardava promoção para diácono. Surpreendeu-se com a recusa do Papa Pio XII, em receber o Mahatma Gandhi em seu tradicional traje branco. O Colégio Cardinalício exigia que o grande líder da Índia vestisse casaca, para não quebrar a tradição das entrevistas dos chefes de Estado. Pastorino, diante dessa recusa, imaginou que se Jesus visitasse o Vaticano, não se entrevistaria com o Papa, pois vestia-se de forma similar a Gandhi, e jamais se sujeitaria ao rigor exigido pela Igreja.

Regressou de imediato ao Brasil e desenvolveu intensa atividade pedagógica. Ingressou no Instituto Italo-Brasileiro de Alta Cultura, como professor de Latim e Grego, cargo que exerceu de 1937 a 1941. Em 1938, recebeu o registro de Professor de Psicologia, Lógica e História da Filosofia do Ensino Secundário. Foi também professor de Espanhol.

Em paralelo com o magistério, exercia atividades jornalísticas, como correspondente dos Diários Associados. Foi Adido Cultural e Jornalístico da Academia Brasileira de Belas Artes. Sócio de inúmeras Sociedades Esperantistas, no Brasil e no exterior. Delegado especializado (Faka Delegito) da Universidade Esperanto Asocio, com sede na Holanda. Foi fundador da Sociedade Brasileira de Esperanto, no Rio de Janeiro. Sua bibliografia é extensa, com mais de 50 livros publicados e outros tantos inéditos.

Pastorino falava fluentemente vários idiomas, legando-nos inúmeros livros didáticos. Traduziu obras de vários autores ingleses, franceses, espanhóis, italianos, clássicos latinos e gregos.

No dia 31/05/1950 concluiu a leitura de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que recebera por empréstimo de um seu colega do Colégio Dom Pedro II. Nesse dia declarou-se espírita, data que guardava com muito carinho. Passou a frequentar o Centro Espírita Júlio César, no Grajaú, o qual foi sua escola inicial de Espiritismo. No dia 08/01/1951, com um grupo de abnegados companheiros, fundou o Grupo Espírita Boa Vontade, posteriormente mudado para Grupo de Estudos Spiritus, para não haver confusão com a Legião da Boa Vontade.

No Grupo de Estudos Spiritus, nasceu o Lar Fabiano de Cristo, o boletim Serviço Espírita de Informação (SEI). Fundou a Livraria e Editora Sabedoria e a revista com o mesmo nome, prestando relevantes serviços à Doutrina, no terreno cultural.

O professor Carlos Torres Pastorino realizou muitas palestras no Rio de Janeiro e em vários outros Estados. Participou ativamente de Congressos, Semanas Espíritas, Simpósios, Cursos e tantos outros eventos. Fez-se sócio de inúmeras instituições espíritas e colaborou com a imprensa espírita nacional e do exterior. De sua vasta bibliografia espírita, destaca-se "Minutos de Sabedoria", que bate todos os recordes de vendagem, já em várias edições "Sabedoria do Evangelho", publicado em fascículos na revista Sabedoria e Técnicas da Mediunidade, excelente livro sobre o assunto.

O grande sonho de Carlos Torres Pastorino era criar uma Universidade Livre, para ensinar Sabedoria. Em 1973 recebeu, por doação, do Drº Miguel Luz, famoso médico paulista, já desencarnado, magnífico terreno numa área suburbana de Brasília, denominada Park Way, onde iniciou as obras da Universidade. Já com algumas dependências construídas, passou a residir no local, para administrá-la. Chegou a realizar vários cursos, estando a sua Biblioteca em pleno funcionamento, com o respeitável número de 8000 volumes, adquiridos ao longo de sua existência, toda voltada para a cultura geral e o bem-estar da humanidade. Infelizmente faleceu antes de ver concretizado esse sonho.

Foi casado com Silvana de Santa M. Pastorino, deixando três filhos maiores e sete netos. Deixou também um casal de filhos menores do segundo casamento.

Obra

Carlos Torres Pastorino publicou uma extensa bibliografia de mais de 50 obras, muitas delas ainda inéditas. Poliglota, traduziu obras de diversos idiomas. Foi também radialista, sendo a sua obra magna - "Minutos de Sabedoria" - uma coleção de suas mensagens propaladas no rádio. Compôs 31 peças musicais para piano, orquestra, quarteto de cordas e polifonia, a três e quatro vozes. Entre as suas obras, destacam-se:

  • 1966 - Minutos de Sabedoria
  • 1966 - Teu Filho, Tua Vida
  • 1966 - Tua Mente, Tua Vida
  • 1968 - Técnica da Mediunidade
  • Sabedoria do Evangelho (Vários Volumes)

O livro "Minutos de Sabedoria" já ultrapassou a marca de 9 milhões de exemplares vendidos - tendo sido, por reincidência em mais de dois anos consecutivos, retirado da lista elaborada pela revista Veja, dos mais vendidos. A obra, originalmente destinada a subsidiar os trabalhos assistenciais e educativos do professor Pastorino, hoje teve, após ação na Justiça, os seus direitos revertidos para os herdeiros.

Na obra "Técnica da Mediunidade", aborda, com o recurso a inúmeros quadros comparativos, numa ótica cientificista, o fenômeno mediúnico. Em seu prefácio, o General-de-Brigada Drº Manoel Carlos Netto Souto registra:

"Pastorino volta à Terra e tenta mostrar ou demonstrar fatos que para ele são axiomáticos, fazendo o arcabouço da ponte que une o físico ao espiritual, uma vez que os considera da mesma natureza, sem irrealidades nem fantasia."

A obra, editada em 1968, teve as suas edições póstumas proibidas pela família, praticante do catolicismo. Nela, o autor assim refere a mediunidade:

"As vibrações, as ondas, as correntes utilizadas na mediunidade são as ondas e correntes de "pensamento". Quanto mais fortes e elevados os pensamentos, maior a freqüência vibratória e menor o comprimento de onda. E vice-versa. (…) Tudo isso faz-nos compreender a necessidade absoluta de mantermos a mente em "ondas" curtas, isto é, com pensamentos elevados, para que nossas preces e emissões possam atingir os espíritos que se encontram nas altas camadas."

José de Anchieta

JOSÉ DE ANCHIETA
(63 anos)
Padre Jesuíta, Gramático, Poeta, Teatrólogo e Historiador

* San Cristóbal de La Laguna, Espanha (19/03/1534)
+ Iriritiba, ES (09/06/1597)

José de Anchieta foi um padre jesuíta, um dos fundadores de São Paulo e declarado beato pelo papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil. É homenageado dando seu nome à Rodovia Anchieta construída pelo então governador Adhemar Pereira de Barros por onde passava o Caminho do Padre José de Anchieta.

Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, em 19/03/1534, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem MariaJuán López de Anchieta era aparentado dos Loyola, daí o parentesco de José de Anchieta com o fundador da Companhia de JesusInácio de Loyola.

Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo y Llarena, natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela.

Dos doze irmãos, além dele abraçaram o sacerdócio Pedro Núñez e Melchior.

A família de José de Anchieta era de guerreiros aguerridos. Um de seus irmãos defendeu o estandarte de Tércios de Flandres, que lutavam até a morte pela unidade religiosa nos campos da Espanha. Outro, missionário, adentrou pelas terras ao norte do Rio Grande, hoje território norte-americano, e seu primo o antecedeu nas missões jesuíticas ao Brasil. José de Anchieta, por tradição, era destinado a ser soldado. Mas seu pai, vendo o menino acanhado e versejando poesias em latim já aos nove anos de idade, reconheceu que ele não manifestava a mínima aptidão para a carreira militar.

Decidiu matriculá-lo no Colégio das Artes da Companhia de Jesus em Portugal. A disciplina e a noção do dever dos jesuítas - Inácio de Loyola, o fundador da Companhia, era, ele sim, um militar - deveria bastar à formação do garoto. Não sendo soldado de armas, José de Anchieta seria soldado da fé. O garoto não frustaria os anseios de seu pai. Pregando em terras distantes, onde os relatos de seus milagres se multiplicaram, ele ainda pode vir a ser canonizado. Seria a culminação de um percurso religioso que começou aos 14 anos, quando foi para o colégio em Coimbra.

Tinha tanta facilidade em compor versos em latim quanto problemas por sua fraca saúde, que necessitava sempre de cuidados. Alguns biógrafos dizem que sofria de dores na coluna vertebral, já andava arqueado. Outros garantem que uma escada da biblioteca do colégio caiu-lhe nas costas e, com o correr dos anos, as conseqüências do acidente o deixaram quase corcunda. Foi para aliviar tantos padecimentos que seus superiores conjeturaram sob a viabilidade de mandá-lo para um clima ameno - o das Índias brasílicas, como era conhecido o Brasil. Servir a Deus no Novo Mundo era sonho dos jovens religiosos da Companhia de Jesus e José de Anchieta aceitou a ordem com a determinação dos que cumprem uma missão divina. Tinha 19 anos de idade quando chegou a Salvador, na Bahia, depois de dois meses de viagem, em 13/07/1553. Ficou ali por pouquíssimo tempo. Manoel da Nóbrega, vice-provincial da Capitania de São Vicente, onde se encontrava a pequena aldeia de Piratininga, precisava de sua ajuda.

Ele sabia da sua competência em ler e escrever, e os jesuítas necessitavam urgentemente de tradutores e intérpretes para falar o tupi, língua dos índios do litoral brasileiro. Mais dois meses de viagem o aguardavam para chegar da Bahia ao planalto paulista. Um percurso que, mais do que a travessia do Atlântico em um galeão, fundou uma nova etapa na vida de José de Anchieta: a da aventura. Violentas tempestades sacudiram sua embarcação na altura de Abrolhos e o barco, com as velas rotas e os mastros partidos, encalhou perto do litoral do Espírito Santo.

A nau que o acompanhava perdeu-se nas vagas e foi com seus destroços que a tripulação pôde consertar os estragos e retomar a viagem. Mas, antes que isso ocorresse, o pânico tomou conta dos passageiros - na praia, poderiam estar esperando os índios tamoios, conhecidos antropófagos.

Destemido, José de Anchieta desceu à terra junto com os marinheiros, à procura de mantimentos. Foi seu primeiro contato com os índios. Não se sabe muito bem o que aconteceu, já que os biógrafos não entram em detalhes, mas é certo que ninguém no barco foi molestado. Depois do sobressalto, ao desembarcar, o pesadelo apenas começava. Para chegar do mar à aldeia de Piratininga, cerca de mil metros acima, em um planalto, José de Anchieta tinha de percorrer o que foi chamado por seus biógrafos como "o pior caminho do mundo": uma picada em meio à Mata Atlântica, que José de Anchieta fez muitas vezes à pé, pois cavalgar danificava sua coluna.


Era verão, época das chuvas, calor e, principalmente, mosquitos. Sua visão das terras de São Vicente e Piratininga, foi relatada em carta aos seus superiores. Dizia ele das onças:

"Essas (malhadas ou pintadas) encontram-se em qualquer parte (…) São boas para comer, o que fizemos algumas vezes."

Dos jacarés:

"Também há lagartos nos rios, que se chamam jacarés, de extraordinário tamanho de modo a poder engolir um homem."

Sobre as jararacas:

"São muito comuns nos campos, bosques e até nas próprias casas, nas quais as encontramos tantas vezes."

José de Anchieta fala ainda dos mosquitos que "sugando o sangue, dão terríveis ferroadas", das poderosas tempestades tropicais e inundações de dezembro. Apesar dos transtornos, a luxuriante beleza da Serra do Mar deve tê-lo impressionado, pois escreveu, anos depois, um tratado sobre as espécies animais e vegetais que poderiam ser encontradas no Brasil, numa iniciativa pouco comum entre os jesuítas.

Mas seu tema principal foram mesmos os índios:

"Toda essa costa marítima, de Pernambuco até além de São Vicente, é habitada por índios que, sem exceção, comem carne humana; nisso sentem tanto prazer e doçura que freqüentemente percorrem mais de 300 milhas quando vão à guerra. E, se cativarem quatro ou cinco dos inimigos, regressam com grandes vozearias, festas e copiosíssimos vinhos que fabricam com raízes e os comem de maneira que não perdem nem sequer a menor unha."

José de Anchieta se chocaria, como outros cronistas da época, com a liberdade sexual dos indígenas:

"… as mulheres andam nuas e não sabem negarem-se a ninguém, mas até elas mesmas cometem e importunam os homens, jogando-se com eles nas redes, porque têm por honra dormir com os cristãos."

Apesar do espanto, em pouco tempo, José de Anchieta aprendeu a conhecer as particularidades da terra e da gente de seu novo lar.

A Europa renascentista do séculos 16 fica para trás, já que José de Anchieta nunca voltaria a rever o Velho Mundo. Um mês depois de sua chegada, em 25/01/1554, foi inaugurado o colégio jesuíta da Vila de Piratininga, data hoje comemorada como fundação de São Paulo. Escreveu José de Anchieta:

"Celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo, e por isso dedicamos a ele nossa casa."

Ali moravam treze jesuítas que tinham a seu cargo duas aldeias de índios com quase mil pessoas. O local tinha apenas 14 passos de comprimento e 10 de largura, incluindo escola, despensa, cozinha, refeitório e dormitório. Em resumo, era minúsculo.

Época de austeridade, tanto no espaço quanto nas vestes, as batinas de José de Anchieta eram feitas com as velas imprestáveis dos navios. Ele só dormia quatro a cinco horas por noite, pronto para se levantar se fosse preciso. Ensinava gramática em três classes diferentes, subia e descia montanhas para batizar ou catequizar e freqüentemente jejuava. Sua prontidão para levantar no caso de um imprevisto fazia sentido. Ele viu Piratininga ser atacada pelos tupis numa encarniçada luta que durou dois dias. Enquanto as mulheres e crianças se recolheram à igreja em vigília permanente, os jesuítas cuidavam dos mortos e feridos com ervas medicinais indígenas plantadas ao lado das cercar do Colégio.

Mas, com a ajuda dos índios convertidos, a vila resistiu e os tupis acabaram fugindo. Fora esses sustos eventuais, a aldeia de Piratininga florescia. José de Anchieta se aplicava em escrever divertidas peças de teatro que encenava para os índios e a formular a gramática da "língua mais usada na costa do Brasil", o tupi-guarani, que seria publicada em Coimbra, em 1595. Era a primeira gramática desde os gregos antigos, escrita por um ocidental, que não se baseava nas regras do latim. Naquela época, não passava pela cabeça dos colonizadores portugueses serem eles os intrusos e invasores das terras indígenas. Os jesuítas estavam ali para salvar aqueles homens da barbárie e reintegrá-los ao reino de Deus.

Foi essa missão que o levou, junto com Manoel da Nóbrega, à experiência talvez mais dramática e definitiva de sua vida. Aos 30 anos, José de Anchieta rumou para Iperoig, hoje Ubatuba, em São Paulo, para negociar com os bravios tamoios, aliados dos franceses. Os índios, defendendo seu território, atacavam as aldeias portuguesas do litoral e os prisioneiros eram simplesmente devorados. Ele passou dois meses numa choça de palha tentando a paz e uma troca de reféns. Quando as negociações chegavam a um impasse, as ameaças de morte começavam. Finalmente Manoel da Nóbrega, doente e coberto de chagas, seguiu para o Rio de Janeiro para enviar os prisioneiros. José de Anchieta se candidatou a ficar como refém.

O cativeiro foi uma dura prova para José de Anchieta. Ali, além de fome, frio e humilhações, pode ter passado pelo crivo da maior tentação: a da carne. Aos prisioneiros que iam ser devorados, os tamoios tinham por costume oferecer a mais bela jovem da tribo. O jesuíta havia feito o voto de castidade, ainda em Coimbra, aos 17 anos.

E seus biógrafos dizem que ele foi fiel a vida inteira. Talvez para fugir das tentações, José de Anchieta escreveu na areia de Iperoig as principais estrofes dos 5.786 versos de um poema em latim contando a história de Maria. E ganhou, aos poucos, a admiração dos tamoios por sua coragem e estranhos costumes. Quando eles ameaçavam devorá-lo, José de Anchieta retrucava com suavidade: "Ainda não é chegado o momento". E dizia a si mesmo, como contou depois, que primeiro deveria terminar o poema à virgem.

Outros relatos asseguram que sua facilidade em levitar e a proximidade com os pássaros, que o rodeavam constantemente, teria assustado os tamoios, que o libertaram finalmente, depois de assegurar a paz. José de Anchieta, humilde, minimizava seus feitos. Quando lhe fizeram notar que os pássaros o cercavam, ele respondeu que eles também costumava voar sobre dejetos. Talvez tenha sido essa subserviente simplicidade que lhe rendeu tamanho respeito entre os índios.

Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara. Foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos em 1567.

Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade.

Após a expulsão dos franceses da Guanabara, José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender em 1559 um refugiado huguenote, o alfaiate Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar "heresias protestantes". Em 1567, Jacques Le Balleur foi preso, e conduzido ao Rio de Janeiro para ser executado, mas o carrasco teria recusado a executá-lo. Diante disso, José de Anchieta o teria estrangulado com suas próprias mãos. O episódio é contestado como apócrifo pelo maior biógrafo de José de Anchieta, o padre jesuíta Hélio Abranches Viotti, com base em documentos que, segundo o autor, contradizem a versão. Investigações históricas, baseadas em documentos da época (correspondência de José de Anchieta e manuscritos de Goa) revelam que o huguenote não morreu no Brasil. Na verdade foi conduzido a Salvador, na capitania da Bahia, e daí mandado a Portugal, onde teve o seu primeiro processo concluído em 1569. Em um segundo processo no Estado Português da Índia, em 1572, foi finalmente condenado pelo tribunal da Inquisição de Goa.

Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória, ES.

Quando morreu, em 09/06/1597, aos 63 anos, na aldeia de Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo, por ele fundada, os índios disputaram com os portugueses a honra de carregar seu corpo até a Igreja de São Tiago. José de Anchieta perambulou pelo litoral paulista, catequizando índios, batizando e ensinando. Reza a lenda que ele costumava abrigar-se para dormir numa pedra, conhecida como "cama de Anchieta" em Itanhaém. São numerosos os testemunhos de sua levitação durante êxtases místicos. Afirmam também que multiplicou alimentos, que comandava os peixes no mar.

Já em 1617, o jesuíta Pêro Rodrigues foi nomeado para escrever sua biografia. Como muitos dos relatos eram apenas de testemunhas oculares e Roma precisaria de provas de um milagre de primeira ordem, para incluir José de Anchieta entre seus 2500 santos. O processo se arrastou durante séculos. Só em 1980 José de Anchieta foi honrado com a beatificação.


Obra

Segundo a "Brasiliana da Biblioteca Nacional" (2001) "o Apóstolo do Brasil", fundador de cidades e missionário incomparável, foi gramático, poeta, teatrólogo e historiador. O apostolado não impediu José de Anchieta de cultivar as letras, compondo seus textos em quatro línguas - português, castelhano, latim e tupi, tanto em prosa como em verso.

Duas das suas principais obras foram publicadas ainda durante a sua vida:

  • "De Gestis Mendi de Saa" ("Os Feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopeia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se assim o primeiro poema brasileiro impresso e, ao mesmo tempo, a primeira obra de José de Anchieta publicada.


  • "Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil" impressa em Coimbra em 1595 por Antonio de Mariz. É a primeira gramática contendo os fundamentos da língua tupi. Apresenta folha de rosto com o emblema da Companhia de Jesus. Desta edição conhecem-se apenas sete exemplares, dois dos quais encontram-se na Biblioteca Nacional do Brasil: o primeiro pertenceu ao imperador Dom Pedro II e o outro é oriundo da coleção de José Carlos Rodrigues. Constituindo-se na sua segunda obra publicada, é ainda a segunda obra dedicada a línguas indígenas, uma vez que, em 1571, já surgira, no México, a "Arte de La Lengua Mexicana y Castellana" de frei Alonso de Molina.


O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, resultando na melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.

Entre suas contribuições culturais, podemos citar as poesias em verso medieval, sobretudo o poema "De Beata Virgine Dei Matre Maria", mais conhecido como "Poema à Virgem", com 4172 versos, os autos que misturavam características religiosas e indígenas, a primeira gramática do tupi-guarani, A Cartilha dos nativos.

Foi o autor de uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro, quando redigiu sua carta de 09/07/1565 ao padre Diogo Mirão, dando conta dos acontecimentos ocorridos ali "no último dia de fevereiro ou no primeiro dia de março" do ano. Nela se encontram os seguintes trechos:

"...logo no dia seguinte, que foi o último de fevereiro ou primeiro de março, começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para cerca, sem querer saber nem dos tamoios nem dos franceses."
"... de São Sebastião, para ser favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso mártir."

A sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.


A Beatificação

Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em junho de 1980 pelo papa João Paulo II. Ao que se compreende, a perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas havia impedido, até então, o trâmite do processo iniciado no século XVII.

Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, que o conheceram, depuseram em seu favor, no seu processo de beatificação. Leonor Leme, matriarca da família Leme paulista, uma das depoentes, disse que "assistiu ela à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta, em 1567, e que ele se confessou depois muitas vezes".

"Todos o tinham por santo publicamente!"
(Leonor Leme)

E Ana Ribeiro, no mesmo processo, declarou que durante algum tempo com ele se confessou em São Vicente. Relatou um milagre acontecido com seu filho, Jerônimo, que então contava 2 anos de idade. Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao padre José de Anchieta, que passava pela sua porta. "Deixe-o ir para o céu", disse José de Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre: nem um sinal!

Narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando José de Anchieta à Vila de São Vicente pediu a Antônio Rodrigues que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Antônio Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a José de Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre José de Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.


O "Caminho de Anchieta"

A sua disposição em caminhar levava a que percorresse, duas vezes por mês, a trilha litorânea entre Iriritiba, e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu.

Modernamente, esse percurso, com cerca de 105 quilômetros, vem sendo percorrido a pé por turistas e peregrinos, à semelhança do Caminho de Santiago, na Espanha.

Indicação: Miguel Sampaio