JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS
(69 anos)
Escritor, Poeta, Romancista, Cronista, Dramaturgo, Contista, Folhetinista, Jornalista e Crítico Literário
* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1839)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/09/1908)
Foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.
Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, Ministério do Comércio e Ministério das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da
Academia Brasileira de Letras.
Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas.
Machado de Assis é considerado o introdutor do
Realismo no Brasil, com a publicação de
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores,
Quincas Borba,
Dom Casmurro,
Esaú e Jacó e
Memorial de Ayres, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da
Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como
Ressurreição,
A Mão e a Luva,
Helena e
Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do
Romantismo, ou
"convencionalismo", como prefere a crítica moderna.
Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro.
Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como
Dante Alighieri,
William Shakespeare e
Luís de Camões.[24]
Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do
Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram
Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e
Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Ambos eram agregados da
Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador
Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.
As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à Rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado de Assis resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.
Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.
Em seu folhetim
Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca
A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à
Lúcia Miguel Pereira,
Machado de Assis fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento:
"A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados."
Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas. A casa era
"uma espécie de vila ou fazenda", onde
Machado de Assis passou sua infância. Nesta época,
José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de
Machado de Assis,
Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava
Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do
Romantismo para a literatura brasileira.
Quando
Machado de Assis tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de
Dom Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em
Dom Casmurro.
Ao completar 10 anos, Machado de Assis tornou-se órfão de mãe, e o pai viúvo tão logo perdera a esposa casou-se com Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854, que cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado de Assis teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros.
Tudo indica que
Machado de Assis evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à
"Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como
"J. M. M. Assis", no
Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo
Francisco de Paula Brito.
Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua
Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde,
Machado de Assis se referiria à
Sociedade da seguinte forma:
"Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná."
No dia 12 de janeiro de 1855,
Francisco de Paula Brito publicou os poemas
Ela e
A Palmeira na
Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro. Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a
Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de
Machado de Assis.
Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava
Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em
The Mysteries of Paris de
Eugène Sue e com música de
Ermanno Wolf-Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:
"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."
Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na.
Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo:
"Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro."
O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto."
De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da
Ópera Nacional. No ano seguinte a de
Pipelet, produziu um libreto chamado
As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.
Crisálidas, Teatros e Política
Aos 21 anos de idade
Machado de Assis já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por
Quintino Bocaiúva, que o convidou para o
Diário do Rio de Janeiro, onde
Machado de Assis trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com
Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o
Jornal das Famílias sob pseudônimos:
Job,
Vitor de Paula,
Lara,
Max, e para a
Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.
Quintino Bocaiúva admirava o gosto de
Machado de Assis pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai,
Machado de Assis lhe dedica a coletânea de poesias
Crisálidas:
"À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais."
Em 1865,
Machado de Assis havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada
Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com
José Zapata y Amat, produziu o hino
Cantada da Arcádia especialmente para a sociedade.
Em 1866, escreveu no
Diário do Rio de Janeiro:
"A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."
No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do
Diário Oficial pelo
Dom Pedro II. Com a ascensão do
Partido Liberal pelo país,
Machado de Assis acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no
Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com idéias progressivas. Por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo
Partido Liberal do Império - candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de
Dom Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da
Imperial Ordem da Rosa.
A esta altura já era amigo de
José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta
Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da
Corte do Rio de Janeiro.
Machado de Assis diria sobre o poeta baiano:
"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro."
Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da
Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.
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Carolina Augusta Xavier de Novais |
Noivado, Cartas e Relacionamento
No mesmo ano ao da reunião com o poeta,
Machado de Assis teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos,
Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista
O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa
Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa.
Carolina despertara a atenção de muitos cariocas. Muitos homens que a conheciam achavam-na atraente e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo
Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data, o único livro publicado de
Machado de Assis era o poético
Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça
Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão.
Carolina era cinco anos mais velha que ele, deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de
Carolina,
Miguel e
Adelaíde (
Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo,
Machado de Assis e
Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.
Diz-se que
Machado de Assis não era um homem bonito, mas era culto e elegante. Estava apaixonado por sua
Carola, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois. Durante o noivado, em 2 de março de 1869,
Machado de Assis havia escrito uma carta íntima que dizia:
"...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."
Suas cartas endereçadas a
Carolina são todas assinadas como
Machadinho. Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento:
"Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria
Carolina.
Noutro parágrafo, diz:
"Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar". De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a
Machado de Assis os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de
Carolina,
Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou recentemente que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo do marido escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver
Trilogia Realista).
Não tiveram filhos. No entanto, acredita-se que tinham uma cadela Tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.
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Carolina Augusta Xavier de Novais (44 anos) |
Casamento, Histórias e Lendas
Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido
Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde
Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou:
"Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda.
Machado de Assis e
Carolina Augusta teriam vivido uma
"vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de
Machado de Assis, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de
A Dama do Livro (1882), de
Roberto Fontana. Ao saberem que
Machado de Assis não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.
No entanto, talvez a
"única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na
Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação,
Lauro Severiano Müller.
Em 20 de outubro de 1904,
Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado de Assis, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo
Daniel Piza,
Carolina comentava com amigas que
Machado de Assis deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com
Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil.
As três heroínas de
Memorial de Ayres chamam-se
Carmo,
Rita e
Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da
Carolina, a
mãe,
irmã e
esposa.
Machado de Assis também lhe dedicou seu último soneto,
A Carolina, em que
Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de
A Carolina era visitado todos os domingos por
Machado de Assis.
Academia Brasileira de Letras
Unanimente,
Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da
Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve
Gustavo Bernardo:
"Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão."
No discurso inaugural, Machado de Assis aconselhou aos presentes:
"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."
A
Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns.
Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência:
"Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções."
Como presidente,
Machado de Assis fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a
Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.
Em 1901, criou a Panelinha para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão Panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.
Machado de Assis devotou-se ao cargo de presidente da
Academia durante 10 anos, até a sua morte. Como homenagem informal, ela passou a chamar-se
"Casa de Machado de Assis". Hoje em dia a
Academia abriga coleções de
Olavo Bilac e
Manuel Bandeira, e uma sala chamada de
Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus. Além disso, a
Academia possui uma rara edição de 1572 de
Os Lusíadas.
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Estátua na Academia Brasileira de Letras |
Últimos Anos
Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo
Joaquim Nabuco,
Machado de Assis lamenta que
"foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]"
Em 1905, participou de uma sessão solene da
Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por
Joaquim Nabuco. Com
Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto
A Carolina,
"preito de saudade à esposa morta."
Em 1907, dá início ao seu último romance,
Memorial de Ayres, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.
Mesmo abalado, continuava lendo, trabalhando, estudando, frequentando algumas rodas de amigos. Em seus últimos anos, teria iniciado estudos da língua grega, embora outros autores apontam que tentava se familiarizar com ela desde cedo.
No primeiro dia de julho de 1908,
Machado de Assis entra em licença para tratamento de saúde, e nunca mais retorna ao Ministério da Viação. Personalidades ilustres, como o
Barão do Rio Branco, e intelectuais ou colegas, vão visitá-lo. Em um documento manuscrito do mesmo ano,
Mário de Alencar escreve, amargamente:
"Venho da casa de Machado de Assis, por onde estive todo o sábado, ontem e hoje, e agora estou sem ânimo de continuar a ver-lhe o sofrimento. Tenho receio de assistir ao fim que eu desejo não tarde. Eu, seu amigo e seu admirador grande, desejo que ele morra, mas não tenho coragem de o ver morrer."
Em 1906, escreve seu último testamento. O primeiro, escrito em 30 de junho de 1898, deixava todos seus bens à esposa
Carolina Augusta. Com a morte desta, pensou numa partilha amigável com a irmã de
Carolina,
Adelaide Xavier de Novais, e sobrinhos, efetuando este segundo e último testamento em 31 de maio de 1906, instituindo sua herdeira única
"a menina Laura", filha de sua sobrinha
Sara Gomes da Costa e de seu esposo major
Bonifácio Gomes da Costa, nomeado primeiro testamenteiro. Em suas últimas semanas,
Machado de Assis escreveu cartas a
Salvador de Mendonça (7 de setembro de 1908), a
José Veríssimo (1 de setembro de 1908), a
Mário de Alencar (6 de agosto de 1908), a
Joaquim Nabuco (1 de agosto de 1908), a
Oliveira Lima (1 de agosto de 1908), entre outros, demonstrando ainda estar lúcido.
Morte
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Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia Brasileira de Letras conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908. |
Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho,
Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma
Úlcera Canceriosa na Boca. Sua certidão de óbito relata que morrera de
Arteriosclerose Generalizada, incluindo
Esclerose Cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas.
"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade".
Euclides da Cunha ainda escreveu:
"Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."
O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia. Seu corpo no caixão, como relatara
Nélida Piñon,
"cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas". O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso,
Nélida Piñon comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de
Victor Hugo. De fato, uma multidão saía da
Academia e sustentava o caixão do autor até o
Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro. Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa
Carolina Augusta Xavier de Novais, jazigo perpétuo 1359.
A
Gazeta de Notícias e o
Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de
Machado de Assis. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de
Machado de Assis, anunciando sua morte.