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Tia Doca da Portela

JILÇÁRIA CRUZ COSTA
(76 anos)
Tecelã, Empregada Doméstica, Cantora, Compositora e Pastora da Velha-Guarda da Portela

* Rio de Janeiro, RJ (20/12/1932)
+ Rio de Janeiro, RJ (25/01/2009)

Jilçária Cruz Costa, conhecida como Tia Doca da Portela, nasceu em 20/12/1932, trabalhou como tecelã, empregada doméstica e chegou a vender sopa para se sustentar. Um dos baluartes da Portela, Tia Doca fez de tudo na escola: puxou corda (antigamente as escolas eram limitadas por cordões, como os blocos baianos de hoje em dia), foi da ala dos compositores, destaque, diretora da ala das baianas e integrante da diretoria. Tia Doca era uma das Pastoras da Portela (Vozes femininas do samba, que puxam enredos, cantam em rodas e também fazem shows). 

"Só não carreguei tijolo nem joguei bola com o Paulo da Portela. De resto, fiz de tudo para ajudar a minha escola!"
(Tia Doca da Portela)

E olha que nem era para ela ter esse amor todo pela azul-e-branco. Sua família era da Serrinha. Tia Doca era prima de Dona Ivone Lara. Sua mãe, Dona Albertinha, foi a primeira porta-bandeira da Prazer da Serrinha e só parou de desfilar quando a escola acabou em 1947.

Seguindo os passos da mãe, Tia Doca já era, aos 14 anos, porta-bandeira da Unidos da Congonha, em Vaz Lobo. Seu mestre-sala era Benício, que mais tarde formaria par com Wilma Nascimento na Portela.

"Eu nunca traí a minha escola. E olha que a Império Serrano foi fundada no meu quintal."
(Tia Doca da Portela)

A vida não foi mole para Tia Doca. Mãe de onze filhos, sendo nove homens e duas mulheres, ela perdeu oito. Restaram apenas as duas moças e um rapaz.

A entrada de Tia Doca na Portela foi em 1953, após seu casamento com o compositor Altair Costa, filho do compositor Alvarenga. Em 1970, entrou para a Velha Guarda por sugestão de Alberto Lonato e teve como examinadores Alvaiade e Armando Santos, vindo a substituir a lendária Tia Vicentina.

Tia Doca era muito ligada a Clara Nunes, que promoveu diversas rodas de samba no quintal da sambista. Como compositora, Tia Doca é autora do partido-alto "Temporal", por ela gravado num disco ao lado de Monarco, e do samba "Orgulho Negro", em parceria com o filho Jadilson Costa, gravado por Jovelina Pérola Negra.

Tia Doca ficou famosa por ser dona de uma das mais famosas rodas de samba da cidade. Há mais de 30 anos, a sambista abria o quintal de sua casa para promover o famoso "Pagode da Tia Doca", em Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, que serviu de berço para diversos artistas, entre eles Zeca Pagodinho. Dudu Nobre também frequentou o pagode desde os 5 anos. O repertório da tradicional roda de samba virou CD em 2000.


Tia Doca chegou a gravar com Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e Marisa Monte, que produziu em 2008 o documentário "O Mistério do Samba", com Tia Doca como uma das personagens.

No dia 17/01/2009, minutos antes da Portela iniciar seu segundo ensaio na Marquês de Sapucaí, a notícia de que Tia Doca teria morrido se espalhou como rastro de pólvora. Um mal-entendido que só foi desfeito algumas horas depois, na madrugada do dia 18/01/2009. Um susto! Ela, de fato, se internou após um Acidente Vascular Cerebral no Hospital Carlos Chagas. Um aviso, talvez. Uma semana depois, no dia 25/01/2009, vítima de um infarto, morria Tia Doca da Portela.

"Uma das matriarcas do samba... uma celebridade de verdade, simples e humilde"

Essas palavras da mangueirense Leci Brandão dão o tom do legado de Tia Doca para a Portela e para o samba. Uma mulher realizadora, bem-sucedida, que portou, desde sempre, a bandeira de resistência do samba.

Seu corpo foi velado a partir das 7:00hs do dia 26/01/2009, na quadra da Portela, em Madureira. O enterro ocorreu às 16:00 hs no Cemitério de Irajá.