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Diva Tosca

TOSCA IZABEL QUERZÉ ROULIEN
(23 anos)
Atriz, Dançarina e Violinista

☼ Rio de Janeiro, RJ (04/12/1909)
┼ Hollywood - Los Angeles, Estados Unidos (27/09/1933)

Diva Tosca foi uma atriz e dançarina nascida na Rua Itapiru, no bairro de Catumbi, na cidade do Rio de Janeiro, em 04/12/1909. Era esposa do ator brasileiro Raul Roulien.

Aos 8 anos de idade, seus pais a enviaram para um colégio interno em Santiago, no Chile, para que ela tivesse uma educação primorosa. A menina, influenciada pelas freiras do colégio, sonhava em ser freira também, mas abandonou a ideia quando foi enviada para à Itália em 1921, aos 12 anos de idade, para morar com uns tios.

Lá, Tosca tomou aulas de piano e violino, e em 1926 ela mudou-se com eles para os Estados Unidos, onde passou a fazer aulas de dança na academia do famoso Ned Wayburn.

Em 1927, aos 17 anos de idade, ingressou no elenco do musical "Rose Marie" (1927), nos palcos da Broadway. Era um pequeno papel, mas em uma peça importante, que teve como espectadores as estrelas Gloria Swanson e Ala Nazimova, com quem Diva Tosca chegou a conversar nos bastidores.

Em 1927 ela retornou ao Brasil, e ingressou na companhia de Margarida Max, estreando nos palcos brasileiros na opereta "Flôrsinha" (1927). Depois foi contratada pelo português António Macedo, ingressando na sua Companhia de Bailados, que se apresentava no Theatro República.

Diva Tosca visitando a cantora Lydia Lindgreen, durante sua estada nos EUA - (The Decatur Herald, 13/12/1926)
Foi no República em que ela conheceu o ator Raul Roulien. Antiga criança prodígio dos palcos brasileiros do começo do século XX, Raul Roulien havia morado muitos anos em Buenos Aires, onde tornou-se astro dos palcos, trabalhando inclusive ao lado de Carlos Gardel.

De volta ao Brasil, Raul Roulien tornou-se um dos maiores galãs do teatro brasileiro, sendo o ídolo de muitas adolescentes da época. Ele contratou Diva Tosca para sua companhia, a Films Scenicos, que se apresentava nos palcos do Theatro Lyrico.

Com Raul Roulien, Diva Tosca atuou em peças de sucesso como "O Irresistível Roberto" (1930) e "O Perfume do Passado" (1930). Nos palcos, ela dançava, atuava, declamava e tocava violino, uma artista completa.

Diva Tosca sonhava em ser estrela de cinema e seu primeiro contato com a grande tela foi quando atuou em um comercial, ou reclame como chamavam na época, de um perfume, que era exibido antes das sessões no Cinema Serrador.

Em 1930 ela estreou no cinema atuando em "As Armas" (1930), dirigido por Octavio Gabus Mendes, pai de Cassiano Gabus Mendes, interpretando a doce e ingênua Rosa.

E. G. Moura e Diva Tosca em "As Armas"
Raul Roulien era um grande sucesso no Brasil, mas vendo que antigos colegas dos palcos portenhos, como Mona Maris, estavam fazendo sucesso em Hollywood, resolveu tentar a sorte na terra do cinema. Diva ToscaRaul Roulien namoravam, e ela o acompanhou na empreitada.

Eles se casaram em Nova York, no dia 06/07/1931, mas o casamento foi mantido em segredo, afinal um galã não podia decepcionar as fãs, sendo casado.

Raul Roulien estreou no cinema em "Eran Trece" (1931), uma versão em espanhol de um sucesso de Charlie Chan. Mas a Fox gostou do ator latino, e o contratou. Fizeram-no operar as orelhas, que eram proeminentes, e começaram a promovê-lo como "O novo Rudolph Valentino".

Ao lado de Janet Gaynor, a primeira vencedora do Oscar, Raul Roulien estrelou "Delicius" (1931), onde vivia Sacha, um personagem romanceado baseado no compositor George Gershwin. O filme fez muito sucesso, e Raul Roulien entrou para o primeiro time de Hollywood.

Foi Raul Roulien quem juntou a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers pela primeira vez, em "Flying Down To Rio" (1933), e quem primeiro viu o talento da ainda Rita Cansino em "Piernas de Sieda" (1935). Ela mais tarde tornaria-se uma grande estrela, já chamada de Rita Hayworth. Ele também fez par romântico com a jovem Gloria Stuart em "It's Great To Be Alive" (1933). Anos mais tarde, Gloria Stuart voltaria aos holofotes como a Rose, idosa, em "Titanic" (1997).

Morte

Raul Roulien havia chegado lá, e Diva Tosca havia deixado a carreira temporariamente, para auxiliar o marido. O casal vivia feliz, enviando notícias para as revistas de cinema brasileiras, contando seu sonho americano realizado.

Porém, em 23/09/1933 o sonho acabou bruscamente. Raul Roulien e Diva Tosca saíam dos estúdios da Fox, quando um carro em alta velocidade avançou sobre eles, atingindo em cheio Diva Tosca, que acabou morrendo a caminho do hospital. O carro era dirigido por John Huston.

John Huston, que mais tarde tornaria-se cineasta, era então um ex figurante que iniciava na carreira como roteirista. Mas era filho de Walter Huston, um popular ator, muito influente em Hollywood.

John Huston estava bêbado, e meses antes, em fevereiro do mesmo ano, já havia atropelado a atriz Zita Johann, protagonista de "The Mummy" (1932). Zita Johann sobreviveu, mas ficou longos meses no hospital, o que prejudicou muito sua carreira.

Fred Astaire e Raul Roulien
Raul Roulien foi chamado pela Fox, que pediu para ele deixar o caso para lá. Como compensação, lhe ofereceram o papel principal em "The Garden Of Allah" (1936), um dos primeiros filmes coloridos feitos em Hollywod, e estrelado por Marlene Dietrich. Mas ele não aceitou o acordo, e o papel acabou indo para Charles Boyer.

Raul Roulien processou John Huston, pedindo uma indenização milionária. John Huston contou com a melhor equipe de advogados que Hollywood podia pagar, enquanto Raul Roulien, um brasileiro, lutou como podia. Raul Roulien venceu o processo, mas o juiz reduziu a indenização para apenas 5 mil dólares.

Por ter enfrentado o sistema, Raul Roulien teve sua carreira destruída em Hollywood. Ele então retornou ao Brasil, onde tornou-se um importante artista do cinema, teatro e televisão, falecendo no dia 08/09/2000, com quase 100 anos de  idade.

Diva Tosca foi sepultada no Grand View Memorial Park, Seção KA, Nível 6, Túmulo 70. O Grand View Memorial Park é um cemitério histórico localizado em Glendale, Califórnia, nos Estados Unidos.

Fonte: Memórias Cinematográficas e Find a Grave
Agradecimento Especial: Yuri S., por sua indicação biográfica e contribuição.
#famososquepartiram #divatosca

Bento Mossurunga

BENTO JOÃO DE ALBUQUERQUE MOSSURUNGA
(91 anos)
Maestro, Pianista, Violinista e Compositor

☼ Castro, PR (06/05/1879)
┼ Curitiba, PR (23/10/1970)

Bento João de Albuquerque Mossurunga, conhecido como Bento Mossurunga, foi maestro, pianista, violinista e compositor, nacido em Castro, PR, no dia 06/05/1879.

Bento era filho do tabelião João Bernardes de Albuquerque e de Graciliana Reis de Albuquerque. Foi registrado com um acréscimo em seu sobrenome de um simples apelido: 'Mossurunga'.

Em casa, o ambiente era muito musical, pois seu pai e seu irmão tocavam viola e violão, enquanto suas irmãs tocavam órgão. Ainda pequeno aprendeu a tocar violinha sertaneja, tendo crescido entre violeiros populares e ouvindo música produzida por ex-escravos libertos que moravam numa colônia próxima à sua casa.

Em 1895 foi para Curitiba estudar piano e violino no Conservatório de Belas Artes. Além de estudar, trabalhava numa loja de chapéus e frequentava o Grêmio Musical Carlos Gomes, tendo convivido com os compositores e músicos da época. Após um período de volta à terra natal (1897-1902), retornou a Curitiba e retomou seus estudos musicais, enquanto lecionava piano e apresentava-se num café-concerto.

Em 1905, a revista carioca O Malho publicou sua valsa "Bela Morena", o que o incentivou a mudar-se para o Rio de Janeiro, onde começou a atuar como violinista no teatro de variedades Guarda Velha. Prosseguiu seus estudos no Instituto Nacional de Música, passando a integrar em 1907 a orquestra do Centro Musical, regida por Antônio Francisco Braga, como primeiro violino.

Sua carreira como maestro se iniciou em 1916 na companhia do Teatro São José, onde foi auxiliar do maestro José Nunes até a morte deste, quando então assumiu o cargo de diretor do teatro. No período de 1918 a 1922, Bento Mossurunga dirigiu ensaios, fez instrumentações e musicou operetas, revistas e burletas, de autores como Cardoso de Meneses, Viriato Correia e Gastão Tojeiro. Depois dessa fase, foi regente em diversos teatros cariocas, como o Lírico, o Apolo, o Carlos Gomes e o Recreio Dramático.

Ainda morando no Rio de Janeiro, casou-se com Belosina Lima em 21/09/1924.

Em 1930 voltou a Curitiba para dirigir um curso de música e trabalhar na Sociedade Musical Renascença. Fundou a Sociedade Orquestral Paranaense e passou a produzir para o teatro musicado e a compor hinos, canções e obras para orquestra.

Em 1946 organizou, com um grupo de estudantes e músicos, a Orquestra Estudantil de Concertos, que em 1958 se transformaria na Orquestra Sinfônica da Universidade do Paraná.

Em 1947, seu Hino do Paraná, composto em 1903, tornou-se o hino oficial do Estado. Foi professor de canto orfeônico no Colégio Estadual do Paraná e de instrumentação na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Sua obra popular, que inclui numerosos sambas, tangos, choros, marchas carnavalescas, valsas e mazurcas perdeu-se em grande parte. Musicou, entre outras, as seguintes peças:
  • 1920 - Gato, Baeta, Carapicu, Revista de Cardoso de Meneses
  • 1921 - Reco-reco, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses
  • 1922 - Olelê Olalá, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses
  • 1921 - Segura o Boi, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses
  • 1922 - Meu Bem, Não Chora!, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses
  • 1927 - Florzinha, opereta de Ivete Ribeiro 
  • 1927 - Boas Falas, revista de Bastos Tigre


Bento Mossurunga faleceu em Curitiba, PR, no dia 23/10/1970, aos 91 anos.

Obras do Autor

Música Orquestral
  • Bucólica Paranaense (s.d.)
  • Dezenove de Dezembro (Hino Militar, 1904)
  • Guaicará (s.d.)
  • Hino do Paraná (1903)
  • Ingrata (Mazurca, 1904)
  • Marcha da Cidade de Curitiba (s.d.)
  • Ondas do Iapó (s.d.)
  • Pintassilgo dos Pinheirais (s.d.)
  • Rincão (s.d.)
  • Sapecada (s.d.)
  • Hino do Município de Telêmaco Borba (s.d.)
  • Hino do Colégio Estadual do Paraná

Música Instrumental
  • Doce Reminiscência (Para Piano) (s.d.)
  • Fantasia Romântica (Para Violino e Piano) (s.d.)
  • Serenata (Para Piano) (s.d.)
  • Serenata Rústica (Para Celo e Piano) (s.d.)

Música Vocal
  • Bandeira do Brasil (Para Quatro Vozes) (s.d.)
  • Berceuse (Para Canto e Piano) (s.d.)
  • Canções Paranaenses (Para Canto e Piano) (s.d.)
  • Luar no Mato (Para Canto e Piano) (s.d.)
  • Nosso Brasil (Para Canto e Piano) (s.d.)
  • Ondas do Iapó (Para Soprano e Orquestra)
  • Só (Para Canto e Piano) (s.d.)

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #BentoMossurunga

André Filho

ANTÔNIO ANDRÉ DE SÁ FILHO
(68 anos)
Compositor, Cantor, Arranjador, Percussionista, Instrumentista e Radialista

☼ Rio de Janeiro, RJ (21/03/1906)
┼ Rio de Janeiro, RJ (02/07/1974)

Antônio André de Sá Filho, mais conhecido com André Filho, foi um ator, multiinstrumentista (piano, violão, bandolim, violino, banjo, percussão), radialista, compositor e cantor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 21/03/1906.

Ficou órfão muito cedo, sendo por isso criado pela avó. Começou a estudar música erudita aos oito anos com Pascoale Gambardella. Estudou, anos depois, vários instrumentos como violão, violino, piano, bandolim, dedicando-se, então, à música popular brasileira.

Formou-se em Ciências e Letras no Colégio Salesiano de Niterói, RJ, onde foi colega de Almirante.

Na década de 1940, esteve internado com problemas psíquicos, que, somados a alguns outros, acabaram por fazê-lo abandonar a vida artística.

André Filho é autor de muitos sucessos, entre os quais a marcha "Cidade Maravilhosa" que se tornou o hino da cidade do Rio de Janeiro. Por isso virou uma figura histórica do Rio de Janeiro, além de ser o parceiro de Noel Rosa no samba "Filosofia".

André Filho começou a carreira artística cantando na Rádio Educadora. Foi arranjador, compositor de jingles, locutor de várias emissoras como a Rádio Tupi, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Phillips e Rádio Guanabara.


Sua primeira composição a ser gravada foi "Velho Solar", em 1929, pela Parlophon, interpretada por Henrique de Melo Moraes, o tio de Vinícius de Moraes. No mesmo ano, Ascendino Lisboa lançou o samba "Dou Tudo".

Em 1930, Carmen Miranda lançou duas músicas suas pela RCA Victor, o samba "O Meu Amor" e a marcha "Eu Quero Casar Com Você". Sílvio Caldas gravou também pela RCA Victor o seu samba "Nem Queiras Saber" (André FilhoFelácio da Silva).

Em 1931, Carmen Miranda gravou os sambas "Bamboleô" e "Quero Só Você", Jaime Vogeler a canção "Meu Benzinho Foi-se Embora" e Francisco Alves a valsa "Manoelina". No mesmo ano, gravou seu primeiro disco, na Parlophon, interpretando os sambas "Estou Mal" (André FilhoHeitor dos Prazeres), e "Mangueira" (Saul de Carvalho). Lançou com J. B. de Carvalho, a macumba "Anduê, Anduá" (Maximiniano F. da Costa) e o samba "É Minha Sina" (André Filho).

Em 1932 teve diversas composições gravadas por diferentes intérpretes. Carmen Miranda registrou os sambas "Mulato De Qualidade", "Quando Me Lembro" e "Por Causa de Você"; Sílvio Caldas o samba "Jurei Me Vingar" (André Filho Valfrido Silva); O Grupo da Guarda Velha e Trio TBT, o samba "Como Te Amei".

Em 1933, gravou os sambas "Vou Navegar" e "Nosso Amor Vai Morrendo", e teve gravados por Carmen Miranda, os sambas "Fala Meu Bem" e "Lua Amiga", e por Elisa Coelho os sambas "O Samba é a Saudade" e "A Lua Vem Surgindo". Mário Reis foi convidado por Noel Rosa para gravar "Filosofia", pela Columbia.


Em 1934, Carmen Miranda lançou, junto com Mário Reis, o samba "Alô... Alô...", um grande sucesso no carnaval daquele ano. Ainda em 1934, gravou seu grande sucesso, a marcha "Cidade Maravilhosa", em dupla formada com a então novata Aurora Miranda, de apenas 19 anos. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, a escolha de Aurora Miranda "refletia de certo modo a tendência de romper com uma constante da época: a hegemonia masculina na gravação do repertório carnavalesco". De qualquer modo, o certo é que a entrada de Aurora Miranda em cena deve-se mesmo ao fato de ser irmã de Carmen Miranda, já então no auge da popularidade, inclusive nos carnavais. O lançamento de "Cidade maravilhosa", se deu no entanto, sem grande sucesso na Festa da Mocidade, em outubro daquele ano.

A marchinha foi inscrita em 1935 no Concurso de Carnaval da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, obtendo, para indignação do autor, a 2ª colocação. Também em 1935, gravou a marcha "Guarde Um Lugarzinho Para Mim" (André Filho e Valfrido Silva) e o samba "Jura Outra Vez" (Alcebíades Barcelos e Valfrido Silva), e com Aurora Miranda, gravou de sua autoria, a marcha "Ciganinha Do Meu Coração" e o samba "O Que Você Me Fez".

Em 1936, lançou as marchas "Teu Cabelo Vou Pintar" e "Cadê a Minha Colombina", de sua autoria. Aurora Miranda gravou de sua autoria, o samba "Quero Ver Você Sambar" e a marcha "Bacharéis Do Amor", e Carmen Miranda a marcha "Beijo Bamba" e o samba "Pelo Amor Daquela Ingrata".

Em 1937 teve mais duas marchas gravadas por Aurora Miranda, "Se a Moda Pega..." e "Quero Ver Você Chorando".


Em 1938, Aurora Miranda gravou a marcha "Na Sua Casa Tem..." (André Filho e Heitor dos Prazeres) e o samba "Chorei Por Teu Amor".

Em 1939 lançou a marcha "Linda Rosa" e o samba "Quem Mandou?".

Em 1941, gravou a marcha "Carnaval na China" (André Filho e Durval Melo) e o samba "Estrela do Nosso Amor" (André Filho). Vicente Celestino gravou pela RCA Victor a valsa "Cinzas No Coração", obtendo grande sucesso, e a canção "Cancioneiro Do Amor".

Em 1960, um decreto oficializou "Cidade Maravilhosa" como hino da cidade. No final da década de 1960, convidado e entrevistado por Ricardo Cravo Albin, então diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), gravou histórico depoimento para o museu, tendo sido seu estado mental considerado bastante razoável pelo entrevistador.

Em 1974, Chico Buarque resgatou "Filosofia", regravando o samba em seu álbum "Sinal fechado", dedicado a outros autores por causa da censura imposta à sua produção. O samba foi, na época, grande sucesso e uma maneira inteligente de dar um recado ao regime militar. O samba voltaria a ser ouvido na voz de Mário Reis, na década de 1970 e, posteriormente, incluído no filme "Brás Cubas" (1985), adaptação do cineasta Júlio Bressane para o clássico de Machado de Assis "Memórias Póstumas de Brás Cubas". No filme, "Filosofia" é o tema do personagem Quincas Borba.

Devido a várias crises pessoais, inclusive o fim prematuro de casamento com a esposa Zilda, o que lhe teria provocado graves crises psíquico-nervosas, afastou-se completa e prematuramente da vida artística, passando a orar com a mãe que o abrigou, cercando-o de carinho e cuidados, o que obscureceu a avaliação de sua obra, fazendo com seu trabalho fosse lembrado basicamente apenas pela marcha "Cidade maravilhosa".

Em 2006, seu acervo passou a pertencer ao Instituto Moreira Salles que o homenageou por ocasião do centenário de seu nascimento com uma exposição de partituras, documentos e fotografias.

André Filho morreu aos 68 anos , no dia 02/07/1974, no Rio de Janeiro.

Discografia

  • 1941 - Carnaval Na China / Estrela Do Nosso Amor (Odeon, 78)
  • 1939 - Linda Rosa / Quem Mandou? (Columbia, 78)
  • 1938 - Perdão, Emília / Onde é Que Eu Vou Parar (Odeon, 78)
  • 1937 - Maravilhosa / Ó Rosa (Odeon, 78)
  • 1936 - Teu Cabelo Vou Pintar / Cadê a Minha Colombina (Odeon, 78)
  • 1935 - Guarde Um Lugarzinho Pra Mim / Jura Outra Vez (Odeon, 78)
  • 1935 - Ciganinha Do Meu Coração / O Que Você Me Fez (Odeon, 78)
  • 1934 - Cidade maravilhosa (Odeon, 78)
  • 1934 - Lourinha Brasileira / Não Chore Mais (Columbia, 78)
  • 1933 - Vou Navegar / Nosso Amor Vai Morrendo (RCA Victor, 78)
  • 1931 - Estou Mal / Mangueira (Parlophon, 78)
  • 1931 - Se o Teu Amor... / Você Diz Que é Melhor (Parlophon, 78)
  • 1931 - Vai De Uma Vez / Amizade Não Se Compra (Parlophon, 78)
  • 1931 - Cala a Boca / Vivo Feliz Sem Você (Parlophon, 78)
  • 1931 - Anduê, Anduá / É Minha Sina (Parlophon, 78)


Indicação: Miguel Sampaio

Fafá Lemos

RAFAEL LEMOS JÚNIOR
(83 anos)
Violinista

* Rio de Janeiro, RJ (19/02/1921)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/10/2004)

Fala Lemos foi considerado por muitos como um dos precursores da Bossa Nova. Começou a estudar violino em 1928, aos sete anos de idade, sob a orientação de Orlando Frederico. Na mesma época, aprendeu solfejo e teoria musical com Guiomar Beltrão Frederico. Com apenas nove anos de idade, em 1929, apresentou-se como solista de um concerto de Antônio Vivaldi, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. No ano seguinte, apresentou-se em recital no Salão Leopoldo Miguez, acompanhado pelo pianista Souza Lima.

Transferiu-se para o Paraná, afastando-se da música por um período de quatro anos.

Em 1940, de volta ao Rio de Janeiro, passou a integrar a Orquestra de Carlos Machado, que na época atuava no Cassino da Urca. Nesse mesmo ano, foi instrumentista da Orquestra Sinfônica Brasileira por um período de quatro meses.

Em 1946, ainda  participando da Orquestra de Carlos Machado, apresentou-se  na Boate Casablanca. Pouco depois  passou a  integrar o Trio Rio, que se apresentava na Bally-Hi.

Em 1950, assinou contrato com a Rádio Nacional, onde atuou como solista.

Em 1951, gravou seu primeiro disco interpretando o baião "Cigano no Baião" e a quadrilha "Saudades do Texas" (Fafá Lemos). No mesmo ano, acompanhou a cantora Linda Batista na gravação do samba-canção "Vingança" (Lupicínio Rodrigues), maior sucesso da cantora.

Em 1952, gravou solo na RCA Victor o beguine "Mentira de Amor" e o fox-canção "Violino Triste", ambos de Paulo César e com seu conjunto, o baião "Dois Malandros" e o choro "Barrigudinho", de sua autoria. Também com seu conjunto acompanhou gravações de Linda Batista, entre elas, o samba-canção "Foi Assim" (Lupicínio Rodrigues). No mesmo ano, viajou para os Estados Unidos, onde apresentou-se por diversas vezes e, acompanhado pelo violonista Laurindo de Almeida, gravou a trilha sonora do filme da Metro-Goldwyn-Mayer "Meu Amor Brasileiro", de Mervyn Le Roy, em que os astros Lana Turner e Fernando Lamas atuavam em paisagens do Rio de Janeiro confeccionadas em estúdio.

Chiquinho, Garoto e Fafá Lemos (Trio Surdina)
Realizou inúmeras  apresentações em cidades norte-americanas atuando ao lado de Carmen Miranda. Ainda em 1952, gravou  um LP na RCA Victor americana com um repertório no qual se destacavam as músicas "Aquarela do Brasil", "Na Baixa do Sapateiro",  ambas de Ary Barroso, "Nem Eu", de Dorival Caymmi, entre outras. Nesta mesma época integrou o Trio Surdina,  conjunto que surgiu no programa "Música Em Surdina", apresentado  por Paulo Tapajós, atuando ao lado de Garoto (violão) e Chiquinho (acordeão).

Em 1953, o Trio Surdina gravou na Musidisc dois LPs de 10 polegadas, registrando no primeiro obras como "Duas Contas" (Garoto), e "Na Madrugada" (Nilo Sérgio), e  no segundo apenas músicas de Ary Barroso e Dorival Caymmi. No mesmo ano, gravou em solo de violino o baião "ABC do Amor" (Getúlio Macedo e Augusto Alexandre) e o bolero "Ternamente" (Carlos L. do Espírito Santo).

Em 1954 gravou a "Valsa do Vira Lata" (Fafá Lemos e Bob Merril), o samba "Meu Panamá" (Alcebíades Nogueira), e a valsa "Luar de Areal" (Garoto). Pouco depois, voltou mais uma vez aos Estados Unidos para trabalhar com Carmen Miranda, com quem atuou até sua morte em 1955.

Em 1955, teve o baião "Nós Três" (Fafá Lemos, ChiquinhoGaroto) gravado por Ribamar ao acordeom, pela Columbia. Também em 1955, assim se referia à ele a Revista da Música Popular, Nº 7:

"Fafá Lemos continua a fazer sucesso em Hollywood, onde se mantém sete meses consecutivos no "Marquis", "boite-restaurante" das mais elegantes. Vai gravar o seu segundo LP para a RCA Victor e certamente obter novos sucessos".

De volta ao Brasil em 1956, assumiu a direção artística da RCA Victor. Nesse ano, foi contratado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Na cidade do Rio de Janeiro, apresentou-se em boates e televisão. Ainda em 1956 gravou o samba "Time Perna-de-Pau" (Vicente Amar) e o maxixe "Dengoso" (Renaud). No mesmo período, gravou com seu conjunto o baião "Delicado" (Waldir Azevedo) e o samba "Feitiço da Vila" (Noel Rosa e Vadico).


Em 1957, gravou o samba "Fala, Meu Louro" (Sinhô).

Em 1958 gravou o baião "Bicharada" (Djalma Ferreira) e o samba "Aviso Prévio" (Arnô Provenzano e Otolindo Lopes).

Em 1961, se transferiu para Los Angeles, lá permanecendo por longos anos.

Em 1985, retornou ao Brasil, depois de atuar em boates e casas noturnas.

Em 1989, a convite da gravadora paulista Eldorado, voltou aos estúdios para gravar um LP com a pianista Carolina Cardoso de Menezes, logo transposto para CD.

Em 2002, teve sua obra resgatada pelo pesquisador Hariton Nathannailidis, que, além de seu estudo crítico, preparou um CD, com produção de Zuza Homem de Mello, com os seus principais sucessos como violonista e compositor.

Em 2003, teve seu trabalho no Trio Surdina relembrado em show no Centro Cultural Banco do Brasil com a presença de Claudette Soares, Henrique Cazes, Marcos Nimrichter e Nicolas Krassic. Na ocasião foi tema de reportagem do Jornal do Brasil assinada pelo crítico Tárik de Souza que retratou a seguinte opinião dada sobre o artista pela pianista Maria Tereza Madeira:

"Ele foi um improvisador maravilhoso, com uma afinação de fazer inveja, muito refinamento e preciosismo nos detalhes, tudo sempre muito bem acabado."

Fafá Lemos aposentou-se no final dos anos 90. Em 2003, foi internado com problemas de saúde na Casa São Luiz no Caju, bairro da zona portuária do Rio de Janeiro.

Fafá Lemos morreu aos 83 anos, no dia 18/10/2004.


Discografia


  • 1951 - Cigano no Baião / Saudades do Texas (RCA Victor, 78)
  • 1951 - Grã-Fino / Tico-Tico no Fubá (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Mentira de Amor / Violino Triste (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Dois Malandros / Barrigudinho (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Meu Guarda-Chuva / Uma Noite na Lapa (RCA Victor, 78)
  • 1953 - ABC do Amor / Ternamente (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Valsa do Vira-Lata / Se Alguém Disser (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Meu Panamá / Zigeuner (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Tempo Antigo / Luar de Areal (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Canarinho Feliz / Joãozinho Boa-Pinta (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Jantar no Rio (RCA Victor, LP)
  • 1956 - Rosita / Arrivederci Roma (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Time Perna-de-Pau / Dengoso (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Delicado / Feitiço da Vila (RCA Victor, 78)
  • 1957 - Fantasma do Caju / Fala, Meu Louro (RCA Victor, 78)
  • 1957 - Para Ouvir Dançando (RCA Victor, LP)
  • 1958 - Bicharada / Aviso Prévio (RCA Victor, 78)
  • 1958 - Le Gondolier / Nel Blu, Di Pinto Di Blu (Odeon, 78)
  • 1958 - Trio do Fafá (RCA Victor, LP)
  • 1959 - Fafá, Seu Violino e Seu Ritmo (RCA Victor, LP)
  • S/D - Violino Travesso (Odeon, LP)
  • S/D - Hi-Fi do Fafá (Odeon, LP)
  • 1989 - Fafá & Carolina (Eldorado, LP)
Indicação: Miguel Sampaio

Newton Mendonça

NEWTON FERREIRA DE MENDONÇA
(33 anos)
Compositor e Instrumentista

* Rio de Janeiro, RJ (14/02/1927)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/11/1960)

Um dos mais importantes compositores da Bossa Nova, Newton Mendonça é figura obscura da música brasileira. Omissões, erros históricos e a personalidade arredia do pianista fizeram com que ele se mantivesse desconhecido até hoje. Injustiçado historicamente, Newton Mendonça foi um dos grandes responsáveis pelo início da Bossa Nova.

Newton Ferreira de Mendonça foi um pianista, compositor, violinista e gaitista brasileiro. Seu modo de escrever, usando substantivos até então raramente usados em letras de músicas brasileiras, e o modo carinhoso com que se referia à mulher, ao contrário do machismo frequentemente encontrado nas letras, foi fundamental para chamar a atenção das pessoas para a Bossa Nova, especialmente os jovens.

Viveu entre 1933 a 1939 em Porto Alegre, onde estudou violino, e em Aquidauana, MS. Aos 13 anos, iniciou seus estudos de piano clássico.

Em 1942 se juntou ao seu amigo de infância, Antônio Carlos Jobim, com quem compôs várias canções que viriam a se tornar clássicos da Bossa Nova.

Boêmio, passou a maior parte das noites dos anos 50 tocando piano em boates de Copacabana. O primeiro sucesso surgiu com "Foi a Noite", considerado por muitos especialistas como o início da Bossa Nova.

O grande sucesso aconteceu dois anos depois, quando João Gilberto gravou "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Seguiram-se "Meditação", "Caminhos Cruzados", "Discussão" e "Só Saudade".

Anos se passaram e "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só" tornaram-se clássicos, que resistiram ao tempo e até à morte da Bossa Nova. Para muitos, são canções apenas de Tom Jobim. Ninguém jamais se empenhou muito para que o nome de Newton Mendonça saísse das sombras. Até agora...

Com o renascimento nos últimos anos do interesse pela Bossa Nova, as pessoas quiseram saber quem foi Newton Mendonça - quem ele era, por que produziu tão pouco, por que morreu tão jovem. Como poucos de seus contemporâneos podem responder a essas perguntas - e nem todos têm paciência para prestar informações -, fantasiou-se até sobre a possível existência de uma cortina de silêncio ao seu redor. "Por que as pessoas desconversam quando se fala de Newton Mendonça?" - eis uma pergunta que é frequentemente respondida com outra: "É mesmo. Por quê?". Nesse terreno fértil para miragens, até as circunstâncias de sua morte passaram a parecer suspeitas.

Para piorar as coisas, teóricos consagrados, mas preguiçosos como investigadores, radiografaram as ousadias formais de "Desafinado""Samba de Uma Nota Só", e pensaram estar fazendo um grande favor a Newton Mendonça ao reabilitá-lo como o "Primeiro grande letrista da Bossa Nova". Deram de barato que, se Tom Jobim fazia as músicas, Newton Mendonça fazia as letras e, com isso, pincelaram com um verniz acadêmico a curiosa campanha que, não é de hoje, tenta isolar  Newton Mendonça como letrista. Nunca ocorreu a esses teóricos que, por mais improvável, poderia até ter sido o contrário - ou seja, que Newton Mendonça tivesse feito as músicas e Tom Jobim as letras. Ou que poderia ter sido de outro jeito: música e letra, em partes iguais, de Tom Jobim e Newton Mendonça. E que, ao canonizar Newton Mendonça como letrista, poderiam estar sendo injustos para com ele e para com o próprio Tom Jobim.

No fim dos anos 1950, Newton Mendonça não estava fazendo nenhum progresso como pianista da madrugada. Segundo sua carteira profissional, a boate Mocambo lhe pagava seis mil cruzeiros por mês em 1953. Nenhuma fortuna. Pelo último registro na carteira, o da boate Carrousel, em 1958, Newton Mendonça punha no bolso duzentos cruzeiros por noite - que, teoricamente, resultariam nos mesmos seis mil por mês, se eles valessem tanto quanto os de cinco anos antes. E, claro, se nem uma vez ele faltasse ao serviço.

A outra diferença é que, em 1953, Newton Mendonça era um compositor inédito e, em 1958, pelo menos, sua obra começava a respirar fora da boate. Já tinha sido gravado por vários cantores. Sua parceria com Tom Jobim em "Foi a Noite" foi um sucesso com Sylvinha Telles, e, antes de morrer em 1960, ele presenciaria o furor provocado por João Gilberto com "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só".

Mas Newton Mendonça não participou desse furor, nem perifericamente. Por diversos motivos, entre os quais o seu jeito arredio e um piramidal orgulho, não soube capitalizar a sensação da Bossa Nova para melhorar a sua cotação na bolsa da noite e fazer com que lhe pagassem decentemente nas boates - já que insistia em trabalhar nelas. E os direitos autorais, ainda mais naquele tempo, não passavam de um boato. A verdade é que, para Newton Mendonça, nenhuma das suas grandes criações rendeu-lhe dinheiro vivo enquanto ele esteve vivo.

Newton Mendonça era um homem travado e introvertido, que guardava seus diplomas debaixo do colchão e cuja única diversão durante o dia era jogar peteca na praia, um curioso esporte daquele tempo. Era, principalmente, de um atroz ciúme dos amigos e não gostava de estranhos em sua roda.

A Bossa Nova, em 1959, agrediu-o em todas essas frentes. Seu melhor e mais velho amigo, Tom Jobim, sobre quem até então ele exercia uma considerável ascendência, tornara-se uma mini-celebridade. A partir daí, ficou difícil para Newton Mendonça, ao terminar o serviço na boate às 04:00 hs, conseguir que Tom Jobim desafiasse sua mulher Teresa e saísse da cama para encontrá-lo num botequim na Rua Teixeira de Melo, em Ipanema, como acontecera outras vezes. Newton Mendonça já se conformara em dividi-lo com Vinícius de Moraes, de quem também ficou amigo, mas, depois de "Desafinado"Tom Jobim passou a ser propriedade de todo mundo no competitivo mundinho da Bossa Nova. Além do mais, tinha sido Tom Jobim, e não ele, que se tornou o querido da imprensa - como se pudesse ser de outra forma. Mas Newton Mendonça se ressentia, acusando os jornalistas. "Eles só querem saber do Tom", queixava-se para sua mulher Cyrene. Esta depois teria outra explicação: "Newton assustava os repórteres".


Se chegasse a ser entrevistado por um deles, Newton Mendonça provavelmente teria coisas a dizer. Como as que dizia para Cyrene, quando era cobrado por ela a respeito do aperto financeiro em que viviam:

"Não faço música para faxineira cantar varrendo a sala."

Só podia ser uma alusão maldosa à história da empregada que teria levado Tom Jobim a compor a deslumbrante "Chega de Saudade". Mas diria também que isso não diminuía a sua ambição de se ver reconhecido, e que o fazia irritar-se com as brincadeiras de Tom Jobim - como uma que este aprontou, em 1956, na boate Posto 5, onde Newton Mendonça trabalhava. Tom chegou com o jovem repórter José Carlos de Oliveira, tomou o lugar de Newton Mendonça ao piano e disse, com grande seriedade:

"Carlinhos, escute este samba-canção que eu acabei de fazer."

E tocou "Foi a Noite" (Tom Jobim e Newton Mendonça). Ronaldo Bôscoli, que estava presente e conhecia a música, fez força para não rir, mas Newton Mendonça não achou graça. Isso pode ter-se tornado uma prática perversa entre os dois parceiros. Poucos anos depois, em 1959, Newton Mendonça cruzou com Tito Madi no Beco das Garrafas e o fez entrar no Ma Griffe, onde estava agora trabalhando.

"Tito, olha só o que eu acabei de compor", disse Newton Mendonça.

Sentou-se ao piano e tocou-lhe um samba revolucionário. Tito Madi ficou quase estatelado. Não podia adivinhar, mas acabar de ouvir, em primeira mão, "Samba de Uma Nota Só" - melodia, harmonia e ritmo. Ainda sem letra.

Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram "Samba de Uma Nota Só" em fins de 1959 e também no apartamento de Newton Mendonça. Só que, dessa vez, a sério, sem o espírito de fuzarca que presidiu a confecção de "Desafinado". Mesmo assim, não resistiram a uma pequena provocação a Ary Barroso, ao começar a letra com o verso "Eis aqui este sambinha / Feito numa nota só".

Ary Barroso, que acreditava nos ufanismos nacionalistas que escrevia, foi talvez o único grande compositor brasileiro da velha guarda que nunca flertou com ritmos estrangeiros. Em seus programas de calouros, defendia com unhas e alguns dentes a sacralidade do samba e ficava um tigre quando algum desavisado anunciava que iria cantar "um sambinha" - às vezes dele próprio, Ary Barroso. Tanto Tom Jobim quanto Newton Mendonça o admiravam, mas ressentiam-se das espetadas que o homem de "Risque" e "Aquarela do Brasil" distribuía contra a Bossa Nova nas mesas da Fiorentina. Não que quisessem desafiá-lo. Ao contrário: ao minimizar o que tinham feito, classificando o seu próprio samba de "um sambinha", pensavam até em cativá-lo - e neutralizá-lo.

Quando "Samba de Uma Nota Só" foi gravado por João Gilberto em abril de 1960, a Bossa Nova já tinha se tornado a mania nacional, mas isso não alterou o estilo de vida de Newton Mendonça. Seu nome ficou relativamente conhecido no selo dos discos - apesar de ter virado Milton em "Desafinado" -, mas sua figura continuava tão na sombra quanto nos tempos de "Foi a Noite".

"Desafinado" tocava agora em todas as rádios, mas Newton Mendonça não estava vivendo à altura dessa glória. O Ma Griffe era um puteiro e ainda lhe pagava mal. Tudo poderia ter sido diferente se ele não tivesse sofrido o seu primeiro infarto, em maio de 1959. Na véspera daquele dia, ao voltar de manhã para casa, queixou-se de dores no braço e de dormência nas mãos.

"Ontem toquei por honra da firma", disse para Cyrene.

Não foi o primeiro aviso e ele sabia que vinha de uma família de cardíacos, como seu pai e sua irmã. Mas esses pequenos sustos não impediram que Newton Mendonça continuasse disputando bárbaras maratonas alcoólicas com sua turma em Ipanema. Certa tarde, depois de drenar o estoque de conhaque Georges Aubert que tinha em casa, mandou sua empregada comprar mais uma garrafa no mercadinho. A moça voltou com a informação:

"Eles disseram que não têm nenhum João Gilberto para vender."

Era natural que ela se atrapalhasse: João Gilberto era no nome que mais se ouvia naquela casa. Depois do serviço na boate, Newton Mendonça ia para a casa de alguém, bebia o resto, fumava o penúltimo cigarro dos seus quatro maços diários de Lincoln e desabava num sofá. Estava tratando seu coração como se este fosse uma punching-ball.

Newton Mendonça não desapontou os evidentes sintomas e teve um infarto, à saída do trabalho no Ma Griffe. Foi atendido no pronto-socorro que existia na Praça do Lido e, no dia seguinte, internado no próprio Hospital dos Servidores. Ficou 21 dias no hospital. Ao sair, os médicos passaram-lhe uma receita que ele achou excessiva: tinha de cortar de vez o cigarro, a bebida, a peteca na praia, moderar o sexo e ficar seis meses sem trabalhar.

Newton Mendonça cumpriu aproximadamente a primeira exigência - e transgrediu com fervor religioso as demais. Menos de dois meses pós-infarto, voltou a tocar na noite, novamente na boate Carrousel, elegeu o Veloso, na Rua Montenegro, como seu bar de parada obrigatória a caminho do serviço ou de qualquer lugar, e continuou a jogar peteca, agora clandestinamente, no Posto 6. A ideia de ver o maduro compositor de "Meditação" sendo obrigado a jogar peteca às escondidas é tristíssima, mas foi o que aconteceu.

Quanto ao sexo, Newton Mendonça foi tudo menos salomônico. Aceitou o conselho médico de que ele e Cyrene dormissem em quartos separados, para poupar o coração de sobressaltos. Mas não o poupou de palpitações intensas nos casos avulsos - reais ou imaginários - que passou a ter fora de casa. Suas colegas de trabalho eram as profissionais da noite, o que lhe abria o chamado leque de opções para quando queria se distrair. Mas o que provavelmente o sobrecarregou de emoções foi sua capacidade de fantasiar paixões, como a que alimentou pela sambista Francineth e principalmente pela cantorinha de rock Sônia Delfino, que comandava o programa "Alô, Brotos!" na TV Tupi. Aos 17 anos, rival de Celly Campello e, segundo ela própria, virgem, Sônia Delfino era a boneca mais cobiçada do meio musical - e sabia disso. Cyrene suspeitava de que os dois tivesse um caso, o que Newton Mendonça nem confirmava nem desmentia. Sônia Delfino diria depois que admirava muito Newton Mendonça, "à distância", mas sempre negou que os dois tivessem um caso.

Por via das dúvidas, Cyrene achou melhor levar Newton Mendonça para longe de Ipanema. Foram morar num sobrado na Rua Torres Homem, em Vila Isabel, onde ela pensava mantê-lo relativamente a salvo das tentações. O que aconteceu é que eles se isolaram e isso não fez bem a Newton Mendonça. Os únicos amigos que se animavam a ir vê-lo na distante Zona Norte eram Tom Jobim e um jovem chamado Cariê, Carlos Alberto Lindenbergh, depois homem de televisão no Espírito Santo. Mas, como continuava trabalhando no Beco do Joga-a-Chave-Meu-AmorNewton Mendonça fazia regularmente a sua vida social em Copacabana e voltava cada vez mais tarde para casa - tomando antes o cuidado de comprar alguns bombons, para adoçar Cyrene.

Numa terça-feira, 22/11/1960, Newton Mendonça saiu numa tarde chuvosa para encontrar amigos no Ponto dos Músicos, no centro da cidade. Não iria trabalhar aquela noite. Quando voltou, de madrugada, Cyrene já tinha se deitado. Ela o ouviu acertar a custo a chave na fechadura e imaginou que estivesse bêbado. Levantou-se e foi encontrá-lo na sala. Os vapores em Newton Mendonça podiam realmente ser sentidos à distância, mas ele estava também branco como gesso e com a mão no peito. Tinha conseguido colocar os bombons sobre o piano e tentava pendurar nele o guarda-chuva, que caiu. Havia uma poltrona por perto e ele se jogou nela, com um gemido profundo. Cyrene viu ali um novo infarto e saiu correndo para chamar um médico que morava no andar de cima. Quando este chegou, Newton Mendonça já estava morto.

Newton Mendonça foi o vencedor do I Festival da TV Record, no dia 03/12/1960, com a música "Canção do Pescador". O prêmio foi entregue, dias depois, à sua esposa, Dona CyreneNewton Mendonça, compositor e letrista de grande talento, faleceu sem ter podido colher os frutos de sua parceria com Tom Jobim.

Indicação: Miguel Sampaio