Saraiva Guerreiro

RAMIRO ELÍSIO SARAIVA GUERREIRO
(92 anos)
Diplomata

☼ Salvador, BA (02/12/1918)
┼ Rio de Janeiro, RJ (19/01/2011)

Foi um diplomata brasileiro e Ministro das Relações Exteriores do Brasil entre 1979 e 1985, durante o governo João Figueiredo.

Formado em direito pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1939, fez em seguida o curso de Prática Consular e História da Cartografia Política do Brasil do Instituto Rio Branco.

Em 1946, serviu na missão brasileira junto à Organização das Nações Unidas (ONU) em New York, como terceiro-secretário. Entre 1950 e 1952 serviu na Bolívia.

Em 1953 transferiu-se para Madrid, onde permaneceu, como segundo secretário, até 1956, quando foi transferido para a embaixada do Brasil em Washington, onde permaneceu até 1960.

Em 1968 chefiou a delegação do Brasil à III Sessão do Comitê das Nações Unidas sobre o Fundo do Mar.

Em abril de 1974, pouco depois de o general Ernesto Geisel ser empossado na Presidência da República, assumiu a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, em substituição ao embaixador Jorge Carvalho e Silva, subordinado ao chanceler Azeredo da Silveira. Permaneceu no cargo até março de 1978, quando foi designado para ocupar a embaixada do Brasil na França, em substituição ao ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto.

Foi empossado como Chanceler em março de 1979, juntamente com o presidente João Batista Figueiredo e o restante do ministério.

Deixou o Ministério das Relações Exteriores em 15/03/1985, no fim do governo João Batista Figueiredo, tendo sido substituído por Olavo Setúbal. No início de abril, assumiu a embaixada brasileira em Roma, permanecendo na Itália até janeiro de 1987.

Durante os anos 1970 e 1980, Saraiva Guerreiro foi um dos defensores do chamado pragmatismo responsável nas relações exteriores, priorizando as relações sul-sul.

Em 1980, fez também uma histórica viagem de contatos à África, incluindo Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Angola e Moçambique, que recentemente se haviam libertado do domínio colonial.


Um dos momentos mais importantes da política terceiromundista do Itamaraty foi o pronunciamento do presidente João Batista Figueiredo na abertura da 37ª Assembléia Geral da ONU em setembro de 1982, quando o presidente leu um discurso preparado por Saraiva Guerreiro, questionando a ordem econômica mundial e preconizando o fim das barreiras comerciais impostas pelos países industrializados, a redução dos juros internacionais e a necessidade de novos investimentos nos países em desenvolvimento. O discurso também defendia a "interdependência solidária entre a América Latina, a África e a Ásia", condenando a interferência estrangeira no Afeganistão e na América Central. Ratificando posições anteriores, o Brasil também reconheceu o direito do povo palestino a um Estado Soberano e da Argentina sobre as Ilhas Malvinas.

Em 1983, Saraiva Guerreiro foi um dos articuladores do Grupo de Cartagena, movimento de países latino-americanos que procurou estabelecer estratégias comuns nas negociações da dívida externa. A posição dos Barbudinhos do Itamaraty, expressão criada pelo ex-embaixador norte-americano, Anthony Motley (1981-1983), para designar a ala progressista da diplomacia brasileira, contrariava a equipe econômica do governo, chefiada pelo então ministro do Planejamento, Delfim Netto (1979-1985).

No final de sua carreira, já no governo José Sarney (1985-1990), foi nomeado embaixador extraordinário para assuntos da dívida externa - quando o Brasil já havia declarado unilateralmente a moratória, em fevereiro de 1987 - e defendeu a adequação do país às normas do Fundo Monetário Internacional (FMI) - posição que acabou prevalecendo. A moratória acabou em setembro de 1988.

Saraiva Guerreiro retirou-se da vida pública em 1992, ano em que lançou o livro "Lembranças de Um Empregado do Itamaraty".

Era casado com Maria da Glória Vallim Guerreiro e tinha dois filhos, Rosa Maria e Antônio José Vallim Guerreiro, que também é diplomata.

A presidente Dilma Rousseff recebeu com pesar a notícia da morte do embaixador Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro, a quem considerava um exemplar defensor da democracia multilateral, das relações com os países do sul e dos fundamentos da política externa independente do Brasil. Em nota, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte do ex-chanceler:

"Nas funções de Secretário-Geral do Itamaraty, de Ministro das Relações Exteriores e de negociador da dívida externa brasileira, o embaixador Guerreiro foi exemplar defensor da diplomacia multilateral, das relações com os países do sul e dos fundamentos da política externa independente do Brasil."