Augusto Severo

AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO
(38 anos)
Político, Jornalista, Inventor e Aeronauta

☼ Macaíba, RN (11/01/1864)
┼ Paris, França (12/05/1902)

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi o oitavo dos quatorze filhos do pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e da paraibana Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-1893). Realizou seus estudos primários em Macaíba, e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador, BA. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.

Os Primeiros Projetos Aeronáuticos

Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza, que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Augusto Severo passou a se interessar pelo vôo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou Albatroz.

Em 1882, passou a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, acumulando a função de vice-diretor. No ano seguinte o ginásio fechou e Augusto Severo dedicou-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos de seu irmão Adelino, associou-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora até 1892.

Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem teve cinco filhos. No ano seguinte passou a escrever artigos para o jornal A República, anti-monárquico, do irmão Pedro Velho e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, que, porém, nunca chegou a ser construído.

Política

Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Drº Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte.

A passagem de Augusto Severo pelo parlamento brasileiro ficou assinalada por muitos projetos que viraram leis no país, por trabalhos importantíssimos nas comissões de orçamento, de tarifas, de marinha, sobretudo nesta, onde revelou conhecimentos náuticos que o fizeram autoridade na matéria, chegando muitas vezes a ser apontado para o cargo de ministro da marinha, com o aplauso da ilustre corporação da armada nacional. Defendeu projetos relativos ao saneamento público, assistência à infância, proteção aos operários dos arsenais.

O Bartholomeu de Gusmão sendo experimentado em 7 de março de 1894, no Realendo, RJ.
O Dirigível Bartholomeu de Gusmão

Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de abalizados professores da Escola Politécnica, concedeu o Governo um auxílio pecuniário para que Augusto Severo pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente.

O dirigível Bartolomeu de Gusmão introduzia um conceito novo. Era um aparelho semirrígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões. Numa carta escrita da França e datada de 5 de dezembro de 1892, Augusto Severo explicou os princípios da aeronave:

"Estabeleceu como princípio a ciência que a navegação aérea dependia da possibilidade de se obter a justaposição dos centros de tração e resistência. Com efeito, produz esta justaposição uma diminuição considerável de resistência e faz desaparecerem as rotações perturbadoras do movimento do aeróstato, rotações que se dão quando a força propulsiva não se acha colocada sobre a resultante das resistências desenvolvidas. Ora, foi essa justaposição que consegui obter no meu aeróstato. As características do meu invento, denominado 'Sistema Potiguarânia', são estas:

. Os meios empregados para fazer coincidir a força de propulsão com a resultante das resistências, pela combinação de um aeróstato, de forma ovóide, e de uma carcaça sólida, de metal ou de qualquer outra matéria, cuja haste superior se vá apoiar no fundo de um bolso, feito em todo o comprimento do aeróstato, e que sustenta, de um lado a hélice, e posto no prolongamento da referida haste, e do outro a barquinha e os demais órgãos.

. A disposição especial do leme, também sustentado pela carcaça sólida, e formado de duas asas que, na ocasião da subida do aeróstato, ficam verticalmente para não dificultarem a ascensão. Estou inteiramente convencido de que governarei o meu 'Bartholomeu Dias' [sic] com uma velocidade de 15 a 20m/s, podendo aumentá-la até 50m/s. O meu sistema já está privilegiado em França. Conto chegar ao Rio em fevereiro para fazer aí a primeira experiência pública do meu invento."

O balão, de cerca de 2.000m3, medindo 60m de comprimento, chegou ao Brasil em março de 1893. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída no campo de tiro de Realengo, Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio. A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Augusto Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o vôo.

Só em 1894 o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Augusto Severo era adequada para o vôo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. Este problema, conhecido como tangagem, comprometia o equilíbrio e reduzia substancialmente a velocidade. Mas no único vôo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não aguentou os esforços e se partiu.

Novos Inventos

Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, pediu patente para um "turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas", concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Augusto Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos.

Em 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Augusto Severo patenteou um novo balão dirigível, o Paz, posteriormente o nome foi latinizado para Pax, e em 23 de julho de 1901, uma "máquina a vapor rotativa e reversível", com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.

O Dirigível Pax

Em fins de 1901, Augusto Severo licenciou-se da Câmara para se dedicar à construção do novo dirigível que inventou, o Pax. Este novo dirigível era um desenvolvimento do seu anterior, o Bartholomeu de Gusmão, e Augusto Severo introduziu uma grande quantidade de inovações: abandonou o leme de direção e introduziu ao todo sete hélices: uma na popa, outra na proa, outra na barquinha e quatro laterais. Manteve a sua ideia de se fazer uma aeronave integrando a quilha que levava os tripulantes e o grupo motor ao balão. Sem ter conseguido qualquer auxílio externo,Augusto Severo  teve que assumir toda a despesa para a construção. Pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que ele optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24v e o outro com 16cv. O invólucro tinha a capacidade de 2.500m³ de hidrogênio, com 30m de comprimento e 12 no maior diâmetro. O aparelho pesava cerca de duas toneladas. Os ensaios foram realizados nos dias 4 e 7 de maio de 1902 com sucesso.

Santos Dumont (E), Augusto Severo (C) e o mecanico Georges Sachê (D) pouco antes do início da ascenção do PAX.
Morte

No dia 12 de maio de 1902, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax iniciou seu voo às 5h30min saindo da estação de Vaugirard, Paris. Elevou-se rapidamente atingindo cerca de 400 metros. Realizou diversas evoluções que mostraram aos inúmeros espectadores que as ideias de Augusto Severo estavam corretas. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo.

Augusto Severo e Georges Saché morreram na queda. Os restos do dirigível caíram na Avenida du Maine, Paris, diante de uma grande multidão que seguia com interesse a demonstração. A catástrofe do Pax teve um impacto enorme. Natália, que assistiu a queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos 30 anos de idade. A configuração proposta por Augusto Severo, de um dirigível semi-rígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.

No dia 18 de setembro de 1904, foi inaugurado, no Cemitério São João Batista, o monumento para a sepultura daquele que pagou com a vida o seu intenso amor e pressa na tentativa de resolver o problema da navegação aérea: Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.

O aeroporto de Natal, Rio Grande do Norte, tem o nome de Aeroporto Internacional Augusto Severo em homenagem a Augusto Severo de Albuquerque Maranhão. O aeroporto foi construído durante a Segunda Guerra Mundial com a finalidade de preparar uma base para operações de uma unidade tática de envergadura, a fim de enfrentar qualquer ameaça à segurança do hemisfério ocidental, servindo de base de apoio às forças aliadas. Durante o conflito mundial, o Aeroporto Augusto Severo foi o aeroporto mais movimentado do mundo.

Fonte: Wikipédia