Carlos Marighella

CARLOS MARIGHELLA
(57 anos)
Político, Poeta e Guerrilheiro

* Salvador, BA (05/12/1911)
+ São Paulo, SP (04/11/1969)

Carlos Marighella foi um político, guerrilheiro e poeta brasileiro, um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar a partir de 1964.

Um dos sete filhos do operário Augusto Marighella, imigrante italiano da região da Emília, terra de destacados líderes italianos, e da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos africanos trazidos do Sudão (negros hauçás), nasceu em Salvador, BA, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro, onde concluiu o seu curso primário e o secundário e, em 1934 abandonou o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Tornou-se então, militante profissional do partido e se mudou para o Rio de Janeiro, trabalhando na reorganização do PCB.

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiu na militância política, interrompendo os estudos universitários no terceiro ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.


Em 01/05/1936, durante a ditadura na "Era Vargas", foi preso por subversão e torturado pela polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano. Foi solto pela "Macedada" (nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação). Ao sair da prisão entrou para a clandestinidade, até ser recapturado, em 1939. Novamente foi torturado e ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país.

Elegeu-se deputado federal constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro baiano em 1946, mas perdeu o mandato em 1948, em virtude da nova proscrição do partido. Voltou para a clandestinidade e ocupou diversos cargos na direção partidária. Convidado pelo Comitê Central, passou os anos de 1953 e 1954 na China, a fim de conhecer de perto a recente revolução chinesa.

Em maio de 1964, após o golpe militar, foi baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema, no Rio de Janeiro. Libertado em 1965 por decisão judicial, no ano seguinte optou pela luta armada contra a ditadura, escrevendo "A Crise Brasileira".

Em dezembro de 1966, renunciou à Comissão Executiva Nacional do PCB.

Em agosto de 1967, participou da I Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), realizada em Havana, Cuba, a despeito da orientação contrária do PCB. Aproveitando a estada em Havana, redigiu "Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil", dedicado à memória do comandante Che Guevara e tornado público pelo Jornal do Brasil em 05/09/1968.

Foi expulso do partido em 1967 e em fevereiro de 1968 fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional (ALN). Em setembro de 1969, a Ação Libertadora Nacional participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).


Com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentram esforços em sua captura. Na noite de 04/11/1969 Carlos Marighella foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista. Ele foi morto a tiros por agentes do DOPS, em uma ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

A Ação Libertadora Nacional continuou em atividade até o ano de 1974. O sucessor de Carlos Marighella no comando da Ação Libertadora Nacional foi Joaquim Câmara Ferreira, que também foi morto por Sérgio Paranhos Fleury no ano seguinte.

Os militantes mais atuantes em São Paulo eram Yuri Xavier Ferreira, Ana Maria Nacinovic, Marco Antônio Valmont e Gian Mercer que continuaram fazendo panfletagem contra a ditadura até meados de 1972, quando também foram mortos numa emboscada no bairro da Mooca, ao saírem do restaurante Varela.

Dezoito de seus militantes foram mortos e cinco foram considerados desaparecidos. O último líder da Ação Libertadora Nacional foi Carlos Eugênio Sarmento da Paz, que sobreviveu auto-exilando-se na França, e voltando ao Brasil após a anistia.

Em 1996, o Ministério da Justiça reconheceu a responsabilidade do Estado pela morte de Carlos Marighella. Em 07/03/2008 foi decidido que sua companheira Clara Charf deveria receber pensão vitalícia do governo brasileiro.

Morte

Em uma emboscada preparada contra Carlos Marighella, foram detidos Tito e seus amigos de convento, exceto Frei Oswaldo. Frei Fernando foi obrigado a combinar um encontro com Carlos Marighella. Eles tinham um código que auxiliou na emboscada: "Aqui é o Ernesto, vou à gráfica hoje". O encontro foi marcado na Alameda Casa Branca, uma rua próxima ao centro da cidade de São Paulo.

No dia do encontro, havia uma caminhonete com policiais e um automóvel, com supostos namorados, onde Sérgio Paranhos Fleury disfarçou-se, além do fusca com Fernando e Ivo.

Ao chegar na Alameda, às 20:00 hs, dirigiu-se ao fusca e entrou na parte traseira. Frei Ives e Fernando saíram rapidamente do carro e se jogaram no chão. Percebendo a emboscada, imediatamente reagiu à prisão e foi morto.

Carlos Marighella seguiu as normas de seu manual. Portava um revólver e levava duas cápsulas de cianureto. Além de Carlos Marighella, outras três pessoas foram atingidas durante o tiroteio: Estela Borges Morato, investigadora do DOPS que simulou namorar Sérgio Paranhos Fleury, morta no tiroteio. Friederich Adolf Rohmann, protético que passava pelo local, morto no tiroteio. Rubens Tucunduva, delegado envolvido na emboscada, que ficou ferido gravemente no tiroteio.

Escritos

Carlos Marighella escrevia poesias e, aos 21 anos, durante as aulas de engenharia divertia professores e colegas fazendo provas em verso. Da mesma forma, compôs em versos ataques ao interventor baiano Juracy Magalhães, fato que lhe valeu sua primeira prisão, seguida de tortura, em 1932. Ainda na prisão, desta feita em 1939, ele compôs o poema "Liberdade".

"(...) E que eu por ti, se torturado for, 
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome."

Sua obra poética está reunida no livro "Rondó da Liberdade".

A Lápide da Sepultura

A única obra de Oscar Niemeyer na Bahia: A lápide da sepultura de Carlos Marighella.

Em 10/12/2009, se passaram 30 anos do translado do corpo de Carlos Marighella para Salvador e 40 anos de sua morte em São Paulo, onde foi enterrado como indigente.

Os restos mortais de Carlos Marighella descansam no cemitério da Baixa de Quintas em Salvador. A frase de Carlos Marighella na lápide: "Não tive tempo para ter medo".

Estado Brasileiro Anistia Carlos Marighella No Seu Centenário

Depois de 42 anos o Estado Brasileiro finalmente pediu desculpas aos familiares de Carlos Marighella pela sua execução no dia 04/11/1969 em uma emboscada em São Paulo. A anistia ao líder guerrilheiro foi aprovada por unanimidade durante a primeira sessão da 53º Caravana da Anistia realizada na noite de segunda-feira, 05/12/2011, no Teatro Villa Velha, em Salvador, cidade onde nasceu e começou sua militância política. A data também marca o centenário de Carlos Marighella.

O teatro ficou lotado de lideranças sociais e políticas, familiares, amigos de luta e muitos admiradores da trajetória de Carlos Marighella, um baiano que morreu em defesa do direito à liberdade de todo o povo brasileiro. O governador da Bahia, Jaques Wagner, o ex-governador Waldir Pires, o presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Bahia, Daniel Almeida, senadores, deputados e vereadores estavam entre as autoridades presentes ao evento.

A relatoria do pedido de anistia coube a Ana Guedes, militante do PCdoB na Bahia, que após ler o relato sobre a trajetória de Carlos Marighella desde o início da sua militância política em Salvador, passando pelas prisões até a sua morte votou pela anistia de Marighella.

Segundo Ana, Carlos Marighella é um ícone, um herói do povo brasileiro. Foi um homem totalmente voltado para a defesa do povo brasileiro e por isso foi muito perseguido, preso, torturado e assassinado.

"O maior significado deste ato está em reafirmar o nosso desejo de que a anistia vingue. A anistia é uma conquista do povo brasileiro, pois no momento que o Estado pede desculpas à família, isso vai ficar gravado na memória do povo brasileiro, que isso que aconteceu com Marighella e com tantos outros brasileiros não pode mais acontecer."

Unanimidade

O momento mais aguardado veio no início da noite após muitos depoimentos emocionados sobre o homenageado e votação unânime da Comissão pela aceitação do parecer de Ana Guedes.

"Pelos poderes a nós conferidos pelo Ministério da Justiça, a Comissão da Anistia declara anistiado pós-mortem Carlos Marighella. Com isso, Clara Charf e Carlos Augusto Marighella, pedimos as mais sinceras desculpas por tudo que o Estado Brasileiro fez contra seu companheiro e seu pai."
(Vice-presidente da Comissão da Anistia, Egmar Oliveira)

"É muito importante que meus filhos estejam aqui para acompanhar este momento, que é o reconhecimento da trajetória de um grande homem. Há 42 anos, em um dia chuvoso, fui chamado a um jornal para reconhecer a foto de Marighella morto. Foi muito traumatizante, pois a foto era seguida de muitas mentiras sobre ele. Mentiras que foram sendo desmascaradas com o passar do tempo. Tudo porque Marighella sempre foi um herói e surge como inspiração para os jovens brasileiros. Eu estou muito feliz, porque são 40 anos lutando para que esta verdade seja reconhecida e este dia chegou."
(Carlos Augusto Marighella - Filho de Carlos Marighella)


A felicidade também estava estampada no rosto de Clara Charf, viúva de Carlos Marighella e uma das pessoas que mais lutaram para que o Estado reconhecesse seu erro e a verdade sobre o companheiro fosse restabelecida.

"Esta Comissão é resultado do processo de democratização, que permitiu que chegasse a este momento, em que o povo brasileiro pudesse saber a verdade sobre o que aconteceu. Porque durante muito tempo eles mentiram e tentaram desmoralizar a vida das pessoas. Porque eles queriam esconder a resistência do povo brasileiro, que é o povo mais resistente do mundo."
(Clara Charf)