Carlota Pereira de Queiroz

CARLOTA PEREIRA DE QUEIROZ
(90 anos)
Médica, Escritora, Pedagoga e Política

* São Paulo, SP (13/02/1892)
+ São Paulo, SP (14/04/1982)

Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira mulher brasileira a votar e ser eleita deputada federal. Ela participou dos trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte, entre 1934 e 1935.

Era filha de José Pereira de Queiroz e de Maria V. de Azevedo Pereira. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1926,  ocasião em que recebeu o Prêmio Miguel Couto pela sua tese  "Estudos Sobre o Câncer".

Chefe do laboratório de clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1928, foi comissionada pelo governo de São Paulo em 1929 para estudar Dietética Infantil em centros médicos da Europa. 

Membro da Associação Paulista de Medicina de São Paulo, Association Française Pour l'Étude du Cancer, Academia Nacional de Medicina e Academia Nacional de Medicina de Buenos Aires. Fundou a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, em 1950.


Na Política, a Primeira Deputada

Durante a Revolução Constitucionalista, movimento de contestação à Revolução de 1930, ocorrido em São Paulo em 1932, organizou, à frente de 700 mulheres, a assistência aos feridos. Em maio de 1933, foi a única mulher eleita deputada à Assembléia Nacional Constituinte, na legenda da Chapa Única por São Paulo.

Na Constituinte, Carlota integrou a Comissão de Saúde e Educação, trabalhando pela alfabetização e assistência social. Foi de sua autoria o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais, bem como a emenda que viabilizou a criação da Casa do Jornaleiro e a criação do Laboratório de Biologia Infantil.

Seu mandato foi em defesa da mulher e das crianças. Trabalhava por melhorias educacionais que contemplassem melhor tratamento as mulheres. Além disso, publicou uma série de trabalhos em defesa da mulher brasileira.

Após a promulgação da Constituinte em 17 de julho de 1934, teve o seu mandato prorrogado até maio de 1935. Ainda em 1934, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Eleita pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, no pleito de outubro de 1934, permaneceu na Câmara até 1937, quando foi instaurado o Estado Novo por Getúlio Vargas quando o mesmo  fechou o Congresso Nacional (1937-1945). Durante esse período lutou pela redemocratização do país.

Segue abaixo o discurso proferido por ela em 13 de março de 1934:

"Além de representante feminina, única nesta Assembléia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu país e identificada para sempre com os seus problemas. (…) Acolhe-nos, sempre, um ambiente amigo. Esta é a impressão que me deixa o convívio desta Casa. Nem um só momento me senti na presença de adversários. Porque nós, mulheres, precisamos ter sempre em mente que foi por decisão dos homens que nos foi concedido o direito de voto. E, se assim nos tratam eles hoje, é porque a mulher brasileira já demonstrou o quanto vale e o que é capaz de fazer pela sua gente. Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que ela também fosse chamada a colaborar. (…) Quem observar a evolução da mulher na vida, não deixará por certo de compreender esta conquista, resultante da grande evolução industrial que se operou no mundo e que já repercutiu no nosso país. Não há muitos anos, o lar era a unidade produtora da sociedade. Tudo se fabricava ali: o açúcar, o azeite, a farinha, o pão, o tecido. E, como única operária, a mulher nele imperava, empregando todas as suas atividades. Mas, as condições de vida mudaram. As máquinas, a eletricidade, substituindo o trabalho do homem, deram novo aspecto à vida. As condições financeiras da família exigiram da mulher nova adaptação. Através do funcionalismo e da indústria, ela passou a colaborar na esfera econômica. E, o resultado dessa mudança, foi a necessidade que ela sentiu de uma educação mais completa. As moças passaram a estudar nas mesmas escolas que os rapazes, para obter as mesmas oportunidades na vida. E assim foi que ingressaram nas carreiras liberais. Essa nova situação despertou-lhes o interesse pelas questões políticas e administrativas, pelas questões sociais. O lugar que ocupo neste momento nada mais significa, portanto, do que o fruto dessa evolução."

Teve valiosa participação na Revolução Constitucionalista de 1932 lutando pelos ideais democráticos defendidos por São Paulo.


Academia Nacional de Medicina

Eleita membro da Academia Nacional de Medicina em 1942, fundou, oito anos depois, a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, da qual foi presidente durante alguns anos. Apoiou o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, em 1964.

Escritora

Foi escritora e historiadora, com as publicações "Um Fazendeiro Paulista no Século XIX" e "Vida e Morte de um Capitão".

Homenagens

Homenageada com o monumento intitulado "Carlota Pereira de Queiroz", na Praça Califórnia, bairro de Pinheiros, Zona Oeste da Capital de São Paulo e com a Avenida Drª Carlota Pereira de Queiroz, no distrito de Socorro, localizado na região Sul de São Paulo.