Wilson Batista

WILSON BAPTISTA DE OLIVEIRA
(55 anos)
Compositor

☼ Campos dos Goytacazes, RJ (03/07/1913)
┼ Rio de Janeiro, RJ (07/07/1968)

Wilson Baptista de Oliveira também conhecido como Wilson Batista foi um compositor brasileiro. Filho de um guarda municipal de Campos dos Goytacazes, ainda menino participou, tocando triângulo, da Lira de Apolo, banda organizada por seu tio, o maestro Ovídio Batista. Ainda na cidade natal, fez parte do Bando, para o qual compunha algumas músicas e, pretendendo aprender o ofício de marceneiro, frequentou o Instituto de Artes e Ofícios.

Era um contumaz vendedor de sambas e não tocava nenhum instrumento, embora fosse afinado, a não ser sua caixinha-de-fósforos. Foi casado e tornou-se pai de dois filhos, embora a vida boêmia o levasse a ficar até três dias sem aparecer em casa, para desespero da esposa. Foi morador da Ilha de Paquetá e costumava chamar a todos de "Major", fazendo o pedido de costume: "Tem um dinheirinho aí pro Cabo Wilson? "

No final da década de 20, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro. Passou então a frequentar os cabarés da Lapa e o Bar Esquina do Pecado, na Praça Tiradentes, pontos de encontro de marginais e compositores, tornando-se amigo dos irmãos Meira, malandros famosos da época, cuja amizade lhe valeu várias prisões. A seguir, começou a trabalhar como eletricista e ajudante de contra-regra no Teatro Recreio.


Com 16 anos, fez seu primeiro samba, "Na Estrada da Vida", lançado por Aracy Côrtes no Teatro Recreio e gravado em 1933 por Luís Barbosa. Acredita-se que sua primeira parceria tenha se dado com o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, no samba de breque "Mil e Uma Trapalhadas", cuja gravação aconteceu apenas na década de 60, pelo cantor Moreira da Silva.

Seu primeiro samba gravado foi "Por Favor, Vai Embora", (Wilson BatistaBenedito Lacerda e Osvaldo Silva), pela RCA Victor, na interpretação de Patrício Teixeira, em 1932. A partir de então, passou a fazer parte da Orquestra de Romeu Malagueta, como crooner e ritmista (tocava pandeiro).

Em 1933, Almirante gravou sua batucada "Barulho no Beco" (Wilson BatistaOsvaldo Silva), e três intérpretes, Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas, divulgaram seu samba "Desacato" (Wilson BatistaPaulo Vieira e Murilo Caldas), que fez muito sucesso.

Sempre frequentando o mesmo ambiente de boemia, fez a apologia do malandro no seu samba "Lenço no Pescoço", já gravado em 1933 por Sílvio Caldas, que deu início à famosa polêmica com Noel Rosa (Noel Rosa X Wilson Batista), o qual respondeu no mesmo ano com "Rapaz Folgado", contestando a identificação do sambista com o malandro. Sua réplica a Noel Rosa veio no samba "Mocinho da Vila". Fora do contexto da polêmica, Noel Rosa e Vadico compuseram o "Feitiço da Vila".


No Programa CaséNoel Rosa improvisa (sem gravar) duas novas estrofes para o "Feitiço da Vila" e, em cima dos novos versos, Wilson Batista compôs "Conversa Fiada", ao qual Noel Rosa contrapôs, em 1935, o samba "Palpite Infeliz". O caso terminou com dois sambas seus, "Frankenstein da Vila" e "Terra de Cego""Terra de Cego", entretanto, deu origem a uma parceria entre Wilson Batista e Noel Rosa, intitulada, "Deixa de ser Convencida". Com letra de Noel Rosa escrita sobre a melodia composta por Wilson Batista, originalmente, para "Terra de Cego" e, assim, pôs fim a polêmica.

Os dois polemistas conheceram-se entre um e outro desafio e tornaram-se amigos. As músicas dessa polêmica foram reunidas, em 1956, num LP de dez polegadas da Odeon, cantadas por Roberto Paiva e Francisco Egydio, "Polêmica".

Continuando sua vida de boêmio-compositor, vendendo sambas e fazendo parcerias "comerciais", conheceu, no Café Nice, na Avenida Rio Branco, o cantor e compositor Erasmo Silva, com quem formou um conjunto, com Lauro Paiva ao piano e Roberto Moreno na percussão. Com o conjunto, realizou apresentações em Campos dos Goytacazes e, de volta ao Rio de Janeiro, formou, em 1936, uma dupla com Erasmo Silva, a Dupla Verde e Amarelo, que participou da vocalização da orquestra argentina Almirante Jonas, que estava de passagem no Rio de Janeiro, seguindo com ela para Buenos Aires, Argentina, onde ficaram por três meses, ainda em 1936.

De volta ao Brasil, trabalharam durante mais de um ano na Rádio Atlântica, de Santos, SP, e, depois, na Rádio Record, de São Paulo, onde também gravaram, com as Irmãs Vidal, pela Columbia, seu primeiro disco, com "Adeus, Adeus" (Francisco Malfitano e Frazão) e "Ela Não Voltou" (Francisco MalfitanoFrazão e Aluísio Silva Araújo). Obtendo certo sucesso, seguiram para uma temporada em Porto Alegre, RS, voltando a São Paulo para trabalhar na Rádio Tupi.

A fama viria em 1938, quando a dupla foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, mas já no ano seguinte, com a ida de Erasmo Silva para Buenos Aires, a dupla se desfez.

Em 1939 foi apresentado por Germano Augusto ao bicheiro e malandro conhecido por China, a quem venderia muitas músicas. Nessa época, sua temática sofreu modificações, ditadas não só pela associação a novos parceiros, mas principalmente pela influência direta de uma portaria governamental que proibia a exaltação da malandragem.


Ainda em 1939, fez com Ataulfo Alves "Mania da Falecida" e "Oh! Seu Oscar", samba que se destacou no carnaval de 1940, vencendo o concurso de músicas carnavalescas do Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Federal, tendo sido gravado por Cyro Monteiro, intérprete que lançou em disco, também no mesmo ano, os seus sambas "Tá Maluca" (Wilson Batista e Germano Augusto) e "O Bonde de São Januário" (Wilson BatistaAtaulfo Alves), este último grande sucesso no carnaval de 1941.

Consagrado desde então, iniciou, com diversos parceiros famosos, uma série de composições, retratando tipos cariocas, que conseguiram êxito na maioria dos carnavais dos vinte anos seguintes.

Ainda em 1940, Moreira da Silva gravou "Acertei no Milhar" (Wilson Batista e Geraldo Pereira), que se tornou um dos clássicos do samba de breque. Em 1941, Vassourinha lançou em disco outra música sua que se destacou no carnaval de 1942, "Emília", feita com Haroldo Lobo, seu parceiro ainda em "Rosalina", destaque carnavalesco de 1945.

Homenageando a torcida do Vasco da Gama, apesar de rubro-negro, compôs com Augusto Garcez "No boteco do José", que, na gravação de Linda Batista, fez sucesso no carnaval de 1946. Três anos depois se destacaria com "Pedreiro Valdemar", feito com Roberto Martins e gravado por Blecaute, e, em 1950, obteria enorme êxito com "Balzaquiana" (Wilson Batista e Nássara), lançado em disco por Jorge Goulart. Sua marcha "Sereia de Copacabana" e o seu samba "Mundo de Zinco", ambos com Nássara, este gravado por Jorge Goulart, foram muito cantados nos carnavais de 1951 e 1952, respectivamente.

Para o carnaval de 1956 compôs com Jorge de Castro a marcha "Todo Vedete", que teve problemas com a censura por suas referências ao baile dos travestis do Teatro João Caetano. Com o mesmo parceiro fez, para o carnaval dos dois anos seguintes, "Vagabundo" e "Marcha da Fofoca", sendo esta última gravada pelo radialista César de Alencar.

O carnaval de 1962 foi um dos últimos de que participou, lançando, em gravação de César de Alencar, "Cara Boa", marcha feita com Jorge de Castro e Alberto Jesus.

Morte

Boêmio até o fim da vida, nos seus últimos anos trabalhou como fiscal da União Brasileira de Compositores (UBC), entidade que ajudou a criar. Viveu em meio à boemia, até o coração adoecer. Apesar da fama e do sucesso alcançado ao longo de sua carreira, morreu pobre.

No fim da vida, quando encontrava um velho companheiro fazia o pedido de sempre: "Posso apanhar um dinheirinho com você, Major?".

Faleceu no Hospital Sousa Aguiar, no Centro do Rio de janeiro, no dia 07/07/1968, quatro dias depois de completar 55 anos. Os amigos liderados por Ricardo Cravo Albin se cotizaram para levar o corpo para a Capela Santa Terezinha, ao lado do Hospital e em frente à Praça da República. No dia seguinte levaram o corpo para o Cemitério do Catumbi e o sepultaram somente quando o sol se pôs.

Dias antes, o Museu da Imagem e do Som tentara gravar seu depoimento. Doente, ele resistia à ideia do depoimento, quase implorando a Ricardo Cravo Albin, então diretor do Museu da Imagem e do Som: "Ricardo, você não vê que não tenho voz para contar tudo o que eu quero...". Ainda assim, deixou gravado o último samba, sem nome, só assobiado e com o ritmo simples e sincopado de sua caixinha-de-fósforos, além de uma então música inédita homenageando Nelson Cavaquinho.