Manacéia

MANACÉIA JOSÉ DE ANDRADE
(74 anos)
Compositor e Instrumentista

* Rio de Janeiro, RJ (26/08/1921)
+ Rio de Janeiro, RJ (10/11/1995)

Manacéia nasceu em 26/08/1921 em Pedra de Guaratiba, bairro de classe média da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro e mudou-se para o bairro de Osvaldo Cruz aos 5 anos.

Irmão dos também compositores Mijinha (Bonifácio Andrade) e Aniceto da Portela (Aniceto José de Andrade), Manéceia frequentou desde criança os blocos carnavalescos "Quem Fala de Nós Come Mosca", "Quem Nos Faz é o Capricho" e "Vai Como Pode", que mais tarde originariam o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela, e aos oito já participava dos desfiles.

Na Portela, Manacéia começou a tocar tamborim e mais tarde, em 1939, aos 18 anos, começou a compor, graças à influência de Mijinha. Neste mesmo ano, a Portela desfilou, cantando um samba de sua autoria. Manacéia integrou, ainda, a famosa Velha Guarda da agremiação do bairro de Oswaldo Cruz, tendo composições que passaram à história com alguns dos maiores sambas.

Sua primeira música gravada foi "Minha Querida" (Manacéia e Francisco Santana), em 1957. No período entre 1942 e 1952, compôs alguns sambas-enredo para a Portela, entre os quais "Descoberta do Brasil" (Manacéia e Risadinha) em 1952.

Chegou às paradas de sucesso em 1974, com a regravação feita por Cristina Buarque de Hollanda de seu samba "Quantas Lágrimas", que havia passado despercebido quando gravado por Paulinho da Viola, em 1970, no LP da RGE, "Portela Passado de Glória", que reunia a Velha Guarda da escola.

Autor de "Desengano", música gravada por Beth Carvalho e quase sempre atribuída erradamente a Aniceto do Império.

Foi apresentado à Ala de Compositores da Portela por Alvaide, então presidente desta ala e responsável pelo lançamento de diversos outros compositores, como Francisco Santana e Candeia.

Noca, Casquinha, Monarco e Manacéia
Um Breve História

"Ah, quantas lágrimas eu tenho derramado, só em saber que não posso mais, reviver o meu passado..."

Quando esses versos estouraram em meados da década de 70, em todas as rádios, na voz da jovem cantora Cristina Buarque de Hollanda, o Brasil, enfim, pôde conhecer o grande compositor Manacéia, autor dos sambas-enredo "Princesa Isabel" (1948), "O Despertar De Um Gigante" (1949), "Riquezas Do Brasil" (1950) e "Brasil De Ontem" (1952).

Conta quem o conheceu que Manacéia era muito tímido, humilde, sensível, porém muito disciplinador. Foi para a Portela pelas mãos de Seu Nicanor, então tesoureiro da escola e marido de uma tia, sempre na companhia do primo Ernani.

Manacéia formava, juntamente com seus irmãos e também compositores Aniceto da Portela e Mijinha, um trio muito respeitado na escola. E esse trio acabou por dar origem a uma nobre linhagem de portelenses que dá frutos até hoje.

Casou-se com Dona Neném e teve três filhas, entre as quais a compositora e pastora Áurea Maria. Trabalhou em uma fábrica de gelo em Osvaldo Cruz, onde conheceu sua esposa, foi serralheiro em uma empresa de construção e líder do conjunto da Velha Guarda da Portela.

Com o objetivo de se dedicar à família e não querendo mais ter a obrigação de compor sambas-enredo, afastou-se das disputas em 1953, passando a responsabilidade para os jovens compositores Candeia e Altair Prego. Porém, continuou vivenciando o dia-a-dia da escola. Participou do primeiro disco da Velha Guarda, produzido por Paulinho da Viola, em 1970, tornando-se líder do grupo com a morte de Ventura.

Aconteceram em seu famoso quintal, na Rua Dutra e Melo, no bairro de Osvaldo Cruz, os primeiros ensaios da Velha Guarda da Portela, que transcorriam conforme o planejado, apenas com os membros do grupo e alguns mais íntimos e vizinhos, para somente depois - com o tempero de Dona Neném e de Aniceto, exímios mestres da cozinha - todos caírem nas animadas rodas de samba e de partido-alto. Era uma sucessão de pratos que ficaram famosos: galinha com quiabo, corvina de linha (frita ou cozida), churrasco e tripa lombeira.

Além do belo samba "Quantas Lágrimas" e dos sambas-enredo já citados, Manacéia compôs "Manhã Brasileira", gravado por Zezé Motta e Marquinhos de Osvaldo Cruz, e "Carro De Boi", gravado por Beth Carvalho, assim como "Nascer e Florescer", "Sempre Teu Amor" e "Volta, Meu Amor" (Manacéia e Áurea Maria), incluídos no CD "Tudo Azul".

Já naqueles longínquos anos 40, o talento de Manacéia começava a emocionar as favelas e morros cariocas - lembra Claudionor Santana, o Nonô do Jacarezinho, vencedor 21 vezes consecutivas na sua escola - quando Paulo da Portela, sozinho ou em comitiva, visitava as escolas menores, comandando os ensaios e entoando sambas da Portela:

"Paulo andava de escola em escola e eu também gostava de andar assim por elas. Então, eu via muito a atuação do Paulo da Portela. Nós tínhamos uma senhora que foi uma das fundadoras do Jacarezinho, grande batalhadora, dona Andreza Nogueira, que deixou muita saudade na escola. Então, por intermédio dela, o Paulo da Portela ia sempre lá no Jacarezinho e quando ele chegava comandava o ensaio. De lá íamos para o Recreio de Inhaúma, para o Cenáculo do Samba, que tinha no Cachambi, para os Acadêmicos do Engenho da Rainha, e ele chegava, sozinho ou com aquela comitiva e puxava o samba, entendeu? Quer dizer que ali, no meio da comitiva, os sambas eram deles e daqueles rapazes. Tinha o falecido Caquera, que sempre o acompanhava, Mijinha, então eu posso dizer que foi assim que eu conheci as músicas de Paulo da Portela e de outros compositores da Portela. Um samba que ele divulgava muito, que marcou muito o pessoal do Jacarezinho, era o 'Quando A Natureza Se Aborrece', de Manacéia."

Indicação: Miguel Sampaio