Edmo Zarife

EDMO ZARIFE
(59 anos)
Radialista e Locutor

* Nova Friburgo, RJ (15/12/1940)
+ Niterói, RJ (27/12/1999)

Nascido em Nova Friburgo, RJ, Edmo Zarife construiria uma sólida carreira e se tornaria uma das maiores referências da locução brasileira. Ao sair de sua cidade natal, foi para a Rádio Globo, onde foi comunicador, apresentando alguns programas, além de "voz-padrão" de chamadas e vinhetas.

A última atração comandada por Edmo Zarife foi o "Super Paradão", de segunda a sexta-feira, de 00:00 hs às 03:00 hs da manhã, sempre gravado. A última edição deste programa foi na véspera do Natal de 1999. Dois dias antes, Edmo Zarife havia sido internado num hospital em Niterói em virtude de problemas cardíacos, e morreu cinco dias depois.

André, Paizinho, Brinquinho e Edmo Zarife
O Surgimento da Vinheta "Brasil-Sil-Sil!"

A famosa vinheta "Brasil-Sil-Sil!", interpretada por Edmo Zarife, e que marca as transmissões esportivas do Sistema Globo de Rádio e da Rede Globo de Televisão começou a nascer em 1968.

O diretor geral da rádio na época Mário Luiz e o narrador esportivo Waldir Amaral, procuravam dar uma dinâmica maior às transmissões de futebol da Rádio Globo, para dar uma estética mais alegre e um "toque de show" nas mesmas. E nessa época, o cantor paraguaio Fábio Rolon gravou a lendária vinheta "Rádio Globooooooooooo!", que ficou no ar por 4 décadas, saindo do ar apenas em meados de 2009.

Chegada a época das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, Waldir Amaral e Mário Luiz pediram à Edmo Zarife e ao técnico de som José Cláudio Barbedo, o Formiga, que fizessem um grito de guerra para levar a Seleção Brasileira à frente.

Assim, Edmo Zarife e Formiga ficaram duas horas dentro do estúdio, gravando em uma fita várias frases e bordões. E ouvindo a fita, depois de toda gravada, Formiga, com seu conhecimento no assunto e sua técnica apurada, após ouvir o "Brasil-Sil-Sil!", apontou e disse: "Zarife, é essa!". Em seguida, os dois resolveram ouvir aquela parte por umas 30 vezes. E assim, nasceu a vinheta "Brasil-Sil-Sil!".

Depoimento

A correria do fim de ano não me permitiu uma palavra sobre Edmo Zarife, da Rádio Globo, que partiu para o Reino dos Esplendores ao ver raiar o milênio.
Aquele "Brasil-Sil-Sil!", arte sonora viva na memória emotiva do País, expressão sintética da emoção do gol, é um grito de felicidade nacional. É a melhor forma até hoje encontrada de dizer muito numa só palavra. Ela só foi possível pela existência de uma categoria profissional importantíssima – o locutor – que, há muito tempo, é esquecida pela imprensa e desprestigiada pelo próprio meio que dela se utiliza: o rádio.
O locutor é profissional de especializadíssima função a quem se paga baixos salários e hoje está ameaçado de desaparecer do rádio e da TV, substituído muitas vezes por pessoas de pobre expressão oral, dicção péssima sem qualquer noção de califasia, que é arte do falar eufônico agradável e belo. Trata-se de matéria tão importante que deveria ser ensinada na aula de comunicação e expressão, mas nunca foi. A meu tempo estudávamos caligrafia. Hoje nem isso. O resultado é a fala torpe, grosseira e mal conduzida, com voz fora do lugar, deglutição de letras e sílabas e som horroroso.
O locutor é profissional que repõe a qualidade e a elegância do falar como forma de expressar alguma estesia de alma. O mais importante é que assim se preserva um idioma. Falo portanto de matéria seriíssima. Felizmente ainda há por aí magníficos locutores e locutoras no rádio e na televisão. Mas escasseiam. Na TV, desde que substituíram locutores por jornalistas, a função indispensável de ler com segurança (e sem caras e bocas opinativas...) está desaparecendo. Reparem que o apresentador, a meu ver padrão, o William Bonner, não é bom só por ser jornalista. É bom por ser um ótimo locutor também, observem-lhe a voz, a tranqüilidade na emissão, a dicção perfeita.
Mas estou a falar do Zarife, do bom e generoso Zarife, apaixonado como eu por gatos (quantas vezes conversamos sobre isso no boteco ao lado da Rádio Globo). Acima de tudo, ele mostrou a importância do bom locutor para qualquer rádio. Como voz padrão da Globo, marcou-lhe as chamadas, os prefixos dos programas, os eventos. O metal magnífico de sua voz (eu lhe dizia que ele e o Haroldo de Andrade nasceram com um som estereofônico nas cordas vocais) ajustou-se maravilhosamente à trepidação das rádios AM, rádios de mobilização do ouvinte.
Grande Zarife! Com ele, morre um pouco mais a profissão já agonizante do locutor, o herói quase anônimo das emissoras de rádio, das propagandas, das leituras e narrações dos documentários. Profissão que lhe honrou e dignificou.

(Senador Artur da Távola 12/01/2000)

Fonte: Wikipédia