Jorge Wilheim

JORGE WILHEIM
(85 anos)
Urbanista, Arquiteto, Administrador Público, Político e Ensaísta

* Trieste, Itália (23/04/1928)
+ São Paulo, SP (14/02/2014)

Jorge Wilheim foi um dos principais urbanistas brasileiros. Com atuação política, que atravessou diversas siglas partidárias, foi um expressivo defensor, no Brasil, do chamado "planejamento estratégico", criado pelos teóricos catalães Manuel Castells e Jordi Borja. A propósito, foi o próprio Manuel Castells quem o definiu, à sua imagem e semelhança, como um "visionário pragmático, sempre interessado nos grandes debates intelectuais, mas também desconfiado da aristocrática alienação de certos teóricos de esquerda".

Tal vocação urbanística começou a se definir precocemente a partir do projeto para Angélica, em 1954, no Mato Grosso: uma cidade nova no meio de uma floresta, entre Campo Grande e Dourados, hoje no atual estado do Mato Grosso do Sul.

Com apenas 26 anos de idade, recém-formado arquiteto, aplicou a doutrina funcionalista de Le Corbusier (1887-1965) e criou uma separação funcional, com zonas comerciais e residenciais que se assemelham às superquadras propostas três anos depois por Lúcio Costa para o Plano Piloto de Brasília.

Jorge Wilheim é responsável por um legado inestimável de emblemáticos projetos, obras e conceitos, entre os quais vários cartões postais paulistanos, como o Vale do Anhangabaú (Primeiro entre 94 em concurso público para a reurbanização, 1981-91), o Parque Anhembi (1967-1973), em São Paulo, cujas instalações incluíram o Pavilhão de Exposições, o Palácio das Convenções e um hotel, e o Pateo do Collegio (Projeto de reurbanização, 1975).

Vale do Anhangabaú
Formou-se em 1952 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Venceu, nesse ano, concurso fechado para a elaboração do projeto hospitalar da Santa Casa de Jaú, então abriu escritório próprio para desenvolvê-lo. Depois foi convidado a projetar em Mato Grosso duas clínicas em Campo Grande e, em 1954, a conceber o projeto urbanístico da cidade de Angélica, para 15 mil habitantes, atualmente as duas cidades localizadas no estado do Mato Grosso do Sul.

Em 1957, participou do concurso para a realização do ante-projeto de plano diretor de Brasília, com Maurício Segall, Pedro Paulo Poppovic, Péricles do Amaral Botelho, Riolando Silveira, José Meiches, Rosa Kliass, Arnaldo Tonissi, Odiléia Helena Setti e Alfredo Gomes Carneiro. Cinco anos mais tarde, associado a Carlos Millan e Maurício Tuck Schneider, venceu o concurso para a construção do Edifício Jockey Club de São Paulo, no Largo do Ouvidor.

A partir de meados da década de 60, realizou inúmeros planos diretores para cidades em desenvolvimento, como Curitiba, PR e Joinville, SC, em 1965. Osasco, SP, em 1966. Natal, RN, em 1967. Goiânia, GO, 1968, e lançou também seu primeiro livro: "São Paulo Metrópole 65".

Em 1970 ingressou na vida pública como secretário estadual de Economia e Planejamento, na gestão Paulo Egydio Martins, entre 1975 e 1979.

Pateo do Collegio
Em 1981, associado a Rosa Kliass e Jamil Kfouri, venceu o concurso para a reurbanização do vale do Anhangabaú, construído e inaugurado dez anos mais tarde. O partido do projeto era a construção de um túnel para o tráfego motorizado, criando na cota do vale uma grande laje para a circulação de pedestres, que ganhou o caráter de uma extensa "praça pública". Contudo, dada a magnitude e relevância da obra para a cidade, o chamado Parque Anhangabaú revelou aspectos particulares da reflexão urbanística de Jorge Wilheim, tal como certa valorização da vida a pé, e uma associação esquemática, já um tanto anacrônica, entre identidade cívica e espaço aberto.

No governo Mário Covas, de 1983 a 1986, foi o titular da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA), e coordenou a elaboração do plano diretor de São Paulo de 1984 (não efetivado).

Em 1985, auxiliado por Jonas Birger, projetou o Centro de Diagnósticos do Hospital Albert Einstein, e tornou-se, no mesmo ano, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

No governo Orestes Quércia, de 1987 a 1991, foi nomeado secretário estadual do Meio Ambiente e, na administração seguinte, de Luiz Antônio Fleury Filho, entre 1991 e 1994, ocupou a presidência da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (EMPLASA).

Duas das suas principais marcas no Governo do Estado de São Paulo foram a criação do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON)  e do "Passe do Trabalhador", hoje conhecido como Vale Transporte.


Em 1994, a convite da Organização das Nações Unidas (ONU), mudou-se para Nairóbi, no Quênia, e assumiu o cargo de secretário-geral adjunto da Conferência Mundial Habitat 2, realizada em 1996, em Istambul, Turquia. De volta ao Brasil, retomou projetos de planos diretores para cidades como Campos do Jordão, SP, em 2000, e Araxá, MG, em 2002, além de realizar o projeto da cidade industrial de Londrina, PR, em 1997.

Retornou à vida pública na administração da prefeita Marta Suplicy, entre 2001 a 2004, novamente como presidente da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA), e coordenou a elaboração do plano diretor estratégico de 2002. Nesse período, publicou o livro "Tênue Esperança no Vasto Caos: Questões do Proto-Renascimento do Século XXI", em que procurou sistematizar sua experiência no campo do urbanismo, lançando perspectivas para o futuro das cidades.

No decorrer de sua carreira, Jorge Wilheim foi paulatinamente substituindo a cartilha funcionalista dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMS), por um contextualismo mais voltado para a dimensão humana e para a unidade tipológica, próprias à uniformidade humanista das cidades europeias do século XV ao XIX. Vem daí a sua defesa teórica de um "Renascimento do século 21", bem como sua metáfora da essência do espaço público como um simples "banco de praça".

No campo da arquitetura, Jorge Wilheim projetou e construiu obras importantes, como a sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Serviço Social das Indústrias (SESI) da Vila Leopoldina, em 1974, a fábrica da Novelprint, 1975, o Centro de Diagnósticos do Hospital Albert Einstein, 1978-1985, e, sobretudo, o conjunto do Parque Anhembi, em 1969, em colaboração com Miguel Juliano, no qual se destacam o Palácio das Convenções, abrigando 3,5 mil lugares, e o Pavilhão de Exposições, com uma área de 67 mil metros quadrados. Com a estrutura metálica tubular em treliça espacial, a imensa cobertura é inteiramente montada no chão e erguida por 25 guindastes durante apenas oito horas. Com cálculo do engenheiro anglo-canadense Cedric Marsh, fornecida e montada pela empresa francesa Fichet Schwartz-Hautmont, representa até hoje "a maior estrutura metálica construída no solo e levantada numa só peça em poucas horas."


Morte

Jorge Wilheim faleceu na sexta-feira, 14/02/2014. Ele estava internado desde dezembro de 2013, no Hospital Albert Einstein, no Morumbi, zona sul de São Paulo, em decorrência de um acidente de carro. O corpo foi velado no próprio hospital e o enterro ocorreu no mesmo dia, às 14:30 hs, no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.