Mário Vianna

MÁRIO GONÇALVES VIANNA
(87 anos)
Árbitro e Técnico de Futebol, Comentarista Esportivo e Radialista

* Rio de Janeiro, RJ (06/09/1902)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/10/1989)

Mário Gonçalves Vianna, conhecido como Mário Vianna, foi um árbitro e técnico de futebol, comentarista esportivo e radialista brasileiro.

Mário Vianna trabalhou como engraxate na infância e como operário em uma fábrica de velas. Mais tarde, se juntou à Polícia Especial do Estado Novo, formada por Getúlio Vargas, onde chegou a ser oficial. Foi lá que começou a apitar partidas de futebol entre os policiais e foi então convidado a se juntar ao quadro de árbitros da Federação Carioca.

Em campo ele fazia de tudo: peitava, gritava e até agredia. Era seu jeito de se fazer respeitado por todos. Mário Vianna tinha 1.74 de altura e pesava 90 quilos de uma vitalidade que impressionava a todos que o conheceram. Ele foi de tudo um pouco: baleiro, engraxate, jornaleiro, empacotador de velas, fiscal da guarda civil, policia especial, juiz de futebol, técnico do Palmeiras, Portuguesa e São Cristovão, e finalmente, comentarista de arbitragem na Rádio Globo.

Sua excelente condição física foi adquirida na Policia Especial. E foi apitando peladas, que José Pereira Peixoto, um policial amigo, o convenceu a fazer um curso de árbitro para Liga Metropolitana onde ingressou como primeiro colocado de sua turma.

Sua estréia oficial foi na partida de juvenis entre Girão de Niterói e São Cristovão. Neste jogo ele definiu o estilo que trataria de aperfeiçoar ao longo de sua carreira até torná-la uma espécie de marca pessoal: Expulsou Mato Grosso, zagueiro do seu querido São Cristovão.

Mário Vianna foi uma das grandes figuras da arbitragem do futebol brasileiro. Na sua época era o melhor e participou dos muitos campeonatos internacionais. Depois da Copa do Mundo de 1954, quando Mário Vianna acusou a FIFA de corrupta, foi expulso da arbitragem internacional. Passou a ser comentarista de arbitragem na Rádio Globo ao lado de Waldir AmaralJorge Cury e João Saldanha. Apesar de polêmico era uma figura que tinha um bom coração.


Desde então, começou a construir sua fama de juiz rigorosíssimo, destes que não perdem as rédeas da partida, mesmo nas situações mais adversas. Como no jogo entre Botafogo x Flamengo em General Severiano. Mário Vianna expulsou jogadores do Flamengo, os torcedores não gostaram e começaram a atirar garrafas e pedras contra ele. E ele não teve dúvidas: devolveu tudo para as arquibancadas.

Mário Vianna nunca foi homem de meias medidas. Foi responsável pela única expulsão de Domingos da Guia em onze anos de carreira. Também teve uma passagem com Nilton Santos no clássico Botafogo x Vasco. Atendendo a uma denuncia do bandeirinha, expulsou Nilton Santos que era um gentleman, por ofender o auxiliar. Mário Vianna  achou estranho o caso e, nos vestiários pressionou o bandeirinha que terminou confessando que tinha mentido. Ele ficou sem graça, foi ao vestiário do Botafogo e pediu desculpas a Nilton Santos.

Segundo Mário Vianna, dois jogadores lhe deram muito trabalho: Heleno de Freitas e ZizinhoHeleno de Freitas era irreverente e malicioso. Um dia, no campo do Vasco, tentou comprometer a arbitragem perante o publico, entregando um disco de bolero que o próprio Mário Vianna tinha pedido para o atacante do Botafogo trazer do Chile. O disco foi entregue na pista do estádio e diante do publico. No jogo, Heleno de Freitas quis comandar a arbitragem e terminou expulso de campo.

Houve um jogador que, talvez, por ser estrangeiro e desconhecer a fama de valentão de Mário Vianna, teve a infeliz idéia de desafiá-lo. Foi durante o jogo Itália x Suíça na Copa do Mundo de 1954. Inconformado com uma marcação do brasileiro, Boniperti partiu para cima do juiz aos empurrões. Mário Vianna aplicou-lhe um direto no queixo. Mandou que o carregassem para os vestiários e, ironicamente, disse para o massagista - Se ele tiver condições, pode voltar para o segundo tempo. Boniperti voltou bem mansinho.

Durante a Copa do Mundo de 1954, no jogo Brasil x Hungria, chamou o juiz Mr. Ellis e os dirigentes da FIFA, de "Camarilha de Ladrões" e foi expulso do quadro de árbitros da entidade. Quando já era comentarista de arbitragem na Rádio Globo, quase perdeu o emprego por duas vezes. Na primeira, disse que o juiz Abraham Klein, além de judeu era ladrão. Os patrocinadores do programa eram, como Abraham Klein, judeus. Outra vez, numa mesa redonda na TV, sentiu-se asfixiado pela fumaça dos cigarros que os companheiros fumavam. E Mário Vianna desabafou: "Parem de fumar, isso é um veneno, polui os pulmões!". O patrocinador do programa era a Souza Cruz, fabricante de cigarros.


Como todo personagem folclórico, Mário Vianna também tinha o seu lado místico. Era espírita da linha Alan Kardec, rezava ao se deitar e se levantar. Alguns casos são conhecidos:

Na Copa de 1970, era companheiro de quarto de Luis Mendes. Certa manhã ao se levantar, virou-se para o companheiro e disse: "Mendes, liga para tua casa porque seu irmão desencarnou". Apavorado, Luis Mendes pegou o telefone, ligou para casa e ficou sabendo que seu irmão havia falecido naquela madrugada.

Waldir Amaral contou que certa vez estava embarcando com Mário Vianna para São Paulo. E ele advertiu: "Waldir esse avião vai pifar. Vamos esperar outro vôo!". - "Que nada, Mário, deixe de besteiras!" - retrucou Waldir Amaral. Os dois embarcaram e quando o avião ia decolar, o motor enguiçou e o piloto foi obrigado a dar um cavalo de pau para não cair na Baía da Guanabara.

Mário Vianna foi um homem de muitas histórias. Histórias colhidas ao longo de 38 anos de Policia Especial, 25 de árbitro e 22 de comentarista. 

Fez famosas máximas como "Mário Vianna com dois enes" e "Gol Le...gal", que bradava após a maioria dos gols narrados.

Mário Vianna faleceu aos 87 anos vítima de uma pneumonia no Rio de Janeiro no dia 16/10/1989.

Indicação: Miguel Sampaio