Haroldo Lobo

HAROLDO LOBO
(54 anos)
Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (22/07/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (20/07/1965)

Haroldo Lobo foi um compositor brasileiro nascido em uma família de músicos. O pai Quirino Lobo, tocava flauta e violão, e seu irmão Osvaldo Lobo (Badu) era compositor e baterista.

O primeiro trabalho como empregado aconteceu na Guarda da Polícia de Vigilância, depois na tecelagem da América Fabril, onde terminou seus estudos.

Seus estudos musicais (teoria e solfejo) foram iniciados na escola da América Fabril. Desde os 13 anos de idade, compunha sambas para o Bloco do Urso. Frequentador de cafés, era conhecido no meio pelo apelido de "Clarineta" por cantar em uma tessitura semelhante à do instrumento. Considerado, ao lado de Braguinha e Lamartine Babo, um dos três mais expressivos autores do repertório carnavalesco no Brasil.

Em 1934, teve sua primeira música gravada, "Metralhadora", cujo texto fazia alusão à Revolução Constitucionalista,  feita em parceria com Donga e Luís Meneses, lançada por Aurora Miranda. Lançou o samba "De Madrugada" (Haroldo Lobo e Vicente Paiva), também gravado por Aurora Miranda. Compôs vários sambas em parceria com Milton de Oliveira, um dos quais "Juro" obteve prêmio da prefeitura do antigo Distrito Federal no carnaval de 1938, tendo sido lançado com sucesso por J. B. de Carvalho.

Para os carnavais de 1940-1941, lançou "O passarinho do Relógio" e "O Passo do Canguru", as duas em parceria com Milton de Oliveira,  trazendo em ambas uma temática que se tornou característica de sua produção, letras envolvendo animais. As duas músicas foram gravadas por Aracy de Almeida, sendo que a segunda chegou a ser gravada nos Estados Unidos com o título de "Brazilian Willy", lançada também por Carmen Miranda em 1942.

Em 1941, destacou-se com  o lançamento de "Alá-lá-ô", uma parceria com Nássara, gravada por Carlos Galhardo. A história da música começou de fato em 1940, quando um bloco do bairro da Gávea cantou nas ruas a marcha "Caravana", de autoria  de seu patrono Haroldo Lobo. Meses depois, preparando o repertório para o carnaval de 1941, Haroldo Lobo pediu a Nássara para completar a composição, que  fez então a segunda parte da música.  Destaca-se ainda nesta gravação a atuação de Pixinguinha, que fez às pressas  um arranjo primoroso para o qual criou  a introdução e partes instrumentais executadas ao longo da música. Ainda em 1941, lançou "O Bonde do Horário Já Passou" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e, "Essa Vida Não é Sopa" (Haroldo Lobo e Wilson Batista), ambas gravadas por Patrício Teixeira.

Em 1942, lançou "Emília" (Haroldo Lobo e Wilson Batista), gravada por Vassourinha e, "A Mulher do Leiteiro" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), gravada por Aracy de Almeida.  Utilizava em muitas de suas composições temas do cotidiano da  cidade e mesmo do país, como, por exemplo, a marcha "Oito em Pé", que comentava a autorização pública para que oito passageiros viajassem em pé nos coletivos por racionamento de gasolina. Um outro exemplo, também, a marcha "Tem Galinha No Bonde",  cuja letra mencionava a regulamentação do transporte de galinhas no bonde. Ambas foram gravadas por Aracy de Almeida.

Nos anos de 1943, também na linha  de comentário social,  lançou "Que Passo é Esse, Adolfo?" (Haroldo Lobo e Roberto Roberti) e, "As Ruas do Japão" (Haroldo Lobo e Cristóvão de Alencar), em cujas letras satirizava práticas peculiares ao eixo beligerante, Alemanha e Japão respectivamente.

Em 1945, obteve o  primeiro lugar no concurso de músicas para o carnaval, promovido pela prefeitura do Distrito Federal, com a marcha "Verão do Havaí" (Haroldo Lobo e Benedito Lacerda), gravada por Francisco Alves e Dalva de Oliveira. Ainda neste ano, fez sucesso com o samba "Rosalina" (Haroldo Lobo e Wilson Batista), gravado por Jorge Veiga.

Em 1946, venceu mais uma vez o concurso de músicas carnavalescas com a marcha "Espanhola"(Haroldo Lobo e Benedito Lacerda), lançada por Nelson Gonçalves.

Haroldo Lobo era folião dos mais animados e preparava suas músicas de carnaval com muito cuidado e grande antecedência. Sua dedicação resultava sempre em um grande sucesso popular para cada ano de folia. Dentre estes, destacam-se "O Passo da Girafa" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), lançado em 1949 por Aracy de Almeida.

Em 1951, o êxito veio com "O Retrato do Velho", cuja letra comentava  a prática instituída pelo Estado Novo, e sustentada pelos governos posteriores, que recomendava a colocação de retratos do presidente nas paredes das repartições públicas. Feita em  parceria com Marino Pinto,  compositor que  sempre teve admiração pelo presidente Getúlio Vargas, esta marcha, na qual a volta do líder ao poder foi simbolizada no retorno do retrato à parede, foi gravada com enorme sucesso por Francisco Alves.  A marcha só não foi apreciada pelo próprio Getúlio Vargas, que detestava ser  considerado velho.

Em 1955, obteve sucesso no carnaval com a marcha "Tira Essa Mulher da Minha Frente" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira),  gravada na Copacabana por Jorge Veiga, e que foi escolhida por um júri reunido no Teatro João Caetano como um das dez mais populares marchas do carnaval daquele ano.

Em 1961, mais um grande sucesso com "Índio Quer Apito" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), uma das composições que mais renderam direitos autorais.

Seu último grande sucesso foi "Tristeza" (Haroldo Lobo e Niltinho), lançado em 1965 por Jair Rodrigues e que acabou sendo executada, a partir de 1967 em todo o mundo, transformando-se em sua única música internacionalmente reconhecida.

Um dos mais talentosos autores de marchas carnavalescas, foi o compositor de músicas de carnaval que mais teve obras no repertório do espetáculo musical "Sassaricando" que por quatro temporadas mostrou o universo das marchas carnavalescas.

Em 2010, em comemoração aos centenário de seu nascimento foi homenageado com a série de espetáculos "Eu Quero é Rosetar - Cem Anos de Haroldo Lobo" idealizado pelo pesquisador Carlos Monte. Os shows foram apresentados pelo grupo Sururu Na Roda no Centro Cultural Carioca, e contou com arranjos e direção musical do acordeonista e pianista Marcelo Caldi. Nesses espetáculos foram interpretadas 35 obras de sua autoria como as clássicas marchas carnavalescas "Alalaô", "Eu Quero é Rosetar", "Coitado do Edgar", "Índio Quer Apito", "O Passarinho do Relógio""Retrato do Velho", entre outras, além de sambas como "Tristeza" e "Emília".

Em 2013, seu samba "Tristeza", lançado em 1965, por Jair Rodrigues, voltou a ser cantado nas ruas do Rio de Janeiro em manifestações dos professores em greve.