Lygia Clark

LYGIA PIMENTEL LINS
(67 anos)
Pintora e Escultora

☼ Belo Horizonte, MG (23/10/1920)
┼ Rio de Janeiro, RJ (25/04/1988)

Lygia Clark, pseudônimo de Lygia Pimentel Lins, foi uma pintora e escultora brasileira contemporânea que se autointitulava "não artista", nascida em Belo Horizonte, MG, no dia 23/10/1920.

Lygia Clark iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado.

Em 1950, Lygia Clark viajou a Paris, onde estudou com Arpad Szènes, Dobrinsky e Fernand Léger. Nesse período, a artista dedicou-se à realização de estudos e óleos tendo escadas e desenhos de seus filhos como temas. Após sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique, em Paris, no ano de 1952, a artista retornou ao Rio de Janeiro e expôs no Ministério da Educação e Cultura.

Lygia Clark é uma das fundadoras do Grupo Frente, em 1954: Dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo, ela se uniu a Décio Vieira, Rubem Ludolf, Abraham Palatnik, João José da Costa, entre outros, e apresentou as suas "Superfícies Moduladas" (1955-57) e "Planos em Superfície Modulada" (1957-58). Estas séries deslocavam a pintura para longe do espaço claustrofóbico da moldura. É o que Lygia Clark queria como linha-luz, como módulo construtor do plano. Cada figura geométrica projeta-se para além dos limites do suporte, ampliando a extensão de suas áreas. Lygia Clark ainda participou, em 1954, com a série "Composições", da Bienal de Veneza, fato que se repetiu em 1968, quando foi convidada a expor, em sala especial, toda a sua trajetória artística até aquele momento.


Em 1959, integrou a I Exposição de Arte Neoconcreta, assinando o Manifesto Neoconcreto, ao lado de Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon SpanudisLygia Clark propôs com a sua obra, que a pintura não se sustenta mais em seu suporte tradicional. Procurou novos vôos.

Nas "Unidades" (1959), moldura e espaço pictórico se confundiram, um invadindo o outro, quando Lygia Clark pintou a moldura da cor da tela. É o que a artista chama de "Linha Orgânica", em 1954: A superfície se expande igualmente sobre a tela, separando um espaço, se reunindo nele e se sustentando como um todo.

As obras querem ganhar o espaço. O trabalho com a pintura resulta na construção do novo suporte para o objeto. Destas novas proposições nascem os "Casulos" (1959). Feitos em metal, o material permite que o plano seja dobrado, assumindo uma busca da tridimensionalidade pelo plano, deixando-o mais próximo do próprio espaço do mundo.

Em 1960, Lygia Clark criou a série "Bichos": Esculturas, feitas em alumínio, possuidoras de dobradiças, que promovem a articulação das diferentes partes que compõem o seu corpo. O espectador, agora transformado em participador, é convidado a descobrir as inúmeras formas que esta estrutura aberta oferece, manipulando as suas peças de metal. Com esta série, Lygia Clark torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial.
Da Série "Bichos"
Em 1961, ganhou o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo, com os "Bichos".

Lygia Clark deixou de lado a matéria dura (a madeira), passou pelo metal flexível dos "Bichos" e chegou à borracha na "Obra Mole" (1964). A transferência de poder, do artista para o propositor, tem um novo estágio em "Caminhando" (1964). Cortar a fita significava, além da questão da poética da transferência, desligar-se da tradição da arte concreta, já que a "Unidade Tripartida" (1948-49), de Max Bill, ícone da herança construtivista no Brasil, era constituída simbolicamente por uma fita de Moebius. Esta fita distorcida na "Obra Mole" agora é recortada no "Caminhando". Era uma situação limite e o início claro de num novo paradigma nas Artes Visuais brasileiras. O objeto não estava mais fora do corpo, mas era o próprio corpo que interessava a Lygia Clark.

A trajetória de Lygia Clark fez dela uma artista atemporal e sem um lugar muito bem definido dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou situações em que podemos facilmente embalar. Lygia Clark estabeleceu um vínculo com a vida, e podemos observar este novo estado nos seus "Objetos Sensoriais" (1966-1968": A proposta de utilizar objetos do nosso cotidiano (água, conchas, borracha, sementes), já aponta no trabalho de Lygia Clark, por exemplo, para uma intenção de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de Arte, e aproximá-lo de um estado, onde o mundo se molda, passa a ser constante transformação.

"Contra Relevo" foi arrematada em 2013, em New York, por US$ 2,2 milhões (R$ 4,5 milhões)
Em 1968 apresentou, pela primeira vez, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), "A Casa é o Corpo", uma instalação de oito metros, que permite a passagem das pessoas por seu interior, para que elas tenham a sensação de penetração, ovulação, germinação e expulsão do ser vivo. Nesse mesmo ano, Lygia Clark mudou-se para Paris. O corpo dessexualizado é apresentado na série "Roupa-Corpo-Roupa: O Eu e o Tu" (1967). Um homem e uma mulher vestem pesados uniformes de tecido plastificado e capacetes que encobrem os seus olhos: O homem, veste o macacão da mulher e ela, o do homem. Tateando um ao outro, são encontradas cavidades. Aberturas, na forma de fecho ecler, que possibilitam a exploração tátil, o reconhecimento do corpo: "Os fechos são para mim como cicatrizes do próprio corpo", disse a artista, no seu diário.

Em 1972, foi convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Sorbonne. Suas aulas eram verdadeiras experiências coletivas apoiadas na manipulação dos sentidos, transformando estes jovens em objetos de suas próprias sensações. São dessa época as proposições "Arquiteturas Biológicas" (1969), "Rede de Elástico" (1974), "Baba Antropofágica" (1973) e "Relaxação" (1974). Tratam de integrar arte e vida, incorporando a criatividade do outro e dando ao propositor o suporte para que se exprima.


Em 1976, Lygia Clark voltou definitivamente ao Rio de Janeiro. Abandonou, então, as experiências com grupos e iniciou uma nova fase com fins terapêuticos, com uma abordagem individual para cada pessoa, usando os "Objetos Relacionais": Na dualidade destes objetos (leves/pesados, moles/duros, cheios/vazios), Lygia Clark trabalhou o arquivo de memórias dos seus pacientes, os seus medos e fragilidades, através do sensorial. Ela não se limitou apenas ao campo estético, mas sobretudo ao atravessamento de territórios da arte. Lygia Clark deslocou-se para fora do sistema do qual a arte é parte integrante, porque sua atitude incorpora, acima de tudo, um exercício para a vida. Como afirma:

"Se a pessoa, depois de fizer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês."
(O Mundo de Lygia Clark, 1973, filme dirigido por Eduardo Clark, PLUG Produções)

Em 1981, Lygia Clark diminui paulatinamente o ritmo de suas atividades.

Em 1983 foi publicado, numa edição limitada de 24 exemplares, o "Livro Obra", uma verdadeira obra aberta que acompanha, por meio de textos escritos pela própria artista e de estruturas manipuláveis, a trajetória da obra de Lygia Clark desde as suas primeiras criações até o final de sua fase neoconcreta.

Em 1986, realizou-se, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, o IX Salão de Artes Plásticas, com uma sala especial dedicada a Hélio Oiticica e Lygia Clark. A exposição constituiu a única grande retrospectiva dedicada a Lygia Clark ainda em atividade artística.

Lygia Clark faleceu aos 67 anos, vítima de um ataque cardíaco, no Rio de Janeiro, RJ, no dia 25/04/1988.

Homenagens

Em 23/10/2015, em seu 95º aniversário de nascimento, Lygia Clark foi homenageada pelo Google através de um Doodle.

Superfície Modulada nº 4
Recorde de Valores

Em maio de 2013, a obra "Contra Relevo" foi arrematada, em New York, por US$ 2,2 milhões (R$ 4,5 milhões), tornando-se até aquele momento, a obra mas valiosa de um brasileiro vendida num leilão.

Em agosto de 2013, novamente uma obra sua, a "Superfície Modulada nº 4", foi arrematada num leilão na Bolsa de Arte de São Paulo por R$ 5,3 milhões, batendo o recorde e tornando-se ate aquele momento, a obra mas valiosa de um brasileiro vendida num leilão.