JUVENAL DE HOLANDA VASCONCELOS
(71 anos)
Compositor, Instrumentista e Percussionista
☼ Recife, PE (02/08/1944)
┼ Recife, PE (09/03/2016)
Juvenal de Holanda Vasconcelos, mais conhecido como Naná Vasconcelos, foi um compositor, instrumentista e percussionista brasileiro. Eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat.
Naná Vasconcelos nasceu no dia 02/08/1944, em Recife, PE. Especialista em ritmos e diferentes estilos da World Music, MPB e do Jazz, Naná Vasconcelos era um músico com oito prêmios Grammy, considerado autoridade mundial quando no assunto.
Filho de violonista, começou na Banda Marcial de seu pai, aos 12 anos, tocando bongos e maracas em Recife. Desde jovem envolvido nos movimentos de Maracatu, era virtuoso no berimbau e adepto de métricas pouco usuais no jazz - com levadas em 5/4 ou 7/4, mas que são muito tocados no nordeste brasileiro.
Iniciou sua carreira profissional em Recife, tocando bateria em cabarés. Mais tarde, foi percussionista da Banda Municipal local. Acompanhou Gilberto Gil em shows pelo Nordeste.
Em 1967 viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu Maurício Mendonça, Nelson Angelo, Joyce e Milton Nascimento, com quem atuou na gravação de dois LPs.
Em 1968 seguiu para São Paulo. Ao lado de Nelson Angelo, Franklin e Geraldo Azevedo, fez parte do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré em "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" na fase paulista do III Festival Internacional da Canção.
Em 1969, apresentou-se com Gal Costa no Curtisom e no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP).
De volta ao Rio de Janeiro, formou o Trio do Bagaço, com Nelson Angelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luis Eça.
Atuou na trilha sonora de "Pindorama" (1970), filme de Arnaldo Jabor. Nessa época, conheceu Gato Barbieri, com quem viajou para New York, Estados Unidos, para a gravação de um disco. Nesta cidade, participou de festivais de jazz, como o de Chateau Vallon, e gravou com Jean-Luc Ponty, Don Cherry, Roff Kün, Oliver Nelson e Léon Thomas.
Mais tarde, viajou para a Europa. Fez contato com gravadoras parisienses através de Pierre Barrouh. Apresentou-se no Teatro Ranelagh e foi convidado a gravar com Joachin Kunhu, na Alemanha, seguindo, depois para Montreux, Suíça, onde realizou mais um show. Atuou durante dois anos com o Quarteto Iansã, na Europa.
Seguiu, depois, para a África, onde permaneceu durante seis meses fazendo pesquisas. Seu primeiro LP, "Africadeus", foi gravado no exterior. Ainda na Europa, compôs a trilha sonora de uma novela para a televisão francesa com temas brasileiros. Em Portugal gravou um disco no dialeto angolano quimbundo.
Em 1972 retornou ao Brasil e apresentou, no Teatro Fonte da Saudade, o material com que participou de festivais e gravações com Don Cherry, Tony Williams, Art Blakey, Miles Davis e Oliver Nelson, entre outros, utilizando instrumentos de percussão como o berimbau e a queixada de burro. Nessa apresentação, interpretou o repertório de seu disco "Africadeus" e uma bachiana de Villa-Lobos, regendo um coral e atuando como único músico do show.
No ano seguinte, em 1973, gravou seu segundo LP, "Amazonas", lançado pela Philips, mesclando o ritmo brasileiro ao folclore africano. Ainda na década de 1970, voltou a Paris, onde realizou um trabalho com crianças excepcionais.
Trabalhou durante oito anos com Egberto Gismonti, com quem gravou, na Alemanha, o LP "Dança das Cabeças" (1977), nomeado Álbum do Ano pela Stereo Review e premiado com o Grober Deutscher Schallplattenpreis.
Em 1979 gravou o LP "Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak". Nessa época, transferiu-se novamente para New York. Atuou com artistas internacionais como Pat Metheny, B.B. King e Paul Simon.
Naná Vasconcelos é autor da música de "O Sertão das Memórias" (1996), filme de José de Araújo.
Em 1997 voltou ao Brasil para organizar, com Gilberto Gil, o IV Panorama Percussivo Mundial, realizado no Teatro Castro Alves, do qual participaram artistas de vários países do mundo.
Em 1999 lançou o CD "Contaminação", contendo suas composições "Science" (Naná Vasconcelos, Vinicius Cantuária e Mércia Rangel), "Tá Na Roda Tá" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "Irapurú" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "Quase Choro" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "Luz de Candeeiro" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "Cajú" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "To You To" (Naná Vasconcelos e Vinicius Cantuária), "Lágrimas" (Naná Vasconcelos, Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), "Coco Lunar" (Naná Vasconcelos, Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), "Forró do Antero" (Naná Vasconcelos, Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), "A Seca" (Naná Vasconcelos, Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), "Ciranda" (Naná Vasconcelos e Mércia Rangel) e "Contaminação" (Naná Vasconcelos e Mércia Rangel).
Em 2000 participou do CD da banda Via Sat.
Em 2001 lançou o CD "Fragmentos", uma compilação de temas que compôs para filmes e espetáculos teatrais. No repertório, "Vento Chamando Vento", "Mundo Verde", "Sertão das Memórias", "Forró do Antero", "Vozes", "Vamos Pra Selva", "Caminho dos Pigmeus", "Gorée", além de sua versão para "Marimbariboba" (Domínio Público). Também nesse ano, participou, como arranjador, do CD "Cordel do Fogo Encantado".
Em 2002 lançou o CD "Minha Lôa", contendo suas composições "Futebol", "Afoxé do Nêgo Véio", "Estrela Negra" (Naná Vasconcelos e João de Souza Leão), "Goreé", "Macaco", "Don's Rollerskates (Tributo a Don Cherry)", "Curumim", "Voz Nagô" (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim), "Isleña" (Kiko Klaus), "Caboclo de Lança" (Erasto Vasconcelos e Esdras) e "Forró das Meninas" (Erasto Vasconcelos, Guga e Murilo).
Lançou, em 2005 o CD "Chegada", com a participação de César Michiles (flautas e saxes), Lui Coimbra (cello, charango e violão), Chiquinho Chagas (piano, teclados e acordeon) e Lucas dos Prazeres (percussão).
Em 2006 lançou o CD "Trilhas", reunindo temas que compôs para os filmes "Quase Dois Irmãos" (2005), de Lucia Murat, "Nzinga" (2007), de Rose Lacret e Otávio Bezerra, e "Ori - Canção Para Aisha", de Raquel Gerber, e para os espetáculos de dança "Corpos Luz", da Companhia de Balé Dança Vida, de Ribeirão Preto, e "Balé de Rua - Uma História Brasileira", da Companhia Balé de Rua, de Uberlândia. Em todas as faixas, o músico assina voz e percussão.
Em parceria com Marcos Suzano, Caito Marcondes e Coração Quiáltera, lançou, em 2010, o CD "Sementeira: Sons da Percussão", contendo suas composições "Sementeira", "Ifá", "Convite" e "Ensaio Geral", todas com Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera, "Lua Nova" (Naná Vasconcelos e Coração Quiáltera), "Nada Mais Sério" (Coração Quiáltera), "Triciclo" (Coração Quiáltera), "Ditempus Intempus" (Coração Quiáltera), "Canto de Trabalho" (Caito Marcondes) e "No Morro" (Marcos Suzano).
Morte
Naná Vasconcelos faleceu na manhã de quarta-feira, 09/03/2016, em Recife, PE, aos 71 anos. Ele estava com câncer no pulmão.
De acordo com a assessoria do Hospital Unimed III, onde estava internado, Naná Vasconcelos teve uma parada respiratória e passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
Até o último dia 29/02/2016, ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade de saúde, mas, depois, foi transferido para um quarto, onde pôde ter mais contato com a família.
Em 2015 Naná Vasconcelos passou mais de 20 dias no mesmo hospital, após descobrir o câncer. Segundo Patrícia Vasconcelos, sua esposa e produtora, Naná Vasconcelos passou mal após um show realizado em Salvador, BA, no dia 28/02/2016, com o violoncelista Lui Coimbra. Ao retornar ao Recife, foi internado.
Em 2015 Naná Vasconcelos também se sentiu mal antes de um show, mas achou que não era nada demais e seguiu com a agenda. No Recife, após uma bateria de exames, foi constatado o câncer.
"Pegou todos de surpresa porque ele havia feito um raio-x do pulmão no ano passado (2014) e uma revisão geral há dois meses e nada foi encontrado. Foi tudo muito rápido, um susto!"
(Declarou a esposa à época)
Ao ser liberado, pouco mais de 20 dias depois, Naná Vasconcelos falou sobre o desafio de enfrentar a doença.
"Eu tenho essa situação, e tenho que enfrentar com força, pensamento positivo. E vou enfrentar com o pensamento de que eu vou chegar lá!"
(Naná Vasconcelos, em 2015)
Naná Vasconcelos prosseguiu, então, com o tratamento, que incluiu sessões de quimioterapia e de radioterapia, por 40 dias.
Apesar do câncer, Naná Vasconcelos participou da abertura do Carnaval do Recife no Marco Zero, em 2016, na companhia de 400 batuqueiros. E em seu último carnaval, o percussionista dividiu o palco com o Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, grupo centenário homenageado no carnaval do Recife, com o Nação do Maracatu Porto Rico, também celebrado, e com os cantores Lenine e Sara Tavares, de Cabo Verde.
Discografia
- 2010 - Sementeira: Sons da Percussão (Naná Vasconcelos, Marcos Suzano, Caito Marcondes e Coração Quiáltera - Tratore, CD)
- 2006 - Trilhas (Naná Vasconcelos - Azul Music, CD)
- 2005 - Chegada (Naná Vasconcelos - Azul Music, CD)
- 2002 - Minha Lôa (Naná Vasconcelos - Net Records, CD)
- 2001 - Fragmentos (Naná Vasconcelos - Núcleo Contemporâneo, CD)
- 2001 - Cordel do Fogo Encantado (Participação - Rec Beat Discos, CD)
- 2000 - Via Sat (Participação - Morango Music, CD)
- 1999 - Contaminação (Naná Vasconcelos - M. Officer, CD)
- 1994 - Contando Estórias (Naná Vasconcelos - Velas, CD)
- 1990 - Lester (Naná Vasconcelos e Antonello Salis - Brass Star, CD)
- 1989 - Rain Dance (Naná Vasconcelos e The Bushdancers - Island Records/Polygram, LP)
- 1986 - Bush Dance (Naná Vasconcelos - Island/WEA)
- 1985 - Nanatronics (Naná Vasconcelos - Europa Music, LP)
- 1984 - Duas Vozes (Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos - ECM Records)
- 1983 - Codona 3 (Collin Walcott, Don Cherry e Naná Vasconcelos - ECM Records/Ariola, LP)
- 1983 - Zumbi (Naná Vasconcelos - Europa Music, LP)
- 1982 - Codona 2 (Collin Walcott, Don Cherry e Naná Vasconcelos - ECM/WEA, LP)
- 1979 - Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak (LP)
- 1979 - Codona (Don Cherry, Collin Walcott e Naná Vasconcelos - ECM Records/WEA, LP)
- 1979 - Saudades (Naná Vasconcelos - ECM/WEA, LP)
- 1978 - Sol do Meio Dia (Participação - ECM/EMI-Odeon)
- 1977 - Dança das Cabeças (Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos - ECM/EMI-Odeon)
- 1974 - Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Novelli (Saravah, LP)
- 1973 - Amazonas (Naná Vasconcelos - Phonogram, LP)
- 1972 - Africadeus (Naná Vasconcelos - Saravah, LP)
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB e G1
Indicação: Fadinha Veras, Sérgio de Salles Penteado e Miguel Sampaio