Nydia Licia

NYDIA LICIA PINCHERLE CARDOSO
(89 anos)
Atriz, Diretora e Produtora

☼ Trieste, Itália (30/04/1926)
┼ São Paulo, SP (12/12/2015)

Nydia Licia Pincherle Cardoso foi uma atriz, diretora e produtora nascida em Trieste, Itália, no dia 30/04/1926, numa família judaica, que se estabeleceu no Brasil quando Nydia tinha 13 anos.

Filha de um médico e de uma crítica musical, ambos de origem judaica, transferiu-se em 1939 com a família para a cidade de São Paulo, devido ao avanço do fascismo na Europa. Aos 13 anos sentiu-se adaptada ao novo país, e estudou em bons colégios. Primeiro no rigoroso Dante Alighieri e depois no Mackenzie, onde se sentia mais à vontade pelo clima de camaradagem e liberdade. Durante a Segunda Guerra terminou o ginásio e emendou o clássico, sempre cantando ao participar dos shows colegiais. Na dúvida entre estudar medicina ou química, optou por trabalhar.

Com a doença do pai a situação ficou difícil, e assim arrumou emprego no Consulado Italiano como secretária do cônsul. Mais tarde, ao frequentar um curso de história da arte ministrado por Pietro Maria Bardi, foi selecionada como sua assistente para trabalhar no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Ao mesmo tempo, começou a ensaiar com Alfredo Mesquita a montagem amadora de "À Margem da Vida", de Tennessee Williams, realizada pelo Grupo de Teatro Experimental (GTE) em 1947. Nessa montagem, fez sua estreia no teatro, e é também a estreia deste texto no Brasil, ao lado de Marina Freire e Abílio Pereira de Almeida. No mesmo ano, realizou no Grupo Universitário de Teatro (GUT), na Universidade de São Paulo (USP), "O Baile dos Ladrões", de Jean Anouilh, com direção de Décio de Almeida Prado.


Em 1948, o grupo foi absorvido pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Sob direção de Adolfo Celi, substituiu Cacilda Becker, então grávida de quatro meses, na primeira montagem profissional do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), "Nick Bar", de William Saroyan, realizada no ano de 1949.

Em 1950, como titular, fazendo um espetáculo desde o início, apareceu em "Entre Quatro Paredes", de Jean-Paul Sartre, ao lado de Cacilda Becker, Carlos Vergueiro e de seu futuro marido Sérgio Cardoso. A seguir entrou em "Os Filhos de Eduardo", de Marc-Gilbert Sauvajon"A Ronda dos Malandros", de John Gay"A Importância de Ser Prudente", de Oscar Wilde, e "O Anjo de Pedra", de Tennessee Williams, montagem que consagra Cacilda Becker como intérprete.

E não parou mais. Começou a fazer o Teatro das Segundas-Feiras, trabalhando assim os sete dias da semana. Só encontrou uma folga para se casar com Sérgio Cardoso, em 1950, no dia seguinte, já estão trabalhando no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).

Grávida, fez as duas versões de "Antígona", de Sófocles e de Anouilh, até 15 dias antes do nascimento de Sylvia, filha do casal.

Permaneceu no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) até 1952, quando se transferiu para o Rio de Janeiro com o marido e a filha para integrar a Companhia Dramática Nacional.

Nydia Licia em "A Raposa e As Uvas"
Ensaiou três peças ao mesmo tempo, com a família hospedada na casa de Procópio Ferreira. Foi dirigida por Bibi Ferreira em "A Raposa e as Uvas", de Guilherme Figueiredo. Com direção de Sérgio Cardoso, participou de "A Falecida", de Nelson Rodrigues, e do premiado espetáculo "A Canção do Pão", de Raimundo Magalhães Júnior.

Em 1953 foi fazer televisão na TV Record, e integrou o elenco de dois programas: "O Personagem no Ar" e "Romance".

Em 1954, alimentou o sonho de ter a própria companhia com o marido e para isso fundou a Empresa Bela Vista, partindo para a reforma do antigo Cine-Teatro Espéria, no Bixiga. Enquanto a obra andava com todas as dificuldades possíveis, montaram "Lampião", de Rachel de Queiroz, no Teatro Leopoldo Fróes, sob a direção de Sérgio Cardoso, que também foi o protagonista da peça. A montagem transformou-se em retumbante sucesso.

Em 15/05/1956, depois de nove meses de ensaios, inaugurou o novo Teatro Bela Vista com a montagem de "Hamlet", de Shakespeare. O espetáculo foi um acontecimento. No repertório remontaram "A Raposa e as Uvas" e apresentaram, entre outras encenações, "Henrique IV", de Luigi Pirandello, "O Comício", de Abílio Pereira de Almeida, e "Chá e Simpatia", de Robert Anderson, seu grande momento como atriz nos palcos. Por esse desempenho ganhou diversos prêmios como melhor atriz, entre os quais o Governador do Estado, O Saci e a Medalha de Ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT).


Em 1958, seguem-se as montagens de "Amor Sem Despedida", de Daphne Du Maurier, e uma encenação de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, assinada por Sérgio Cardoso, em concepção completamente diferente da famosa direção de Ziembinski.

Em 1959, atuou em "Lembranças de Berta", de Tennessee Williams, e "Oração Para Uma Negra", de Faulkner, dividindo o palco com Ruth de Souza.

Em 1960, desquitou-se. Mesmo após a separação, continuou a produzir teatro como produtora independente, tentando manter o teatro aberto, e contratou diretores como Alberto D'Aversa e Amir Haddad. Nessa fase dedicou-se também a dirigir e a escrever.

Uma ação movida pela Empresa Bela Vista tentou tirar-lhe o teatro. Com o apoio unânime da classe teatral, lutou durante anos, até que conseguiu ficar com o teatro, ainda que sob condições as mais difíceis. Depois de um ano a polícia fechou o teatro.

Em 1961, às vésperas da estreia de "O Grande Segredo", de Édouard Bourdet, foi para o Teatro de Alumínio com o espetáculo, e fez grande sucesso ao lado de Rubens de Falco e João José Pompeo no elenco.

Entre 1960 e 1961 foi representante dos empresários teatrais na Comissão Estadual de Teatro e no Serviço Nacional do Teatro e fez coproduções com Oscar Ornstein.


Em 1962, começou se dedicar ao teatro infantil e montou "A Bruxinha Que Era Boa", de Maria Clara Machado. Com a preocupação de motivar a criança para o teatro, realizou espetáculos bem-acabados e manteve um trabalho sério junto às escolas, ocupando um colégio de 800 lugares. Tornou-se por vários anos a grande mentora do teatro para crianças. Criou para a TV Cultura o "Teatro do Canal 2" e apresentou o programa educativo "Quem é Quem", produzindo em seguida, por quatro anos, "Presença", até ser convidada para o cargo de assessora cultural da emissora. Produziu programas musicais de alto nível, como concertos e especiais de música de câmara, e programas sinfônicos gravados no Teatro São Pedro e no Teatro Municipal.

Em 1971, viu-se obrigada a devolver o Teatro Bela Vista para seus proprietários. O Governo do Estado de São Paulo decidiu desapropriar o imóvel e reformá-lo, transformando-o no Teatro Sérgio Cardoso. Participou da cerimônia de inauguração em 13/10/1980, encenando "Sérgio Cardoso Em Prosa e Verso", sob a direção de Gianni Ratto.

Atuou em televisão na TV Tupi, TV Paulista e Bandeirantes, participando de produções como "Sublime Obsessão" (1958), "Eu Amo Esse Homem" (1964), "Éramos Seis" (1977), "João Brasileiro, O Bom Baiano" (1978) e "Ninho da Serpente" (1982).


Desses trabalhos dois momentos são especialmente marcantes. O primeiro em "Eu Amo Esse Homem" na TV Paulista, novela de Ênia Petri, na qual fez uma psicanalista que se envolvia com seu paciente, interpretado por Emiliano Queiroz. O segundo em "Éramos Seis" na TV Tupi, escrita por Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu, baseada no romance da "Senhora Leandro Dupré", na qual viveu uma tia rica que ajudava a pobre família formada por Nicette Bruno, Carlos Alberto Riccelli e Carlos Augusto Strazzer.

No cinema rodou "Quando a Noite Acaba" (1950), de Fernando de Barros, "Ângela" (1951), de Tom Payne, e "O Príncipe" (2002), de Ugo Giorgetti.

Na década de 80 tornou-se referência de qualidade na produção teatral dedicada ao público infantil na cidade de São Paulo.

A partir de 1992 desenvolveu, paralelamente, carreira pedagógica como professora no Departamento de Rádio e Televisão da Escola de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e no Teatro Escola Célia Helena, onde dava aulas de interpretação.


Desde 2002 dedicava-se a contar sua trajetória e a de seus contemporâneos em livros como "Ninguém Se Livra de Seus Fantasmas", "Sérgio Cardoso: Imagens de Sua Arte", "Rubens de Falco: Um Internacional Ator Brasileiro" e "Leonardo Villar: Garra e Paixão".

Para a série de livros "Aplauso"Nydia Licia escreveu "Leonardo Villar: Garra e Paixão""Sérgio Cardoso: Imagens De Sua Arte""Rubens de Falco - Um Internacional Ator Brasileiro""Raul Cortez - Sem Medo De Se Expor" e "Eu Vivi o TBC". Além disso escreveu o livro autobiográfico "Ninguém Se Livra Dos Seus Fantasmas" editado pela Perspectiva.

O trabalho sobre a vida de Raul Cortez recebeu o Prêmio Jabuti, em Biografias.

Em 2008, Nydia Licia foi agraciada com o título de Cidadã Paulistana.

Em 2010 recebeu o prêmio Governador do Estado de Destaque Cultural.

Morte

Nydia Lícia faleceu às 4h30 de sábado, 12/12/2015, aos 89 anos, no Hospital São Luis, em São Paulo, SP, vítima de câncer no pâncreas. A doença foi diagnosticada em agosto de 2015 e ela estava internada desde 20/11/2015.

O corpo de Nydia Licia foi velado na manhã de domingo, 13/12/2015, no Teatro Sérgio Cardoso. O sepultamento ocorreu à tarde, no Cemitério Israelita do Butantã, com a presença de representantes da cultura, artistas e amigos.

Nydia Licia e Abílio Pereira de Almeida em "A Mulher do Próximo"
Carreira

Televisão

  • 1958 - Sublime Obsessão ... Helen Hudson
  • 1964 - Eu Amo Esse Homem
  • 1965 - O Ébrio ... Francisca
  • 1977 - Éramos Seis ... Emília
  • 1978 - João Brasileiro, O Bom Baiano ... Lúcia
  • 1982 - Ninho Da Serpente ... Olímpia

Cinema

  • 1950 - Quando A Noite Acaba
  • 1951 - Ângela
  • 1956 - Quem Matou Anabela?
  • 1970 - Amemo-Nús (Filme Inacabado)
  • 2002 - O Príncipe ... Dona Norma

Teatro (Como Atriz)

  • 1947 - À Margem Da Vida
  • 1948 - O Baile Dos Ladrões
  • 1949 - A Noite De 16 de Janeiro
  • 1949 - A Mulher Do Próximo
  • 1949 - Pif-Paf
  • 1949 - Nick Bar... Álcool, Brinquedos, Ambições
  • 1950 - A Ronda Dos Malandros
  • 1950 - Os Filhos De Eduardo
  • 1950 - Do Mundo Nada Se Leva
  • 1950 - A Importância De Ser Prudente
  • 1950 - O Anjo De Pedra
  • 1950 - O Inventor De Cavalo
  • 1950 - Entre Quatro Paredes
  • 1950 - Lembranças De Bertha
  • 1950 - Rachel
  • 1951 - Ralé
  • 1951 - Convite Ao Baile
  • 1951 - O Grilo Da Lareira
  • 1952 - Antígone
  • 1952 - O Mentiroso
  • 1952 - Relações Internacionais
  • 1953 - A Raposa E As Uvas
  • 1953 - Canção Dentro Do Pão
  • 1954 - Sinhá Moça Chorou
  • 1954 - A Filha De Iório
  • 1954 - Lampião
  • 1956 - Hamlet
  • 1956 - Quando As Paredes Falam
  • 1957 - Chá E Simpatia
  • 1957 - Henrique IV
  • 1958 - Vestido De Noiva
  • 1958 - Amor Sem Despedida
  • 1959 - Oração Para Uma Negra
  • 1960 - Geração Em Revolta
  • 1961 - A Castro
  • 1961 - De Repente No Último Verão
  • 1961 - Esta Noite Improvisamos
  • 1961 - O Grande Segredo
  • 1962 - As Lobas
  • 1962 - Meu Marido E Você
  • 1962 - Quem Rouba Pé Tem Sorte No Amor
  • 1963 - A Idade Dos Homens
  • 1964 - Apartamento Indiscreto
  • 1964 - Hedda Gabler
  • 1964 - Uma Cama Para Três
  • 1965 - Camila
  • 1965 - Biedermann E Os Incendiários
  • 1966 - Terra De Ninguém
  • 1967 - Esta Noite Falamos De Medo
  • 1968 - Um Dia Na Morte De Joe Egg
  • 1969 - João Guimarães: Veredas

Teatro (Como Diretora)

  • 1959 - Oração Para Uma Negra
  • 1962 - Meu Marido E Você
  • 1962 - Quem Rouba Pé Tem Sorte No Amor
  • 1963 - Feitiço
  • 1963 - O Pobre Piero
  • 1963 - M.M.Q.H.
  • 1963 - Tem Alguma Coisa A Declarar?
  • 1964 - Uma Cama Para Três
  • 1965 - O Outro André
  • 1965 - A Raposa E As Uvas
  • 1966 - Terra De Ninguém
  • 1967 - Esta Noite Falamos De Medo
  • 1967 - Uma Certa Cabana
  • 1976 - Fuga Em Do Re Mi
  • 1977 - Aprendiz De Gente Grande
  • 1978 - História De Uma História
  • 1979 - Se Non É Vero É Bem Trovado
  • 1981 - De Morfina A Malatesta
  • 1982 - O Mistério Das Flores
  • 1983 - Fantasia Colorida
  • 1984 - Libel A Sapateira

Fonte: Wikipédia e Funarte
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