Elsie Lessa

ELSIE LESSA
(86 anos)
Jornalista e Cronista

* São Paulo, SP (05/04/1914)
+ Cascais, Portugal (17/05/2000)

Elsie Lessa foi uma jornalista e cronista brasileira.

De 1952 a 2000, Elsie Lessa escreveu e publicou, sem interrupção, no jornal O Globo. Nenhum outro escritor teve um espaço por tanto tempo nas páginas do jornal.

Na juventude, embora natural de São Paulo, foi considerada uma das duas mais belas mulheres do Rio de Janeiro, a outra era Adalgisa Nery. O cronista Rubem Braga a seguiu pelas ruas de São Paulo, fascinado pela sua beleza e graça.

Entrou em O Globo como repórter, em 1946. Sobre ela, o escritor Ruy Castro disse:

"Elsie tem seu lugar ao lado dos maiores cronistas da língua portuguesa, como Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino."

Era neta do escritor e gramático Júlio Ribeiro, membro da Academia Brasileira de Letras, e foi casada com o escritor e também imortal Orígenes Lessa, com quem teve um filho, o jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa. Foi casada, pela segunda vez, com o jornalista e escritor Ivan Pedro de Martins.

Da esquerda para a direita: Pagu, Elsie Lessa, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Eugênia Álvaro Moreyra
Saudades de Elsie Lessa

Carecem os jornais de hoje de textos que nos queiram tocar a alma, reacender-nos a sensibilidade, proporcionar-nos reflexões sobre as coisas simples da vida. O veículo jornal nada mais é que uma fonte crua e opaca de realidade, que mais nos seda os sentidos que instiga nosso impulso vivificador.

Pensar as singelezas da vida tornou-se atividade sem lugar na esteira incessante dos compromissos que nos aguardam e a reflexão sobre o cotidiano restringiu-se à abordagem de temas tais como violência, corrupção e miséria.

Cada dia mais robotizado na rotina casa-trabalho-casa, ao indivíduo resta "entreter-se" no entorpecimento dos copos de cerveja ou na alienação proporcionada pela caixa mágica que cotidianamente veneramos no calor do lar. Em outras palavras, estamos atrofiando os nossos sentidos. Somos, gradativamente, mais e mais incapazes de nos ater às singularidades, aos detalhes, às sutilezas do mundo que nos cerca. O prazer, cada vez mas indissociável do consumismo e refém das táticas de propaganda e do conceito de propriedade capitalista, torna-nos constantemente insatisfeitos.

Há alguns anos, perdemos uma das nossas mais sensíveis cronistas, Elsie Lessa, cujo lirismo do olhar nos revelava belezas insuspeitadas numa vida predominantemente caótica. Amiga do velho Rubem Braga, com que compartilhava semelhanças e anseios, essa cidadã do mundo (pois residiu em diversas cidades, brasileira e européias) voltava sua curiosidade para tudo aquilo que valesse a pena ser lembrado, contemplado: um sorriso de criança a brincar, um entardecer cor de rosa que nos transforma os sentimentos, a expressão inesperadamente curiosa de um companheiro anônimo de viagem, uma conversa com amigos à beira da praia, um passeio de bicicleta...

Jefferson Ávila Júnior acompanha visita de Elsie Lessa ao Museu Antônio Parreiras

Elsie nos convidava a desviar os olhos da rotina célere e voltá-los para elementos mais simples, resistentes, mas não menos belos, coisas corriqueiras que passam despercebidas por nossa sensibilidade fragilizada, numa tentativa de resgatar um prazer e uma felicidade primordiais. Faz parte dessa iniciativa o apego que a cronista tem por suas memórias. Elsie lança mão das próprias lembranças para, associando-as à memória da cidade (ou das cidades por onde passou), resgatar a sua própria história do esquecimento gradativo, causado pelo excesso de atribuições e informações do presente. Degustar novamente pela via da memória um doce que se comia na infância, comprado numa barraquinha que não mais existe; relembrar os livros que se lia na juventude, debaixo de uma árvore, comendo pão com manteiga; reconhecer-se emocionada e surpreendida diante da casa onde residiu na infância, tão igual a antes, mas tão oprimida pelas grandes construções modernas... Eis alguns exemplos hábitos e sensações que se quer proteger do fenecimento. Essa atitude revela a necessidade da escritora em colecionar experiências significativas e contáveis para dividi-las com o público leitor. Este, impulsionado didaticamente pela proposta da autora, vê-se incitado a fazer o mesmo e a reencontrar um prazer adormecido. E ao se permitir enxergar o mundo com olhos lúdicos, reata laços afetivos com a cidade - agora não somente agente de violência, mas também fonte de deleite – recobrando a capacidade de encontrar satisfação em coisas simples. Não se trata de fechar os olhos para os dilemas e dificuldades da vida, mas sim de impedir que eles amortizem a nossa sensibilidade, desumanizando-nos.

Para aqueles que desejem "experimentar" as crônicas lessianas, há as coletâneas "A Dama da Noite", "Ponte Rio-Londres" e "Canta Que a Vida é Um Dia". Permita-se reencontrar sua alma infantil e faça as pazes com o mundo e com a vida.

Aline Aimée Carneiro de Oliveira

Pedro Raymundo

PEDRO RAYMUNDO
(67 anos)
Cantor, Compositor e Acordeonista

* Imaruí, SC (29/06/1906)
+ Rio de Janeiro, RJ (09/07/1973)

Pedro Raymundo foi um acordeonista , compositor e cantor regionalista brasileiro, em evidência nos anos 40 e 50, principalmente com a música "Adeus, Mariana". Iniciou-se com música gauchesca, e, transladando-se para o Rio de Janeiro ficou conhecido como o Gaúcho Alegre do Rádio. Por sempre se apresentar "pilchado" (ou seja, com a roupagem característica de gaúcho), acabou inspirando Luiz Gonzaga a se apresentar com a roupagem característica dos vaqueiros.

Pedro Raymundo nasceu em berço pobre, e seu pai, João Felisberto, era pescador e sanfoneiro. Aos 8 anos começou a tocar sanfona. Até os 17 anos trabalhou como pescador. Trabalhou na Estrada de Ferro Esplanada-Rio Deserto, em Santa Catarina.

Em 1929, mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou como condutor de bondes, inspetor de tráfego, guarda-freios, maquinista de usina, balconista e oleiro. Foi também chaveiro da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, onde foi vítima de um acidente que lhe deixou um defeito na mão, o que, entretanto, não o impediu de tornar-se um dos mais brilhantes sanfoneiros do Brasil.

Em sua cidade natal participou da Banda Amor e Ordem, que se apresentava em festinhas. Em Porto Alegre, apresentou-se como sanfoneiro em bares e cafés do Mercado. Em 1939, passou a trabalhar na Rádio Farroupilha, onde organizou o Quarteto dos Tauras. Em 1942, realizou excursão pelo interior do Rio Grande do Sul. Nesse período com o Quarteto dos Tauras se dedicou à divulgação do gênero campeiro.


Em 1943, organizou um livro de ouro e angariou fundos para seguir para o Rio de Janeiro onde deu seqüência à sua carreira. Se apresentou na Rádio Mayrink Veiga, no "Show Muraro". Apresentou-se também em programas na Rádio Tupi, Rádio Tamoio, Rádio Guanabara e Rádio Globo. Por iniciativa do radialista e cantor Almirante, foi contratado pela Rádio Nacional e mudou-se para o Rio de Janeiro. No mesmo ano gravou pela Columbia seu primeiro disco, interpretando de sua autoria o choro "Tico-Tico no Terreiro" e o xote "Adeus, Mariana", que logo se tornou um sucesso de norte a sul. No mesmo ano gravou pela Continental, de sua autoria, a valsa "Saudade de Laguna" e o xote "Se Deus Quiser".

Em 1945, recebeu o título de "Gaúcho Alegre do Rádio". Foi um dos maiores criadores de xotes e músicas gauchescas alegres. Tornou-se o primeiro artista do sul do país a obter sucesso nacionalmente. Apresentava-se vestido com trajes típicos gaúchos.

Em 1949, atuou no filme "Uma Luz Na Estrada", de Alberto Pieralise. Em 1958, participou do filme "Natureza Gaúcha", de Rafael Mancini.

Pedro Raymundo gravou mais de 50 discos em 78 rpm.

Faleceu vítima de câncer no Hospital da Lagoa no Rio de Janeiro em 07/07/1973.

Em 1984 o cantor Sérgio Reis regravou "Adeus Mariana". Em 1986, foi publicado um livro sobre a vida de Pedro Raymundo de autoria de Israel Lopes e Vitor Minas, pela Editora Tchê, de Porto Alegre.

Em 2003, o selo Revivendo lançou o CD "Saudade de Laguna" com composições do artista, entre as quais, "Tico-Tico No Terreiro", "De Galho Em Galho", "Manhoso", "Lamentos", "Contigo No Pensamento", "O Carreteiro", "Flor Brasileira", "Se Deus Quiser", "Meu Cavalo Parelheiro", "Morena Faceira", "Gauchinha", "Gaúcho Largado", "Adeus Moçada", além da clássica "Adeus Mariana", seu maior sucesso.

Discografia

  • 2003 - Saudade de Laguna (Revivendo - CD)
  • 1967 - Adeus, Mariana - Pedro Raymundo e Sua Música (Continental - LP)
  • 1961 - Sanfoninha Velha Amiga / Escadaria (Continental - 78)
  • 1961 - É Mentira Dele / O Baião Da Esperança (Chantecler - 78)
  • 1960 - São João Que Passou / Quadrilha No Arraiá (Chantecler - 78)
  • 1957 - Palhaço / Angústia (Odeon - 78)
  • 1957 - São João Em Pernambuco / Minha Promessa (Odeon - 78)
  • 1956 - Juiz De Fora / Mexendo Com A Gente (Odeon - 78)
  • 1956 - Feio De Sorte / A Nossa Valsa (Odeon - 78)
  • 1956 - Quadrilha No Arraiá / Meia Canha (Odeon - 78)
  • 1955 - Amor De Gaúcho / Lindo No Mas (Odeon - 78)
  • 1955 - Casamento Da Rosinha / Arrasta-pé (Odeon - 78)
  • 1955 - Culpado / Ladrão De Moça (Odeon - 78)
  • 1954 - Sandunga / Mara (Odeon - 78)
  • 1954 - Maria Fogueteira / Oração De Junho (Odeon - 78)
  • 1954 - Oriental / Saudade De Laguna (Odeon - 78)
  • 1953 - Vivo Solito / Sanfoneiro Bom (Continental - 78)
  • 1953 - Baião Alvorada / Felicitações (Odeon - 78)
  • 1953 - Paulicéia / Nossa Senhora Do Rocio (Odeon - 78)
  • 1953 - Festa No Arraiá / Pedido A São João (Todamérica - 78)
  • 1952 - Baião De Três / Baião Do Havaí (Continental - 78)
  • 1952 - Pulando A Fogueira / Pobre Sanfoneiro (Continental - 78)
  • 1952 - Linda Paulistinha / Malandrinho (Continental - 78)
  • 1951 - Boi Barroso / Lajeaninha (Continental - 78)
  • 1951 - Antigamente / Milonguita (Continental - 78)
  • 1951 - A Carta De Mariana / Querência Amada (Continental - 78)
  • 1951 - Pingo Mulato / Oriental (Todamérica - 78)
  • 1951 - Fanfarronada / Mágoas De Sanfona (Todamérica - 78)
  • 1951 - Baú Velho / Corre, Corre, Meu Cavalo (Todamérica - 78)
  • 1950 - Festa Na Fazenda I / Festa Na Fazenda II (Continental - 78)
  • 1950 - Levanta O Pé, Velhada / Luar Catarinense (Continental - 78)
  • 1950 - Meu Cavalo Branco / Tricolor (Continental - 78)
  • 1950 - Laranjeira Carregada / Prece (Continental - 78)
  • 1949 - Dança Da Quadrilha / Pinheirinho Copado (Continental - 78)
  • 1949 - Saudade De Querência / Trocando Idéia (Continental - 78)
  • 1948 - Tá Tudo Errado / Contemplando O Firmamento (Continental - 78)
  • 1948 - Dança Vovó / Desgraça Pouca É Bobagem (Continental - 78)
  • 1948 - Prenda Minha / Cavalinho Crioulo (Continental - 78)
  • 1947 - Chico Da Ronda / Na Casa Do Zé Bedeu (Continental - 78)
  • 1947 - Adeus, Mocidade / Nem É Bom Falar (Continental - 78)
  • 1946 - Gaúcha Malvada / Sofrer Sorrindo (Continental - 78)
  • 1946 - Calanguinho Bom / Cavalinho Crioulo (Continental - 78)
  • 1946 - Dança Da Fogueira / Festa Na Roça (Continental - 78)
  • 1946 - Puladinho / Tira Cisma (Continental - 78)
  • 1945 - Gauchinha / Manhoso (Continental - 78)
  • 1945 - Segura O Bonde! / Trenzinho Do Amor (Continental - 78)
  • 1945 - Meu Coração Te Fala / Mexeriqueira (Continental - 78)
  • 1945 - Pensando Em Ti / Rancho Triste (Continental - 78)
  • 1945 - Saudade Do Rincão / Pulando Muro (Continental - 78)
  • 1945 - Gauchada / Mágoas De Amor (Continental - 78)
  • 1945 - Índio Vago / Falando À Nossa Felicidade (Continental - 78)
  • 1945 - Provocando / Prenda Minha (Continental - 78)
  • 1945 - Brincando Na Areia / Mariana No Samba (Continental - 78)
  • 1944 - O Carreteiro / Contigo No Pensamento (Continental - 78)
  • 1944 - Meu Cavalo Parelheiro / Escadaria (Continental - 78)
  • 1944 - De Galho Em Galho / Morena Faceira (Continental - 78)
  • 1944 - Gaúcho Largado / Cuidado Maneca (Continental - 78)
  • 1944 - Flor Brasileira / Lamentos (Continental - 78)
  • 1944 - Súplica / Adeus, Moçada (Continental - 78)
  • 1943 - Tico-Tico No Terreiro / Adeus, Mariana (Continental - 78)
  • 1943 - Saudade De Laguna / Se Deus Quiser (Continental - 78)