João Araújo

JOÃO ALFREDO RANGEL DE ARAÚJO
(78 anos)
Empresário e Produtor Musical

* Rio de Janeiro, RJ (02/07/1935)
+ Rio de Janeiro, RJ (30/11/2013)

Caçula de uma família pernambucana com seis filhos, João Alfredo Rangel de Araújo nasceu no Leblon, Rio de Janeiro, em 02/07/1936 e começou sua carreira na indústria musical aos 14 anos, como auxiliar de imprensa na Copacabana Discos, que tinha em seu elenco estrelas como Ângela Maria e Elizeth Cardoso.

Passou por diversas gravadoras, incluindo a Odeon, que tinha entre suas estrelas na época Dorival Caymmi e João Gilberto, e a Philips, na qual foi diretor artístico e ajudou a lançar artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben e Djavan.

Participou da criação da Som Livre, em 1969. Na gravadora ligada às Organizações Globo, que comandou por quase quatro décadas, lançou bem-sucedidas trilhas de novelas e lançou fenômenos de venda como Xuxa. Na empresa, ele possibilitou a criação do disco "Acabou Chorare", dos Novos Baianos.

João Araújo ao lado do filho Cazuza
Sua história como empresário musical ficou em segundo plano a partir do sucesso de Cazuza, seu único filho, nascido do casamento de mais de cinco décadas com Lucinha Araújo.

Temendo acusações de nepotismo e favorecimento, João Araújo não quis ajudar o filho a princípio, mas foi convencido pelo produtor Guto Graça Melo e pelo jornalista Ezequiel Neves a lançar o disco de estreia do Barão Vermelho, em 1982.

A morte de Cazuza foi um baque do qual João Araújo jamais se recuperou. Ele evitava assistir a homenagens ao filho, como o musical teatral atualmente em cartaz.

João Araújo e Lucinha Araujo (Foto: Cristina Granato)
Além de presidir a Som LivreJoão Araújo também foi eleito presidente de honra da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), em 2007, no mesmo ano em que recebeu o prêmio Grammy Latino por sua contribuição à indústria musical.

"A trajetória de João Araújo confunde-se com a história da música brasileira moderna e seus principais movimentos musicais das últimas décadas, desde a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalismo e a consolidação do pop rock brasileiro. Sua contribuição para o fortalecimento da indústria da música no Brasil é inestimável."
(Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos na ocasião)

"Foi impossível não me lembrar do Cazuza. Ele teria feito alguma gozação, teria achado tudo ridículo, mas depois ia aplaudir e gostar de ver o pai ganhar esse prêmio. Cazuza não teve tempo de ter carreira internacional, ele morreu antes de ver o reconhecimento do seu trabalho fora do Brasil."
(Em entrevista a O Globo logo após ter recebido o Grammy)

João Araújo era bom apostador também no pôquer, uma de suas paixões. Tinha emoldurados, na sala de casa, os oito royal street flash -  sequência de dez ao sequências do dez ao ás, todas do mesmo naipe - que fez na vida. Um dos refúgios preferidos de Cazuza, a casa na Fazenda Inglesa, em Petrópolis, foi construída em um terreno ganho no jogo.

João Araújo foi representado por Reginaldo Faria no filme "Cazuza - O Tempo Não Para" (2004).


Morte

João Araújo morreu às 6:30 hs da manhã de sábado, 30/11/2013, em seu apartamento no Rio de Janeiro, vítima de um ataque cardíaco.

João Araújo estava com a saúde fragilizada desde que sofreu uma queda há três semanas, em Angra dos Reis, na qual fraturou a cabeça do fêmur. Internado para uma cirurgia, teve um problema nos rins detectado pelos médicos e passou por hemodiálise. Voltou para casa na segunda-feira, 25/11/2013.

"Há dois dias, fumou nove cigarros e tomou um uísque, já proibido pelos médicos. Ele já estava sentindo [que morreria]", disse o deputado federal Miro Teixeira (Pros, RJ), um dos amigos que compareceram ao velório, que aconteceu no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio.

O enterro foi marcado para as 17:00 hs de 30/11/2013 no mesmo jazigo em que está Cazuza.

Sérgio Cabral e João Araújo no lançamento do livro "O Tempo Não Para - Viva Cazuza"
(Foto: Cristina Granato)
Em nota, a Som Livre lamentou a morte de João Araújo, a quem chamou de "o mais importante executivo" de sua história.

"Ao longo de mais de 35 anos de dedicação à empresa, João estabeleceu as bases da Som Livre, que deve a ele sua história e seu sucesso. João lançou as mais importantes trilhas sonoras da teledramaturgia brasileira e abriu portas para o sucesso de alguns dos principais nomes da música nacional como Novos Baianos, Djavan, Barão Vermelho e, claro, seu querido filho Cazuza. Seu legado como executivo e produtor para a música brasileira pode ser comparado, mas não será superado. Seus amigos, ex-funcionários e admiradores aqui reunidos lhe desejam descanso em paz por eternas e maravilhosas trilhas."
(Comunicado da Som Livre)

"Ele é uma pessoa muito querida. Era um amigo pessoal muito querido e uma pessoa de uma importância enorme para a música. É uma perda muito grande!"
(Gloria Perez)

"João vai deixar um legado para a música brasileira. Ele fez história"
(Leiloca, ex-As Frenéticas)

Cazuza e seu pai João Araujo
Entre amigos e familiares, estiveram no velório as apresentadoras Xuxa e Ana Furtado, o produtor musical Luís Carlos Miele, o escritor Zuenir Ventura, a atriz Rosamaria Murtinho, o autor de novelas Gilberto Braga, os diretores da TV Globo Daniel Filho, Boninho, Ali Kamel e José Frejat, pai do músico Frejat, que foi parceiro de Cazuza no Barão Vermelho.

Xuxa chegou ao velório por volta de 15:00 hs e deixou o cemitério após quase duas horas, chorando muito, ao lado do namorado. O cantor Caetano Veloso também foi ao velório de João Araújo. Ele chegou ao local por volta de 16:30 hs. Pouco depois, a atriz Glória Pires chegou ao velório, acompanhada pelo marido Orlando Morais.

"Ele era uma pessoa muito generosa e prestou muito serviço ao país e à música. Temos que reconhecer o trabalho dele. Eu o conhecia há quase tanto tempo quanto Cazuza conheceu Frejat."
(José Frejat)

Indicação: Fadinha Veras

Frei Damião

PIO GIANNNOTTI
(98 anos)
Frade

* Bozzano, Itália (05/11/1898)
+ Recife, PE (31/05/1997)

Frei Damião foi um frade italiano radicado no Brasil. Nasceu em Bozzano, município de Massarosa, Província de Lucca, na Itália, aos 05/11/1898. Foi o segundo dos 5 filhos do casal Félix Giannotti e Maria Giannotti, camponeses italianos de sólida formação cristã e católica. O filho mais velho da família, Guilherme Giannotti, tornou-se padre diocesano e depois recebeu o título de Monsenhor, destacando-se como professor e diretor espiritual no Seminário Arquiepiscopal de Lucca-Itália. A irmã mais nova, Pia Giannotti, tornou-se freira da Congregação das Irmãs de Santa Zita (Zitinas).

No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizado na igreja dos santos Catarina e Próspero, matriz de Bozzano, recebendo o nome de Pio Giannotti. Aos 10 anos de idade, em 15/06/1908, foi crismado na Catedral de Lucca, pelo Cardeal Lorenzelli. Todavia, o dia da sua Primeira Comunhão foi para o menino Pio Giannotti o mais especial, após a experiência que teve diante de Jesus Crucificado, que o marcou pelo resto de sua vida. Segundo o testemunho de uma de suas irmãs, Josefa, após a missa da Primeira Comunhão, quando voltaram para casa, logo o menino desapareceu, preocupando a todos da família. Ela saiu à sua procura e encontrou-o, para sua surpresa, ajoelhado diante de um crucifixo que ele mesmo colocara no sótão da casa, onde guardavam os mantimentos para o inverno, rezando e chorando a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis porque durante toda a vida, jamais se separou do crucifixo!


A Vocação à Vida Religiosa

Depois da experiência com o Crucificado, Pio Giannotti começou a externar os primeiros sinais de sua vocação, com o desejo de consagrar-se inteiramente a Deus. Não seguiu o mesmo caminho do irmão Guilherme, que era padre diocesano, mas, tocado pelo testemunho dos filhos de São Francisco de Assis, aos 13 anos de idade, a 17/03/1911, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos, recebendo o nome de Damião, Frei Damião de Bozzano, indicando sua cidade de origem.


Formação Religiosa e Intelectual

Sendo professo simples na Ordem dos Capuchinhos, Frei Damião iniciou o estudo da Filosofia. Teve, contudo, que parar por algum tempo, devido à convocação, em setembro de 1918, para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial. Ficou acampado em Zara, uma zona de conflito. Voltando para o convento, depois do fim da guerra, Frei Damião emitiu a sua Profissão Perpétua, selando para sempre com o Senhor o compromisso de viver em castidade, em obediência e sem nada de próprio, conforme a Regra de São Francisco de Assis e as Constituições da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.

No ano de 1920, iniciou estudo da sagrada Teologia. A seguir, foi enviado à Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu os estudos, com láurea em Direito Canônico e Teologia Dogmática. Em 05/08/1923, ele foi ordenado sacerdote na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma.


Serviços Prestados

Dois anos após a sua ordenação, Frei Damião de Bozzano foi nomeado vice-mestre de noviços de sua Província religiosa, Lucca, Itália. Em 1926, foi nomeado diretor e professor dos frades estudantes, cargo que exerceu até 1931, ano de sua vinda para o Brasil. E no Brasil foi eleito Assistente (Conselheiro) da então Custódia Geral dos Capuchinhos de Pernambuco. Aqui, dedicou-se às Santas Missões durante 66 anos.

Frei Damião, recém chegado ao Brasil
No Brasil: Residências e Andanças Missionárias

A Província dos Capuchinhos de Lucca-Itália assumiu a Missão de Pernambuco no ano de 1930, quando aportou em Recife o Frei Félix de Olívola, nomeado Superior da dita Missão. Por seu expresso pedido, obediente ao mandato de Cristo aos apóstolos: "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15), Frei Damião deixou sua Itália querida e veio, juntamente com Frei Inácio de CarraraFrei Bento de Terrinca, como missionário para o Nordeste do Brasil. Partiu da cidade de Gênova, no navio Conte Rosso, aos 28/05/1931, desembarcando no porto do Recife, em Pernambuco, aos 17/06/1931.

No Brasil, sua primeira residência foi o Convento de Nossa Senhora da Penha, donde partiu para pregar as Santas Missões, começando pelo Sítio Riacho do Mel, município de Gravatá, PE, a 35 km da capital.

Desde então, durante 66 anos, percorreu como fiel filho de São Francisco as secas, porém, férteis terras nordestinas, enfrentando sol, chuva e poeira nas estradas, pregando, confessando, celebrando a Eucaristia e convidando à conversão e à mudança de vida.

Para melhor difundir a mensagem por ele anunciada, escreveu o livro "Em Defesa da Fé". Durante esse tempo morou em Recife, PE, Maceió, AL (no período da Segunda Guerra Mundial) e em Natal, RN, onde fez parte da primeira Fraternidade, ou seja do primeiro grupo de frades que residiram na capital potiguar. Mas, a maior parte do tempo era em andanças de cidade em cidade.


As Santas Missões: O Estilo de Evangelização

As Santas Missões eram um tempo forte de graça e conversão. A cidade parava para ouvir e celebrar a Palavra de Deus proclamada pelo Frei Damião. Era sempre recebido com festa e tratado com muito carinho como ele mesmo afirmava. Porém, fazia questão de dizer que tudo aquilo não era para ele, mas para Deus de quem o povo o via como mensageiro. Não pregava a si mesmo, mas o Evangelho de Cristo.

Frei Damião, antecedido por outros tantos abnegados capuchinhos missionários no Nordeste, desenvolveu um estilo próprio de evangelização, através das Santas Missões. A Missão geralmente começava na segunda-feira. Ao cair da tarde, o missionário era recebido á entrada da cidade e conduzido, geralmente em carreatas, à igreja matriz, ali dirigia as primeiras palavras à multidão que esperava, sedenta, ouvir a voz do Peregrino de Deus.

À noite, rezava o terço com o povo, fazia o grande sermão, seguido da bênção do Santíssimo Sacramento, e, em seguida, confissão para os homens até 00:00 hs ou mais. Nas primeiras horas do amanhecer, às 4:30 hs, com a campainha na mão, acordava os cristãos: "Vinde pais e vinde mães…", chamando as pessoas para a caminhada de penitência, seguida do canto do Ofício de Nossa Senhora ou das Benditas Almas do Purgatório, e da celebração da missa e das confissões.

Frei Damião confessava mais de 12 horas por dia, celebrava com o povo o Sacramento do Perdão de Deus. Com carinho paterno, jeito terno e, às vezes, severo, ele orientava os corações para Cristo.

Durante a Semana da Missão, havia encontros específicos com as mulheres, com os homens, com os jovens, catecismo para as crianças, visitas aos doentes e aos encarcerados. O encerramento dava-se no domingo com a procissão dos motoristas e bênção dos automóveis pela manhã e, á noite, o grande sermão com os últimos conselhos do missionário.

Tinha uma pregação de conteúdo moral e apologético, propondo, assim, demonstrar a verdade da doutrina cristã católica, defendendo-a diante de teses contrárias, ou seja, sistematizando a fé cristã católica, sua origem, credibilidade e autenticidade. Fazia parte do Sermão a pregação que apontava para "Os Novíssimos": Morte, Juízo, Céu e Inferno. Lembrando que o Livro do Eclesiástico contém um conselho fundamental para nossa salvação: "Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás" (Ecl. 7, 40).

Assim se recordarmos sempre da morte, do juízo, do céu e do inferno jamais pecaremos. Se o mundo anda tão mal, é porque pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos. Os Santos, no entanto, não só os tinham sempre presentes, mas também pregavam sobre eles aos outros. Assim o fez e ensinou Frei Damião de Bozzano.

Memorial Frei Damião
Companheiros de Missões

Como companheiros de missões, Frei Damião teve o apoio de Frei Antônio de Terrinca, Frei Cipriano de Ponteccio, Frei Eduardo de Strettoia, Frei Félix de Pomezzana e aquele que por mais de 50 anos esteve a seu lado, Frei Fernando Rossi. Ao lado do Servo de Deus, esteve em muitos lugares, especialmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Ceará e Piauí. Atualmente, reside na Vila São Francisco, município de Quebrangulo, AL.


Resistência, Doação, Dom da Escuta e Espiritualidade

Frei Damião era de uma resistência extraordinária. Até 1990, pregou missões no mesmo ritmo, de segunda a domingo, de 10/01 a 31/12, parando apenas quando estava doente e, mesmo no hospital, não deixava de atender ao povo.

Arrastava multidões e todos queriam ouvir sua voz e tocá-lo. Era querido pelo povo como um pai, um padrinho, alguém da família. Não falava simplesmente à multidão, mas ao coração de cada um em particular. Por isso, acolhia a todos sem distinção, do rico ao pobre, do letrado ao analfabeto, era irmão de todos, e a todos exortava a viverem na amizade de Deus e a abandonarem o pecado.

Ouviu a alma do nosso povo e não somente os pecados, mas as dores e as alegrias. Tornou-se solidário conosco, um de nós, nordestino como nós, para levar todos a Cristo. Jamais se separou do crucifixo, nem do rosário da Mãe de Deus. Como autêntico franciscano, alicerçou sua vida missionária sobre os principais pilares da espiritualidade franciscana: a Cruz, a Eucaristia e Maria.


Doença e Morte

Durante muito tempo, Frei Damião sofreu de erisipela, devido à má circulação sanguínea. E no ano de 1990, após ter sofrido uma embolia pulmonar, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando apenas para os finais de semana. Na simplicidade de um quarto, na casa que lhe fora construída como enfermaria, viveu seus últimos dias, cercado pelo carinho do seu povo que, aos milhares, vinha ao seu encontro.

Mas, em 1997, sua saúde agravou-se bastante. Foi internado várias vezes no Real Hospital Português do Recife, sob os cuidados do Drº Blancard Torres. Ele pregou sua última Santa Missão na cidade de Capoeiras, PE, em 02/1997. Depois, adoeceu novamente tendo que ser levado ao Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, DF, para que lhe fosse confeccionada uma cadeira ortopédica que o ajudasse a respirar melhor.

Em 12/05/1997 foi novamente internado no Real Hospital Português, na capital pernambucana, mas, fato inusitado, ele em dado momento foi encontrado rezando o rosário com o povo numa das salas do hospital. Foi sua última missão: rezar com o povo o rosário de Nossa Senhora. No dia seguinte, 13/05/1997, sofreu um derrame cerebral sendo levado para a UTI. No dia 31/05/1997, às 19:20 hs, Frei Damião faleceu, aos 98 anos de idade, cercado pela oração de seus confrades, da equipe médica que dele cuidara e sob a melodia de cânticos e hinos.


Luto, Velório e Sepultamento

Tendo sido embalsamado, o corpo de Frei Damião foi velado na Basílica de Nossa Senhora da Penha, no centenário bairro de São José, em Recife, PE. Os governos federal e estadual declararam luto oficial. E ao longo de três dias de velório, mais de 300 mil pessoas enfrentaram filas quilométricas, passando até cinco horas para chegar ao local do velório, a fim de dar-lhe o último adeus.

Personagens de renome fizeram-se presente ao velório, desde clérigos, religiosos e religiosas, políticos, artistas a fiéis comuns. A morte do "Missionário do Nordeste" foi anunciada pelos principais meios de comunicação do país e do estrangeiro, especialmente na sua terral natal, a Itália, e até mesmo na Rádio Vaticano.

No dia 04/06/1997, o corpo de Frei Damião foi levado em carro aberto até ao Estádio do Arruda, para a missa solene de despedida, presidida pelo arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, e concelebrada por dezenas de bispos e centenas de padres. Do estádio, em helicóptero, foi transportado para o Convento São Félix de Cantalice, no bairro do Pina, em Recife, PE, onde vivera seus últimos anos de vida. Ali, na capela dedicada à Nossa Senhora das Graças, foi sepultado sob cânticos, aplausos e pétalas de rosas.


As Romarias e a Fama de Santidade

Desde o sepultamento, todos os domingos, muitos fiéis, romeiros e romeiras, advindos dos mais diversos recantos do Nordeste e d’outras partes do país, alguns até do estrangeiro, acorrem ao túmulo de Frei Damião, para rezar e suplicar a Deus uma graça por sua intercessão. São sempre festa, devoção, piedade e alegria, como nos dias das Santas Missões.

A fama de santidade de Frei Damião espalha-se a cada dia. Ele é, para todo cristão, um modelo de seguimento de Jesus Cristo e de concretização do mandato do Senhor: "Sede santos como o vosso Pai do Céu é santo" (Mt 5,48). 

Afirmam os confrades contemporâneos de Frei Damião que sua fama de santidade já começara na Itália, destacando-se como frade piedoso e zeloso sacerdote, entregue à oração, à contemplação e de profunda identificação com o carisma capuchinho de viver em fraternidade, segundo a forma do Santo Evangelho. Aqui no Brasil, destacou-se, além disso, por sua resistência como confessor, sua sabedoria como pregador e sua convicção das verdades de fé que anunciava, deixando-as transparecer pelo seu exemplo de vida, e também por sua identificação franciscana com os pobres e desvalidos do Nordeste, terra tão sofrida e marcada pelas intempéries do tempo e das injustiças sociais. Por isso, valeu-se do dom da escuta, para acolher e ouvir a todos que o procuravam, na partilha sincera de suas vivências e nos sussurros ao pé do ouvido feitos por muitos que não tinham voz nem vez, e que Frei Damião em prece levava ao coração de Deus.

É claro que no coração dos nordestinos Frei Damião já tem um altar, pois todos reconhecem a sua santidade, mas isso precisa ser analisado e reconhecido pela santa Igreja, a quem compete pronunciar-se oficialmente sobre a santidade de uma pessoa e apresentá-la como modelo ao mundo, inclusive dando-lhe as honras dos altares. Para isso, está em trâmite o seu Processo de Beatificação e Canonização, aberto em 2003.

Nílton Santos

NÍLTON SANTOS
(88 anos)
Jogador de Futebol

* Rio de Janeiro, RJ (16/05/1925)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/11/2013)

Nílton dos Santos foi um futebolista brasileiro que atuava como lateral-esquerdo. Em 2000, foi eleito pela FIFA como o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos. Foi o precursor em arriscar subidas ao ataque através da lateral do campo. Revolucionou a posição de lateral-esquerdo, utilizando-se de sua versatilidade ao defender e atacar, inclusive marcando gols, numa época do futebol que apenas tinha a função defensiva.

Integrou o plantel da seleção brasileira nos campeonatos mundiais de 1950, 1954, 1958 e 1962, tendo sido bicampeão nas duas últimas.


Botafogo

Enquanto cumpria serviço militar foi descoberto por um oficial da Aeronáutica. Levado para jogar no Botafogo em 1948, somente deixou General Severiano em 1964 quando abandonou os gramados. Sua estréia com a camisa do clube da estrela solitária aconteceu contra o América Mineiro. No campeonato carioca de 1948, disputou seu primeiro jogo contra o Canto do Rio Foot-Ball Club em Caio Martins. O Botafogo venceu de 4 x 2. O alvinegro de General Severiano foi o campeão carioca de 1948.

Nílton Santos atuou sua carreira toda no Botafogo, onde conquistou por quatro vezes o Campeonato Estadual, 1948, 1957, 1961 e 1962; o Torneio Internacional de Paris em 1963, além de vários outros títulos internacionais. Participou de 718 partidas pelo clube sendo o recordista.

Tão adorado quanto Garrincha, tão respeitado quanto Pelé. Com sua habilidade e categoria, Nilton Santos ultrapassou o conceito de maior lateral esquerdo da história do futebol mundial. Ao ser chamado de "A Enciclopédia do Futebol", teve de forma definitiva o merecido reconhecimento de sua incrível capacidade de encantar o torcedor. Em toda sua carreira jogou apenas no Botafogo e, além do Glorioso, a única camisa que usou foi a da Seleção Brasileira. No Botafogo, disputou 723 partidas, marcando 11 gols. Na Seleção Brasileira, fez 84 jogos, marcando 3 gols.

Segurança na marcação era uma de suas virtudes. Com sua dinâmica de jogo, tornou-se o precursor dos laterais que buscavam o ataque, tendo marcado um gol na Copa de 1958, contra a Áustria, fato raro na época em que lateral era apenas marcador de ponta. Se taticamente tinha sua importância para o esquema do Botafogo e da Seleção Brasileira, foi fora de campo que marcou um de seus mais belos gols: quando, após enfrentar Mané Garrincha num treino, Nílton Santos praticamente forçou o Botafogo a contratar o então desconhecido ponta-direita.

No Botafogo, Nílton Santos foi campeão carioca quatro vezes (1948, 1957, 1961 e 1962) e conquistou dois Torneios Rio-São Paulo (1962 e 1964). Foi bicampeão mundial pela Seleção Brasileira, em 1958 e 1962, e esteve também nas Copas de 1950 e 1954. Nunca perdeu uma decisão e, assim como Garrincha, foi eleito, em pesquisa feita pela FIFA em 1998, para a seleção de todos os tempos.


Seleção Brasileira

Nílton Santos estreou na Seleção Brasileira no sul-americano de 1949, a competição foi realizada no Brasil que acabou campeão. Participou da Copa do Mundo de 1950 onde foi vice-campeão. Ainda foi campeão com a seleção do Pan-Americano de 1952, bi campeão mundial em 1958 na Suécia e 1962 no Chile. Atuou em 75 partidas oficiais e 10 não oficiais. Sua despedida da Seleção Brasileira ocorreu na final da Copa de 1962. Marcou dois gols com a camisa da seleção2 .

Na Seleção Brasileira, Nílton Santos foi um jogador chave na defesa durante os campeonatos mundiais em que participou e ficou famoso internacionalmente por marcar um gol magnífico no torneio de 1958, quando o Brasil jogou com a Áustria. Trazendo a bola do campo de defesa e driblando o time adversário inteiro, e deixando doido o técnico Vicente Feola, finalizou com um ótimo chute.

Outra jogada de gênio sempre lembrada aconteceu contra a Espanha, na Copa do Mundo de 1962, no Chile, considerada a partida mais difícil daquela campanha. Nílton Santos derrubou o atacante espanhol muito perto da linha lateral da grande área, cometendo pênalti. Quando o juiz se aproximava, ele deu um passo à frente, saindo mansamente da grande área, sem estardalhaço. Para sorte do Brasil, enganado, o árbitro não percebeu e acabou marcando falta fora da área.

Garrincha e Nilton Santos
Garrincha

Nílton Santos também fez história no futebol brasileiro fora das quatro linhas. Já consagrado, teve de enfrentar em um treino do Botafogo um jovem desconhecido e malvisto por ter as pernas tortas. A dificuldade para marcar Mané Garrincha naquela atividade levou o lateral a convencer o Botafogo a contratar o homem que viria a ser o maior nome da história do clube.

Depois de encerrar a carreira, Nílton Santos chegou a fazer parte da cúpula do futebol do Botafogo, mas a carreira como dirigente chegou ao fim quando agrediu com um soco o então árbitro Armando Marques, após uma partida no Maracanã, em 1971.

Ele chegou a ter uma escolinha de futebol em Uberaba, MG, antes de se mudar para o Distrito Federal.


Vida Como Ex-jogador

Depois que parou de jogar, Nílton Santos se especializou em contar passagens divertidas da vida de Garrincha, seu compadre e amigo íntimo de muitos anos. Ele dizia, por exemplo, que na sua frente Garrincha, um contumaz alcoólatra, nunca havia tomado um gole, pedindo sempre um copo de água quando o via.

Escreveu "Minha Bola, Minha Vida", livro que conta sua história através dos campos do mundo. Ele também foi homenageado no Cantinho da Saudade em dezembro de 1999, no Museu dos Esportes Edvaldo Alves de Santa Rosa - Dida, que fica localizado no Estádio Rei Pelé em Maceió, AL.

Nílton Santos faz parte do FIFA 100. E foi homenageado no Prêmio Craque do Brasileirão de 2007. Foi eleito pela International Federation Of Football History & Statistics (IFFHS), o 9º maior jogador brasileiro do século, o 28º da América do Sul, e o maior lateral esquerdo de todos os tempos pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA).


Falecimento

Nilton Santos faleceu às 15:50 hs de quarta-feira, aos 88 anos de idade, após uma infecção pulmonar. A morte do jogador na Clínica Bela Lopes, Zona Sul do Rio de Janeiro, foi confirmada por uma rede social do Glorioso.

O jogador sofria de Mal de Alzheimer há cinco anos e estava residindo na clínica em que morreu, porque precisava de acompanhamento de médicos e enfermeiros. O ídolo deixava a clínica em poucos momentos e, na maioria das vezes, era para tratar alguma emergência em um hospital ou pronto-socorro.

No último sábado, 23/11/2013, Nilton Santos foi internado em um hospital do Rio de Janeiro por causa de uma insuficiência respiratória. A informação foi confirmada no domingo, 24/11/2013, pela equipe de General Severiano.

Nílton Santos deixou a mulher Célia, que hoje luta contra um câncer no cérebro e mora em Aruarama, região dos Lagos, também no Rio de Janeiro. O velório ocorrerá na quarta-feira, 27/11/2013, às 22:00 hs, no Salão Nobre do Botafogo.

Fonte: Wikipédia, Gazeta Esportiva e Folha de S.Paulo

Jancarlos

JANCARLOS DE OLIVEIRA BARROS
(30 anos)
Jogador de Futebol

* Natividade, RJ (15/08/1983)
+ Petrópolis, RJ (22/11/2013)

Jancarlos de Oliveira Barros, mais conhecido apenas como Jancarlos, foi um futebolista brasileiro que atuava como lateral-direito.

Revelado pelo Fluminense, Jancarlos alternou bons e maus momentos com a camisa tricolor. Ganhou o título do Campeonato Carioca de 2002. Deixou o clube em 2004, quando foi atuar pelo Esporte Clube Juventude. No primeiro semestre de 2005 já atuou no campeonato gaúcho pelo Juventude, após o término se transferiu para o Clube Atlético Paranaense.

Em 2005, chegou ao clube onde obteria maior destaque, o Clube Atlético Paranaense. Logo em seu primeiro ano, ajudou o clube a ser campeão paranaense e vice da Libertadores da América. Suas assistências, gols e velocidade eram suas principais marcas pelo rubro-negro.

Por tais características, o São Paulo contratou o lateral em 2008 para ser titular. Entretanto, Jancarlos não obteve sua regularidade no começo e acabou a temporada sendo terceira opção de Muricy Ramalho, atrás de Zé Luís e Joílson.


Em 2009, com a necessidade de ter mais um lateral, o Cruzeiro Esporte Clube contratou Jancarlos. Com a camiseta celeste, Jancarlos não obteve a titularidade, cedendo à concorrência de Jonathan, no time que chegou à final da Libertadores da América de 2009. Ao final da temporada, o jogador foi dispensado pelo clube, já que o seu trabalho não agradou ao técnico Adilson Batista.

No dia 28/01/2010, Jancarlos acertou contrato de dois anos com o Botafogo, em seu retorno ao Rio de Janeiro. Depois de pouco atuar pelo alvinegro carioca, o jogador foi emprestado ao Bahia até o fim de 2010.

A maior carência do time do Bahia no ano de 2010 era a lateral-direita. Sete jogadores passaram pela posição, e nada acrescentaram ao time. Com isso, a diretoria tricolor, ao anunciar o empréstimo de Jancarlos, conseguiu cobrir a maior deficiência que existia, e que atrapalhava a evolução tricolor na Série B de 2010. No dia 16/10/2010, porém, o jogador recebeu uma violenta entrada do atleta Jeff Silva, do Clube Náutico Capibaribe, e acabou rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho direito, ficando afastado do futebol por 6 meses.

Em 2012 acertou com o Ituano Futebol Clube para a disputa do Paulistão. Ainda em 2012 acertou com o America Football Club para a disputa da Copa Rio.

Em 2013, acertou com o Volta Redonda Futebol Clube para a disputa do Estadual de 2013.

O último clube que o jogador defendeu na vida foi o Rio Branco Atlético Clube do Espírito Santo.


Morte

Em 22/11/2013, o jogador veio a falecer após sofrer um acidente de carro em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro. O veículo Hyundai com placa de Duque de Caxias conduzido pelo jogador despencou em uma ribanceira localizada na BR-040, sentido capital, no bairro Itaipava. Socorrido pela equipe do Corpo de Bombeiros, Jancarlos faleceu a caminho do hospital. Ele só foi identificado no início da noite de 22/11/2013, pouco depois de ter sofrido o acidente.

Jancarlos viajava pelo interior do Rio de Janeiro para fechar com o Duque de Caxias. Desta forma, voltaria a atuar pelo Campeonato Carioca na próxima temporada.


Títulos

Fluminense
  • Rio de Janeiro Campeonato Carioca: 2002

Atlético Paranaense
  • Paraná Campeonato Paranaense: 2005

São Paulo
  • Brasil Campeonato Brasileiro: 2008

Cruzeiro
  • Minas Gerais Campeonato Mineiro: 2009
  • Uruguai Torneo de Verano: 2009

Botafogo
  • Rio de Janeiro Campeonato Carioca: 2010


Fonte: Wikipédia
Indicação: Neyde Almeida

Célia Villela

CÉLIA DA CONCEIÇÃO VILLELA
(68 anos)
Cantora

* Belo Horizonte, MG (24/11/1936)
+ Petrópolis, RJ (01/01/2005)

Célia da Conceição Villela nasceu em 24/11/1936, em Belo Horizonte, MG. Célia Villela começou sua carreira artística com 4 anos de idade, quando foi levada por sua mãe a um programa infantil das Emissoras Associadas de Belo Horizonte. Sua atuação no programa agradou tanto que passou a ser atração fixa do mesmo, com a aprovação dos pais.

Tornou-se profissional em 1947, quando tinha 10 anos, ganhando 50 cruzeiros por apresentação. Ao mesmo tempo em que atuava no rádio, sua família não se descuidou de sua educação. Depois do curso primário, fez o secundário na Escola Izabel Hendricks. Fêz também uma prova na academia de balé da professora Natile Lessa, que lhe garantiu uma bolsa de estudos integral.

Em 1950, com 13 anos, estava em plena moda o ritmo do baião e Célia Villela foi eleita a Rainha do Baião de Minas Gerais, e passou a ter seu programa próprio na Radio Guarani de Belo Horizonte, que se chamava "Aí Vem o Baião", irradiado das 20:00 hs às 20:30 hs.

Estava iniciando o curso científico quando foi contratada pela Radio Tupi do Rio de Janeiro. Era uma época de renovação nas Emissoras Associadas, e haviam contratado muitos elementos da Radio Nacional, inclusive Brandão Filho. Célia Villela mudou-se para o Rio de Janeiro com sua mãe e somente mais tarde é que sua irmã Marlene veio ao seu encontro. O ordenado de Célia Villela na Tupi era de 3.500 cruzeiros mensais e ela, vendo que precisava ganhar mais, aceitou um convite de Carlos Machado, o grande empresário do teatro burlesco, para ingressar no seu elenco. Tinha então quase 15 anos, mas aumentou a idade nos documentos para 18 anos e conseguiu que seu pai lhe concedesse a emancipação.

Sua carreira em boite começou na Beguin, night-club no Hotel Glória, ganhando 7.000 cruzeiros. Tomando parte em diversos shows de Carlos Machado, mais tarde no Night & Day, também viajou muito. Sua primeira excursão foi para Curaçao, Caracas e Puerto Rico e foi uma prova de fogo.

No Hotel Tamanaco de Caracas, a maior parte do elenco feminino ficou gripada e Célia Villela, além de seus papéis, teve que fazer o das outras. O trabalho exaustivo prejudicou sua saúde e em San Juan de Puerto Rico ficou uma semana acamada, com pneumonia. Com a trupe de Carlos Machado ainda esteve no Uruguay, Argentina  e até em Cuba, onde trabalhou muito tempo.

Celia foi aos Estados Unidos duas vêzes. Primeiro com a companhia de Carlos Machado e outra com Francisco Carlos e Marion, quando ficou por lá três meses. Sempre procurando estar a par do que se passava artísticamente no exterior, ela trouxe dos Estados Unidos os primeiros discos de Elvis Presley. De Puerto Rico trouxe um novo ritmo que começava a fazer sucesso por lá e que se chamava cha-cha-cha. Quis gravar o cha-cha-cha mas ninguém lhe deu ouvidos.

Carlos Machado precisava de uma crooner e ela, então, foi à Belo Horizonte buscar sua irmã Marlene Villela para o lugar. Sofreu outra pneumonia e resolveu deixar de trabalhar em boites, mesmo tendo um salário de 18.000 mensais.


Estudou violão e, ao ouví-la, Benil Santos levou-a para a RGE, para gravar um 78 rpm com as melodias "Trem Do Amor", versão também de Fred Jorge para "One Way Ticket To The Blues" (H. Hunter e J. Keller) e "Conversa Ao Telefone", versão de Fred Jorge para "Pillow Talk" (Peper James),  ambas lançadas num mesmo 78 rpm pela gravadora RGE, e "Passo A Passo", seu maior sucesso, versão de "Step By Step", hit do grupo norte-americano The Crests, todas incluídas no primeiro LP de Célia, intitulado "E Viva a Juventude!!!", lançado em 1961.

Um dia, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, ouvindo seu entusiasmo na defesa do rock, convidou-a para participar de seu programa na Radio Globo, justamente numa polêmica em que ele atacaria e ela defenderia o rock. Pouco depois Célia Villela era contratada pela Emissora Metropolitana e TV Continental, onde lançou o programa "Célia, Música e Juventude", e "Na Roda Do Rock", na Rádio Globo. Mais tarde na Rádio Guanabara animou o "Festival da Juventude" e posteriormente na TV Rio, apresentou o "Célia Vilela Na TV" aos sábados às 16:40 hs.

Entre os títulos que mais preza estão os de "10 Nomes Mais Queridos", "Revelação de Animadora de TV" de 1961 e "Rainha da Televisão de 1962-1963", todos eles ganhos em concursos da Revista do Radio.


O segundo LP de Célia Villela, "F-15 Espacial", somente foi lançado em 1964.

Célia Villela era candidata natural a substituir Celly Campello quando esta abandonou a carreira em 1962 para se casar, tanto que foi eleita Rainha da TV em concurso de 1963 da Revista do Rádio, conceituada na época.

A cantora aproveitou o reinado e lançou em 1964 o LP "A Rainha Da TV" pela Musidisc. Duas músicas do disco, "Dançando o Hully-Gully" e "Acho Que Me Apaixonei", foram incluídas no segundo e último LP da carreira, intitulado "F-15 Espacial", que se destaca por dois fatos: é um dos primeiros LPs brasileiros de rock lançados em estéreo e, pra arrematar, inclui composições de Roberto Carlos e Erasmo Carlos em separado. Repare que Roberto Carlos resgata "O Broto Displicente", na letra de "Acho Que Me Apaixonei", quando compôs "Parei Na Contramão", primeira obra em parceria com Erasmo. Este disco também serve para confirmar um fato conhecido: a produção individual dos músicos passou a ser assinada em dupla. Observe que o Erasmo Carlos aparece como o autor de "Alguém Na Vida Da Gente", mas logo na sequência, quando regravada na Chantecler por Idalina de Oliveira, o nome de Roberto Carlos é acrescentado.


Célia Villela e Neil Sedaka
Começou na piscina e acabou na boite...
Que o Neil Sedaka tem um xodó pela Célia Vilela, convenhamos, isso nem é preciso dizer. Está à vista. Basta lembrar que em sua primeira visita ao Brasil, em 1959, Neil Sedaka esteve sempre ao lado da jovem cantora, empolgado com sua simpatia e alegria contagiantes.
Depois, no início de 1960, cheia de saudades, foi Célia Villela quem viajou para a America do Norte, lá encontrando o mesmo Neil Sedaka, fazendo amizade ainda, com a familia Sedaka.
Longe um do outro, continuaram trocando cartas muito carinhosas, ela pedindo que ele voltasse ao Brasil. E Neil Sedaka voltou mesmo. No aeroporto do Galeão, a primeira pessoa a abraçá-lo foi Célia Villela, naturalmente. De manhã à noite durante a permanência de Neil Sedaka no Rio de Janeiro, Célia Villela esteve ao seu lado. Ele fez questão de mostrar-lhe o Rio de Janeiro, de norte a sul.
Estiveram nas praias, nas boites, em todos os recantos gostosos da nossa cidade. A Revista do Radio os surpreendeu na piscina do Copacabana Palace e também numa boite granfiníssima.
Se há mesmo romance? É claro que eles dizem que não. 'Somos apenas bons amigos'. Mas, sabem como é... Verdade é que, se o Rio de Janeiro tivesse cicerones assim, como a Celinha, o mundo inteiro viria para cá.
(Revista do Rádio - 04/03/1961)


Célia Villela e Carlos Becker
Casamento
Com a presença de pessoas muito íntimas e até com algum segrêdo, realizou-se em 30/09/1965, o casamento de Célia Villela. Ela já havia se afastado da vida artística e só souberam que a cantora havia casado, por ocasião do lançamento do seu novo LP, quando começou a dar entrevistas em programas de rádio.
Havia a intenção de fazer-se a cerimônia na intimidade, mas a doença da avó de Célia Villela agravou o caso. Por este motivo, a veneranda senhora estava à morte, foram eliminadas todas as festas e cancelada a recepção que seria oferecida aos amigos. Mas a avó de Célia, melhorou depois de realizado o casamento. Faleceu 3 meses depois, como se tivesse resistido até então para ver o casamento da neta.
Foi na casa do então noivo, em Copacabana que se realizou a cerimônia civil, mas com alguns amigos presentes. Perante os juízes e padrinhos, Célia Villela e Carlos Eduardo Becker foram declarados marido e mulher. Os padrinhos de Célia foram a tia de Carlos, Adelaide Azevedo Pinheiro e o irmão do noivo Sérgio Becker. Os padrinhos do noivo foram seus cunhados, Ialdi e Sônia Santos. Ela trajava um tubinho rosa, de shantung de sêda, com bolero tipo Chanel. Carlos estava de terno de tropical inglês cinza escuro e gravata cinza pérola.
Tudo estava combinado para que o ato religioso fôsse realizado num templo carioca com a presença dos amigos e do publico fã da cantora. Mas, quando faltavam poucos dias, Célia Villela lembrou-se de uma promessa que fizera e tudo foi modificado. Para cumprí-la os noivos foram à Aparecida do Norte, SP, e lá casaram em 05/10/1965,  na Igreja de Nossa Senhora da Aparecida. Os padrinhos de Célia foram os pais de Carlos, Adolfo Becker e Maria Clisie Becker, e os padrinhos de Carlos foram Marlene Villela e Sérgio Becker.
O vestido de Célia era um tubinho de seda branca, bordado com pedras de cristal e levando uma blusa interna de musselina branca. Na cabeça usava um chale de renda rosa claro com uma camélia em cima, e na mão um terço. Carlos usava terno de tropical azul-marinho.
Falando a reportagem, Célia declarou a intenção de abandonar a carreira artística, mantendo apenas para contato com os fãs, o seu contrato de gravações com a Musidisc, que recentemente lançou o LP "F-15 Espacial". Ela agora quer apenas cuidar do lar, do marido e dos filhos, quando estes vierem.
Há grande afinidade entre Célia Villela e Carlos Becker, não só afetiva, mas artística, pois ele é músico e dirigente do conjunto The Angels, da Copacabana Discos. Além de suas atividades artísticas, Carlos Eduardo exerce outra profissão, como funcionário de categoria do Banco do Estado da Guanabara, e acaba de ser aprovado em concurso para o Banco do Brasil. A lua de mel que teve a duração de 20 dias foi passada na fazenda do pai de Carlos situada perto de Nova Friburgo, RJ.
(Revista do Rádio) 

Célia poderia estourar na Jovem Guarda, mas antes do programa entrar no ar, no segundo semestre de 1965, a cantora abandonou a carreira e casou-se com o músico Carlos Becker. A partir de então se tornou reclusa e consta que Albert Pavão a teria convidado em 1987 para que desse seu testemunho sobre a História do Rock Brasileiro para o Museu de Imagem e Som do Rio de Janeiro, mas Célia Villela não aceitou.

Célia Villela faleceu em 2005, em Teresópolis, Rio de Janeiro, em 01/01/2005, e não há maiores detalhes a respeito.

Indicação: Miguel Sampaio

Geraldo Pereira

GERALDO TEODORO PEREIRA
(37 anos)
Cantor e Compositor

* Juiz de Fora, MG (23/04/1918)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/05/1955)

Filho de Sebastão Maria e de Clementina Maria Teodoro, tinha três irmãos. Nasceu em Juiz de Fora, MG, e em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané e que morava no Santo Antônio, no Morro da Mangueira. Passou a trabalhar como ajudante do irmão no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira.

Pouco tempo depois, deixou de trabalhar na tendinha do irmão e empregou-se como soprador de vidro na Fábrica de Vidro José Scaroni, na Rua Gonzaga Bastos, lá permanecendo por pouco tempo. Já nessa época, participava de rodas de samba no Morro da Mangueira na casa de Alfredo Português.

Em 1931, passou a estudar na Escola Pará, em Vila Isabel, posteriormente Escola Olímpia do Couto, onde fez o curso primário. Nessa época, conheceu Buci Moreira, Padeirinho e Fernando Pimenta, que tinham idade semelhante a sua e que se tornariam futuros sambistas.

Terminou o curso primário e, adolescente ainda, já compunha sambas para a escola Unidos de Mangueira, hoje extinta. Logo fez amizades com os bambas do morro e aprendeu violão com Cartola e Aloísio Dias.


Aos 18 anos, deixou o morro para viver no subúrbio de Engenho de Dentro e tirou sua carteira de motorista. Logo mudou-se para a Lapa, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro como motorista de caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Passou a frequentar os bares da cidade, inclusive o Café Nice, ponto de encontro de sambistas e da boêmia carioca. Com parceria de Nelson Teixeira, compôs o samba "Se Você Sair Chorando", gravado em 1939 na Odeon pelo cantor Roberto Paiva. Inscrita no concurso carnavalesco promovido em 1940, a música classificou-se entre as finalistas.

Por volta de 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como "Acabou a Sopa" (Geraldo Pereira e Augusto Garcez) gravado em 1940 por Cyro Monteiro, que se tornaria um de seus mais fiéis interpretes e o principal divulgador de suas obras, e "Liberta Meu Coração", gravada em 1947 por Abílio Lessa.

Nos anos seguintes, diversas músicas suas foram gravadas por cantores de destaque: os sambas "Falta de Sorte" e "Pode Ser?" (Geraldo Pereira e Marino Pinto), foram gravados respectivamente por Aracy de Almeida e Isaura Garcia, em 1941.

Nos anos de 1942 e 1943, Odete Amaral, Moreira da Silva e o grupo Quatro Ases e Um Curinga lançaram composições suas. Em 1943 apresentou-se no programa "Vesperal das Moças", na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro. Durante essa época, fez amizade com Valdir Machado, que o incentivava a cantar e que se tornou seu parceiro. Fez algumas apresentações esporádicas na Rádio Nacional.

Em 1944 participou do filme "Berlim na Batucada", de Luís de Barros, interpretando o papel do Cabo Laurindo. Foi também em 1944 que conseguiu seu primeiro grande sucesso, com a gravação de "Falsa Baiana", por Cyro Monteiro, samba inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar com sua fantasia de baiana no Carnaval. O samba deu-lhe renome nacional.


"Bolinha de Papel", gravado pelos Anjos do Inferno em 1945, repetiu o êxito do ano anterior. Ainda em 1945, depois de aprovado num teste da gravadora Continental, o sambista estreou como cantor, interpretando os dois lados de um 78 rpm: "Mais um Milagre" e "Bonde de Piedade" (Geraldo Pereira e Ari Monteiro). O disco não alcançou sucesso e ele preferiu lançar suas criações seguintes por meio de outros cantores.

Em 1949, Blecaute gravou "Que Samba Bom", um dos maiores sucessos de venda da década. Em 1950, o próprio compositor gravou "Pedro do Pedregulho", lançando-se definitivamente como intérprete de suas composições a partir de 1951, quando Cyro Monteiro se encontrava impossibilitado de gravar, por conta de uma doença nos pulmões. Gravou o samba "Escurinha" (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos) na Sinter. Ainda no mesmo ano, tornou a compor em parceria com Wilson Batista, saindo pela Continental o samba "Cego de Amor", na voz de Deo.

Em 1952 participou do filme "O Rei do Samba", de Luís de Barros. Interpretado por ele, a RCA Victor lançou, em 1953, "Cabritada Malsucedida" (Geraldo Pereira e Jorge Gebara). O ano de 1954 marcou seu último grande sucesso, "Escurinho", gravado na Todamérica por Cyro Monteiro.

Participou ainda do espetáculo "Clarins em Fá", na boite Esplanada, em São Paulo, fazendo muito sucesso com seu samba "Pau Peroba" (Geraldo Pereira, Buci Moreira e Albertina Rocha). Nesse ano, registrou na Columbia suas últimas produções, "Maior Desacerto" (Geraldo Pereira, Silva Júnior e Ari Garcia) e "Eu Vou Partir", título que parecia prever o fim prematuro de sua vida atribulada.


Em 08/05/1954, aos 37 anos, encerrava uma carreira de grande sambista, e em muitos pontos inovadora. Geraldo Pereira morreu vítima de hemorragia intestinal, aos 37 anos, em conseqüência de uma briga num bar da Lapa com o lendário malandro Madame Satã.

Após sua morte, diversas composições suas foram regravadas. Nos anos 60, João Gilberto regravou "Bolinha de Papel". Em 1971, Paulinho da Viola regravou "Você Está Sumindo". Em 1980 foi lançado o disco "Wilson, Geraldo e Noel", no qual João Nogueira interpreta composições de Geraldo Pereira, Noel RosaWilson Batista.

Em 1981, a gravadora Eldorado lançou o LP "Evocação V", inteiramente dedicado ao compositor, interpretado por Elton Medeiros, MonarcoJackson do Pandeiro entre outros. Sua música "Se Você Sair Chorando" foi regravada nesse disco por um coro de oito cantores.

No Carnaval de 1982, o compositor foi homenageado no enredo "Geraldo Pereira, Eterna Glória do Samba" (João Ramos Pacheco), da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.

Em 1990, Chico Buarque regravou "Sem Compromisso" (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro).

Em 1995 foi lançado o livro "Um Escurinho Direitinho: A Vida e a Obra de Geraldo Pereira", de autoria de Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença (Relume-Dumará, Rio de Janeiro).

Em 1996, Zizi Possi cantou "Escurinha" em seu show e, em 1997, Gal Costa regravou com grande sucesso o samba "Falsa Baiana", em seu CD "Acústico MTV".

Indicação: Eric Spagnuolo