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Heitor dos Prazeres

HEITOR DOS PRAZERES
(68 anos)
Cantor, Compositor e Pintor

* Rio de Janeiro, RJ (23/09/1898)
+ Rio de Janeiro, RJ (04/10/1966)

Heitor dos Prazeres foi um compositor, cantor e pintor autodidata brasileiro. Nascido da família simples do marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, Eduardo Alexandre dos Prazeres, e da costureira Celestina Gonçalves Martins, moradores da Rua Presidente Barroso, no bairro da Cidade Nova (Praça Onze), Heitor dos Prazeres nasceu no dia 23/09/1898, somente uma década após a abolição da escravatura.

Sua chegada trouxe muita alegria a seu pai, esperançoso de que o filho desse continuidade ao nome Prazeres, pois na ocasião o casal tinha duas filhas: Acirema e Iraci, que ajudavam a mãe nos serviços caseiros e nas encomendas de costuras.

E Lino, como era chamado carinhosamente por suas irmãs, foi crescendo e aprendendo os primeiros passos e as primeiras palavras no convívio daquela família, onde todos procuravam manter a união no trabalho para que pudessem conservar aquele nível social e não acontecesse como em outras famílias negras que, marginalizadas por perseguições raciais e sociais, não arranjavam empregos, moradias e escolas e passavam a se agrupar em morros perto dos grandes centros, criando assim as favelas.

E Heitor dos Prazeres foi crescendo, e com ele as favelas. Ao completar sete anos de idade foi surpreendido com a morte de seu admirável pai, que naquela época já começava a lhe ensinar os primeiros passos na profissão de marceneiro e alegrava as longas tardes e noites daquela casa, solando, em seu clarinete, dobrados, polcas, valsas e choros, provocando, assim, o ouvido musical de seu filho Lino.

As ferramentas no armário do quintal, o clarinete em cima da cristaleira e o piano trancado em um canto da sala traziam para o menino Heitor fortes lembranças de seu pai, cuja morte ele questionava. Dona Celestina, mulher forte e dinâmica, respondia ao menino contando a história de seus antepassados, escravos vindos da África, numa jornada sofrida e desumana. E comparava a situação de sua família, até certo ponto privilegiada, graças à dedicação e ao trabalho do pai, em comparação a outros irmãos negros. E justificava a morte do pai Eduardo Alexandre dos Prazeres, atribuindo à vontade de Deus, consolando assim as suas crianças.


Com a ajuda de suas filhas, de parentes e amigos, entre eles o tio Hilário Jovino (Lalu de Ouro) que, entusiasmado com a vocação musical de Lino, deu-lhe o primeiro cavaquinho -, Dona Celestina conseguiu matricular o menino numa escola profissionalizante, onde cursava o primário e aprendia a profissão de marceneiro. Heitor desenvolveu-se tendo como modelo o tio, cujo modo de compor ele admirava, sendo mais tarde influenciado por ele em suas primeiras composições, despertando o interesse do pianista Sinhô por aquele estilo de composição.

Heitor engraxate, Prazeres jornaleiro e Lino ajudante de marceneiro e lustrador de móveis, todos esses personagens dentro de um corpo negro, franzino e arisco, com gingado de capoeira, na fase dos seus 12 anos, deram força ao Heitor do Cavaquinho, que na época já participava das reuniões nas casas das tias, onde se cultuavam ritmos afros como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba etc., destacando-se como um grande ogã-ilu e ogã-alabé, improvisando versos, ritmando nos instrumentos de percussão e harmonizando em seu cavaquinho, presenteado por tio Lalu, instrumento este que se tornou o amigo inseparável do menino Heitor dos Prazeres. A essas reuniões geralmente Lino era levado por seus familiares, especialmente por seu tio Hilário, que sempre o incentivava no instrumento, fazendo com que Heitor o acompanhasse em seus improvisos. Esses encontros eram feitos nos fins de semanas em casas de parentes e amigos, como na casa da própria vovó Celi, tia Esther, de Oswaldo Cruz, tia Ciata (Maria Hilária Batista de Almeida), onde aconteciam reuniões das mais famosas da época e onde se encontravam vários bambas, como Lalu de Ouro, José Luiz de Moraes (Caninha), João Machado Guedes (João da Baiana), José Barbosa da Silva (Sinhô), Getúlio Marinho (Amor), Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Donga), Saturnino Gonçalves (Satur), Alfredo da Rocha Viana (Pixinguinha), Paulo Benjamim de Oliveira (Paulo da Portela) e muitos outros sambistas daquela época.

A partir daí Heitor caiu no mundo: cavaquinho em punho, caixa de engraxate e a bolsa ao lado de carregar os jornais, saiu ele na conquista de sua cidade e de sua formação nesta grande escola da vida, dedilhando seu instrumento, deixando-se levar pela magia daquele som, descobrindo acordes, tentando conhecê-los mais intimamente.


Nas redondezas de seu bairro, preferia os pontos onde existia música, como as cervejarias da Praça Onze, com suas sessões de cinema mudo, animadas por pianistas ou pequenos conjuntos musicais que fascinavam o garoto Lino, ali assistindo do lado de fora, atento aos movimentos dos músicos que tiravam sons de seus instrumentos a cada movimento das cenas filmadas. Ele gostava também dos cafés nos arredores da Lapa, onde ia ouvir as orquestras de valsas e choros que animavam as noites da bela época do Rio de Janeiro. Ao fim de cada apresentação, o maestro passava seu elegante chapéu de palha entre os frequentadores, arrecadando dinheiro para os instrumentistas, que geralmente no fim das noitadas arranjavam propostas para serenatas dedicadas às pretendidas dos mais românticos frequentadores daqueles requintados cafés.

Nos prazeres das noites cariocas ele foi crescendo. E nos carnavais, já rapazinho e se destacando entre os bambas, Heitor dos Prazeres costumava sair fantasiado de baiana, levando nos ombros um pano da costa em cores vivas, cantando e tocando seu cavaquinho, arrastando foliões que dançavam animadamente segurando as extremidades do pano como uma bandeira, fato esse que inspirou Heitor dos Prazeres a criar um estandarte para outros carnavais.

Na década de 20, passou a ser conhecido como Mano Heitor do Estácio, devido ao fato de andar sempre acompanhado de bambas de sua amizade como os sambistas e compositores João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), Marçal, ajudando a fundar e a organizar vários agrupamentos de samba no Rio Comprido, no Estácio e nas imediações. Chegando até a Mangueira e Oswaldo Cruz, onde havia reuniões a que compareciam Cartola, Paulo de Oliveira, conhecido mais tarde como Paulo da Portela, João da Gente, Mané Bambambam e muitos outros, participando assim da criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém Se Lembra e Vizinha Faladeira, no Estácio; Prazer Da Moreninha e Sai Como Pode, em Madureira, que se transformaram na sua querida Portela, à qual ele deu as cores azul e branco.

Heitor dos Prazeres participou também dos primeiros passos da Estação Primeira de Mangueira, aonde ia contratar as pastoras para apresentações em festas e cassinos com seu amigo e parceiro Cartola.

Paulo Benjamim de Oliveira (Paulo da Portela), Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos (Bide) e Armando Marçal caminham no bairro Engenho de Dentro
Sua popularidade crescia. Heitor vivia e amava muito. Em 1925 compôs "Deixaste Meu Lar" e "Estás Farto de Minha Vida", gravada por Francisco Alves. Uma de suas paixões o censurava muito por sua vida boêmia, e por causa disso ele se inspirou e fez "Deixe a Malandragem Se És Capaz".

Em 1927 começou sua famosa polêmica com Sinhô, a primeira polêmica na Música Popular Brasileira. Apresentando-se em uma das mais populares festas do Rio de Janeiro, a de Nossa Senhora da Penha, onde eram lançadas as músicas que o povo cantaria durante o carnaval, foi surpreendido quando ouviu a música "Cassino Maxixe", gravada por Francisco Alves, sendo a autoria atribuída exclusivamente a Sinhô. Heitor dos Prazeres ficou chateado e foi reivindicar sua parceria na música. Sinhô, meio desconcertado, desculpou-se com aquela célebre frase no mundo do samba: "Samba é como passarinho, a gente pega no ar!"

Heitor dos Prazeres, então, fez um samba de alerta aos companheiros, "Olha Ele, Cuidado", obtendo como resposta o samba "Segura o Boi"Sinhô, na época, era chamado Rei do Samba, o que levou Heitor dos Prazeres a compor a música "Rei Dos Meus Sambas"Sinhô tentou inutilmente impedir que o samba fosse gravado e distribuído. Embora tivesse vencido a questão, e com isso o reconhecimento público pela autoria, Heitor dos Prazeres não conseguiu a indenização prometida por Sinhô.

Em 1931, casou-se com Glória, com quem viveu até 1936, nascendo como fruto desta união três filhas: Ivete, Iriete e Ionete Maria.

A prefeitura do Distrito Federal, em 1943, promoveu o Primeiro Concurso Oficial de Música para o Carnaval, do qual Heitor dos Prazeres foi vencedor com o samba "Mulher De Malandro", interpretado por Francisco Alves. Nessa época Heitor dos Prazeres já trabalhava nas primeiras emissoras de rádio do Rio de Janeiro, fazendo apresentações com seu cavaquinho, acompanhado de vozes femininas, ritmistas e passistas, grupo este que se denominava Heitor dos Prazeres e Sua Gente.


Em 1933, compôs a célebre "Canção Do Jornaleiro", na qual descrevia a vida dos meninos que andavam pelas ruas da cidade vendendo jornais, numa lembrança de sua infância. A música deu origem à campanha em prol da construção da Casa do Pequeno Jornaleiro.

Com a morte da esposa em 1936, da paixão e tristeza de Heitor dos Prazeres surgiu uma nova maneira de se expressar artisticamente. O compositor descobriu o pintor ao ilustrar, através de um desenho colorido, sua mais nova criação musical: "O Pierrot Apaixonado".

Nessa ocasião o artista morava num quarto na Praça Tiradentes, que era frequentado por pessoas atraídas pela fama de Heitor no meio dos bambas e pelo conhecimento que tinha dos lugares onde aconteciam as reuniões mais importantes da cultura afro-brasileira: candomblés, umbandas, jongadas, capoeiras e rodas de sambas, entre outras. Entre tais frequentadores, na maioria universitários, lá estava um estudante de medicina que se lançava como grande boêmio e sensível compositor de sucesso no mundo fonográfico, Noel Rosa, que fora procurar o amigo bom de briga, famoso também por sua habilidade no jogo da capoeira nas imediações, onde um marinheiro grande e forte queria tomar a sua namorada. E Heitor dos Prazeres então foi lá resolver o problema do companheiro.

Chegando ao bar onde já era conhecida sua fama de capoeirista dos bons, o tal marinheiro percebeu que tinha embarcado em uma canoa furada, e foi se desculpando com o bamba, que o mandou ancorar em outra praia, para felicidade do casal. Ao voltarem contentes, Heitor dos Prazeres foi cantarolando a marcha que estava compondo, tendo despertado a curiosidade de Noel Rosa, que disse ter gostado muito da letra, em cuja segunda parte havia uma frase que ele considerava muito forte e triste: "Depois de tanta desgraça, ele pegou na taça e começou a rir".


Noel Rosa sugeriu que ele modificasse aquela parte da letra, e escreveu: "Levando este grande chute foi tomar vermute com amendoim", entrando assim na parceria de uma das músicas de maior sucesso de Heitor dos Prazeres. Na mesma noite chegaram outros estudantes à procura do mestre, entre eles Carlos Drummond de Andrade, que levava nas mãos um poema dedicado ao amigo para que fosse transformado em música. O compositor não conseguiu musicá-lo, porém mais tarde o pintor se inspiraria a criar um quadro com o nome do poema que Carlos Drummond de Andrade lhe dedicara: "O Homem e Seu Carnaval" (1934). Este ilustre estudante e um outro - não menos ilustre - estudante de jornalismo, além de desenhista, Carlos Cavalcante, foram, juntamente com o pintor Augusto Rodrigues, os incentivadores e lançadores do artista plástico Heitor dos Prazeres. Artista plástico porque sua plasticidade não se resumia ao desenho de figuras e às cores de sua pintura, abrangendo também a criação e confecção de instrumentos musicais de percussão, chegando até a costura - nos modelos de seus ternos, nas roupas de seu grupo de shows -, o mobiliário e a tapeçaria decorativa.

Em 1937 começou a se projetar como pintor, participando de exposições, sempre incentivado pelos amigos. Começava assim a dupla atividade de sambista e pintor.

No ano de 1939, participou em São Paulo, nas rádios Cruzeiro do Sul e Cosmo, do Carnaval do Povo, com mais de 100 artistas, entre os quais Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (Dupla Branco e Preto, mais tarde Trio de Ouro com Dalva de Oliveira) e muitos outros sambistas e cantores, que foram recebidos pelo então locutor e baliza Adoniran Barbosa, o anfitrião daquele grande evento de cultura brasileira, realizado em praça pública, marcando a entrada do samba na terra da garoa. Dali a excursão se estendeu a Buenos Aires e Montevidéu.

Heitor dos Prazeres: Favela Com Tintureiro
Devido ao sucesso de tais espetáculos, esse tipo de música começou a ser requisitado pelos grandes salões. E ao voltar das excursões o elenco foi contratado por cassinos, teatros, rádios, etc.

No final da década de 30, além de trabalhar em emissora de rádio, Heitor dos Prazeres fazia parte do elenco do Cassino da Urca, onde tocava, cantava e dançava em companhia de Grande Otelo e Josephine Backer, daí vindo a conhecer o cineasta Orson Welles, que o contratou como arregimentador de figurantes para um filme sobre a cultura afro-brasileira, mais precisamente o samba e o carnaval.

Novo casamento aconteceu nessa época, Heitor dos Prazeres e Nativa Paiva, uma de suas pastoras, que lhe deu dois filhos: Idrolete e Heitorzinho dos Prazeres, um menino tão esperado que o inspirou na composição da música "A Coisa Melhorou", onde, em versos, dizia: "É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro". A música foi gravada numa das primeiras produções independentes, lançando a cantora Carmen Costa em sua carreira solo como intérprete. No começo da década de 30, Heitor dos Prazeres já havia produzido um disco independente para o carnaval com as músicas "Gata Borralheira" e "Me Forçou a Dormir Cedo", com um detalhe curioso: o disco matriz era colocado na eletrola de trás pra frente.

Heitor dos Prazeres, talvez por influência do sobrenome, além do prazer pela arte da música, da dança e da pintura, cultivava o grande prazer de estar sempre rodeado de belas mulheres, tratadas carinhosamente de "Minhas Cabrochas", geralmente mais de dez moças que ele treinava para dançar e cantar com seus músicos e ritmistas e que o acompanhavam em suas excursões.

Heitor dos Prazeres: Três Malandros Na Sinuca
Numa dessas apresentações em São Paulo, onde Heitor dos Prazeres fazia muito sucesso nos programas de rádio, em teatros, circos e festas populares de rua, conheceu uma bela jovem, com nome de flor, que lhe deu a filha Dirce e o inspirou na marcha-rancho "Linda Rosa". Seus amores eram suas musas, como nas músicas "Deixa a Malandragem", "Gosto Que Me Enrosco" e "Mulher de Malandro", inspiradas em tia Carlinda, com quem teve um romance nos idos de 1927 e tiveram uma filha: Laura, a mais velha.

Outro destaque em sua obra musical foi o samba "Lá Em Mangueira", de 1943, com parceria de Herivelto Martins, gravado originalmente pela dupla Branco e Preto e Dalva de Oliveira. No mesmo ano, Heitor dos Prazeres passou a integrar o elenco da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e a participar de exposições de pinturas pelo Brasil e o exterior. Uma delas foi a exposição da RAF em benefício das vítimas da II Guerra Mundial, na qual apresentou sua tela "Festa de São João", indicada pelo amigo e admirador Augusto Rodrigues, também participante da coletiva, que reunia artistas de vários países. O quadro de Heitor dos Prazeres foi adquirido pela então princesa Elizabeth, em Londres. Com isso a fama do pintor cresceu e no mesmo ano foi convidado a expor individualmente no diretório acadêmico da Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte.

A I Bienal de Arte Moderna, em São Paulo. Incentivado novamente pelo amigo, jornalista e crítico de artes Carlos Cavalcante a participar desse evento de arte de repercussão internacional, que reuniu, em 1951, artistas de várias expressões do Brasil e do mundo, proporcionando uma grande alegria na sua carreira com a contemplação do terceiro prêmio para artistas nacionais através do quadro intitulado "Moenda", que até hoje faz parte do acervo do museu.

Heitor dos Prazeres morreu no Rio de Janeiro no dia 04/10/1966.

Discografia
  • 1954 - Cosme e Damião / Iemanjá (Columbia)
  • 1955 - Pai Benedito / Santa Bárbara (Columbia)
  • 1955 - Vamos Brincar No Terreiro / Nego Véio (Sinter)
  • 1957 - Heitor dos Prazeres e Sua Gente (Sinter)
  • 1957 - Nada de Rock Rock / Eta Seu Mano! (Todamerica)

A. J. Renner

ANTÔNIO JACOB RENNER
(82 anos)
Empresário e Político

* Alto Feliz, RS (07/05/1884)
+ Porto Alegre, RS (27/12/1966)

Antônio Jacob Renner, mais conhecido como A. J. Renner, foi um empresário e político brasileiro e o fundador da Lojas Renner, uma das maiores redes varejistas gaúchas de vestuário. Foi um dos maiores empresários do Rio Grande do Sul.

Neto de imigrantes alemães, o materno foi capitão do Exército Imperial e voluntário na Guerra dos Farrapos, era filho de Jacob Renner e Clara Fetter. Quando tinha 2 anos seus pais se mudaram para Montenegro, RS, onde ele estudou em escola pública e nos estabelecimentos paroquiais particulares. Aos 12 anos já trabalhava nas oficinas da refinaria de banha paterna, aos 14 mudou-se para Porto Alegre, RS, onde, trabalhou inicialmente como aprendiz e depois como artífice, na Joalheria Foernges e aprendeu a dominar o ofício de ourives.

Em 1903, com 19 anos retornou para São Sebastião do Caí, RS, e, com o auxílio paterno, abriu uma ourivesaria. No ano seguinte casou-se com Mathilde Trein, uma das herdeiras da empresa Cristiano J. Trein & Cia., que dominava comércio de São Sebastião do Caí. Comércio este bastante intenso por causa do porto fluvial da cidade, que distribuía as mercadorias vindas de Porto Alegre e escoava a produção da colônia alemã, fazendo o transporte em lombo de burros por trilhas rudimentares.

Após o casamento, deixou o ofício de ourives e iniciou sua atividade empresarial, em 1847, com o sogro, Franz Trein, numa casa comercial na cidade de São Leopoldo, RS. Ingressou como sócio na empresa, com o trabalho de caixeiro-viajante.

A. J. Renner com a família, em Torres, RS.
Com a inauguração da estrada de ferro, o transporte animal tornou-se obsoleto, mas A. J. Renner já havia percebido as necessidades dos colonos em matéria de vestuário.

Em 1911 foi fundada no município de Caí uma empresa têxtil chamada Frederico Engel & Cia e o jovem A. J. Renner era um dos sócios da mesma. A empresa instalou-se inicialmente num galpão de madeira utilizado para pouso de tropeiros, e o capital investido foi pequeno para a época, 54 contos de réis. No primeiro ano não obteve bons resultados, consumindo o capital inicial e desanimando os investidores, A. J. Renner, tendo depositado ali suas esperanças e economias.

Como a empresa enfrentou problemas logo de início, A. J. Renner propôs seu nome para a direção na reunião dos acionistas que decidiria o futuro da tecelagem. Surgia assim, em 02/02/1912, a A. J. Renner & Cia., indústria fabril instalada no bairro Navegantes.

A. J. Renner conseguiu progresso rápido na sua fábrica porque criou um produto inédito e de grande utilidade: uma capa de chuva de qualidade muito superior às existentes no mercado. As chuvas que teve de enfrentar andando a cavalo, na época em que trabalhou como caixeiro viajante, o fizeram perceber a importância e a necessidade deste produto.

Anúncio das capas Renner
O grupo Renner atuava nos mais variados setores: indústria têxtil, de confecções, de tintas e vernizes, de feltro, curtume, de máquinas de costura, porcelanas e artefatos de cimento. Já em 1915, A. J. Renner implantou uma grande fábrica em Porto Alegre para atender aos numerosos pedidos do novo produto, capas de chuva das marcas Ideal, Oriental e Colonial. Além de produzir o tecido e confeccionar as capas, a empresa passou também a atuar no comércio, surgindo assim as Lojas Renner. As Lojas Renner tiveram seu primeiro ponto de venda inaugurado em 1922.

Os primeiros tempos foram de muitas dificuldades de cunho técnico, como fios importados de baixa qualidade e equipamentos rudimentares, e também financeiras, devido ao pouco capital disponível. Entretanto, a restrição de importações durante a primeira guerra mundial representou um grande aumento de vendas, tendo a fábrica, nesse período, passado a trabalhar em três turnos para atender a demanda.

Em 1920, sob o slogan "A boa roupa, ponto por ponto", a Renner fabricava trajes masculinos.
No final da década de 1920, a empresa era a maior indústria de fiação e tecelagem do Rio Grande do Sul, passando a produzir, além das capas de lã, trajes para homens. Seu eslogan era "Roupas Renner: A Boa Roupa Ponto Por Ponto".

A fabricação de ternos masculinos, até então, era praticamente monopolizada pelos alfaiates. Com a fabricação em escala industrial, a demanda por esse produto passou a ser prontamente atendida, além dos custos serem menores. Sua empresa ainda foi a responsável pela introdução da técnica da fiação penteada que permitia a produção de casemiras semelhantes, na qualidade, às casemiras inglesas.

Em 1933 iniciou a fiação e tecelagem do linho, estendendo a sua produção para todo o território nacional. Introduziu um sistema vertical de produção, único no país, que compreendia desde a produção do linho e da lã até a confecção e comercialização da roupa.


Envolveu-se com a organização dos sindicatos patronais, tendo sido presidente do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul. Foi eleito, em eleição indireta, deputado estadual representante classista dos empregados, em 1935. Depois de conflitos políticos, desiludido renunciou ao cargo em 20/04/1937.

Também foi pioneiro na instituição de serviços para atender a seus funcionários e seus familiares: cooperativa de crédito, cooperativa de consumo, creche e atendimento à saúde.

Participou como capitalista na fundação de outras empresas, tais como as Tintas Renner, com 30%, junto a sua irmã Olga e seus sobrinhos. E com outros sócios em outras empresas, surgindo assim um verdadeiro império industrial e comercial, formado por Lojas RennerTintas Renner, fábrica de tecidos, porcelanas, feltros, calçados e máquinas de costura.

O Grêmio Esportivo Renner foi fundado em 1931 por funcionários da firma.
Financiou durante muitos anos o programa informativo "Repórter Renner" na Rádio Guaíba de Porto Alegre e o Grêmio Esportivo Renner. Foi também fundador do primeiro Rotary Club em Porto Alegre, do Clube Leopoldina Juvenil e do Porto Alegre Country Club, onde praticava golfe todas as semanas.

Em 1940, a empresa expandiu sua oferta de mercadorias e tornou-se uma loja de departamentos. Em 1965, foi constituída a companhia Lojas Renner S/A e, em 1967, ocorreu a sua abertura de capital.

Nas suas empresas, A. J. Renner praticava uma avançada política de relações com os funcionários. Por iniciativa própria, ele diminuiu a jornada de trabalho para oito horas diárias e deu aos seus funcionários várias outras vantagens que as leis da época não exigiam. Ele influiu sobre Lindolfo Collor, ministro do trabalho de Getúlio Vargas, para que este criasse a moderna legislação trabalhista que levou os funcionários das demais empresas brasileiras a gozar dos mesmos direitos que os funcionários do Grupo Renner já usufruíam.

O grande líder empresarial morreu em Porto Alegre, no dia 27/12/1966, aos 82 anos, e a empresa continuo sob o controle da família Renner

A. J. Renner foi pai de 6 filhos e avô de 14 netos, os quais continuaram a sua obra em empreendimentos nas mais diversas áreas da economia.

Lojas Renner

Até meados da década de 90, a Renner era um magazine que vendia de tudo.  Após uma profunda reestruturação, a Renner transformou-se em uma loja de departamentos especializada em moda, focada principalmente no público feminino. Com essa guinada, ficou mais próxima de seus principais concorrentes: Riachuelo e C&A. Mas, enquanto a C&A se especializou em moda jovem, os produtos da Riachuelo eram pensados para donas de casa e mães de família, o foco da Renner foi a mulher moderna que trabalha.

A partir de 1994, teve início um plano de expansão que foi conquistando vários estados do Brasil. Plenamente reestruturada, a Renner expandiu suas operações para os estados de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e para o Distrito Federal, consolidando sua posição nesses mercados como uma loja de departamentos com mercadorias de qualidade a preços competitivos.

O ano de 1997 marcou a entrada das Lojas Renner no estado de São Paulo com a aquisição das tradicionais e famosas Lojas Mappin e Mesbla. Em 1991, a companhia contava com oito lojas e, até novembro de 1998, já havia inaugurado 13 novas lojas.

Em dezembro de 1998, a J. C. Penney Brazil Inc., subsidiária de uma das maiores redes de lojas de departamentos dos Estados Unidos, adquiriu o controle acionário da companhia, até então detido pela família Renner, bem como outras ações detidas por acionistas minoritários, data em que já tinha 21 lojas. Como subsidiária do grupo J. C. Penney Brazil Inc. a Renner obteve alguns benefícios operacionais, tais como o acesso a fornecedores internacionais, especialistas na escolha de pontos comerciais, bem como a procedimentos e controles internos diferenciados.

Em 1999, as Lojas Renner expandiram-se para o Rio de Janeiro, inaugurando quatro lojas na capital, uma em Niterói e uma em Volta Redonda. Foram inauguradas lojas também em Belo Horizonte e em Brasília. A expansão da Renner também envolveu a abertura de novas lojas nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a partir do ano 2000.


No ano de 2005, a J. C. Penney Brazil Inc. colocou à venda suas ações na bolsa de valores, deixando de ter o controle acionário da empresa. O mercado considerou a operação bem sucedida: 850 investidores compraram ações da Renner. Ninguém deteve o controle da empresa, os dez maiores acionistas foram fundos estrangeiros. Um fundo europeu deteve 7,7% de participação e o maior fundo brasileiro deteve 3% das ações.

Já em 2006, a Renner iniciou a segunda fase do plano de expansão e a rede passou a atuar nos estados de Pernambuco, Ceará e Bahia. Em 2007, entrou no mercado da Região Norte e ampliou sua presença no Nordeste. No ano passado, sua receita líquida em vendas foi de R$ 1,75 bilhões, a qual, comparada com os R$ 133,4 milhões obtidos em 1995, representa um crescimento de aproximadamente 1.200%.

O Conselho de Administração da Renner, presidido por Francisco Gros e integrado por José Galló, que está à frente da companhia desde a década de 90, conta com a participação da consultora de moda Glória Kalil, bem como Egon Handel, José Luiz Osório de Almeida Filho e Miguel Krigsner, presidente de O Boticário.

A Renner vem se diferenciando no segmento de varejo de moda por investir no conceito de lifestyle que veste homens, mulheres, adolescentes e crianças de acordo com o estilo de vida de cada um. O conceito levou à criação de marcas próprias como as Just Be, Blue Steel, Rip Coast, Get Over, Request, entre outras. Com isso, a rede vem conquistando a fidelidade dos seus novos clientes e reforçando a dos antigos. Atualizada com as tendências de mercado e preparada para oferecer o melhor da moda e dos estilos aos seus clientes, a Renner é hoje a terceira maior rede de varejo especializada em roupas no país, com mais de 101 lojas espalhadas pelos quatro cantos do Brasil.

Wenceslau Brás

WENCESLAU BRÁS PEREIRA GOMES
(98 anos)
Advogado, Político e Presidente do Brasil

* Brasópolis, MG (26/02/1868)
+ Itajubá, MG (15/05/1966)

Wenceslau Brás Pereira Gomes foi um advogado e político brasileiro. Foi presidente do Brasil entre 1914 e 1918, com um pequeno afastamento de um mês em 1917 por motivo de doença. Seu vice-presidente foi Urbano Santos da Costa Araújo.

Formação e Carreira Política

Wenceslau Brás era filho de Francisco Brás Pereira Gomes e de Isabel Pereira dos Santos. Nascido na então São Caetano da Vargem Grande, hoje Brasópolis. Seu pai era o chefe político da cidade, a qual leva seu sobrenome.

Wenceslau Brás estudou no tradicional Colégio Diocesano de São Paulo nos anos de 1881 a 1884 e obteve o diploma de bacharel em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1890. De volta a Minas Gerais, foi advogado e promotor público em Monte Santo e foi prefeito da cidade destacando-se na sua administração por ter introduzido o sistema de abastecimento de água na mesma. Presidiu a Câmara Municipal de Jacuí, em Minas Gerais, e a seguir foi deputado estadual.

Entre 1898 e 1902 foi Secretário do Interior, Justiça e Segurança Pública do Estado. Elegeu-se então deputado federal, chegando a líder da bancada mineira na Câmara dos Deputados, em 1903. Em 1909 assumiu a Presidência de Minas Gerais onde ficou até se candidatar à vice presidência da república. Foi eleito vice-presidente em 01/03/1910, obtendo 406.012 votos, derrotando o candidato da Campanha Civilista, Albuquerque Lins, que teve 219.106 votos.


Presidente da República

Em 01/03/1910, Wenceslau Brás é eleito vice-presidente da república, tendo Hermes da Fonseca sido eleito presidente derrotando Ruy Barbosa que estava sem apoio. Ele conquistou o cargo através da política do "Café Com Leite", após os estados de São Paulo e Minas Gerais se reconciliarem com o Tratado de Ouro Fino.

Em 1913, seu nome foi proposto como medida reconciliatória entre Minas Gerais, São Paulo e os outros estados, como candidato à sucessão de Hermes da Fonseca. Minas Gerais havia vetado a candidatura de Pinheiro Machado que era apoiado por Hermes da Fonseca, e Rodrigues Alves, que, na época, governava São Paulo, vetara a candidatura Ruy Barbosa.

Wenceslau Brás foi eleito presidente em 01/03/1914, obtendo 532.107 votos contra 47.782 votos dados a Ruy Barbosa.

Logo de início teve de combater a Guerra do Contestado (crise herdada do governo anterior) e, após debelar a revolta, mediou a disputa de terras entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, tendo sido um dos fatores a dar origem ao conflito.

Wenceslau Brás definiu em 1916 os atuais limites entre Paraná e Santa Catarina. Em 20/10/1916, os governadores dos dois estados, assinaram, no Palácio do Catete, um acordo que fixava as divisas entre aqueles estados, o qual foi aprovado pelo Congresso Nacional, e publicado pelo decreto 3.304 de 03/08/1917.

Wenceslau Brás declara guerra contra o Império Alemão.
Ao seu lado, o ex-presidente e ministro interino das Relações Exteriores, Nilo Peçanha, e o futuro presidente da República, Delfim Moreira.
Crises e a Grande Guerra na Europa

Wenceslau Brás enfrentou também diversas manifestações militares, entre elas a Revolta dos Sargentos (1915), que envolvia suboficiais e sargentos.

Definiu seu governo como o "Governo da pacificação dos espíritos", que buscou o entendimento nacional depois do conturbado governo de Hermes da Fonseca. Em seu governo ocorreram os chamados "3 G": A Grande Guerra (como se chamava, na época, a Primeira Guerra Mundial), a Gripe Espanhola, e as Greves de 1917.

Promulgou o primeiro Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 01/01/1916 e que foi a primeira lei a grafar o nome Brasil com a letra S.

O torpedeamento de navios brasileiros, em 26/10/1917, por submarinos alemães, levou o Brasil a entrar na Primeira Guerra Mundial. Tendo a participação do país no conflito se resumido ao envio de uma esquadra naval para colaborar na guerra anti-submarina, e uma missão militar à frente ocidental, em 1918.

Devido às dificuldades em importar produtos manufaturados da Europa durante o seu mandato, causadas pela guerra, Wenceslau Brás incentivou a industrialização nacional, porém de forma inadequada, já que o país ainda era essencialmente agrícola, e o governo necessitava de armamentos bélicos que requeriam uma indústria mais sofisticada que a do Brasil de 1914.

Mais de 1500 pessoas morreram vítimas da Gripe Espanhola em seus últimos anos como presidente da República.

Seu mandato terminou em 15/11/1918, quando o advogado e republicano mineiro Delfim Moreira assumiu o cargo sem um vice-presidente.

Wenceslau Brás sentado ao centro junto com seu Ministério
Homenagens

Wenceslau Brás morreu em 15/05/1966, em Itajubá, Minas Gerais, com 98 anos, sendo o mais longevo de todos os presidentes brasileiros e o político que permaneceu mais tempo na condição de ex-presidente da república.

É homenageado por meio de três cidades, uma em Minas Gerais, Venceslau Brás, outra no Paraná, Venceslau Brás, e outra em São Paulo, Presidente Venceslau.

Fonte: Wikipédia

Carlos Spera

CARLOS SPERA
(36 anos)
Jornalista e Repórter

* São Paulo, SP (15/06/1929)
+ São Paulo, SP (11/01/1966)

Desde garoto queria ser repórter. Estava apenas com 20 anos quando começou a trabalhar no jornal Hoje onde ficou três anos. A seguir passou para o jornal Hora. Mais um ano e passou para os Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Em 1953 ficou responsável pelo programa "Ronda dos Bairros". Em 1954, já contratado pela Rádio Difusora de São Paulo, começou a desenvolver intenso trabalho jornalístico. Investiu tanto no setor nacional como internacional e esteve nos Estados Unidos, em toda a Europa e no Oriente Médio. Estava em Londres, quando na cerimônia fúnebre de Wiston Churchiel.

A partir de 1955, apesar dos bons profissionais que haviam na televisão, dois jornalistas se destacaram na TV Tupi e iniciaram a fase do repórter de televisão: Carlos Spera e José Carlos de Moraes (Tico-Tico). Esses dois profissionais, vindos do jornal Diário de São Paulo, dedicaram-se ao noticiário da televisão, indo atrás dos fatos, tentando transmitir diretamente dos locais, informando em primeira mão antes do jornal e do rádio, fazendo com que o veículo gerasse mais intensamente suas próprias notícias.

Carlos Spera é o último a direita da foto
Em 1961, quando Jânio Quadros, então presidente, renunciou, Carlos Spera ficou no microfone por 24 horas consecutivas. Em 1963, esteve nos Estados Unidos, para transmitir informações sobre o assassinato do presidente Kennedy.

Incansável, irreverente, era muito respeitado por todos a quem entrevistava. Todos o consideravam o maior repórter de seu tempo. Além de trabalhar na TV Tupi, foi também repórter da TV Cultura, que foi por muito tempo a caçula, dentre as Associadas.

Carlos Spera foi importante na implantação da TV Cultura. Hoje ele dá nome à rua que contorna a sede da Fundação Padre Anchieta, que hoje congrega a TV Cultura, a Rádio Cultura AM e a Rádio Cultura FM. É um belo conjunto arquitetônico, que fica no bairro da Água Branca em São Paulo.

Carlos Spera entrevista Auro de Moura
Durante uma visita do líder cubano Fidel Castro ao Brasil, o repórter Carlos Spera conseguiu levá-lo à TV Tupi. Às pressas, improvisou-se uma equipe para sabatiná-lo. Foi ao ar uma "entrevista coletiva".

Carlos Spera faleceu ainda muito jovem, com apenas 36 anos, em 11/01/1966, no Hospital do Câncer em São Paulo, vítima de um câncer na garganta.

Ele foi casado com Esmeralda Lesjak Spera e  deixou 4 filhos, Sandra Spera, Katia Spera, Solange Spera e Carlos Spera Junior.

Indicação:  Carlos Spera Junior

Adelpha de Figueiredo

ADELPHA SILVA RODRIGUES DE FIGUEIREDO
(71 anos)
Bibliotecária

* Sorocaba, SP (20/09/1894)
+ São Paulo, SP (03/08/1966)

Foi uma das primeiras bibliotecárias brasileiras.

Começou sua vida profissional como professora da Escola Americana de São Paulo, hoje denominada Instituto Mackenzie. Estudou farmácia e música, porém, seu interesse pela organização de acervos a levou a fazer o curso de biblioteconomia na Universidade de Columbia, em New York. Foi a primeira diretora da Biblioteca George Alexander, na Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade.

Remodelou tecnicamente a biblioteca da Faculdade de Medicina e fundou em 1936 a primeira escola de biblioteconomia do Estado sob os votos da Prefeitura Municipal de São Paulo, formando a primeira turma em 1938.

Introduziu novas técnicas para a classificação de material, registro do acervo, arranjo dos catálogos e inovação do livre acesso dos leitores às estantes. Foi uma das fundadoras e primeiras professoras do curso de biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) - junto com Rubens Borba de Morais.


Reconhecida como uma das pioneiras intelectuais da biblioteconomia, junto com outros como, Lídia de Queiroz Sambaquy, Bernadete Sinay Neves, Laura Russo, Zila Mamede, Rubens Borba de Moraes, Edson Nery da Fonseca e Antônio Caetano Dias que deram os primeiros passos na concepção da biblioteconomia no Brasil.

Em 1948 participou da fundação da Escola de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia Sede Sapientae da Pontifícia Universidade Católica. Acompanhou os primeiros passos da Associação Paulista de Bibliotecários, dirigindo-a de 1947 a 1951 e foi durante a sua presidência que se realizou, em São Paulo, a conferência sobre o desenvolvimento de bibliotecas públicas na América Latina, sob os patrocínios da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)  e DEA, em 1951.

Em sua homenagem, seu nome foi dado a uma biblioteca pública instalada pela prefeitura de São Paulo à Rua Carlos de Campos esquina com Avenida Pedroso da Silveira, no bairro do Pari e ao diretorio acadêmico da Faculdade de Ciência da Informação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

Adelpha de Figueiredo faleceu em 03/08/1966 em São Paulo.

Barros Carvalho

ANTÔNIO DE BARROS CARVALHO
(67 anos)
Jornalista, Político e Latifundiário

* Palmares, PE (12/02/1899)
+ Recife, PE (03/09/1966)

Antônio de Barros Carvalho, mais conhecido como Barros Carvalho, foi um proprietário de terras e político brasileiro. Foi deputado federal e senador pelo estado de Pernambuco.

Primeiros Anos

Filho de José de Carvalho e Albuquerque e Francisca de Barros Carvalho, formou-se pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Recife, mas desde cedo interessou-se por assuntos econômicos, financeiros e fiscais, área onde se especializou.

Proprietário de terras em Palmares, foi fiscal do imposto de consumo, em Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e mais tarde superintendente de fiscalização dos impostos federais.

Foi assessor técnico do ministro da fazenda Artur de Sousa Costa, de 1934 a 1945, tendo elaborado diversos projetos, como a Lei do Solo, do Imposto de Renda e do Imposto de Vendas e Consignações.

Durante o Estado Novo, foi redator do Diário de Pernambuco e diretor do Jornal Pequeno. Mais tarde, colaborou com o Estado de Minas e o Diário de São Paulo, como jornalista.

Carreira Política

Filiado à União Democrática Nacional, elegeu-se primeiro suplente de deputado federal por Pernambuco em dezembro de 1945, ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados entre dezembro de 1945 e dezembro de 1947.

Em 1950, elegeu-se deputado federal pela coligação UDN-PTB-PR-PRP-PL.

Pelo grande prestígio que tinha entre os trabalhadores, foi convidado por Getúlio Vargas a ingressar no PTB. Aceitando o convite, foi reeleito por seu novo partido em 1954, pela coligação PTB-PST.

Em outubro de 1958, elegeu-se senador e ao mesmo tempo reelegeu-se deputado federal, optando pelo cargo de senador.

Em 1960, foi nomeado Ministro da Agricultura por Juscelino Kubitschek, ficando no cargo até o fim do mandato presidencial, em janeiro de 1961.

Acompanhou João Goulart na visita à República Popular da China em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros. Permaneceu com o vice-presidente em Paris, durante o desenrolar da crise, retornando com o mesmo em setembro, entrando pelo Rio Grande do Sul, com o apoio do então governador Leonel Brizola, que liderava a Campanha da Legalidade.

Foi contrário ao AI-4, de 2 de setembro de 1961, que estabelecia o parlamentarismo no país, mas apoiou o ato como forma de dar posse a João Goulart. Defendeu então a antecipação do referendo sobre o sistema de governo, que acabou sendo aprovada na votação de setembro de 1962, sendo enfim realizado o referendo em 6 de janeiro de 1963, ocasião em que a população decidiu pelo retorno ao sistema presidencialista.

Foi líder do PTB no Senado Federal de 1962 a 1965 e líder da maioria (PTB e PSD) em 1963 e 1964.

Era tio de Marcos Freire, que foi senador por Pernambuco entre 1975 e 1983, presidente da Caixa Econômica Federal e ministro da Reforma Agrária, e tio-avô de Luís Freire, que foi deputado federal por Pernambuco em 1987 – 1988 e prefeito de Olinda de 1989 a 1992.

Fonte: Wikipédia

Orestes Barbosa

ORESTES BARBOSA
(73 anos)
Jornalista, Cronista, Poeta, Escritor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (07/05/1893)
+ Rio de Janeiro, RJ (15/08/1966)

Filho do major Caetano Lourenço da Silva Barbosa e de Maria Angélica Bragança Dias Barbosa, nasceu em Aldeia Campista, bairro perto de Vila Isabel. A família morou na Ilha de Paquetá e, quando ele tinha sete anos, foi para o bairro da Gávea.

Aprendeu a ler, nos jornais e letreiros de bonde, com Clodoaldo Pereira de Moraes, pai de Vinicius de Moraes. Nessa época começou a se interessar por violão e com dez anos já sabia tocar.

Durante a infância, a família viveu em dificuldades financeiras e somente aos doze anos entrou numa escola, o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde aprendeu o ofício de revisor.

Em 1907 o menino, que já fazia alguns versos, conseguiu seu primeiro emprego como revisor no jornal O Século, dirigido por Ruy Barbosa.

Depois de algum tempo, deu início a uma longa militância jornalística, que se estenderia ao Diário de Notícias, O Imparcial, A Folha, A Crítica, A Manhã, A Gazeta e A Notícia. Estreou como poeta em 1917 com o livro de versos Penumbra Sagrada.

Em 1920 foi a Portugal, onde entrevistou Teófilo Braga, estando também com Guerra Junqueiro pouco antes da morte deste.


Como jornalista, incluía-se entre os que criticavam os acontecimentos e as autoridades da época, com destemor e ironia. Seus artigos levaram-no várias vezes à prisão, sendo que a primeira ocorreu em 1921, por haver denunciado o Grêmio Euclides da Cunha como aproveitador dos direitos autorais do patrono.

Nesse mesmo ano publicou seu primeiro livro de crônicas-reportagens, na prisão, que contava histórias de dentro do cárcere. Ainda em 1921 apareceu Água-Marinha, seu segundo livro de poesias.

Mais ou menos em 1925, quando ainda existiam só três rádios no Rio de Janeiro - Rádio Sociedade, Rádio Clube do Brasil e Rádio Mayrink Veiga -, foi um dos primeiros a manter uma coluna radiofônica no jornal A Manhã.

Durante a presidência de Artur Bernardes (1922-1926), esteve novamente preso, mas escrevendo sempre: Bam-bam-bam (1923), Portugal de Perto! (1923), O Português no Brasil (1925), O Pato Preto (1927), todos em prosa.

Estreou como letrista em 1930, com a música Bangalô (com Osvaldo Santiago), gravada por Alvinho na Odeon (1931). Nesse mesmo ano, duas músicas suas, em parceria com J. Tomás, foram gravadas na RCA Victor: o fox Flor do Asfalto e o samba Carioca, por Castro Barbosa.

Ainda em 1931, cantou pela primeira vez em disco, Nega, Meu Bem (Heitor dos Prazeres), na Parlophon, e em 1933 sua marchinha As Lavadeiras (com Nássara), na Columbia.

Por essa época, com a colaboração de Nássara, fundou A Jornada, jornal que durou seis meses e que tinha como epígrafe "Não quero saber quem descobriu o Brasil, quero saber quem é que bota água no leite". As pautas mais constantes eram da língua brasileira e campanhas contra a Light.


Foi influenciado por suas críticas que Noel Rosa compôs o samba Não Tem Tradução (1933), em que faz referência às particularidades próprias do idioma falado no Brasil.

Em 1933, com Noel Rosa, fez o samba Positivismo, gravado pelo próprio Noel na Columbia. Com Nássara fez Caixa Econômica, samba gravado por João Petra de Barros e Luís Barbosa, na RCA Victor.

Ainda nesse ano a Livraria Educadora, do Rio de Janeiro, editou Samba, livro de crônicas que, em estilo telegráfico, registra a ascensão do samba urbano.

Assíduo freqüentador do Café Nice, foi parceiro de grandes compositores, como Custódio Mesquita, Nonô, Noel Rosa, Francisco Alves, Wilson Batista e, seu parceiro mais constante, Sílvio Caldas, com quem compôs valsas e canções que marcaram época na música popular e firmaram a fama de seresteiro do cantor.

Francisco Alves gravou em 1934, na Odeon, a marcha Há Uma Forte Corrente Contra Você, e na RCA Victor A Mulher Que Ficou na Taça, a valsa Romance e a canção Adeus (todas em parceria com Francisco Alves). Nesse mesmo ano, compôs com Nonô a canção Olga, gravada por Castro Barbosa na Odeon. Ainda em 1934, Sílvio Caldas gravou na RCA Victor Serenata e, no ano seguinte, na Odeon, a valsa-canção Quase Que Eu Disse (ambas com o cantor).

De 1934 é Santa dos Meus Amores, valsa registrada na RCA Victor por Sílvio Caldas, que no ano seguinte gravou na Odeon Torturante Ironia.

Em 1937 gravou, também na Odeon, Arranha-Céu e Chão de Estrelas, hoje antológica. Em 1938 Sílvio Caldas gravou pela Columbia a valsa Suburbana, outra grande criação da dupla. Ainda nesse ano compuseram A Única Rima, gravada mais tarde por Sílvio Caldas.

Além das letras para valsas e canções, ponto forte de sua obra, fez ainda letras para sambas de outros parceiros: com Ataulfo Alves fez O Negro e o Café, que o próprio Ataulfo Alves gravou na RCA Victor em 1945. Com Custódio Mesquita, o samba-choro Flauta, Cavaquinho e Violão, gravado por Aracy de Almeida na Odeon em 1946. Com Wilson Batista, Cabelo Branco, gravado por Carlos Galhardo na RCA Victor em 1946, e Abigail, gravado por Orlando Silva na Odeon em 1947. Com Valzinho compôs Óculos Escuros, gravado em 1955 por Zezé Gonzaga.

Na década de 1970 foi relembrado por Paulinho da Viola, que, no LP Paulinho da Viola, gravado na Odeon em 1971, regravou Óculos Escuros. Em 1974 Macalé gravou Imagens (com Valzinho), em seu LP Aprender a Nadar, pela Philips.


Morte

Faleceu em sua residência às 14:00 hs do dia 15/08/1966 no Rio de Janeiro, em decorrência de uma Trombose Cerebral.