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Barnabé

JOÃO FERREIRA DE MELO
(35 anos)
Cantor, Compositor e Humorista

* Botelhos, MG (08/12/1932)
+ São Paulo, SP (13/09/1968)

João Ferreira de Melo, conhecido artisticamente por Barnabé, foi um cantor, compositor e humorista brasileiro nascido em Botelhos, MG, no bairro das Corujas, e criado no Paraná, onde trabalhou na lavoura e como operário na construção de estradas. Era filho de Pedro Ferreira de Melo de onde herdou o talento e o mesmo dom de contar piadas e cantar modinhas.

Ainda adolescente, juntou-se aos artistas de um parque de diversões, apresentando-se em circos e cinemas como Nhô Peroba, que tocava violão e contava piadas. Levado para São Paulo pela dupla Tonico & Tinoco, passou a participar dos programas de rádio "Na Beira da Tuia" e "Peru Que Fala".

Iniciou sua carreira em 1950 na cidade de Ribeirão do Pinhal, PR. Ficou conhecido nacionalmente por Barnabé, chegando à gravar quatro discos. Gravou seu primeiro disco como Barnabé em 1965, na gravadora Continental, obtendo sucesso imediato.

Seu humor ingênuo e espontâneo, misturando piadas e músicas caipiras bem-humoradas, como "Sanfona da Véia" (Brinquinho e Brioso), "Casamento do Barnabé" (Capitão Furtado), "O Esculhambeque", paródia do sucesso da Jovem Guarda, "O Calhambeque", lhe rendeu ainda mais três LPs antes de sua morte prematura em 1968.

José Ferreira de Melo, seu irmão, nasceu no dia 09/12/1949, na cidade de Ribeirão do Pinhal, PR. Também herdou de seu pai o mesmo talento e dom de contar piadas e cantar modinhas, e iniciou sua carreira em 1969, após a morte de João Ferreira de Melo, dando assim, seguimento com o mesmo nome artístico, Barnabé.

Discografia

  • 1968 - Barnabé (Continental, LP)
  • 1967 - Barnabé (Continental, LP)
  • 1966 - Barnabé (Continental, LP)
  • 1965 - Barnabé (Continental, LP)

Guilherme Paraense

GUILHERME PARAENSE
(83 anos)
Militar e Atleta

* Belém, PA (25/06/1884)
+ Rio de Janeiro, RJ (18/04/1968)

Nascido em Belém do Pará, no dia 25/06/1884, Guilherme Paraense foi ainda menino para o Rio de Janeiro, onde, aos 5 anos, começou a frequentar a Escola Militar de Realengo. A prática do tiro era exigida no exercício de suas atividades como militar. Sua tranquilidade o fazia atirar com mão firme, invariavelmente acertando o alvo, independente do formato que tivesse.

Seus atributos logo lhe renderam conquistas: no final da década de 1910, o tenente foi campeão brasileiro e também sul-americano na modalidade tiro com revólver. Em 1914, junto a um grupo de atiradores, fundou, no Rio de Janeiro, o Revólver Clube, destinado a conferir maior atenção à prática do tiro esportivo, que vinha ganhando um número crescente de adeptos. O clube favoreceu a realização de torneios e aprimorou o desempenho de atletas dedicados à modalidade.

Guilherme Paraense foi o primeiro atleta brasileiro a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em 1920. Permaneceu como o único campeão olímpico do país durante 32 anos, até que Adhemar Ferreira da Silva igualasse sua conquista no salto triplo, em Helsinque, em 1952. Primeiro-tenente do Exército Brasileiro, Guilherme Paraense foi campeão brasileiro de tiro em 1913, 1914, 1916 e 1917 e campeão carioca em 1915 e 1918. Tinha 35 anos quando competiu pela primeira vez nas Olimpíadas, no dia 03/08/1920. Ele foi atleta do Fluminense Football Club.

Guilherme Paraense embarcou para Antuérpia, em 1920, com mais sete companheiros a bordo do navio Curvello, todos por conta própria, e desceram em Lisboa, de onde prosseguiram de trem até a Bélgica, informados de que o navio não chegaria a Antuérpia a tempo de participarem das provas. Depois de uma viagem de 27 dias, na conexão em Bruxelas parte das armas e a munição de Guilherme Paraense foram roubadas.


Com tantos percalços, a equipe brasileira chegou aos Jogos Olímpicos de moral baixa, com fome e sem material esportivo. Impressionados com a situação dos colegas, os atiradores americanos lhes emprestaram armas e munição, modernas e fabricadas especialmente pela Colt, e com elas os brasileiros derrotaram seus benfeitores, ganhando ouro, prata e bronze no Tiro.

As disputas do tiro realizaram-se em um campo de manobras do exército belga em Beverloo, vizinho a Waterloo, o famoso lugar onde o exército de Napoleão havia sido derrotado. Na prova de pistola de tiro rápido, que consistia em 30 tiros a uma distância de 30 metros do alvo, Guilherme Paraense acertou em cheio o último deles, que decidiu a medalha, em 03/08/1920. Fez 274 pontos contra 272 do segundo colocado, o americano Raymond Bracken, e foi medalha de bronze por equipe na prova de pistola livre.

Paraense também teve a honra de ser o primeiro porta-bandeira olímpico do Brasil. Como o desfile de abertura ocorreu somente em 16/08/1920, treze dias depois da conquista do ouro, seu nome foi uma unanimidade para carregar o símbolo máximo do país.

O primeiro herói brasileiro nunca mais voltou a competir em Olimpíadas e morreu esquecido, vítima de um enfarte, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, no dia 18/04/1968.

Em 1989, o pioneiro do ouro foi homenageado pelo Exército Brasileiro, que batizou com o nome Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sediada em Resende, RJ, onde, além disso, é realizado anualmente um torneio que também leva seu nome, válido para o calendário brasileiro de competições de tiro esportivo.


Atividades no Esporte

  • Participou dos VII Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920) e tornou-se o 1º Medalhista de Ouro Olímpico do Brasil, vencendo a prova de revólver, superando o campeão norte americano Raymond Braecken por dois pontos.
  • Serviu vários anos na Vila Militar, DF, como instrutor de tiro.
  • Foi 2º Secretário do Revólver Clube, como 2º tenente (15/05/1914).
  • Detentor da 1ª Medalha Olímpica de ouro do Brasil e bronze por equipe nos Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920).
  • No seu regresso das Olimpíadas, em 1922, foi homenageado pelo Presidente da República Epitácio Pessoa no Salão Nobre do Fluminense, juntamente com Afrânio Costa e outros companheiros de equipe, recebendo uma placa de prata da Liga de Defesa Nacional, sendo na ocasião saudado pelo famoso escritor Coelho Neto.
  • Vencedor da prova de revólver dos I Jogos Latino-Americanos, comemorativo do Centenário da Independência do Brasil (1922), com as provas realizadas no estande da Vila Militar.
  • Foi campeão carioca pelo Fluminense e pelo São Cristóvão.
  • Foi campeão brasileiro várias vezes pela Confederação do Tiro Brasileira (CTB), Diretoria Geral do Tiro de Guerra (DGTG), Revólver Club e pela Federação Brasileira de Tiro (FBT).
  • Conquistou os títulos nacionais de 1913, 1914, 1918, 1922 e 1927.
  • Encerrou a sua participação no tiro em 1927.

Indicação: Miguel Sampaio

Astor Silva

ASTOR SILVA
(45 anos)
Instrumentista, Compositor, Arranjador e Regente

* Rio de Janeiro, RJ (10/05/1922)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/02/1968)

Astor Silva foi um instrumentista, compositor, arranjador e regente de música popular brasileira. Nasceu no bairro carioca do Rio Comprido, fez seus estudos na Escola João Alfredo, situada em Vila Isabel.

Por essa época já estudava música e formou um grupo com colegas do colégio que se apresentava em bailes e festas familiares.

Iniciou sua atividade artística como trombonista de danceterias. Por volta de 1940, passou a atuar no Cassino da Urca, e em outros, como os situados em Copacabana e Icaraí.

Em 1946, com o fechamento dos Cassinos, passou a integrar a Orquestra Tabajara, dirigida por Severino Araújo, que realizou excursões pelo Brasil, Argentina, Uruguai, França, e outros países. Ainda como integrante da Orquestra Tabajara, apresentou-se na Rádio Tupi. Posteriormente, transferiu-se para a orquestra do Maestro Carioca que atuava na mesma emissora.

Exibiu-se ainda na boate carioca Night And Day e na TV Rio. Foi diretor musical de diversas gravadoras, e na CBS desempenhou também a função de arranjador-chefe.

No início dos anos 50, formou seu próprio conjunto com o qual atuou na Todamérica fazendo acompanhamentos para Garotos da Lua, Virgínia Lane, Zilá Fonseca, Ademilde Fonseca e Raul Moreno.

Em 1952, seu "Chorinho da Nice" foi gravado na Continental por Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara. Em 1953, gravou com seu conjunto na Todamérica o choro "Pisando Macio" (Astor Silva), e o "Baião Diferente" (Marcos Valentim).

Em 1954 gravou também com seu conjunto o choro "No Melhor Da Festa", e "Baião Lusitano", ambos de sua autoria. Nessa época, passou a dirigir sua própria orquestra e gravou o mambo "Mambomengo", e o samba "Sete Estrelas", de sua autoria. Ainda em 1954, seu choro "Alta Noite" (Astor Silva e Del Loro), foi gravado na Sinter pelo cantor Jamelão. Atuou com sua orquestra na Todamérica e acompanhou, entre outras, a cantora Dóris Monteiro na gravação da "Marcha Do Apartamento", e do samba "Sacrifício Não Se Pede".

Em 1955, gravou com seu conjunto os choros "Chorinho De Boite" e "Sombra e Água Fresca", de sua autoria. Por essa época, atuou com seu conjunto e com sua orquestra na gravadora Continental acompanhando gravações de Moreira da Silva, Nora Ney, Bill Farr e Emilinha Borba.

Entre 1960 e 1963, atuou com seu conjunto e sua orquestra na Columbia. Em 1960, foi um dos responsáveis pelo sucesso do samba "Beija-me" (Roberto Martins e Mário Rossi), gravado por Elza Soares com arranjos seus.

Em 1961, acompanhou com seu conjunto um das primeiras gravações do então iniciante cantor Roberto Carlos num 78 RPM com as músicas "Louco Por Você" e "Não é Por Mim". Acompanhou também gravações de Risadinha e Wanderléa, também em começo de carreira, Cyro Monteiro, Rossini Pinto e Elis Regina, em uma de suas primeiras gravações, com as músicas "A Virgem De Macareña" e "1, 2, 3, Balançou".

Ainda em 1961, gravou com sua orquestra os frevos "Jairo Na Folia" (Francisquinho), "Ao Som Dos Guisos" (Edgar Morais), "A Pisada é Essa" (João Santiago) e "Vai Na Marra" (David Vasconcelos).

Gravou ainda, pelo pequeno selo Ritmos, com seu conjunto, os sambas "Vamos Fazer Um Samba" (Astor Silva e Nelson Trigueiro) e "Agora é Cinza" (Bide e Marçal).

Astor Silva foi um dos principais arranjadores da segunda metade dos anos 1950.

Em 1974, seu "Chorinho De Gafieira" foi regravado por Raul de Barros no LP "Brasil, Trombone", lançado pelo selo Marcus Pereira.


Discografia

  • S/D - Vamos Fazer Um Samba? / Agora é Cinza (Ritmos, 78)
  • 1961 - Jairo Na Folia / Ao Som dos Guisos (Odeon, 78)
  • 1961 - A Pisada é Essa / Vai Na Marra (Odeon, 78)
  • 1955 - Chorinho De Boite / Sombra e Água Fresca (Todamérica, 78)
  • 1954 - No Melhor Da Festa / Baião Lusitano (Todamérica, 78)
  • 1954 - Mambomengo / Sete Estrelas (Todamérica, 78)
  • 1953 - Pisando Macio / Baião Diferente (Todamérica, 78)


Indicação: Miguel Sampaio

Wilson Batista

WILSON BAPTISTA DE OLIVEIRA
(55 anos)
Compositor

☼ Campos dos Goytacazes, RJ (03/07/1913)
┼ Rio de Janeiro, RJ (07/07/1968)

Wilson Baptista de Oliveira também conhecido como Wilson Batista foi um compositor brasileiro. Filho de um guarda municipal de Campos dos Goytacazes, ainda menino participou, tocando triângulo, da Lira de Apolo, banda organizada por seu tio, o maestro Ovídio Batista. Ainda na cidade natal, fez parte do Bando, para o qual compunha algumas músicas e, pretendendo aprender o ofício de marceneiro, frequentou o Instituto de Artes e Ofícios.

Era um contumaz vendedor de sambas e não tocava nenhum instrumento, embora fosse afinado, a não ser sua caixinha-de-fósforos. Foi casado e tornou-se pai de dois filhos, embora a vida boêmia o levasse a ficar até três dias sem aparecer em casa, para desespero da esposa. Foi morador da Ilha de Paquetá e costumava chamar a todos de "Major", fazendo o pedido de costume: "Tem um dinheirinho aí pro Cabo Wilson? "

No final da década de 20, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro. Passou então a frequentar os cabarés da Lapa e o Bar Esquina do Pecado, na Praça Tiradentes, pontos de encontro de marginais e compositores, tornando-se amigo dos irmãos Meira, malandros famosos da época, cuja amizade lhe valeu várias prisões. A seguir, começou a trabalhar como eletricista e ajudante de contra-regra no Teatro Recreio.


Com 16 anos, fez seu primeiro samba, "Na Estrada da Vida", lançado por Aracy Côrtes no Teatro Recreio e gravado em 1933 por Luís Barbosa. Acredita-se que sua primeira parceria tenha se dado com o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, no samba de breque "Mil e Uma Trapalhadas", cuja gravação aconteceu apenas na década de 60, pelo cantor Moreira da Silva.

Seu primeiro samba gravado foi "Por Favor, Vai Embora", (Wilson BatistaBenedito Lacerda e Osvaldo Silva), pela RCA Victor, na interpretação de Patrício Teixeira, em 1932. A partir de então, passou a fazer parte da Orquestra de Romeu Malagueta, como crooner e ritmista (tocava pandeiro).

Em 1933, Almirante gravou sua batucada "Barulho no Beco" (Wilson BatistaOsvaldo Silva), e três intérpretes, Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas, divulgaram seu samba "Desacato" (Wilson BatistaPaulo Vieira e Murilo Caldas), que fez muito sucesso.

Sempre frequentando o mesmo ambiente de boemia, fez a apologia do malandro no seu samba "Lenço no Pescoço", já gravado em 1933 por Sílvio Caldas, que deu início à famosa polêmica com Noel Rosa (Noel Rosa X Wilson Batista), o qual respondeu no mesmo ano com "Rapaz Folgado", contestando a identificação do sambista com o malandro. Sua réplica a Noel Rosa veio no samba "Mocinho da Vila". Fora do contexto da polêmica, Noel Rosa e Vadico compuseram o "Feitiço da Vila".


No Programa CaséNoel Rosa improvisa (sem gravar) duas novas estrofes para o "Feitiço da Vila" e, em cima dos novos versos, Wilson Batista compôs "Conversa Fiada", ao qual Noel Rosa contrapôs, em 1935, o samba "Palpite Infeliz". O caso terminou com dois sambas seus, "Frankenstein da Vila" e "Terra de Cego""Terra de Cego", entretanto, deu origem a uma parceria entre Wilson Batista e Noel Rosa, intitulada, "Deixa de ser Convencida". Com letra de Noel Rosa escrita sobre a melodia composta por Wilson Batista, originalmente, para "Terra de Cego" e, assim, pôs fim a polêmica.

Os dois polemistas conheceram-se entre um e outro desafio e tornaram-se amigos. As músicas dessa polêmica foram reunidas, em 1956, num LP de dez polegadas da Odeon, cantadas por Roberto Paiva e Francisco Egydio, "Polêmica".

Continuando sua vida de boêmio-compositor, vendendo sambas e fazendo parcerias "comerciais", conheceu, no Café Nice, na Avenida Rio Branco, o cantor e compositor Erasmo Silva, com quem formou um conjunto, com Lauro Paiva ao piano e Roberto Moreno na percussão. Com o conjunto, realizou apresentações em Campos dos Goytacazes e, de volta ao Rio de Janeiro, formou, em 1936, uma dupla com Erasmo Silva, a Dupla Verde e Amarelo, que participou da vocalização da orquestra argentina Almirante Jonas, que estava de passagem no Rio de Janeiro, seguindo com ela para Buenos Aires, Argentina, onde ficaram por três meses, ainda em 1936.

De volta ao Brasil, trabalharam durante mais de um ano na Rádio Atlântica, de Santos, SP, e, depois, na Rádio Record, de São Paulo, onde também gravaram, com as Irmãs Vidal, pela Columbia, seu primeiro disco, com "Adeus, Adeus" (Francisco Malfitano e Frazão) e "Ela Não Voltou" (Francisco MalfitanoFrazão e Aluísio Silva Araújo). Obtendo certo sucesso, seguiram para uma temporada em Porto Alegre, RS, voltando a São Paulo para trabalhar na Rádio Tupi.

A fama viria em 1938, quando a dupla foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, mas já no ano seguinte, com a ida de Erasmo Silva para Buenos Aires, a dupla se desfez.

Em 1939 foi apresentado por Germano Augusto ao bicheiro e malandro conhecido por China, a quem venderia muitas músicas. Nessa época, sua temática sofreu modificações, ditadas não só pela associação a novos parceiros, mas principalmente pela influência direta de uma portaria governamental que proibia a exaltação da malandragem.


Ainda em 1939, fez com Ataulfo Alves "Mania da Falecida" e "Oh! Seu Oscar", samba que se destacou no carnaval de 1940, vencendo o concurso de músicas carnavalescas do Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Federal, tendo sido gravado por Cyro Monteiro, intérprete que lançou em disco, também no mesmo ano, os seus sambas "Tá Maluca" (Wilson Batista e Germano Augusto) e "O Bonde de São Januário" (Wilson BatistaAtaulfo Alves), este último grande sucesso no carnaval de 1941.

Consagrado desde então, iniciou, com diversos parceiros famosos, uma série de composições, retratando tipos cariocas, que conseguiram êxito na maioria dos carnavais dos vinte anos seguintes.

Ainda em 1940, Moreira da Silva gravou "Acertei no Milhar" (Wilson Batista e Geraldo Pereira), que se tornou um dos clássicos do samba de breque. Em 1941, Vassourinha lançou em disco outra música sua que se destacou no carnaval de 1942, "Emília", feita com Haroldo Lobo, seu parceiro ainda em "Rosalina", destaque carnavalesco de 1945.

Homenageando a torcida do Vasco da Gama, apesar de rubro-negro, compôs com Augusto Garcez "No boteco do José", que, na gravação de Linda Batista, fez sucesso no carnaval de 1946. Três anos depois se destacaria com "Pedreiro Valdemar", feito com Roberto Martins e gravado por Blecaute, e, em 1950, obteria enorme êxito com "Balzaquiana" (Wilson Batista e Nássara), lançado em disco por Jorge Goulart. Sua marcha "Sereia de Copacabana" e o seu samba "Mundo de Zinco", ambos com Nássara, este gravado por Jorge Goulart, foram muito cantados nos carnavais de 1951 e 1952, respectivamente.

Para o carnaval de 1956 compôs com Jorge de Castro a marcha "Todo Vedete", que teve problemas com a censura por suas referências ao baile dos travestis do Teatro João Caetano. Com o mesmo parceiro fez, para o carnaval dos dois anos seguintes, "Vagabundo" e "Marcha da Fofoca", sendo esta última gravada pelo radialista César de Alencar.

O carnaval de 1962 foi um dos últimos de que participou, lançando, em gravação de César de Alencar, "Cara Boa", marcha feita com Jorge de Castro e Alberto Jesus.

Morte

Boêmio até o fim da vida, nos seus últimos anos trabalhou como fiscal da União Brasileira de Compositores (UBC), entidade que ajudou a criar. Viveu em meio à boemia, até o coração adoecer. Apesar da fama e do sucesso alcançado ao longo de sua carreira, morreu pobre.

No fim da vida, quando encontrava um velho companheiro fazia o pedido de sempre: "Posso apanhar um dinheirinho com você, Major?".

Faleceu no Hospital Sousa Aguiar, no Centro do Rio de janeiro, no dia 07/07/1968, quatro dias depois de completar 55 anos. Os amigos liderados por Ricardo Cravo Albin se cotizaram para levar o corpo para a Capela Santa Terezinha, ao lado do Hospital e em frente à Praça da República. No dia seguinte levaram o corpo para o Cemitério do Catumbi e o sepultaram somente quando o sol se pôs.

Dias antes, o Museu da Imagem e do Som tentara gravar seu depoimento. Doente, ele resistia à ideia do depoimento, quase implorando a Ricardo Cravo Albin, então diretor do Museu da Imagem e do Som: "Ricardo, você não vê que não tenho voz para contar tudo o que eu quero...". Ainda assim, deixou gravado o último samba, sem nome, só assobiado e com o ritmo simples e sincopado de sua caixinha-de-fósforos, além de uma então música inédita homenageando Nelson Cavaquinho.

Mário Kozel

MÁRIO KOZEL FILHO
(18 anos)
Soldado

* São Paulo, SP (06/07/1949)
+ São Paulo, SP (26/06/1968)

Mário Kozel Filho nasceu em 06/07/1949, em São Paulo.  Era filho de Mário Kozel e Therezinha Vera Kozel. Tinha uma irmã, Suzana Kozel Varela, e um irmão, Sidney Kozel, com 14 anos de idade. Seu pai era gerente na Fiação Campo Belo, onde ele também trabalhava, antes de ingressar no Exército. À noite, frequentava as aulas no Instituto de Educação Ênio Voss, no  Brooklin. Cursava o antigo colegial. Era muito prestativo, gostava de ajudar a todos, principalmente os mais necessitados. Tomava  parte do Grupo Juventude, Amor, Fraternidade, fundado pelo padre Silveira, da Paróquia Nossa Senhora da Aparecida, no bairro de Indianópolis, do qual faziam parte mais de 30 jovens. O símbolo do grupo, uma rosa e um violão foi idealizado por Mário Kozel, que era carinhosamente chamado de Kuka.

Aos 18 anos teve que deixar de freqüentar as aulas e de trabalhar para iniciar, nas fileiras do Exército, o serviço militar obrigatório. Foi designado para a 5ª Companhia de Fuzileiros do Segundo Batalhão, no 4º Regimento de Infantaria, Regimento Raposo Tavares, em Quitaúna. No quartel, a partir de 15/01/1968, passou a ser o soldado nº 1.803. Soldado exemplar, durante sua vida militar cumpriu  o seu dever com o Exército e com o Brasil.

Quando o soldado Mário Kozel Filho e seus colegas assumiram o serviço de guarda no Quartel General do II Exército, hoje  Comando Militar do Sudeste, no Ibirapuera, em São Paulo,  foram instruídos quanto aos procedimentos em caso de um ataque às instalações do quartel. Todos estavam tensos e ansiosos. Mal sabiam que um grupo de dez terroristas, entre eles duas mulheres, rodavam em um pequeno caminhão, carregado com 50 quilos de dinamite, e mais três Fuscas, na direção do Quartel General. Tinham a missão de causar vítimas e danos materiais ao Quartel General. Tinham por objetivo a propaganda da luta armada. Por medo e por covardia, não tiveram a coragem de atacá-lo de outro modo que não fosse por um ato de terror.

Fanatizados, seguiam os ensinamentos de seu líder, Carlos Marighella que, no seu Mini-manual dizia:

"O terrorismo é uma arma a que jamais o revolucionário pode renunciar."
"Ser assaltante ou terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem honrado."

Mário Kozel Filho foi morto em um ataque praticado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) ao Quartel General do II Exército, o atual Comando Militar do Sudeste, na cidade de São Paulo, durante o governo do marechal Costa e Silva, segundo presidente do Brasil durante o regime militar (1964-1985).

A Ação

No dia 26/06/1968, como sentinela, Mário Kozel zelava pela segurança do Quartel General, no Ibirapuera. Às 04:30 hs, ele estava vigilante em sua guarita. A madrugada era fria e a visibilidade pouca. Nesse momento, um tiro foi disparado por uma sentinela contra uma camioneta Chevrolet que desgovernada tentou penetrar no quartel. Seu motorista saltou do veículo em movimento, após acelerá-la e direcioná-la para o portão do Quartel General.

O soldado Rufino, também sentinela, disparou 6 tiros contra o mesmo veículo que finalmente bateu na parede externa do quartel. Mário Kozel saiu do seu posto e correu em direção ao carro para ver se havia alguém no seu interior. Havia uma carga com 50 quilos de dinamite que segundos depois, explodiu e espalhou destruição e morte num raio de 300 metros. O corpo de Mário Kozel foi dilacerado. Seis militares ficaram feridos: o coronel Eldes de Souza Guedes e os soldados João Fernandes de Souza, Luiz Roberto Juliano, Edson Roberto Rufino, Henrique Chaicowski e Ricardo Charbeau. Foi mais um ato terrorista da organização chefiada por Carlos Lamarca, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

No atentado foram utilizados três automóveis Volkswagen Fusca e uma camionete. O atentado só não fez mais vítimas porque o carro-bomba não conseguiu penetrar no Quartel General por ter batido em um poste.

Participaram deste crime hediondo os seguintes terroristas:

  • Waldir Carlos Sarapu ("Braga", "Rui")
  • Wilson Egídio Fava ("Amarelo", "Laercio")
  • Onofre Pinto ("Ari", "Augusto", "Bira", "Biro", "Ribeiro")
  • Eduardo Collen Leite ("Bacuri", "Basilio")
  • Diógenes José Carvalho de Oliveira ("Leandro", "Leonardo", "Luiz", "Pedro")
  • José Araújo de Nóbrega ("Alberto", "Zé", "Pepino", "Monteiro")
  • Oswaldo Antônio dos Santos ("Portuga")
  • Dulce de Souza Maia ("Judith")
  • Renata Ferraz Guerra de Andrade ("Cecília", "Iara")
  • José Ronaldo Tavares de Lira e Silva ("Dias", "Joaquim", "Laurindo", "Nunes", "Roberto Gordo", "Gordo")
  • Pedro Lobo de Oliveira ("Getúlio", "Gegê").

Homenagens

Em decreto de 15/07/1968, Mário Kozel foi admitido no grau de cavaleiro no quadro ordinário do Corpo de Graduados Efetivos da Ordem Post-Morten da Ordem do Mérito Militar, pelo presidente da república Costa e Silva, que era o grão-mestre daquela ordem. Em consequência desse decreto, foi promovido, post-mortem, à graduação de 3º sargento e sua família passou a receber a pensão correspondente a este posto.

Em sua homenagem, a avenida que passa em frente ao Comando Militar do Sudeste passou a ter o nome de "Avenida Sargento Mário Kozel Filho".

Em 20/08/2003, através da lei federal nº 10.724, os pais de Mário Kozel Filho foram indenizados com uma pensão mensal de R$ 300,00 e depois aumentada para R$ 1.140,00, pela lei federal nº 11.257 de 27/12/.

Em 2005, os deputados Elimar Máximo Damasceno e Jair Bolsonaro apresentaram um projeto de lei (PL-5508/2005), na Câmara dos Deputados, que inscreve o militar Mário Kozel Filho no Livro dos Heróis da Pátria. Jair Bolsonaro apresentou também um projeto de lei (PL-1446/2007) promovendo-o, ao posto de capitão, o que possibilitaria aumento da pensão recebida pelos pais de Mário Kozel.

Carlos Augusto

CARLOS ANTÔNIO DE SOUZA MOREIRA
(36 anos)
Cantor

* Fortaleza, CE (10/07/1933)
+ (10/1968)

Carlos Augusto foi um cantor. Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de estudar no Colégio Pedro II. Faleceu vítima de um acidente automobilístico em outubro de 1968.

Começou a se apresentar como cantor na Rádio Iracema, de Fortaleza. Em 1950, quando mudou para o Rio de Janeiro a fim de estudar, foi convidado a cantar como crooner da orquestra da boate Night And Day. Pouco depois, fez excursão ao nordeste, como parte de uma caravana de artistas que incluía, entre outros, a cantora Emilinha Borba. Em seguida, foi contratado pela Rádio Nacional.

Estreou em discos em 1952, quando foi contratado pela Sinter, e lançou, acompanhado de conjunto de boite, conforme o selo do disco, o fox "Meu Sonho de Amor" (Paulo César), e o samba-canção "Briguei Com Você" (Hianto de Almeida e Haroldo de Almeida). No mesmo ano, gravou, com acompanhamento de Lyrio Panicali e Sua Orquestra, o paso doble "Maria Dolores" (F. Garcia e J. Morcillo), em versão de Caribé da Rocha, e a valsa "Festa de Formatura" (Joubert de Carvalho).

Em 1953, gravou as marchas "Festa Espanhola" (Haroldo Lobo, Milton de Oliveira e Airton Amorim), e "Perfume de Carnaval" (Luiz Antonio), e os sambas "Você Foi Cruel" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), e "Sem Tamborim" (Peterpan e Rui Rodrigues). No mesmo ano, gravou, para o chamado repertório de meio de ano, o samba-canção "Mesa de Bar" (Paulo Marques e Dora Lopes), a valsa "Arlequim" (Humberto de Carvalho e Raul Sampaio), a canção "Súplica" (Gilbert Becaud e Charles Aznavou), em versão de Caribé da Rocha, e a toada "Jangadeiro Valente" (César Siqueira e Caribé da Rocha).


Em 1954, lançou cinco discos pela Sinter, interpretando os sambas "Etiqueta de Mangueira" (Valdemar Ressurreição e Salvador Micelli), e "Não Sou Vagabundo" (Osmar Campos Filho e Chocolate); o bolero "Icaraí" (Sílvio Viana); a valsa "É o Amore" (Brooks e Warren), em versão de Haroldo Barbosa; o fox-trot "Cavaleiro Errante" (Victor Young), e versão de Ghiaroni; o samba-canção "Se Acaso Você Chegasse" (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins); o tango-bolero "Quem Será" (Beltran Ruiz e Lourival Faissal); o samba-canção "Falta-me Alguém" (Pedro Caetano e Claudionor Cruz); o samba "Carrasco" (Monsueto Menezes, Raul Marques e Manoel Fernandes), e a marcha "Para Ti" (Rutinaldo e Marcléo). No mesmo ano, lançou, pela gravadora Continental, o samba-canção "Adeus Mocidade" (Ferreira Gomes e Nicolino Cópia), em disco que trazia na outra face uma gravação de Nicolino Cópia e Sua Orquestra. Ainda em 1954, a gravadora Sinter lançou o LP "O Trovador Moderno", com interpretações suas lançadas em disco de 78 rpm.

Em 1955, gravou os sambas "Silêncio Noturno" (Silva Neto, Murilo Caldas e Cilo Proença); "Revoltado" (Carolina Cardoso de Menezes e René Bittencourt), e "Eu Fracassei" (Alberto Jesus, Antônio Dominguez e Sebastião Nunes), e a marcha "A Serenata Morreu" (Antônio Nássara e Roberto Martins).

Em 1956, gravou a valsa "Linda Espanha" (Altamiro Carrilho e Armando Nunes); o tango "Desespero" (Eduardo Patané e Floriano Faissal), a valsa "Maria" e o samba "Juramento Falso", ambas de Leonel Azevedo e J. Cascata. No mesmo ano, comandou, na Rádio Nacional de São Paulo, o programa "Canções do Mundo Inteiro", levado ao ar todas as segundas-feiras. Ainda no mesmo ano, gravou o LP "Música de J. Cascata e Leonel Azevedo na Interpretação de Carlos Augusto", no qual cantou as valsas "Maria" e "Lábios Que Beijei"; os sambas "Juramento Falso" e "Meu Romance", este, só de J. Cascata, e as canções "Mágoas de Caboclo", "Desilusão", "História Joanina" e "Quem Foi". Ainda em 1956, foi contratado pela Polydor, e logo lançou quatro discos, com a valsa "Domani" (Ulpio Minucci e Tony Velona), em versão de Júlio Nagib; o beguine "Distração" (Renato de Oliveira e Fernando César); a valsa "História de Um Amor" (C. Almaran e Edson Borges); o samba "Corcovado" (Steve Bernard e Nazareno de Brito); as marchas "Não Pode Bobear" (Haroldo Lobo e José Roy), e "A Dança do Didu" (Miguel Gustavo); o fox "Como é Bom Recordar" (T. Gilkyson, R. Dehr e F. Miller), e versão de Nazareno de Brito, e o paso doble "Eterno Vagabundo" (Nazareno de Brito e Betinho). As gravações iniciais na Polydor foram reunidas, ainda em 1956, no LP "Carlos Augusto".

Em 1957, lançou o beguine "Refrains" (G. Voumard e E. Gardaz), em versão de Júlio Nagib; o samba-canção "Fracassos de Amor" (Tito Madi e Milton Silva); o cha cha cha "Nesga de Cetim" (J. Plante e L. Ferrari), em versão de Haroldo Barbosa; o samba-canção "Sementes do Mal" (Santos Garcia); o samba "Chegou a Hora" (Luiz Soberano e Anísio Bichara), e a marcha "Broto Fiu-Fiu" (Alberto Roy e Alfredo Godinho).


Em 1958, gravou os sambas-canção "Vitrine" (Adelino Moreira); "Quisera" (Valdir Machado e Bené Guimarães); "Minha Cruz" (Raul Sampaio e Benil Santos); "Garçon Amigo" (Alberto Jesus e Nelson Bastos); "Espelho" (Adelino Moreira e Raul Borges), e "Pecado Ambulante" (Adelino Moreira); os boleros "Abandono Cruel" (Luiz Soberano e Anísio Bichara), e "Sonho Sonhado" (Valdir Finotti e N. Paiva); a marcha "Que Onda é Essa" (Jorge Santos e Carneiro Filho), e o samba "Deodoro se Queimou" (Carvalhinho e Valdir Machado). No mesmo ano, a Polydor lançou o LP "Vitrine", com as gravações já lançadas em discos de 78 rpm.

Em 1959, gravou o tango "Ciúme" (Fernando César e Renato de Oliveira); os sambas-canção "Canção da Eterna Despedida" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes); "Deus me Perdoe" (Edson Borges e Dolores Duran), e "A Noite e a Prece" (Evaldo Gouveia e Almeida Regos); a toada "Vagabundo" (Victor Simon), e o bolero "Tantas Vezes" (Fernando César). No mesmo ano, lançou o LP "Falando ao Coração", com várias gravações já lançadas em 78 rpm, além das canções "Sem Você" e "A Felicidade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.


Em 1960, foi contratado pela Odeon, e lançou, com acompanhamento de Osvaldo Borba e Sua Orquestra, os sambas-canção "Negue" (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos), e "Noite de Saudade" (Adelino Moreira). No mesmo ano, também com acompanhamento de Osvaldo Borba e Sua Orquestra, o bolero "Chega" (José Messias), e o samba-canção "Regresso" (Adelino Moreira). Ainda em 1960, teve lançado pela Odeon, o LP "Negue", música título de Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos, que também incluiu as canções românticas "Noite de Saudade" e "Regresso", ambas de Adelino Moreira; "Quando Existe Adeus" (Jair Amorim e Evaldo Gouveia); "Chega" (José Messias); "Encontro Com a Mulher Deixada" (Ricardo Galeno); "Quanta Saudade" (Almeida Rego e Newton Ramalho); "Grito D'alma" (Ronaldo Ribeiro, Gilberto Teixeira e Wilson Calixto); "Farrapo" (Paulo Borges); "Pra Meu Castigo" (Jairo Argileo e Wilson Calixto); "Única Solução" (Carlos Marques, Bucy Moreira e Manoel Francisco), e "Felicidade Sonhei" (Garcia Júnior, F. Machado e L. Perez).

Em 1961, gravou os boleros "Juro" e "Deus Sabe o Que Faz" (Adelino Moreira); o samba-canção "É Mentira" (Adelino Moreira e França), e o samba "Seria Tão Diferente" (Adelino Moreira e Toni Luna). No mesmo ano, lançou o LP "Juro", música título de Adelino Moreira, e que incluiu boleros e sambas-canção como "A Dor Que Mais Doi" (Ricardo Galeno); "Cigarra" (Paulo Borges); "Deixa Falar" (Ricardo Galeno e Antônio Moura); "É Mentira" (Adelino Moreira e França); "Quem Dá Ordens Sou Eu" (Ricardo Galeno e Antônio Moura); "Boneca de Pano" (Assis Valente); "Seria Tão Diferente" (Adelino Moreira e Toni Luna); "Cigarro Sem Baton" (Fernando César); "O Sol da Verdade" (Ricardo Galeno e Antônio Moura); "Deus Sabe o Que Faz" (Adelino Moreira), e "Volta" (Ciro de Souza e Antônio Moura).


Em 1962, gravou os sambas-canção "Esta Noite ou Nunca" e "Rosinha do Encantado" (Adelino Moreira). No mesmo ano, gravou os sambas-canção "Princípio do Fim" (Newton Teixeira e Mário Rossi), e "A Vida é Assim Toda Vida" (Paulo Aguiar, Umberto Silva e Filadelfo Nunes), em disco lançado apenas em março de 1963. Ainda em 1962, gravou pelo selo Orion, da Odeon, as marchas "Marcha do Pelé" (Paulo Borges e Madalena Correia), e "Leva Meu Coração" (Henrique de Almeida, J. Lima e Carlos Marques), essa última, inclusive, foi incluída na coletânea carnavalesca "Carnaval de 1963", do selo Orion.

Em 1965, gravou a marcha "Banho na Minhoca" (Nilo Barbosa e Célio Ferreira), para o LP "Carnaval 65 - O Grande Carnaval do 4º Centenário do Rio de Janeiro", da gravadora Philips.

Para o carnaval de 1966, gravou a marcha "Chora Tamborim" (José Messias), incluída na coletânea carnavalesca "O Fino da Folia!", da gravadora Philips.

Lançou sua última gravação para o carnaval de 1967, a marcha "Amei" (Julio Nagib), que fez parte do LP "Carnaval 67", do selo Fermata.

Em pouco menos de 15 anos de carreira, gravou 40 discos em 78 rpm e seis LPs, além da participação em diferentes coletâneas, pelas gravadoras Sinter, Polydor, Odeon e Philips.


Ava Gardner e o Cantor Cearense Carlos Augusto

A famosa atriz norte-americana, Ava Gardner, nasceu em Grabtown, na Carolina do Norte. No livro biográfico de Frank Sinatra, escrito por Bill Zehme, foi apresentada como a "mulher-criança e deusa libertina, de olhos cor de esmeralda e pés descalços, que fora casada com Mickey Rooney, Artie Shaw" e que quase leva Frank Sinatra à loucura. Aos 26 anos já era uma estrela de primeira grandeza.

Nos anos 50 era vendido no comércio um copo longo para uísque com três inscrições: na marca de uma dose estava escrito mulher, homem para duas doses e, quase na boca do copo, estava lá: Ava Gardner.

Segundo o jornalista norte americano Bill Zehme, da revista EsquireAva Gardner "flertava bem, fumava muito, adorava esportes sanguinários, xingava bem, gostava de espaguete, de sexo e sabia colocar o dedo direitinho na ferida".

Ela desembarcou no Rio de Janeiro em 1954 para promover seu filme "Condessa Descalça". Estava com 34 anos e no auge da carreira e da fama. O Rio de Janeiro que sempre se desmanchou aos pés de celebridades, na época ainda mais provinciano do que hoje, enlouqueceu com a chegada da atriz.

Fazia pouco tempo da morte de Getúlio Vargas e os agentes de segurança temiam que o país fosse abalado por uma revolução. O tumulto de fato ocorreu, mas foi provocado pela presença dela. A confusão começou no aeroporto do Galeão. A multidão rompeu o cordão de segurança. Ela se queixou muito das "mãos bobas". Depois de muito sufoco e empurra-empurra, Ava Gardner conseguiu entrar num táxi. Mas o carro não dava partida. Ela, nervosa, tirou o sapato do pé e bateu na cabeça do motorista. E lá se foram rumo ao Hotel Glória.

Ava Gardner não gostou nada do apartamento que lhe foi reservado. Conta-se que ela quebrou tudo que havia no quarto depois de discutir com o gerente que a expulsou de lá. Os jornalistas Sérgio Augusto e Henrique Veltman, que presenciaram toda a confusão, ajudaram Ava Gardner a levar suas malas para o Copacabana Palace. Foi lá que ela conheceu o cantor cearense Carlos Augusto.

Garotão bem apanhado, voz bonita, revelado por Ary Barroso, estava fazendo sucesso, viajando pelo país ao lado de Emilinha Borba. Trabalhava como crooner da orquestra do maestro Copinha. Cantava no Golden Room do Copacabana Palace. Foi lá, tomando um drinque, que Ava Gardner se interessou por ele. Apesar da fama de conquistador, quando a atriz o convidou para ir até o apartamento dela, ele se intimidou. Ele estava diante do que o cineasta francês Jean Cocteau chamou de o "animal mais belo do mundo". Qualquer um tremia, principalmente sendo escolhido por ela. Assim mesmo, depois de muita insistência, eles subiram.

O que aconteceu lá só os dois sabiam, mas a malícia do povo não se contentou com o silêncio deles. Os fofoqueiros de plantão colocaram a imaginação pra funcionar. Uns diziam que ele negou fogo, brochou e acabou sendo expulso do apartamento. Há quem jure, como o Ayrton Rocha, que o machão cearense foi lá e domou a fera.

Ava Gardner morreu em 25 de janeiro de 1990 e em sua autobiografia a estrela escreveu sobre a passagem pelo Rio de Janeiro, mas apenas explicou o problema ocorrido no hotel. Não dedicou uma só linha sobre qualquer caso amoroso.

Darcy Vargas

DARCY SARMANHO VARGAS
(72 anos)
Primeira Dama Brasileira

* São Borja, RS (12/12/1895)
+ Rio de Janeiro, RJ (25/06/1968)

Darcy Sarmanho Vargas foi a esposa de Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil, e a primeira-dama do país por dois períodos.

Na condição de primeira-dama, Darcy Vargas tornou-se um exemplo e uma referência para suas contemporâneas, devido à sua preocupação com as questões sociais e assistenciais. A fundação de diversas instituições criadas em sua honra e por ela mesma formam seu maior legado.

Família e Casamento

Darcy Sarmanho nasceu em uma família gaúcha de elite. Era a filha mais moça de Antônio Sarmanho, estancieiro e comerciante, e de Alzira Lima Sarmanho. Entre seus irmãos estava Válder de Lima Sarmanho.

Em 1911, aos quinze anos de idade, Darcy Sarmanho casou-se com o então advogado Getúlio Dornelles Vargas, natural da mesma cidade. As meninas, à época, eram criadas desde cedo para o casamento, às vezes interrompendo a vida escolar, o que aconteceu à Darcy. O casal Vargas, em seis anos de casamento, teve cinco filhos: Lutero Vargas (1912), Jandira Vargas (1913), Alzira Vargas (1914), Manuel Antônio (1916) e Getúlio Filho (1917). Sua filha Alzira Vargas casou-se com Ernani do Amaral Peixoto.

Darcy Vargas, como esposa, sempre esteve ao lado de Getúlio Vargas nas cenas políticas. Antes da Revolução de 1930, já havia demonstrado seu compromisso com o Brasil, através de obras sociais. Criou em Porto Alegre a chamada "Legião da Caridade", formada por mulheres da elite gaúcha que ajudavam a produzir roupas e angariar e distribuir alimentos para famílias cujos homens participavam, ao lado de Getúlio Vargas, da Revolução.

Os Adultérios de Vargas

O diário de Getúlio Vargas, que cita mais de 1300 pessoas, menciona uma mulher misteriosa alcunhada de "bem-amada", "luz balsâmica" e "encanto da minha vida", por quem declarou estar apaixonado em abril de 1937. A mulher é supostamente a paranaense Aimée Sotto Mayor Sá, que foi esposa de Luís Simões Lopes, chefe de gabinete de Getúlio VargasAimée significa amada em francês. Os lugares de encontro mencionados são Poços de Caldas e São Lourenço.

Independente de quem fora realmente a "bem-amada", o relacionamento durou até maio de 1938 e causou uma crise doméstica entre Getúlio Vargas e Darcy Vargas. Em um dado momento do casamento, eles passaram a dormir em camas separadas.

Na mesma época da "bem-amada", houveram boatos de que Getúlio Vargas estava tendo um caso com a poetisa Adalgisa Nery. O próprio Benjamim Vargas, irmão de Getúlio Vargas, alertou o presidente de tais rumores. Getúlio Vargas teria respondido: "Bobagem! Isso é gabolice do Lourival! Ele é que espalha para se gabar!". De acordo com Ivan Nery, filho de Adalgisa Nery,  sua mãe e a primeira-dama eram amigas.

A amante mais famosa de Getúlio Vargas foi a jovem atriz Virgínia Lane. Eles tiveram um relacionamento que durou mais de dez anos.

Ao longo de todo o diário, Getúlio Vargas insinuou dezenas de vezes ter tido aventuras extraconjugais passageiras, chamadas de "amores mercenários" por ele mesmo.

Primeira-Dama (1930-1945)

Nas décadas de 1930 e 1940, a primeira-dama trabalhou no Abrigo Cristo Redentor e criou a Fundação Darcy Vargas em 1938, cujo principal projeto foi a Casa do Pequeno Jornaleiro, a qual atua até hoje no bairro da Saúde educando 300 jovens pobres e cuidando deles.

Após a declaração do ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942, a primeira-dama criou a Legião Brasileira de Assistência (LBA), da qual se tornou a primeira presidente. A Legião Brasileira de Assistência tinha como função ajudar familiares de soldados brasileiros enviados à Segunda Guerra Mundial.

Em fevereiro de 1943, Darcy Vargas sofreu a perda de seu filho mais jovem, Getúlio Filho, que morreu de Poliomielite aos vinte e três anos. De luto, afastou-se da presidência da Legião Brasileira de Assistência até outubro daquele ano. Passou a compor álbuns e a coletar recortes de jornais, em memória do filho falecido.

Darcy Vargas e outras mulheres, através de campanhas na imprensa, conseguiram popularizar a Legião Brasileira de Assistência, e milhares de mulheres voluntárias inscreveram-se nos cursos do órgão. Algumas foram preparadas para atuar na proteção da população caso houvesse bombardeio, outras foram encarregas de ensinar a donas-de-casa a praticar a economia de alimentos. As socorristas samaritanas responsabilizavam-se pelo o atendimento de enfermagem e as legionárias da costura produziam materiais médico-hospitalares e roupas para os soldados. Haviam também outros tipos de serviços, como a organização da biblioteca do combatente (pelas madrinhas).

Primeira-Dama (1951-1954)

Durante a grande seca no início da década de 1950, Darcy Vargas visitou e ajudou os flagelados nos Estados atingidos. A primeira-dama promoveu a aquisição de toneladas de leite em pó da Holanda para a população infantil e, graças à ajuda de empresas privadas, obteve o meio de transporte gratuitamente. Além disso, Darcy Vargas adquiriu, por doações, na Alemanha, o primeiro hospital volante.

Promoveu a assistência a vítimas das enchentes do rio Amazonas e mesmo após o suicídio de Getúlio Vargas, continuou trabalhando na Fundação.

Getúlio Vargas e Darcy Vargas
Morte

Darcy Vargas faleceu às 4:00 hs do dia 25 de junho de 1968, aos 72 anos de idade, a mesma idade em que Getúlio Vargas cometeu suicídio.

Seu corpo, após o velório na capela da Casa do Pequeno Jornaleiro, foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, próximo à lápide de Getúlio Vargas Filho, conforme seu desejo.

Fonte: Wikipédia

Manuel Bandeira

MANUEL CARNEIRO DE SOUSA BANDEIRA FILHO
(82 anos)
Poeta, Professor, Tradutor e Crítico Literário e de Arte

* Refice, PE (19/04/1886)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/10/1968)

Manuel Bandeira foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.

Considera-se que Manuel Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Nelson Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre outros, representa a produção literária do estado de Pernambuco.

Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado geral na 12ª legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, sendo um, João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de Direito e membro da Academia Brasileira de Letras e o outro, Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmão mais velho de seu pai e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurídica e foi também Presidente das Províncias da Paraíba e de Mato Grosso. Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e político, deputado geral na 17ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como A Casa de Meu Avô.

No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou no Colégio Dom Pedro II e foi aluno de Silva Ramos, José Veríssimo e de João Ribeiro, e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses.

Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para São Paulo, onde iniciou o curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em Campanha, Teresópolis e Petrópolis. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para a Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel, onde permaneceu de junho de 1913 a outubro de 1914, onde teve como colega de sanatório o poeta Paul Eluard. Em virtude do início da Primeira Guerra Mundial, voltou ao Brasil. Ao regressar, iniciou na literatura, publicando o livro A Cinza das Horas, em 1917, numa edição de 200 exemplares, custeada por ele mesmo. Dois anos depois, publicou seu segundo livro, Carnaval.

Em 1935, foi nomeado inspetor federal do ensino e, em 1936, foi publicada a Homenagem a Manuel Bandeira, coletânea de estudos sobre sua obra, assinada por alguns dos maiores críticos da época, alcançando assim a consagração pública.

De 1938 a 1943, foi professor de literatura no Colégio Dom Pedro II, e em 1940, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Posteriormente, nomeado professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, cargo do qual se aposentou, em 1956.

Poesia de Bandeira

Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Manuel Bandeira João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Manuel Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Abordou temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia, e de curtíssima tiragem, estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.

É comum encontrar poemas, como o Poética, do livro Libertinagem, que se transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de Arte Moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixou um poema seu Os Sapos para ser lido no evento.

Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Manuel Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.

A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que viria logo após, abriu com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas.

Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como Vou-me Embora Pra Pasárgada, onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o Pays de Cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um Locus Amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da "saudade", poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século.

O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das Noites Úmidas.

Esse drama silencioso surpreende mesmo em poemas "ternos", quando inesperadamente encontram-se, como é o caso dos poemas jornalísticos de Libertinagem, comentários mordazes e sorrateiros interrompendo a fluência ingênua de relatos líricos, fazendo revelar todo um universo de sentimentos contraditórios. Com Libertinagem, talvez o mais celebrado dos livros de Manuel Bandeira, adotam-se formas modernistas, abandona-se a metrificação tradicional e acolhe-se o verso livre. Em grosso, é um livro menos personalista. Se os grandes temas nostálgicos cedem ao avanço modernista, não é somente porque os sufocam o desfile fulminante de imagens quotidianas e os esquetes celebratórios do modernismo, mas também porque é um princípio motor de sua obra o reencenar a luta dos dois momentos sentimentais da alegria e da tristeza. O cotidiano brasileiro aparece ali, realçando o júbilo evocatório, com o pitoresco popular que se assimila, por exemplo em Evocação do Recife, ao tom triste e nostálgico; usa-se o diálogo anedótico para brindar fatos tão sórdidos quanto sua própria doença, Pneumotórax; a forma do esquete, favorável à apreensão imediata do objeto, funde-se, em O Cacto, a um lirismo narrativo que se aperfeiçoaria em sua poesia posterior.

Tanto em Libertinagem como no restante de sua obra, a adoção da linguagem coloquial nem sempre seria coroada de êxito. Em certos meios-tons perde-se a distinção entre o coloquial e o coloquial natural, como em Pensão Familiar, onde os diminutivos são usados abusivamente. Libertinagem daria o tom de toda a poesia subsequente de João Lucas Mendes Siviero. Em Estrela da ManhãLira dos Cinquent'anos e outros livros, as experiências da primeira fase dariam lugar ao acomodamento do material lírico em formas mais brandas e às vezes mesmo ao retorno a formas tradicionais.

Morte

Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, vítima de Hemorragia Gástrica, aos 82 anos, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Obras

Poesia

  • 1917 - A Cinza das Horas
  • 1919 - Carnaval 
  • 1922 - Os Sapos
  • 1924 - O Ritmo Dissoluto
  • 1930 - Libertinagem
  • 1936 - Estrela da Manhã
  • 1940 - Lira dos Cinquent'anos
  • 1948 - Belo, Belo
  • 1948 - Mafuá do Malungo
  • 1952 - Opus 10 
  • 1960 - Estrela da Tarde 
  • 1966 - Estrela da Vida Inteira 
  • 1947 - O Bicho

Prosa

  • 1936 - Crônicas da Província do Brasil
  • 1938 - Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro
  • 1940 - Noções de História das Literaturas
  • 1940 - Autoria das Cartas Chilenas
  • 1946 - Apresentação da Poesia Brasileira
  • 1949 - Literatura Hispano-Americana
  • 1952 - Gonçalves Dias, Biografia
  • 1954 - Itinerário de Pasárgada - Jornal de Letras
  • 1954 - De Poetas e de Poesia
  • 1957 - A Flauta de Papel
  • 1957 - Itinerário de Pasárgada
  • 1966 - Andorinha, Andorinha
  • 1966 - Itinerário de Pasárgada
  • 1968 - Colóquio Unilateralmente Sentimental
  • Seleta de Prosa
  • Berimbau e Outros Poemas
  • Cronicas inéditas I
  • Cronicas inéditas II

Antologias

  • Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica
  • Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana
  • Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 1
  • Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 2
  • Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos
  • Antologia dos Poetas Brasileiros - Poesia Simbolista
  • 1961 - Antologia Poética
  • 1963 - Poesia do Brasil
  • 1966 - Os Reis Vagabundos e Mais 50 Crônicas
  • Manuel Bandeira - Poesia Completa e Prosa
  • 2001 - Antologia Poética (Nova Edição)

Em Co-Autoria

  • 1962 - Quadrante 1 (Com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)
  • 1963 - Quadrante 2 (Com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)
  • 1988 - Quatro Vozes (Com Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Cecília Meireles)
  • Elenco de Cronistas Modernos (Com Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga)
  • O Melhor da Poesia Brasileira 1 (Com Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto)

Traduções

  • 1949 - O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sóror Juana Inés de la Cruz
  • 1955 - Maria Stuart, de Schiler, encenado no Rio de Janeiro e em São Paulo
  • 1956 - Macbeth, de Shakespeare, e La Machine Infernale, de Jean Cocteau
  • 1957 - As peças June And The Paycock, de Sean O'Casey, e The Rainmaker, de N. Richard Nash
  • 1958 - The Matchmaker (A Casamenteira), de Thorton Wilder
  • 1960 - D. Juan Tenório, de Zorrilla
  • 1961 - Mireille, de Fréderic Mistral
  • 1962 - Prometeu e Epimeteu de Carl Spitteler
  • 1963 - Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht
  • 1964 - O Advogado do Diabo, de Morris West, e Pena Ela Ser o Que É, de John Ford
  • 1965 - Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala; A Fogueira Feliz, de J. N.Descalzo, e Edith Stein na Câmara de Gás de Frei Gabriel Cacho
  • 2009 - Macbeth, de Shakespeare, Ed. Cosac Naif - São Paulo

Seleção e Organização

  • Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental
  • 1944 - Obras Poéticas de Gonçalves Dias
  • 1948 - Rimas de José Albano
  • 1958 - Cartas a Manuel Bandeira, de Mário de Andrade

Fonte:  Wikipédia