(47 anos)
Aviador
* Jaú, SP (04/04/1900)
+ Jaú, SP (20/07/1947)
Com seus companheiros foi um dos pioneiros da travessia aérea do
Atlântico Sul, no dia 28 de abril de 1927, a bordo do hidroavião
Jahú. Os demais tripulantes foram
Arthur Cunha (na primera fase da travessia) e depois
João Negrão (co-pilotos),
Newton Braga (navegador) e
Vasco Cinquini (mecânico). Os quatro aeronautas partiram de Gênova, Itália, até Santo Amaro, São Paulo, fazendo escalas em Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e Fernando de Noronha, já em território brasileiro.
Filho de
Sebastião Ribeiro de Barros e
Margarida Ribeiro de Barros, tinha seis irmãos. Estudou no
Ateneu Jauense, fundado por seu avô o capitão
José Ribeiro de Camargo Barros em 1853, e completou seus estudos secundários no
Instituto de Ciências e Letras de São Paulo. Era considerado um bom aluno. Ingressou na
Faculdade do Largo de São Francisco, atual
Universidade de São Paulo, onde cursou Direito por dois anos.
Em 1919 abandonou este curso e decidiu dedicar-se ao estudo de
engenharia mecânica nos EUA. Em 21 de Fevereiro de 1923 conseguiu o
brevet internacional nº 88 da
Liga Internacional dos Aviadores sediada na França. Iniciou efetivamente sua carreira de piloto neste país. Aperfeiçou seus conhecimentos como navegador aéreo e piloto nos EUA e de acrobacias aéreas na Alemanha.
Em 1926 iniciou o projeto que o tornaria famoso: relizar um "reide" (como eram conhecidas na época as travessias aéreas transatlânticas) a partir da Itália a bordo de um hidroavião e chegar ao Brasil sem utilizar navios de apoio ao longo da viagem. Pensava que as aeronaves seriam inúteis enquanto dependessem de navios. Seu desejo era que o avião atuasse de forma totalmente independente.
Pediu auxílio ao governo brasileiro o que lhe foi negado. Nesta época
existia uma disputa não declarada entre vários países pela supremacia
nos ares. França, Inglaterra,
EUA, Alemanha, entre outros empenhavam-se em vôos transoceânicos. Já
que o sucesso destes empreendimentos era duvidoso e como o Brasil não
desejava indispor-se com as potências da época, João Ribeiro de Barros
não conseguiu ajuda oficial. Seu objetivo foi considerado impossível.
Portanto, já que nações mais "avançadas" não o alcançaram, presumiu-se
que o Brasil não teria chance.
Sem perder o ânimo, vendeu sua herança a seus irmãos e de posse deste dinheiro partiu para a Itália.
O Jahú
Com os próprios recursos e sem nenhuma ajuda governamental,
João Ribeiro de Barros adquiriu na Itália uma aeronave
Savoia-Marchetti S.55 avariada e promoveu, com
Vasco Cinquini, diversas reformas na mesma, melhorando assim a sua velocidade
e autonomia. Tais reformas foram tão positivas para o desempenho do
hidroavião que impressionaram os italianos. Anteriormente esteve na cidade de Nova York onde aconselhou-se com seu amigo
Gago Coutinho.
Esta mesma aeronave anteriormente fora utilizada pelo
Conde Casagrande, que possuía apoio do governo italiano, numa frustrada tentativa de
travessia transatlântica Itália-Brasil. Esta tentativa foi
interrompida em Casablanca na África e o avião foi considerado incapaz de realizar tal façanha. O aparelho, que saiu da fábrica com o nome original de
Alcione, foi rebatizado por seu novo proprietário com o nome
Jahú (de acordo com a ortografia da época) nome dado em homenagem à sua cidade natal, atual Jaú.
Saiu de Gênova na Itália em 18 de Outubro de 1926, com destino às ilhas de Cabo Verde para iniciar a sua primeira travessia do Atlântico.
Gago Coutinho e
Sacadura Cabral também fizeram escala nestas ilhas na histórica primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em 1922.
A Sabotagem
Seu avião foi sabotado, sendo assim necessária uma parada em Alicante, na Espanha, onde descobriu uma peça de bronze no carter do aparelho - que hoje encontra-se no
Museu da Aeronáutica -, além de água, areia e sabão no sistema de alimentação do motor. Provavelmente tal sabotagem ocorreu ainda na Itália antes da partida de Gênova.
Preso Pela Ditadura Espanhola
Foi preso pela ditadura presente na época na Espanha, acusado de ali pousar sem permissão. Teve que ser libertado pelo cônsul do Brasil na Espanha.
Nova escala de emergência é feita em Gibraltar onde são feitos novos reparos.
Dificuldades
Seguiu após alguns dias para Cabo Verde onde, devido a desentendimentos, dispensou o co-piloto Arthur Cunha.
Quando se preparava para fazer a travessia contraiu
malária e teve que esperar mais um tempo, além de ter que remontar e consertar todo o avião. Recebeu um telegrama
do governo brasileiro ordenando que desistisse de sua tentativa de
cruzar o Atlântico. Deveria também desmontar a aeronave, encaixota-la e
embarcar a mesma em um navio que seguisse para o Brasil.
Indignado com este fato, e até porque não recebera nenhuma espécie de
auxílio estatal para realizar sua empreitada, respondeu ao presidente
brasileiro:
"Exmo. Sr. Presidente: Cuide das obrigações do seu cargo e não se meta
em assuntos dos quais vossa excelência não entende e para os quais não
foi chamado, assinado: Comandante Barros."
(João Ribeiro de Barros)
Recebeu também um telegrama de sua mãe incentivando-o a prosseguir com o seu
"reide". Segue:
"Aviador Barros: Aplaudimos tua atitude. Não desmontes o aparelho.
Providenciaremos a continuação do reide, custe o que custar. Paralisação
do reide será fracasso. Asas do avião representam a bandeira
brasileira... Dizes se queres piloto auxiliar. Abraços a Braga e
Cinquini. E bençãos de tua mãe."
(Margarida Ribeiro de Barros)
Seu irmão,
Osório Ribeiro, viajou até Cabo Verde acompanhando o co-piloto substituto contratado por ele, o oficial da força pública de São Paulo, tenente
João Negrão.
Ao encontrar-se com o irmão e vendo o péssimo estado de saúde deste, após quatro crises de
malária,
Osório Ribeiro não conteve a emoção e chorou.
A Travessia
Sofreu sabotagens, chantagens de companheiros, o desdém do presidente
Washington Luís, mas perseverou, e às 4:30 hs. da manhã no dia 28 de abril de 1927, partindo de
Praia na
Ilha de Santiago (Cabo Verde), cruzou o Atlântico com seus três companheiros a bordo do
Jahú, que pousou triunfante às 17:00 hs. na enseada norte de
Fernando de Noronha.
O comandante
Nisbet do navio italiano
Angelo Toso testemunhou a amerissagem do
Jahú. Este comandante atestou que nos tanques da aeronave ainda restavam 250 litros de combustível.
Apesar de um dos motores apresentar problemas durante a viagem e enfrentar chuva, conseguiu estabelecer um recorde de velocidade que só foi batido alguns anos depois.
Triunfo
Após essa etapa, foi pousando em cada uma das grandes cidades do litoral, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo, onde foi recebido com grandes festas e honras.
O avião foi restaurado pela empresa
Helipark, de Carapicuíba, SP, e hoje está exposto no
Museu Asas de um Sonho em São Carlos, SP. Trata-se da única aeronave transatlântica da época que ainda existe e está com sua configuração original.
Segundo o historiador
Luís da Câmara Cascudo, no livro
No Caminho do Avião... Notas de Reportagem Aérea 1922-1933, o
Jahú pousou no
Rio Potengi, na cidade de Natal, no dia 14 de maio de 1927, completando sua travessia sobre o Oceano Atlântico.
"Para a tripulação do "Jahú" foram merecidas e, para nós, justas e
oportunas, as festas que se tornaram nacionais quando de sua aterrisagem
no estuário do Potengi."
(Luís da Câmara Cascudo)
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Monumento a João Ribeiro de Barros em Jaú. |
Outras Aventuras
Depois de obter sucesso em sua
"reide",
João Ribeiro de Barros partiu para novas aventuras. Em 1929 viajou à França onde adquiriu da fábrica
Breguet uma grande aeronave. Com esta pretendia voar diretamente do Brasil para a Europa. Juntamente com o mecânico
Mendonça, acompanhou o processo de montagem do avião.
A 7 de setembro
recebeu a notícia da morte de sua mãe Dona Margarida, fato que deixa-o
profundamente abalado. Envia o aparelho desmontado para o Brasil, onde,
no campo de pouso Latecoere, na Praia Grande, cidade de Santos, o mesmo é
montado. João Ribeiro de Barros prestou uma homenagem à sua mãe dando-lhe o nome "Margarida."
Voou até o Rio de Janeiro, de onde desejava partir do
Campo dos Afonsos
com destino à Europa.
Momentos antes da partida, mesmo sob os aplausos
de uma multidão, foi impedido de embarcar pelas autoridades. Iniciava-se a
Revolução de 1930,
por isso seu avião foi sumariamente confiscado pelo governo. Frustrado e
impedido até de aproximar-se da aeronave, decidiu fazer uma viagem
marítima pelo mundo.
Em 1932 retornou apressadamente ao Brasil onde participou da
Revolução Constitucionalista como voluntário. Viajou a pé pelo Vale do Paraíba, até à cidade de Taubaté. Doou para a causa da
Revolução todo o ouro que possuia, até mesmo medalhas recebidas pela façanha da travessia transatlântica de 1927.
Durante o governo do presidente
Getúlio Vargas foi preso na cidade de Jaú, na
Fazenda Irissanga, de sua propriedade, pelo delegado
Amaso Neto. Foi acusado de publicar clandestinamente um jornal de oposição ao governo. Foi posto em liberdade pois as investigações realizadas nada provam contra ele.
As Honrarias
Graças às suas façanhas, João Ribeiro de Barros conquistou títulos,
prêmios e recebeu várias homenagens, entre as quais se destacam:
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Túmulo de João Ribeiro de Barros |
Morte
João Ribeiro de Barros faleceu na
Fazenda Iriçanga em sua cidade natal, Jaú, a 20 de julho de 1947 devido a problemas hepáticos provocados pela
malária contraída anos antes.
Não casou nem deixou filhos. Seu corpo estava sepultado no cemitério municipal e seus restos mortais foram transferidos para a Praça Siqueira Campos na mesma cidade e alojados no monumento erigido no local em respeito à memória de sua pessoa e de suas grandes realizações.
Fonte: Wikipédia