Castro Alves

ANTÔNIO FREDERICO DE CASTRO ALVES
(24 anos)
Poeta

* Curralinho, BA (14/03/1847)
+ Salvador, BA (06/07/1871)

Era filho de Antônio José Alves e Clélia Brasília da Silva Castro.

Nasceu na Fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da Vila de Nossa Senhora da Conceição de Curralinho, hoje Castro Alves, no estado da Bahia.

Suas poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como Poeta dos Escravos. Foi o nosso mais inspirado poeta condoreiro.

Em 1852 transferiu-se com a família para Muritiba, BA, e depois para São Félix, BA, onde recebeu as primeiras letras.

Mudou-se com a família para Salvador, em 1854, e foram morar na Rua do Rosário, nº 1, sobrado onde ocorrera o assassinato de Júlia Feital, o célebre crime da bala de ouro. No ano seguinte, 1855, mudou-se para a Rua do Paço.

Em 1856 estuda no Colégio Sebrão. Em 1858 passa a estudar no Ginásio Baiano, de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas. Passa a residir no Solar da Boa Vista.

Em 1859 sua mãe, Dona Clélia de Castro Alves, falece.

No colégio, no lar por seu pai, iria encontrar uma atmosfera literária, produzida pelos oiteiros, ou saraus, festas de arte, música, poesia, declamação de versos. Aos 17 anos fez as primeiras poesias.

Recita, a 9 de setembro de 1860, as suas primeiras poesias no Ginásio Baiano e em 3 de julho de 1861, declama o seu primeiro poema dedicado ao 2 de julho, ainda no Ginásio Baiano.

O pai se casou por segunda vez em 24 de janeiro de 1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. No dia seguinte ao do casamento, o poeta e seu irmão Antônio José partiram para o Recife, enquanto o pai se mudava para o Solar do Sodré.

A 23 de junho de 1862, publica no Jornal do Recife Destruição de Jerusalém.

Em maio de 1863, submeteu-se à prova de admissão para o ingresso na Faculdade de Direito do Recife sendo reprovado. Mas seria em Recife, tribuno e poeta sempre requisitado nas sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações, que começava a receber e ia num crescendo de apoteose.

Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres. Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais belos poemas líricos do Brasil.

Em 1863 a atriz portuguesa Eugénia Câmara se apresentou no Teatro Santa Isabel. Influência decisiva em sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com Furtado Coelho.

No dia 17 de maio de 1863, Castro Alves publicou no primeiro número de A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão: A Canção do Africano.

A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira Hemoptise.

Ainda em 1963, seu irmão José Antônio, com sintomas de desequilíbrio mental, é transferido para o Rio de Janeiro.

Em 1864 seu irmão José Antônio, que sofria de distúrbios mentais desde a morte de sua mãe, suicidou-se em Curralinho. Castro Alves enfim consegue matricular-se na Faculdade de Direito do Recife, redige com colegas o jornal O Futuro. Escreve Mocidade e Morte, com o título primitivo de O Tísico. Volta para a Bahia em outubro, interrompendo o curso. Só retornaria ao Recife em 18 de março de 1865, acompanhado por Fagundes Varela.

A 10 de agosto de 1865, recitou O Sábio na Faculdade de Direito de Recife e se ligou a Idalina onde passaram a residir na Rua do Lima, onde escreve diversos poemas de Os Escravos. Alistou-se a 19 de agosto no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 16 de dezembro, voltou com Fagundes Varela a Salvador.

Seu pai morreu no ano seguinte, a 23 de janeiro de 1866. Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade, no curso jurídico. Nessa ocasião, fundou com Ruy Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista. Ainda em 1866, tornou-se amante de Eugénia Câmara. Lançou o jornal A Luz. Polemiza pela imprensa com Tobias Barreto. Em 7 de setembro, no Teatro Santa Isabel, recita Pedro Ivo.

Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugénia Câmara.

No Rio de Janeiro e em São Paulo

Em janeiro de 1868, embarcou com Eugénia Câmara para o Rio de Janeiro, sendo recebido por José de Alencar e visitado por Machado de Assis. A imprensa publicou troca de cartas entre ambos, com grandes elogios ao poeta. Em março, viajou com Eugénia Câmara para São Paulo. Decidiu ali, na Faculdade de Direito de São Paulo, continuar seus estudos, e se matriculou no terceiro ano.

Continuou principalmente a produção intensa dos seus poemas líricos e heroicos, publicados nos jornais ou recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais ruidosa impressão. Tinha 21 anos, e uma nomeada incomparável na sua geração, que deu entretanto os mais formosos talentos e capacidades literárias e políticas do Brasil; basta lembrar os nomes de Fagundes Varela, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Bias Fortes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos outros, que lhe assistiram aos triunfos e não lhe disputaram a primazia. É que ele, na linguagem divina que é a poesia, lhes dizia a magnificência de versos que até então ninguém dissera, numa voz que nunca se ouvira, como afirmou Constâncio Alves. Possuía uma voz dessas que "fazem pensar no glorioso arauto de Agamenon, imortalizado por Homero, Taltibios, semelhante aos deuses pela voz…", como disse Ruy Barbosa. Pregava o advento de uma "era nova", segundo Euclides da Cunha.

A 7 de setembro de 1868, fez a apresentação pública de Tragédia no Mar, que depois ganharia o nome de O Navio Negreiro. No dia 25 de outubro, foi reapresentada sua peça Gonzaga no Teatro São João.

Desfaz-se em 28 de agosto de 1868 sua ligação com Eugénia Câmara. Castro Alves foi aprovado nos exames da Faculdade de Direito e a 11 de novembro, tragédia de grandes consequências, se feriu no pé, durante uma caçada. Tuberculoso, aventara uma estadia na cidade de Caetité, onde moravam seus tios e morrera o avô materno, o major Silva Castro, herói da Independência da Bahia, dois grandes amigos (Otaviano Xavier Cotrim e Plínio de Lima), de clima salutar. Mas, antes disso, ainda em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu realizar uma caçada na várzea do Brás e feriu o pé com um tiro. Disso resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no começo de 1869, para salvar a vida, mas com o martírio de uma amputação. Os cirurgiões e professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Andrade Pertence e Mateus de Andrade, amputaram seu membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia.

Em março de 1869, matriculou-se no quarto ano do curso jurídico, mas a 20 de maio, tendo piorado seu estado, decidiu viajar para o Rio de Janeiro, onde seu pé foi amputado em junho. No dia 31 de outubro, assistiu a uma representação de Eugénia Câmara, no Teatro Fênix Dramática. Ali a viu pela última vez, pois a 25 de novembro decidiu partir para Salvador. Mutilado, estava obrigado a procurar o consolo da família e os bons ares do sertão.

O Retorno à Bahia

Em fevereiro de 1870 seguiu para Curralinho para melhorar a Tuberculose que se agravara, viveu na Fazenda Santa Isabel, em Itaberaba. Em setembro, voltou para Salvador. Ainda leria, em outubro, A Cachoeira de Paulo Afonso para um grupo de amigos, e lançou Espumas Flutuantes. Mas pouco durou.

Sua última aparição em púbico foi em 10 de fevereiro de 1871 numa récita beneficente. Morreu às três e meia da tarde, no solar da família no Sodré, Salvador, Bahia, em 6 de julho de 1871.

Seus escritos póstumos incluem apenas um volume de versos: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e, mais tarde, Hinos do Equador (1921).

É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.

Obras Poéticas

  • 1870 - Espumas Flutuantes
  • 1869 - O Navio Negreiro
  • 1876 - A Cachoeira de Paulo Afonso
  • 1883 - Os Escravos
  • 1921 - Hinos do Equador (Em edição de suas Obras Completas)
  • Tragédia no Mar

Obras Teatrais

  • 1875 - Gonzaga ou a Revolução de Minas

Homenagem

O trabalho de resgate e preservação de suas obras foi fruto da dedicação do antigo colega e amigo Ruy Barbosa e fruto da campanha abolicionista, que tomou corpo a partir de 1881. Posteriormente, Afrânio Peixoto, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, reuniu em dois volumes toda a produção do poeta, bem como escritos diversos, sob os títulos de Relíquias e Correspondência.

Em 1947 o Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação e Cultura, comemorou o centenário do nascimento do poeta com uma grande exposição, da qual resultou um livro comemorativo, trazendo importantes documentos que fizeram parte do evento.

O aspecto social da poesia de Castro Alves, em poemas como O Navio Negreiro e Vozes d'África, ambos publicados no livro Os Escravos, foi um dos motivos principais para a sua popularização. Nesse sentido, autores como Mário de Andrade, no modernismo, dedicaram-lhe inúmeros ensaios.

Na Literatura Latino Americana

Numa das obras mais belas da literatura de nosso continente, Canto Geral, do poeta chileno Pablo Neruda, é dedicado um poema a Castro Alves. O poeta condoreiro é lembrado por Pablo Neruda como aquele que, ao mesmo tempo em que cantou às flores, às águas, à formosura da mulher amada, fez com que sua voz batesse "em portas até então fechadas para que, combatendo, a liberdade entrasse". Portanto, termina o poeta chileno, "tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens. Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar".

Como dá para perceber, Pablo Neruda reverencia Castro Alves por ter cantado àqueles que não tinham voz: os escravos. O poema chama-se Castro Alves do Brasil.