Emílio Ribas

EMÍLIO MARCONDES RIBAS
(62 anos)
Sanitarista

* Pindamonhangaba, SP (11/04/1862)
+ São Paulo, SP (19/02/1925)

Emílio Marcondes Ribas foi um sanitarista brasileiro. Trabalhou no combate a epidemias e endemias, tendo criado o Instituto Butantan entre outros órgãos públicos de saúde pública.

Um dos bravos e incompreendidos sanitaristas brasileiros do fim do século XIX e início do século XX que, juntamente com Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil e Carlos Chagas, lutaram para livrar a cidade e os campos das epidemias e endemias que assolavam o país.

Emílio Ribas fez os estudos primários e secundários em sua cidade natal. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil e formou-se com mérito em 1887. Começou sua vida profissional como clínico geral. Casou-se e foi morar no interior de São Paulo, primeiro em Santa Rita do Passa Quatro e depois em Tatuí.

Em 1895 foi nomeado inspetor sanitário e começou a trabalhar em São Paulo. Combateu diversas epidemias no interior do estado. Um ano depois, tornou-se diretor do Serviço Sanitário de São Paulo. Nesta época conseguiu debelar um surto de febre amarela.

Sua gestão no Instituto Sanitário duraria quase duas décadas. Durante este período, exterminou grande quantidade de viveiros do mosquito da febre amarela, o Aedes Aegypti, que também pode transmitir a dengue. Em 1904, reduziu a febre amarela a apenas dois casos no estado de São Paulo.

Sofreu forte oposição dos que acreditavam que a doença era transmitida por contágio entre pessoas. Para  provar que esta tese estava errada, em 1903, o doutor Emílio Ribas realizou uma curiosa experiência: Trancou-se numa sala com alguns voluntários e deixou-se picar por um mosquito contaminado com o vírus da febre amarela. Em outra sala fez voluntários dormirem vestindo camisas de doentes de febre amarela sujas de urina e vômito. Dessa maneira o médico - contaminado pela febre amarela - provou que a doença não se adquire por contato direto com pessoas doentes. Felizmente, ele ficou apenas algumas semanas de cama e se restabeleceu. Foi a partir da contaminação de Emílio Ribas que Oswaldo Cruz empreendeu a eliminação dos focos de mosquito no Rio de Janeiro.

Foi para Cuba acompanhar estudos dos médicos Walter Reed e Carlos Finley. Voltou ao Brasil e defendeu a tese da transmissão da doença pelo mosquito, e não pelo contágio direto. A partir daí os doentes deixaram de ser mantidos em isolamento. O Hospital de Isolamento de Doenças Contagiosas em São Paulo passou a chamar-se Hospital Emílio Ribas, tornando-se o maior centro de infectologia da América Latina.

Emílio Ribas foi fundador do Instituto Soroterápico do Butantã, construído numa fazenda nos arredores de São Paulo, e colaborou para a fundação do Sanatório de Campos do Jordão para tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de Ferro Campos do Jordão.

As ações sanitárias de Emílio Ribas no combate à febre amarela, em São Paulo, ocorreram simultaneamente às campanhas de Oswaldo Cruz contra a doença, no Rio de Janeiro.

Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão, SP, para deter a terceira epidemia de febre amarela. Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que corta a cidade, e tomando medidas para melhorar o saneamento básico na cidade que, ao chegar, descreveu-a de forma pouco lisonjeira: 530 prédios, mal construídos, 90% sem assoalho ou forro, e com péssimo saneamento básico, o que era verdade.

Nos anos de 1908 e 1909, Emílio Ribas fez várias viagens de estudos e conferências pela Europa e pelos Estados Unidos. Emílio Ribas atuou ainda como sanitarista no combate a outras doenças endêmicas do estado de São Paulo. Combateu a peste bubônica, a tuberculose e a lepra.

Em seus últimos anos criou um asilo especializado para hansenianos, próximo a São Paulo, que visitava três vezes por semana. Em 1922 fez sua última conferência no Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Três anos depois, faleceu, aos 62 anos de idade.


Hospital Emílio Ribas

Algumas informações sobre o Hospital Emílio Ribas.

  • Quando foi inaugurado em 1880, São Paulo tinha 50 mil habitantes;
  • A instituição foi construída com dinheiro doado pela população;
  • Foi o primeiro hospital público da cidade. Já existiam a Santa Casa e o Beneficência Portuguesa, mas não eram do governo;
  • Sua construção seguiu modernos conceitos da época, favorecendo a circulação de ar para ajudar a dissipar os miasmas (eflúvios maléficos que, acreditava-se, causavam as doenças);
  • O terreno original hoje abriga também prédios como o da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Incor, o Hospital das Clínicas e a Secretaria Estadual de Saúde;
  • Até 1984, o hospital só abria em épocas de epidemias;
  • A instituição foi sede de uma das mais importantes descobertas médicas do país: a confirmação, pelos pesquisadores Emílio Ribas e Adolfo Lutz, do mosquito como vetor de transmissão da febre amarela. Nos testes, os dois se deixaram picar várias vezes por mosquitos infectados.
  • Apesar de dar nome ao instituto, Emílio Ribas nunca foi diretor de lá;
  • O hospital teve um cemitério só para doentes, localizado provavelmente onde fica a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Eles eram colocados em um caixão hermeticamente fechados e sepultados a no mínimo 2,2 metros de profundidade;
  • O Hospital Emilio Ribas foi crucial em todos os surtos e epidemias da cidade: varíola, febre tifóide, peste bubônica, gripe espanhola, sarampo, meningite, difteria e escarlatina foram algumas das doenças atendidas;
  • Três prédios originais resistiram ao tempo: o Pavilhão 2, hoje administrativo, o Pavilhão 4, hoje biblioteca do Adolfo Lutz, e a Casa Rosada, atual sede da diretoria do hospital;
  • A Casa Rosada, do fim do século 19, foi feita para pacientes membros da aristocracia cafeeira. Tombada, preserva o piso e telhas importadas de Marselha, gradis da Inglaterra e escadas em mármore de Carrara, além de objetos históricos;
  • O hospital foi um dos primeiros a ter enfermeiras não religiosas, geralmente trazidas de outros países. Elas ajudaram na profissionalização da enfermagem na cidade;
  • Enfermeiros, médicos e até o diretor do hospital moravam lá dentro. Octavio Martins de Toledo, diretor de 1956 a 1967, por exemplo, residiu no prédio por 30 anos. Só em 1951 foi admitida a primeira turma de funcionários que moravam fora do hospital;
  • Em meados do século 20, cogitou-se a instalação do campus da Universidade de São Paulo no terreno do Hospital Emílio Ribas.
  • Na Revolução Tenentista, de 1924, o hospital tratou os feridos e serviu de abrigo para funcionários que moravam em bairros operários bombardeados. O porteiro foi morto por soldados em uma trincheira.
  • Até o fim de 1960, o hospital manteve uma horta com mais de 2000 m² , onde se plantavam legumes e verduras para consumo interno. Havia também uma área de floricultura e coelheira. Hoje, os funcionários comem jabuticabas, abacates, bananas, amoras e ameixas colhidas em árvores frutíferas do terreno.
  • O primeiro paciente com AIDS do Brasil, identificado em 1982, foi internado no Hospital Emílio Ribas - ele morreu após 6 meses. Na época, muitos soropositivos que chegavam ao instituto vinham de hospitais que se recusavam a tratá-los.
  • Vários quartos do hospital têm uma antecâmara anexa, onde é possível lavar as mãos e colocar as roupas de proteção antes de entrar. Isso evita o contato direto com o exterior, medida importante no caso de algumas doenças infecciosas.
  • Desde 2000, o hospital tem um Núcleo de Medicina do Viajante, que orienta sobre prevenção de doenças em viagens.


Carlota Pereira de Queiroz

CARLOTA PEREIRA DE QUEIROZ
(90 anos)
Médica, Escritora, Pedagoga e Política

* São Paulo, SP (13/02/1892)
+ São Paulo, SP (14/04/1982)

Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira mulher brasileira a votar e ser eleita deputada federal. Ela participou dos trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte, entre 1934 e 1935.

Era filha de José Pereira de Queiroz e de Maria V. de Azevedo Pereira. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1926,  ocasião em que recebeu o Prêmio Miguel Couto pela sua tese  "Estudos Sobre o Câncer".

Chefe do laboratório de clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1928, foi comissionada pelo governo de São Paulo em 1929 para estudar Dietética Infantil em centros médicos da Europa. 

Membro da Associação Paulista de Medicina de São Paulo, Association Française Pour l'Étude du Cancer, Academia Nacional de Medicina e Academia Nacional de Medicina de Buenos Aires. Fundou a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, em 1950.


Na Política, a Primeira Deputada

Durante a Revolução Constitucionalista, movimento de contestação à Revolução de 1930, ocorrido em São Paulo em 1932, organizou, à frente de 700 mulheres, a assistência aos feridos. Em maio de 1933, foi a única mulher eleita deputada à Assembléia Nacional Constituinte, na legenda da Chapa Única por São Paulo.

Na Constituinte, Carlota integrou a Comissão de Saúde e Educação, trabalhando pela alfabetização e assistência social. Foi de sua autoria o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais, bem como a emenda que viabilizou a criação da Casa do Jornaleiro e a criação do Laboratório de Biologia Infantil.

Seu mandato foi em defesa da mulher e das crianças. Trabalhava por melhorias educacionais que contemplassem melhor tratamento as mulheres. Além disso, publicou uma série de trabalhos em defesa da mulher brasileira.

Após a promulgação da Constituinte em 17 de julho de 1934, teve o seu mandato prorrogado até maio de 1935. Ainda em 1934, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Eleita pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, no pleito de outubro de 1934, permaneceu na Câmara até 1937, quando foi instaurado o Estado Novo por Getúlio Vargas quando o mesmo  fechou o Congresso Nacional (1937-1945). Durante esse período lutou pela redemocratização do país.

Segue abaixo o discurso proferido por ela em 13 de março de 1934:

"Além de representante feminina, única nesta Assembléia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu país e identificada para sempre com os seus problemas. (…) Acolhe-nos, sempre, um ambiente amigo. Esta é a impressão que me deixa o convívio desta Casa. Nem um só momento me senti na presença de adversários. Porque nós, mulheres, precisamos ter sempre em mente que foi por decisão dos homens que nos foi concedido o direito de voto. E, se assim nos tratam eles hoje, é porque a mulher brasileira já demonstrou o quanto vale e o que é capaz de fazer pela sua gente. Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que ela também fosse chamada a colaborar. (…) Quem observar a evolução da mulher na vida, não deixará por certo de compreender esta conquista, resultante da grande evolução industrial que se operou no mundo e que já repercutiu no nosso país. Não há muitos anos, o lar era a unidade produtora da sociedade. Tudo se fabricava ali: o açúcar, o azeite, a farinha, o pão, o tecido. E, como única operária, a mulher nele imperava, empregando todas as suas atividades. Mas, as condições de vida mudaram. As máquinas, a eletricidade, substituindo o trabalho do homem, deram novo aspecto à vida. As condições financeiras da família exigiram da mulher nova adaptação. Através do funcionalismo e da indústria, ela passou a colaborar na esfera econômica. E, o resultado dessa mudança, foi a necessidade que ela sentiu de uma educação mais completa. As moças passaram a estudar nas mesmas escolas que os rapazes, para obter as mesmas oportunidades na vida. E assim foi que ingressaram nas carreiras liberais. Essa nova situação despertou-lhes o interesse pelas questões políticas e administrativas, pelas questões sociais. O lugar que ocupo neste momento nada mais significa, portanto, do que o fruto dessa evolução."

Teve valiosa participação na Revolução Constitucionalista de 1932 lutando pelos ideais democráticos defendidos por São Paulo.


Academia Nacional de Medicina

Eleita membro da Academia Nacional de Medicina em 1942, fundou, oito anos depois, a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, da qual foi presidente durante alguns anos. Apoiou o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, em 1964.

Escritora

Foi escritora e historiadora, com as publicações "Um Fazendeiro Paulista no Século XIX" e "Vida e Morte de um Capitão".

Homenagens

Homenageada com o monumento intitulado "Carlota Pereira de Queiroz", na Praça Califórnia, bairro de Pinheiros, Zona Oeste da Capital de São Paulo e com a Avenida Drª Carlota Pereira de Queiroz, no distrito de Socorro, localizado na região Sul de São Paulo.

Dilson Funaro

DILSON DOMINGOS FUNARO
(55 anos)
Empresário e Engenheiro

* São Paulo, SP (23/10/1933)
+ São Paulo, SP (12/04/1989)

Dilson Domingos Funaro foi um engenheiro, empresário brasileiro do ramo de plásticos, proprietário da fábrica de brinquedos Trol. Foi presidente do BNDES e ministro da Fazenda do Brasil durante o governo José Sarney, entre 26 de agosto de 1985 e 29 de abril de 1987. Durante seu cargo como ministro da Fazenda, foi responsável pela criação de um plano de estabilização financeira, o Plano Cruzado.

Dilson Funaro era filho de Paschoal Funaro e neto de Domingos Funaro. Ele cursou a Escola Mackenzie de Engenharia e, vindo de família abastada montou, ainda jovem, a CIBRAPE, uma indústria de plásticos. Logo depois adquiriu a Monitora e, posteriormente, a Trol, uma grande fábrica de produtos de plástico para indústria, uso doméstico e brinquedos.

Em outubro de 1982, descobriu que sofria de Câncer Linfático, uma das formas mais graves da doença, que apresentou várias recidivas, causando sua morte em 1989.

Foi casado com Ana Maria Matarazzo Suplicy, filha de Paul Cochrane Suplicy e Filomena Matarazzo, irmã de Eduardo Matarazzo Suplicy, a quem deixou viúva com seis filhos. São eles: Dílson Suplicy Funaro, Ana Lucia Funaro, Marcos Suplicy Funaro, Jorge Eduardo Suplicy Funaro, Vera Suplicy Funaro e Fernando Suplicy Funaro.


Plano Cruzado

O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, sendo José Sarney o presidente da República e Dilson Funaro o ministro da Fazenda.

As principais medidas contidas no Plano Cruzado eram:

  • Congelamento de preços de bens e serviços nos níveis do dia 27 de fevereiro de 1986;
  • Congelamento da Taxa de Câmbio por um ano em Cz$ 13,84 = US$ 1,00 e Cz$ 20,58 = £ 1,00;
  • Reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro;
  • Substituição da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), título da dívida pública instituído em 1964, pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi fixada em Cz$ 106,40 e congelado por um ano;
  • Congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo  em Cz$ 804,00 que era igual a aproximadamente a US$ 67,00 de salário mínimo;
  • Como a economia fora desindexada, institui-se uma tabela de conversão para transformar as dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidas contraídas em uma economia de inflação praticamente nula;
  • Criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas;
  • Os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo chamado "Gatilho Salarial" ou "Seguro-Inflação", que estabelecia o reajuste automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20%

José Serra e Dilson Funaro (Foto: Arquivo Agência Estado)

Atividades

De 1958 a 1980, Dilson Funaro exerceu diversas atividades, enumeradas a seguir:

  • Diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - CIESP;
  • Diretor do departamento de Comércio Exterior - FIESP;
  • Membro do do Conselho de Comércio Exterior - CNI;
  • Membro do Conselho de Assuntos legislativo da CNI;
  • Diretor do Departamento de Estatística da FIESP;
  • Diretor Adjunto do Departamento de Economia da FIESP;
  • Conselheiro Especial da CNI;
  • Presidente da Associação Brasileira de Plástico;
  • Presidente da Associação Latino Americana de Plásticos;
  • Presidente do Sindicato da Industria de Material Plástico;
  • Vice-Presidente da FIESP;
  • Membro do Conselho de comércio Exterior da FIESP;
  • Conselheiro da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas;
  • Presidente do Conselho de Tecnologia do Estado de São Paulo;
  • Secretário da Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (governo Abreu Sodré);
  • Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo (governo Abreu Sodré);
  • Membro do Conselho de Economia da FIESP;
  • Membro do Conselho da Fundação Padre Anchieta (TV educativa);
  • Presidente do Conselho da VASP.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino