Mostrando postagens com marcador 1952. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 1952. Mostrar todas as postagens

Antonieta de Barros

ANTONIETA DE BARROS
(50 anos)
Jornalista, Professora, Escritora e Política

☼ Florianópolis, SC (11/07/1901)
┼ Florianópolis, SC (28/03/1952)

Antonieta de Barros foi uma jornalista, professora, escritora e política nascida em Florianópolis, SC, no dia 11/07/1901.

Antonieta de Barros era filha de ex-escrava, que trabalhava na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, que viria a ser vice-presidente do Senado, que chegou a assumir por dois meses a Presidência da República.

Ela foi inspiração para o Movimento Negro, foi apagada dos livros de história, tendo sido uma ativa defensora da emancipação feminina, de uma educação de qualidade para todos e pelo reconhecimento da cultura negra, em especial no sul do país. Foi a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular.

De família muito pobre, ainda criança ficou órfã de pai, sendo criada pela mãe. Ingressou com 17 anos na Escola Normal Catarinense, concluindo o curso em 1921.

Em 1922, a normalista fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para alfabetização da população carente. O curso foi dirigido por ela até sua morte e fechado em 1964.


Professora de português e literatura, Antonieta de Barros exerceu o magistério durante toda a sua vida, inclusive em cargos de direção. Foi professora do atual Instituto de Educação entre os anos de 1933 e 1951, assumindo sua direção de 1944 a 1951, quando se aposentou.

Antonieta de Barros notabilizou-se por ter sido a primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada mulher do Estado de Santa Catarina.

Eleita em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense, foi constituinte em 1935, filiada ao Partido Liberal Catarinense (PLC), cabendo-lhe relatar os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo. Atuou na Assembléia Legislativa de Santa Catarina até 1937, quando teve início a ditadura do Estado Novo.

Com o fim do regime ditatorial, ela se candidatou pelo Partido Social Democrático (PSD) e foi eleita novamente em 1947, desta vez como suplente. Na ocasião, continuou lutando pela valorização do magistério: exigiu concurso para o provimento dos cargos do magistério, sugeriu formas de escolhas de diretoras e defendeu a concessão de bolsas para cursos superiores a alunos carentes.

Eleita para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, foi a primeira deputada estadual mulher e negra do país. Atuou como professora, jornalista e escritora, destacando-se pela coragem de expressar suas ideias dentro de um contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão.


Além da militância política, Antonieta de Barros participou ativamente da vida cultural de seu Estado. Fundou e dirigiu o jornal A Semana entre os anos de 1922 e 1927. Neste período, por meio de suas crônicas, veiculava suas ideias, principalmente aquelas ligadas às questões da educação, dos desmandos políticos, da condição feminina e do preconceito.

Dirigiu também a revista quinzenal Vida Ilhoa, em 1930, e escreveu artigos para jornais locais. Com o pseudônimo de Maria da Ilha, escreveu em 1937 o livro "Farrapos de Ideias". Foi por intermédio dele que Antonieta de Barros enveredou pelos caminhos da política.

Ao longo de sua vida, Antonieta de Barros atuou como professora, jornalista e escritora. Como tal, destacou-se, entre outros aspectos, pela coragem de expressar suas idéias dentro de um contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão; por ter conquistado um espaço na imprensa e por meio dele opinar sobre as mais diversas questões; e principalmente por ter lutado pelos menos favorecidos, visando sempre a educação da população mais carente.

A Assembleia Legislativa de Santa Catarina concede anualmente a Medalha Antonieta de Barros a mulheres com relevantes serviços em defesa dos diretos da mulher catarinense, e seu nome foi dado ao túnel da Via Expressa Sul, em Florianópolis.

 Antonieta de Barros nunca se casou.

Morte

Antonieta de Barros faleceu em 28/03/1952, aos 50 anos de idade, e está sepultada no Cemitério São Francisco de Assis em Florianópolis, SC.

Agamenon Magalhães

AGAMENON SÉRGIO DE GODOY MAGALHÃES
(59 anos)
Promotor, Geógrafo, Professor e Político

* Serra Talhada, PE (05/11/1893)
+ Recife, PE (24/08/1952)

Agamenon Magalhães foi um promotor de direito, geógrafo, professor de geografia e político. Deputado estadual (1918), federal (1924, 1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e Justiça).

Tetraneto de Agostinho Nunes de Magalhães, e filho do juiz e deputado estadual Sérgio Nunes Magalhães, tornou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Recife (1916), sendo em seguida nomeado para a promotoria da comarca de São Lourenço da Mata. No ano seguinte, casou-se com Antonieta Bezerra Cavalcanti e retornou a Recife, onde fixou residência.

Em 1918, foi eleito deputado estadual com apoio da agremiação governista estadual (Partido Republicano Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal, reeleito quatro anos depois. Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal, aderiu à Aliança Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução, apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido Social Democrático (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se deputado constituinte em 1932.

Aliado Fiel de Vargas

A atuação de Agamenon Magalhães na Constituinte de 1933 foi pautada na defesa do regime parlamentarista, na qual não teve apoio nem do governo nem dos demais parlamentares. Apesar disso, em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do Trabalho, Indústria e Comércio.

Nesse período, deu apoio à criação da Justiça do Trabalho, ampliou a rede de apoio aos trabalhadores urbanos, e utilizou a arregimentação sindical para combater a infiltração comunista no movimento operário, principalmente após a Intentona Comunista de 1935. Para isso, defendeu a intensificação do controle sobre os sindicatos e o aceno com novas leis sociais para os trabalhadores. Em 1937, após a demissão de Vicente Rao, passou a acumular também as funções da pasta da Justiça.

Aliado fiel de Getúlio Vargas, Agamenon Magalhães entrou em choque com o interventor Carlos de Lima Cavalcanti, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938. Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor.

O "Agamenonismo"

Ao voltar ao estado natal, Agamenon Magalhães anunciou que trazia consigo a "emoção do Estado Novo". Misto de populismo social com centralização política, o estilo de governo de Agamenon (por ele chamado de "ruralização") foi marcado pela busca da unidade social e política, apoiada na personalidade pública do interventor.

O governo estadual procurou envolver-se em todos os setores da vida cotidiana, seguindo um ideário tradicionista, autoritário e fortemente católico, que procurou apoiar-se tanto na censura oficial do Departamento de Imprensa e Propaganda, quanto na utilização do jornal oficioso, o Diário da Manhã.

Segundo Michel Zaidan:

"A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela busca desenfreada do 'consenso máximo' na sociedade pernambucana, a partir de uma falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido através de uma feroz repressão aos adversários, críticos, comunistas, prostitutas, afro-brasileiros, vadios e homossexuais."

O governo Agamenon também combateu o cangaço e realizou obras contra a seca. Seu programa de erradicação dos mocambos (habitações insalubres) teve forte impacto entre as populações pobres, apesar das críticas de Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, seus adversários na intelectualidade.

A "Lei Malaia"

Em janeiro de 1945, Agamenon Magalhães foi novamente chamado por Getúlio Vargas para a pasta da Justiça. Mas desta vez, Getúlio não preparava o fechamento das instituições (como em 1937), e sim a sua democratização.

Como titular da pasta, Agamenon aprovou o novo Código Eleitoral (Lei Agamenon) e convocou as primeiras eleições livres do Brasil, com a autorização para o funcionamento dos partidos políticos e o pleito direto para a presidência da República. No entanto, a tentativa de aprovar uma lei antitruste (chamada de "lei malaia" por seu opositor Assis Chateaubriand, fazendo assim menção ao seu apelido pernambucano, "China Gordo") aumentou as pressões de setores empresariais e militares contra o Governo Vargas.

Em outubro de 1945, Getúlio Vargas acabou sendo deposto, e com ele Agamenon deixou o ministério. O sucessor de Vargas, José Linhares, anunciou o veto à "lei malaia" como uma de suas primeiras medidas.

Líder do PSD

Apesar da deposição de Vargas, Agamenon conseguiu ser eleito para a Câmara dos Deputados e permanecer como uma das principais lideranças nacionais do Partido Social Democrático (PSD), ao qual se filiara. Na Constituinte de 1946, alinhou-se entre os defensores da intervenção estatal na economia.

Mesmo residindo no Rio de Janeiro, Agamenon Magalhães manteve-se como líder inconteste do PSD pernambucano, apesar de sua crescente oposição ao governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, que era do mesmo partido. A cisão deu-se quando Agamenon lançou a candidatura de Barbosa Lima Sobrinho ao governo de Pernambuco. Eurico Gaspar Dutra, por sua vez, apoiou o candidato da UDN, um usineiro apoiado por setores agrários e conservadores. A disputa eleitoral, vencida pelo PSD por pequena margem de votos em janeiro de 1947, foi violenta e contestada vários anos na justiça.

A máquina eleitoral de apoio ao PSD era garantida por uma extensa rede de apoiadores locais, utilizando-se do sistema do coronelismo. Essa rede possibilitou ao partido obter sucessivas vitórias em Pernambuco até 1958 (exceto na capital), derrotando todos os seus adversários. Em 1950, Agamenon lançou sua própria candidatura ao governo de Pernambuco, para suceder a Barbosa Lima Sobrinho.

Desta vez, porém, Agamenon Magalhães não seguiu a orientação de Getúlio Vargas (que naquele ano foi lançado candidato a presidente pelo PTB). Reconciliando-se com Eurico Gaspar Dutra, apoiou o candidato oficial do PSD, Cristiano Machado, enquanto Getúlio Vargas se aliou a João Cleofas de Oliveira, candidato da UDN e que depois seria seu ministro da Agricultura.

O eleitorado do interior (onde se concentrava a máquina do PSD) foi essencial para a nova vitória de Agamenon, eleito governador por 196 mil votos, contra 186 mil de seu adversário.

O Legado

No entanto, a eleição popular de Agamenon Magalhães não significou o pleno retorno do "agamenonismo" ao governo de Pernambuco: seu governo teve fim com sua morte súbita, em 24 de agosto de 1952.

O nacionalismo econômico e a visão social de Agamenon Magalhães marcaram a transição de uma visão agrária e oligárquica para a aliança com setores urbanos e operários (que marcou o conluio PSD/PTB em nível nacional). No entanto, em Pernambuco, o próprio PSD não conseguiu romper com sua formação conservadora. Com Etelvino Lins (sucessor de Agamenon), o partido obteve uma nova vitória nas eleições de 1954 elegendo o general Osvaldo Cordeiro de Farias, mas foi finalmente derrotado em 1958.

Agamenon Magalhães foi tio do deputado federal Sérgio Magalhães Junior, líder da Frente Parlamentar Nacionalista, e do governador Roberto Magalhães Melo.

Fonte: Wikipédia

Carmen Santos

MARIA DO CARMO SANTOS GONÇALVES
(48 anos)
Atriz, Produtora, Roteirista e Diretora

* Vila da Flor, Portugal (08/06/1904)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/09/1952)

Maria do Carmo Santos Gonçalves nasceu em Vila da Flor, Portugal, em 08 de Junho de 1904 e chegou ao Brasil em 1912, aos oito anos de idade. Em 1919, com quinze anos de idade estreou no cinema no filme "Urutau", dirigido pelo americano William A. Jansen, com argumento de Francisco de Almeida Fleming e fotografia de Fausto Muniz.

A mais importante presença feminina no cinema brasileiro nos anos 20 e 30, Carmen Santos foi uma das incansáveis batalhadoras do nosso cinema, onde atuou como atriz, produtora, diretora e roteirista.

Carmen Santos foi uma pioneira. Depois de sua estréia como atriz em 1919, ela inaugura uma das mais importantes trajetórias de mulheres no cinema brasileiro, desempenhando nos anos seguintes inúmeras funções, como produtora roteirista e diretora.

Entre seus feitos, o mais notável foi a fundação, em 1933, com o suporte financeiro do marido - um rico empresário, a "Brasil Vox Film" - rebatizada em 1935 por "Brasil Vita Filme", responsável por clássicos do cinema brasileiro, como "Argila", em 1942, último filme do genial cineasta Humberto Mauro.

Como a outra Carmen famosa do nosso cinema, Carmen Santos também nasceu em Portugal, no dia 8 de junho de 1904, em Vila Flor – Distrito de Bragança, vindo para o Brasil com oito anos de idade.

Sua estréia no cinema se dá em "Urutau" dirigido pelo americano Willian Jansen, em 1919. Mas é só 10 anos após que Carmen Santos começa a ajudar a escrever a história do cinema brasileiro ao atuar em "Sangue Mineiro", de Humberto Mauro.

Sua associação com um dos mais geniais cineastas brasileiros resulta ainda em clássicos como "Favela dos Meus Amores", "Cidade-Mulher" e "Argila" - ela produzindo e interpretando, e ele dirigindo.

Carmen Santos levava para a tela a mesma determinação e garra com que defendia o cinema nacional. Seu maior sonho e projeto mais ambicioso foi adaptar a inconfidência para a tela do cinema. Em 1937 planeja "Inconfidência Mineira", em 1939 inicia os preparativos e em 1941 começa a filmar. Mas teve muitos problemas e só conseguiu concluí-lo em 1948. Carmen transforma sua realização numa grande obsessão e nela produz, roteiriza, dirige e atua. Entre concepção, filmagem e acabamento transcorreram onze anos. Sua personagem, Bárbara Heliodora é tão marcante quanto sua realizadora, mas o filme foi um retumbante fracasso, levando Carmen à falência, forçando-a a vender seus estúdios no início dos anos 50. Infelizmente, "Inconfidência Mineira" foi um fracasso e hoje encontra-se desaparecido.

Carmen Santos teve morte prematura, aos 48 anos,no dia 24 de setembro de 1952.

Os mais jovens talvez nem a conheçam mas com certeza encontrarão seu nome em qualquer publicação sobre a História do Cinema Brasileiro, porque Carmen ajudou fazer essa história.

Francisco Alves

FRANCISCO DE MORAIS ALVES
(54 anos)
Cantor e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (19/08/1898)
┼ Pindamonhangaba, SP (27/09/1952)

Francisco de Morais Alves, o Rei da Voz, mais conhecido por Francisco Alves, Chico Alves ou Chico Viola, foi um dos maiores e mais populares cantores do Brasil, considerado o mais versátil cantor brasileiro, também um dos mais influentes de todo Século XX, é considerado por muitos o maior do país, nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 19/08/1898.

A qualidade de seu trabalho lhe rendeu em 1933, pelo radialista César Ladeira, a alcunha de Rei da Voz. Francisco Alves foi, ainda, peça decisiva para a construção de vários gêneros populares da música.

Francisco Alves era uma figura alta e magra, andava sempre elegante e bem penteado, muito sorridente e avesso às bebidas. Como seu ídolo Vicente Celestino, tinha uma voz de tenor mas, com o tempo, consolidou-se em barítono.

De origem humilde, deixou uma vasta produção de mais de quinhentos discos. Sua morte trágica causou imensa comoção no país, num sentimento que um de seus biógrafos, David Nasser (que também era amigo e compositor de algumas músicas por ele interpretadas), escreveu: "Tu, só tu, madeira fria, sentirás toda agonia do silêncio do cantor".

A despeito disso, muitos no meio artístico o consideravam bruto, de poucos amigos e vários desafetos.

Foi dele a primeira gravação de disco elétrico feita no Brasil. Graças a ele, compositores como Cartola, Heitor dos Prazeres e Ismael Silva vieram a ser consagrados, o mesmo ocorrendo com várias canções que interpretou, como "Ai! Que Saudade da Amélia", ou a primeira gravação do samba "Aquarela do Brasil" do parceiro Ary Barroso.

Representava para o país, quando de sua morte, o que o cantor Maurice Chevalier era para a França: Um Caso Raro - como então registrou o Jornal do Brasil.

Primeiros Anos e Início da Carreira

Seu pai, José Alves, era um imigrante português que se radicara no centro do Rio de Janeiro, então a capital do país. Ali, na Rua do Acre, ele abriu um bar e foi nesta rua que nasceu Francisco Alves, um dos cinco filhos que teve, e nesta rua ele passou sua infância.

Seus irmãos eram Ângela, Lina, Carolina e José. Sua mãe, Isabel Morais Alves, era também imigrante lusa.

Da irmã mais velha Ângela ganhou seu primeiro instrumento, uma guitarra. Ainda menino, a família se mudou para a Rua Evaristo da Veiga e, face às dificuldades, ele trabalhou como engraxate e, aproveitando-se da proximidade com um batalhão da polícia, passou a acompanhar os ensaios de sua banda de música. Chegou a fugir de casa para não ter que estudar para se tornar guarda-livros (contador), no Colégio da Ajuda onde seu pai tencionava matriculá-lo e, quando ficou maior, em 1916, conseguiu o primeiro emprego na fábrica de chapéus Mangueira. Depois de pouco tempo foi para a Júlio Lima.

Sua irmã Lina, por sua vez, entrou para o meio artístico e se tornou atriz como vedete no Teatro de Revista e depois nas radionovelas, adotando o nome de Nair Alves.

Em 1918, começou a cantar profissionalmente e seu primeiro lugar de apresentações foi o Pavilhão do Méier onde foi contratado após um teste, feito pelo pai de Mário Lago, o maestro Antônio Lago. Dali cantou no Circo Spinelli e fez parte de uma companhia artística que logo se dissolveu, com a chegada na cidade da pandemia de gripe espanhola, que veio a matar seu irmão José em 1918 e o pai no ano seguinte. No mesmo ano começou a trabalhar como chofer de táxi.

Com a morte do pai e do irmão, e o casamento das irmãs, morou sozinho com a mãe.

Em 1919, o grupo voltou a se organizar em Niterói e Francisco Alves, mais uma vez, passou a integrar a companhia. Neste período conheceu o já famoso compositor Sinhô que então lhe apresentou ao filho de Chiquinha Gonzaga, que estava instalando uma fábrica de discos e, já em 1919, ele gravou pelo novo selo chamado Popular.

Este trabalho trazia Sinhô como ritmista e levava algumas de suas sobrinhas para o coro. As duas composições do disco eram de autoria dele, a marchinha "O Pé de Anjo" e o samba "Fala, Meu Louro". Gravou, também de Sinhô, o samba "Alivia Esses Olhos", em seguida.

Sinhô, que foi responsável pelo lançamento de muitos artistas, foi quem ensinou a Francisco Alves as técnicas vocais.

Tornou-se um frequentador das zonas boêmias cariocas da Lapa e de Vila Isabel, onde conheceu muitos artistas, dentre os quais Pixinguinha. Foi na Lapa que, em 1920, ele conheceu, num cabaré, Perpétua Guerra Tutoia, com quem tem um breve casamento, a contragosto da família. A união com a garota que tinha o apelido de Ceci aconteceu, segundo ele, num momento de loucura, e durou cerca de uma semana.

Perpétua Guerra Tutoia
O Casamento Errado

Francisco Alves conheceu Ceci - pseudônimo adotado na vida de meretrício - num prostíbulo de baixa categoria da Rua Joaquim Silva e viu-se prontamente apaixonado pela mulher que ele mesmo descreveu como sendo "Bonita, atraente, a boca muito pintada, os olhos maliciosos e o vestido colado ao corpo" que "Davam-lhe a indescritível cor local".

Imediatamente quis tirar a moça daquela vida e ambiente de pecado. Para tanto pediu-lhe em casamento e esta aceitou. Mas nem seus amigos - que encheram-lhe de advertências - nem a família concordaram com tal união. Da mãe Isabel ouviu que este lhe seria "o maior desgosto" de sua vida, a irmã Ângela lembrou-lhe do pai, que jamais aprovaria aquele ato. Nada demoveu Francisco Alves da decisão e, no dia 24/05/1920, em celebração apenas civil, casou-se com a prostituta sem a presença nem de amigos nem de familiares. Foram testemunhas desconhecidos que, ao acaso, estavam por perto. A festa se restringiu a pão com manteiga, ou "média" como era chamado.

Após alguns dias a esposa, contudo, lhe confessou que não abandonara a profissão, que continuava a se prostituir pois o fazia não pelo dinheiro apenas, mas porque gostava da vida alegre e agitada dos bordéis. Ante o choque da revelação - ele mais tarde diria ao amigo David Nasser não entender como alguém gostasse daquela vida - o relacionamento terminou menos de um mês após ter começado.

Francisco Alves nunca entrou com um desquite. Segundo disse a David Nasser, isto se deu por ignorância e, em suas palavras:
"A Perpétua havia me processado duas vezes, injuriando-me em juízo. O juiz me deu ganho de causa e desde então ficamos juridicamente separados de corpo. Ora, como eu não tinha dinheiro e só tinha mesmo o corpo e a roupa do corpo, acreditei que era tudo!"
O fracasso no relacionamento não foi o mesmo na carreira: Ingressou na companhia de Batista de Oliveira, em Niterói, e conheceu um novo amor. Perpétua, ou Ceci, desapareceu de sua vida por trinta anos, quando retornou de forma surpreendente.

Anos 1920 - Cantor, Ainda Taxista, Começo do Sucesso

Em 1921, o empresário José Segretto convidou-o para interpretar no Teatro São José, nas peças de Teatro de Revista de sua produção, nada menos que os sucessos de seu ídolo Vicente Celestino. No Teatro São José fez parte da Companhia de Revistas do ator Alfredo Silva, onde ficou pouco tempo como corista, sendo promovido a ator secundário e, logo, protagonista da peça cômica que popularizou a canção homônima "A Malandrinha". No mesmo ano conheceu e se casou com a atriz Célia Zenatti, com quem viveria por 28 anos. Apesar de já atuar profissionalmente como artista, não abandonou a atividade de taxista.

Mudando de gravadora lançou em 1924, pela Odeon, gravações de samba e marchas, mas não alcançou bom resultado. Voltou ao estúdio de gravação após receber o convite do diretor de gravações Freire Júnior em 1926 e gravou então alguns sambas de Sinhô. Com o fim da fase rústica de gravação Francisco Alves começou a cantar mais delicadamente e mostrar mais sua beleza e técnica vocal, assim se consagrando.

Almirante contava que, a partir de 1928, Francisco Alves lançou suplementos pela Parlophon, paralelos aos discos pela Odeon. Enquanto nesta usava o nome real, naquela usava o apelido de Chico Viola. Isso gerou confusão mesmo em pessoas do ramo artístico, que debatiam qual dos dois cantores seria o melhor: Uns diziam ser Francisco Alves, outros o Chico Viola - discutindo sobre a mesma voz e o mesmo cantor.

Em 1930 começou a gravar em dupla com Mário Reis - então recém-formado em direito e trabalhando no Banco do Brasil - e isto representou, segundo o historiador Ronaldo Conde Aguiar, "um marco na história da música popular brasileira" a formação do dueto. A parceria representou um enorme sucesso e durante dois anos gravaram juntos vinte e quatro músicas, ou doze discos.

Ainda em 1930, gravou para o carnaval a marcha "Dá Nela", que foi um sucesso tão grande que mereceu da Casa Edison, dona da gravadora Parlophon, o seu maior prêmio. No meio deste ano ocorreu o assassinato do então governador da Paraíba, João Pessoa, que desencadeou o movimento revolucionário que levaria ao poder pela primeira vez a Getúlio Vargas. No calor dos fatos, Francisco Alves gravou o "Hino a João Pessoa". Quando os acontecimentos políticos se agravaram, contudo, ele viajou em excursão para Buenos Aires, contratado pela empresa de teatro de revista de Jardel Jércolis.

Francisco Alves começou a cantar em duetos a partir de 1928. Gastão Formenti gravou com Francisco Alves quatro músicas, das quais se destaca o samba-canção "Já Me Esqueci de Você" (Ary Brandão e Francisco Alves). Ainda nesse ano gravou com Rosa Negra - da qual não se sabe quase nada na atualidade, mas no passado foi uma atriz negra muito famosa no país - quatro músicas também, e assim Francisco Alves fez vários duetos no decorrer do tempo.

Década de 1930 - O Grande Sucesso

Em 1931, Francisco Alves deu uma demonstração de falta de educação e sensibilidade, que a muitos revoltou: Estavam vários amigos ao lado do jovem pianista Nilton Bastos, prestes a morrer vítima de uma tuberculose, e Francisco Alves teria entrado no quarto a cantar: "Quando eu morrer, não quero nem choro nem vela...", fato narrado por Mário Reis.

Em 1932, integrou junto a Carmen Miranda, Gastão Formenti, Mozart Bicalho, Patrício Teixeira e Elisa Coelho o cast exclusivo da Rádio Mayrink Veiga. Em maio de 1932, Francisco Alves já então consagrado como artista e ídolo popular, junto aos iniciantes Noel Rosa, com apenas 21 anos, Mário Reis, Pery Cunha (bandolinista) e Romualdo Peixoto, formam um grupo que ele denominou Ases do Samba e realizam uma excursão pelo Sul do país. No Rio Grande do Sul passaram por Porto Alegre, Caxias do Sul, São Leopoldo, Cachoeira do Sul, Pelotas e Rio Grande,  indo para lá a bordo do navio Itaquera, numa viagem de sete dias.

O cronista pelotense Mário Osório Magalhães registrou que Francisco Alves foi peremptório na vestimenta que deveriam usar nas apresentações: Apenas smoking. Já na primeira apresentação, contudo, Noel Rosa apareceu com um terno branco que pegou de um garçom, para desespero de Francisco Alves, que foi então acalmado por Mário Reis dizendo que o público certamente pensaria que a diferença seria "bossa".

Na passagem por Porto Alegre, eles conheceram, num bar, o então jovem artista Lupicínio Rodrigues, a quem Noel Rosa previu que "Este moço vai longe!".

Em 1933, participou em dueto com a então desconhecida Aurora Miranda na sua gravação de estreia, que foi justamente a primeira música tipicamente junina gravada, "Cai, Cai, Balão" (Assis Valente) e "Toque de Amor" (Floriano Pinha). Aurora Miranda falou mais tarde que Francisco Alves gostava de ajudar os iniciantes.

Em 1935, teve por empregada doméstica a futura cantora Carmen Costa, na época com apenas 15 anos de idade, a quem ajudou em seu começo de carreira. Nesta década, Carlos Galhardo começou a carreira imitando sua voz e, só depois, foi se libertando para ter o próprio estilo.

Em 1939, Francisco Alves fez a primeira gravação da antológica "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso) que, com arranjos do pianista Radamés Gnattali, ocupou os dois lados do disco em que foi gravada.

Em 1940, participou em números musicais no filme "Laranja da China". Na revista especializada em cinema "A Scena Muda", Renato de Alencar escreveu uma crítica onde se lia: "Que cousa apavorante aquela das cantigas de Chico Alves entre a 'favelagem', como se estivesse num tablado de pastorinhas lá pelo nordeste!". Neste mesmo ano o cronista desta revista, Walter Rocha, narrou o seguinte caso do cantor (grifos originais):
"Dizem que Francisco Alves, quando de sua primeira tournée a Buenos Aires, apesar de possuir a maior voz do Brasil, teve a 'inteligência' de estrear cantando tangos no idioma platino. E o resultado tomou um característico anedótico, o Chico era calorosamente aplaudido, voltava ao palco, cantava, recebia novos aplausos, até que seu empresário, por trás da cortina, percebeu que o público aplaudia e cantarolava, compassadamente, em ritmo com as palavras: Canta, canta até aprender!"
Década de 1940

Em 1942, com o surgimento das primeiras radionovelas e a participação do Brasil na II Guerra Mundial, os cantores perderam momentaneamente a condição de protagonistas do rádio. O radialista Oswaldo Luiz, a respeito, escreveu que "Só quem mora fora do Rio pode aquilatar do prestígio, da popularidade e da curiosidade que um 'astro' do microfone pode causar". A despeito disto, ele assinalou que, embora ainda recebendo grandes salários, astros como Carmen Miranda, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas ou Orlando Silva já não atraíam mais tanto fãs como antes, com o surgimento das radionovelas, e os noticiários que falavam da guerra.

Em 1943, a revista "A Cena Muda" repetia:
"Que é feito dos famosos ídolos? Chico Alves, Orlando SilvaCarlos GalhardoSílvio Caldas... O fim do ano está batendo à porta e esses rapazes - vá lá... - não dão um ar de sua graça nem procuram variar o repertório. Por isso mesmo - falta de esforço - foi que os grandes cartazes de outros tempos foram se eclipsando até ninguém mais se lembrar deles..."
Ainda em 1943, numa associação com César Ladeira, Ary Barroso e Almirante, tentou comprar uma emissora de rádio no Rio de Janeiro. O negócio não foi adiante porque os donos, na última hora, resolveram elevar o preço a valores exorbitantes.

No começo de 1944, foi lançado o filme "Berlim na Batucada", da Cinédia, onde representou um maioral do morro. A comédia não foi bem recebida pela crítica que, entretanto, poupou-lhe a atuação, dizendo que não foi bem aproveitado. Ainda em 1944, gravou em homenagem aos pracinhas que lutavam na Europa, a "Canção do Expedicionário", revelando seu patriotismo.

Em 1945, Sérgio Peixoto registrou sobre a carreira de Francisco Alves:
"...quando o rádio começou a ganhar vulto, com o aparecimento das primeiras emissoras mercantilizadas e a venda de receptores em alta escala, a prazo longo e até a dez cruzeiros por mês. Quando o povinho conseguiu, graças aos 'salomões', adquirir seu aparelho receptor para tomar conhecimento da existência dessa grande realização de Marconi, já Francisco Alves era o 'maioral' dentro do rádio carioca. Era o artista que dava as cartas, o mais popular, o mais ouvido e o mais caro de todos. Francisco Alves, o Chico Viola, não passa, não cansa nem nada... Ele está aí, com o mesmíssimo cartaz: Continua sendo o melhor, o primeiro, o popularíssimo e o ouvidíssimo!"
De fato, Francisco Alves emplacou os maiores sucessos daquele ano, dando demonstração de sua persistência como primeiro dentre os cantores da época: As marchinhas "Que Rei Sou Eu?", "Isaura" e "Malaguenha".

Para demonstrar sua previdência, Sérgio Peixoto registrou que ele conseguira "bancar a cigarra sabida" ao saber usar a mina de ouro que era sua voz, e não dispersou os ganhos com as fãs ou a boemia, registrando que dele não se sabia nada desabonador. Acrescia que conservava, com mais de 20 anos de carreira, o mesmo timbre de voz que fez as delícias das morenas bonitas de seu bairro, quando, seresteiro adolescente, nem sequer sonhava um dia ganhar tanto dinheiro que daria para possuir um haras com cavalos de corridas.

Em 1948, Francisco Alves declarou sobre seus cavalos puro-sangue que mantinha no Hipódromo da Gávea que o negócio era uma "barbada". Neste ano mantinha um bem sucedido programa de rádio.

Em 1949, Francisco Alves era apresentado como um cantor que ainda se mantinha no topo e um turfman. Nesse ano, ele já não mais apresentava programa no rádio em horário nobre, o que motivou um editorial da revista "A Cena Muda" por Luiz Alípio de Barros a lamentar que os cantores estavam a perder seu espaço para programas de auditório de mau gosto ou para as novelas, com os seus horários modificados para os de menor audiência:
"Nos melhores tempos, o intérprete tinha o seu programa exclusivo, com um patrocinador e o absoluto apoio das organizações radiofônicos (...) Quem não se lembra dos velhos programas da magnífica Araci, de Chico Alves, Orlando Silva, Galhardo, Linda, Dircinha e de tantos outros nomes de grande expressão! Abandonando os seus intérpretes, as emissoras brasileiras estão matando aos poucos a nossa música popular. O rádio brasileiro precisa debater o mal que vem causando à nossa música!"
Ainda no ano de 1949, ele terminou o casamento com Célia Zenatti e começou novo relacionamento com uma professora chamada Iraci Alves, muito mais nova que ele a ponto de mais tarde dizerem que ela tinha idade para ser sua filha. Ficaram juntos secretamente até sua morte, e a revelação desta união mais uma vez coube ao David Nasser, na série de matérias biográficas que escreveu para "O Cruzeiro", publicada com alarde e impulsionando ainda mais as vendas da revista.

O ano de 1950 começou promissor para Francisco Alves, emplacando um sucesso no Carnaval, como registrou "A Cena Muda":
"Francisco Alves é um cantor que sabe ser artista (...) Chico não se barateia ante o público, mesmo quando se apresenta diante de uma auditório que sente a presença marcante do 'Rei da Voz'. E apesar dos seus anos todos, Chico Alves sabe entusiasmar o público cantando 'Marcha dos Brotinhos'!"
A mesma revista falava da decadência então vivida por Orlando Silva e ressalvava:
"Silvio Caldas e Francisco Alves mantêm ainda a grande classe dos velhos tempos, o que equivale dizer que souberam conservar-se com a sua voz em forma e não se deixaram baratear ou vulgarizar!"
Em 1951, Francisco Alves interpretou a marchinha "Retrato do Velho" (Haroldo Lobo e Marino Pinto), que tornou-se sucesso nacional e influiu na vitória de Getúlio Vargas na eleição, embora conste que Getúlio Vargas não tenha gostado de ser chamado de velho.

O Retorno de Ceci

Francisco Alves cuidava bem dos negócios: Tinha vários imóveis, uma loja em Miguel Pereira e os cavalos de corrida, em parceria com o sócio Mário de Almeida, conhecido como Mário Português. Ele ainda adquiriu vários apartamentos no Rio de Janeiro.

Em 1950, sua primeira esposa Perpétua Guerra Tutoia, ou Ceci, reapareceu em sua vida de forma inusitada e inesperada. Francisco Alves foi citado para responder a um processo que ela lhe movia, dizendo ser o pai de dois filhos adolescentes: Cristiano (15 anos) e Teresa (13 anos).

O processo foi um choque para Francisco Alves, diante da repercussão que o mesmo ganhou na imprensa, e o fato de ter de recorrer para serem suas testemunhas os mesmos amigos cujos conselhos recusou 30 anos antes. A imprensa dava destaque ao caso e o processo se arrastou, avançando pela década seguinte. Francisco Alves pensou mesmo em abandonar a carreira.

Década de 1950, Últimos Dois Anos

1951 foi o ano em que sua disputa contra a ex-mulher ganhou feições de verdadeiro drama público, e os detalhes eram expostos na imprensa. Perpétua se apresentava com o nome de casada, Perpétua de Morais Alves, uma vez que nunca se separou do marido. Ela alegava que os dois filhos, Cristiano, nascido em 26/04/1937 e Teresa, nascida em 12/09/1938, eram fruto de encontros furtivos que mantinha com Francisco Alves, enquanto este contraditava que ela tinha vida alegre. Fato que Perpétua não contestava.

A ação de negativa da paternidade seguiu e em setembro soube-se que Francisco Alves alegava que seu casamento durou apenas nove dias, de 20/05/1920 a 02/06/1920. Para comprovar esta última data, disse que a mulher deixou duas cartas ao abandoná-lo: Uma dirigida a ele e outra à sua família (de Francisco Alves). Ele declarou então à imprensa que, além de anular os registros dos supostos filhos, entraria finalmente com uma ação de desquite.

O caso estava nas mãos do juiz Paula Alonso e no dia 20/11/1951, uma audiência ouviu como testemunhas de Francisco Alves os amigos Mário Reis e David Nasser. Ambos confirmaram a impossibilidade de Francisco Alves ser o pai dos menores e nova audiência foi marcada para o dia 26/11/1951.

O juiz, à luz das provas e testemunhas, finalmente deu-lhe ganho de causa. Perpétua, derrotada, voltaria novamente a aparecer após a morte de Francisco Alves e novo drama viria a se desenrolar na disputa pelos bens que ele deixou.

Em setembro de 1952, Francisco Alves, que sempre procurava desenvolver atividades filantrópicas, gravou a "Canção da Criança", com a participação do coral formado por meninas da Casa de Lázaro, em benefício da qual a renda seria revertida. Foi para divulgar este trabalho que viajou à São Paulo para apresentar-se num show, pela Rádio Nacional, no Largo da Concórdia. Ali dirigiu-se, ao final, à multidão que o escutava, fazendo um pedido para que todos ajudassem a infância.

Morte
"Dizem que a gente deve saber a hora em que é bom abandonar o palco, mas eu não sei, eu não posso e eu não quero. Bem que eu gostaria, meu caro amigo, de fazer coincidir o último alento de vida com o último agudo de minha garganta!"
(Francisco Alves, citado por David Nasser)

Francisco Alves dirigia seu Buick voltando de São Paulo onde foi se apresentar na Rádio Nacional, pela rodovia Presidente Dutra, ao lado do amigo Haroldo Alves, quando no atual km 102,5 Norte (antigo km 275,5), apenas 500 metros após a ponte sobre o Rio Una, que marca a divisa de Taubaté com Pindamonhangaba, por volta das 18h30 horas do dia 27/09/1952 (algumas fontes indicam 17h23), vindo em sentido contrário, um caminhão Austin dirigido por João Valter Sebastiani, do Rio Grande do Sul, chocou-se violentamente contra ele. Com a pancada, o amigo foi jogado para fora do veículo e sobreviveu em estado grave, mas Francisco Alves sofreu morte imediata e, logo em seguida, o carro pegou fogo e seu corpo ficou totalmente carbonizado, praticamente irreconhecível.

Haroldo Alves foi socorrido por outro motorista que passou logo após o acidente, e foi levado à Santa Casa de Taubaté em estado de coma. A ocorrência foi atendida pelo delegado de Pindamonhangaba, município onde ocorreu o desastre, levando o corpo para aquela cidade onde, após diligências, foi finalmente identificado como sendo o de Francisco Alves, o Rei da Voz.

Francisco Alves fez uma apresentação em São Paulo, e teria no dia seguinte mais um programa pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, motivo de seu imediato retorno. A mesma emissora motivou esse deslocamento e o fato não passou despercebido da imprensa. Seus colegas da emissora, tanto de São Paulo como do Rio de Janeiro, se deslocaram para Pindamonhangaba a fim de acompanhar os acontecimentos.

Mais tarde Haroldo declarou:
"O carro não vinha correndo muito. Nossa conversa era sobre o jogo América x Bangu. O Chico e eu somos americanos e o nosso time estava vencendo de 2 x 1. Vínhamos felizes, comentando os lances do jogo. De repente ouvi um estrondo horrível... e quando voltei a mim, estava no Hospital de Taubaté!"
Segundo se apurou no inquérito, com a oitiva das testemunhas Gil Inácio de AndradeAvelino Teixeira e do motorista do caminhão, o acidente foi causado por um terceiro veículo, um Mercury dirigido por Felipe Jorge Abunahman, um dentista, que vindo de uma via secundária (Estrada Municipal do Una Antônio Marçom), avançou de forma imprudente na pista Sul da Via Dutra, forçando o caminhão, que ia rumo a São Paulo, a desviar-se para a esquerda e o automóvel de Francisco Alves para a direita - de forma que ambos colidiram do lado do motorista, no acostamento da pista Norte. Um desvio, por conta de obras no local, pode ter sido uma das causas do desastre.

O local do acidente está assinalado por uma cruz vermelha, à qual foi afixado um violão. A cruz começou a atrair uma multidão de fãs que, no meio da estrada, então a mais movimentada do país, criava embaraços ao tráfego e perigo aos motoristas. Em 09/10/1952, o DNER determinou que a cruz fosse retirada, gerando protestos por parte do público e da imprensa. A cruz foi então levada para um depósito em Cachoeira Paulista, mas isto de nada adiantou pois mal foi tirada uma e logo outra foi improvisada e a medida mostrou-se inócua.

O professor Mário de Assis César, de Pindamonhangaba e proprietário do terreno no qual havia sido instalada a cruz, doou a faixa de terra, correspondente ao local do acidente, para a construção de um monumento em memória de Francisco Alves. Passados alguns anos, a ideia do monumento não havia progredido e em 1957, Mário de Assis César criou no local, às suas expensas, a Escola Francisco Alves, "o único estabelecimento primário de Pindamonhangaba conhecido no Rio de Janeiro e São Paulo, porque ele enviou circulares para todas as rádios das duas capitais", de acordo com uma notícia da época. A Escola Francisco Alves, no entanto, já não era mais mencionada na imprensa local em fins da década seguinte.

Velório e Sepultamento

Seguindo para o Rio de Janeiro, o corpo de Francisco Alves foi velado na Câmara Municipal. Uma multidão de fãs e curiosos acorreu ao lugar, para se despedir da celebridade desaparecida, além de artistas, autoridades e um representante do então presidente Getúlio Vargas. Mesmo durante a madrugada do domingo para a segunda-feira as filas diante do legislativo municipal não deixavam de crescer.

Na segunda-feira, 29/09/1952, pouco após as 11h00, o cortejo seguiu rumo ao Cemitério de São João Batista, seguido por multidão cujo número não pode ser aferido. No registro do cronista do jornal O Dia:
"Era impossível ter-se uma ideia exata do número de pessoas que formavam aquela fabulosa onda humana, que provocou colapso no trânsito, acompanhando os funerais de Francisco Alves. Cem, duzentas mil pessoas? Quem sabe ao certo, se a vista do repórter se perdia ao longo de ruas e avenidas da Zona Sul? Foi um espetáculo comovente, o coroamento das manifestações de dor popular pela morte trágica do Rei da Voz. Durante as últimas 48 horas, a cidade se transformou de tal modo, ligando-se ao destino de um artista por vinculo do mais profundo sentimentalismo, que até parecia não ter morrido apenas um seresteiro de alta classe, mas um místico de poderosa influência sobre multidão deslumbrada!"
O cortejo fúnebre seguiu com o caixão sendo levado numa viatura do corpo de bombeiros e, ao longo do percurso, as pessoas jogavam flores, a ponto de que logo estas cobriram totalmente o caixão. Benjamin Costallat descreveu o momento:
"A cidade, no seu luto, encheu-se, então, da voz de seu cantor, que nunca lhe pareceu tão bela, tão comovedora e tão triste, como se chorasse sobre si mesma o desaparecimento de seu dono, daquele bom e simples Chico Viola, filho dos morros, irmão do samba e amigo das serenatas e do luar!"
Atrás do carro dos bombeiros e da multidão que o seguia, vinha uma grande quantidade de carros a levar flores e coroas. O trajeto seguiu da Câmara pela avenida Rio Branco, passando pelos bairros do Flamengo, Botafogo e outros, sempre com o mesmo acompanhamento. Foram duas horas de percurso.

Durante o trajeto o povo cantava a música do ídolo, "Adeus, Cinco Letras que Choram". Estimativas deram conta de que meio milhão de pessoas acompanharam o cortejo. Tamanha quantidade de pessoas não coube no cemitério e apesar das medidas adotadas pela força pública, houve grande confusão, todos querendo ali adentrar e acompanhar o sepultamento do Rei da Voz.

Os oradores que programaram um último discurso não o conseguiram. As cenas de comoção extrema se repetiam em homens, mulheres, velhos e crianças que muitas vezes caíam, sendo pisoteados, e muitos ataques nervosos exigiam o socorro. Mesmo a urna funerária teve dificuldade para chegar finalmente ao jazigo, sendo necessário para isto o esforço de doze homens da Polícia Especial.

Apesar disso, as meninas atendidas pela Casa de Lázaro, em coro, entoaram a "Canção da Criança" enquanto seu corpo era baixado ao túmulo.

Missas

No dia 03/10/1952 foram mandadas celebrar várias missas em memória do cantor. O bispo de Santos Dom Idílio Soares se recusou a celebrar a missa, por ouvir dizer que o artista não tinha uma vida reta. Mas, consultando a Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, esta lhe respondeu que ele levara uma vida normal e assim poderia receber as exéquias católicas, o que o fez reconsiderar a negativa.

Em São Paulo mais de mil pessoas compareceram à cerimônia na Igreja de Nossa Senhora da Consolação ao final da qual a orquestra da Rádio Nacional executou "A Voz do Violão", canção cuja letra fazia lembrar Francisco Alves. Já no Rio de Janeiro as missas ocorreram no dia 04/10/1952, e na tradicional Candelária teve início às 11h30 com a participação dos corais da Rádio Nacional (Cantores do Céu) e do Teatro Municipal, que também apresentou sua orquestra, com transmissão ao vivo por várias emissoras de rádio da capital e do interior do país.

Ao largo dessas cerimônias públicas, a viúva "oficial", Perpétua de Morais Alves, em seu nome e dos dois filhos, mandou também celebrar uma missa no dia 04/10/1952, na Igreja de Santa Mônica, no bairro do Leblon. Na ocasião o jornalista David Nasser anunciou duas medidas: A primeira, que iria revelar publicamente o nome do pai dos dois filhos que Perpétua registrou como sendo de Francisco Alves (Dando-lhe um prazo de sete dias para ela mesma fazê-lo, espontaneamente). A segunda, que toda a vida do cantor seria objeto de uma biografia que iria publicar por O Cruzeiro e cuja renda seria revertida para a Casa de Lázaro.

Esta data marcou o início das disputas públicas e jurídicas entre Perpétua de Morais Alves (Ceci), David Nasser e parentes de Francisco Alves, que se arrastaria por vários anos.

Eventos Póstumos

Tanto a Rádio Nacional como o patrocinador do programa que Francisco Alves mantinha ao meio-dia dos domingos decidiram mantê-lo, apesar de sua morte. Na sua primeira irradiação, a cantora Linda Batista, carregada de emoção, entoou a canção "Chico Viola", fruto da parceria de Antônio Nássara com Wilson Batista.

Em Belo Horizonte, a fã Maria da Conceição, que caíra em depressão após a notícia, no dia 30/09/1952, ateou fogo às próprias roupas. Apesar de socorrida ainda com vida, veio a falecer no pronto-socorro. Neste mesmo dia, o carona do acidente, Haroldo Alves, foi finalmente transferido de ambulância para o Rio de Janeiro com a melhora de seu estado de saúde. Ele ainda não sabia que Francisco Alves tinha falecido.

Os jornais indicavam que ocorria uma peregrinação de pessoas de todas as classes sociais ao cemitério de São João Batista ao túmulo 519 da ala 5, onde foi sepultado o cantor. Os discos de Francisco Alves nas lojas haviam acabado, dado o volume de vendas. Foi neste mesmo dia que Perpétua de Morais Alves, a Ceci, deu entrada no foro ao pedido de abertura do inventário dos bens deixados por Francisco Alves. Teria início ali mais um drama que se arrastaria nos próximos anos, percorrendo todas as instâncias do poder judiciário.

Disputa Pela Herança, Revelações do Passado

Após ingressar com o pedido do inventário junto à 4ª Vara de Órfãos e Sucessões onde foi nomeada inventariante, Perpétua de Morais Alves também não descuidou do processo pedido pelo reconhecimento dos filhos como sendo do marido, e recorreu da sentença proferida na primeira instância.

David Nasser, o repórter que chamou para si a defesa da memória do amigo Francisco Alves, também não ficou imune aos ataques: Foi divulgado que ele devia uma importância superior a um milhão de cruzeiros ao amigo e ele atribuiu isto a uma campanha para o "desacreditar perante a opinião pública"David Nasser reagiu divulgando que possuía doze músicas em parceria com Francisco Alves e que estas renderiam dois milhões mas, para que a metade deste valor não fosse para Perpétua, jamais as deixaria serem gravadas. Ele reiterava a ameaça de que divulgaria o nome do verdadeiro pai dos filhos atribuídos a Francisco Alves.

Como os bens de Francisco Alves ficaram restritos, o tratador de seu cavalo de corridas, Veludo, solicitou ao juiz Lourival Gonçalves, a quem cabia o inventário, autorização para que este pudesse disputar, em 12/10/1952, na corrida do Hipódromo da Gávea para a qual foi inscrito anteriormente. Uma decisão que dependia da inventariante, Perpétua.

Em Carta de Chico: "Quem é Perpétua"

No dia 15/10/1952, David Nasser cumpriu a ameaça e divulgou na imprensa uma carta de Francisco Alves, onde este atribuía a paternidade dos filhos de Perpétua. Na missiva, o cantor dizia, a 12/09/1952, quinze dias antes de sua morte:
"Turco, ando preocupado com a ação daquela (censurado) Perpétua, a Ceci, que quer mesmo impingir-me os seus filhos como meus, depois da separação de trinta anos. O pai verdadeiro do Cristiano e da Tereza, dois pobres inocentes cujo azar é serem filhos de uma (censurado), chama-se Ernesto Pestana."
Logo o nome e a figura do rico comerciante Ernesto Pestana ganhou as páginas dos jornais. O sensacionalista Diário Carioca exibia as fotografias de Ernesto Pestana ao lado da foto de Cristiano e declarava serem evidentes as semelhanças. Por outro lado, a carta que David Nasser divulgou atribuída ao cantor desqualificava ainda mais a ex-mulher:
"Essa Perpétua é uma caluniadora e como você sabe quer o meu dinheiro, mas prefiro deixar de cantar e até botar fogo no meu violão, a dar dinheiro a essa (censurado) chantagista de uma figa!"
A certeza de Francisco Alves se expressava na carta:
"Nunca fui pai. A vida me deu muitas glórias, mas não me deu essa. Os médicos, mais ou menos em 1920, concluíram que num ligeiro acidente eu havia me tornado definitivamente estéril!"
Segundo se explicou, este acidente teria sido um chute que Francisco Alves recebeu quando jogava futebol. Acrescia o fato de não mais ter visto a esposa em 30 anos.

David Nasser revelou que Francisco Alves descobriu que as duas crianças tinham sido registradas por Perpétua em 1942, quando Cristiano tinha já 5 anos e a irmã Tereza, 4 anos. E mais, Perpétua falseou dados ao juiz ao dizer que os dois filhos haviam nascido no Hospital da Ordem Terceira da Penitência que, em certidão, informou que ela jamais esteve lá em qualquer tempo, pois não fazia parte da Ordem e, nos dias do nascimento indicados para seus filhos, não houve qualquer parto no referido hospital.

Outras incoerências foram apontadas pelo jornalista, como indicar que Francisco Alves tinha endereço incerto e ignorado quando já era figura de fama nacional. Quando Perpétua e as testemunhas das respectivas certidões reconheceram ter se equivocado com o nome do hospital, indicaram duas outras casas de saúde também de forma falsa. Ao juiz, Perpétua teria atribuído tais erros ao fato de não querer que os filhos soubessem que nasceram de cesariana.

Uma das duas testemunhas de Perpétua era sua empregada, que disse ter ido trabalhar para ela quando estava grávida, em 1935. Só que Cristiano nasceu 2 anos mais tarde, o que levaria à conclusão de que a gestação começada em 1935 durou todo o ano de 1936 para ter o parto depois de mais quatro meses de 1937. A mesma testemunha declarou que viu o menino no colo de Francisco Alves e chamando-o de papai, mas a casa onde ela trabalhou para Perpétua foi entregue ao proprietário quando a criança tinha apenas 2 meses de idade, ou seja, se o menino já falasse, então, seria um prodígio da natureza.

Para obter todas as informações Francisco Alves havia contratado os detetives da Agência Argus, que descobriram que, na época do nascimento de Cristiano, Perpétua convivia com Ernesto Pestana, sócio de uma empresa exportadora de frutas.

Em 1937 ela assinava como Perpétua Pestana, e tanto ela como o companheiro declaravam residir à Rua Garcia Dantas, nº 14, endereço que se verificou inexistente. Descobriu-se, ainda, que moraram juntos com a mãe de Perpétua, que tinha quase o mesmo nome da filha: Perpétua Clara Guerra de Tutóia.

Depois, já grávida de Tereza, os dois se mudaram e fizeram registro policial de próprio punho do novo endereço. Embora solteiro, Ernesto Pestana apresentou às autoridades Perpétua como sua esposa. Já com os dois filhos, o casal registrou-se em mais outros endereços junto a um filho que Perpétua teve antes de se casar com Francisco Alves, chamado Jorge Bath - mas que se assinava Jorge Alves - numa movimentação rastreada que durou de 1937 a 1941, quando tomaram destino desconhecido, pois se separaram.

Procurado por Francisco Alves, Ernesto Pestana fugia, chegando mesmo a viajar para a Argentina a fim de não se encontrar com ele. Com a morte de Francisco Alves, as irmãs Carolina e Ângela passaram a representá-lo na ação da negativa de paternidade, enquanto Ernesto Pestana achava-se mais uma vez desaparecido.

Perpétua Contestada

Em 21/10/1952, a família de Francisco Alves divulgou que iria finalmente entrar com ação para destituir Perpétua do inventário. A fundamentação estava num artigo do Código Civil então vigente que dispunha não poderem fazer parte da sucessão herdeiros "que acusaram, caluniosamente, em juízo, ou incorreram em crime contra a sua honra". Com isto ficou-se sabendo que Perpétua acusou Francisco Alves por duas vezes: Numa como rufião e outra como ladrão, sendo Francisco Alves absolvido em ambas. Se a tese fosse vitoriosa, Perpétua ainda teria a esperança de vencer no recurso contra a sentença de primeira instância que negou a Francisco Alves a paternidade de seus dois filhos.

Em 22/10/1952, Perpétua renunciou à função de inventariante. Com isto ela deixou de ser a administradora dos bens deixados por Francisco Alves e, para fazê-lo, declarou ao juiz que precisava sair do Rio de Janeiro a fim de se refazer do choque que sofreu com a morte do artista.

Enquanto Perpétua fazia uma retirada estratégica, Ernesto Pestana, o atribuído verdadeiro pai, continuava desaparecido. A imprensa descobriu que ele era bastante rico, um dos mais abastados comerciantes do Rio de Janeiro, contando até com navios em seu patrimônio. Os advogados das irmãs de Francisco Alves pretendiam realizar exames de sangue comparativos entre ele e os filhos de Perpétua, para assim ajudarem a dirimir a questão da paternidade.

Com a renúncia de Perpétua, o juiz nomeou novo inventariante o advogado Luiz MacDowell. No dia 24/10/1952, o novo administrador assinou o compromisso, e até aquele momento não se sabia qual o valor atribuído ao espólio.

A Disputa Se Arrasta, o Supremo Decide

No começo de 1953, as irmãs Ângela e Carolina, e o sobrinho Afonso Alves do Amaral, ingressaram finalmente com uma ação para afastar Perpétua da sucessão de Francisco Alves. Com nome o termo jurídico "indignidade", a ação foi proposta sob os argumentos revelados ainda no ano anterior de que ela havia acusado caluniosamente o falecido.

O processo continuou se arrastando e em 1955 o juiz da 4ª Vara de Órfãos e Sucessões deu um despacho onde vedava a Perpétua retirar dos bens a importância de cento e vinte mil cruzeiros. Na época divulgou-se que os bens do cantor haviam sido estimados em mais de dois milhões de cruzeiros, dos quais um milhão e duzentos mil eram valores dos direitos autorais recolhidos com a venda de discos e depositados em bancos.

Em abril de 1957 o caso finalmente chegou à Suprema Corte, depois de perdas e vitórias de Perpétua e das irmãs de Francisco Alves em sucessivos recursos impetrados a partir da 4ª Vara de Órfãos e Sucessões. Ali, no Supremo Tribunal Federal (STF), finalmente foi decidido que, embora Francisco Alves fosse favorável ao desquite, nunca o intentou e, portanto, deu ganho de causa àquela que era, pela lei, sua viúva e única herdeira de seus bens: Perpétua, que viveu alguns dias com Francisco Alves, tornou-se senhora de todo o patrimônio que acumulou e dos direitos sobre suas músicas.

A cobertura feita pela revista O Cruzeiro, com as revelações de David Nasser rendeu ao todo quarenta e cinco páginas e uma ampliação da tiragem da revista para 550 mil exemplares por semana: Um recorde se considerar que o país tinha apenas 50 milhões de habitantes, dos quais 30% era composta por analfabetos.

Carreira

Sua longa carreira como artista foi de importância capital para a formação de muitos dos gêneros da Música Popular Brasileira. Sua trajetória coincidiu com o desenvolvimento no país de várias novas tecnologias até então inexistentes, e com momentos sociais importantes que se refletiram na manifestação musical: Surgiu o rádio como fenômeno de divulgação de massa e também a indústria fonográfica. No plano cultural, o rápido crescimento das cidades do período fez com que os ritmos musicais tipicamente urbanos vinhessem a se formar, impulsionados ainda mais pelas festas populares, como o Carnaval, e pelo sucesso do teatro de revista e do cinema . Tudo isto a sobrelevar seu papel na história musical do Brasil.

Discografia

Francisco Alves gravou canções de vários compositores célebres, como Herivelto Martins, Catulo da Paixão Cearense, Lamartine Babo, Grande Otelo, Dorival Caymmi entre muitos outros, e cantou em parceria com Dalva de Oliveira vários sucessos, além da dupla formada com Mário Reis.

Em 1987, várias de suas gravações foram relançadas, antecipando o centenário de seu nascimento no ano seguinte. Pela BMG Ariola, várias de suas músicas compunham a caixa de clássicos da MPB. A Collector's do Rio de Janeiro relançou parte de sua obra em seis CDs e o selo da cidade de Curitiba Revivendo outros três.

Francisco Alves além de ser o cantor mais diverso do Brasil com uma discografia extremamente rica, é também, o cantor que mais gravou no Brasil, tendo mais de 980 gravações, mais de 30 ritmos musicais, talvez o mais diverso e versátil cantor brasileiro.

Filmografia

A Enciclopédia Itaú Cultural dá como Francisco Alves tendo participado do filme de 1931, "Coisas Nossas". Isto contudo não se repete na biografia do cantor, de Ronaldo Aguiar, nem na ficha catalográfica do filme da Cinemateca Brasileira que, entretanto, reporta seu nome como integrante do elenco, segundo Araken Campos Pereira Júnior (com a ressalva de que o autor não indica suas fontes).

A Cinemateca diz ser este um filme musical, e cita Jean-Claude Bernardet que disse ter a película inaugurado "... no Brasil o filme revista e marca o início do relacionamento rádio-cinema, tornando-se pioneiro de um filão importante que se desenvolveria nos anos 30 no Rio de Janeiro".

A revista A Scena Muda, que já o criticou no filme "Laranja da China" de 1940, voltou no ano seguinte a dizer que Francisco Alves surgia fantasmagórico e que "parece ter saído de um cemitério" em "Céu Azul".

Apesar de "Coisas Nossas" trazer números musicais, Alberto Dines disse que o filme "Alô, Alô, Carnaval" (1936) é considerado o primeiro musical brasileiro. Informa que teve grande aceitação do público e trazia no elenco Francisco Alves, Barbosa Júnior, Mário Reis, Almirante, Carmen Miranda e o iniciante Oscarito. Foi reapresentado numa festa em setembro de 1952, pouco antes da morte de Francisco Alves, para comemorar seu pioneirismo. Alberto Dines escreveu, na época: "Nunca vimos um filme brasileiro tão bem recebido, tão aplaudido no seu decorrer e ao terminar!".

Teatro

Francisco Alves participou, no teatro musical, da peça "Da Favela ao Catete", de autoria de Freire Júnior. A apresentação burlesca estreou em 1935 e teve as músicas compostas por Hervé Cordovil.

Autobiografia

Em 1936, Francisco Alves publicou uma autobiografia intitulada "Minha Vida", publicada no Rio de Janeiro pela Editora Brasil Contemporâneo.

Homenagens

Nos dias seguintes ao acidente que ocasionou a morte de Francisco Alves, a Câmara de Vereadores de São Paulo apreciou projetos alterando o nome da antiga "Rua 16" para Rua Francisco Alves, e outro autorizando que fosse feito um busto do cantor numa das praças da cidade.

Colonizada a partir da década de 1950, ainda pertencendo a Iporã, em 24/08/1972 a lei estadual paranaense nº 6.314 emancipou o município com o nome que homenageia o cantor, sendo instalada apenas em 01/02/1977. Francisco Alves é também chamada pelas pessoas de Chico Viola. Os nascidos ali são os Alvenses.

Em 1974, na casa em que Francisco Alves morou na cidade de Miguel Pereira, conhecida como Castelinho, foi inaugurado o Museu Francisco Alves, além de ali ter uma rua com seu nome. Situado no centro da cidade, dentro do Jardim Municipal Francisco Marinho Andreiolo, o museu traz importantes peças pessoais do artista, dentre as quais em destaque está seu violão.

Músicas

Além de "Chico Viola" (Antônio Nássara e Wilson Batista) lançada pouco após sua morte, o samba-canção "Uma Cruz na Estrada" foi composto para homenagear o cantor, de autoria de Irany de Oliveira e Ari Monteiro. Foi gravada por Carlos Galhardo em 1953, mas só foi lançada no ano seguinte.

Em 1954, foi lançada na voz de Nelson Gonçalves, o samba "Francisco Alves" (David Nasser e Herivelto Martins), cuja letra dizia:
"Até a lua do Rio
Num céu tranquilo e vazio
Não inspira mais amor
O violão desafina
Porque chora em cada esquina
A falta do seu cantor"
Também de David Nasser e Herivelto Martins é "O Maior Samba do Mundo" em cujos versos dizem que se tivessem o piano de Ary Barroso, um violão de Noel Rosa, a pena de Orestes Barbosa ou o vozeirão de Nelson Gonçalves, concluem:
"E o Chico Alves
Voz de pássaro cantor
O maior samba do mundo
Eu faria pro meu amor"
Gravado por Linda Batista em 1959 e depois por Dora Lopes, dentre outros.

Cinema, Televisão e Teatro

O filme "Chico Viola Não Morreu" já em 1955, com roteiro de Gilda de Abreu, traz a biografia do artista, que é interpretado por Cyll Farney, numa atuação que lhe rendeu os prêmios de Melhor Ator em dois festivais de cinema brasileiros da época.

Cyll Farney dubla sete canções de Francisco Alves, seus maiores sucessos. A atriz Eva Wilma também foi premiada com um Saci por sua atuação e foi a Melhor Fotografia, no Festival do Distrito Federal daquele ano.

O documentário "Uma Cruz na Estrada", dirigido por Jorge Ileli em 1970, reconta a carreira e a morte de Francisco Alves, em curta-metragem. A Cinemateca voltou a exibi-lo, em 2005.

Em 1998, ano do centenário do cantor, o musical "Chico Viola" foi exibido de 2 a 27 de setembro (data da morte), trazendo o ator Jandir Ferrari no papel do cantor. O espetáculo foi apresentado no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, sob direção de Luiz Arthur Nunes.

Bibliografia

Livros sobre Francisco Alves:
  • 1966 - Chico Viola, David Nasser (Empresa Gráfica O Cruzeiro)
  • 1998 - Francisco Alves: As Mil Canções do Rei da Voz (Abel Cardoso Júnior - Revivendo)
  • 2013 - Os Reis da Voz (Ronaldo Conde Aguiar - Casa da Palavra)
  • 1988 - Discografia de Francisco Alves (Walter Teixeira Alves - Ed. Lebasponte)

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #FranciscoAlves #OReiDaVoz