Roberto Marinho

ROBERTO PISANI MARINHO
(98 anos)
Jornalista e Empresário

* Rio de Janeiro, RJ (03/12/1904)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/08/2003)

Roberto Marinho foi um jornalista e empresário brasileiro, tendo sido o presidente das Organizações Globo de 1925 a 2003. Foi um dos homens mais ricos e poderosos do Brasil. Participou do Movimento Tenentista (Tenentismo foi o nome dado ao movimento político-militar e à série de rebeliões de jovens oficiais de baixa e média patente do Exército Brasileiro no início da década de 1920, descontentes com a situação política do Brasil), porém foi um dos primeiros a sair do Forte de Copacabana.

Herdou ainda jovem o jornal O Globo, fundado por seu pai, Irineu Marinho em 29/07/1925, o qual ele ampliou, fundando uma cadeia de rádios entre as quais se destacam a Rádio Globo e a Rádio CBN, esta última somente de notícias.

Em 26/04/1965, fundou a Rede Globo de Televisão, que se tornou o principal canal de televisão do Brasil e a quarta maior do mundo. A Rede Globo tem tido um grande desenvolvimento, durante e principalmente depois da Ditadura Militar. É especialmente na produção de telenovelas, que a TV Globo mostrou todas as suas forças, as quais têm sido exportadas para inúmeros países, inclusive a China. Hoje em dia suas empresas formam um império de mídia que tem imensa influência social e política no Brasil. Esse pool de empresas faz parte do que hoje se conhece pelo nome de Organizações Globo.

Roberto Marinho na década de 1920
Roberto Marinho sempre defendeu o liberalismo econômico, com aliança estratégica com os Estados Unidos. Foi adversário de políticos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola e o Lula da Silva. Quando Getúlio Vargas se matou, como presidente da República em 1954, seu jornal foi destruído pela população, quase falindo. Foi acusado de ser o mentor intelectual da Ditadura Militar, apoiada por ele. Em editorial publicado pelo jornal O Globo em 07/10/1984, Roberto Marinho escreveu:

"Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada"

Roberto Marinho também acusado de manipular as eleições para governador do Estado do Rio de Janeiro, quando Leonel Brizola venceu, e de mandar nas comunicações brasileiras no governo de José Sarney, quando Antônio Carlos Magalhães, dono de uma afiliada da Globo, foi ministro das comunicações.

Roberto Marinho e Jô Soares
Em 1989, foi acusado de manipular a edição do Jornal Nacional, após o debate de segundo turno entre Fernando Collor e Lula da Silva, para ajudar Collor a ser eleito presidente. Em 1992, Roberto Marinho, em um editorial do jornal O Globo e no noticiário Jornal Nacional, chamou Leonel Brizola de "senil". Isso valeu direito de resposta a Leonel Brizola no Jornal Nacional, que foi lido por Cid Moreira, dois anos depois, em 1994.

Com o governo Fernando Henrique, as Organizações Globo passaram por uma grande crise, retirando o nome do jornalista na lista de bilionários da revista Forbes.

Com sua primeira esposa em 1946, Stella Goulart Marinho, teve quatro filhos: Roberto Irineu Marinho, Paulo Roberto Marinho, falecido aos 19 anos, em 1970, João Roberto Marinho, e José Roberto Marinho. O segundo casamento foi com Ruth Albuquerque, em 1971, já se divorciando da primeira esposa.

Seu último casamento, o terceiro, foi com Lily Monique de Carvalho Marinho, em 1991.

Academia Brasileira de Letras

Roberto Marinho foi o 7º ocupante da cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, embora nunca tenha escrito um livro, eleito em 22/07/1993 na sucessão de Otto Lara Resende. Foi recebido pelo acadêmico Josué Montello em 19/10/1993.


Morte

O presidente das Organizações Globo, morreu às 22:30 hs de quarta-feira, 06/08/2003, no Rio de Janeiro. Ele havia sido internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Samaritano, pela manhã, em razão de um edema pulmonar. Durante todo o dia, seu estado de saúde permaneceu grave.

Às 21:30 hs, o jornalista foi levado às pressas para cirurgia. Os médicos tentaram dissolver um coágulo no pulmão, mas não obtiveram sucesso. Ele não resistiu à cirurgia.

Antes de ser levado para o hospital, Roberto Marinho estava em sua casa, no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro. Ele deixou viúva, Lily de Carvalho, e três filhos, Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto, além de netos e bisnetos.

O corpo do jornalista foi velado, a partir das 10:00 hs de quinta-feira, 07/08/2003, em sua casa. O enterro ocorreu às 16:00 hs no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.


Em nota divulgada, a família do jornalista se disse "consternada" e afirmou que Roberto Marinho tinha uma "vida reta, dedicada ao trabalho e, fundamentalmente, ao desenvolvimento do Brasil"

Fonte: Wikipédia e Folha Online

Jacyra Sampaio

JACYRA SAMPAIO
(70 anos)
Atriz

* Santa Cruz do Rio Pardo, SP (28/08/1928)
+ São Paulo, SP (29/09/1998)

Atriz de teatro e TV, Jacyra Sampaio começou a carreira tarde para os padrões do meio, aos 37 anos, atuando no Teatro Experimental do NegroJacyra Sampaio deu aulas de teatro no Rio de Janeiro em 1980, e com os alunos montou a peça "O Pequeno Reformador".

Na TV participou de novelas, tanto na extinta TV Tupi como na Rede Globo. Fez mais de 20 novelas, como "A Outra Face de Anita" (1964), "Redenção" (1966), "A Muralha" (1968), "O Meu Pé de Laranja Lima" (1970), "Meu Rico Português" (1975), "Sinhá Moça" (1986) e "Despedida de Solteiro" (1992), seu último trabalho em novelas.

Mas indiscutivelmente foi no papel de Tia Nastácia na série infantil "O Sítio do Pica Pau Amarelo" que se destacou marcando presença no imaginário infantil de toda uma geração. O seriado, baseado na obra de Monteiro Lobato, ficou no ar entre 1977 e 1985, numa realização em parceria com a TV Cultura. A atriz tinha quase 60 anos quando começou a fazer o papel e era uma das personagens mais queridas da série.

Jacyra Sampaio faleceu aos 70 anos, em São Paulo. Problemas cardíacos, detectados há anos e agravados nos últimos quatro anos de sua vida, provocaram sua morte.


Televisão


  • 1994 - Você Decide (Amor e Morte)
  • 1992 - Despedida de Solteiro ... Elza
  • 1989 - Pacto de Sangue ... Bá
  • 1987 - Bambolê ... Edith
  • 1986 - Sinhá Moça ... Ruth
  • 1977-1986 - Sítio do Picapau Amarelo ... Tia Nastácia
  • 1975 - Meu Rico Português ... Luzia
  • 1973 - Divinas & Maravilhosas ... Mainha
  • 1972 - Camomila e Bem-Me-Quer
  • 1972 - Signo da Esperança
  • 1971 - Nossa Filha Gabriela
  • 1970 - O Meu Pé de Laranja Lima ... Eugênia
  • 1969 - Dez Vidas
  • 1969 - Vidas em Conflito ... Maria das Dores
  • 1968 - A Muralha
  • 1966 - Redenção
  • 1966 - As Minas de Prata
  • 1966 - Almas de Pedra ... Mucama
  • 1965 - Os Quatro Filhos ... Maria
  • 1964 - A Outra Face de Anita
  • 1960 - Imitação da Vida


Cinema


  • 1977 - Que Forma Estranha de Amar
  • 1961 - A Primeira Missa
  • 1960 - Zé do Periquito
  • 1959 - O Preço da Vitória


No Teatro


  • 1959 - Quarto de Empregada
  • 1960 - As Feiticeiras de Salem
  • 1961 - O Pagador de Promessas
  • 1964 - O Círculo do Champagne
  • 1965 - Vamos Brincar de Amor em Cabo Frio
  • 1971 - Castro Alves Pede Passagem
  • 1988 - Um Piano à Luz da Lua
  • 1994 - Sitio do Picapau Amarelo

Fonte: Wikipédia

Rubinho

RUBENS CUBEIRO RODRIGUES
(63 anos)
Instrumentista

* Brasil (1936)
+ São Paulo, SP (12/02/1999)

Rubens Cubeiro Rodrigues, guitarrista brasileiro, integrou o Quinteto Onze e Meia, criado para acompanhar as apresentações de Jô Soares no SBT na década de 80. Anteriormente participou de diversos programas do SBT, de música sertaneja, onde na maioria das vezes atuava apenas como personagem, visto que os programas eram todos em playback.

Em cena, ele fazia um tipo enigmático com sua imensa barbicha. Nunca respondia às provocações de Jô Soares. Nos bastidores, atestam seus companheiros de programa, era um legítimo e bem humorado tagarela.

Rubinho estava na banda desde sua criação, quando ainda era quarteto. Seus problemas de saúde começaram em agosto de 1998, quando sofreu um derrame. Sem sequelas graves, ele superou o problema e vinha se recuperando bem até que, em dezembro, sofreu outro derrame. Desta vez não recobrou mais a consciência.

O guitarrista era casado tinha quatro filho e seis netos.

Morte

O guitarrista do Quinteto Onze e Meia do talk show de Jô Soares no SBT, Rubinho, morreu na sexta-feira, 12/02/1999 em São Paulo, vítima de complicações decorrentes de um Acidente Vascular Cerebral. Desde de dezembro, Rubens Cubeiro Rodrigues, de 63 anos, estava hospitalizado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Bandeirantes, no bairro da Liberdade, na zona central de São Paulo.

O enterro aconteceu no sábado, 13/02/199, às 10:30 hs no Cemitério da Quarta Parada, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Fonte: Wikipédia e Folha On Line

Milton Moraes

MANOELITO SOARES MORAES
(62 anos)
Ator

* Fortaleza, CE (04/09/1930)
+ Rio de Janeiro, RJ (15/02/1993)

Milton Moraes iniciou a carreira no circo, ainda em sua cidade natal, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 19 anos.

Sua estréia foi em 1947 com a montagem teatral "Rua Nova". Em 1957, junto ao Teatro Nacional de Comédia, protagonizou a bem sucedida montagem "Pedro Mico". Entre as mais de 100 peças em que atuou, destacam-se "Festival de Ladrões" (1979), "O Canto da Cotovia", "Casa de Chá do Luar de Agosto", "A Venerável Madame Goneau", "Um Edifício Chamado 200", entre outras.

Atuando em cinema desde os anos 50, o ator conta com cerca de 30 longas em sua carreira. Nos anos 60 participou de "Assassinato em Copacabana" (1962), "A Montanha dos Sete Ecos" (1963) , "Presidente dos Valentes" (1963), "Nudismo à Força" (1966) e "Mineirinho, Vivo ou Morto" (1967).


Seguiram-se "O Barão Otelo no Barato dos Bilhões" (1971), "Os Devassos" (1971), "Um Marido Contagiante" (1977), "Os Homens Que Eu Tive" (1973), "O Homem de Papel" (1976), "Bonitinha Mas Ordinária" (1981), "Beijo na Boca" (1982), entre outros.

"Os Trapalhões e o Rei do Futebol" (1986), foi seu último trabalho no cinema.

Na TV, o ator participou dos tele-teatros da Rede Tupi e popularizou-se em novelas produzidas pela Rede Globo. Seu papel principal foi em "O Espigão", onde interpretou o visionário Lauro Fontana, em 1974. Estreou na TV Globo onde participou também das novelas "Bandeira 2" (1971), "O Bofe" (1972), "Cavalo de Aço" (1973), "Escalada" (1975), "Saramandaia" (1976),  "Espelho Mágico" (1977), "Dancin' Days" (1978), "Cabocla" (1979), "Água Viva" (1980), "O Homem Proibido" (1982),  "Louco Amor" (1983)  e "De Quina Pra Lua" (1985).

Seu último desempenho foi em 1990, como o Vicente, da novela "Meu Bem, Meu Mal".

Seus personagens foram sempre marcados por um estilo descontraído e malandro.

Milton Moraes faleceu aos 62 anos, em 15/02/1993.

Foi casado com as atrizes Glauce Rocha, Norma Blum, Mara Regina e Carlota Pauline.


Cinema


  • 1986 - Os Trapalhões e o Rei do Futebol ... Dr. Barros Barreto
  • 1984 - Aguenta, Coração
  • 1983 - O Trapalhão na Arca de Noé ... Morel
  • 1982 - Beijo na Boca ... Pai de Celeste
  • 1982 - Pra Frente, Brasil ... Policial
  • 1981 - O Sequestro ... Argola
  • 1981 - Bonitinha Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende ... Peixoto
  • 1980 - Os Paspalhões em Pinóquio 2000
  • 1979 - A República dos Assassinos
  • 1978 - O Amante de Minha Mulher
  • 1977 - Barra Pesada ... Florindo
  • 1977 - Um Marido Contagiante ... Mário
  • 1976 - O Homem de Papel ... Carlos
  • 1976 - Ninguém Segura Essas Mulheres ... Gil
  • 1973 - Um Edifício Chamado 200 ... Gamela
  • 1973 - Os Homens que Eu Tive ... Torres
  • 1973 - Sagarana, o Duelo
  • 1971 - Os Devassos
  • 1971 - O Barão Otelo no Barato dos Bilhões ... Alquimista
  • 1970 - Os Senhores da Terra
  • 1970 - É Simonal
  • 1969 - A Um Pulo da Morte
  • 1968 - Maria Bonita, Rainha do Cangaço ... Lampião
  • 1967 - Perpétuo contra o Esquadrão da Morte ... Perpétuo
  • 1967 - Mineirinho Vivo ou Morto ... Arubinha
  • 1966 - Nudista à Força
  • 1963 - A Montanha dos Sete Ecos
  • 1963 - Gimba, Presidente dos Valentes
  • 1962 - Assassinato em Copacabana ... Pascoal
  • 1956 - A Estrada



Teatro


  • Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues
  • O Berço do Herói, de Dias Gomes
  • Um Edifício Chamado 200, de Paulo Pontes



Televisão


  • 1991 - O Dono do Mundo ... Lopes Resende
  • 1990 - Rainha da Sucata ... Vicente
  • 1988 - Abolição ... Coronel Hipólito Macedo Tavares
  • 1986 - Anos Dourados ... Cláudio
  • 1985 - De Quina Pra Lua ... José João Batista
  • 1985 - A Gata Comeu (Participação Especial)
  • 1984 - Amor Com Amor Se Paga ... Barreto
  • 1983 - Louco Amor ... Sérgio
  • 1982 - Final Feliz ... Alaor
  • 1982 - O Homem Proibido ... Getúlio
  • 1982 - Caso Verdade
  • 1981 - O Amor é Nosso ... Roberto
  • 1980 - Plumas e Paetês (Participação Especial)
  • 1980 - Coração Alado ... Ângelo
  • 1980 - Marina ... Mário
  • 1980 - Água Viva ... Sérgio
  • 1979 - Cabocla ... Joaquim
  • 1979 - Feijão Maravilha
  • 1978 - Dancin' Days ... Jofre
  • 1977 - Espelho Mágico ... Vicente Drummond
  • 1976 - Duas Vidas ... Alexandre
  • 1976 - Saramandaia ... Carlito Prata
  • 1975 - Escalada ... Armando
  • 1974 - O Espigão ... Lauro Fontana
  • 1973 - Cavalo de Aço ... Carlito
  • 1972 - O Bofe ... Sérgio Marreta
  • 1971 - Bandeira 2 ... Quidoca
  • 1969 - Enquanto Houver Estrelas ... Gílson
  • 1969 - O Retrato de Laura ... Júlio
  • 1965 - 22-2000 Cidade Aberta



Curiosidade

Em seu primeiro trabalho no teatro, deveria subir ao palco com sapatos de verniz, comprados com dinheiro adiantado pela produção. Apaixonado pelos cavalos, perdeu tudo nas corridas e precisou entrar em cena com um par de galochas, o que lhe valeu por muito tempo o apelido de "Milton Galocha". Depois, acabou tornando-se proprietário de mais de 20 cavalos no Jockey Club do Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Cláudio Coutinho

CLÁUDIO PECEGO DE MORAES COUTINHO
(42 anos)
Preparador Físico e Técnico de Futebol

* Don Pedrito, RS (05/01/1939)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/11/1981)

Cláudio Pecego de Moraes Coutinho foi um preparador físico e treinador de futebol brasileiro, que comandou o Flamengo e a Seleção Brasileira na década de 1970.

Nascido na pequena cidade gaúcha de Dom Pedrito, na fronteira com o Uruguai, Cláudio Coutinho mudou-se para o Rio de Janeiro, quando tinha somente quatro anos de idade.

Vivendo na Cidade Maravilhosa, Cláudio Coutinho ingressou na escola militar e seguiu carreira, chegando ao posto de capitão de artilharia. Por outro lado, também demonstrava grande interesse para área esportiva, tanto que se graduou na Escola de Educação Física do Exército.

Em 1968, foi escolhido para representar sua escola em um Congresso Mundial, realizado nos Estados Unidos. Lá conheceu o professor norte-americano Kenneth Cooper, idealizador do famoso método de avaliação física que leva o seu nome. Convidado pelo mesmo, frequentou o Laboratório de Estresse Humano da NASA. Dando prosseguimento às suas experiências internacionais, defendeu tese de mestrado na Universidade de Fontainbleau, na França.


Cláudio Coutinho posa de faixa com o filho Cascão no gramado do Maracanã após a conquista do Estadual
Em 1970 foi chamado para ser preparador físico da Seleção Brasileira, tricampeã mundial no México. Nos treinamentos, passou a trabalhar com o Método de Cooper, sendo a partir daí conhecido por ser o seu introdutor no Brasil.

Após a competição, trabalhou - agora como treinador - na Seleção Peruana de Futebol, como coordenador técnico do Brasil na Copa de 1974, no time francês do Olympique de Marselha e na Seleção Brasileira Olímpica, levando-a ao quarto lugar nas Olimpíadas de Montreal de 1976. No mesmo ano, passou a treinar o Flamengo.

O relativo bom desempenho nesses lugares, além de seu histórico dentro da Confederação Brasileira de Desportos, o credenciaram para ser o substituto de Osvaldo Brandão dentro da Seleção Brasileira de Futebol, então postulante a uma vaga na Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

A escolha de seu nome causou certa surpresa, já que era considerado pouco experiente para o cargo. Assim, Cláudio Coutinho quase começava por onde todos terminavam. Logo que assumiu o comando, Cláudio Coutinho tratou de implantar sua filosofia própria. Na época o futebol brasileiro sofria com uma controvérsia em relação à sua própria essência. O fracasso na Copa do Mundo de 1974, aliado a outros fatores, levaram muitos à conclusão de que o nosso método de jogo, aquele individualista, baseado nos craques que desequilibram, estava ultrapassado e que o importante passava a ser o modelo europeu, coletivo, somatório, aonde os jogadores nada mais eram do que peças de uma engrenagem comum, o time.


Cláudio Coutinho e Zico (Foto: O Globo)
Essa era uma discussão polêmica e que dividia opiniões e logo o treinador tratou de assumir que era um ardoroso defensor da europeização dos métodos. Para ele, a Seleção Brasileira já não dependia mais de craques foras-de-série, mas sim de um esquema em grupo, com disciplina tática. Ele também inventou uma terminologia confusa para descrever seu novo estilo de trabalho, com palavras como o "overlapping", o "ponto futuro" (que descrevia o procedimento em que o jogador fazia a jogada com seu companheiro já se posicionando para receber a bola posteriormente) e a "polivalência" (em que cada jogador passaria a exercer mais de uma função em campo).

Terminando de classificar o Brasil nas eliminatórias, Cláudio Coutinho passou a treiná-lo em uma série de amistosos. Mas em alguns desses, como um contra a Inglaterra que terminou empatado em 1 x 1, suas teorias, tão firmemente defendidas, não se aplicavam com muito sucesso.

Às vésperas da Copa, Cláudio Coutinho passou a rever seus conceitos, mas era tarde. Na convocação, causou controvérsia: deixou de levar Falcão, do Internacional, considerado por muitos o melhor armador do futebol brasileiro à época, para ir com Chicão, do São Paulo, conhecido mais por sua garra e truculência, talvez pela questão da obediência tática.

Na estréia da competição, o Brasil enfrentou a Suécia. O resultado foi um desanimador empate em 1 x 1. O jogo seguinte foi contra a Espanha. Um novo empate, desta vez em 0 x 0, já fazia pipocar críticas contra seu estilo e contra um certo espírito "retranqueiro" da Seleção Brasileira.


Cláudio Coutinho e Zagalo
Um dos problemas que Cláudio Coutinho enfrentava era a falta de entrosamento do time como um todo, em especial entre Zico e Reinaldo, dois craques absolutos, mas que estavam rendendo aquém do esperado no torneio.

A vitória sobre a Áustria por 1 x 0 não acalmou muito os ânimos e o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Heleno Nunes, acabou por intervir. Ordenou a Cláudio Coutinho que trocasse a dupla por Roberto Dinamite e Jorge Mendonça, e também que substituísse o zagueiro improvisado na lateral esquerda Edinho, já que Cláudio Coutinho não havia aprovado Júnior na posição, por um atleta do ofício, Rodrigues Neto.

As mudanças podem ter surtido algum efeito, já que o Brasil, no primeiro jogo da segunda fase, goleou o Peru por 3 x 0. Mesmo não apresentando um futebol ideal, era visível a melhora da equipe, a maior vontade e determinação. O jogo seguinte, contra a anfitriã Argentina, a futura campeã, ficou marcado pela rivalidade e tensão. Um 0 x 0 truncado e disputado, com todo o tempero dessa "batalha". A decisão sobre qual dos dois rivais sul-americanos iria à grande final ficou então para a última rodada: o Brasil enfrentaria a Polônia, enquanto a Argentina duelava com o Peru.

Os jogos, marcados para o mesmo dia, originalmente transcorreriam também no mesmo horário, mas subitamente a FIFA decidiu adiar o jogo da Argentina, para que começasse apenas após o término da peleja brasileira. A seleção então fez sua parte, vencendo sua partida por 3 x 1. Já os argentinos entraram em campo sabendo quantos gols precisariam fazer para superar seu adversário no saldo (primeiro critério de desempate).


Cláudio Coutinho
Em um jogo polêmico, marcado pela suspeita de irregularidade, o time goleou o Peru de forma surpreendente, por 6 x 0, contando com erros crassos do time adversário. Com isso, restou à Seleção Brasileira disputar o terceiro lugar com a Itália, partida ganha por 2 x 1. O Brasil, embora não chegasse à final, foi o único time invicto da competição, um dos fatores que levou Cláudio Coutinho a cunhar uma frase que se tornaria célebre: "Fomos os campeões morais dessa Copa".

Mesmo assim, o treinador acabou responsabilizado pela mídia e opinião pública pelo fracasso de seu selecionado e teve até sua capacidade profissional questionada. Voltou ao Flamengo e, pouco tempo depois, conseguiu "dar a volta por cima" na equipe ao ser Tricampeão Estadual em 1978-1979-1979 (Especial) e Campeão Brasileiro em 1980, e, de certa forma, ao ser o "patriarca" do supertime que seria Campeão Mundial Interclubes em 1981, já sob o comando de Paulo César Carpegiani, pois Cláudio Coutinho, magoado com a direção do clube, havia saído da Gávea rumo ao futebol norte-americano.

No rubro-negro, Cláudio Coutinho obteve sucesso ao misturar seus avançados conhecimentos táticos com o talento individual abundante naquele fantástico time, conseguindo montar um dos maiores esquadrões da história do nosso futebol, um raro caso de uma equipe completa. Com isso, consagrou-se como um de nossos técnicos mais importantes.

No final da temporada de 1981, mesmo ano da consagração de boa parte de seu trabalho, estava em férias no Rio de Janeiro, antes de ingressar no futebol árabe. Exímio mergulhador, no dia 27/11/1981 praticava um de seus hobbies, a pesca submarina nas Ilhas Cagarras, arquipélago próximo a Praia de Ipanema, quando morreu afogado, aos 42 anos.

Fonte: Wikipédia

Moreira da Silva

ANTÔNIO MOREIRA DA SILVA
(98 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (01/04/1902)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/06/2000)

O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa:

"Nasci em 1902, num 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca"
(Moreira da Silva - Revista Fatos e Fotos, 11/12/1973)

Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu vítima de cirrose, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão.

"Nunca tomei um porre em toda a minha vida", diria pouco tempo antes de morrer. "Não bebia e ainda fazia apologia do leite?", escreveu o chargista Adail, quando de sua morte.

Criado nos morros da cidade e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira da Silva encarou o  batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família.

"Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta!"

Criança, vendeu doce nas ruas do Rio de Janeiro, entregou marmita e catou papel. Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo.

"Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado."
(Moreira da Silva à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro)

Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves.

"Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas!"

Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. "O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas", diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempos de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: "Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo", elogiou o cardápio, comido "de maracanã e remo" (em prato fundo e com a mão).

Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe.

"Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado!"

Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior, que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. "Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali", fabularia Moreira da Silva décadas depois. "Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu tinha meu 'revertere ad locum tuum' sem apelação", relembrava.

Como o bom malandro não anda sempre na linha, "que o trem pega"Moreira da Silva também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva. Tornou-se assim figura conhecida da boemia.

"Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas. Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado!"

Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. "Não gostava dela, mas a moça me satisfazia", dizia com sinceridade. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da "canja e ovos quentes"O vago-mestre, rei da malandragem, era consciente de seu lero:


"Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada", dizia. "O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi", indignava-se. "Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência".


Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde "a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo". Dizia que "antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato", queixava-se. "Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor", atacava.

A Carreira

Foi dirigindo táxi que encontrou seu caminho:

"Nessa época, meu principal passageiro era o compositor Ismael Silva. Foi o Ismael quem botou na minha cabeça a idéia de transformar-me em cantor. Graças a ele gravei meu primeiro disco. Nesse tempo eu cantava muito nas horas vagas. Era seresteiro, dava o meu recado."
(Moreira da Silva em entrevista à Revista do Rádio, em 1965)

Sua primeira incursão em disco foi na Odeon, onde gravou dois pontos de macumba de Getúlio Marinho, "Ererê" e "Rei de Umbanda", de 1931.

"O Getúlio me chamou e disse: Moreira, quero usar sua voz para gravar para mim", relembra. Mas gravar música de macumba deixou o mulato cabreiro. "Eu não sou supersticioso, mas me veio um troço assim... Então, sai dessa, malandro, disse para mim mesmo!". Havia motivo para a cisma. "Já vi o sobrenatural", disse, fazendo referência a uma aparição com a qual deparou aos 19 anos, quando chegava em casa, na rua Major Ávila. Uma mulher de preto surgiu à sua frente e desapareceu em seguida.

O primeiro sucesso veio com "Arrasta a Sandália", de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o cast do "Programa Casé", na Rádio Philips. No ano seguinte, estourou com "Implorar", de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora ColumbiaMoreira da Silva afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar "herdou" seus versos.

Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e levou-o para a Rádio Mayrink Veiga. "Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela", disse sem modéstia. "Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia". Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou "Acertei no Milhar", de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.

Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no Teatro Politeama. "O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo". Foi um sucesso: "Abafei, com meu passinho de malandro". Agradou tanto que fez uma participação no filme "A Varanda dos Rouxinóis".

A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou "Amigo Urso", em 1941, "Fui a Paris" (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) e "Dormi no Molhado" (Moreira da Silva), em 1942. No ano seguinte, gravou "Conversa de Camelô" (T. Silva e S. Valença). Em 1950 foi contratado pela Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e lançou seu primeiro LP, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, "O Último Malandro", em que se destaca o clássico "Na Subida do Morro"  (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha).

Cantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Francisco Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, - "no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço" - era um desafio gigantesco para Moreira da Silva.

Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor, de pelica, ou botinha com botões de madrepérola, e chapéu panamá, o marido de Dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol. Moreira da Silva levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como "Na Subida do Morro". Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação.

"Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda".

Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936.

"Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia. O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas 'Jogo Proibido' e eu improvisei em cima: 'Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar'. Aí nasceu o breque. O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda."
(Moreira da Silva - Jornal do Brasil, 1972)

Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira da Silva num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: "Foi a primeira vez que acompanhei conversa". Estava criado o "Rap Caboclo", muitas décadas antes do Public Enemy.

"O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido", afirmou  Moreira da Silva em entrevista à revista Ele & Ela em maio de 1982. Moreira da Silva teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido "Fui a São Paulo". Depois veio "Doutor em Futebol", em que mostrava que para ter nome não era preciso ser doutor: "Basta saber controlar o caroço com inteligência".

Moreira Vira Kid Morengueira

Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba "O Rei do Gatilho", de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um cowboy que, como o Zorro, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em seqüência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: "O Último dos Moicanos", "Os Intocáveis", "Moreira Contra 007" e "O Seqüestro de Ringo".

Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, "já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A", fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Mas, coincidência ou não, é nessa época, 1968, que Moreira da Silva se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.

Mas os tempos já eram outros. No final dos anos 60 ele se queixava da concorrência dos "cantores cabeludos que estão dando sopa e que cantam até de graça para aparecer nos programas", dizia, ressentido com a televisão. Em entrevista a Ilmar Carvalho, do Correio da Manhã, em 09/04/1970, ele dizia-se feliz com a venda de seus dois últimos álbuns, "Os Sucessos de Moreira da Silva Continuam" (1968) e "Manchete do Dia" (1969), só com sambas inéditos, lançados pelo selo Cantagalo: 30 mil discos.

"Isso porque a gravadora não tem um plano de relações públicas e vendas para o Rio, onde tenho um público bom e fiel", dizia. E explicava seu novo rompimento com a Odeon: "Apareceu gente mais nova, ótimos profissionais, e os mais antigos, como eu, ficaram no come e dorme, sem cobertura da gravadora", resignava-se. "Creio que 'Vôo Espacial' vai fazer o sucesso de 'Amigo Urso'", sonhava o velho malandro, citando uma das faixas do disco "Manchete do Dia".

"O sucesso corre como água de regato. Às vezes pára um pouco, faz aquele remanso, mas a onda vem de novo", diria em depoimento no Museu da Imagem e do Som, em 1967. Mas o sucesso já era coisa do passado.

"O malandro, aquele malandro velho, sucumbiu", pontificava Moreira da Silva sobre a criminalidade daquele início de anos 70, numa frase que soava como uma auto-referência. "Hoje, infelizmente, o que tem é bandido, assassino", diria anos depois.

Mas ele ainda tinha muita lenha para queimar. Em 1970 a EMI-Odeon relançou, pelo selo Imperial, o LP "A Volta do Malandro", que abriu com sua fantástica interpretação de "Gago Apaixonado", de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel.

Em 1971, gravou "Moreira da Silva na Academia", alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a Academia Brasileira de Letras prosseguiu até 1984, quando gravou "Clã dos Imortais", do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário "Moreira da Silva". No mesmo ano, Moreira da Silva gravou pela CID o disco "Consagração de Moreira da Silva", sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: "Hoje não sou rico, mas ganho cinco mil cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha".

Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: "Aqui urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional", louvou. Mas a porrada vinha embutida: "Só que gravam tapes pra todo o lado e não nos pagam". A televisão, já era a televisão. "Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado".

Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé em "É Meu Único Aluno". Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: "É a primeira vez que sou vaiado, pô!". Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer show juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha, e voltaram a excursionar.

Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP "O Astro", "Talvez o melhor disco da carreira de Moreira", no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, "O Jovem Moreira", pela Polygram, em que regrava "Diplomata", de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e "Homenagem a Noel", de sua autoria.

Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: "Cheguei e Vou Dar Trabalho" (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas, surpresa, "A Volta do Boêmio", samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves e "Último Desejo" (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, "As Rosas Não Falam", clássico de Cartola.

Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. "Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves", analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente.

Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino 7 Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP "50 Anos de Samba de Breque", pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez "Na Subida Do Morro", "O Rei do Gatilho" e "Acertei no Milhar". E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em "Cidade Lagoa" (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).

Don Juan

Desde que a mulher morreu, em 1983, o sambista não descansou. "Se pudesse, teria um harém, nem que fosse só para olhar", disse ao Globo. "Nunca prestei. E depois que começou a carreira artística, então... Mas sempre amei a minha mulher", confessou. Moreira da Silva entrou nos anos 90 ao lado de Denise Conceição, uma morena de apenas 24 anos de idade. "Estamos casados pela lei Divina", babava ao lado da mulher com quem dizia estar tendo um caso havia cinco anos. Ou seja, ele tinha 83 anos quando conheceu Denise com 19. "Já legalizei a situação de Denise no INSS e lhe dei uma pensão de 35 mil cruzeiros, além de uma casa na Saracuruna, subúrbio do Rio, e vou colocá-la também no Iaserj para ter seus direitos garantidos", cuidava ele. Mas continuaram morando separados. "Ela me chama de meu amor olhando nos meus olhos", acreditava o velho malandro.

Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: "Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso", vangloriava-se. "Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos".

Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Em junho, estreou temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albin, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo de 30/07/1990, registrou algumas frases do depoimento: "Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto".

Em 1991, Moreira da Silva foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: "Sou um símbolo carioca". Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa.


"Eu frequentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas."

Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilaridade dos bons tempos do bairro:


"Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre".

Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na Boate People, e os 91 anos no Jazzmania, no Rio de Janeiro. Estava em plena atividade e em 1993 lançou "Moreira da Silva Fotografando a Cidade", o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-1960, pela EMI/Odeon. Novamente gravou "Na Subida do Morro" e "Olha o Padilha". Regravou também "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e "Pistom de Gafieira", de Billy Blanco.

Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio de Janeiro, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão, o chapéu panamá, pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos.

"As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça", lamentava-se.

"É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio", declarou Jards Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira da Silva não foi triste nem despedida pois no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD "Os Três Malandros", que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira da Silva não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: "Só vale o balanço".

Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, "O Último dos Malandros", do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela Editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira da Silva.

João Máximo divide a obra de Moreira da Silva em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros - "Amigo Urso", "Acertei no Milhar" - e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. "O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo", disse na resenha do livro. "Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras", escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30/40.

Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira da Silva ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca.

Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque "Pra Fazer 97", em parceria com Reginaldo Bessa e "Ecologia", com Aidran do Grajaú. É com Reginaldo Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.

Moreira da Silva nunca foi de fazer média. Deitou falação sem travas na língua. Para ele "a batida da Bossa Nova é quase a de rumba".


"Caetano Veloso queria mesmo é rebolar, um atrevido. Imagine que outro dia ele criticou a Aquarela do Brasil por causa da palavra inzoneiro. Ora, quem é Caetano Veloso para falar de Ary Barroso?. Tião Motorista é que é o bom da Bahia!"

"Edu Lobo e Tom Jobim são razoáveis, gosto mesmo é de serestas e das baladas do Agnaldo Timóteo."
(Revista O Cruzeiro, 12/1968)


"Gosto do Roberto Carlos, mas não gosto do seu Jesus Cristo, uma jogada com o nosso Pai para ganhar dinheiro."


"O Chico Buarque é o Noel Rosa muito devagar. Paulinho da Viola? É ainda água-com-açúcar. É sofrível."


"Outro dia eu vi aquela menina, a Gal Costa, uma porcaria, ela é neutra".


"Martinho da Vila é sempre aquilo que você tá vendo aí. Inclusive o 'Batuque na Cozinha' não é dele não. Isso é mais antigo que Dom Pedro II".


"Eu sou melhor do que ela (Elis Regina) em qualquer parte do mundo que a gente bater."


"Donga foi um cara bom. Grande compositor e tocando violão muito bem".

Mas ele também levou troco. Rigoroso com os outros, sofreu o rigor do também longevo Carlos Cachaça, o grande mangueirense.


"Os sambas dele eram mais comerciais, mais rentáveis. Nem as minhas parcerias com Cartola renderam muito dinheiro."
(Carlos Cachaça)

Moreira da Silva também deitou falação contra os meios de comunicação.

"No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?"
(Moreira da Silva disse ao Pasquim)

"Na TV a coisa funcionava diferente. A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: Escuta, o rapaz que te telefonou e disse que era 700, mas só pode ser 500"

Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira da Silva soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha:

"Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa."

Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: "Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil", babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: "Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro", justificava.

Para Juscelino Kubitschek gravou "Cutuca, Nonô", de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: "passeata não resolve". E chegou a se candidatar a vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: "A moçada parece que não acreditou em mim".

Se o povo o tratou mal, o Estado o tratou bem. Aposentou-se em 1959 como encarregado de garagem, mas desde que se tornara um artista consagrado não desempenhava a função. "Os colegas tiravam meu plantão", declarou ao Pasquim.

Moreira da Silva não era político, não militava, mas suas músicas revelavam em crônica as desigualdades e a injustiça social, sem panfleto. Insurgiu-se de leve contra a invasão da música estrangeira. Ao jornal Opinião exibiu, em 1976, seu nacionalismo corporativo:

"Uma estação de rádio não é uma propriedade definitiva, aquilo é um veículo de propaganda (sic) que pode levar até a envenenar a nossa pátria!"

Em 1984 gravou "Moreira Já', de William Prado, um samba pelas eleições diretas, lançado com 1.500 compactos, durante show no Mistura Fina, em Ipanema. Do outro lado do disco, o samba com que espicaçou a Academia Brasileira de Letras. "Afinal de contas, sou pelas eleições diretas", justificou. Moreira da Silva confessou ter votado em Lula para presidente: "O FHC eu não gosto, parece que vai descontar dos aposentados."

Cruel crítico dos colegas, louvador de presidentes e amante das eleições livres, Moreira da Silva era coluna do meio na questão do direito autoral. Perguntado no Pasquim pelo produtor e crítico Mariozinho Rocha se tinha queixas do órgão arrecadador, foi pelo caminho suave: "Não, não, não. Aí eu sou neutro". Mas insinuava lá seus motivos: "Sabe como é que é...", desconversava. Seu comportamento tinha outra explicação: era conselheiro da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), órgão responsável pelo recolhimento de direitos autorais.

A autoria da obra de Moreira da Silva como compositor era questionada por ele próprio: "A necessidade faz o sapo pular. Já vendi e comprei muito samba. No começo da carreira, não. Naquele tempo eu não era muito esperto para pedir parceria, hoje eu peço", confessou em 1973.

Moreira da Silva falava com tranqüilidade sobre o comércio de sambas: "O esquema de entrar é o seguinte... o sujeito chega perto e diz: Moreira, eu tenho este samba aqui, pode ter esquema de entrar... Quem me vendeu muita música foi o Zé Com Fome (Zé da Zilda)", declarou ao Pasquim.  Ele conta que pagou 150 mil-réis pelo samba "Dormi no Molhado", do Zé da Zilda. "O Francisco Alves comprava", entregou na mesma entrevista.

Ao jornal Opinião confessou ter recebido de presente a parceria do samba "A Carne", de Nelson Cavaquinho. "Ele andava na pior, sem amparo. Ele vendia por qualquer preço a música dele. Ele vendeu para um rapaz, o Roxo", disse. Foi das mãos de Roxo que Moreira da Silva ganhou a parceria em troca de gravar o samba. Em depoimento ao Museu do Carnaval, em 1990, ele seria franco e direto: "Paguei um conto e trezentos mil-réis ao Geraldo Pereira por uma música. Era um bom dinheiro. Mas quando ele estava sem nenhum para pagar o quarto, me vendia por 150 mil-réis. Comprar música é subjetivo. Desde o começo da música os compositores vendem suas canções", justificava.

Moreira da Silva dizia não ser saudosista, mas viveu se queixando das novidades que surgiram no meio musical, às quais atribuía o fim de seu reinado: "Um Ary Barroso, um Noel Rosa, a gente tem que respeitar. Esses meninos de hoje são muito água-com-açucar". No mais, se conformava. Só estranhava a explosão demográfica: "Tá nascendo gente pra danar".

Recebeu o ano 2000 sem cerimônias. "Velhice para mim não existe. Parece que cheguei ontem ao planeta", dizia. Aos 97 anos, sua visão da virada do milênio era trivial: "O que vier eu traço. Enquanto São Pedro não manda a ordem de captura, eu vou vivendo com habeas-corpus preventivo", costumava dizer. 

Da janela do apartamento no Catumbi, onde vivia sozinho desde que Mariazinha morreu, em 1983, ele mirava o cemitério, onde o jazigo número 6 o esperava. "Meus futuros guardiães, que trabalham ali embaixo, me saúdam: não tem aparecido, seu Moreira. Eu fico meio cabreiro e vou saindo de banda. Sai pra lá, mamão", esconjurava. Mas não temia e até desdenhava da perpétua: "O futuro é uma caveira". E cantarolava:


Para fazer 97

Tem que ser malandro

Quem não pode, não se mete
Que o bicho tá pegando

Atribuía sua vitalidade a uma mistura bem brasileira, mas com nome gringo: "Black And White". Não o whisky, que como já se viu não era seu forte. "Minha mãe era black e meu pai era white".

Moreira da Silva viveu seus últimos dias com o que recebia de pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara, cargo em que se aposentou, e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como R$ 1.200,00. "Dá pro gasto", conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim.

No apartamento do bairro do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: "Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol". Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992.

Agora, quando saía, era de táxi. "Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo", queixava-se. Apesar disso, Reginaldo Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. "Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol... Minha pressão é 12 por 8", dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.

Morte

Moreira da Silva morreu vítima de Falência Múltipla dos Órgãos, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde meados de maio de 2000. Com sua morte, aos 98 anos de idade, foi-se embora o último malandro. Malandro daqueles cantados por Jorge Ben Jor, que sabem que é bom ser honesto e são honestos só por malandragem. No idioma de Morengueira: "Se um vigarista soubesse quanto é gostoso estar do lado da lei, se tornaria honesto só por vigarismo". Este era o retrato fiel do Moreira da Silva. "A malandragem nunca existiu para mim. Sou um bípede mamífero que sempre trabalhou", pontificava. "Hoje estou humildemente, modestamente, na história do samba".

Moreira da Silva não teve filhos. "Fiz uma vasectomia natural por causa de tanta farra", mas adotou Marli, que lhe deu dois netos.

Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva, Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

Fonte: Agenda do Samba e Choro