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Antoninho

ANTÔNIO DA ROCHA MARMO
(12 anos)
Considerado Santo do Povo

* São Paulo, SP (19/10/1918)
+ São Paulo, SP (21/12/1930)

Antoninho foi uma criança católica paulista a quem se atribuía o dom de predizer acontecimentos futuros. Teria inclusive previsto a própria morte. Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser conhecido como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como o Santo do Povo.

Desde pequeno, Antoninho brincava de fazer altares e simular missas, era um grande amigo da mãe e muito inteligente quanto a assuntos polêmicos. Foi considerado um santo pela população de São Paulo, por agraciar os pedidos de curas. Faleceu vítima de tuberculose aos 12 anos. Foi sepultado no Cemitério da Consolação. Seu túmulo está localizado na Quadra 80, Terreno 6, e é constantemente visitado por devotos que lhe pedem auxílio.

Antoninho nasceu numa época tormentosa que ficou assinalada na historia. Enquanto, na Europa,  uma longa batalha que se prolongava há cinco anos e os homens matavam-se uns aos outros, no Brasil a Gripe Espanhola dizimava vidas preciosas, numa pavorosa epidemia, que se transformou em calamidade publica.

O calendário marcava o dia 19 de outubro de 1918. E foi naquela casa assobradada da Rua Bandeirantes, 24, no distrito de Santa Efigênia  que seus pais, os paulistas Pamfilo Marmo e Maria Isabel da Rocha Marmo, o receberam com indizível alegria, completando o batalhão ruidoso dos outros maninhos: Maria da Penha, Nair, Ciro e Wanda.

Em 13 de junho de 1920, dia festivo de Santo Antônio, Antoninho foi levado à pia batismal, na igreja de Santo Antonio do Pari, servindo de padrinho o casal Tolens (Drº Oscar Tolens). Antes, porem, fora batizado, sob condição em perigo de vida, salvo a tempo por um misterioso medico, que não se sabe quem era e que entrara de porta a dentro, sem ser chamado e sem dizer o nome, num desses desígnios inexplicáveis de Deus.

Dali por diante passou ele aos cuidados efetivos da boa e dedicada Mariama, como assim era tratada, na intimidade a empregada.

Com seis meses apenas, quando levado pela ama para passear nas ruas da cidade, Antoninho alegrava-se sobremodo e agitava os bracinhos tenros ao avistar alguma igreja, e, se nela tinha ingresso, transfigurava-se e era tomado de profunda unção ao aproximar-se do altar onde estava a hóstia consagrada. Se acontecia de assistir à benção do padre, procurava ficar de pé e imitava o sacerdote, dando a seu modo a benção aos fiéis com as minusculas mãos. Antoninho era, na verdade, rica alma predestinada.

Antoninho Celebrando uma "Missa"
Predizendo o Futuro

Antoninho, desde muito cedo, revelara vivíssima inteligencia, apreendendo facilmente os principais e mais complexos acontecimentos que se desenrolavam ao seu redor.

Tinha cinco anos quando predisse, com grande surpresa, ante a irmã Maria Vicentina, na Santa Casa de São Paulo, que a velha questão romana, entre o Vaticano e a Itália  teria solução definitiva, obtendo vitoria a Igreja, no reinado do Papa Pio XI. Tal fato aconteceu realmente em 1929. Ao saber do ocorrido, tratou de mandar dizer àquela freira da realidade da sua previsão.

Certa manhã, assistiu à primeira missa do padre Olegário da Silva Barata. Na hora do beija-mão do sacerdote, Antoninho ao aproximar-se do padre, atirou-se-lhe nos braços, num amplexo comovido, chegando a molhar-lhe com lagrimas as vestes paramentais. Em palestra, vaticinou, então, que a morte dele, Antoninho, aconteceria, num coincidir bastante expressivo, no mesmo dia do aniversario do sacerdote, no dia 21 de dezembro, o que realmente aconteceu, nessa data, no ano de 1930.

A maior ambição de Antoninho era abraçar a carreira eclesiástica  E ao indagarem da sua vocação, costumava responder sempre:

"Quero ser padre, mas quero pertencer ao clero secular, pois desejo estar mais em contacto com o povo. E se algum dia chegar a ser vigário saberei cumprir com o meu dever."

O seu passatempo predileto constituía em "celebrar missa", num altarzinho portátil  improvisado no quintal da casa dos pais. O ilustre bispo paulista, Dom Epaminondas, por intermédio do padre Ascanio Brandão, foi quem o presenteou com aquele altar, acompanhado de paramentos. Para o pequeno Antoninho, aquilo constituiu um régio presente. Dali, por diante, passou, circunspectamente, a "celebrar sua missa" todas as manhãs, e depois da "missa" se seguia a pregação feita a meia duzia de fedelhos da sua idade e a outros maiores, a quem ensinava a doutrina do catecismo.

Antoninho e Seu Cãozinho de Estimação
Amigo e Protetor dos Humildes

Antoninho tinha coisas excepcionais, próprias de adultos e era um menino diferente dos outros, um menino prodígio.

Doente gravemente, viu-se obrigado a procurar o clima ameno de São José dos Campos e de Campos do Jordão, a fim de tentar a cura de uma tuberculose que se apossara valentemente do seu débil corpo. Enfraquecera-se, a principio, sob violenta erupção de sarampo. Depois veio a enfermidade insidiosa, para que se tornaram vãos todos os apelos à medicina. Ele mesmo previra que os maiores esforços seriam inúteis contra a doença.

Mesmo atormentado pelos dolorosos sofrimentos, jamais esqueceu os humildes. Um dia, em Campos do Jordão, soube que fora detido um pobre homem, surpreendido com o porte irregular de um revolver, achado no mato. Antoninho interessou-se pelo caso e foi à delegacia, a fim de falar ao delegado que era, então, o Drº Caio Machado Leite Sampaio. Não o encontrou e falou com o carcereiro. Pediu-lhe que transmitisse por favor à autoridade a sua solicitação:

"Diga ao delegado assim que chegar que Antoninho quer a liberdade do preso."

E como lembrete desenhou uma caricatura qualquer sobre a escrivaninha do delegado.

"Faço esta careta no caso do Srº esquecer-se de transmitir meu recado. O delegado, vendo-a, há de perguntar quem a fez. O Srº dirá então que fui eu e fará o meu pedido."

E assim aconteceu. A autoridade ali chegando achou estranho o desenho. Interpelou o carcereiro, que lhe contou tudo. O Drº Caio Machado, com aquela bondade que lhe era peculiar, foi em pessoa a procura de Antoninho, que lhe contou do interesse em favor do seu "constituinte". O delegado, que não o conhecia, achou curioso os modos do garoto. E declarou-lhe que mandaria por em liberdade o detido. Assim o fez, porem, por medida de precaução, despachou-o para Pindamonhangaba.

O homem, profundamente reconhecido ao gesto de Antoninho, regressou a Campos, em áspera travessia a pé, a fim de agradecer-lhe pessoalmente, trazendo de presente uma cabra e dois cabritinhos. O garoto enternecido com a atitude do pobre camponês, fez-lhe ver que a Deus devia agradecer e não a ele, e negou-se a receber o presente, aconselhando-o a vende-lo, pois era pobre e necessitava de dinheiro.

Conformado com a morte próxima, Antoninho piorava cada dia mais nos últimos meses da sua rápida existência. Conhecia perfeitamente o precário estado de sua saúde e mostrava-se conformado com a vontade de Deus.

Uma tarde, vendo a pobre mãe tristonha por causa da sua moléstia, interpelou-a assim:

- Por que está tão triste, mamãe?
- Por nada, meu filho. Eu nunca estou triste ao seu lado.
- Mamãe, precisa fazer a vontade de Nosso Senhor! Nosso Senhor precisa de mim!

E após uma pausa:

- A senhora está vendo aquele pintassilgo naquela árvore? Se eu fizer com que ele venha pousar no meu dedo e cantar, a senhora acredita que é por vontade de Nosso Senhor?
- Acredito, sim, meu filho!
- Então veja! Pintassilgo, passarinho querido, em nome de Deus Nosso Senhor, vem pousar aqui no meu dedo e canta!

Realmente, o lindo passarinho veio obediente ter sobre a mão de Antoninho, e cantou um canto mavioso e doce.

- Então, mamãe, ouviu o canto da vontade de Nosso Senhor?
- Sim, meu filho, ouvi e acredito!
- Vai, vai, meu amiguinho, para a tua árvore e lá continua a cantar!

E assim aconteceu. A ave voou e foi cantar na árvore de onde descera. Voltaram mãe e filho para casa. Horas depois, interpelava ele:

- Está ainda pensando no passarinho, mamãe?
- Sim, é verdade, meu filho...

Dias após, perguntava Antoninho à sua progenitora:

- Minha mãe, que frade foi esse que esteve aqui conversando comigo?
- Frade, meu filho? Eu não vi nenhum frade ao seu lado. Você, com certeza, teve algum sonho...
- Bem, mamãe, não se fala mais nisso...

Logo mais bateram à porta. Era o carteiro e trazia um envelope. Abriram e dentro, o retrato de um frade. Antoninho o reconheceu:

- Este retrato, minha mãe, é de Frei Fabiano de Cristo, que, ainda há pouco, esteve palestrando comigo.

Não era possível aquilo senão por milagre: Frei Fabiano de Cristo falecera já há muitos anos. Aquela fotografia fora enviada por uma irmã do garoto prodigioso.

Hospital Filantrópico Antoninho da Rocha Marmo
A Morte de Um Justo

Antoninho marchava, cada dia, para a morte certa. Ele sabia perfeitamente e era um conformado com a dura realidade. Era a vontade de Deus. Deus o queria. Que se fizesse, então, a vontade de Dele.

Em 19 de dezembro, dois dias antes, ainda armou, com as próprias mãos, num grande esforço, o seu tradicional presépio de Natal. Dali foi carregado pela mãe desvelada, causando tamanho trabalho, até o leito, donde não mais se levantou.

Na manhã do dia 20 de dezembro, foi visitá-lo a Superiora da Santa Casa de Misericordia de São Paulo, acompanhada de outras freiras. Aquela visita foi excepcional motivo de alegria para o doente.

Ali compareceu depois Frei Angelo de Rezende, que lhe ministrou os últimos sacramentos, em altar previamente armado e ornamentado pelo próprio Antoninho, que, da cama, ia orientando tudo. Em dado momento, após a comunhão, supôs o sacerdote que o menino tinha já entregue a alma ao Criador, apresentando-se com os olhos fechados, em atitude de êxtase  Tocou-lhe de leve no ombro. Ele abriu os olhos e falou: "Eu estou rendendo graças a Deus!"

Logo mais, não esquecendo o padre, pediu à mãe que providenciasse um automóvel para reconduzi-lo ao convento e que não o deixasse ir sem tomar uma xícara de café. Depois solicitou um copo d'água e principiou a balbuciar estas frases:

- Que linda estrada... atapetada de flores... como são belas! Quantos anjos! Olha, minha mãe: alguns tocam... outros sorriem! Convidam-me para acompanhá-los... Que belo cortejo!... Eu vou, mamãe... Vou... Sim... Vejo um clarão! Um vulto se aproxima... Olha, mamãe, é meu avozinho... o pai da senhora!

Pediu que acendessem duas velas em torno da imagem de Santo Antônio, junto do leito.

- Antes que estas velas se consumam, eu estarei no céu! Estou cansado... preciso repousar...

Principiou a lenta agonia. Em dado instante, num esforço, abriu os olhos. Circunvagou-os pelo quarto, num meigo sorriso para todos. Um ligeiro tremor de lábios  como se quisesse falar alguma coisa. Depois, mais nada. Estava morto! Morrera como um pássaro!

O relógio marcava 23:30 hs de 21 de dezembro de 1930. Antoninho contava 12 anos de idade.

No dia seguinte, era inumado no jazigo da família no Cemitério da Consolação, na Quadra 80, Sepultura 6, onde a visitação publica o consagrou com a sua admiração e a sua veneração, de então para cá.

A missa de 7º dia foi celebrada sem qualquer pompa, com a encomendação sobre um modesto pano preto, entre quatro velas singelas. Era satisfeita assim a sua ultima vontade.

E, numa curiosa e bem interessante coincidência  conforme uma sua anterior previsão: por acidental engano da empresa funerária, foi seu corpo encerrado num caixão de adulto, carregado num coche de adulto e enterrado numa cova de adulto.

Toda a pequena existência desse grande menino paulista, não há duvida, extraordinária  fora assim revestida de grandes lances: reviveu, em poucos anos, nos dias da atualidade, uma vida beatifica igual à dos santos da antiguidade.

Texto publicado na Folha da Noite, quarta-feira, 12 de março de 1947
(Neste texto foram alterados alguns trechos da grafia original)

Fonte: Banco de Dados Folha e Wikipédia
Indicação: Simone Cristina Firmino

João Pessoa

JOÃO PESSOA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE
(52 anos)
Político

☼ Umbuzeiro, PB (24/01/1878)
┼ Recife, PE (26/07/1930)

João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi um advogado e político brasileiro. Filho de Cândido Clementino Cavalcanti de Albuquerque e Maria de Lucena Pessoa, irmã do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, fez seus primeiros estudos em Umbuzeiro, PB.

Em 1889 foi levado para a cidade de Guarabira, no brejo paraibano, por sua tia paterna, Feliciana Cavalcanti de Albuquerque Paes Barreto casada com o capitão do exército Emílio Barreto. Com a transferência do tio para o Rio de Janeiro foi morar na capital federal, mudando em seguida para o estado da Bahia.

Em 1894, João Pessoa voltou a Paraíba, ingressou no Liceu Paraibano e incorporou voluntariamente no 27º Batalhão de Infantaria. Após várias mudanças, chegou ao Recife onde graduou-se como bacharel em Direito na Faculdade de Direito do Recife em 1904. Nessa mesma turma se formou Clodomir Cardoso, jurista e político maranhense. João Pessoa passou algum tempo de sua vida nos estados do Rio de Janeiro e do Pará.

Em 1905 casou-se com Maria Luiza de Souza Leão Gonçalves, filha do senador, ex-governador e Desembargador Sigismundo Antônio Gonçalves.

Foi Ministro civil do Superior Tribunal Militar, do qual aposentou para se candidatar a presidente do estado da Paraíba.

Negou o seu apoio ao candidato oficial à presidência da República Júlio Prestes, em 29/07/1929. Mais tarde compôs com Getúlio Vargas a chapa de oposição à presidência da República para as eleições de 01/03/1930.

Sendo derrotado, enfrentou rebeliões na Paraíba, como a do município de Princesa, comandada pelo coronel José Pereira, que apoiava Júlio Prestes. Ordenou a invasão, pela polícia paraibana, de escritórios e residências de suspeitos de receptar armamentos para os rebeldes, conseguindo abafar a rebelião.

Numa dessas invasões, na casa de João Dantas, um aliado do coronel José Pereira, foram encontradas e divulgadas pela imprensa da Paraíba, correspondências íntimas trocada entre João Dantas e sua amante, a professora Anaíde Beiriz, o que causou um grande escândalo na sociedade paraibana.

Pouco depois, no dia 26/07/1930, em viagem ao Recife, João Pessoa foi assassinado por João Dantas, na Rua Nova, precisamente na Confeitaria Glória, com dois tiros à queima roupa.

O corpo de João Pessoa foi trasladado pelos líderes da Aliança Liberal para o Rio de Janeiro onde foi enterrado.

Em setembro de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, a capital do estado da Paraíba passou a chamar-se João Pessoa.

Em seu governo (1928-1930) promoveu uma reforma na estrutura político-administrativa do estado e, para enfrentar as dificuldades financeiras, instituiu a tributação sobre o comércio realizado entre o interior paraibano e o porto de Recife, até então livre de impostos. Essa medida contribuiu para o saneamento financeiro do estado, mas gerou grande descontentamento entre os fazendeiros do interior, como o coronel José Pereira de Lima, chefe político do município de Princesa, na Paraíba, e com forte influência sobre a política estadual. João Dantas era seu aliado.

O seu legado histórico desperta certa polêmica. Os defensores de João Pessoa alegam que ele foi um combatente das oligarquias locais e se contrapunha a interesses de grupos tradicionais, embora ele mesmo proviesse de família de oligarcas.

O fato é que a morte de João Pessoa foi o estopim para a Revolução de 1930. Seu corpo foi embalsamado no Recife e transportado para a capital paraibana por via férrea, onde chegou ao meio-dia do dia 28/07/1930..

O esquife ficou exposto à visitação pública na Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, até o dia 01/08/1930, quando foi transportado ao Porto de Cabedelo para ser sepultado no Rio de Janeiro.

No ano de 1997 as cinzas de João Pessoa e de sua esposa, Maria Luíza, foram transportadas para a capital paraibana e colocadas em um mausoléu construído entre o Palácio do Governo e a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba.

A cidade de João Pessoa é assim denominada em sua memória. Antes chamada Parahyba, a capital teve o seu nome alterado, logo após seu assassinato, fato histórico que levou Getúlio Vargas ao poder.

Naquele período, foram perseguidos e mortos muitos opositores ao grupo político de que João Pessoa fazia parte. O momento de exceção em que se deu a homenagem, entre outras razões, justificaria, segundo alguns pessoenses, a discussão sobre uma nova alteração na denominação da cidade.

O Telegrama do "Nego"

"Paraíba, 29-julho-1929
Deputado Tavares Cavalcanti:
Reunido o diretório do partido, sob minha presidência política, resolveu unanimemente não apoiar a candidatura do eminente Sr. Júlio Prestes à sucessão presidencial da República. Peço comunicar essa solução ao líder da Maioria, em resposta à sua consulta sobre a atitude da Paraíba.
Queira transmitir aos demais membros da bancada essa deliberação do Partido, que conto, todos apoiarão, com a solidariedade sempre assegurada.
Saudações:
João Pessoa, Presidente do Estado da Paraíba."



Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Sinhô

JOSÉ BARBOSA DA SILVA
(41 anos)
Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (08/09/1888)
+ Rio de Janeiro, RJ (04/08/1930)

Considerado um dos mais talentosos compositores de samba, para muitos o maior da primeira fase do samba carioca.

Filho de um pintor, admirador dos grandes chorões da época, foi estimulado pela família a estudar flauta, piano e violão.

Casou-se cedo, aos 17 anos, com a portuguesa Henriqueta Ferreira, tendo que labutar para sustentar os três filhos. Em fins da primeira década do século passado, tornou-se pianista profissional, animando os bailes de agremiações dançantes, como o "Dragão Clube Universal" e o "Grupo Dançante Carnavalesco Tome a Bença da Vovó". Não perdia nenhuma roda de samba na casa da baiana Tia Ciata, onde encontrava os também sambistas Germano Lopes da Silva, João da Mata, Hilário Jovino Ferreira e Donga.

Ficou surpreso quando Donga, em 1917, registrou como sendo dele (em parceria com Mauro de Almeida) o samba carnavalesco Pelo Telefone, que na casa da Tia Ciata todos cantavam com o nome de O Roceiro. A canção, que até hoje é motivo de discussões, gerou uma das maiores polêmicas da história da música brasileira, com vários compositores, entre eles Sinhô, reividicando sua autoria. Para alimentar a polêmica, compôs, em 1918, Quem São Eles, numa clara provocação aos parceiros de Pelo Telefone. Acabou levando o troco. Exclusivamente para ele, foram compostas Fica Calmo que Aparece, de Donga, Não és tão falado assim, de Hilário Jovino Ferreira, e Já Te Digo, de Pixinguinha e seu irmão China, que traçaram-lhe um perfil nada elegante: ("Ele é alto e feio/ e desdentado/ ele fala do mundo inteiro/ e já está avacalhado..."). Pagou a ambos com a marchinha O Pé de Anjo, primeira composição gravada com a denominação marcha.

O gosto pela sátira lhe trouxe alguns problemas mais sérios, quando compôs "Fala Baixo", em 1921, um brincadeira com o presidente Artur Bernardes. Teve de fugir para casa de sua mãe para não ser preso. Cultivou a fama de farrista, promovendo grandes festas em bordéis, o que não o impediu de ganhar o nobre título de "O Rei do Samba" durante a Noite Luso-Brasileira, realizada no Teatro da República, em 1927.

Durante o ano de 1928, ministrou aulas de violão a Mário Reis, que se tornaria o seu intérprete preferido e que lançaria dois dos seus maiores sucessos: Jura e Gosto Que Me Enrosco. Compôs o último samba, O Homem da Injeção, em julho de 1930, um mês antes de sua morte, no entanto a letra e a melodia deste samba desapareceram misteriosamente, não chegando ao conhecimento do público.

Morte

Morreu na cidade do Rio de Janeiro, aos 41 anos, a bordo da velha barca que fazia a travessia entre a Ilha do Governador e o Cais Pharoux. Conta-se que sua última companheira queimou tudo o quanto lhe pertencia e vendeu seu violão gravado em madrepérola. Historiadores dizem que ele foi um dos poucos que deram à luz ao genuíno samba, saindo da semelhança com a polca que tinha até então. Sua obra é considerada a crônica viva da cidade do Rio de Janeiro de sua época.

Composições

- Achou Ruim Faz Meio Dia
- Ai Uê Dendê
- A Favela Vai Abaixo
- A Medida do Senhor do Bonfim
- Alegrias de Caboclo
- Alivia Estes Olhos (Eu Queria Saber)
- Alô Samba
- Alta Madrugada - Adão Na Roda
- Amar A Uma Só Mulher
- Amor de Poeta
- Amor Sem Dinheiro
- Amostra A Mão
- Ao Futebol
- Aos Pés de Deus
- Ave de Rapina
- Beijo de Colombina
- Bem Que Te Quero
- Benzinho
- Bem Te Vi
- Black Time
- Bobalhão
- Bofe Pamin DGE
- Burro de Carga (Carga de Burro)
- Burucuntum (sob o pseudônimo J. Curangy)
- Cabeça de Promessa
- Cabeça é Ás
- Cabecha Inchada
- Cada Um Por Sua Vez
- Cais Dourado
- Câmbio a Zero
- Canção do Ciúme
- Canção Roceira (Casinha de Sapê)
- Caneca de Couro
- Canjiquinha Quente
- Cansei
- Capineiro
- Carinhos de Vovô
- Carta do ABC (Pegue na Cartilha)
- Cassino Maxixe (com letra de Bastos Tigre)
- Cateretê na Poeira
- Cauã
- Chegou a Hora
- Chequerê
- Cocaína
- Como se Gosta
- Confessa, Meu Bem
- Confissão
- Confissões de Amor
- Correio da Manhã
- Corta Saia
- Criaturas (Vou Me Benzer)
- Custe o Que Custar
- Dá Nele
- De Boca em Boca (Segura o Boi)
- Deixe Deste Costume (Maldito Costume)
- Demo Demo
- Deus Nos Livre do Castigo das Mulheres
- Dia de Exame
- Dia de Gazeta
- Disse Me Disse
- Esponjas
- Estás Crescendo e Ficando Bobo
- Eu Ouço Falar (Seu Julinho)
- Fala Baixo
- Fala Macacada
- Fala, Meu Louro
- Falando Sozinho
- Fique Firme
- Força e Luz (com letra de C. Castro)
- Garoto
- Gegê
- Golpe Feliz
- Gosto Que Me Enrosco
- Guitarra
- Hip Hurra
- Iracema
- Já é Demais
- Já Já
- Jura
- Juriti (Por Que Será?)
- Kananga do Japão
- Lei Seca
- Leonor
- Macumba Gegê
- Maitaca
- Mal de Amor
- Maldito Costume
- Meu Brasil
- Meus Ciúmes
- Mil e Uma Trapalhadas (com Wilson Batista)
- Minha Branca
- Minha Paixão
- Missanga (Ô Rosa)
- Mosca Vareja (com letra de Durval Silva)
- Murmúrios
- Não Posso Me Amofinar
- Não Quero Saber Mais Dela (Samba da Favela)
- Não Sou Baú
- Não Te Quero Mais
- Não Tens Futuro
- Nossa Senhora do Brasil
- Ó Mão de Lixa
- O Pé de Anjo
- O Que é Nosso
- Ojaré
- Oju Burucu
- Olhos de Centelha (com J. Costa Júnior)
- Ora Vejam Só
- Os Olhos da Cabocla
- Pé de Pilão
- Pega-Rapaz
- Pegue Seu Bode
- Penosas No Conforto
- Pianola
- Pingo D'Água (talvez seja a mesma Queda D'água)
- Quando A Mulher Quer
- Quando Come Se Lambuza
- Que Vale A Nota Sem O Carinho da Mulher
- Queda D'água
- Quem Fala de Mim
- Quem São Eles?
- Ratos de Raça
- Recordar é Viver (Lembranças da Choça)
- Reminiscência do Passado (Dor de Cabeça)
- Resposta da Inveja
- Sabiá (houve uma segunda versão, com poema de motivo folclórico)
- Sai da Raia
- Salve-se Quem Puder
- Saudades
- Se Ela Soubesse Ler
- Se Meu Amor Me Vê
- Sem Amor
- Sempre Voando
- Sete Coroas
- Só Na Casa Aguiar
- Só Por Amizade
- Sonho de Gaúcho
- Sou da Fandanga (sob o pseudônimo J. Curangy)
- Super-Ale (com Ernesto Silva)
- Tem Papagaio no Poleiro
- Tesourinha
- Tinteiro Virado
- Tirando o Retrato (Oia Ele, Nascimento)
- Três Macacos no Beco
- Tu Maltratas Coração
- Vida Apertada
- Virou Bola
- Viruta & Chicarron
- Viva a Penha
- Volta à Palhoça

Fonte: Wikipédia, www.mpbnet.com.br e www.dec.ufcg.edu.br


Mário Rodrigues

MÁRIO LEITE RODRIGUES
(45 anos)
Jornalista e Político

* Recife, PE (1885)
+ Rio de Janeiro, RJ (1930)

Oriundo de uma família de classe média pernambucana do final do Império, Mário trabalhou no Diário de Pernambuco. Foi eleito deputado federal e passou a residir entre Recife e Rio de Janeiro.

Em 1912, acossado pelos adversários de Dantas Barreto, Mário passou a residir definitivamente na então Capital Federal. Logo depois foi seguido pela esposa, D. Maria Ester e por seus filhos, Milton, Roberto, Mário Filho e Nelson Rodrigues.

No Rio, foi recebido por Edmundo Bittencourt, dono do jornal Correio da Manhã, onde trabalhou. O poeta Olegário Mariano abrigou a ele e sua família até que Mário pudesse alugar uma casa na Zona Norte da cidade.

Mário foi preso e condenado por uma matéria que não assinou e que denunciava o presente que usineiros pernambucanos deram à então primeira-dama, D. Mary Pessoa, um colar de diamenates. Cumpriu pena no Quartel dos Barbonos, na atual rua 13 de Maio. Mário também seria preso pelo chefe de polícia Carlos Reis, acusado de ser o mandante do assassinato do argentino Carlos Pinto, repórter de A Democracia. A acusação, infundada, nunca foi provada.

Durante o tempo em que esteve preso, Edmundo Bittencourt cortou o salário de Mário Rodrigues. Mário foi ajudado financeiramente, nessa época, por Geraldo Rocha (proprietário do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã), sem o que sua esposa e a penca de filhos por certo teriam passado fome.

Ao ser libertado, volta ao jornal e é surpreendido com a notícia de que não haveria mais um diretor permanente, cargo esse que detinha. Seria feito um rodízio de diretores. Mas pior do que isso foi o fato de tomar conhecimento de que Edmundo estava tentando se aproximar de seu desafeto Epitácio Pessoa. Mário, em carta desaforada, pediu demissão a Edmundo, dizendo que em breve voltaria para esmagá-lo.

Lançou A Manhã, em 1925. Dentre os colaboradores, estavam Monteiro Lobato, Ronald de Carvalho e Agripino Grieco. De estilo gongórico e retórica demolidora, Mário era um cronista temido por sua ferocidade verbal. Apesar de ser gago, Mário destacava-se pelo brilho de seus textos.

Conta-se que no teatro de revista havia um quadro em que uma personagem derramava sobre outra uma série de ofensas, e que ao final dizia, como se assinasse, "Mário Rodrigues". Nos dois primeiros anos da publicação, sofreu doze processos. Foi absolvido de todos, o que lhe dava confiança para continuar com os ataques. Uma linha acima da sua assinatura lançava o desafio: "Se não gostarem, processem-me".

Para insultar o adversário, se utilizava de estratégias baixas. Vasculhava a vida particular do inimigo, descobria-lhe amantes e publicava suas cartas de amor.

Mas a desorganização de Mário à frente do negócio provocou a perda do controle acionário de seu jornal. Seu sócio, Antônio faustino Porto, tornou-se dono de A Manhã e lhe ofereceu o cargo de diretor do jornal. Mas Mário não ficaria nem um dia mais, irritado com a ingerência de Faustino na linha editorial.

Menos de dois meses depois de deixar A Manhã, Mário fundou "Crítica", em 21 de novembro de 1928, desta vez sem nenhum sócio. Neste jornal estreariam alguns de seus filhos na carreira jornalística. Crítica teria existência efêmera. Os recursos que Mário utilizou para colocar o jornal nas bancas foram fornecidos pelo vice-presidente da república, Fernando de Melo Viana, que em troca pedia que Mário e Crítica apoiassem o governo de Washington Luís.

Paralelamente, o estilo Mário Rodrigues de escrever permeava a linha editorial do jornal. O próprio Mário admitia que muitas vezes o jornal avançava os limites do sensacionalismo e previa: "Um dia alguém de Crítica ainda levará um tiro".

O tiro viria de maneira imprevisível. Em 26 de dezembro de 1929 a seção policial publicou uma matéria sobre "um rumoroso caso de desquite". Numa época em que as separações conjugais eram raras e mal vistas pela sociedade, "Crítica" noticiou com estardalhaço o divórcio entre Sylvia Serafim e João Thibau Jr.

Sentindo-se vilipendiada, Sylvia comprou um revólver e entrou na redação de "Crítica" disposta a matar Mário Rodrigues. Mário havia saido e Sylvia foi atendida por Roberto, filho de Mário Rodrigues e talentoso ilustrador. Sylvia atirou em Roberto, que morreu três dias depois.

Inconsolável, Mário viria a falecer poucos meses depois do assassinato de Roberto. Não veria o julgamento da assassina, que acabaria absolvida e nem o fim de "Crítica", empastelada durante a Revolução de 30.

Fonte: Wikipédia