Yvonne Pereira

YVONNE DO AMARAL PEREIRA
(83 anos)
Médium e Escritora

* Valença, RJ (24/12/1900)
+ Rio de Janeiro, RJ (09/03/1984)

Yvonne do Amaral Pereira foi uma médium brasileira, autora de diversos livros psicografados. Nasceu em 1900 na antiga Vila de Santa Tereza de Valença, hoje Rio das Flores, sul do estado do Rio de Janeiro.

Yvonne Pereira foi uma das mais respeitadas médiuns brasileiras, autora de romances psicografados bastante conhecidos entre os espíritas. Dedicou-se por muitos anos à desobsessão e ao receituário mediúnico homeopático.

Filha de Manuel José Pereira Filho, um pequeno comerciante, e de Elizabeth do Amaral, foi a primeira de seis filhos do casal. A mãe já havia tido um filho de seu primeiro casamento.

Aos 29 dias de nascida depois de um acesso de tosse, sobreveio uma sufocação que a deixou como morta (catalepsia ou morte aparente). O fenômeno foi fruto dos muitos complexos que carregava no espírito, já que, na última existência terrestre, morrera afogada por suicídio. Durante 6 horas permaneceu nesse estado. O médico e o farmacêutico atestaram morte por sufocação. O velório foi preparado. A suposta defunta foi vestida com grinalda e vestido branco e azul. O caixãozinho branco foi encomendado. A mãe se retirou a um aposento, onde fez uma sincera e fervorosa prece a Maria de Nazaré, pedindo para que a situação fosse definida, pois, não acreditava que a filha estivesse morta. Instantes depois, a criança acorda aos prantos. Todos os preparativos foram desfeitos. O funeral foi cancelado e a vida seguiu seu curso normal.

O pai, generoso de coração, desinteressado dos bens materiais, entrou em falência por três vezes, pois favorecia os fregueses em prejuízo próprio. Mas tarde, tornou-se funcionário público, cargo que ocupou até sua morte, em 1935. O lar sempre foi pobre e modesto, conheceu dificuldades inerentes ao seu estado social, o que, segundo ela, a beneficiou muito, pois bem cedo alheou-se das vaidades mundanas e compreendeu as necessidades do próximo. O exemplo de conduta dos pais teve influência capital no futuro comportamental da médium. Era comum albergar na casa pessoas necessitadas e mendigos.


Aos 4 anos já se comunicava áudio-visualmente com os espíritos, aos quais considerava pessoas normais encarnadas. Duas entidades eram particularmente caras: O espírito Charles, a quem considerava seu pai terreno real, devido a lembranças vivas de uma encarnação passada, em que este espírito fora seu pai carnal. Charles, espírito elevado, foi seu orientador durante toda a sua vida e atividade mediúnica. O espírito Roberto de Canalejas, que foi médico espanhol em meados do século XIX era a outra entidade pela qual nutria um profundo afeto e com a qual tinha ligações espirituais de longa data e dívidas a saldar. Mais tarde, na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades não menos evoluídas, como o Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco, Frederic Chopin e outras.

Aos 8 anos repetiu-se o fenômeno de catalepsia, associado a desprendimento parcial. Aconteceu à noite e a visão que teve, a marcou pelo resto da vida. Em espírito, foi parar ante uma imagem do "Senhor dos Passos", na igreja que freqüentava. Pedia socorro, pois sofria muito. A imagem, então, cobrando vida, lhe dirigiu as seguintes palavras:

"Vem comigo minha filha, será o único recurso que terás para suportar os sofrimentos que te esperam"

Aceitou a mão que lhe era estendida, subiu os degraus e não lembra de mais nada. De fato, Yvonne Pereira foi uma criança infeliz. Vivia acossada por uma imensa saudade do ambiente familiar que tivera na sua última encarnação na Espanha e que lembrava com extraordinária clareza.

Considerava seus familiares, principalmente seu pai e irmãos, como estranhos. A casa, a cidade onde morava, eram totalmente estranhas. Para ela, o pai verdadeiro era o espírito Charles e a casa, a da Espanha. Esses sentimentos desencontrados e o afloramento das faculdades mediúnicas, faziam com que tivesse comportamento considerado anormal por seus familiares. Por esse motivo, até os dez anos, passou a maior parte do tempo na casa da avó paterna.

O seu lar era espírita. Aos 8 anos teve o primeiro contato com um livro espírita. Aos 12, o pai deu-lhe de presente "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e o "Livro dos Espíritos". Que a acompanharam pelo resto da vida, sendo a sua leitura repetida, um bálsamo nas horas difíceis.

Aos 13 anos começou a frequentar as sessões práticas de Espiritismo, que muito a encantavam, pois via os espíritos comunicantes. Teve como instrução escolar o curso primário. Não pode, por motivos econômicos, fazer outros cursos, o que representou uma grande provação para ela, pois amava o estudo e a leitura.


Desde cedo teve que trabalhar para o seu próprio sustento, e o fez com a costura, bordado, renda, flores, etc... A educação patriarcal que recebeu, fez com que vivesse afastada do mundo. Isto, por um lado, favoreceu o desenvolvimento e recolhimento mediúnico, mas por outro, a tornou excessivamente tímida e triste.

A mediunidade apresentou-se nos primeiros dias de vida terrena, através do fenômeno de catalepsia, vindo a ser este, um fenômeno comum na sua vida a partir dos 16 anos. A maior parte das reportagens de além-túmulo, dos romances, das crônicas e contos relatados por Yvonne Pereira, foram coletados no mundo espiritual através deste processo, na hora do sono reparador. A sua mediunidade, porém, foi diversificada.

Foi médium psicógrafo e receitista (homeopatia) assistida por entidades de grande elevação, como Bezerra de Menezes, Charles, Roberto de Canalejas, Bittencourt Sampaio. Praticou a mediunidade de incorporação e passista. Possuía mediunidade de efeitos físicos, chegando a realizar sessões de materialização, mas nunca sentiu atração por esta modalidade mediúnica. Os trabalhos, no campo da mediunidade, que mais gostava de fazer eram os do desdobramento, incorporação e receituário. Era através do desdobramento noturno que Yvonne Pereira navegava através do mundo espiritual, amparada por seus orientadores, coletando as crônicas, contos e romances com os quais hoje nos deleitamos.

Como médium psicofônico, pôde entrar em contato com obsessores, obsidiados e suicidas, aos quais, devotava um carinho especial, sendo que muitos deles tornaram-se espíritos amigos. No receituário homeopático trabalhou em diversos centros espíritas das várias cidades em que morou durante os 54 anos de atividade.

Foi uma médium independente, que não se submetia aos entraves burocráticos que alguns centros exercem sobre seus trabalhadores, seguia sempre a "Igreja do Alto" e com ela exercia a caridade a qualquer hora e a qualquer dia em que fosse procurada pelos sofredores.

 Foi uma esperantista convicta e trabalhou arduamente na sua propaganda e difusão, através de correspondência que mantinha com outros esperantistas, tanto no Brasil, como no exterior. Desde muito pequena cultivou o estudo e a boa leitura. Aos 16 anos já tinha lido obras dos grandes autores como Johann Wolfgang von Goethe, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Alexandre Herculano, Arthur Conan Doyle e outros. Escreveu muitos artigos publicados em jornais populares. Todos foram perdidos.

Homenagem

Quando dos dez anos de sua morte, a revista "Reformador" (março/1994) publicou extensa matéria em memória da médium, de autoria de Augusto Marques de Freitas.

Ali, o articulista resumiu o sentimento que os espíritas dedicam-lhe:

"A vida a a obra de Yvonne do Amaral Pereira ficarão gravadas para sempre no coração de todos nós e na História do Espiritismo."

Obra

A obra mediúnica de Yvonne Pereira monta a uma vintena de livros. Embora desde 1926 tenha escrito numerosas obras psicografadas, somente decidiu publicá-las na década de 1950, segundo ela mesma, após muita insistência dos "mentores espirituais". Dentre as mais conhecidas destacam-se:

  • Memórias de um Suicida - Atribuída aos espírito de Camilo Castelo Branco e de Léon Denis. Constitui-se num libelo contra o suicídio, descrevendo em sua primeira parte, os sofrimentos experimentados pelos que atentaram contra a própria vida. Na segunda e na terceira partes focaliza os trabalhos de assistência e de preparação para uma nova encarnação. Esta obra é considerada um marco na bibliografia mediúnica brasileira e o melhor exame sobre o suicídio sob o ponto de vista doutrinário espírita.
  • Nas Telas do Infinito - Apresenta duas novelas: uma atribuída ao espírito Bezerra de Menezes e outra a Camilo Castelo Branco.
  • Amor e Ódio - Atribuída ao espírito Charles, enfoca o drama de um ex-aluno francês do Prof. Rivail (Allan Kardec), o artista Gaston de Saint-Pierre, acusado de um crime que não cometera. Após grandes padecimentos, recebe os esclarecimentos elucidativos por meio de um exemplar de "O Livro dos Espíritos", à época em que este foi lançado pelo codificador.
  • A Tragédia de Santa Maria - Atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, ambientado em uma fazenda de café em Vassouras, RJ.
  • Ressurreição e Vida - Atribuído ao espírito Leon Tolstoi, compreende seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia dos czares.
  • Nas Voragens do Pecado - Primeiro volume de uma trilogia atribuído ao espírito Charles, relata a trágica história do massacre dos huguenotes na Noite de São Bartolomeu, 23 de agosto de 1572, durante o que seria uma encarnação anterior da médium, na personalidade de Ruth-Carolina de la Chapelle.
  • O Cavaleiro de Numiers - Segundo volume da trilogia, mostra outra suposta encarnação da médium, ainda na França, na personalidade de Berth de Sourmeville.
  • O Drama da Bretanha - Terceiro e último volume da trilogia, ilustra como a médium, agora na personalidade Andrea de Guzman, não consegue suportar os embates de sua expiação e se suicida por afogamento.
  • Dramas da Obsessão - Atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, compreende duas novelas abordando o tema obsessão.
  • Sublimação - Apresenta dois contos atribuídos ao espírito Charles, um ambientado na Pérsia e outro na Espanha, e três contos atribuídos ao espírito Leon Tolstoi, ambientados na Rússia.

Como escritora, publicou muitos artigos em jornais populares, produção atualmente desconhecida, que carece de um trabalho amplo de recuperação. São ainda da autora:
  • A Família Espírita
  • À Luz do Consolador - Coletânea de artigos da médium na revista "Reformador", originalmente entre a década de 60 e a de 80.
  • Cânticos do Coração - Coletânea de artigos publicados no jornal Obreiros do Bem.
  • Contos Amigos
  • Devassando o Invisível - A autora desenvolve uma dezena de estudos sobre temas doutrinários, com base em suas experiências mediúnicas.
  • Evangelho aos Simples
  • O Livro de Eneida
  • Pontos Doutrinários - Reúne crônicas publicadas na revista "Reformador".
  • Recordações da Mediunidade - A autora discorre sobre reminiscências de vidas passadas, arquivos da alma, materializações, premonição e obsessão.
  • A Lei de Deus

Fonte: Casa Espírita Caminho da Luz

Bezerra de Menezes

ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI
(68 anos)
 Médico, Militar, Escritor, Jornalista, Político e Expoente da Doutrina Espírita no Brasil 

* Riacho do Sangue, CE (29/08/1831)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1900)

Descendente de antiga família de fazendeiros de criação, ligada à política e ao militarismo na Província do Ceará, era filho de Antônio Bezerra de Menezes, tenente-coronel da Guarda Nacional, e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra.

Em 1838, aos sete anos, ingressou na escola pública da Vila do Frade, adjacente ao Riacho do Sangue, atual Jaguaretama, onde, em dez meses, aprendeu os princípios da educação elementar.

Em 1842, como consequência de perseguições políticas e dificuldades financeiras, a sua família mudou-se para a antiga Vila de Maioridade (Serra do Martins), no Rio Grande do Norte, onde o jovem, então com onze anos, foi matriculado na aula pública de latim. Em dois anos já substituía o professor em classe, em seus impedimentos.

Em 1846, a família retornou à Província do Ceará, fixando residência na capital, Fortaleza. O jovem foi matriculado no Liceu do Ceará, onde concluiu os estudos preparatórios.


A Carreira na Medicina

Em 1851, ano de falecimento de seu pai, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, naquele mesmo ano, iniciou os estudos de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

No ano seguinte, 1852, em novembro, ingressou como praticante interno, "residente", no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Para prover os seus estudos, dava aulas particulares de filosofia e matemática.

Obteve o doutoramento (graduação) em 1856, com a defesa da tese: "Diagnóstico do Cancro". Nesse ano, o Governo Imperial decretou a reforma do Corpo de Saúde do Exército, e nomeou para chefiá-lo, como cirurgião-mor, o Drº Manuel Feliciano Pereira Carvalho, antigo professor de Bezerra de Menezes, que o convidou para trabalhar como seu assistente.

A 27 de abril de 1857 candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina com a memória "Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento". O académico José Pereira Rego leu o parecer na sessão de 11 de maio, tendo a eleição transcorrido na de 18 de maio e a posse na de 1 de junho do mesmo ano.

Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nesse ano saiu a sua nomeação oficial como assistente do Corpo de Saúde do Exército, no posto de Cirurgião-tenente e, a 6 de novembro, desposou Maria Cândida de Lacerda, que viria a falecer de mal súbito em 24 de março de 1863, deixando-lhe dois filhos, um de três e outro de um ano de idade.

No período de 1859 a 1861 exerceu a função de redator dos Anais Brasilienses de Medicina, periódico da Academia Imperial de Medicina.

Em 1865 desposou, em segundas núpcias, Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã por parte de mãe de sua primeira esposa, e que cuidava de seus filhos até então, com quem teve mais sete filhos.

Trajetória Política

Nesse período a Câmara Municipal do Município Neutro tinha como presidente Roberto Jorge Haddock Lobo, do Partido Conservador. Ao mesmo tempo, Bezerra de Menezes já se notabilizara pela atuação profissional e pelo trabalho voltado à população carente. Desse modo, em 1860, em uma reunião política, alguns amigos levantaram a candidatura de Bezerra de Menezes, pelo Partido Liberal, como representante da paróquia de São Cristóvão, onde então residia, à Câmara. Ciente da indicação, Bezerra de Menezes recusou-a inicialmente, mas, por insistência, acabou se comprometendo apenas em não fazer uma declaração pública de recusa dos votos que lhe fossem outorgados.

Abertas as urnas e apurados os votos, Bezerra de Menezes fora eleito. Os seus adversários, liderados por Roberto Jorge Haddock Lobo, impugnaram a posse sob o argumento de que militares de segunda classe não podiam exercer o cargo de vereador. Desse modo, para apoiar o partido, que necessitava dele para obter a maioria na Câmara, decidiu requerer exoneração do Corpo de Saúde (26 de março de 1861). Desfeito o impedimento, foi empossado no mesmo ano.

Foi reeleito vereador da Câmara Municipal do Município Neutro para o período de 1864 a 1868.

Foi eleito deputado provincial pelo Rio de Janeiro em 1866, apesar da oposição do então primeiro-ministro Zacarias de Góis e dos chefes liberais - senador Bernardo de Sousa Franco (Visconde de Sousa Franco) e deputado Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Empossado em 1867, a Câmara dos Deputados foi dissolvida no ano seguinte, 1868, devido à ascensão do Partido Conservador.

Retornou à política como vereador no período de 1873 a 1885, ocupando várias vezes as funções de presidente interino da Câmara Municipal, efetivando-se em julho de 1878, cargo que corresponderia atualmente ao de prefeito.

Foi eleito deputado geral pela província do Rio de Janeiro no período de 1877 a 1885, ano em que encerrou a sua carreira política. Neste período acumulou o exercício da presidência da Câmara e do Poder Executivo Municipal. Em sua atuação como deputado, destacam-se algumas iniciativas pioneiras: buscou, através de projeto de lei, regulamentar o trabalho doméstico, visando conceder a essa categoria, inclusive, o aviso prévio de 30 dias; denunciou os perigos da poluição que já naquela época afetava a população do Rio de Janeiro, promovendo providências para combatê-la.

Foi membro, a partir de 1882, das Comissões de Obras Públicas, Redação e Orçamento.

Vida Empresarial

Foi sócio fundador da Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos (1870). Empenhou-se na construção da Estrada de Ferro Santo Antônio de Pádua, pretendendo estendê-la até ao Rio Doce, projeto que não conseguiu concretizar. Foi um dos diretores da Companhia Arquitetônica de Vila Isabel, fundada em outubro de 1873 por João Batista Viana Drummond (depois Barão de Drummond) para empreender a urbanização do bairro de Vila Isabel. Em 1875, foi presidente da Companhia Ferro-Carril de São Cristóvão, período em que os trilhos da empresa alcançavam os bairros do Caju e da Tijuca.

Militância Intelectual

Durante a campanha abolicionista publicou o ensaio "A Escravidão no Brasil e as Medidas Que Convém Tomar Para Extingui-la Sem Dano Para a Nação" (1869), onde não só defende a liberdade aos escravos, mas também a inserção e adaptação dos mesmos na sociedade por meio da educação. Nesta obra, Bezerra de Menezes se auto-intitula um liberal, e propõe que se imitasse os ingleses, que na época já haviam abolido a escravidão de seus domínios.

Expôs os problemas de sua região natal em outro ensaio publicado, "Breves Considerações Sobre as Secas do Norte" (1877). Alguns indicam que foi autor de biografias sobre o Visconde do Uruguai e o Visconde de Caravelas, personalidades ilustres do Império do Brasil. Foi redator d'A Reforma, órgão liberal no Município Neutro, e, de 1869 a 1870, redator do jornal Sentinela da Liberdade. Escreveu também outras obras, como "A Casa Assombrada", "A Loucura Sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita Como Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro, o Leproso", "Os Carneiros de Panúrgio", "História de um Sonho" e "Evangelho do Futuro".

Sabe-se que Bezerra de Menezes era fluente em pelo menos três línguas além do português: latim, espanhol e francês.


Militância Espírita

Conheceu a Doutrina Espírita quando do lançamento da tradução em língua portuguesa de O Livro dos Espíritos, através de um exemplar que lhe foi oferecido com dedicatória pelo seu tradutor, o também médico Drº Joaquim Carlos Travassos. Sobre o contacto com a obra, o próprio Bezerra de Menezes registrou posteriormente:

"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: Ora, Deus! Não hei de ir para o inferno por ler isto… Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!… Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no 'O Livro dos Espíritos'. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença."

Contribuiu para a sua adesão o contato com as "curas extraordinárias" obtidas pelo médium João Gonçalves do Nascimento (1844-1916), em 1882.

Com o lançamento do periódico Reformador, por Augusto Elias da Silva em 1883, passou a colaborar com a redacção de artigos doutrinários.

Após estudar por alguns anos as obras de Allan Kardec, em 16 de agosto de 1886, aos cinquenta e cinco anos de idade, perante grande público, estimado, conforme os seus biógrafos, entre 1500 e 2000 pessoas, no salão de conferências da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, em longa alocução, justificou a sua opção em abraçar o Espiritismo. O evento chegou a ser referido em nota publicada pelo O Paiz.

No ano seguinte, a pedido da Comissão de Propaganda do Centro da União Espírita do Brasil, inicia a publicação de uma série de artigos sobre a Doutrina Espírita em O Paiz, periódico de maior circulação da época. Na seção intitulada "Spiritismo - Estudos Philosophicos", os artigos saíram regularmente aos domingos, no período de 23 de outubro de 1887 a dezembro de 1893, assinados sob o pseudónimo "Max".

Na década de 1880 o incipiente movimento espírita na capital e no país, estava marcado pela dispersão de seus adeptos e das entidades em que se reuniam. Havia, ainda, uma clara divisão entre os espíritas ditos "místicos", defensores de uma visão religiosa da doutrina, e os chamados "científicos", defensores de um olhar filosófico e científico.

Em 1889, Bezerra de Menezes foi percebido como o único capaz de superar as divisões, vindo a ser eleito presidente da Federação Espírita Brasileira. Nesse período, iniciou o estudo sistemático de O Livro dos Espíritos nas reuniões públicas das sextas-feiras, passando a redigir o Reformador. Exerceu ainda a tarefa de doutrinador de espíritos obsessores. Organizou e presidiu um Congresso Espírita Nacional no Rio de Janeiro, em 14 de abril, com a presença de 34 delegações de instituições de diversos estados. Assumiu a presidência do Centro da União Espírita do Brasil a 21 de abril e, a 22 de dezembro de 1890, oficiou ao então Presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, em defesa dos direitos e da liberdade dos espíritas contra certos artigos do Código Penal Brasileiro de 1890.

De 1890 a 1891 foi vice-presidente da Federação Espírita Brasileira na gestão de Francisco de Menezes Dias da Cruz, época em que traduziu o livro Obras Póstumas de Allan Kardec, publicado em 1892. Em fins de 1891, registravam-se importantes divergências internas entre os espíritas e fortes ataques ao exteriores ao movimento. Bezerra de Menezes afastou-se por algum tempo, continuando a frequentar as reuniões do Grupo Ismael e a redação dos artigos semanais em O Paiz, que encerrou ao final de 1893.

Aprofundando-se as discórdias na instituição, foi convidado em 1895 a reassumir a presidência da Federação Espírita Brasileira, eleito em 3 de agosto desse ano, função que exerceu até à data de seu falecimento. Nesta gestão iniciou o estudo semanal de O Evangelho Segundo o Espiritismo, fundou a primeira livraria espírita no país e ocorreu a vinculação da instituição ao Grupo Ismael e à Assistência aos Necessitados.

Foi em meio a grandes dificuldades financeiras que um Acidente Vascular Cerebral o acometeu, na manhã de 11 de abril de 1900. Não faltaram aqueles, pobres e ricos, que socorreram a família, liderados pelo senador Quintino Bocaiúva. No dia seguinte, na primeira página de O Paiz, foi lhe dedicado um longo necrológio, chamando-o de "Eminente Brasileiro". Recebeu ainda homenagem da Câmara Municipal do então Distrito Federal pela conduta e pelos serviços dignos.

Ao longo da vida acumulou inúmeros títulos de cidadania.


Legado

Bezerra de Menezes deu o nome a uma das embarcações a vapor da Estrada de Ferro Macaé e Campos que, fretado à Companhia Terrestre e Marítima do Rio de Janeiro, naufragou em Angra dos Reis a 29 de janeiro de 1891. Não houve vítimas fatais.

Com relação ao aspecto missionário da vida de Bezerra de Menezes, a obra "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Chico Xavier, atribuído ao espírito de Humberto de Campos, afirma:

"Descerás às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração."

Bezerra de Menezes foi também homenageado em Anápolis, Goiás, em 1982, com o nome de uma escola de ensino fundamental, Escola de 1º Grau Bezerra de Menezes, que atende a 200 alunos conveniados com a rede estadual de Goiás. Em Fortaleza, capital do estado do Ceará, sua terra natal, há uma avenida com o seu nome, situada no então distrito que levava o nome de seu pai, Antônio Bezerra, atualmente desmembrado em vários bairros, sendo a mencionada avenida situada entre os bairros Parquelândia, São Gerardo e Otávio Bonfim.

Em São José do Rio Preto, SP, o maior Hospital Psiquiátrico, que atende a toda a região, também leva o nome de Bezerra de Menezes.

O "Kardec Brasileiro"

Pela atuação destacada no movimento espírita da capital brasileira no último quartel do século XIX, Bezerra de Menezes foi considerado um modelo para muitos adeptos da Doutrina Espírita. Destacam-lhe a índole caridosa, a perseverança, e a disposição amorosa para superar os desafios. Essas características, somadas à sua militância na divulgação e na reestruturação do movimento espírita no país, fizeram com que fosse considerado o "Kardec Brasileiro", numa homenagem devida ao papel de relevância que desempenhou. Muitos seguidores acreditam, ainda, que Bezerra de Menezes continua, em espírito, a orientar e influenciar o movimento espírita. É considerado patrono de centenas de instituições espíritas em todo o mundo.


Filme

A vida de Bezerra de Menezes foi transposta para o cinema, na película Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito, com direção de Glauber Santos Paiva Filho e Joel Pimentel. O elenco é integrado por Carlos Vereza no papel título, Caio Blat e  Paulo Goulart Filho, e com a participação especial de Lúcio Mauro.

A produção foi orçada aproximadamente em R$ 2,7 milhões, a cargo da Trio Filmes e Estação da Luz, com locações no Ceará, Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro, tendo envolvido a mão-de-obra de uma equipe de cento e cinquenta pessoas. O lançamento do filme deu-se em 29 de agosto de 2008.

Instituições de Que Foi Membro

  • Efectivo da Academia Nacional de Medicina e honorário da Seção Cirúrgica.
  • Instituto Farmacêutico
  • Sociedade de Geografia de Lisboa
  • Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
  • Sociedade Físico-Química
  • Sociedade Propagadora das Belas Artes
  • Sociedade Beneficência Cearense (Presidente)
  • Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (Conselheiro)
  • Companhia Ferro-Carril de São Cristóvão (Presidente)
  • Companhia Estrada de Ferro Macaé e Campos (Fundador)
  • Companhia Arquitetônica de Vila Isabel (Director)

Artigos e Obras Publicadas

  • 1856 - "Diagnóstico do Cancro"
  • 1857 - "Algumas Considerações Sobre o Cancro, Encarado Pelo Lado do Seu Tratamento"
  • 1859 - "Curare". (Anais Bras. de Medicina v. 1859-1860 p.121-129)
  • 1869 - "A Escravidão no Brasil, e Medidas Que Convém Tomar Para Extingui-la Sem Dano Para a Nação"
  • 1877 - "Breves Considerações Sobre as Secas do Norte" 
  • 1877 - "Das Operações Reclamadas Pelo Estreitamento da Uretra"
  • 1877 - Biografia de Manuel Alves Branco, Visconde de Caravelas
  • 1877 - Biografia de Paulino José Soares de Sousa, Visconde do Uruguai
  • 1892 - Publicação da sua tradução de Obras Póstumas, de Allan Kardec
  • 1902 - "A Casa Assombrada"
  • 1907 - "Espiritismo (Estudos Filosóficos)"
  • 1983 - "Os Carneiros de Panúrgio"
  • 1946 - "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica" ou "Uma Carta de Bezerra de Menezes"
  • 1920 - "A Loucura Sob Novo Prisma"
  • "Casamento e Mortalha" (Romance, Incompleto)
  • "Evangelho do Futuro"
  • "História de um Sonho"
  • "Lázaro, o Leproso"
  • "O Bandido"
  • "Os Mortos que Vivem"
  • "Pérola Negra"
  • "Segredos da Natura"
  • "Viagem através dos Séculos"

Principais Obras e Mensagens Mediúnicas Atribuídas a Bezerra de Menezes

Através de Divaldo Pereira Franco, comunicações nas seguintes obras:
  • 1991 – "Compromissos Iluminativos" (Coletânea de mensagens)

Através de Francisco Cândido Xavier, comunicações nas seguintes obras:
  • 1973 - "Bezerra, Chico e Você" (Coletânea de mensagens)
  • 1986 - "Apelos Cristãos" (Coletânea de mensagens)
  • "Nosso Livro"
  • "Cartas do Coração"
  • "Instruções Psicofônicas"
  • "O Espírito da Verdade"
  • "Relicário de Luz"
  • "Dicionário d'Alma"
  • "Antologia Mediúnica do Natal"
  • "Caminho Espírita"
  • "Luz no Lar"

Através de Francisco de Assis Periotto, comunicações nas seguintes obras:
  • 2001 - "Fluidos de Luz: Ensinamentos de Bezerra de Menezes"
  • 2002 - "Fluidos de Paz: Ensinamentos de Bezerra de Menezes"
  • 2006 - "Conversando Com Seu Anjo da Guarda - Ensinamentos de Bezerra de Menezes Sobre a Agenda Espiritual "

Através de Maria Cecília Paiva, comunicações nas seguintes obras:
  • "Garimpos do Além" (Coletânea de mensagens)

Através de Waldo Vieira, comunicações nas seguintes obras:
  • "Entre Irmãos de Outras Terras"
  • "Seareiros de Volta"

Através de Yvonne do Amaral Pereira, comunicações nas seguintes obras:
  • 1955 - "Nas Telas do Infinito" (1ª. Parte, Romance)
  • 1957 - "A Tragédia de Santa Maria" (Romance)
  • 1964 – "Dramas da Obsessão" (Romance)
  • 1968 – "Recordações da Mediunidade" (Relatos e Orientações)

Fonte: Wikipédia