José Mendes

JOSÉ MENDES
(34 anos)
Cantor, Compositor e Ator

☼ Lagoa Vermelha, RS (20/04/1939)
┼ Pelotas, RS (15/02/1974)

José Mendes foi um cantor e compositor brasileiro de música regional gaúcha. Nasceu na localidade de Machadinho, no município gaúcho de Lagoa Vermelha, RS. Com a separação dos pais, mudou-se para a cidade de Santa Terezinha, no distrito de Esmeralda, em 1944, passando a residir com pais adotivos.

Viveu em Santa Terezinha, RS, durante 14 anos, período no qual trabalhou como peão de estância e começou a fazer suas primeiras serenatas. Começou a se interessar pela música aos 14 anos, formando pouco depois, com um amigo, uma dupla amadora chamada Os Irmãos Teixeira.

Em 1958, foi prestar o serviço militar e mudou então para a cidade de Vacaria, onde se fixou depois do serviço militar, decidindo, então, seguir a carreira artística.

Iniciou a carreira artística em 1960, quando se mudou para a cidade de Júlio de Castilhos, onde formou o trio Os Seresteiros do Pampa.

Em 1962, depois de excursionar pelo nordeste do Rio Grande do Sul e por algumas cidades de Santa Catarina, decidiu que era hora de gravar um disco, ou abandonar a carreira. Pediu dinheiro emprestado ao fazendeiro Irineu Nery da Luz, que lhe cedeu a quantia de 20 mil cruzeiros, para viajar até São Paulo. Na capital paulista, dormiu vários dias em bancos da rodoviária, alimentando-se de pão e banana. Conheceu então os radialistas Zé Tomé da Rádio Tupi, e Teixeira Filho da Rádio Cultura, e os artistas Pedro Bento & Zé da Estrada, Zilo & Zalo, Palmeira, então diretor artístico da gravadora Continental, Biá, além do acordeonista Alberto Calçada, que tocou acordeom em seu primeiro disco.


Apresentou suas composições a Palmeira que o levou para gravar o disco pela Continental, aconselhando-o a colocar as músicas que eram todas dele em parceria com radialistas de São Paulo e Rio de Janeiro, para que tivessem divulgação. Utilizando o nome artístico de Gaúcho Seresteiro, gravou o LP "Passeando de Pago em Pago", uma autêntica crônica de suas viagens pelo Rio Grande do Sul. Nesse disco, gravou doze composições, todas de sua autoria, mas que acabaram aparecendo com diferentes parceiros, todos radialistas.

Depois da gravação do disco, retornou para a cidade gaúcha de Vacaria e, logo em seguida, mudou-se para a cidade de Porto Alegre, onde chegou a dormir dentro de carros em uma garagem na qual trabalhava um amigo. Começou a fazer apresentações em cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a fim de divulgar o disco, fazendo isso por cinco anos.

Em Porto Alegre, apresentou-se em diversos programas de rádio, entre os quais, "Festa na Roça" apresentado por Nelson Souza na Rádio Itay, e "Programa Grande Rodeio Coringa", na Rádio Farroupilha, no qual conheceu Darcy Fagundes e Luiz Menezes que se tornaram grandes amigos seus. Nesse período, participou de várias caravanas artísticas ao lado de nomes como Aírton Pimentel, Os Araganos, Velho Mirongueiro, Os MirinsLuís Müller, Portela Delavy, e as duplas Milton e Almerinda e Xará e Timbaúva, entre outros.

Numa dessas viagens, em companhia de Portela Delavy e Luís Müller, ocorreu um episódio que mudaria sua vida. Viajavam de Kombi para a realização de um show, quando o carro quebrou e tiveram que pegar um ônibus. A certa altura dois peões começaram a discutir até que um deles, para terminar o assunto falou: "Pára Pedro", e tornou a repetir "Pedro, Pára". Estava dado o mote para ele e Portela Delavy comporem o xote "Pára, Pedro". A música foi apresentada primeiramente no programa radiofônico "Grande Rodeio Coringa" causando grande impacto, recebendo o incentivo de todos para que a gravasse.


Em 1967, voltou a São Paulo, a fim de gravar seu segundo disco. Foi recusado pela Continental e pela Chantecler, até que a gravadora Copacabana resolveu lançar "Pára Pedro" em compacto simples. O disco tornou-se rapidamente um grande sucesso nacional e internacional, sendo regravado em diversos gêneros, por diferentes cantores na América Latina. O compacto vendeu mais de 600 mil cópias e se tornou o disco mais vendido do ano, o que lhe valeu da TV Gaúcha o "Troféu de Consagração Popular". Na época, uma reportagem da revista O Cruzeiro dava conta da enorme popularidade alcançada por ele. No mesmo ano, lançou o LP "Pára Pedro". Nessa época, assim referiu-se a revista Contigo sobre ele:

"Surge um vaqueiro sulino com melodias regionais, de chimarrão e bombacha, largando uma tremenda lenha em todo mundo, fazendo cair por terra as previsões de preferência popular. No bar, no cabeleireiro  em casa, no escritório ou à saída da missa, todos assobiam e cantarolam a história do Pedro que entrou numa festa lá na fazenda da Ramada. Todos querem imitar a velha apaixonada, no Pára Pedro! Pedro, Pára!"

Em 1968, lançou, também pela Copacabana, o LP "Não Aperta, Aparício". Visitou o Rio de Janeiro e apresentou-se no Programa do Chacrinha. Participou da coletânea "Carnaval Copacabana", que contou as presenças de diversos artistas como Ângela Maria, Gilberto Alves, Carequinha, e Roberto Silva, interpretando "Pedro no Carnaval", de sua autoria e "Maria Antonieta", em parceria com Paulo Finger.

José Mendes e Otávio Rodrigues
Em 1969, atuou no filme "Pára, Pedro!", baseado em sua música, filmado pela produtora Leopoldis-Som, com roteiro de Antônio Augusto Fagundes e direção de Pereira Dias, sendo esse, o primeiro longa metragem colorido produzido no Rio Grande do Sul. O filme foi um grande sucesso, permanecendo em cartaz por 23 semanas no Rio Grande do Sul, antes de se lançado no Rio de Janeiro. Ainda em 1969, lançou pela Copacabana seu quarto LP, "Andarengo". Atuou no filme "Não Aperta Aparício", baseado na sua música homônima, filme com direção de Pereira Dias e que contou, entre outros, com as participações de Grande Otelo e José Lewgoy, sendo também um grande sucesso.

Em 1970, desfrutando de intensa popularidade, fez shows em quase todas as cidades gaúchas, além de se apresentar em Santa Catarina, Paraná, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse ano, tornou-se, juntamente com o cantor Altemar Dutra, o artista brasileiro com disco mais tocado em Portugal. Foi convidado para desfilar na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, saindo como destaque ao lado de Martinho da Vila no enredo "Glórias Gaúchas". Ainda nesse ano, lançou o LP "Mocinho do Cinema Gaúcho".

Uma outra comprovação do sucesso da música "Pára, Pedro" foi o lançamento, na época, dos bonecos com o nome "Pára, Pedro". Além disso, polícia carioca desencadeou a "Operação Pára, Pedro!" nos morros cariocas, e o cantor Wilson Simonal, que gravou a música, chegou a comprar um carro da marca Mustang com os rendimentos obtidos com a gravação. Suas músicas foram tocadas a partir de Portugal, na Áustria, Suécia, Suíça e Bélgica.

Em 1971, gravou o LP "Gauchadas" com sete composições de sua autoria.

Em 1972, fez seu terceiro filme, "A Morte Não Marca Tempo", tendo como música de abertura a "Balada da Solidão", parceria com Pereira Dias. O filme foi lançado em abril de 1973.

Em 1973, lançou, pela Continental, o LP "Isto é Integração".

Morte

José Mendes faleceu em 1974, no auge do sucesso, quando a camionete Veraneio na qual viajava com mais três pessoas, voltando do show em um circo na cidade de Pelotas, colidiu de frente com um ônibus na altura de Porto Novo na rodovia Rio Grande-Pelotas.

Nesse ano de 1974, foi editado o LP "Adeus Pampa Querido", uma cópia do seu primeiro disco "Passeando de Pago em Pago" com as substituições das músicas "Passeando de Pago em Pago", por "Adeus Pampa Querido", versão sua, para música de F. Canaro, M. Mores e Pelay, e "Excursão Catarinense", substituída pela "Balada da Solidão".

Em 1979, suas músicas "Carancho" e "Baile de Campanha" foram incluídas no LP "Gauchíssimo - Vol. 4", da Musicolor/Continental, que contou com participações de diversos artistas gaúchos entre os quais, Os Milongueiros, Gildo de Freitas, e Berenice Azambuja.

Em 2002, José Mendes foi homenageado com a publicação do livro "Pára, Pedro - José Mendes - Vida e Obra", de Ajadil Costa. Nesse livro, o autor afirma que:

"Passados quase 30 anos é firme a devoção ao mito José Mendes. Existem hoje diversos louvores em todo o Rio Grande, em sua lembrança: nome de ruas em diversas cidades espalhadas pelo Estado. Homenagens em diversos programas de rádio e festividades em muitas cidades exaltando sua memória."

Em 2004, em sua homenagem, foi feita a cavalgada "José Mendes de Volta a Querência", uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Esmeralda e da Universidade de Caxias do Sul, com coordenação de Nilson Hoffmann. A cavalgada destinou-se a transladar os restos mortais do cantor e compositor enterrado em Porto Alegre, para a cidade de Santa Tereza, seu berço natal.

Em 2006, o "Memorial José Mendes", localizado no município de Esmeralda, foi transformado em patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul.

Discografia

  • 1974 - Adeus Pampa Querido (LP, Continental)
  • 1973 - Isto é Integração (LP, Continental)
  • 1971 - Gauchadas (LP, Continental)
  • 1970 - Mocinho do Cinema Gaúcho (LP, Continental)
  • 1969 - Andarengo (LP, Continental)
  • 1968 - Não Aperta, Aparício (LP, Continental)
  • 1967 - Pá...ra Pedro (LP, Continental)
  • 1962 - Passeando de Pago em Pago (LP, Continental)

Filmografia

  • 1969 - Para Pedro
  • 1969 - Não Aperta Aparício
  • 1972 - A Morte Não Marca Tempo

Indicação: Miguel Sampaio

Aparecida

MARIA APARECIDA MARTINS
(45 anos)
Cantora e Compositora

* Caxambu, MG (04/12/1939)
+ Rio de Janeiro, RJ (1985)

Maria Aparecida Martins foi uma cantora e compositora brasileira, de carreira dedicada principalmente ao samba e a ritmos africanos. Ainda criança, interessou-se por música, aprendendo com os mais velhos da família os ritmos africanos.

Em 1949, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Por essa época, trabalhou como passadeira em casas de família no bairro de Vila Isabel.

Em 1952, já compunha suas primeiras músicas. Pouco tempo depois, Salvador Batista a levou para o programa "A Voz do Morro", incluindo-a em seu grupo como passista, conjunto no qual atuou por dez anos.

No início da década de 1960, foi convidada a participar do filme "Benito Sereno e o Navio Negreiro", por cuja atuação recebeu de prêmio uma viagem a França, onde se apresentou em uma boite interpretando, pela primeira vez, suas próprias composições.

Em 1965, voltou para o Brasil e venceu o Concurso de Música de Carnaval do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, seu samba "Zumbi, Zumbi" venceu o III Festival de Música de Favela, representando a favela da Cafúa, de Coelho Neto.

Em 1968, compôs o samba-enredo "A Sonata das Matas" para a escola de samba Caprichosos de Pilares. Foi a segunda mulher a vencer uma disputa de samba-enredo numa escola, depois de Dona Ivone Lara.

Ao lado de Darci da Mangueira, Sidney da Conceição, Sabrina, Chico Bondade, entre outros, participou do LP "Roda de Samba" em 1974. Foi a primeira vez em que gravou uma composição de sua autoria, "Boa-noite". No mesmo ano, saiu o disco "Roda de Samba nº 2", com Nelson Cavaquinho, Sabrina, Roque do Plá, Rubens da Mangueira e Dida. Desta vez, Aparecida interpretou "Proteção" (David Lima e Pinga) e "Rosas Para Iansã" (Josefina de Lima).

Seu primeiro disco solo, "Aparecida", foi gravado em 1966. O repertório incluía suas músicas "Talundê", "Nanã Boroquê" e "Segredos do Mar" (todas em parceria com Jair Paulo), "Tereza Aragão", "Meu São Benedito" e "Inferno Verde". Também adaptou a canção folclórica "A Maria Começa a Beber".

Demorou mais 10 anos para lançar seu segundo LP, "Foram 17 Anos", no qual voltou a gravar suas composições, entre elas "17 Anos", "Grongoiô, Propoiô" (parceria com João R. Xavier e Mariozinho de Acari) e "Diongo, Mundiongo".

Em 1977, lançou o disco "Grandes Sucessos" e nos anos seguintes gravou pela RCA Victor os LPs "Cantigas de Fé" (1978) e "13 de Maio" (1979), no qual interpretou, além da canção título, "Aleluia Dom Miguel", "Mussy Gatana", "Ceará" e "Indeuá Matamba", todas de sua autoria.

Em 1980, lançou o disco "Os Deuses Afros", que incluiu as músicas "Se Segura Zé" (Aparecida e Kacik) e outras composições suas gravadas em LPs anteriores.

Em 1985, Aparecida morre no Rio do Janeiro.

No ano de 1996, a gravadora CID lhe prestou homenagem relançando em CD o disco "Aparecida, Samba, Afro, Axé".


Discografia

  • 1974 - Roda de Samba (CID)
  • 1974 - Roda de Samba nº 2 (CID)
  • 1975 - Aparecida (CID)
  • 1976 - Foram 17 Anos (CID)
  • 1977 - Grandes Sucessos (CID)
  • 1978 - Cantigas de Fé (RCA Victor)
  • 1979 - 13 de Maio (RCA Victor)
  • 1980 - Os Deuses Afros (CID)
  • 1983 - A Rosa do Mar (CID)
  • 1996 - Aparecida, Samba, Afro, Axé (CID)