No final de 1998, mudou-se para o complexo Vila da Paz, onde segundo a polícia montou um ponto de tráfico de drogas com o colega Durval Xavier dos Santos, o Binho. O problema era que já existia nas proximidades do local outro ponto de tráfico, desencadeando uma guerra entre as facções, acirrada após os dois assassinarem Euclides Menzes Pessoa, chefe da facção rival, em 1999.
Sabotage sempre fez rimas, mas ele nunca se revelava musicalmente pra ninguém. Aí em 1988, 1989, começou a se inscrever em concursos de rap. Num deles, no salão Zimbabwe, conheceu
Mano Brown e o
Ice Blue, ambos do
Racionais MC's, que ficaram principalmente impressionados com performance dele.
Nesses concursos você não podia ser muito contundente nas letras, mas na sua apresentação,
Sabotage cantava uma música totalmente fora dos padrões do concurso, chamada
"Na City". E a galera não acreditava que aquele moleque tinha feito a música.
E foi com o grupo
Rapaziada Zona Oeste (
RZO), que, aliás, é conhecido por revelar talentos para o público fora do rap,
Negra Li, por exemplo, que
Sabotage viu seu trabalho repercutir no rap nacional, especialmente após a gravação de várias músicas e vídeo clipes, bem como a apresentação destes em shows.
Na sequência,
Sabotage gravou seu primeiro e único disco solo, intitulado
"Rap é Compromisso", gravado pelo selo Cosa Nostra, o mesmo que lançou o disco
"Sobrevivendo no Inferno", dos
Racionais MC's.
O lançamento do seu primeiro álbum e as participações em shows, sobretudo nos do
RZO, renderam ao rapper o convite para atuar em filmes do cinema nacional e, com isso, ter seu trabalho apreciado e reconhecido por um público ainda maior. Ao todo, foram dois os filmes em que
Sabotage fez atuações:
"O Invasor" (2002), de
Beto Brant, e
"Carandiru" (2003), de
Hector Babenco.
No filme
"O Invasor",
Sabotage fez parte da equipe do filme desempenhando três funções distintas. Participou da trilha sonora com cinco músicas, sendo três inéditas, serviu de consultor de
"cultura da periferia" para moldar o personagem
Anísio, interpretado pelo titã
Paulo Miklos, e ainda por cima atuou no filme, interpretando ele mesmo, em uma cômica cena em que o personagem
Anísio o apresenta para seus clientes
"pedindo" um dinheiro para ele gravar seu CD.
Já no filme
"Carandiru", ele encarnou o personagem
Fuinha e gravou uma das músicas da trilha sonora. Fez várias participações como na música
"Dorobo" do
BNegão,
"Nem Tudo Está Perdido" do
Posse Mente Zulu; com
Rappin' Hood; "Black Steel In The Hour Of Chaos" com a banda
Sepultura; com
Helião,
Sandrão,
Negra Li,
Negro Útil, KL Jay em
"Piri-Pac"; com
Jacksom,
Trilha Sonora do Gueto e
Z'África Brasil em
"Giria Criminal"; e com
Charlie Brown Jr. em
"A Banca",
"Marginal Alado" e
"Cantando Pro Santo".
Carreira no Cinema
O músico fez sua estréia cinematográfica em
"O Invasor", do diretor
Beto Brant.
"Ele viu um vídeo em que eu cantava com o grupo RZO. E ele pensou: esse cara é louco!". Mas a insanidade pareceu lógica para o diretor de
"Ação Entre Amigos" e
"Os Matadores", que convocou
Sabotage para uma entrevista.
Durante a conversa,
Beto Brant apresentou o músico a
Paulo Miklos, cantor do
Titãs que encarnou
Anísio, o protagonista de
"O Invasor".
"Eu não conseguia parar de rir da cara dele!", diz
Sabotage.
Apesar da descontração, o rapper fez questão de palpitar no roteiro da produção, apontando erros em relação à vida na periferia. Acabou consultor técnico e
"treinador" de
Paulo Miklos na área de fala e gírias. O roteiro da fita foi escrito por
Beto Brant e
Renato Ciasca em parceria com o autor do livro
"O Invasor",
Marçal Aquino.
Para
Sabotage,
Marçal Aquino reflete com perfeição o dia-a-dia da periferia.
"Ele não esconde nada, eu acho isso muito bom. Eu li aquele livro dele, o Faroestes e é veridicção. Aquela placa com os tiros na capa...", contou, lembrando que o escritor é também uma inspiração.
"Eu quero chegar à idade dele do jeito que ele é. Eu chamo ele de garotão. Ele é ligado, comenta as coisas que viu. Por isso faz os livros daquele jeito."
O cantor, agora convertido a ator, passou a integrar o meio do cinema. Durante as filmagens de
"O Invasor",
Beto Brant teve a prova da influência que o rapper tem na periferia.
"O Beto me falou: 'Sabota, aqui no mesmo lugar onde nós fizemos este filme, já me levaram todo o equipamento antes'. Porque é assim: a periferia sabe quem está explorando ela."
Hector Babenco, diretor de
"Carandiru", baseado no livro de
Dráuzio Varella,
"Estação Carandiru", veio a conhecer
Sabotage durante as filmagens de
"O Invasor", o diretor comentou com
Beto Brant sobre um preso, condenado a 29 anos de cadeia, o
Velho Monarca. Com a descrição, descobriram que ele era tio de
Sabotage.
"A mesma idade que eu tenho aqui (29 anos), ele vai passar lá (na cadeia)", lembrou o rapper.
Contato estabelecido, ficou determinado que o artista interpretaria o personagem
Fuinha, além de cuidar de músicas para a trilha sonora do filme e do
making of. E a parceria com
Hector Babenco foi além, gerando, inclusive, uma música.
"Imagina ele falando pra mim 'águas turvas', com aquele espanhol! Pra pôr isso numa rima foi foda, mas ficou muito classe!"
Em
"Carandiru",
Sabotage também voltou a atuar como consultor técnico. Foi ele quem conseguiu os figurantes para as cenas que exigiam um número grande de pessoas.
Morte
Era manhã do dia 24/01/2003, na altura do número 1800 da Avenida Abrão de Morais, no bairro Saúde, perto de sua casa, Zona Sul de São Paulo, quando
Sabotage, levou sua mulher,
Maria Dalva da Rocha Viana, ao ponto de ônibus. Na despedida,
Sabotage disse à esposa que iria para o Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre.
Após entrar no carro, segundo testemunhas, foi abordado por um traficante que disparou quatro vezes.
Sabotage foi atingido com dois tiros na coluna vertebral, enquanto outros dois atingiram sua mandíbula e sua cabeça. O rapper foi encontrado ao lado de seu carro, às 5h50. Além das balas disparadas, foi encontrado, ao seu lado, uma máscara preta.
Sabotage chegou a ser reanimado por meia hora no Hospital São Paulo, mas devido ao estado considerado gravíssimo, não resistiu. Especulações sobre o assassinato apontam várias causas. Entre elas, o envolvimento do rapper com o mundo do crime como uma possível razão para o ocorrido. Seus amigos e familiares, no entanto, não concordam com essa hipótese, visto que
Sabotage desistiu da bandidagem 10 anos antes de sua morte.
"Sabota", como também era chamado, nunca escondeu de ninguém seu envolvimento com os atos ilícitos no passado de sua vida. Em depoimentos à revista da MTV
de agosto de 2002, o rapper alegou:
"Moro na favela desde os 29 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus por que polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa."
Assim como o
DJ Jam Master Jay, do grupo americano
Run DMC,
Sabotage estava em uma fase tranquila de sua vida e não possuía inimigos quando de repente foi morto num crime aparentemente sem mais nem menos. Se faz necessária também a comparação com a morte de
Chico Science, visto que ambos faleceram numa fase brilhante de suas carreiras, fase esta acontecida logo depois de serem descobertos pela mídia e pelo público embora ainda pequeno, deixando poucos discos lançados e partindo numa época de grande expectativa com relação a seus trabalhos e projetos futuros.
Julgamento
O julgamento do assassino de
Sabotage estava previsto para iniciar em 28/04/2010, aproximadamente 7 anos e 3 meses após o acontecimento. No entanto, ele acabou sendo adiado para 12/07/2010 pela ausência de uma testemunha imprescindível pela acusação, segundo a juíza
Fabíola Oliveira Silva. O processo foi reiniciado na data prevista, então contando com todos os integrantes necessários.
O julgamento durou dois dias, com
Sirlei Menezes da Silva defendendo as acusações negando a morte de
Sabotage, alegando torturas e colocando a culpa no Primeiro Comando da Capital
(PCC).
A defesa questionou as provas e a conduta da polícia, obtendo como réplica a acusação de que
Sirlei Menezes da Silva fez uma festa para comemorar o assassinato do
"inimigo".
Aproximadamente às 17h30 de 13/07/2010, o júri se reuniu para decidir se condenava ou absolvia o réu. Às 18h00 o resultado se tornou público:
Sirlei Menezes da Silva foi condenado a 14 anos de prisão.
Discografia
- 2000 - Rap é Compromisso!