Syn De Conde

SYNÉSIO MARIANO DE AGUIAR
(95 anos)
Ator

* Belém, PA (14/06/1894)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/05/1990)

Syn De Conde foi um ator brasileiro nascido em 14/06/1894, na cidade de Belém, PA, batizado como Synésio Mariano de Aguiar. Foi um ator conhecido por atuar em "Revelation" (1918), "The Girl Who Stayed At Home" (1919) e "Rouge e Riches" (1920). Ele foi casado com Anna Pauley De CondeSyn De Conde foi o primeiro brasileiro a virar ator em Hollywood.

Synésio Mariano de Aguiar era filho de um industrial paraense. No inicio do século passado, quando a fase da exploração da borracha nativa ainda deixava um pouco do seu lastro de ouro na sociedade local, o jovem seguiu a praxe das grandes famílias, sendo mandado para a Europa concluir os seus estudos básicos. Na Suíça fixou residência e por lá recebia regularmente a mesada paterna, escrevendo-lhes para contar seu aproveitamento no estabelecimento de ensino. Mas o irrequieto Synésio tinha outras pretensões. Embarcou para a América do Norte e passou a residir na Califórnia, especificamente em Hollywood, onde arranjou um quarto de pensão, dividindo a despesa de aluguel com outro estrangeiro, o italiano Rodolfo Valentino.

Supostamente influenciado por Rodolfo Valentino, o paraense passou a se exibir como dançarino de tango nas boates elegantes. Entretanto, tentou se envolver com uma garota em um restaurante escrevendo-lhe um bilhete. Como resposta, a jovem lhe passou o seu endereço e o telefone. Tratava-se da atriz Alah Nazimova que mais tarde seria a namorada efetiva de Rodolfo Valentino. Através dela, o paraense conheceu um estúdio de cinema e ao presenciar uma cena onde dançavam um tango, disse ao diretor que faria melhor, demonstrando na ocasião esta qualidade. Dessa forma, foi aceito como coadjuvante do filme em produção e daí em diante passou a figurar em produções "Classe A", atuando em oito filmes durante 2 anos.

Syn De Conde e Carol Dempster
O filme "A Garota Que Ficou em Casa" (The Girl Who Stayed At Home / EUA, 1919) de David Wark Griffith não é dos mais conhecidos ou aplaudidos trabalhos do cineasta considerado "o pai do cinema", por seu pioneirismo na criação dos elementos que fazem a linguagem cinematográfica. Mas para nós brasileiros e principalmente para os paraenses, tem significativa importância pelo fato de ter no elenco um brasileiro, Synésio Mariano de Aguiar. Por ironia ele interpreta um conde francês na história de uma jovem norte-americana, filha de um confederado (homem que lutou pelo sul na Guerra Civil). A garota (Carol Dempster, atriz muito conhecida na época) vê seu namorado (Richard Barthelmess) e o amigo deste (Robert Harron), também pretendente à sua mão, partirem para a guerra (a Primeira Mundial).

As cartas ao pai agradecendo a mesada faziam o percurso Estados Unidos - Suiça - Brasil graças à colaboração de um amigo que ficara na Suíça encarregado dessa correspondência. Mas, certo dia seu pai, o velho Mariano de Aguiar, soube da carreira artística do filho alertado por uma pessoa que lhe disse ter visto "o Synésio no Cinema Olympia". Ao argumentar que isso era impossível, que o Marianinho estava na Europa, o informante completou dizendo que ele estava na tela, puxando um camelo no papel do árabe Abdulah em "A Chama do Deserto" (Flame Of Desert).

Mariano de Aguiar espantou-se:

- Não é possível, o menino está em Berna, na Suíça!- Não, ele não estava na platéia: estava na tela!

O pai, aflito, foi logo ao cinema. E viu o filho vestido de beduíno puxando um camelo em uma aventura do folclore árabe. Foi o fim da carreira do astro promissor que chegou a morar com o ídolo da época, Rodolfo Valentino.

Syn De Conde e Pauline Frederic
Contrariado com a situação, solicitou o retorno urgente do filho rebelde. Desconhecia, contudo, que este havia se casado na Califórnia com Anna Pauley. Logo foi providenciado o divorcio e Syn De Conde retornou.

Em 1921, Syn De Conde foi processado por sua ex-esposa, Anna Pauley De Conde, e condenado a pagar US$ 150 dólares por mês em pensão alimentícia, com base em sua alegação de que sua renda anual foi de US$ 30.000 e que o pai dela, Hubert, tinha um depoimento dizendo que sua conta bancária tinha recentemente um saldo de US$ 50.000.

De acordo com as referências extraídas do New York Times, em 1921, Syn De Conde passou a residir em New York, na 118 West Seventy-Second Street.

Em 1927 ele retornou ao Brasil, via Rio de Janeiro. Nesse ano estreava na então Capital Federal o filme "O Homem Mosca" (Safety Last, 1923) onde se via o comediante Harold Lloyd escalar um edifício. A divulgação do lançamento baseava-se nessa proeza de Harold Lloyd, que foi assumida por Syn De Conde e, segundo ele, para provar que "não era só norte americano que tinha essa coragem", escalando um prédio na Av. Rio Branco, e, com isso, ganhando manchetes de jornais.

Em 1928, já em Belém, o ousado ex-estudante acomodou-se como professor de inglês, na Escola Normal, casando-se com uma paraense. Teria sido um casamento arranjado pelo pai. Nada que o transformasse num sério chefe de família.

Syn De Conde só muito mais tarde foi reconhecido como o "ator paraense em Hollywood", em 1972, através de uma informação de Adalberto Affonso, gerente local da empresa Severiano Ribeiro, ao crítico Pedro Veriano. Na busca pelo personagem, encontrou-o doente, num dos sobrados da Av. Serzedelo Corrêa, que herdara de familiares. A atuação do critico como médico fez a amizade com o então lendário ator, que lhe mostrou um álbum com as fotos de sua atuação no mundo do cinema mudo. Tudo o que ele havia dito numa primeira entrevista e que se supunha ser delírio do ancião enfermo, foi constatado.


Não só fotos com artistas famosos e de sua atuação como dançarino ao lado de sua partner, uma jovem belíssima, mas pôsteres de filmes e cartas de recomendação de gerentes de produtoras como do famoso Louis B. Mayer, da Metro Goldwyn Mayer.

Esse material serviu a uma exposição do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) dirigido por Cosme Alves Neto. Depois chegou à Belém junto com a organização da primeira mostra de cinema amador e a reunião dos cineclubistas da região norte em 1976.

No fim da década de 80, Synésio Mariano de Aguiar retornou ao Rio de Janeiro, onde faleceu em 1990 vítima de de insuficiência cardíaca.

Como se vê, a trajetória artística deste aventureiro entre as câmeras e na vida privada daria um filme. Para um documentário, o material hoje perdido e em algum lugar, talvez seja precário, não se sabe o destino de seu álbum, mas, quem sabe, um longa de ficção. Afinal, apenas esta odisseia narrada neste texto demonstra uma realidade pitoresca de um tempo em que as famílias com recursos dispunham do destino de seus filhos e estes divergiam e tomavam outro rumo.

Fonte: IMDb, FilmowACCPA, Guarulhos Web e Veja, 6 de junho, 1990 – Edição 1133 Pág. 86
Indicação: Taty

Ivone Kassu

IVONE KASSU
(66 anos)
Assessora de Imprensa, Empresária Artística e Promoter

* Itu, SP (13/07/1945)
+ Rio de Janeiro, RJ (03/07/2012)

Nascida em Itu em 13/07/1945, Ivone Kassu foi a primeira assessora de imprensa da área artística no Brasil. Começou sua trajetória ainda em São Paulo, contratada para ser secretária de Roberto Colossi, famoso empresário de artistas no fim da década de 60. Rapidinho enturmou-se e encontrou seu caminho.

"Eu ia aos estúdios e shows acompanhando os artistas e passei a registrar tudo o que poderia gerar notícia, além do trabalho deles. Fui a primeira a passar notas para a imprensa e a criar esse nicho que, hoje, é enorme."
(Ivone Kassu)

E será que a menina do interior não se deslumbrou ao circular em meio a tantos nomes que, durante toda a vida, ela só tinha visto em revistas e ouvido no rádio?

"Claro! Lembro quando fui chamada pelo Tom Jobim para cuidar da sua relação com a imprensa. Nosso primeiro encontro foi na casa dele, no Rio de Janeiro, e quando entrei na sala, aquele homem lindo sentado ao piano, tocando… Era quase um cenário de sonho. Fiquei petrificada na porta. Ele, sempre muito gentil, viu o meu estado e me levou para a varanda, me segurando pelo ombro, para me mostrar os passarinhos. Quase morri!"
(Ivone Kassu relembra, em meio a muitas gargalhadas)

Bom humor, aliás, aqui não falta. Mesmo quando teve de lidar com situações complicadas, como cuidar dos quatro últimos anos da carreira de Tim Maia, incluindo a fatídica apresentação no Teatro Municipal de Niterói, em 1998, que seria registrada para o Multishow. Como todo mundo sabe, Tim Maia entrou no palco e, quando se preparava para soltar os primeiros versos de "Não Quero Dinheiro", não resistiu e saiu dali direto para o hospital, no qual morreria uma semana depois.

"Era a redenção dele, depois de um tempo envolvido em problemas. Ele estava animado, feliz… Durante a tarde, tinha feito um ensaio memorável, a banda dizia que havia sido a melhor apresentação da vida dele, mas, infelizmente, nada foi registrado. Quando ele saiu do palco, no começo da apresentação, meio cambaleando, tentei me aproximar, mas não podia fazer muita coisa."
(Ivone Kassu)

Entretanto, antes do triste fim, Tim Maia deu muitas alegrias a Ivone Kassu, além de ótimas histórias.

"Lembro de um dia que ele me ligou, de madrugada, pedindo para cancelar todas as entrevistas do dia seguinte, aí respondi, meio sonolenta, que não tinha nada agendado. Ele retrucou: 'Mas cancela mesmo assim'."

Sem contar a vez em que Tim Maia encasquetou que queria visitar Roberto Carlos. Ela, claro, com toda a paciência do mundo, tentou demovê-lo da ideia. Sem sucesso. Tim Maia pegou o carro, estacionou na porta do prédio de Roberto Carlos, na Urca, e começou a gritar o nome do amigo.

"Roberto o deixou subir, mas nunca descobri o teor da conversa. Só sei que, no dia seguinte, Tim Maia me ligou para contar da aventura, morrendo de rir, e disse: 'Ficam falando que eu sou louco, mas louco é o Roberto Carlos, que conversa com samambaia. Ninguém me contou isso não, eu vi'."
Ivone Kassu e Leda Nagle
O primeiro trabalho de Ivone Kassu foi em 1965, quando fez a divulgação do primeiro espetáculo de humor de Chico Anysio.

Desde 1978 trabalhava com Roberto Carlos e esteve ao lado do Rei nos momentos mais difíceis de sua vida, como a morte da esposa, Maria Rita, em 1999 e mais recentemente na morte da mãe do cantor Laura, em 2010. Era sempre ela quem falava com os jornalistas e auxiliava Roberto Carlos nas divulgações de seus trabalhos.

Além de Roberto Carlos, Kassu, como era carinhosamente conhecida no meio, trabalhou com nomes como, Tom JobimMaria BethâniaTim MaiaCaetano VelosoAlcioneWilson SimonalChico BuarqueNey MatogrossoMilton NascimentoMarcos ValleMPB 4Clara NunesRita LeeCláudia RaiaEdson CelulariPaulinho da ViolaWilson SimonalJorge Ben Jor Roberto Carlos,  só para citar alguns.

Ela foi considerada a precursora da profissão de assessora de imprensa no Brasil e estava começando a escrever um livro sobre os bastidores do show business brasileiro.

Profissional ao extremo, jamais deixou de atender um telefonema de repórter que fosse em busca de notícias de Roberto Carlos, a quem defendia com unhas e dentes. Mesmo interpretando muitas vezes o papel de cão de guarda do Rei junto a jornalistas, Ivone Kassu jamais se permitiu ser deselegante ou agir com má vontade. Era firme, sim, mas de educação ímpar.

Provavelmente, Ivone Kassu era a pessoa que mais sabia da vida particular de Roberto Carlos. Mas, fiel ao extremo, jamais abriu a boca para revelar o que só a ela cabia saber. Morreu com todos os segredos.

Ivone Kassu não cantava, não compunha e não tinha nenhum grande dom artístico. Mesmo assim, a mulher foi um ícone da cultura brasileira, pelo menos no que diz respeito aos bastidores. Ela, tal e qual um Forrest Gump tupiniquim, foi testemunha ocular das principais reviravoltas musicais, políticas e pessoais dos maiores nomes da música popular brasileira no período e ajudou a criar, definir e consolidar o ofício do assessor de imprensa no Brasil.

Roberto Carlos, aliás, confiava no trabalho de Ivone Kassu há mais de 30 anos.

"Foi uma vida em silêncio, por trás dos panos, fazendo conexões e possibilitando encontros. Mas tenho muito orgulho dos meus quase 40 anos de assessoria de imprensa, em uma época que esse nome ainda nem existia."
(Ivone Kassu)

Roberto Carlos

Roberto, aliás, merece um capítulo à parte na biografia de Ivone Kassu. A relação dos dois começou em 1978, quando a CBS convocou a assessora para cuidar do lançamento do disco do cantor naquele ano. A empatia foi imediata e, dois anos depois, ela seria contratada pelo próprio para cuidar de todas as suas relações com a imprensa. E isso prosseguiu até sua morte.

"Já passei por muita coisa ao lado dele, momentos bons, ruins, perdas, sucesso, muito sucesso. Ele é um grande amigo. Uma coisa, aliás, que vou sempre oferecer a ele é a minha amizade e lealdade", emociona-se. Sem perder o trocadilho, foram mesmo muitas emoções nessa relação, já que ela passou, segurando na mão do rei, por momentos fortes como a morte de Nice Braga, a primeira mulher de Roberto Carlos, "ela que me ajudava a convencê-lo de algumas coisas"; Maria Rita, "o grande amor da vida do Roberto"; da mãe dele, Lady Laura, "a melhor mulher que já conheci na vida"; além do Projeto Emoções, de 1983, que fez Roberto Carlos atravessar o país se apresentando em cerca de 18 cidades, em um avião customizado da Vasp, para um público estimado em 600 mil pessoas, em 40 dias.

"Foi o momento mais bonito da carreira de Roberto que vivenciei. Era a primeira vez que se apresentava em algumas cidades do país e, a cada noite, era uma emoção maior que a outra. Ele, várias vezes, chorou depois dos shows."

Sobre o período no qual o cantor enfrentou o  Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a reclusão e a dor da perda de Maria Rita, ela prefere não se estender muito.

"Roberto nunca foi de sair muito de casa, com exceção da época que ele era casado com Myrian Rios, que adorava circular. Portanto, a doença e a consequente reclusão não mudaram muito a rotina. Só descobrimos do que se tratava, ele, inclusive, depois da morte de Maria Rita, quando ele começou a se cuidar. Roberto é muito caseiro, só abre mão de ficar em casa por poucos amigos, como foi no lançamento do livro de Boni, em novembro de 2011. Às vezes ele vai ao [restaurante] Antiquarius ou à [pizzaria] Capricciosa, que adora. Roberto Carlos, aliás, é o maior cliente do delivery de Ipanema."

A lealdade ao rei era, como pode se perceber, um ponto crucial na vida da assessora, o que motiva até crises de ciúmes em seus outros clientes e amigos.

"Ney [Matogrosso] sempre retruca: 'Você pode até gostar de mim, mas ama mesmo Roberto'", diverte-se. Mas onde começa e onde termina a vida pessoal de alguém que vive seu trabalho quase 24 horas por dia?

"Fiz tudo o que podia para ser uma boa mãe para o meu filho, André, que hoje é publicitário e me enche de orgulho. Tenho certeza que deixei um legado muito importante para ele: a cultura. Vinicius [de Moraes], por exemplo, quando André nasceu, escreveu um cartão que dizia: 'Saiba que você tem três pais, o Arthur, Deus e Vinicius'. É ou não é para se sentir especial?", pergunta Kassu, com os olhos brilhando ao falar de sua família, principalmente das duas netas. "Atualmente, tudo o que faço é por elas. Antes de morrer, vou deixar todas as minhas memórias, as histórias mais escondidas e cabeludas, registradas em uma gravação. Aí elas decidem o que vão fazer com isso".

Morte

Ivone Kassu morreu na terça-feira, 03/07/2012, dez dias antes de completar 67 anos, em sua casa em Copacabana, Rio de Janeiro, após sofrer uma parada cardíaca às 16:30 hs. O corpo de Ivone Kassu foi velado desde o início da manhã de quarta-feira, 04/04/2012, na Capela 9 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. O sepultamento foi marcado para as 16:00 hs, no mesmo local.

De acordo com funcionários da Kassu Produções, a empresária se recuperava de uma cirurgia realizada há cerca de duas semanas antes da morte. Ela passou por uma cirurgia no pulmão, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ivone Kassu já estava em sua casa, em Copacabana, e se recuperava bem do procedimento. Ela se sentia bem nos últimos dias,  mas na tarde de terça-feira passou mal, sofreu uma parada cardíaca fatal.

Ivone Kassu deixou um filho, o publicitário André Kassu e duas netas.

Fonte: G1, R7 , O FuxicoGlamura

Therezinha Zerbini

THEREZINHA DE GODOY ZERBINI
(86 anos)
Assistente Social, Advogada e Ativista de Direitos Humanos

* São Paulo, SP (16/04/1928)
+ São Paulo, SP (14/03/2015)

Therezinha de Godoy Zerbini foi uma assistente social, advogada e ativista de direitos humanos brasileira, fundadora e líder do Movimento Feminino Pela Anistia.

Foi casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, irmão do cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, pioneiro em cirurgia cardíaca, vinte anos mais velho que ela. Eles se conheceram em 1951, quando ele comandava a Força Pública e Therezinha trabalhava como assistente social do Hospital Mandaqui, no atendimento a crianças tuberculosas. Ela própria havia tido a doença, alguns anos antes.

O general Euryale de Jesus Zerbini comandava a unidade de Caçapava à época do golpe militar de 1964 e foi um dos quatro generais, o único com comando de tropa, a assumir uma posição legalista, contrária aos golpistas. Por isso acabou por ter seus direitos políticos cassados e foi reformado.

Por ter ajudado Frei Tito a conseguir o sítio, pertencente a um amigo da família Zerbini, em Ibiúna, onde seria realizado o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), organização proscrita pelo regime, Therezinha respondeu a um inquérito policial militar. Foi indiciada em dezembro de 1969 e afinal enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Foi presa em sua casa, no dia 11/02/1970 e ficou na prisão por oito meses, seis dos quais no presídio Tiradentes, em São Paulo. Na prisão, conviveu com a então guerrilheira Dilma Roussef.

Em 1975, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), Ano Internacional da Mulher, criou o Movimento Feminino Pela Anistia (MFPA), unido à luta pela redemocratização do Brasil. No mesmo ano, ocorreu a morte do jornalista Vladimir Herzog na prisão, seguindo-se, na Catedral da Sé, a primeira grande manifestação popular de protesto, desde o AI-5.

Ainda em 1975, o Movimento lançou seu manifesto em favor da anistia ampla e geral, conseguindo colher 16.000 assinaturas de apoio, e empenhou-se nas denúncias sobre a existência de presos, torturados e perseguidos políticos no Brasil, fato que por muito tempo fora sistematicamente negado pelo governo militar. Daí por diante foram sendo formados Comitês Femininos Pela Anistia nas principais cidades do país.

"Comecei pelo Rio Grande do Sul. Coloquei os manifestos numa caixa e mandei pelo correio para a Dilma, que foi muito habilidosa."
(Therezinha Zerbini)

O Movimento Pela Anistia

O Movimento Feminino Pela Anistia (MFPA), como movimento de oposição, surge num momento em que a luta armada refluía, e a "democracia passa a ser valorizada como um objetivo em si e, com ela, a organização da sociedade e a participação no jogo eleitoral, mesmo sob limitações". O movimento é o marco da virada: a atividade política volta ao espaço público, agregando e mobilizando vários setores, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e outros partidos políticos ainda clandestinos, a esquerda católica, acadêmicos, associações de classe, além dos exilados, presos políticos e suas famílias. Fazia oposição às claras: era um movimento legalizado, com ata de fundação e estatuto registrado em 1976, constituído basicamente por mulheres católicas, como a própria Therezinha Zerbini, e de classe média, a mesma classe que, dez anos antes, marchara contra o governo João Goulart e apoiara a instauração do regime militar que agora exilava, prendia, torturava e matava seus filhos e netos. Nesse sentido, fazia oposição "por dentro" do regime, jogando contra ele a sua própria justificativa inicial: Preservar a democracia ameaçada pelo totalitarismo.

Em fevereiro de 1978, o Movimento Feminino Pela Anistia seria ampliado com a criação do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) no Rio de Janeiro, formado inicialmente por advogados de presos políticos e com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Comitê pedia a anistia ampla, geral e irrestrita.

Em março de 1978, durante a visita do então presidente norte-americano Jimmy Carter a Brasília, Therezinha Zerbini conseguiu driblar a segurança e entregar uma carta à primeira-dama, Rosalynn Carter, em nome das mulheres brasileiras do Movimento Feminino Pela Anistia. A carta, sem fazer referências diretas ao regime, dizia, na abertura: "Nós, que lutamos por justiça e paz..."

Embora considerada comunista, pelos órgãos de segurança, e como feminista, pela imprensa, Therezinha Zerbini declarou nunca ter aderido a nenhuma dessas correntes.

Militância Política Após a Anistia

Após a revogação do AI-5 em 1978, esteve ao lado de Leonel Brizola no processo de refundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em São Paulo, e depois, na criação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), em 1979, quando Leonel Brizola perdeu a sigla para Ivete Vargas.

Mais recentemente, em setembro de 2010, pouco antes das eleições presidenciais de novembro, Therezinha Zerbini foi a quinta pessoa a assinar o "Manifesto Pela Defesa da Democracia", lançado por intelectuais e políticos contrários ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na prática, o manifesto deveria reforçar a posição do candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) José Serra, que, entretanto, acabou por perder as eleições.

"Criar a Comissão da Verdade é bom. Não espero coisas novas, porque já vi tudo por dentro. Mas é preciso dar a oportunidade para os outros sentirem e verem. Como diz Santo Agostinho, o coração é a sede da memória!"
(Therezinha Zerbini)


Therezinha Zerbini morreu no sábado, 14/03/2015, aos 87 anos. Seu corpo foi velado no Cemitério do Araçá e depois levado ao crematório da Vila Alpina, onde foi cremado.

Em nota, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo (OAB-SP), Marcos da Costa, afirmou que Therezinha "teve um papel expressivo ao longo de toda a ditadura militar pela coragem e força que demonstrou em situações difíceis e complexas".

Fonte: Wikipédia
Indicação: Fadinha Veras