Myriam Muniz

MYRIAM MUNIZ DE MELO
(73 anos)
Atriz, Diretora e Professora

+ São Paulo, SP (28/10/1931)
+ São Paulo, SP (18/12/2004)

Myriam Muniz de Melo foi uma atriz brasileira. Durante sua carreira, seu nome foi grafado de formas diferentes, dependendo da ocasião e do espetáculo: Myrian ou Mirian Muniz, Myriam ou Miriam Muniz. Na Escola de Arte Dramática, no final dos anos 50, havia adotado o nome de Miriam Melo. Ao estrear no teatro profissional em 1961, adotou o nome artístico de Myrian Muniz.

Descendente de portugueses e italianos, nasceu no bairro do Cambuci, em São Paulo. Seu pai, Agostinho Muniz de Melo, filho de José e de Albina Muniz de Melo, era natural de Ponta Delgada, nos Açores, onde nasceu em 1904. Sua mãe, Rosaria Ferri, era paulistana, nascida em 1911, filha dos imigrantes italianos, Gaetano Fierro e Maria Teresa Menchise, ele de Spinazzola, província de Bari, na Puglia (Apúlia, em português), e ela de Genzano di Lucania, província de Potenza, na Basilicata.

Casou-se em primeiras núpcias com o ator e diretor Sylvio Zilber. Separaram-se no final dos anos 70, depois de quase vinte anos de relacionamento. Casou-se pela segunda vez com Carlos Henrique D'Andretta (Cacá D'Andretta) e separaram-se depois de vinte anos de vida em comum, no final da década de 1990. É mãe de dois filhos: Marcelo de Melo Zilber, casado com Teresa Fogaça de Almeida, e Rodrigo de Melo Zilber, este falecido em 1986, aos dezoito anos.

Seu irmão, José Muniz de Melo, foi proprietário do restaurante Mamarana, na Rua Pará, 196, em Higienópolis, São Paulo, fundado por seus pais em 1961. O restaurante atualmente é dirigido por Adriana Muniz de Melo, filha de José, e lá encontra-se farto material fotográfico e jornalístico sobre a carreira de Myriam Muniz, com fotos sobre sua trajetória artística. No segundo andar do restaurante foi inaugurado em outubro de 2006 o Espaço Cultural Mamarana para leituras dramáticas e pequenas apresentações de teatro e música.

Formação

Antes de dedicar-se ao teatro estudou e praticou enfermagem no Hospital Samaritano, em São Paulo. Também estudou balé clássico, com Halina Biernacka, integrando o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo. Decidindo-se a ser atriz, ingressou na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD) em 1958, formando-se em 1961, quando a escola estava ainda sob direção de seu fundador, Drº Alfredo Mesquita, que foi seu professor, ao lado de nomes como Décio de Almeida Prado, Paulo Mendonça, Sábato Magaldi, Maria José de Carvalho, Haydée Bittencourt, Leila Coury, Chinita Ullmann, Mylène Pacheco.

Na Escola de Arte Dramática de São Paulo encenou textos de grandes autores do teatro mundial, como: "Ubu Rei", de Alfred Jarry, "A Tempestade", de William Shakespeare, "Os Persas", de Ésquilo, "As Preciosas Ridículas", de Molière, "O Defunto", de René de Obaldia (ganhou o Prêmio Chinita Ullmann, juntamente com Aracy Balabanian), "Bodas de Sangue", de Garcia Lorca, e textos de Pirandello, John Millington Synge e Maria Clara Machado. Garcia Lorca permaneceu como uma de suas grandes paixões na dramaturgia teatral.

Myriam Muniz e Ary Fontoura
Carreira Artística

Em sua carreira atuou no teatro como atriz e diretora, no cinema e na televisão como atriz, e foi professora de interpretação. Teve sua trajetória artística documentada em livro, organizado pela historiadora e pesquisadora Maria Thereza Vargas, livro esse para o qual Myriam Muniz fez importante depoimento.

No Teatro

Como Atriz:

  • Teatro Oficina: "José, do Parto à Sepultura", de Augusto Boal, direção de Antonio Abujamra (1961); no Oficina, ensaiou, mas não estreou, "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams; posteriormente fez produção de espetáculos dessa companhia, como "Os Inimigos", de Gorki.
  • Companhia Nydia Licia: "A Bruxinha Que Era Boa", de Maria Clara Machado, direção de Silnei Siqueira - segundo o diretor, esta é que foi a estréia de Myriam Muniz no teatro após formar-se na Escola de Arte Dramática; "As Lobas", de Frédéric Valmain, direção de Alice Pincherle (1962);
  • Companhia Dulcina de Moraes: "Tia Mame", de Jérome Lawrence e Robert E. Lee, direção de Dulcina de Moraes; e "Chuva", de John Colton e Clemence Randolph, inspirados em Somerset Maugham, direção de Dulcina de Moraes (1962); por "Tia Mame" ganhou o Prêmio Sacy de Melhor Atriz Coadjuvante. Dulcina de Moraes, Odilon de Azevedo e Conchita de Moraes, nessa temporada em São Paulo, apresentaram-se no Teatro Bela Vista, sob os auspícios da Companhia Nydia Licia.
  • Teatro Brasileiro de Comédia (TBC): "A Revolução dos Beatos", de Dias Gomes, direção de Flávio Rangel (1962); posteriormente, em 1964, ensaiou, mas não estreou, "Vereda da Salvação", de Jorge Andrade.
  • Teatro de Arena de São Paulo: "A Mandrágora", de Nicolau Maquiavel, direção de Augusto Boal (1963), "O Noviço", de Martins Penna, direção de Augusto Boal (1963), "Tartufo", de Molière, direção de Augusto Boal (1964), "O Inspetor Geral", de Gogol, direção de Augusto Boal (1966), "O Círculo de Giz Caucasiano", de Bertolt Brecht, direção de Augusto Boal (1967), "La Moschetta", de Angelo Beolco (Ruzzante), direção de Augusto Boal (1967) e "1ª Feira Paulista de Opinião", de vários autores, direção de Augusto Boal (1968). Para essa companhia, onde trabalhou ao lado de artistas como Gianfrancesco Guarnieri e Flávio Império, fez produção de outros espetáculos, como "O Melhor Juiz, o Rei", "O Filho do Cão", "Arena Conta Zumbi" e "Arena Conta Tiradentes". Por "O Noviço" ganhou o Prêmio Governador do Estado como Melhor Atriz.
  • Centro de Estudos Teatrais, dirigido por Cacilda Becker, Walmor Chagas e Maria Thereza Vargas: Leitura dramática de "Os Carecentes", de Eudynir Fraga (1967).
  • Grupo Vereda: "Tom Paine", de Paul Foster, direção de Ademar Guerra (1970).
  • Produção Independente: "Tudo de Novo", colagem musical, direção de Sylvio Zilber, ao lado de Marília Medalha, Gianfrancesco Guarnieri e Toquinho (1970).
  • Companhia Paulo Autran: "Assim é, Se Lhe Parece" (com o título de "Só Porque Você Quer"), de Pirandello, direção de Flávio Rangel; e "As Sabichonas", de Molière, direção de Silnei Siqueira (1971).
  • Produção Myriam Muniz e Sylvio Zilber: "Fala Baixo, Senão Eu Grito", de Leilah Assumpção, direção de Sylvio Zilber (1973).
  • Produção Mensagem Produções Artísticas: "Eva Perón", de Copi (1979), direção de Iacov Hillel (1979).
  • Grupo Isca de Polícia: "Às Próprias Custas", espetáculo musical com Itamar Assumpção (1983).
  • Produção Fundação Brasil Arte: "Pegando Fogo, Lá Fora", de Gianfrancesco Guarnieri, direção de Celso Nunes (1988).
  • Produção Tarô dos Ventos: "A História Acabou", de Fauzi Arap, direção do autor (1991).
  • Produção Sérgio Famá D'Antino e Marcos Caruso: "Porca Miséria", de Marcos Caruso e Jandira Martini (pelo papel de Miquelina foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro em São Paulo), direção de Gianni Ratto (1993).

Como Diretora:

  • 1971 - "Cândido, ou o Melhor dos Mundos", de Voltaire, direção e adaptação de Sylvio Zilber (Myriam fez a direção de atores)
  • 1975 - "Falso Brilhante", espetáculo musical com Elis Regina, grande sucesso de público e de crítica.
  • 1976 - "Dorotéia Vai à Guerra", de Carlos Alberto Ratton
  • "Torre de Babel", de Arrabal, direção de Luiz Carlos Ripper (Myriam fez assistência de direção)
  • 1978 - "Por Um Beijo", espetáculo musical com Célia
  • 1979 - "O Banquete", de Mário de Andrade, adaptação de José Rubens Siqueira
  • 1981 - "Sinal de Amor", espetáculo musical com Diana Pequeno
  • 1982 - "O Reino Jejua, Mas o Rei Nem Tanto", de José Antonio de Souza
  • 1982 - "Festa - Encontro de Gerações", espetáculo musical com Isaurinha Garcia, Itamar Assumpção, Nana Caymmi e Rosinha de Valença
  • 1984 - "O Exercício", de Lewis John Carlino
  • 1984 - "Fugaz", espetáculo musical com Itamar Assumpção, Denise Assumpção, Suzana Salles e Virginia Rosa
  • 1984 - "Boca Molhada, de Paixão Calada", de Leilah Assumpção
  • 1985 - "Saber Sobre Viver", espetáculo musical com Maricene Costa
  • 1985 - "Feito Brasileiro", espetáculo musical com Paulo Garfunkel e Jean Garfunkel, Beto Martins e Gil Allegro
  • 1985 - "Raices de América - Dulce América", espetáculo musical
  • 1985 - "Deu Bicudo no Algodão", espetáculo musical
  • 1985 - "No Caminho com Maiakovski", espetáculo de poesia
  • 1985 - "Marlui Miranda", espetáculo musical
  • 1987 - "Prazer em Conhecê-lo", espetáculo de música e poesia
  • 1987 - "A Grosso Modo", espetáculo teatral com textos de Obaldia e Molière
  • 1988 - "Dança da Meia-Lua", espetáculo de dança do Ballet Teatro Guaira, Myriam fez a coordenação cênica
  • 1994 - "O Empresário", de Mozart, adaptação de Madrigal Cantátimo, espetáculo musical

No Cinema

  • 1969 - "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade
  • 1970 - "Cléo e Daniel", de Roberto Freire
  • 1971 - "Pequena Ilha da Sicília", de Flávio Império, Renina Katz e Marlene Milan
  • 1977 - "Mar de Rosas", de Ana Carolina 
  • 1977 - "O Jogo da Vida", de Maurice Capovilla, pelo qual ganhou Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado
  • 1982 - "O Homem do Pau Brasil", de Joaquim Pedro de Andrade
  • 1982 - "Das Tripas Coração", de Ana Carolina
  • 1997 - "Alô?", de Mara Mourão, como Maria.
  • 2000 - "Amélia", de Ana Carolina
  • 2004 - "Nina", seu último trabalho, pelo qual ganhou Prêmio de Melhor Atriz, póstumo, do Festival de Porto Alegre

Na Televisão

  • Anos 60 - "Florence Nightingale", onde estreou ao lado de Cleyde Yáconis e de Ziembinski (TV Record)
  • 1962 - "Gente Como a Gente", de Roberto Freire, direção de Ademar Guerra (TV Record)
  • 1969 - "Nino, o Italianinho", direção de Geraldo Vietri. Myriam fez grande sucesso popular com o personagem Dona Santa (TV Tupi)
  • 1969 - "A Sopa", de Dalton Trevisan, direção de Alfredo Mesquita (TV Cultura)
  • 1970 - "A Casa de Bernarda Alba", de Garcia Lorca, direção de Heloísa Castellar (TV Cultura)
  • 1971 - "A Fábrica", direção de Geraldo Vietri (TV Tupi)
  • 1996 - "Brava Gente", de Marcos Caruso e Jandira Martini, direção de Roberto Talma (SBT)
  • 1998 - "Dona Flor e Seus Dois Maridos", direção de Mauro Mendonça Filho (TV Globo)
  • 2001 - "Os Maias", de Maria Adelaide Amaral, onde interpretou a personagem Titi, de "A Relíquia" (TV Globo - A autora, na minissérie, juntou a história de "A Relíquia" à de "Os Maias")
  • 2004 - "Metamorphoses", de Mário Prata (TV Record).

Como Professora de Interpretação

  • Fundadora, juntamente com Sylvio Zilber, e professora de interpretação, do Teatro Escola Macunaíma, em 1974. A escola, instalada na antiga casa de Mário de Andrade, na Rua Lopes Chaves, bairro da Barra Funda, em São Paulo, teve uma fase de grande efervescência cultural, na época em que ambos a dirigiram, com diversos cursos de interpretação, leituras dramáticas e psicodramas (estes, a cargo do terapeuta, escritor e dramaturgo Roberto Freire).
  • Professora de interpretação da Escola de Arte Dramática da Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo, onde dirigiu diversos espetáculos com seus alunos (décadas de 1970 e 1980).
  • Fundadora, diretora e professora do Curso de Interpretação Teatral, onde trabalhou durante vinte anos, a partir de 1978. Esse curso, que Myriam manteve até 1999, teve como sede, durante muitos anos, a Sala Guiomar Novaes, da Funarte de São Paulo, na Alameda Nothmann. Seu método de trabalho, com depoimentos de alunos e ex-alunos, está documentado no livro sobre sua trajetória artística "Giramundo: O Percurso de Uma Atriz - Myriam Muniz", organizado em 1997 por Maria Thereza Vargas.

Homenagens

  • Em 20 de outubro de 2004, prestou depoimento no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo, parte integrante do ciclo de depoimentos sobre os 50 anos desse teatro. Coordenação da Cia. Livre, de Cibele Forjaz. O depoimento foi tomado pela atriz Isabel Teixeira. Encontra-se gravado em CD-ROM, na capa do qual Myriam aparece fotografada, homenagem da Cia. Livre a ela.
  • No primeiro aniversário de seu falecimento, foi lançado um DVD em sua homenagem pelas amigas Carmo Sodré, Muriel Matalon, Vânia Toledo, Angela Dória e Sandra Mantovani, responsável pela entrevista com Myriam que se vê no DVD, feita em 1999 no apartamento onde ela então morava, na Rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, São Paulo.
  • Em 2006, a Funarte / Ministério da Cultura instituiu para todo o Brasil o "Prêmio de Teatro Myriam Muniz", estímulo e fomento à produção e à pesquisa de artes cênicas.
  • Em 2006, ainda, o SESC publicou o livro "Arena, Oficina, Anchieta e Outros Palcos", com prefácio de Lauro César Muniz, sendo um dos depoimentos o de Myriam, sobre sua trajetória artística.
  • Seu livro biográfico, "Giramundo: O Percurso de Uma Atriz - Myriam Muniz", organizado por Maria Thereza Vargas, ganhou o Prêmio Shell de Teatro, categoria especial, em 1998.
  • Sala Myriam Muniz - uma das salas do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Morte

Faleceu no dia 18 de dezembro de 2004, em seu apartamento na Rua Itambé, em Higienópolis. Dois dias antes, havia terminado um espetáculo sobre o musical "Arena Conta Zumbi", parte do ciclo de homenagens aos 50 anos de fundação do Teatro de Arena de São Paulo. Apresentara-se no palco do SESC Pinheiros, último palco onde pisou. Na noite do dia 18, preparava-se para ir a uma festa em comemoração a esse espetáculo quando sofreu um derrame cerebral em seu apartamento, provavelmente resultado de um enfisema pulmonar recente.

Fonte: Wikipédia